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CARTA DO EDITOR
EXPEDIENTE DIRETORIA Gustavo Godoy, Marcial Guimarães e Vinícius Dall’Ovo EDITORA-CHEFE Lígia Favoretto
TERRITÓRIO DA LIDERANÇA A busca frequente por novos caminhos não é apenas um modo de criar diferenciais competitivos visando ao fortalecimento e ao crescimento da organização; muito mais básico do que isso, hoje, os processos de criação de novas ideias e a consequente inovação são elementos essenciais para a sobrevivência. Diante de um mundo complexo, de mudanças rápidas e descontínuas da atualidade, identifica-se que o sucesso de qualquer organização está intimamente ligado à sua capacidade de constante transformação. De olho nessa movimentação e a fim de formar profissionais que sempre enxergam à frente de seu tempo, porque sabem que o futuro não é a mera repetição do passado, mais ainda, sabem que o futuro não é um lugar a ser conquistado, mas sim um lugar que precisa ser criado e utilizam o conhecimento como o combustível para atingir o sucesso, é que a Contento
Comunicação inova e lança, junto do Guia da Farmácia, a revista Gestão & Negócios. O objetivo é oferecer educação continuada, pelo alto nível de formação que o mercado exige em suas transações. Para a primeira edição, o tema liderança foi escolhido. Mais do que exercer a função para a qual foi designado, é preciso desempenhar habilidades que não estão descritas em um manual técnico. Ser líder significa servir de exemplo para seus subordinados, conseguir admiração e fazer com que eles caminhem ao seu lado, ou seja, “joguem o mesmo jogo” que você. Isso não se consegue de um dia para o outro, é preciso muito trabalho e, principalmente, percepção das necessidades alheias. Boa leitura. Lígia Favoretto Editora-chefe
ASSISTENTE DE REDAÇÃO Vivian Lourenço EDITOR DE ARTE Junior B. Santos ASSISTENTES DE ARTE Rodolpho A. Lopes e Flávio Cardamone DEPARTAMENTO COMERCIAL EXECUTIVAS DE CONTAS Jucélia Rezende (jucelia@contento.com.br) e Luciana Bataglia (luciana@contento.com.br) ASSISTENTES DO COMERCIAL Juliana Guimarães e Mariana Batista Pereira DEPARTAMENTO DE ASSINATURAS Morgana Rodrigues COORDENADOR DE CIRCULAÇÃO Cláudio Ricieri DEPARTAMENTO FINANCEIRO Fabíola Rocha e Cláudia Simplício MARKETING E PROJETOS Luciana Bandeira ASSISTENTE DE MARKETING E PROJETOS Lyvia Peixoto MARKETING DIGITAL Andrea Guimarães e Noemy Rodrigues
COLABORADORES DA EDIÇÃO Textos Jorge Bertolino Filho Colunistas Flávia Feitosa Santana, Patricia Müller Buzolin, Sílvio Celestino e Sylvia Ignácio da Costa Revisão Maria Elisa Guedes IMPRESSÃO Abril
> www.guiadafarmacia.com.br Revista Gestão & Negócios é uma publicação da Contento. Rua Leonardo Nunes, 198, Vila Clementino, São Paulo (SP), CEP 04039-010. Tel.: (11) 5082 2200. E-mail: contento@contento.com.br Os artigos publicados e assinados não refletem necessariamente a opinião da editora. O conteúdo dos anúncios é de responsabilidade única e exclusiva das empresas anunciantes.
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SUMÁRIO APRESENTAÇÃO A essência da liderança pouco mudou com o passar do tempo. Ela continua tendo a função de cooptar as pessoas em torno de objetivos comuns _________________________________________________ 06 COMUNICAÇÃO Um líder vai muito além do discurso em prol de seus ideais. O líder visionário se faz pelas ações e não pelas palavras ___________________________________________________________________________ 10 PERFIL Líderes consagrados gostam de gente, porque sabem que é apenas a partir das pessoas que podem alcançar seus próprios objetivos _________________________________________________________16 PROPÓSITO Não estamos apenas de passagem neste mundo. Tampouco devemos nos considerar ilustres visitantes. Cada um de nós está aqui para cumprir uma missão específica ________________________________ 22
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16 INSPIRAÇÃO Não se pode avaliar uma pessoa a partir de uma visão limitada, quer seja no tempo ou no espaço. Pessoas diferentes dão respostas em tempos diferentes _______________________________________ 28 CONQUISTA O líder visionário é o agente de mudanças, aquele que transforma as organizações estáticas e inflexíveis em empresas proativas, criativas e inovadoras ______________________________________________ 34 E MAIS Habilidade – Patricia Müller Buzolin _____________________________________________________ 20 Comportamento – Flávia Feitosa Santana ___________________________________________________ 26 Versatilidade – Sylvia Ignácio da Costa ___________________________________________________ 32 Análise – Sílvio Celestino ______________________________________________________________ 33
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APRESENTAÇÃO
ESSÊNCIA DO LÍDER VISIONÁRIO
ORGANIZAÇÕES DE TODOS OS TIPOS PRECISAM DE LÍDERES COM UM CONJUNTO MAIS AMPLO DE HABILIDADES E COMPETÊNCIAS PARA LEVÁ-LAS AO FUTURO POR JORGE BERTOLINO FILHO
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Liderança é algo que acompanha o homem desde o início de sua existência. Para sobreviver em condições adversas, o homem sempre se guiou pelos ditames de algum líder. Basta um rápido sobrevoo sobre a história para perceber como os líderes foram fundamentais nos momentos mais decisivos. 6
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Embora nem todos possam ser realçados por uma conduta virtuosa, não há como negar a importância que esse personagem tem nas organizações sociais e, principalmente, nas empresariais. Seja tomando decisões nas horas mais improváveis, seja aglutinando forças divergentes ou
apenas servindo de inspiração para seus seguidores, os líderes foram, e continuam sendo, fundamentais para a evolução da espécie humana. Embora as habilidades e proezas desses homens tenham sido cantadas em verso e prosa ao longo dos tempos, foi com o floILUSTRAÇÃO/FOTO: SHUTTERSTOCK/DIVULGAÇÃO
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O LÍDER VISIONÁRIO É AQUELE QUE SEMPRE ENXERGA À FRENTE PORQUE SABE QUE O FUTURO NÃO É A MERA REPETIÇÃO DO PASSADO. MAIS AINDA, SABE QUE O FUTURO NÃO É UM LUGAR A SER CONQUISTADO, MAS SIM UM LUGAR QUE PRECISA SER CRIADO
rescimento da moderna organização empresarial, ocorrido a partir da Revolução Industrial, que a liderança passou a ser tema de estudos mais profundos. Especialistas das mais diversas áreas do conhecimento, como administração, psicologia, economia, teologia, filosofia – apenas
para citar algumas – têm se aventurado a estudar esse personagem, procurando encontrar os elementos que o diferenciam das demais pessoas. E nesse universo, é possível encontrar um pouco de tudo, desde os trabalhos que apregoam a liderança como um “dom” inato e, portanto, privilégio de poucos, passando por aqueles que defendem a ideia de que todas as pessoas, de certa forma e em certo nível, são líderes, até os estudos que denotam a liderança como competência profissional e que, portanto, pode ser perfeitamente desenvolvida. Em linhas gerais, a essência da liderança pouco mudou com o passar do tempo. Ela continua tendo a função de cooptar as pessoas em torno de objetivos comuns. Mas o mundo mudou e mudou muito, principalmente no universo empresarial. O processo de transformação dos últimos trinta anos foi mais expressivo do que o dos cem anteriores e será ainda mais intenso nos próximos cinco. No contexto organizacional, as mudanças estão ocorrendo de forma avassaladora. Vários fatores contribuem para isso. Em primeiro lugar, a tecnologia. Impulsionadas principalmente pelas inovações tecnológicas, as empresas vivem no mundo do “aqui e agora”, em que quase tudo acontece em tempo real.
Não é mais possível idealizar e conduzir negócios como se fazia num passado recente. A internet e as redes sociais estão dando uma nova dinâmica à vida organizacional, de tal forma que padrões consagrados do passado se transformaram em grandes mitos no presente. A cada dia, precisamos correr mais rápido para, na verdade, não sair do lugar. Colocar a tecnologia a nosso favor parece, portanto, uma excelente alternativa. O segundo fator é a abrangência. As novas tecnologias que mantêm o mundo conectado estão expandindo as fronteiras dos negócios para além de onde a nossa visão pode alcançar. Dia após dia, as mudanças estendem o campo de jogo e, principalmente, mudam as regras do jogo. É praticamente impossível definir os limites de atuação de uma empresa assim como os limites de seus competidores. Não importa de onde e com o que a empresa opera, ela é constantemente ameaçada por novas possibilidades, ao mesmo tempo em que é exposta a inúmeras oportunidades que surgem de todas as direções. Nesse caso, manter-se conectado é o melhor caminho. O terceiro fator está baseado nas rupturas. Em um contexto de descontinuidades, tudo aquilo que sabemos e conhecemos hoje pode se tornar supérfluo amanhã. Os consumidores estão mais preparados ABRIL 2015
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APRESENTAÇÃO
A ESSÊNCIA DA LIDERANÇA POUCO MUDOU COM O PASSAR DO TEMPO. ELA CONTINUA TENDO A FUNÇÃO DE COOPTAR AS PESSOAS EM TORNO DE OBJETIVOS COMUNS para exercer seu papel e, portanto, são naturalmente mais exigentes em relação ao atendimento de suas necessidades. A tecnologia trouxe para eles uma riqueza enorme de dados que lhes permitem comparar preços, pesquisar produtos e se conectar com outros consumidores para alavancar seu poder de decisão. A cada dia, ficam frente a frente com mais informações e, consequentemente, aquilo que hoje os encanta, amanhã vai estar superado. Portanto, inovar é a palavra de ordem. Mas há outro aspecto a ser destacado. Não é apenas o consumidor que está mudando. Os funcionários e suas expectativas em relação ao novo mercado de trabalho também estão mudando intensamente. Esperam mais de suas atividades de trabalho, querem mais espaço para participar e mais liberdade para criar. De fato, as novas gerações que adentram no mercado de trabalho esperam atuar mais como protagonistas e menos como coadjuvantes. Diante desse mundo em permanente transformação, surge uma 8
questão crucial: será que as pessoas à frente das organizações estão mudando na mesma velocidade e com a mesma intensidade? Infelizmente, as pesquisas nessa direção mostram que poucos líderes estão, de fato, preparados para enfrentar os novos desafios. Não há, no entanto, como desconsiderar o fato de que, nesse novo cenário, organizações de todos os tipos precisam de líderes com um conjunto mais amplo de habilidades e competências para levá-las ao futuro. Esses são os homens que denominamos “líderes visionários”. QUEM ELE É?
