Revista Saída 4

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SAÍDA

Maio 2015 N°4 Vol. 1

#SOMOSTODOSCULPADOS Editorial p. 3

Critica roedora O predomínio do

Panorama

capitalismo e o processo de reificação

“EU SOU ESTÚPIDO da consciência E MALDOSO” Por: Alex Sander Silva Por Slavoj Žižek.

Notas de Literatura Estética do socialismo por Hannes Giessler.

Exercícios ensaísticos Exagium Por Guilherme Orestes Canarim


Seja a saída que você espera do mundo: Lê, escreve, faz arte? Colabore conosco: gocanarim@gmail.com


Editorial Quanto mais degenera o capital em múltiplas formas de exploração e violência, mais vingam a inequidade baseada na vesguice fetichista que a ilusão da pseudo cultura reflete no espelho da persona coletiva a qual a sociedade contemporânea tem se prendido, e que é o resto de identidade possível num mundo da miséria administrada. patentes

Os

mais

indicadores

desagregação ilusionistas

de e

desta

totalitarismos

ocos

são

os

movimentos de pseudo identificação coletiva

com

um

personagem

determinado

que

tenha

midiaticamente sido posto em lugar de vitimado ou tenha sido realmente objeto de violência da sociedade a que deu substancia, os “somos todos”.

Dai

que

não

a

solidariedade

é

falsa

impossibilidade

da

reconciliação

pela

com o fenômeno que resulta do modus operandi da ética do capital, o lucro, como ainda é totalmente absurda

sendo

ela

mesma

executora da causa máxima da violência .


Redação Sumário Editor Guilherme Orestes Canarim Conselho editorial Alex Sander Silva Responsável técnico Revisão Guilherme Orestes Canarim; Gisele Da Silva Rezende Editoração Guilherme Orestes Canarim Colaboração: Slavoj Zizek; Christian Dunker; Alex Sander Silva; Hannes Giessler; Thais Wacholz; Gisele da Silva Rezende; Everson Matias; Gabriel da Silveira Ângelo; Guilherme Orestes Canarim; Lucas Fernando Selau; Marcio Freitas.

Editorial1 Panorama5 “EU SOU ESTÚPIDO E MALDOSO” | ŽIŽEK ESCLARECE SUA POSIÇÃO SOBRE O “JE SUIS CHARLIE” Por Slavoj Žižek.5 GEOGRAFIA E A QUESTÃO SOCIAL Por: Gabriel Da Silveira Ângelo17 Critica roedora19 O predomínio do capitalismo e o processo de reificação da consciência Por: Alex Sander Silva19 Novas formas de sofrer no Brasil da Retomada Por: Christian Ingo Lenz Dunker22 INTOLERÂNCIA AS DIFERENÇAS Por : Marcio Freitas da Silva28 A PEDAGOGIA NO DIVÃ Por : Gisele da Silva Rezende30 Notas de literatura36 ESTÉTICA DO SOCIALISMO Por : Hannes Giessler36 CONTO INACABADO41 Por : Fernando Selau.41 “EXPERIÊNCIA E POBREZA” WALTER BENJAMIN Por : Gabriel da Silveira Ângelo43 EXAGIUM Por: Guilherme Orestes Canarim45 PLATÔS Por: Thaís Wacholz47 UFC ou BRABARIE Por: Everson Matias48


Panorama “EU

SOU

ESTÚPIDO

E

MALDOSO” | ŽIŽEK ESCLARECE SUA POSIÇÃO SOBRE O “JE SUIS CHARLIE” Por Slavoj Žižek.

No rescaldo dos atentados de Paris, o

filósofo

escreveu,

esloveno no

Slavoj Žižek

calor

da

hora,

um artigo de intervenção no debate sobre o Charlie Hebdo. Rejeitando o diagnóstico

de

um

impasse

civilizacional entre ocidente

e

oriente, ele insistia que o fenômeno tinha de ser analisado a partir de um mesmo

chão

comum

e

recuperava a tese frankfurtiana de que

o fascismo

fundamentalista

seria uma resposta – ainda que falsa e mistificadora – a uma fratura real

no

paradigma

liberal.

Republicado na Folha de S.Paulo, o texto

teve

larga

uma

medida

repercussão em pautada

contraponto encomendado

pelo a João

Pereira Coutinho e, como apontou Christian

Dunker

em

sua intervenção no debate, por uma


estigmatização

da

esquerda

acabou

que

posição

de

por não

tornava seu exercício do poder mais tolerável.”

registrar o essencial da contribuição

Contra

de Žižek.

pregando o retorno a um novo

Neste novo

artigo

autor

enviado

ao Blog

as

acusações de

estar

pelo

fundamentalismo no ocidente, Žižek

da

insiste enfim que “alegar que o anti-

Boitempo, Žižek esmiúça sua

semitismo

articula,

posição mais a fundo, repassando

deslocada,

uma

(agora não mais no calor da hora)

capitalismo de forma alguma o

os principais atores e elementos

justifica”

envolvidos no fenômeno, mapeando

compreender o

os mecanismos

alguma

ideológicos

em

de

forma

resistência

e

ao

que procurar mal,

significa

de

forma

relativizá-lo,

jogo nas suas interpretações. Para

nem “transformar

ele,

vítima”, e conclui com a triste

os

ataques

conseguiram

terroristas

o

impossível:

constatação

de

opressor

que

é

em

preciso

reconciliar a geração de 1968 com

abandonar a ideia de que há algo

seu

filósofo

de emancipatório em experiências

enfrenta ainda a difícil questão dos

extremas, que o terror não nos

limites do humor e do “politicamente

permite abrir os olhos à radical

incorreto”,

e mostra

verdade da situação. A tradução é

justamente

neste

arqui-inimigo.

aparece

a zona

O

como

é

debate

que

de Artur Renzo, confira:

cinzenta

que

***

funda os impasses da modernidade capitalista. Para

O OBSCENO DA IDENTIFICAÇÃO

ele

não

o

humor

A patética formula de identificação

do Charlie Hebdo por ter ido longe

“Eu sou …” (ou “Somos todos …”)

demais, muito pelo contrário, “o

só funciona no interior de certos

problema é que ele se encaixava

limites,

perfeitamente no

funcionamento

converte-se em pura obscenidade.

cínico hegemônico da ideologia em

Podemos até proclamar “Je suis

nossas

não

Charlie”, mas as coisas já começam

alguma

a ruir com exemplos como “Somos

àqueles no poder; ele meramente

todos de Sarajevo!” ou “Estamos

devemos condenar

sociedades.

representava

ameaça

Ele

para

além

dos

quais

todos em Gaza!”. O fato brutal de


que não estamos de forma alguma

mil pessoas. O nome “Boko Haram”

em Sarajevo nem em Gaza é forte

pode ser traduzido meio ao pé da

demais para ser compensado por

letra como “Educação ocidental é

uma patética identificação dessas. E

proibida” (mais

a

torna

educação das mulheres). Como dar

plenamente obscena no caso dos

conta do estranho fato da existência

Muselmänner (o termo alemão para

de

“muçulmanos”,

identificação

descrever

os

se

um

especialmente

movimento

usado

para

maciço

cuja

prisioneiros

mais

programática

sociopolítico

principal é

a

pauta

regulação

miseráveis

e

brutalizados

hierárquica da relação entre os

de Auschwitz).

