Educação de Surdo e Língua de Sinais Texto 4 COMUNIDADE E CULTURA SURDA A Lingüista surda Carol Padden estabeleceu uma diferença entre cultura e comunidade surda. Para ela a “Cultura é um conjunto de comportamentos aprendidos de um grupo de pessoas que possui sua própria língua, valores, regras de comportamento e tradições. E a comunidade é um sistema social geral, no qual pessoas vivem juntas, compartilham metas comuns e partilham certas responsabilidades umas com as outras”. (Padden 1989:5) Para a pesquisadora, “uma Comunidade Surda é um grupo de pessoasque mora em uma localização particular, compartilha as metas comuns de seus membros e, de vários modos, trabalha para alcançar estas metas”. Portanto, nessa comunidade pode ter também ouvintes e surdos que não são culturalmente Surdos. Já a Cultura Surda é mais fechada do que a Comunidade Surda. Membros de uma cultura surda se comportam como as pessoas surdas, usam a língua das pessoas de sua comunidade e compartilham das crenças das pessoasSurdas entre si e com outras pessoasque não são surdas. Mas ser uma pessoa surda não equivale a dizer que esta faça parte de uma Cultura e de uma Comunidade Surda, porque sendo a maioria dos surdos, 95%,filhos de Pais de Ouvintes , muitos destes não aprendem a Libras e não conhecem as Associações de Surdos, que são as Comunidades surdas, podendo tornar-se somente pessoasportadoras de deficiência auditiva. As pessoas, que estão politicamente atuando para terem seus direitos de cidadania e lingüísticos respeitados, fazem uma distinção entre “ser Surdo” e ser “deficiente auditivo’. A palavra “deficiente”, que não foi escolhida por elas para se denominarem, estigmatiza a pessoa por que a mostra sempre pelo que ela não tem, em relação às outras e, não o que ela pode ter de diferente e, por isso, acrescentar às outras pessoas. A diferença esta no modo de aprender o mundo, que gera valores, comportamento comum compartilhando e tradições sócio-interativas, a este modus vivendi está sendo denominado de “Cultura Surda”. A existência da Associação de Surdos deverá ser entendida como o lugar onde a Comunidade Surda tem sua interação dialógica e transformar em patrimônio de acervo preservação da Língua de Sinais, da Cultura Surda e defesa de Direitos dos Surdos enquanto Cidadão em todas as áreas. É importante que o professor ouvinte conheça a história do próprio espaço, suas atividades e o que contém em beneficio aos Surdos, para elaborar assim o seu material pedagógico que dará inicio nas aulas de História. Começando a enfatizar a importância histórica da Comunidade Surda. A transformação lingüística da Comunidade Surda está em contínuas mudanças e concomitante a ela também mudam as manifestações culturais e históricas. É preciso de tempo certo para desenvolver lingüisticamente, hoje existem os empréstimos tanto do português através do alfabeto manual quanto de outras línguas de sinais, devemos lembrar da proteção da língua, pois quando os empréstimos são sem critérios acaba sendo prejudicial. Ossinais, as histórias, os hábitos que fazem a formação vísuo-espacial, tudo que pertence a Cultura Surda transmitida pela Língua de Sinais, através dos Surdos mais velhos. Algumas reivindicaçõesda Comunidade Surda: A identidade surda • Existe diferença entre SURDOS e DA.(deficientes auditivos) . A identidade surda se vale de língua de sinais, intérpretes, escolas de surdos, etc. Os D.A. precisam de aparelhagem de aumento de volume, oralização, integração à comunidade ouvinte.
•
Incentivar a formação de grupos para a manifestação da cultura/s surda/s: poesia, narrativas de história, arte, direitos dos surdos, tecnologia e escrita de sinais, privilegiando os meios visuais e acessodesseacervo à comunidade. • Promover a cultura surda através de história, arte, direitos dos surdos, tecnologia e escrita de sinais, privilegiando os meios visuais em sua produção, veiculação e acesso. • Promover a criação de bibliotecas visuais e acessodesseacervo à comunidade. • Incentivar, mostrar e estimular o uso da LIBRASpelo surdo, indo ao encontro de seu direito de ser e o de usar a comunicação visual. • A carteira de identidade dos surdos precisa ter a identificação do surdo. • Reconhecer que a pessoa surda é um sujeito com identidade surda. O objetivo de mudar o surdo para torná-lo igual a um ouvinte é um desrespeito a sua identidade e a sua condição de cidadão. Nas Construções Urbanas • Incentivar a implantação de sistema de alarme luminoso em prédios urbanos. • Implantar sistema luminoso em cor verde nos porteiros eletrônicos dos prédios para a comunicação com o apartamento. • Instalar sistema de incêndio com sinalização luminosa obrigatória, tanto nos prédios residenciais quanto nos prédios públicos. O sistema de alerta/alarme luminoso deve estar tanto nos banheiros como em todas as dependências dos prédios. • Incentivar todas as famílias que têm filho surdo a instalarem em suas residências sistema luminoso na campainha e no telefone. • Solicitar informação visual ou legendada nos aeroportos, rodoviária , metrôs, e parada de ônibus. • Instalar visor na parte interna (corredores) dos prédios. DIREI TO E LEGISLAÇÃO • Propor o reconhecimento da língua de sinais como língua da educação do Surdo , ou seja a “língua do povo surdo”, em todas as escolas e classesespeciais de surdos. • Assegurar a toda criança surda o direito de aprender prioritariamente línguas de sinais e após também português e outras línguas. • Assegurar às crianças, adolescentes, adultos e idosos surdos, educação em todos os níveis, como pressuposto a uma capacitação profissional. • Levar ao conhecimento das escolas os direitos dos surdos. Promover a conscientização sobre questões referentes aos surdos. • Recomendar que programas da mídia (TV, rádio, jornal..) não veiculem posturas que gerem atitudes discriminatórias contra o uso da língua de sinais e direitos dos surdos defendendo posturas ouvicêntricas. • Levar em conta o conhecimento da língua de sinais para a escolha dos professores de surdos. Entende-se como prova de conhecimento em língua de sinais: certificado específico de curso reconhecido pelas Associações e Federações de Surdos, com aprovação posterior em banca constituída pela comunidade surda e intérpretes. • Propor iniciativas legais visando impedir preconceitos contra surdos. • Regularizar ou implementar o ensino para os surdos onde quer que eles estejam presentes. ex: escolas, associações,cursos, universidades. • Formular políticas públicas para levantamento e atendimento educacional de crianças de rua surdas, conselho tutelar, FEBEM,respeitando sua cultura. • Em concursos públicos onde o surdo concorre com outros deficientes sua prova de português também precisa ser analisada com critérios específicos e inclusive com presença de intérpretes também que a porcentagem reservada aos deficientes seja dividida separadamente entre os surdos, cegos, deficientes físicos e mentais. • Repensar o destino do patrimônio dos surdos, assim como o patrimônio das escolas de surdos quando deixam de existir. O patrimônio da cultura surda adquirida, caso seja possível, seja entregue a comunidade surda. • Considerar que a integração/inclusão é prejudicial à cultura, à língua e à identidade surdas sem o respeito a suasespecificidades surdas.
• • • • • • • • •
Propor o fim da política de inclusão/integração, pois ela trata o surdo como deficiente e, por outro lado, leva ao fechamento de escolas de surdos e/ou ao abandono do processo educacional pelo aluno surdo. Considerar que a integração da pessoa surda não passa pela inclusão do surdo em ensino regular, devendo o processoser repensado e adequado. Liberação do trabalho para os pais que têm filhos surdos para fazerem cursos de língua de sinais. Elaboração de uma política de educação de surdos com escolas específicas para surdos. Em ambiente de júri há obrigação de oferecer para os surdos, sem ônus, intérpretes, credenciados pela FENEIS. O surdo preso tem direito a intérprete em todos os momentos do interrogatório. Reconhecer que o surdo tem os mesmos direitos que as demais pessoas em relação a comercialização, compras com cheques, aluguel de apartamentos, etc. Se analfabeto procurar intérprete mais 3 testemunhas de sua inteira confiança. Criar programas de apoio aos surdos idosos, meninos surdos de rua, internos em instituições e/ou casas de detenção, mulheres surdas, portadores de HIV, drogados, como também aos vendedores de panfletos, excluídos do mercado formal de trabalho. EPTC, DETRAN e outros órgãos gaúchos devem informar às Associações de surdos e FENEIS decisões referentes aos surdos. Garantir a presença intérprete em todos os eventos públicos culturais bem como na TV.
Surdo-Mudo: expressão incorreta Provavelmente a mais antiga e incorreta denominação atribuída ao surdo, e infelizmente ainda utilizada em certas árease divulgada nos meios de comunicação, principalmente televisão, jornais e rádio. O fato de uma pessoa ser surda não significa que ela seja muda. A mudez é outra deficiência, totalmente desagregada à surdez. Fato é a total possibilidade de um surdo falar, através de exercícios fonoaudiológicos, aos quais chamamos de surdos oralizados. Também é possível um surdo nunca ter falado, sem que seja mudo, mas apenaspor falta de exercício. Por isso, o surdo só será também mudo se, e somente se, for constatada clinicamente deficiência na sua oralização, impedindo-o de emitir sons. Fora isto, é um erro chamá-los de surdo-mudo. Apague esta idéia! Erro social dado ao fato de que o surdo vive num "silêncio" rotulado pela própria sociedade (por falta de conhecimento do real significado das duas palavras). Surdo: dificuldade parcial ou total no que se refere à audição Mudo: problema ligado à voz. Fonte de consulta A COMUNICAÇAÕ DO SURDO POR MEIO DA LÍNGUA DE SINASI /FIESP/SESI/SENAI/IRS-ESCOLA SENAI “ITALO BOLONHA” Helvécio Siqueira de Oliveira, coordenação – Itu - : Ottoni editora, 2005
FELIPE,Tanya; MONTEIRO,Myrna S. LIBRAS em contexto . Curso Básico. Brasília : Ministério da Educação e do Desporto/Secretaria de Educação Especial, 2001.