O líder visionário é aquele que sempre enxerga à frente porque sabe que o futuro não é a mera repetição do passado. Mais ainda, sabe que o futuro não é um lugar a ser conquistado, mas sim um lugar que precisa ser criado. Utiliza o conhecimento como o combustível para atingir o sucesso. É tão consciente de suas fragilidades quanto o é de suas potencialidades. Por isso, é humilde do ponto de vista pedagógico, ou seja, está sem-
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valorizar aqueles que lutaram por seu ideal e, acima de tudo, sabe dividir os louros da vitória.
MOMENTO DE REFLEXÃO Lao-Tsé, filósofo e sábio chinês que viveu no século 14 antes de Cristo, afirmava: “O líder ruim é aquele que as pessoas desprezam. O bom líder é aquele que as pessoas elogiam. O grande líder é aquele sobre quem as pessoas dizem: nós fizemos sozinhos”. Pense em sua atuação diante das pessoas a quem você lidera. Baseado na afirmação de Lao-Tsé, como você acredita que essas pessoas o vêm? pre aprendendo. Nunca desperdiça aquilo que pode obter a partir de uma boa conversa porque, mais do que falar, está sempre pronto a ouvir. Um ponto fundamental: o líder visionário não tem a liderança como o seu principal objetivo, mas sim o que pode obter a partir dela, tanto para ele, quando para aqueles a quem lidera. Os líderes visionários têm um ponto em comum: gostam de pessoas. Sabem que uma de suas principais funções é conhecer as necessidades das outras pessoas e procurar atendê-las. Normalmente, conseguem o que querem porque trabalham para que as outras pessoas também possam conseguir o que desejam. Eles sabem que as necessidades dos outros não são idênticas às suas e que não irão compreendê-las sem ouvir muito.
Assim, o líder visionário é aquele preocupado em dar a máxima atenção ao que as outras pessoas pensam, sentem e expressam. Líderes visionários sabem construir sonhos ambiciosos e desejáveis, porque são convictos de que é a partir da idealização de sonhos que se constrói o futuro. Mas o mais importante: não são egocêntricos. Eles não guardam seus sonhos somente para si, pelo contrário, compartilham sua visão e trabalham intensamente para cooptar as pessoas e fazer dos seus sonhos, os sonhos de todos. O líder visionário não é, em essência, individualista. Sabe que precisa das outras pessoas e que, apenas a partir de esforços sinérgicos, poderá realizar seus sonhos. Mas ao fazê-lo, ele não se torna o único dono. Sabe reconhecer e
A CONQUISTA DA EQUIPE
Mas os líderes visionários não desenvolvem uma cultura apenas para fidelizar seus funcionários. Eles também atraem aqueles que, direta ou indiretamente, interagem com a sua empresa, como clientes e fornecedores. As pessoas acreditam naquilo que fazem porque suas ações não são superficiais ou enganosas, mas absolutamente verdadeiras. Trabalham exaustivamente com as mãos e a mente, mas à frente de tudo está o coração. Há um ponto que precisa ser esclarecido: o líder não nasce pronto. Embora algumas características inatas possam favorecer sua formação, o líder precisa ser construído. E não há formula ou receita mágica para isso. Assim como, para aqueles que desejam se tornar um profissional destacado, faz-se necessário muito estudo e experimentação prática, para aqueles que querem se tornar um líder pleno, é preciso muito empenho, dedicação e, principalmente, muita perseverança.
JORGE BERTOLINO FILHO, ENGENHEIRO ELÉTRICO PELA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS (UNICAMP) E MESTRE EM ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS PELA FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS (FGV). SÓCIO-DIRETOR DA KWAAP, EMPRESA COM FOCO NO DESENVOLVIMENTO PESSOAL E ORGANIZACIONAL. ATUOU COMO DIRETOR ADMINISTRATIVO E FINANCEIRO EM EMPRESAS DE GRANDE PORTE NOS SETORES DE TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO, TELECOMUNICAÇÕES, FARMACÊUTICA, TRANSPORTES E ALIMENTOS. PRESTA CONSULTORIA NA ÁREA DE GESTÃO, PARA EMPRESAS DOS MAIS VARIADOS SETORES. É PROFESSOR DE GESTÃO EM CURSOS DE GRADUAÇÃO E PÓS-GRADUAÇÃO (PRESENCIAIS E A DISTÂNCIA). É PALESTRANTE EM TEMAS, COMO: PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO, MARKETING, RH, COMUNICAÇÃO, VENDAS, ENTRE OUTROS. AUTOR DO LIVRO MOTIVAÇÃO, PUBLICADO PELA EDITORA ALINEA.
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COMUNICAÇÃO
O ATO DE SE COMUNICAR O PROCESSO DE CONVERSAÇÃO NA LIDERANÇA VAI MUITO ALÉM DO QUE SIMPLESMENTE FAZER UM BELO DISCURSO, POIS ABRANGE UMA SÉRIE DE RECURSOS A PARTIR DA QUAL É POSSÍVEL TRANSMITIR AQUILO QUE EFETIVAMENTE SE QUER EXPRESSAR POR JORGE BERTOLINO FILHO
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“Se você falar com um homem numa linguagem que ele compreende, isso entra na cabeça dele. Se você falar com ele em sua própria linguagem, você atinge seu coração” Nelson Mandela
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Especialistas em gestão são unânimes em afirmar que a comunicação é um requisito fundamental para o sucesso dos negócios. Por esse motivo, a maior parte das pessoas acredita que bons líderes são, em sua essência, bons comunicadores. De fato, a comunicação é uma arma pode-
rosa, que nas mãos certas pode contribuir para a obtenção de resultados fantásticos. Então isso significa que, para ser um líder eficaz, basta dominar a arte de falar bem em público? Certamente, não! Se apenas um bom discurso fosse suficiente para mover as pessoas na direção desejada, então seria muito fácil ser um líder. E ainda pior, seria muito fácil manipular as pessoas para interesses pessoais. Felizmente, o líder vai muito além do discurso em prol de seus ideais. O líder visionário se faz pelas ações e não pelas palavras. Antes, porém, de discutirmos essa questão, precisamos compreender um pouco mais sobre alguns conceitos teóricos. Segundo o professor Izidoro Blikstein, uma das maiores autoridades no assunto, “comunicação é um processo de transmissão de ideias que utiliza os mais variados tipos de ferramentas visando obter respostas”. Respostas, nesse caso, são os objetivos que o remetente (comunicador) tem em mente antes de iniciar o processo de comunicação. A boa comunicação é, portanto, aquela que estimula o destinatário (ouvinte) a se movimentar na direção desejada. Assim, podemos afirmar que a comunicação é eficaz quando os objetivos idealizados antes do início do processo são alcançados.