É

completamente

sexos? O enigma é o seguinte: por

inconcebível dizer:

“Somos

que é que esses muçulmanos, que

todos Muselmäner!” Em Auschwitz,

estão

a desumanização das vítimas foi tão

exploração, dominação e outros

longe que se identificar com elas em

aspectos destrutivos e humilhantes

qualquer

é

do colonialismo, miram sua reação

impossível. (E na direção oposta,

na melhor parte (para nós, ao

seria

declarar

menos) do legado ocidental, nosso

solidariedade com as vítimas dos

igualitarismo e nossas liberdades

atentados de 11 de setembro de

pessoais, incluindo a liberdade de

2001 alegando que “Somos todos

tirar sarro de todas autoridades? A

Nova Iorquinos!” Milhões diriam:

resposta óbvia é que seu alvo na

“Sim,

Nova

verdade é muito bem escolhido: o

Iorquinos, nos dê um visto norte-

oeste liberal é tão insuportável

americano então!”)

porque

O mesmo vale para os assassinatos

exploração e a violenta dominação,

do mês passado: era relativamente

como

fácil se identificar com os jornalistas

essa realidade brutal à guisa de seu

do Charlie Hebdo, mas teria sido

oposto:

muito mais difícil anunciar: “Somos

democracia.

forma

também

significativa

ridículo

adoraríamos

ser

todos Baga!” Para quem não ficou sabendo: Baga é uma pequena cidadezinha no nordeste da Nigéria onde Boko Haram executou duas

sem

ele

ainda

dúvida

não

por

liberdade,

expostos

pratica

à

a

cima apresenta

igualdade

e


ESPETÁCULO DE HIPOCRISIA

tolerância para com a dor e o

Mas voltemos ao espetáculo dos

sofrimento do outro?

grande nomes políticos do mundo

E o espetáculo foi literalmente

tudo

de

mãos

dadas

em

encenado: as fotos expostas na

vitimas

das

mídia davam a impressão de que a

chacinas de Paris, de Cameron a

linha de líderes políticos estava na

Lavrov, de Netanyahu a Abbas: se

frente de uma grande multidão que

alguma

de

marchava pela avenida – dando

falsidade hipócrita, foi essa. Quando

assim a impressão de uma suposta

a procissão passava sob a janela de

solidariedade e união com o povo…

um cidadão anônimo, ele colocou

Só que outra foto foi tirada mais de

pra tocar num alto falante a “Ode à

longe

alegria” de Beethoven, o hino não-

e mostrou claramente que atrás dos

oficial

Europeia,

políticos só havia cento e poucas

tom

pessoas e muito espaço vazio,

repugnante

patrulhado de todos os lados pela

espetáculo encenado pelos maiores

polícia. O verdadeiro gesto digno

responsáveis pela bagunça em que

do Charlie Hebdo seria ter publicado

estamos hoje. E o que dizer do

na sua capa uma caricatura grande

Ministro de Relações Exteriores

e de brutal mal gosto tirando sarro

Sergei Lavrov se juntando à fila de

desse episódio todo.

solidariedade

às

vez houve

da

imagem

União

acrescentando

um

de kitsch político

ao

pegando

a

cena

toda

dignitários se manifestando diante da morte de jornalistas? Se ele se

Embora eu seja um ateu resoluto,

atrevesse a participar de uma tal

acredito que essa obscenidade foi

marcha em Moscou (onde dezenas

demais até para Deus, que se viu

de jornalistas foram assassinados)

obrigado

ele seria imediatamente reprimido!

obscenidade divina digna do espírito

E

do

do Charlie

Netanyahu se espremendo para

presidente

aparecer na frente da manifestação,

abraçava Patrick Pelloux, o médico

enquanto que em Israel a mera

e colunista do Charlie Hebdo, na

menção pública a al-Nakbah (a

frente do escritório do semanário,

“catástrofe”

de

os

um passarinho cagou no ombro do

palestinos)

é

a

presidente francês! Os funcionários

que

tal

a

obscenidade

1948

para

proibida? Cadê

a

intervir

Hebdo:

com

uma

enquanto

François

o

Hollande


do jornal, ao fundo, se esforçavam

polícia mas também o CRS (um dos

para segurar o riso… Relembre,

slogans de maio de 1968 era

nesse contexto, a imagem cristã da

inclusive

uma pomba pousando para entregar

secreto e todo o aparato securitário

uma

divina…

mensagem

“CRS-SS”),

o

serviço

além

estatal. Não há lugar para Snowden

disso, em alguns países, quando

ou Manning nesse novo universo.

um pombo caga na sua cabeça, é

“Ressentimento contra a polícia não

sinal de boa sorte!

é mais o que era, exceto entre a juventude pobre de origens árabes

SOMOS TODOS POLICIAIS

ou africanas”, escreveu Jacques-

Há ainda um elemento dos recentes

Alain Miller no mês passado. “Algo

acontecimentos

sem dúvida jamais visto na história

na

França

que

parece ter passado desapercebido:

da França”.1

além dos cartazes e das faixas

Em resumo, os ataques terroristas

dizendo “Je suis Charlie” havia

conseguiram

outras que diziam “Je suis Flic” [Eu

reconciliar a geração de 1968 com

sou policial]. A grande unidade

seu arqui-inimigo em algo como

nacional celebrada e encenada em

uma versão popular francesa do

grandes

Patriot

mobilizações

populares

não era apenas a unidade das pessoas,

atravessando

o

Act,

com

impossível:

pessoas

se

voluntariando para serem vigiadas.

grupos

étnicos, classes sociais e religiões,

A CONTRADIÇÃO IMANENTE DO POLITICAMENTE

mas

CORRETO

também

a

unificação

das

pessoas às forças de controle e

Esses momentos

ordem.

manifestações de Paris foram um

Até então, a França era o único país

triunfo

no ocidente em que (até onde sei)

mobilizaram as pessoas contra um

os policiais eram um constante foco

inimigo cuja fascinante presença

de piadas brutais os retratando

momentaneamente oblitera todos os

como burros e corruptos (como era

antagonismos. Ao publico restou

comum nos países ex-comunistas).

uma escolha deprimente: ou você

Agora, no rescaldo da chacina

está com os Flics [policiais], ou está

do Charlie

com os terroristas. Mas como é que

Hebdo,

a

polícia

é

aplaudida e elogiada – não só a

o

humor

da

extáticos

ideologia:

irreverente

das

eles

do Charlie


Hebdo se

encaixa

nesta

uma linha clara de separação para

escolha? Para responder a esta

prevenir só o “uso indevido” dos

questão temos que ter em mente a

direitos humanos sem infringir no

interconexão entre o Decálogo e os

seu uso adequado, isto é, o uso que

direitos humanos como seu obverso

não viola os mandamentos.

moderno: que o que a experiência

É nessa zona cinzenta que pertence

de

o

nossa

aqui

sociedade

liberal-

humor

brutal

do Charlie

permissiva demonstra é que os

Hebdo. Lembremos

direitos humanos são no final das

semanário começou em 1970 como

contas os direitos de violar os dez

um

mandamentos.

2

sucessor

como

o

do Hara-Kiri, um

periódico banido por ter tirado sarro

O direito à privacidade é um direito

da morte do General de Gaulle.

a cometer adultério. O direito à

Depois de receberem uma carta de

propriedade privada é um direito de

leitor acusando o Hara-Kiri de ser

roubar (de explorar os outros). O

“estúpido

direito de liberdade de expressão é

méchant”), a frase foi adotada como

um direito de dar falso testemunho.

o slogan oficial do jornal e passou a

O direito de portar armas é um

permear

direito

à

“Hara-Kiri: journal bête et méchant”.

liberdade de culto religioso é um

Essa é a zona cinzenta do Charlie

direito de adorar falsos deuses. É

Hebdo: não sátira benevolente mas

claro, os direitos humanos não

sim, muito literalmente, estúpida e

toleram diretamente a violação dos

maldosa, de forma que seria mais

Mandamentos, mas eles mantém

apropriado

aberta uma zona cinzenta marginal

marchando em Paris proclamassem

que deve estar fora do alcance do

“Je suis bête et méchant” ao invés

poder (religioso ou secular). Nessa

do

zona cinzenta, eu posso violar os

Charlie”.

mandamentos, e se o poder se

manifestações

debruçar sobre ela e me pegar no

solidariedade

flagra, posso gritar: “Assalto aos

efetivamente “bête et méchant”.

meus direitos humanos básicos!” A

Por mais refrescante que podia ser

questão é que para o poder é

em algumas situações, a atitude

estruturalmente

“bête

de

matar.

O

direito

impossível

traçar

maldoso”

e

a

linguagem

que

simples

et

e

E

(“bête

cotidiana:

os

milhares

piegas “Je de

et

suis

fato,

as

midiáticas

de

em

Paris

méchant”

foram

do Charlie


Hebdo é condicionada pelo fato de

derrisão cínica que mostra que eles

que o riso não é por si só liberador,

próprios não levam sua ideologia a

mas

sério).

profundamente

Lembremos

daquele

contraste

que

difundida da

ambíguo. famigerado

a

Grécia

imagem Antiga

nos

O problema com o humor do Charlie

trás: entre os Espartanos solenes e

Hebdo não

é

aristocráticos

ido longe

demais

jocosos

e

e

os

Atenienses

democráticos.

O que

irreverência,

que

mas

ele

tenha

em

sua

que

era um

escapa a essa imagem é que os

excesso inócuo que se encaixava

espartanos, que se orgulhavam de

perfeitamente

sua severidade, punham o riso no

cínico hegemônico da ideologia em

centro de sua ideologia e prática:

nossas

eles reconheciam o riso comunal

representava

como um poder que ajudava a

àqueles no poder; ele meramente

aumentar a glória do Estado. (Os

tornava seu exercício do poder mais

atenienses,

tolerável.

em

contraste,

no

funcionamento

sociedades.

Ele

ameaça

não

alguma

legalmente restringiam tal riso brutal

É nesse sentido que devemos

e excessivo como uma ameaça ao

abordar

espírito do respeitável diálogo onde

diferentes modos de vida. Nas

nenhuma humilhação do oponente

sociedades

deve

ocidentais,

ser

permitida).

O

riso

o

delicado

tema

dos

liberais-seculares o

poder

do

Estado

espartano – a zombaria brutal de

protege as liberdades públicas mas

um inimigo ou escravo humilhado,

intervém

tirando sarro de seu medo e dor a

quando há uma suspeita de abuso

partir de uma posição de poder –

infantil, por exemplo. Mas como

encontrou um eco nos discursos de

esclarece

Stalin, quando ele escarnecia do

“intrusões no espaço doméstico, em

pânico

domínios

e

da

confusão

dos

“traidores”, e persiste ainda hoje, no humor

dos

ditos

“politicamente

no

espaço

Talal

embora

Asad3,

‘privados’,

permitidas pela a

privado

Lei

não

tais

são

Islâmica,

conformidade

no

incorretos”. (Aliás, esse riso deve

comportamento “público” pode até

ser distinguido ainda de outro tipo

ser mais rigorosa. […] Para a

de riso daqueles em poder, a

comunidade, o que importa é a


prática social do sujeito muçulmano

tradicional?

– incluindo manifestações verbais –

consciência ética fizer com que uma

não seus pensamentos internos,

relação de vida existente apareça

quaisquer que possam ser.” O Al

injusta?

corão diz: “A verdade emana do

Se, para os muçulmanos, não é

vosso Senhor; assim, pois, que

somente

creia quem desejar, e descreia

em silêncio diante da blasfêmia”

quem quiser.” Mas, nas palavras de

como

Asad, esse “direito de pensar o que

permanecer inativo – e o impulso

for que se quiser não […] inclui o

de fazer algo pode incluir aí atos

direito de expressar suas crenças

violentos e assassinos – então a

religiosas ou morais publicamente

primeira coisa que devemos fazer é

com

localizar

a

E

se

uma

“impossível

é

permanecer

também

impossível

intenção

de

converter

a

um

‘falso

contexto contemporâneo. O mesmo

comprometimento’”. É por isso que,

vale para o movimento cristão anti-

para os muçulmanos, “é impossível

aborto,

permanecer em silêncio quando

“impossível

confrontados com a blasfêmia […]

silêncio”

sua reação é tão acalorada pois

centenas de milhares de fetos todo

para eles, a blasfêmia não é nem

dia,

‘liberdade de expressão’ nem o

comparam ao Holocausto. É aqui

desafio representado por uma nova

que

verdade

tolerância ao que sentimos como

pessoas

mas

algo

que

busca

essa

nova

atitude

que

também

seu

acha

permanecer

diante

uma

em

das

mortes

chacina

começa

a

em

que

de

eles

tolerância:

a

perturbar uma relação de vida”. Do

impossível-de-suportar

ponto de vista liberal ocidental, há

(“l’impossible-a-supporter”,

um problema com ambos os termos

formulação

desse nem/nem: e se a liberdade de

ponto o “politicamente correto” da

expressão

incluir

esquerda liberal se aproxima do

também atos que podem perturbar

fundamentalismo religioso com sua

uma relação viva? E se uma “nova

própria lista de “blasfêmias” diante

verdade”

efeito

das quais é “impossível permanecer

decodificação

em silêncio”: machismo, racismo e

científica do universo não tende a

outras formas de intolerância. O que

perturbar uma “relação de vida”

aconteceria

disruptivo?

passasse

tiver

o

Uma

a

mesmo

de Lacan),

se

um

na e

nesse

jornal


abertamente

zombasse

do

espetáculo

do

consenso

e

da

Holocausto?

solidariedade liberal para com as

É fácil tirar sarro de todas as

vítimas, mas tomaram a direção

regras muçulmanas

errada

para

quando

se

permitiram

cada detalhe da vida cotidiana (uma

condenar as chacinas só depois de

característica

longas e enfadonhas qualificações

que,

aliás,

do

e da lista “politicamente correta” de

culpados”. Esse medo de que ao

todos aqueles jogos de “sedução”

condenar abertamente a chacina

(sic.) que podem ser considerados

estaríamos

assédio verbal, das piadas que são

alimentando

consideradas racistas ou machistas

politicamente e eticamente errado.