É claro que existem muitos líderes que possuem o “dom da palavra”. São pessoas que sabem falar bem, que se expressam com desenvoltura e, por isso, conseguem envolver seus ouvintes. Não há como desconsiderar o fato de que pessoas com tais habilidades são, em alguma dimensão, diferenciadas. Em regra, para esses indivíduos, é muito mais fácil agregar outras pessoas em torno daquilo que desejam obter. A boa notícia, no entanto, é que, para ser um líder comunicativo, não precisamos saber fazer bons discursos, até mesmo porque as pessoas são muito mais atentas àquilo que vêm do que àquilo que ouvem. Em linhas gerais, estamos afirmando que ter o poder da comunicação é sim cooptar as pessoas para os nossos objetivos, mas isto não precisa acontecer apenas por meio de retóricas brilhantes. CAMINHOS DA COMUNICAÇÃO
Existem duas formas de nos comunicarmos. A primeira é a verbal, que ocorre por meio da comunicação escrita ou falada. Trata-se de um tipo de comunicação que aprendemos desde o nascimento e, portanto, muito presente em nossas vidas. Seja em uma conversa informal com um amigo ou em uma reunião de trabalho com muitas pessoas, seja
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COMUNICAÇÃO
escrevendo um e-mail ou ainda gravando uma mensagem de voz no WhatsApp, estamos o tempo todo utilizando a comunicação verbal como forma de transmitir ideias e pensamentos. Mas há outro tipo de comunicação, denominada não verbal, que acontece por meio da nossa linguagem corporal, tais como expressões faciais, gestos, maneira de olhar, maneira de se vestir, tom de voz, entonações, etc. A comunicação não verbal inclui também a utilização de desenhos, imagens, sons, cheiros, cores, sabores, texturas, símbolos, etc. De modo geral, ela é muito mais intensa do que a comunicação verbal, pois se aproveita dos cinco sentidos para se comunicar. Os profissionais de marketing entendem muito bem o poder desse tipo de comunicação. Você já viu alguma propaganda de cerveja em que a tulipa não apareça suada, ou ainda uma propaganda de café que não tenha “fumacinha” saindo da xícara? Pois é, esses recursos fantásticos, que ajudam a valorizar aquilo que está sendo exposto ao público consumidor, são baseados na comunicação não verbal. Observe atentamente uma pessoa falando. Note como ela movimenta os braços e como externa suas emoções por meio de sua entonação de voz. Fique atento a todos os seus movimentos e gestos. Perceba os movimentos de suas mãos e, principalmente, de suas expressões faciais. Notadamente, quando a pessoa não é verdadeira, suas palavras não estarão em harmonia com o que o seu corpo comunica, ou seja, quando uma pessoa não acredita veemen12
temente em seus propósitos, sua comunicação não verbal vai estar em desacordo com suas palavras. Note, portanto, que a comunicação eficaz é muito mais do que simplesmente fazer um belo discurso ou proferir palavras bonitas para convencer as pessoas. Comunicação vai muito além, pois abrange uma série de recursos a partir da qual é possível transmitir aquilo que efetivamente queremos expressar. Embora seja verdade que muitos líderes têm facilidade em se comunicar publicamente, não é verdade que todo líder precisa saber falar com absoluta desenvoltura. De fato, há muitos líderes que sabem se expressar com competência quando estão diante de um grande público. Esse é um diferencial que em determinadas circunstâncias pode ajudar. Mas há os que não possuem essa competência, pelo contrário, quando estão diante de uma plateia sentem-se inibidos. Mas nem por isso deixam de ser líderes, porque conseguem contornar suas dificuldades utilizando ou-
tras formas para transmitir aquilo que desejam. Em regra, utilizam-se da comunicação não verbal. Warren Bennis e Burt Nanus, dois dos maiores especialistas em liderança no mundo, assim se expressam acerca desse aspecto: “Apesar das variações de estilo – quer seja verbal ou não, quer por meio da música ou de palavras –, todo líder de sucesso está consciente de que uma organização se baseia em um conjunto de significados partilhados que definem papéis e autoridade. Ele ou ela também está consciente de que uma responsabilidade-chave é comunicar o ‘esquema’ que molda e interpreta situações, de modo que as ações dos empregados sejam guiadas por interpretações comuns da realidade”. O que se conclui é que os líderes precisam se comunicar, principalmente no sentido de criar significados na vida das pessoas. Precisam deixar claro o caminho que escolheram para ser trilhado e, em seguida, cooptar as pessoas para que todos percorram esse caminho. Mas essa tarefa não
MOMENTO DE REFLEXÃO • Como você enxerga seu processo de comunicação? Você acredita que consegue transmitir com clareza tudo aquilo que deseja obter para sua organização? • E do ponto de vista dos seus liderados: você se preocupa em mostrar o que todos têm a ganhar se todas as metas forem atingidas? • Você já pensou em ter uma conversa franca, honesta e absolutamente aberta com seus liderados a respeito da comunicação da empresa? Observação: as falhas de comunicação aparecem na grande maioria das pesquisas de Clima Organizacional como um dos principais fatores de desmotivação da força de trabalho. Portanto, não acredite que tudo está bem. Converse com as pessoas, abra sua mente e principalmente seu coração. É isso que fazem os líderes visionários.
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precisa ser feita a partir de um lindo discurso. Muitos líderes fazem isso sem dizer uma única palavra. Conseguem passar o que sentem ou o que desejam por intermédio de suas ações. Na verdade, as ações são muito mais consistentes do que as palavras. Assim como a criança que observa muito mais as atitudes do pai do que àquilo que ele ensina, os liderados também estão muito mais atentos ao que o líder faz do que ao que efetivamente fala. CONSCIÊNCIA NOTÁVEL
O líder visionário, portanto, sabe que, quando deseja algo, precisa mostrar a importância que aquilo tem para as pessoas. E é exatamente isso que ele faz, ele envolve seus liderados, não
OS LÍDERES PRECISAM SE COMUNICAR, PRINCIPALMENTE NO SENTIDO DE CRIAR SIGNIFICADOS NA VIDA DAS PESSOAS. PRECISAM DEIXAR CLARO O CAMINHO QUE ESCOLHERAM PARA SER TRILHADO E, EM SEGUIDA, COOPTAR AS PESSOAS PARA QUE TODOS PERCORRAM ESSE CAMINHO necessariamente com palavras, mas especialmente com atitudes e ações. Sabe como transmitir aquilo que realmente deseja, mesmo que seja contando uma história, desenhando uma bela paisagem, construindo esquemas ou gráficos, cantando ou fazendo com que todos ouçam uma música, escrevendo ou declamando uma poesia ou, até mesmo, expressando-se por meio de metáforas. Não importa os recursos de que
ele se utiliza, seu processo de comunicação tem a capacidade de envolver as pessoas. O líder visionário sabe que a comunicação ocorre por meio dos sentidos, mas, além disso, sabe como estimular cada um deles. Um som, um sabor ou um cheiro podem ser armas eficientes na hora de se comunicar alguma coisa importante. O toque carinhoso nos ombros de uma pessoa como forma de agradecimento por uma
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COMUNICAÇÃO
A COMUNICAÇÃO EFICAZ É MUITO MAIS DO QUE SIMPLESMENTE FAZER UM BELO DISCURSO OU PROFERIR PALAVRAS BONITAS PARA CONVENCER AS PESSOAS. COMUNICAÇÃO VAI MUITO ALÉM, POIS ABRANGE UMA SÉRIE DE RECURSOS A PARTIR DA QUAL É POSSÍVEL TRANSMITIR AQUILO QUE EFETIVAMENTE QUEREMOS EXPRESSAR grande conquista pode expressar um significado muito maior do que qualquer palavra. Mas não é somente para passar um comunicado adiante ou transmitir uma ideia que o líder deve utilizar a comunicação. Tão importante quanto essas funções é o processo de feedback que a comunicação proporciona. As pessoas precisam saber o que a empresa espera delas e, ao mesmo tempo, o que podem esperar da empresa. Realimentá-las, sobre sua atuação profissional, é um dos papéis que o líder visionário sabe exercer com maestria. Elogiar alguém por um trabalho benfeito pode parecer uma tarefa fácil – apesar de nem sempre ser assim. Mas muito mais complicado, sem dúvida, é mostrar para alguém da equipe, com quem se convive dia a dia, os aspectos em que ele necessita evoluir. Esse é, sem dúvida, o maior e mais importante objetivo do feedback. Daniel Goleman, escritor, psicólogo e consultor americano, conhecido em todo o mundo pela relevância de seus trabalhos na área da Inteligência Emocional, assim se expressa acerca da importância do feedback: “Numa empresa, todos fazem parte de um sistema e, neste caso, o feedback é a possibilidade de evitar a entropia – a troca de informação permite que as pessoas saibam que seus respectivos trabalhos estão sendo 14
bem executados, que precisam aprimorá-los, melhorar ou reformular totalmente. Sem feedback, as pessoas ficam no escuro; não têm ideia da avaliação que o líder faz de seu trabalho, com os colegas, ou o que é esperado delas, e qualquer problema que eventualmente exista só tende a se agravar com o passar do tempo. Num certo sentido, a crítica é uma das mais importantes tarefas de um administrador. [...] Também a eficiência, satisfação e produtividade das pessoas no trabalho dependem de como lhes são transmitidos os problemas incômodos. Na verdade, a maneira como são feitas e como são recebidas as críticas diz muito sobre até onde as pessoas estão satisfeitas com seu trabalho, com os que trabalham com elas e com a liderança”. CONFIANÇA ENTRE AS PARTES
Finalmente, faz-se necessário realçar novamente a importância da credibilidade no processo de liderança. Ao líder, não basta comunicar, é preciso ser autêntico, ético, transparente, justo e, principalmente, verdadeiro em sua comunicação. A lógica nos diz que se existem líderes, é porque existem liderados. Então a grande questão que fica é: por que alguém seguiria o caminho indicado por outra pessoa ao invés de definir e trilhar o seu próprio caminho? Notadamente porque o líder sabe indicar
um caminho que vale a pena ser percorrido além de ser hábil em idealizar o que as pessoas podem encontrar ao seu final. Mas não é só isso. As pessoas não seguem líderes em quem não confiam. Aliás, se não houver confiança, nem se pode dizer que existe liderança, porque, a bem da verdade, a liderança só existe no coração daqueles que confiam e, portanto, nela acreditam. Falando francamente, sabe-se que há falsos líderes. De caráter duvidoso, mas detentores do “dom da palavra”, utilizam esta habilidade como engodo. Por meio de discursos grandiosos, traçam cenários mirabolantes e prometem “mundos e fundos”, muito mais do que realmente podem cumprir. São internamente inconsistentes e vazios, mas convincentes em suas oratórias. No entanto, para nosso regozijo, eles não duram muito. Um líder pode enganar seus liderados, mas certamente não será por muito tempo. Vale lembrar que as ações de um líder visionário devem falar mais alto do que suas palavras. O líder pode usar uma bela retórica, mas se não for verdadeiro em suas ações e, principalmente, se estas não estiverem em sintonia com suas promessas discursivas, ele certamente não se tornará um líder longevo. É apenas questão de tempo – basta esperar para ver sua máscara cair.