(que

Não há nada de islamofobico em

tiram sarro de outras espécies de

condenar as chacinas de paris, da

animais que não a humana)? O que

mesma forma em que não há nada

interessa ressaltar aqui é que há

de

uma

na

tratamento de Israel aos palestinos.

a

Quanto à noção de que devemos

posição libertária de ironia universal

contextualizar e “compreender” as

e zombaria, tirando sarro de todas

chacinas de Paris, ela pode também

as

e

ser uma completa armadilha. Talvez

políticas (a atitude personificada

um dos melhores exemplos de

no Charlie Hebdo), tende a deslizar

burrice

em seu oposto, uma sensibilidade

sabedoria seja o ditado: “Um inimigo

aguçada à dor e à humilhação do

é alguém cuja história você ainda

outro.

não conhece”.4 Não há exemplo

ou

ainda

“especiestas”

contradição

posição

liberal

imanente

de esquerda:

autoridades,

espirituais

tipo

“também

compartilham com o judaísmo), mas

de

somos

alguma

a

anti-semita

forma

islamofobia

em

mascarada

melhor

todos

é

condenar

de

o

profunda

dessa

tese

RESPOSTAS À ESQUERDA

que Frankenstein, de Mary Shelley.

É por conta dessa contradição que

Shelley

boa parte das reações de esquerda

conservador jamais teria feito. Em

às chacinas de paris seguiram um

uma parte central de seu livro, ela

deplorável padrão previsível: eles

permite que o monstro fale por

corretamente suspeitaram que algo

conta própria e nos conte a história

estava profundamente errado com o

a partir de sua perspectiva. Essa

faz

algo

que

um


escolha de Shelley expressa, em

O que isso também significa é que,

seu nível mais radical, a atitude

ao abordarmos o conflito Israel-

liberal

Palestina, devemos nos ater a

diante

da

liberdade

de

expressão: o ponto de vista de

padrões

todos

ouvido.

devemos incondicionalmente resistir

Em Frankenstein, o monstro não é

à tentação de “compreender” o anti-

um terrível objeto que ninguém ousa

semitismo

confrontar;

realmente o encontramos) como

deve

dotado

ser

ele

está plenamente

de subjetividade.

Shelley

uma

frios

reação

e

implacáveis:

arábico

(quando

“natural”

à

triste

mergulha na sua mente e pergunta

condição dos palestinos, ou de

como

“compreender” as medidas de Israel

é

ser

rotulado,

definido,

como

fisicamente

pela

memória do Holocausto. Não deve

supremo

haver “compreensão” alguma para o

opressor pode assim se apresentar

fato de que em muitos países

como

O

árabes Hitler seja considerado um

monstruoso assassino se revela

herói, e que crianças na pré-escolas

como

são incutidas de inúmeros mitos

distorcido

sociedade.

O

supremo

sendo

oprimido.

um

individuo

uma

reação

“natural”

oprimido, excomungado, e ainda

profundamente machucado e em

anti-semitas,

apuros, ansiando por companhia e

forjados Protocolos dos sábios de

amor… Há, no entanto, um claro

Sião até alegações ridículas de que

limite para esse procedimento: será

os judeus usam o sangue das

que estamos dispostos a afirmar

criancinhas para fins sacrificiais.

que Hitler só era um inimigo porque

Alegar

sua

articula, de forma deslocada, uma

história

ouvida?

Para

não

foi

mim,

realmente

esse

notoriamente

anti-semitismo

pelo

resistência ao capitalismo de forma

contrário, quanto mais conheço e

alguma o justifica (o mesmo vale

“compreendo”

mais

para o anti-semitismo nazista: ele

imperdoável ele aparece a mim.

também extraiu sua energia da

Compreender o mal não é perdoá-

resistência

lo, é ver como o mal funciona – com

deslocamento aqui não é uma

isso, o mal não é de forma alguma

operação secundária, e sim o gesto

relativizado

fundamental

Hitler,

menos amenizado.

muito

que

dos

à

tanto

muito

ideológica.

anti-capitalista).

de O

O

mistificação que

essa


alegação sim implica é a ideia de

neutralizar

que, no longo prazo, a única forma

operações militares e políticas de

de derrotar o anti-semitismo não é

Israel – será que não basta insistir

pregando a tolerância liberal, mas

na diferença entre antissemitismo e

articular

anticapitalista

crítica a políticas específicas do

subjacente de uma forma direta,

Estado de Israel que, nesse caso,

não deslocada.

esta profanando a memória das

o

motivo

vítimas

qualquer

do

crítica

Holocausto,

às

as

instrumentalizando como uma forma A LIÇÃO DO TERROR

O

ponto

de

chave

é

portanto

precisamente não interpretar

legitimar

medidas

políticas

presentes?

ou

O que isso significa é que devemos

julgar atos singulares “em conjunto”,

categoricamente rejeitar a noção de

não localizar eles no “contexto mais

qualquer ligação lógica ou política

amplo”,

sua

entre o Holocausto e as atuais

textura histórica: as atuais ações

tensões Israel-Palestina. Eles são

das Forças de Defesa de Israel na

dois

Margem Oeste não devem ser

diferentes: um deles é parte da

julgadas contra o pano de fundo do

história

europeia

Holocausto;

direitista

às

mas

extraí-los de

a

celebração

fenômenos

rigorosamente

da

resistência

dinâmicas

da

que muitos árabes fazem à imagem

modernização; a outra é um dos

de

profanação de

últimos capítulos na história da

sinagogas na França e por toda

colonização. Em contrapartida, a

parte na Europa não devem ser

difícil tarefa diante dos palestinos é

julgados

como

aceitar que seu verdadeiro inimigo

porém

não são os judeus, mas sim os

Hitler ou

a

reações inapropriadas

compreensíveis ao que Israel está

próprios

fazendo na Margem Oeste.

manipulam sua condição oprimida

Quando qualquer protesto contra

precisamente para prevenir essa

Israel

transformação

é

categoricamente

regimes

árabes

isto

que

é,

a

denunciado como uma expressão

radicalização política em seu próprio

de antissemitismo – isto é, quando a

seio.

sombra

é

A ascensão do antissemitismo na

permanentemente evocada a fim de

Europa é inegável. Quando, por

do

Holocausto


exemplo, uma minoria muçulmana

lá, muito menos humanidade e

agressiva em Malmö molesta os

tolerância. “Absolutamente nada de

judeus a ponto deles terem medo de

bom

andar

suas

concentração”, eu me pego dizendo,

vestimentas tradicionais, isto deve

com minha voz se elevando, e ele

ser condenado claramente e sem

espera catarse, purgação, o tipo de

ambiguidade.

coisa que se espera quando se vai

nas

ruas

A

com

luta

contra

o

saiu

dos

campos

antissemitismo e a luta contra a

ao

islamofobia devem ser vistos como

estabelecimentos mais inúteis e

dois aspectos de uma mesma luta.

sem sentido imagináveis.

E longe de configurar uma posição

Ou seja, o extremo horror de

ingenuamente

essa

Auschwitz não o fez um lugar que

necessidade de uma luta comum se

purifica suas vítimas sobreviventes

funda na própria natureza de vasto

tornando as sujeitos eticamente

alcance que as consequências da

sensíveis desprovidos de interesses

opressão extrema têm.

egoístas

Em uma memorável passagem de

contrário,

parte

seu Still Alive, Ruth Klüger descreve

Auschwitz

é

uma

utópica,

conversa

com

“alguns

teatro?

Foram

de

tacanhos;

os

muito

do

que

horror ele

pelo de

também

desumanizou

muitas

candidatos avançados de PhD” na

vítimas,

transformando

Alemanha:

sobreviventes brutos e insensíveis e

Um deles relata como ele conheceu

tornando

um velho judeu húngaro que era um

praticarem a arte do juízo ético

sobrevivente

balanceado.

de

Auschwitz,

e

as

impossível

de

para

suas em

elas

entretanto esse homem xingava os

Temos que abandonar a ideia de

árabes e nutria desprezo por eles.

que há algo emancipatório em

“Como pode alguém que vem de

experiências extremas, que elas nos

Auschwitz falar assim?”, pergunta o

permitem abrir os olhos à radical

alemão. Eu entro na conversa e

verdade da situação. Essa talvez

discuto,

seja a mais deprimente lição do

talvez

de

forma

mais

acalorada do que fosse preciso. O

terror.

que ele esperava? Auschwitz não era

nenhuma

instituição

de

instrução […] Não se aprendia nada

NOTAS 1. Ver Jacques-Alain

Miller, “

L’amour de la


police“,

bloggado em 1/13 2015 e publicado em

inglês em lacan.com como “

France loves its

abordando um campo de visão sobre o pós-revolução industrial,

cops“.

destacando

2. Me baseio aqui no artigo de Julia Reinhard Lupton

capitalismo

(UC Irvine) and Kenneth Reinhard (UCLA), “

The

Subject of Religion: Lacan and the 3. Talad

Asad, Wendy Brown, Judith Butler, Saba

Mahmood,

Is

Critique

Secular? Blasphemy,

partir

do

XIX

do é

levantando uma série de fatores negativos do capitalismo.

Injury,

pensamento crescimento

2009.

4. Epígrafe de “Living Room Dialogues on the Middle Aversion,

capitalismo a partir XIX abordando o

and

Press

citado

A abordagem coloca o auge do

, Berkeley: University of California

Free Speech

em Wendy

Brown,

contexto

marxista desigual

sócio

sobre

o

dentro

do

econômico

do

capitalismo, e destacando o período

Regulating

de inicio da globalização no século

Princeton: Princeton University Press

XX e seus momentos de crise e o

2006.

5.

a

evolução

Commandments.”

Ten

East,”

a

processo

Ruth Kluger,

Still Alive: A Holocaust

Girlhood Remembered,

New York: The

Feminist Press 2003, p. 189.

ideológico

de

disputa

social e de mercado. Trazendo a relação

de

produção

e

de

desenvolvimento tecnológico e do desenvolvimento

desigual

GEOGRAFIA E A QUESTÃO

capitalista, de forma que gera a

SOCIAL

disputa

ideológica

capitalista

e

socialista no século XX, onde a Por: Gabriel Da Silveira Ângelo

conjuntura muda no século XX, período em que parte da Europa

ANDRADE. M.C.de. A Geografia e a

estava em disputa, duas grandes

questão

guerras e que abalaram o senário

social.

Geosul,

Florianópolis.

19/20, p 7-23, 1°e 2°Semestres. 1995.

mundial, e a partir disso URSS e

O artigo publicado por Manoel Correia

de

Andrade

aborda

o

contexto da geografia e a questão social, colocando o ponto de vista da geografia sobre a sociedade,

EUA travam uma guerra ideológica em todos os continentes. Com a derrota da URSS,e a derrubada do muro de Berlin no final da década de 80,caracteriza-se o processo de globalização a partir desse marco,


que se correlaciona as mudanças

são comuns ao longo da história, e

mundiais, desde o ponto tecnológico

o processo globalizado este ligado a

e social. As mudanças só reforçam

questão social e precisa ser visto

o sistema de produção e explorador,

com olhos abertos, e o geografo é

dividindo o mundo em três eixos,

capaz de tirar essas analises e

desenvolvidos,

estabelecer

emergentes

e

pobres. O processo de globalização coloca seus impactos não só social, mas também ambientais que fazem o geografo entrar nesse contexto tão importante para analisar, e destacar a geografia quanto ciência social e física, tendo isso como papel e obrigação, nos campos agrários, urbano, alimentar, politico, e ambiental em nível de Brasil e mundo. E tendo esses centros como fundamentais a globalização esta presente

gerando

grandes

problemas desiguais, no Brasil nos países pobres e emergentes que sofrem

com

a

exploração

dos

países ricos. Saúde e Educação e Moradia e a questão fundiária são pilares sociais, e que hoje dentro do aspecto globalizado, destaca que poucos tem muito , e muitos tem pouco, e isso se caracteriza como o maior problema social. Além disso, o geografo precisa analisar que o seu

papel profissional e

social

caminham juntos, tendo a vista a sua

importância,

na

história

e

sociedade. As transformações elas

consciência.

uma

mudança

de


mantemos com as mazelas do

Critica

fetichismo da mercadoria. No

capitalismo

com

sua

produção social de mercadorias e com sua “roupagem ideológica”, mostra-se

roedora

cada

vez

mais

sua

perversidade e totalitarismo sobre a vida concreta dos indivíduos e sobre suas formas de pensamento. A produção do fetiche da mercadoria

O predomínio do capitalismo e o

torna-se subproduto da vida social,

processo

que

de

reificação

da

insiste

na

“produção

do

consciência1

mesmo”, na sua forma de reproduzir

Por: Alex Sander Silva

o

Se, vivemos um mal-estar da crise civilizatória2, nos descaminhos do

processo

produtivo

e

da

formação humana, particularmente, nos aspectos de um predomínio da

capital.

E

ao

admitirmos

a

subprodução da vida social no capitalismo,

tem-se

conservado

todas as suas formas ideológicas de manutenção do sistema. Ao

admitirmos

que

o

dominação da mais-valia. Se ainda,

capitalismo mantenha a maioria

presenciamos

alguns

explorada na sua ideologia, isso é

sintomas de dominação ideológica

sinal de que tal maioria está refém

da consciência, podemos ter a

do próprio fetichismo da mercadoria.

suspeita que seja por conta do

Nesse sentido, as relações de

vínculo

trabalho expressam essa totalização

fortemente

muito

estreito

que

nas diversas formas de reificação 1

Extrato do Artigo completo que está publicado na Revista Reflexão e Ação, Santa Cruz do Sul, v.19, n1, p.123-139, jan./jun. 2011 https://online.unisc.br/seer/index.php/reflex/arti cle/view/1900/1921 2 Utilizo a expressão “crise civilizatória” para apontar os vários problemas que a humanidade vem sofrendo nos diversos âmbitos, particularmente, a partir do esgotamento dos recursos naturais e do avanço progressivo dos conflitos entre nações, intermediados na luta pelo domínio político, econômico e social.

da consciência. Esse

processo

está

intimamente vinculado ao crescente interesse

de

mercantilização

de

todos os âmbitos da vida humana. Tudo se transforma em mercadoria, produzida material e socialmente na


forma de valor de troca. As ações

uma invenção ou exclusividade do

humanas,

sistema,

capitalismo, no entanto, a diferença

mesmas,

é que as crises das sociedades

nesse

correspondem, apenas

às

elas

expectativas

e

aos

capitalistas

sempre

interesses do mundo produtivo da

relacionadas

mais-valia.

superprodução

O

elevado

competitividade

grau

mercantil,

de a

exploração capitalista em nossos dias. Notícias sobre uma crise estatal circulam por todos os lados e se mostram em todos os lugares. Não apenas nos jornais impressos e televisivos, nas rádios e na Internet, a ofensiva do capital mira os mais diversos mecanismos de formação da consciência.

fatores

da

e

da

superexploração do capital sobre o trabalho.

desregulamentação do Estado, tem demonstrado a radicalização da

aos

estão

A crítica central de Marx se concentra

sobre

reificação

capitalista das relações de produção e

alienação

do

trabalho.