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PERFIL
O LÍDER FRENTE ÀS DIFERENÇAS INDIVIDUAIS ANTES DE TENTAR COMPREENDER AS PESSOAS, É PRECISO ENTENDER O SEU PRÓPRIO COMPORTAMENTO POR JORGE BERTOLINO FILHO
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O texto a seguir foi escrito na tumba de um bispo anglicano, que viveu em 1100 d.C., nas criptas da abadia de Westminster na Inglaterra. Sua mensagem reflete perfeitamente o tema que iremos abordar neste artigo. “Quando era jovem e livre, e minha imaginação não tinha limites, eu sonhava em mudar o mundo. Ao amadurecer, descobri que o mundo não mudaria. Restringi então minhas ambições e decidi mudar apenas meu País, mas ele também parecia imutável. No ocaso de meus anos, numa última e desesperada tentativa, resignei-me a mudar apenas minha família… aqueles próximos de mim, mas, infelizmente, eles não quiseram saber. 16
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“O tempo é limitado, então não gastes seu tempo vivendo a vida de outro. Não fiques preso no dogma que é viver como os outros pensam que deverias viver. Não deixe que as opiniões dos outros calem sua voz interior. E o mais importante, tenha coragem para fazer aquilo que manda seu coração e intuição” Steve Jobs
Agora, no meu leito de morte, percebo: se houvesse começado por mudar a mim mesmo, talvez, pelo meu exemplo, mudasse minha família. Com a sua inspiração e incentivo, eu poderia então ter melhora-
do meu País e, quem sabe, talvez até transformado o mundo.” Reconhecer e valorizar a importância das pessoas que nos cercam é um dos atributos mais importantes para quem quer ser um líder visionário. Tão certo FOTOS: SHUTTERSTOCK
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RECONHECER E VALORIZAR A IMPORTÂNCIA DAS PESSOAS QUE NOS CERCAM É UM DOS ATRIBUTOS MAIS IMPORTANTES PARA QUEM QUER SER UM LÍDER VISIONÁRIO. NENHUM LÍDER É CAPAZ DE VENCER TODAS AS BATALHAS SE NÃO PUDER CONTAR COM UM EXÉRCITO COMPETENTE
como o nascer do sol a cada dia, é o fato de que nenhum líder é capaz de vencer todas as batalhas se não puder contar com um exército competente e comprometido com seus ideais. Líderes consagrados gostam de gente, porque sabem que é apenas a partir das pessoas que podem alcançar seus próprios objetivos.O renomado escritor e ator italiano Luciano de Crescenzo nos brinda com sua sabedoria ao afirmar: “Somos todos anjos com uma asa só, e só podemos voar quando abraçamos uns aos outros”. Não há, de fato, voo solo no contexto da liderança. Assim como “uma só andorinha não faz verão”, o líder solitário tem muito pouco,
ou quase nada, a fazer para mudar as coisas à sua volta. Mas é preciso ter em mente um aspecto fundamental. Para obter o apoio e, principalmente, o comprometimento das pessoas, é necessário, pelo menos em certa medida, ajudá-las a conseguir aquilo que desejam, uma afirmação que parece simples, mas que enseja uma convicção que é a base em que os líderes devem apoiar suas ações: quando ajudamos, com sinceridade, as pessoas a realizar seus sonhos, ou quando mostramos que ao realizarem os nossos sonhos estão, na verdade, realizando os seus próprios, elas estarão prontas para lutar ao nosso lado incondicionalmente. Portanto, não é heresia afirmar que boa parte do êxito de um líder visionário vem de sua capacidade de conhecer a necessidade das outras pessoas e, a partir de então, saber atendê-las. Um erro fatal que alguns propensos líderes cometem nesse ponto é acreditar que os outros têm as necessidades idênticas às suas, ou então que é possível descobrir as necessidades das outras pessoas apenas observando-as. Infelizmente não é tão simples assim. A sabedoria bíblica nos dá conta de que os homens são todos iguais perante Deus, o mesmo não se pode dizer do homem
perante o homem. Apesar de ser submetidos a orientações e controles sociais semelhantes, os homens são diferentes entre si, em suas formas de se comportar diante dessas mesmas circunstâncias sociais. E essas diferenças existentes entre as pessoas decorrem de dois motivos básicos: primeiro, nascem diferentes uma vez que cada uma carrega sua própria bagagem hereditária. Segundo, ao longo de suas vidas, são submetidas a experiências únicas, que as marcam de forma indelével. IMERSÃO PROFUNDA
Como é possível conhecer tão bem as pessoas a ponto de compreender suas necessidades mais latentes? Será esta uma tarefa fácil? Infelizmente para os líderes, conhecer a dinâmica do comportamento humano é, certamente, um dos seus maiores desafios, uma tarefa extremamente complexa, para não dizer impossível. O grande psicólogo francês Jean-Francois Chanlad ressalta a impossibilidade de vencer plenamente esse desafio ao afirmar: “... numerosos são os que, ainda hoje, fecham o ser humano em esquemas redutores e que, frequentemente, têm a impressão simplória de ter captado a essência do ser humano. A realidade humana que encontramos na
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PERFIL
organização não poderá jamais ser reduzida a tais esquemas. Só uma concepção que procura apreender o ser humano na sua totalidade pode dele se aproximar, sem, contudo, jamais o esgotar completamente”. Apesar de esclarecedora, a afirmação de Chanlad enfatiza um lado obscuro da questão: como liderar diante da impossibilidade de conhecer plenamente a natureza dos liderados? Embora não exista uma resposta definitiva para a questão, estudos no campo da psicologia denotam a importância do autoconhecimento. Assim, o líder visionário destaca-se por conhecer a si mesmo, se não plenamente – o que parece ser impossível – pelo menos em grande parte. A introspecção faz parte do seu dia a dia, porque entende a importância de compreender os motivos que o movem, os fatores que o satisfazem, assim como os estigmas que o esmorecem. Reflete constantemente sobre suas fraquezas e potencialidades, suas alegrias e angústias, porque entende que elas são os orientadores da sua visão e, consequentemente, de suas ações. Entende que “boa” não é, necessariamente, aquela pessoa que se parece com ele porque tem os mesmos estilos motivacionais, assim como, também, não discrimina os que pensam de maneira diferente ou os que adotam linhas de comportamento diferente da sua. Tem bom conhecimento do seu “eu” interior, o que lhe permite compreender melhor o comportamento motivacional das outras pessoas. 18
UM DOS PRINCIPAIS MOTIVOS PELO QUAL ALGUMAS PESSOAS QUE DETÊM O PODER ESTÃO SEMPRE EM DESARMONIA COM SEUS SUBORDINADOS É QUE SUAS MOTIVAÇÕES SÃO DIFERENTES
AUTOCONHECIMENTO
São preciosas as palavras do Dr. Konrad Lorenz, prêmio Nobel de Medicina e Fisiologia em 1973: “É impossível a um ser, que não saiba da existência do próprio eu, desenvolver um pensamento abstrato, uma linguagem ou uma consciência ou ainda uma moral responsável. O homem que cessa de refletir corre o risco de perder todas as qualidades e realizações especificamente humanas”. Mais adiante, ele complementa: “... é notória a incapacidade do homem moderno de ficar só consigo mesmo, ainda que por um curto espaço de tempo. Qualquer possibilidade de reflexão e introspecção é evitada com temeroso cuidado, como se existisse um medo de que
a reflexão pudesse descobrir um horrível autorretrato...”. Conforme afirma o Dr. Lorenz, a maioria das pessoas acha desnecessário investir algum tempo para refletir sobre si mesmo, porque acredita que tem pleno domínio sobre sua personalidade. Falando francamente, o que essas pessoas não percebem é que o parco conhecimento que possuem se restringe a uma pálida figura que aparece refletida no espelho toda manhã quando vão escovar os dentes, uma imagem que esconde, por traz da persona que se revela, seus sentimentos mais íntimos. Assim como é extremamente difícil conhecer a natureza das outras pessoas, conhecer a nossa própria natureza,
MOMENTO DE REFLEXÃO • Quanto tempo você investe pensando em suas potencialidades e nos aspectos que precisa realmente melhorar? • Você costuma recriminar e/ou se afastar das pessoas que possuem posições diferentes da sua, ou para você, essas pessoas devem sempre ser ouvidas, pois fazem enxergar caminhos alternativos? • Que espaço você dá aos seus liderados para que possam livremente expressar suas opiniões, ainda que diametralmente diferentes da sua? Observação: converse francamente com as pessoas com as quais você se relaciona frequentemente e veja se elas concordam com suas respostas.
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ainda que apenas parte dela, é uma tarefa hercúlea. Mas o melhor caminho é, certamente, a reflexão introspectiva. Note que se não sabemos nada a nosso próprio respeito, então como podemos entender as pessoas que fazem parte da nossa vida, seja ela profissional ou pessoal. Por isso, o líder visionário, antes de tentar compreender as pessoas, caminha sempre na direção de entender o seu próprio comportamento. Somente a partir do momento em que ele admite suas próprias imperfeições, é que passa a compreender e aceitar as limitações dos outros. Apenas quando descobre que alguns de seus gostos e costumes não são comuns a todas as pessoas, é que reconhece o direto que todos têm
de possuir suas próprias excentricidades. Somente quando percebe que seus momentos de felicidade se diferenciam do conceito que a êxtase possui para outras pessoas, é que ele entende que nem tudo o que é “bom” para ele tem de satisfazer àqueles que estão ao seu lado. Compreende, finalmente, que as motivações das outras pessoas podem ser diferentes das suas porque somos seres humanos, por natureza, seres diferentes. COMPORTAMENTOS ÚNICOS
Um dos principais motivos pelo qual algumas pessoas que detêm o poder estão sempre em desarmonia com seus subordinados é que suas motivações são diferentes. Embora isso sempre faça parte do impasse que contrasta os vários
estilos de comportamento, o líder visionário consegue lidar bem com o problema porque pergunta sobre o sonho dos liderados, procurando compreendê-los à luz dos seus próprios sonhos. Assim, quando finalmente descobre os sonhos dessas pessoas e, principalmente os entende, ele sempre encontra um caminho que todos terão prazer em trilhar. Finalmente, podemos retornar ao início deste artigo para analisar de forma mais balizada a essência do texto que o encabeça. Sua mensagem parece clara: se você quer mudar o mundo, comece por mudar a você mesmo. Antes, porém, lembre-se de conhecer a fundo quem você é realmente. Os líderes visionários sabem que esse é o melhor caminho.