Na

sociedade regida pela lógica da produção

e

realização

do

do

consumo,

trabalho

é

a sua

reificação objetiva, ou seja, o sujeito trabalhador é transformado e a natureza a ser transformada são “coisas”. Tudo e todos se tornam

das

“coisas”. É nesse sentido que a

em

realização do trabalho é a negação

convencer os indivíduos de que os

do ser humano, tanto em sua

“desastres

são

universalidade

do

singularidade.

Toda políticas

a

do

preocupação sistema

está

sociais”

consequências

naturais

quanto

em

sua

mercado. Todavia, todos esses, grau,

A alienação é um dos fatores

expressam processos de crises do

que promove a desfiguração do

próprio capitalismo3. A crise não é

trabalho, tornando-se o algoz da

com

maior

ou

menor

condição humana na sociedade 3

Marx n’ O Capital faz, em diversas partes do texto, uma análise profunda sobre os mecanismos estruturais de geração das crises do capitalismo. Dos principais mecanismos, um diz respeito a brutal “queda da taxa de lucro”, e outro e a “crise de superprodução”. Esses dois mecanismos apareceram recentemente na chamada “Crise econômica de 2008”, que

atingiu o centro da economia dos Estados Unidos, igual ou pior que a “crise de 1929”. Para melhor aprofundamento sobre o tema ver: ITURBE, Alejandro. A pior crise desde 1929?”. In: Marxismo Vivo. Revista de teoria e política internacional. Nº19. 2008.


capitalista.

Com

capitalismo,

o

o

advento

do

capitalistas nas esferas da produção

trabalhador

é

e do consumo. Tanto na forma de

separado dos meios de produção, é

reproduzir

o

capital

espectador da detenção privada dos

reprodução do próprio fetiche, o

meios de produção. De fato, “ele

consumo torna-se uma deterioração

fiou e o produto é um fio”, mas ele

potencial

não se reconhece nos produtos a

consciência humana.

da

quanto

qualidade

na

da

que “dá vida”. Para José Paulo Netto, em

Nesse aspecto, o trabalhador aliena-se do trabalho, logo, perde sua essência humana e delega para outrem o poder de comandar a sociedade e a sua própria vida. O trabalhador perde o trabalho, o saber

e,

consequentemente,

submete-se ao poder pernicioso do capitalismo.

Essa

assustadora

progressiva

incorporação

e do

trabalhador aos sustentáculos da produção de mercadorias torna-se um dos pilares da reificação das

Capitalismo e Reificação, que

“Enquanto

a

anota

organização

capitalista da vida social não invade e ocupa todos os espaços da existência individual, como ocorre nos períodos de emergência e consolidação

do

capitalismo

(capitalismo comercial e industrial concorrencial), ao indivíduo sempre resta um campo de manobra ou jogo,

onde

ele

pode

exercitar

minimamente a sua autonomia e o seu poder de decisão, onde lhe é

relações sociais.

acessível Nesse

particular,

a

um

retotalização

âmbito

de

humana

que

alienação é a expressão de uma

compensa e reduz as mutilações e

inversão

no

o prosaísmo da divisão social do

relacionamento do ser humano com

trabalho, do automatismo que ela

ele mesmo. Essa inversão refere-se

exige e impõe, etc” (1981, p.81).

que

ocorre

à relação com o produto, sobretudo, porque insiste na produção do mesmo (no sentido do sempre igual). Isso implica numa crescente manipulação do trabalhador pela publicidade

das

empresas

A

forma

que

o

capital

converte os em mera peça da engrenagem

social

e

em

seu

fetiche, também constitui a própria manipulação de sua consciência


para massificação ideológica do

“livres escolhas”. No entanto, o que

consumismo.4 Nesse particular, a

caracterizaria a vida dos indivíduos

dinâmica social envolve tanto uma

no

ampliação da esfera da produção

coerção funcional, que demonstram

incontrolável, quanto à manipulação

uma

das necessidades e desejos do

membro

consumidor.

humana se vê condicionado por

capitalismo

são

circunstância particular

formas

de

em

que

o

da

espécie

uma rede funcional do sistema em É sob esta perspectiva que os

mecanismos

permanência ideologia

da

permitem

extemporânea produtividade

que está inserido.

a da e

Não

insistiremos

nesse

debate, mas é preciso notar que as

alienação máxima dos indivíduos.

razões

Alienação é esse fenômeno que

alienação são numerosas e podem

viabiliza

ser procuradas no esfacelamento

a

permanência

do

da

capitalismo, num contexto em que

dos

na sua irracionalidade – algo que se

capitalismo.

permanência

indivíduos

no

da

próprio

demonstra na desproporção, na superfluidade e no desperdício – suas

contradições

tornam-se

Novas formas de sofrer no Brasil da Retomada

expostas. Por: Christian Ingo Lenz Dunker. O resultado desse triunfo da lógica da produção e do consumo é

[Christian Dunker, Paulo Arantes,

a criação de uma aparência de

Antonio Martins, Maria Rita Kehl e Vladimir Safatle, no debate de

4

O mercado atual vive das “novas tendências” dos produtos para o consumo desenfreado. Somos impelidos pelas propagandas, pelas mensagens subliminares, que fazem de tudo para nos induzir a esse consumo “infinito”. Bauman em seu livro, “Vida para o consumo: a transformação da pessoa em mercadoria” (2008), discute aspectos centrais do fetichismo que as mercadorias passam a exercer sobre os consumidores, fazendo-os não só se sentirem, mas portarem-se como mercadorias. Ver detalhes em: BAUMAN, Zygmunt. Vida para consumo: a transformação de pessoas em mercadoria. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2008.

lançamento de Mal-estar, sofrimento e sintoma: uma psicopatologia do Brasil entre muros. O evento foi gravado e está sendo publicado no canal da Boitempo no YouTube.]


Dois problemas, ou processos, se

obrigatório,

cruzam, no Brasil dos últimos 20

clássicos derivados da contradição

anos, fazendo com que pensemos

entre o desejo e a lei. Os novos

em uma mudança estrutural de

sintomas dizem respeito à oposição

nossas formas de sofrimento. O

entre potência e impotência, e eles

primeiro problema é o que podemos

são determinados por uma crise na

chamar

da

intensidade do desejo, ou no que a

racionalidade diagnóstica no Brasil

psicanálise chama de relação entre

pós-inflacionário.

então

desejo e gozo.

a

Paralelamente

de expansão

passamos,

Desde

gradualmente,

como

os

sintomas

temos

que

entender nossa vida no trabalho, na

reconhecer um segundo processo,

escola e na comunidade a partir de

que tem relação com a profunda

avaliações.

que

reorganização social que o Brasil

justificam intervenções que geram

sofreu nestes últimos 20 anos.

novas

Métricas,

Deixamos de nos pensar a partir de

resultados,

divisões como “campo ou cidade”,

orientação

Avaliações,

avaliações. para

comparações e cálculo de valores

“desenvolvimento

agregados

subdesenvolvimento”, “nacional ou

tornaram-se

parte

e

ou

nossa forma de vida comum como

estrangeiro”,

nunca antes. Isso justifica, em parte,

tematizar nossas divisões internas

o crescimento dos diagnósticos de

em

todo tipo: psicológico, educacional,

recursos ou renda e de acesso a

corporativo, jurídico e assim por

bens simbólicos como saúde, justiça

diante. E não há diagnóstico sem

e educação. O deslocamento social

sintoma. Na psicanálise isso se

da ralé para a pobreza, da pobreza

mostrou como uma preocupação

para a classe média, bem como da

ascendente com a psicopatologia e

classe média para cima e para

com o tema dos sintomas, os

baixo tornou-se real. Isso produziu

chamados

termos

e

da

passamos

distribuição

a

de

“novos

sintomas”:

uma modificação estrutural do mal-

depressão,

drogadição,

estar. O mal-estar (Unbehagen) é

anorexia. Esses novos sintomas

uma noção intuitivamente acessível,

têm uma coisa em comum. Eles não

mas difícil de conceitualizar. Todos

se organizam a partir do conflito

nós

entre o que é proibido e o que é

situação na qual o que deveria ter

pânicos,

passamos

por

aquela


ficado tácito e pressuposto vem à

Todo

tona, revelando um desencontro de

Quando

expectativas

o

identificações, nas quais o agente e

semblante de nossa representação

o paciente da ação se indeterminam

social.

teria

mutuamente. Exemplo: uma pessoa

acontecido nesta nova configuração

querida adoece. Ela sofre porque

do mal-estar quando ficou claro que

perde sua saúde, você sofre porque

algo havia se rompido nos pactos

ela sofre, ela sofre porque você

que formaram a brasilidade até

sofre porque ela sofre, e assim por

então. Há um descompasso entre a

diante envolvendo todos os que

transformação e a nomeação da

amam aquele que sofre. Vem daí a

transformação. O mal-estar é a

irresistível tentação, diante de uma

experiência

e

rasgando

Algo

análogo

desta

indeterminação,

sofrimento

é

transitivista.

sofremos

criamos

zona

de

história de sofrimento, de contar

anomia

e

uma história pior, mais trágica, mais

contingência que acompanha toda

infeliz, mais terrível.

transformação, mas também todo

O sofrimento depende de relações

fracasso transformativo, por isso

de reconhecimento. A experiência

seu afeto fundamental foi pensado

de sofrimento que é reconhecida,

por Freud como sendo a angústia e

seja por aqueles que nos cercam,

suas

próximas:

seja pelo Estado, é diferente do

sentimento de culpa, desamparo e

sofrimento sobre o qual paira o

ansiedade expectante.

silêncio,

Temos então de um lado estes

indiferença.

novos sintomas e do outro esta

política

mutação do mal-estar. Entre eles é

estabelece para cada comunidade

possível situar a transformação de

qual demanda deve ser sancionada

nossas

O

como legítima e qual deve ser

três

reduzida ao que Freud chamava de

que

sofrimento ordinário.

variações

mais

maneiras

sofrimento características

de

sofrer.

possui importantes,

a

do

invisibilidade Há,

ou

a

portanto

uma

sofrimento

que

explicam porque ele é uma espécie de ponte ou de caminho pelo qual

O sofrimento se estrutura como uma

particularizamos

narrativa. Ao contrário da dor, que

o

forma de sintomas:

mal-estar

na

permanece mais ou menos igual a si mesma, o sofrimento exprime-se


em séries transformativas, ele se

O que caracteriza o Brasil dos anos

realiza por meio de um enredo, ele

1984 em diante não é apenas uma

convoca

redemocratização

personagens

(como

a

do

país,

a

vítima e o carrasco). A experiência

abertura gradual de sua economia

de

ou a modernização de suas práticas

sofrimento

envolve

a

transferência e a partilha de um

institucionais.

saber sobre suas causas, motivos e

forma de sofrer, e, como argumentei

razões.

acima, de reconhecer, partilhar e

O

sofrimento

varia

Mudamos

nosso

nossa

radicalmente em conformidade com

narrar

o saber que se organiza em torno e

poderia

por meio dele.

aconteceu com o nosso cinema,

ser

sofrimento. ilustrado

pelo

Isso que

particularmente no período de 1997 Para

efeitos

poderia

de

dizer

simplificação estas

três

Retomada. De repente quatro temas

sofrimento

se

ganharam as telas: a traição e a

filósofos

vingança, a invasão de privacidade,

antigos chamavam de sentimento.

a deriva errática de destinos e a

O sentimento é uma categoria

“cosmética” da fome e da pobreza.

essencialmente social, que reúne e

Todas

resolve contradições inerentes ao

convergentes com o nome que

mal estar. Disse anteriormente que

encontramos para o nosso novo

o mal-estar é sempre um fracasso

mal-estar:

de nomeação, e quando ele se

argumento

nomeia perfeitamente o pior se

constatativo. Ele aponta para o fato

enuncia no horizonte. Ora, uma

de

índice de como o mal-estar se

sobrecarregando

combina

na

muita coisa, talvez coisas demais: a

reconhecimento

corrupção, a diferença de classes, a

condições

do

sintetizam

no

com

experiência

de

que

a 2007, com o chamado Cinema da

que

os

os

sintomas

estas

que

narrativas

a

violência.

aqui

não

a

entre

são

é

Meu apenas

violência e

está

condensando

narrativa e transitiva do sofrimento é

tensão

gêneros,

justamente a noção de sentimento.

distribuição

Como dizia Lacan o sentimento,

precariedade institucional. Ou seja,

mente. Mas é esta mentira que nos

o engodo está em pensar que tudo

permite localizar outro lugar onde

isso tem um nome só, violência, e

estará o grão de verdade faltante.

que, portanto, ao “combatermos”

de

a

recursos,

má a


este problema estamos resolvendo

que

todo a resto que nele se comprime.

sentimento social que domina uma

Nada mais falso.

de nossas novas narrativas de

um

antropólogo,

chamado

a

originou.

sofrimento,

Isso

a

cria

um

saber,

o

Clemens, que na década de 1930

ressentimento. O ressentido não é

fez

transcultural

aquele que perdeu, mas aquele que

diferentes

acha que no fundo o jogo é injusto.

povos e civilizações narram seu

Ele acha que o Outro tem muito

sofrimento,

mais poderes do que ele realmente

uma

pesquisa

estudando

como

os

notadamente

no

contexto de interpretação social da

tem,

experiência de adoecimento, e na

apaixonado

interpretação

inferioridade.