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HABILIDADE
COACHING E LIDERANÇA
C PATRICIA MÜLLER BUZOLIN MEMBRO FUNDADOR ICF CAPÍTULO SP
O PROCESSO DE COACHING PODE CONTRIBUIR COM O DESENVOLVIMENTO DE UM LÍDER
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Com a entrada de novas gerações no mercado de trabalho e o avanço da tecnologia, o estilo de liderança exigido aos líderes tem se transformado. Cada dia mais é esperado um líder com perfil coach. E como é esse líder com perfil coach? Segundo Eliana Dutra, a primeira coach MCC (Master Coach Certified pela ICF – International Coach Federation) do Brasil, “se o gestor ouve verdadeiramente com interesse e entende além das palavras; se ele pergunta poderosamente sem que a equipe se sinta encurralada, sem tentar dirigir para a solução que ele pensou; se a equipe se sente desafiada, mas não ameaçada; se ele dá feedback ou informa sem que a equipe fique ressentida – então, provavelmente, ele é um gestor coach, tendo ele aprendido essas habilidades ou que faça isso naturalmente”. Se prestarmos bem a atenção na definição de gestor coach, identificaremos que se trata muito mais de habilidades comportamentais e interlacionais do que habilidades técnicas. Essas habilidades geralmente são desenvolvidas ao longo de nossas vidas por meio de experiências práticas. Quando não tivemos a oportunidade de exercitar esse tipo de habilidade na vida, é perfeitamente aceitável que nos sintamos inseguros ou perdidos quando assumimos o papel de líder de uma equipe. Nesse contexto, o coaching surge como uma possibilidade para desenvolver essas competências práticas. Na primeira fase do processo de coaching, o líder passará por uma etapa
de autoconhecimento com a utilização de ferramentas de mapeamento de perfil de liderança e feedback 360, recebendo inputs de como é percebido pelas pessoas que interagem com ele no seu dia a dia de trabalho. Por que essa é uma fase crucial do processo? É difícil encontrar nas organizações uma cultura de diálogo franco e aberto, assim quanto mais o líder sobe na hierarquia organizacional, menos feedback recebe sobre como seu comportamento impacta nas pessoas com quem interage, e é muito difícil mudarmos um comportamento se não sabemos o impacto negativo que ele causa. Outro aspecto interessante de passar por um processo de coaching é que o líder experimentará a força dessa ferramenta na sua própria vida. O líder irá perceber o poder da mudança quando ela parte das ideias do próprio indivíduo (neste caso, ele mesmo), e como quando encontramos a solução por nós mesmos, a implementação da mudança se torna mais fácil. Ele aprenderá por meio das perguntas do seu coach a adotar perguntas mais abertas e poderosas com sua própria equipe, experimentando uma nova forma de diálogo com seus liderados. E, por último, mas não menos importante, um processo de coaching dura aproximadamente de 6 meses a um ano; neste tempo, o líder pode praticar os novos comportamentos que identificou como necessários ao seu melhor exercício da liderança, solidificando o novo estilo de liderança adotado por ele. FOTO: DIVULGAÇÃO
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OBJETIVOS E APTIDÕES DO LÍDER AO REUNIR OS VÁRIOS TALENTOS DE QUE DISPÕEM À SUA VOLTA E IDEALIZAR OS CAMINHOS QUE IRÃO LEVÁ-LOS A SUPRIR AS NECESSIDADES DA SOCIEDADE, OS DIRIGENTES REALIZAM SUA PRINCIPAL FUNÇÃO POR JORGE BERTOLINO FILHO
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Existe uma pergunta que deveríamos fazer a todos aqueles que estão em cargos de direção: “O que você está fazendo para que o mundo seja um lugar melhor?”. Mudar o mundo é uma utopia, diriam alguns. Mas isso está bem longe de ser verdade. Todos nós temos a capacidade de modificá-lo em alguma dimensão, basta querer e trabalhar duro para isto. Albert Einstein, físico teórico alemão, mudou o mundo quando desenvolveu a Teoria da Relatividade . O grande compositor alemão Ludwig van Beethoven também promoveu mudanças significativas ao criar a sua quinta sinfonia. Os operários que trabalharam arduamente para construir as pirâmides do Egito
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“Para ser um líder, você tem que fazer as pessoas quererem te seguir, e ninguém quer seguir alguém que não sabe onde está indo” Nelson Mandela
ajudaram a mudar o mundo. Não foi somente Neil Armstrong que provocou grandes transformações no cenário mundial ao pisar na lua, mas as centenas de pessoas que trabalharam anos a fio para construir o projeto Apolo. Não estamos apenas de passagem neste mundo. Tampouco devemos nos considerar ilustres
visitantes. Cada um de nós está aqui para cumprir uma missão específica: trabalhar para tornar o mundo um lugar melhor para os nossos descendentes. Felizmente, esta é uma verdade inequívoca para a grande maioria das pessoas. E é exatamente nesse contexto que se consubstancia a figura do líder visionário. FOTOS: SHUTTERSTOCK
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UM LÍDER É TÃO GRANDE QUANTO A GRANDEZA DA VISÃO QUE ELE É CAPAZ DE CRIAR. A VISÃO QUE CONSTRÓI UMA ORGANIZAÇÃO É A MESMA QUE ALIMENTA O ESPÍRITO DE SEUS COLABORADORES OU, MAIS CONCRETAMENTE FALANDO, É AQUELA QUE CRIA SIGNIFICADOS PARA TODOS EM BUSCA DA CONQUISTA
No mundo pessoal, assim como no organizacional, as pessoas querem cumprir sua missão e, para tanto, querem ver o resultado do trabalho que realizam. Engana-se quem acredita que o homem só trabalha por dinheiro. Embora ganhar dinheiro possa ser uma consequência importante do trabalho, muito mais do que isso, o homem trabalha para construir algo. No fundo do peito, todos anseiam por deixar um legado, alguma coisa especial que ficará para as próximas gerações. E, somente quando as pessoas compreendem que o trabalho que estão executando está contribuindo para a construção desse legado, é que elas sentem que há significado em suas vidas, uma vez que não há como separar a vida no trabalho do resto da vida. C. K. Prahalad e Gary Hamel, dois dos maiores nomes do management internacional, são primorosos ao discorrerem sobre esse assunto: “Todos os funcionários têm o direito de achar que estão contribuindo para a construçãode um legado – algo de valor maior e mais duradouro do que qualquer coisa que uma pessoa possa realizar sozinha. E o apelo à emoção e ao intelecto precisa se basear em outras coisas além da perspectiva de ganho financeiro pessoal”.
Guy Kawasaki, especialista em tecnologia, que atuou como evangelista da Apple, reforça esse pensamento ao afirmar: “Algumas empresas colocam seu foco apenas em ganhar dinheiro e, com o tempo, fracassam. Os empresários deveriam se preocupar em fazer algo que vá mudar o mundo, que dê significado à vida das pessoas, aí o sucesso financeiro certamente será uma consequência”. A função do líder nesse contexto é determinante. Além das tarefas básicas, voltadas à sustentabilidade da organização, ele deve exercer uma função muito mais nobre e relevante: reunir os vários talentos de que dispõe a sua volta e idealizar os caminhos que irão levá-los a suprir as necessidades da sociedade. Mas seus esforços não param por aí, precisam ir adiante. Deve mostrar a importância que cada pessoa tem no contexto geral e, principalmente, como a participação de cada um contribuiu para a construção do resultado final. Dar um propósito para a vida das pessoas é, portanto, uma de suas maiores responsabilidades. IDEALIZANDO SONHOS
Líderes visionários conhecem bem a força dos sonhos. Victor Hugo, renomado poeta e dramaturgo francês, foi provavelmente
uma das pessoas que melhor retratou a importância dos sonhos ao afirmar: “Não há nada como um sonho para criar o futuro”. O líder visionário sabe expressá-lo construindo uma visão de futuro consistente do que deseja alcançar. Mas para contar com o comprometimento de toda a organização, precisa criá-la à luz dos sonhos e das esperanças de todos. Se não estiver focado na criação de uma visão compartilhada, ele acabará construindo uma visão apenas para si, portanto pouco inspiradora e que, consequentemente, não terá a adesão da maioria. Criar uma visão de futuro não é, certamente, uma tarefa fácil. As pessoas não irão seguir alguém que lhes aponta um caminho duvidoso, sem muita relevância ou, ainda, que só oferece benefícios para uma minoria privilegiada. A construção da visão requer inspiração, ética e, sobretudo, significado compartilhado. As pessoas precisam olhar e dizer: “Uau! vale a pena lutar por ela”, ou ainda, “quero estar aqui quando essa visão for alcançada”. As pessoas são capazes de dar respostas espetaculares quando descobrem na visão criada pelo líder uma razão para o que fazem. Indubitavelmente, quando sentem que seu trabalho contribui para algo maior, elas crescem em energia, perseverança e criatividade. A visão de futuro representa o “norte”, no sentido de ser o caminho para onde a organização deve caminhar. Em regra, ela aponta a direção do “porto seguro”, o local para onde todos devem remar o barco. Mas, além disso, deve refletir claramente
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os “benefícios” que todos terão a partir de sua conquista. Deve ser tão especial, tão apaixonante, que em certos momentos temos a sensação de que é “mágica”. Precisa ter o dom de mostrar para as pessoas que é exatamente na busca pelo seu alcance que todos estarão efetivamente construindo o legado de que falamos há pouco. Em síntese, é ela que, por sua grandeza, vai atribuir significado à vida das pessoas. Criá-la, desta forma, é uma responsabilidade dos líderes visionários. AÇÕES VINDOURAS
Cabe ressaltar, no entanto, que o líder pode gerar novas perspectivas para as pessoas por meio da criação da visão de futuro, mas elas só se tornarão realmente relevantes após fundir-se ao DNA corporativo ou, mais precisamente falando, quando este estiver no sangue das pessoas, agindo com princípio orientador. Um líder é tão grande quanto a grandeza da visão que ele é capaz de criar, mas não podemos esquecer que essa visão jamais poderá ser instituída por “decreto” ou “atos de coerção”. As pessoas não irão seguir um caminho, pelo menos não com o coração, apenas por imposição. A visão que constrói uma organização é a mesma que alimenta o espírito de seus colaboradores ou, mais concretamente falando, é aquela que cria significados para todos. Na década de 1960, o mundo se dividia entre duas grandes potências. Do lado ocidental, os Estados Unidos da América e do oriental, a antiga União Soviética. Era a época da cha24
mada “guerra fria”, um combate travado entre as duas superpotências, notadamente muito mais no campo diplomático do que no campo de batalha. Um dos fatos marcantes desse período foi a corrida espacial. Acreditava-se, naquele momento, que o domínio do espaço sideral daria, à nação dominante, a hegemonia mundial. E os soviéticos estavam à frente. Foram eles que lançaram a primeira nave espacial não tripulada, o Sputnik. Também foram precursores em colocar um homem no espaço. No início de 1961, a bordo do Vostok I, o cosmonauta russo Yuri Gagarin deu uma volta completa em torno da terra a uma altitude de 315 quilômetros. Tudo indicava, portanto, que os soviéticos ganhariam a grande corrida. John Fitzgerald Kennedy acabava de assumir o comando dos Estados Unidos. Sabia que era necessário ganhar o embate, mas estava ciente de que apenas com esforços isolados não haveria qualquer chance. No entanto, na função de líder maior da nação americana, tinha convicção de que poderia e deveria cooptar o povo americano a ir à luta. E foi exatamente isso que ele fez. Em um discurso eletrizante proferido em uma sessão conjunta do Congresso e do Senado em maio de 1961, ele construiu uma visão que veio a se tornar uma das mais poderosas armas da nação americana. Disse ele: “Eu acredito que a nação deva se comprometer para alcançar o objetivo, antes do fim da década, de aterrissar o homem na lua e fazê-lo voltar em segurança para a Terra”.
Essa visão inspiradora mobilizou toda a sociedade americana em prol da grande conquista. Cada cidadão, a seu modo, trabalhou para “colocar o homem na lua”. Não fizeram isso apenas para experimentar o gosto da vitória, mas porque haviam entendido perfeitamente bem o significado que aquela visão tinha para suas vidas. O resultado final dessa história, todos conhecem. Em 20 de julho de 1969, quase seis anos após a morte de Kennedy, o Programa da Apollo 11 conquistou seu objetivo e finalmente um homem pisou na lua. FAZENDO A DIFERENÇA
A história da corrida espacial nos dá uma excelente mostra de quão importante é o papel do líder na criação de significados. Ken Blanchard e Jesse Stoner, dois especialistas nesse assunto, reforçam ainda mais essa importância ao afirmarem: “Quando as pessoas compartilham uma visão e acreditam nela, geram energia, entusiasmo e paixão. Percebem que fazem a diferença. Constroem uma reputação sólida por excelentes produtos e serviços. Sabem o que estão fazendo e por quê. Existe um forte sentimento de confiança e respeito. Nenhum gerente precisa controlar. Eles deixam que cada um assuma sua responsabilidade, porque sabem que todos compartilham da mesma visão e conhecem bem as metas e a direção a seguir. As pessoas têm o poder de tomar decisões importantes. Não precisam submeter tudo à equipe da alta administração. Todos são responsáveis por seus atos. Todos cuidam do futuro, em vez de ficar
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MOMENTO DE REFLEXÃO • Você consegue definir claramente os seus sonhos? Você acredita que o “norte”do seu negócio está bem definido em seus sonhos? • Você se preocupa em contemplar seus liderados na idealização dos seus sonhos? • Até que ponto seus liderados conhecem e compartilham dos seus sonhos? Observação: se você quer ser um líder visionário, não acredite que você sabe tudo. Provoque uma conversa franca e liberta com seus liderados para identificar e compreender os seus sonhos.
passivamente esperando que aconteça. Existe espaço para a criatividade. Cada um pode dar sua contribuição a seu modo, e as diferenças são respeitadas, porque todos sabem que estão no mesmo barco”. Chegamos, então, à conclusão de que os líderes visionários precisam, em primeiro lugar, saber para onde devem ir, o que em outros termos corresponde à idealização de um sonho e, a partir dele, à arquitetura de uma visão de futuro inspiradora que cria propósitos de vida para todas as pessoas que dela se apropriam. Mas não é só isso. Há um ponto de fundamental importância que ainda precisa ser discutido: os propósitos que movem um líder. Infelizmente, a capacidade de criar visões inspiradoras de um
líder não é garantia de sua retidão. Líderes visionários precisam ser orientados por valores justos e consistentes e precisam praticá-los todos os dias. Os valores de um líder devem nortear suas ações, delimitando seus espaços e campos de atuação, porque, no final das contas, são esses valores que irão sedimentar seu propósito. E um líder só é “verdadeiro” quando é movido por propósitos virtuosos. Seu comportamento tem de estar rigorosamente dentro de uma ética que seja socialmente aceita. A história da humanidade está repleta de líderes inspiradores, a exemplo de Hitler ou Stalin, mestres na arte de mobilizar as pessoas em prol de seus ideais, que são condenáveis pelas práticas atrozes e,
principalmente, desumanas que utilizaram na concretização de seus sonhos. A diferença desses líderes para aqueles que julgamos “íntegros” está na natureza dos propósitos. Os líderes virtuosos não buscam concretizar a visão a qualquer custo. Ao contrário, lutam incansavelmente para diminuir o sofrimento das pessoas. Fazem da justiça e da igualdade seu principal pilar de sustentação. Não aceitam agir de forma aética até mesmo porque o que lhes causa satisfação é ver a satisfação estampada no rosto das outras pessoas. Os líderes “bons” são aqueles que lutam para disseminar o direito e a equidade entre todas as pessoas. São esses atributos que os tornam unânimes e, consequentemente, eternos.
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COMPORTAMENTO
O PERFIL COMPORTAMENTAL DO LÍDER
O FLÁVIA FEITOSA SANTANA LIFE & EXECUTIVE COACH PROFESSORA DA ESPM E FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS (FGV) SÓCIA DA NILE CONSULTORIA EM DESENVOLVIMENTO
NO CENÁRIO ORGANIZACIONAL ATUAL, LIDERANÇA INDEPENDE DO CARGO DE GESTÃO
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O tema liderança sempre intrigou a humanidade em todos os contextos. Na Grécia antiga, no império romano e em grandes eventos, incluindo guerras, destruição ou avanços sociais, a liderança sempre foi tema de interesse e, nos últimos 100 anos, é inspiração para inúmeros estudos acadêmicos e foco de investimento de toda organização que se preocupa com seus resultados e com as pessoas e equipes que movem os negócios em um cenário cada vez mais competitivo e exigente. O líder é aquele que está à frente de um time efetivo. Isso nos remete à ideia de poder. Poder é o quanto uma pessoa faz a outra realizar alguma coisa ou a capacidade que uma pessoa tem de influenciar a outra, modificando atitudes, opiniões ou comportamentos na vida do sujeito influenciado. Liderança é então o exercício do poder, pois é o que une as pessoas por um tempo limitado para trabalhar na direção de um objetivo comum. Mas há várias formas de exercermos poder e influência. No mundo contemporâneo, essa influência se dá a partir do significado construído e compreendido pelos grupos, e não mais por intermédio do uso do poder de coerção, pois este tem menor efeito no significado e menos chance de atingir os resultados. Você não precisa ser o gestor para ter de se preocupar com seu comportamento como líder, e os profissionais de recursos humanos e os executivos não podem mais se ocupar exclusivamente do desenvolvimento dos gestores. Muitas organizações são atualmente compostas por times ou
células em que a gestão tradicional não mais se aplica. Mas tudo o que se sabe sobre liderança é aplicável e deve ser pensado para todos os que trabalham, pois estamos todos, sempre, envolvidos com grupos ou com times, que precisam entregar resultados efetivos, inovadores e diferenciados. Sobre liderança também é essencial saber que ela está relacionada com a personalidade de cada líder e deve levar em consideração as características dos liderados. Personalidade é um conjunto de características relativamente estáveis que influenciam o comportamento de um indivíduo. Conhecendo a sua personalidade, você tem mais informações sobre quem você é e principalmente como você é visto pelos outros, isto é, o efeito dos seus comportamentos nos outros. Reconhecendo suas peculiaridades, você também abre um importante caminho para seu desenvolvimento e para reconhecer e respeitar o outro e as diversidades. Pois, se liderança implica em guiar e direcionar o comportamento das pessoas, você precisa reconhecer que as personalidades moldam os interesses e as motivações e que da mesma forma que a personalidade leva à liderança, a liderança pode levar à eficácia organizacional. Concluindo, para ser um bom líder, você deve, em primeiro lugar, se conhecer; você deve conhecer os membros do seu time; e, você deve produzir efeito no comportamento dos outros, isto é, exercer poder de influência sobre os outros. E influenciar o outro é uma arte que passa longe da autoridade. É a arte de produzir significado! FOTO: DIVULGAÇÃO
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INSPIRAÇÃO
AÇÕES POSITIVAS PARA CONTRIBUIR COM O CRESCIMENTO DE UMA PESSOA, O LÍDER VISIONÁRIO PRECISA FOCAR SUAS ATITUDES EXATAMENTE NAQUILO QUE ELA POSSUI DE MAIS SIGNIFICATIVO
POR JORGE BERTOLINO FILHO
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Sir Isaac Newton foi um cientista inglês, mais conhecido como físico e matemático, mas que também transitou pelas áreas da astronomia, filosofia e teologia. No século 17, ele revolucionou o mundo da mecânica clássica ao publicar sua obra Philosophiae Naturalis Principia Mathematica, até hoje considerada um dos mais influentes tratados da história da ciência. Nesse trabalho, em que ele discorre
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“A maior habilidade de um líder é desenvolver habilidades extraordinárias em pessoas comuns” Abraham Lincoln
sobre a “gravidade universal”, foram apresentadas três leis aplicáveis à mecânica, que passaram a ser mundialmente conhecidas como as Leis de Newton.
Newton é considerado o cientista que causou maior impacto na história da ciência. Mas nem sempre foi assim. Durante boa parte do tempo, em seus estudos primários, FOTOS: SHUTTERSTOCK
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pelos deficientes visuais, pelo fato de ter ficado cego muito cedo, foi considerado um incapaz. Diziam que não havia nada de relevante que ele pudesse fazer na vida e que viveria o resto dela dependendo dos outros. Mas não foi isso que realmente aconteceu. Sua contribuição para a humanidade é inestimável. Charles Darwin, um dos mais renomados naturalistas da história, homem que revolucionou a Teoria da Evolução a partir de seu trabalho A Origem das Espécies, nem sempre foi um aluno dedicado e estudioso. Quando cursava medicina, adorava faltar às aulas para caçar, coletar objetos e espécimes, cavalgar, sair com os amigos. No terceiro ano, ele resolveu encerrar seus estudos porque diziam que ele não tinha vocação para medicina. Nessa época, temendo que se tornasse um ocioso, seu pai ameaçou colocá-lo em um seminário. Hoje, sabemos como ele fez a diferença. Qual é a lição que está nas entrelinhas dessas histórias? De modo geral, a de que não se pode avaliar
uma pessoa a partir de uma visão limitada, quer seja no tempo ou no espaço. Pessoas diferentes dão respostas em tempos diferentes. Algumas são extremamente vívidas e logo mostram ao que vieram. Outras demoram mais para aflorar, o que não significa que não tenham nada a oferecer. As primeiras são dinâmicas, e pela natureza proativa nos encantam. As outras apresentam resultados medianos, que não empolgam, por vezes até desanimam. Mas a história já mostrou, a exemplo dos gênios citados anteriormente, que mesmo pessoas aparentemente “pequenas” podem, com o tempo, apresentar resultados grandiosos. Muitas vezes, o que lhes falta é o estímulo inicial. Fato concreto é que toda pessoa tem dentro de si o combustível que serve como alimento de seu entusiasmo e de sua paixão. Em maior ou menor proporção, somos motivados a lutar por uma boa causa. Ninguém, em sã consciência, quer ser um fracasso. Todos desejam ocupar um lugar de destaque
MOMENTO DE REFLEXÃO ele foi considerado um estudante mediano. De personalidade fechada, introspectiva e de temperamento difícil, Newton era visto como um aluno apagado, sem desempenho relevante. Certamente, naquela época, nenhum de seus professores apostaria muitas fichas em seu futuro. Assim como Newton, outros tantos gênios tiveram seus momentos difíceis. Louis Braille, o homem que desenvolveu o código Braille, o sistema de escrita e leitura utilizado
• O que efetivamente você faz para garantir que seus liderados sintam-se absolutamente à vontade para agir, sem medo de errar? • Quando alguém comete algum erro significativo, sua primeira atitude é substituir essa pessoa ou você prefere investir na sua capacitação, evitando que o erro possa voltar a se repetir? Observação: após ter respondido às questões acima, faça uma análise sobre o índice de rotatividade de pessoal de sua organização. Será que esse índice está em perfeita conformidade com suas respostas às questões anteriores? Após responder mentalmente a essas questões, converse com as pessoas com as quais você se relaciona frequentemente e veja se elas concordam com suas respostas.
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INSPIRAÇÃO
na história. Em alguns casos, o que falta é a fagulha que dá início ao processo de combustão, responsável por liberar nossas energias. É nesse momento que entra, novamente, a figura do líder visionário. EM BUSCA DAS HABILIDADES
Liderar com um time talentoso é certamente mais fácil, pelo menos em certos aspectos, do que liderar com pessoas comuns. Mas uma das fortes habilidades do líder visionário é saber extrair de todas as pessoas aquilo que elas têm de melhor. Ele sabe que todos têm a contribuir. Acredita nas pessoas e busca sempre pelo talento não manifesto, que se ainda não veio à tona, é simplesmente porque está adormecido. E não há ninguém como ele para despertar esses talentos. Ele não vê pequenez nas pessoas porque seu olhar não é circunscrito. Ao contrário, ele as olha em sua plenitude. Sabe que não pode tirar conclusões a partir de fatos isolados porque corre o risco de ser injusto. Conhece bem o perigo de estereotipar as pessoas ao seu lado, caso sua avaliação se paute por momentos infortúnios. Leonardo Boff, teólogo, escritor e professor universitário, expoente da Teologia da Libertação no Brasil, é brilhante ao afirmar: “Todo ponto de vista é a vista de um ponto”. Assim como é impossível apreender totalmente um ambiente quando se olha pelo buraco da fechadura, julgar alguém por um ponto de vista é uma atitude mesquinha, para não dizer preconceituosa. O líder visionário jamais comete esse erro crasso. Em função da própria natureza humana, ele sabe que todas as pessoas possuem pontos fortes e fracos.
UMA DAS FORTES HABILIDADES DO LÍDER VISIONÁRIO É SABER EXTRAIR DE TODAS AS PESSOAS AQUILO QUE ELAS TÊM DE MELHOR Mas não é a fraqueza que determina seu foco. Suas atitudes nunca se apoiam na fragilidade de uma pessoa porque sabe que, agindo dessa forma, ele estará apenas contribuindo para torná-la ainda mais fraca e, consequentemente, pior. O líder visionário conhece bem o poder das ações positivas. Sabe que, para contribuir com o crescimento de uma pessoa, ele precisa focar suas atitudes exatamente naquilo que ela possui de mais significativo. Quando um pai critica duramente o filho pelas notas ruins que obteve na escola, mas deixa de elogiá-lo quando o seu desempenho melhora, achando que neste caso é mera obrigação, ele não está contribuindo positivamente para a formação do filho. Assim, também, o líder que só age no sentido de criticar o liderado que não apresenta os resultados almejados, não está contribuindo para despertar a energia que pode fazer toda a diferença. O líder visionário é, portanto, o mestre que ensina e educa. Aquele que, por suas atitudes positivas, consegue extrair o diamante que está oculto dentro da pedra bruta, ou mais precisamente, inspirar pessoas comuns para que se tornem especiais. SEGURANÇA TRANSMITIDA
Há, finalmente, um aspecto adicional a ser considerado. Não é possível estimular a criatividade das
pessoas quando elas têm medo do fracasso, ou de outra forma, têm medo de errar porque temem pelas consequências. Para extrair o “lado bom” das pessoas, é preciso, além de tudo o que já foi discutido, criar um ambiente onde o erro não seja sinônimo de incompetência, onde errar é apenas um motivo para se buscar melhoria nos processos e não a chave que abre a temporada de “caça às bruxas”. As pessoas precisam sentir que seu líder as apoia incondicionalmente e que, portanto, o erro oriundo do esforço legítimo nunca será visto como motivo para críticas ou, ainda pior, como ocorre em muitas organizações, motivo para a eliminação sumária do suposto “culpado”. Quando uma pessoa erra porque tentou, ela não pode ser simplesmente condenada. O líder visionário é aquele que, sem ser ingênuo, acredita nas boas intenções das pessoas, é por isso que encara os erros como um resultado autêntico, afinal, como diz a sabedoria popular: “Só erra quem tenta, mas só tenta quem não tem medo de errar”. EM BUSCA DA SOLUÇÃO
Infelizmente, para muitas organizações e, por que não dizer, para muitos “propensos líderes”, parece que a coisa mais importante no momento do erro é achar o culpado e não efetivamente encontrar maneiras para evitar que o erro volte a ocorrer. A primeira palavra para essas organizações é “quem”, quando, na verdade, deveria ser “por quê”. Por que o erro aconteceu e não quem cometeu o erro. O momento do erro é o momento do apoio e não do rebaixamento moral. É o momento do estímulo ao
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desenvolvimento e ao crescimento e não à humilhação. O líder visionário sabe que, quando alguém da sua equipe erra, ele deve trabalhar para recuperar sua autoestima. Menosprezar alguém que errou porque estava tentando fazer seu trabalho não trará reflexos negativos somente para essa pessoa, mas para toda a comunidade organizacional. Jack Welch, o líder que fez da GE uma das maiores e mais admiradas empresas do mundo, eleito o executivo do século 20, nós dá uma lição sobre esse assunto ao afirmar: “Quando as pessoas cometem erros, a última coisa de que precisam é ação disciplinar. O momento é de encorajamento e de reforço da autoconfiança. A tarefa é restaurar a autoestima.
LIDERAR COM UM TIME TALENTOSO É CERTAMENTE MAIS FÁCIL, PELO MENOS EM CERTOS ASPECTOS, DO QUE LIDERAR COM PESSOAS COMUNS. MAS UMA DAS FORTES HABILIDADES DO LÍDER VISIONÁRIO É SABER EXTRAIR DE TODAS AS PESSOAS AQUILO QUE ELAS TÊM DE MELHOR Tripudiar sobre alguém que já está por baixo é a pior atitude possível”. Para finalizar, o importante é ter em mente que o líder visionário deve criar uma atmosfera em que as pessoas podem respirar a essência da liberdade. Não estamos, obviamente, promovendo uma apologia ao conceito de que cada um pode fazer as coisas a seu bel prazer. É claro que em toda organização há de haver um mínimo de
direção e controle, papéis que o líder também precisa exercer. O que efetivamente estamos afirmando é que as pessoas precisam se sentir à vontade para que possam liberar seu maior potencial criativo. Elas precisam sentir que há espaço para o aprendizado, o crescimento e a realização. Agindo dessa forma, o líder visionário estará abrindo caminho para tornar sua organização sustentada e longeva.
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VERSATILIDADE
COMO ATENDER ÀS EXPECTATIVAS DA EMPRESA APÓS ASSUMIR A POSIÇÃO DE LÍDER
A SYLVIA IGNÁCIO DA COSTA COORDENADORA DA GRADUAÇÃO TECNOLÓGICA EM GESTÃO DE RH DA ANHEMBI MORUMBI
AS ORGANIZAÇÕES ESPERAM QUE LÍDERES ATINJAM AS METAS PROPOSTAS, MAS QUE FAÇAM TAMBÉM COM QUE A EQUIPE EVOLUA
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A posição de líder é de fundamental importância nas organizações. Liderar não é uma tarefa simples e requer além de habilidades técnicas, o desenvolvimento de habilidades comportamentais. O profissional líder compromete-se com o seu papel na organização, assume suas responsabilidades, é coerente com as suas atitudes, mantém um bom relacionamento interpessoal, é confiante e inspira confiança. Além disso, ele deve ser determinado na busca das mudanças solicitadas, possuir espírito de iniciativa, criar ações que tragam dinamismo para os seus liderados, construir relações, saber delinear objetivos para o alcance de resultados organizacionais, criar novos líderes e possuir postura ética. As organizações vivem em cenários de constantes mudanças e, portanto, esperam que seus líderes sejam versáteis e flexíveis para se adequarem em tal contexto, de forma a buscar alternativas para uma gestão eficaz. As empresas cobram resultados e esse profissional precisa ser ágil na resolução de problemas e alcance de metas. O líder deve gerar um ambiente produtivo tanto para a sua equipe, como para o negócio. Saber como liderar é essencial para o desenvolvimento da organização e das pessoas, o que irá contribuir para a vantagem competitiva no mercado em que a empresa atua. Ele deve ser um articulador de talentos, sabendo detectar nas pessoas as habilidades requeridas para a obtenção dos resultados. Os bons líderes transferem responsabilidade e autonomia para os seus liderados, o que aumenta a mo-
tivação, uma vez que os funcionários se sentem importantes e valorizados. As organizações esperam que seus líderes não somente atinjam as metas propostas, mas que façam também com que os membros de sua equipe realizem algo além do que acreditam ser capazes de realizar. O trabalho do líder é fazer com que as pessoas percebam que integram uma equipe e que cada um é elemento importante no processo organizacional. A posição de líder traz implícita a necessidade de se manter atualizado com o negócio em que atua, de pensar de maneira estratégica, de possuir uma visão sistêmica, de planejar a curto, médio e longo prazos e de tomar decisões alinhadas aos objetivos organizacionais. Vale ressaltar que ele deve servir de modelo para os demais. Portanto, o discurso “faça o que falo e não o que eu faço” está fora do contexto de liderança. Os bons líderes são também bons aprendizes, que sabem dizer “não sei”. São aqueles que não pensam somente no trabalho positivo que realizaram, mas compreendem que muito ainda devem fazer. Buscam vencer, porém não isoladamente, mas desejando o sucesso de outros. O profissional que apresentar um perfil que se adeque ao exposto, certamente não só atenderá às expectativas da empresa, como também contribuirá para o crescimento profissional e pessoal daqueles que lidera. Compara-se um bom líder a um maestro. Este deve conhecer os integrantes de sua equipe, o potencial de cada um, “dar o tom” e inspirá-los a dar o seu melhor. FOTO: DIVULGAÇÃO
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ANÁLISE
COMO ESCOLHER QUEM SERÃO OS FUTUROS LÍDERES DA EMPRESA?
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Sem critérios rigorosos, a escolha de futuros líderes pode colocar em risco a empresa. Infelizmente, algumas organizações pensam nisso somente em situações-limite: quando têm de se expandir, aproveitar uma oportunidade ou substituir alguém que se desligou inesperadamente. Quando surge a necessidade, é difícil utilizar os critérios mais apropriados, pois eles exigem uma reflexão profunda sobre o futuro da empresa; é preciso avaliar como serão os próximos cinco, dez e quinze anos. Para alguns mercados, como mineração, energia ou logística, isso é visto com mais naturalidade. Para outros, como o varejo, é um desafio enorme pensar no longo prazo. Afinal, a empresa poderá enfrentar um período de expansão, contração, andar de lado, ter uma ruptura nas vendas ou uma combinação de tudo isto ao longo das próximas décadas. Se um jovem começou a trabalhar aos 23 anos em uma empresa que está há sete anos em uma fase de expansão, isto significa que ele ainda não sabe como é enfrentar uma contração nas vendas. Nunca teve de cortar custos ou enfrentar uma greve, por exemplo. E se você prevê uma contração no futuro, provavelmente terá de pensar no treino desse profissional, para se assegurar de que ele saberá agir nessas situações. Portanto, aqueles que escolhem quais serão os futuros líderes devem estar cientes de que é pouco provável que uma empresa, que esteja há dez anos em expansão, tenha um novo ciclo para cima tão longo.
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O que se procura no líder é a capacidade de enfrentar situações negativas com perseverança, resiliência e motivação. Ele deve ter equilíbrio emocional em situações adversas e capacidade de ação em meio à tempestade. Outro ponto importante é que o profissional deve demonstrar competência em lidar com pessoas, e não conhecimento técnico. Em outras palavras, o líder não é o técnico dos técnicos, ele tem de ter a imagem, a fala e o comportamento de um gestor. Quando se escolhe uma pessoa muito técnica para liderar, em geral, ela dá mais atenção em aumentar seu conhecimento, não delega, desmotiva e, em alguns casos, é desastrada ao dar feedbacks. A principal função de um líder é a formação de outros líderes, pois, para a empresa existir no futuro, precisará de uma liderança bem formada. O novo líder deve compreender e assumir os propósitos da empresa, ser ético, ter capacidade de autoaprendizagem e adaptação. Ser tolerante à frustração e muito perseverante. Se a escolha for baseada no que o futuro demandará de seus gestores, não cairemos na tentação de escolher o novo líder por seu carisma, capacidade técnica, ou outras competências que nada têm a ver com a formação de liderança empresarial. É uma escolha que requer método, consciência de todos os envolvidos e enorme preocupação com o equilíbrio dos resultados de curto e longo prazo. Saibamos escolhê-los. Vamos em frente!
SÍLVIO CELESTINO AUTOR DO LIVRO CONVERSA DE ELEVADOR – UMA FÓRMULA DE SUCESSO PARA SUA CARREIRA, É SÓCIO FUNDADOR DA ALLIANCE COACHING TWITTER: @SILVIOCELESTINO SITE: WWW.ALLIANCECOACHING.COM.BR
O LÍDER DEVE MOSTRAR HABILIDADE EM LIDAR COM PESSOAS E NÃO CONHECIMENTO TÉCNICO. ELE NÃO É O TÉCNICO DOS TÉCNICOS, MAS AQUELE QUE TEM EQUILÍBRIO EMOCIONAL
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CONQUISTA
LIDERANÇA DE OPORTUNIDADES O OBJETIVO É TER A CAPACIDADE DE MOBILIZAR AS PESSOAS EM TORNO DE UMA CAUSA COMUM. OU SEJA, IDEALIZAR UMA VISÃO DE FUTURO INSPIRADORA, CAPAZ DE CRIAR SIGNIFICADO PARA TODAS AS PESSOAS POR JORGE BERTOLINO FILHO
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No mundo complexo, de mudanças rápidas e descontínuas da atualidade, o sucesso de qualquer organização está intimamente ligado à sua capacidade constante de transformação. A busca frequente por novos caminhos não é apenas um modo de criar diferenciais competitivos visando ao fortalecimento e crescimento da organização; muito mais básico do que isso, hoje, os processos de criação de novas ideias e a consequente inovação são elementos essenciais para a sobrevivência. As organizações que hoje ocupam o topo da liderança apresentam modificações contínuas em seu modelo mental de atuação, ou seja, desenvolvem, a todo momento, novas formas de pensar e agir em relação ao ambiente em que se inserem. Surge então uma dúvida: qual é o requisito necessário para criar uma organização com capacidade de se reinventar todos os dias? Notadamente, a única forma de conseguir que a criatividade e inovação sejam uma constante no ambiente organizacional é trabalhar com pessoas altamente qualificadas e comprometidas com
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“Um líder é alguém que sabe o que quer alcançar e consegue comunicá-lo” Margaret Thatcher
as atividades que executam. Hoje, mais do que em qualquer outra época, o grande diferencial competitivo das organizações está nas pessoas. São elas que efetivamente podem fazer a diferença. No entanto, para conseguir que as pessoas, mesmo aquelas com talento superior, despontem, rompam barreiras, transponham obstáculos, criem, inovem e, principalmente, quebrem velhos paradigmas de forma espontânea e natural, é necessário contar com a presença do líder visionário. É o líder que tem a capacidade de mobilizar as pessoas em torno de uma causa comum. É ele que consegue, a partir de seus sonhos, idealizar uma visão de futuro inspiradora, capaz de criar significado para todas as pessoas. É ele que, a partir do seu modo peculiar de comunicar as coisas, consegue
fazer com que todos conheçam o caminho a seguir e, consequentemente, o que deve ser feito. É ele que, a partir de ações consistentes, consegue transformar pessoas comuns em pessoas revolucionárias. É ele que, pela transparência e leveza do seu modo de agir, consegue desmistificar o ambiente organizacional, criando uma atmosfera onde cada pessoa sente-se estimulada a liberar seu maior potencial criativo. O líder visionário é, em síntese, o agente de mudanças, aquele que transforma as organizações estáticas e inflexíveis em organizações proativas, criativas e inovadoras. É o homem que, por conta de seu propósito virtuoso, consegue transformar a forma de pensar das pessoas a tal ponto que a mudança deixa de ser vista como uma grande ameaça e passa a ser vista como oportunidade para todos. FOTO: SHUTTERSTOCK
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