narrativa

de

suas

por

isso

está

sempre

por

sua

própria

causas. Ele observou que nossa

A segunda narrativa clássica para

imaginação quanto às diferentes

dar

maneiras de sofrer é bastante curta

sofrimento é a narrativa da perda da

e repetitiva. Nós não conseguimos

alma. E aqui sofremos porque não

sair de quatro hipóteses:

conseguimos mais nos reconhecer

Violação de um pacto. Ou seja,

no que fazemos ou em quem nos

acreditamos que o sofrimento deriva

tornamos.

do não cumprimento de um pacto,

pessoas que mudam de classe

ou da sua não realização adequada

social ou de padrão de consumo e

ou da usurpação de seu sentido.

que de repente são percebidas

Essa é a nossa teoria trivial de que

como

se estamos em desgraça é porque

habitando

algo ou alguém está descumprindo

aparência, por exemplo, como os

a lei. Como se se todos agissem

novos ricos (emergentes). Pensem

em conformidade e adequação com

também

naqueles

que

a lei o sofrimento se extinguiria.

corroídos

por

espécie

Ora, no Brasil dos últimos vinte

sentimento

anos há uma maneira nova de

existencial,

pensar o pacto social, que inverte

persistente.

esta teoria. Surge uma percepção

vergonha incurável, que não diz

de que a lei pode ser usada de

respeito ao que alguém faz, que

forma contrária ao espírito do pacto

pode

forma

de

linguagem

Pensem

naquelas

inautênticas,

postiças,

um mundo

ser

uma de

ao

de mera

estão de

inadequação

incorrigível Uma

espécie

e de

progressivamente


aperfeiçoado,

mas

que

é

uma

A quarta maneira ascendente de

vergonha de ser.

sofrer no Brasil da Retomada apoia-

A terceira forma de sofrer, que vem

se no que Clemens chamou de

ganhando força entre nós, está

narrativa da perda da unidade do

referida

espírito,

à

intrusivo.

hipótese Ou

objeto

do

sentimento

de

desregulação entre os sistemas que

sofrimento logo interpreto que há

compõe nossa forma de vida. É o

alguém a-mais em meu território

que os sociólogos chamam de

que

o

anomia e que se expressa em

ambiente e tirando a suposta pureza

sentimentos como o desamparo, a

e harmonia na qual vivíamos antes.

desorientação

e

Este é o caso tanto da vida murada,

estranhamento

com

em

que

tempo ou ao espaço que vivemos.

defender-se

Isso pode se dar por meio de

forma

diante

ou

do

está

seja,

do

desequilibrando

de

condomínio,

precisa permanentemente

nosso

relação

ao

outro

sintomas como o sentimento de

percebido como perigoso, quando

inadequação persistente em relação

das erupções de preconceito e

ao próprio corpo, à própria família, à

segregação inspirada na homofobia,

própria vida laboral.

na opressão contra as minorias

Podemos ver que estas novas

sentidas

“perigosas”.

formas de sofrimento apoiam-se em

esta

forma

discursos

refere-se

a

Obviamente sofrimento

como

do

no

de uma

antes

disponíveis

no

fartamente Brasil

e

patologia da inveja, ou seja, uma

indissociáveis de nossa formação

transformação do sentimento de

histórica. O Brasil do jeitinho e do

que o outro, com sua própria

“para os amigos tudo, para os

modalidade de gozo, pode estar

inimigos a lei” deu nesta obsessão

mais feliz do que eu, gera a

com

resposta de negação. Uma recusa a

purificação dos interesses. O Brasil

reconhecer que isso que é sentido

da opressão de classe e dos

como uma espécie de ostentação

latifúndios deu no ressentimento

ou de exibicionismo é uma espécie

contra a recente mobilidade social.

de inveja mal tratada em nós

O Brasil da racialização engendrou

mesmos.

o sofrimento com a insegurança e com

a

o

corrupção

perigo

e

das

com

a

classes


criminosas e com as patologias do

Brasil

consumo. Por fim, o Brasil da

discutir algumas novas formas de

mistura,

sofrimento que psicoterapeutas e

do

sincretismo

e

da

entre

muros”,

desordem pariu esta nova forma de

psicanalistas

desorientação que habita as vidas

tendo em vista o sujeito estético e

depressivas, sem ideais e sem

seu

rumo, que se tornam presas fáceis

contemporaneidade. Nesse sentido,

para

abordo

novos

discursos

“ordenadores”. Espero

decomposição porque

a

eventual

enfrentando

apagamento

as

tratamento

que

estão

proponho

modalidades

na

de

espontâneo

do

essa

breve

sofrimento com especial atenção

permita

iluminar

aos sentimentos de desamparo, de

combinação

entre

ressentimento, vergonha, inveja e

ressentimento,

de

inveja

e

de

vergonha.

desamparo funde-se no ódio que tem dividido o país. A indignação que este transpira não é só porque

INTOLERÂNCIA AS DIFERENÇAS

enfrentamos problemas novos, mas

Por : Marcio Freitas da Silva

também porque as novas formas de narrar e de partilhar o sofrimento ainda

não

foram

propriamente

No dia a dia presenciamos

nem

cenas lamentáveis sobre indivíduos

institucionalmente, nem em termos

que criam situações de violência

discursivos. Quando isso acontece

tanto

é simples recuarmos para uma

questiono se esta mesma criatura

variação mais simples da angústia,

pratica estes atos hediondos dentro

que é o medo, e a partir dele

do seu próprio lar. Caso tenha

pressupor no outro a violência que

mulher filhos, o caso torna-se ainda

se está a praticar.

mais complicado pelo fato de que

A dimensão estética da experiência

vira

caracteriza de modo cada vez mais

sociedade

intenso nossa apreciação dos laços

presencia

de desejo, de amor e de gozo.

intolerância de todas as formas,

Em “Mal-estar,

como

reconhecidas,

sintoma:

uma

sofrimento

e

psicopatologia

do

física

um

como

ciclo

verbal.

vicioso.

Me

Nossa

contemporânea violência

por

gratuita

exemplo;

e

os


imbricamentos religiosos, sociais,

não tangível). O caro leitor deve

sexual, gênero, racial.

estar intrigado ou com achismos de

As outras gerações já presenciavam

que o esta transcrito é um tremendo

estas atitudes inaceitáveis ou esta

blefe ou morfologicamente falando

entranhado em nossos péssimos

um termo linguístico meramente

hábitos do presente, sejam eles

copiado e compilado através da

desencadeados

pelo

navegação misteriosa em alguma

estresse

trabalho,

no

transito, na

pagina de psicologia reversa norte-

universidade, nos bancos escolares,

americana. Bom é mais simples

nos centros urbanos, na sociedade,

método de praxe, a observação da

no

esporte.

repetição de rotinas que as pessoas

Mesmo que ainda nos deflagramos

se submetem sem se questionar.

com

e

Por exemplo, o período que estava

crescimento intelectual nas áreas

em estagio remunerado no museu

das

agente

meio

o

cientifico,

avanço

exatas

e

no

tecnológico,

engenharias,

na

ferroviário, das

analisava

pessoas,

o

nanotecnologia, mas é latente o

corre-corre

regresso e repulsa que nos meros

expressões faciais, seus olhares.

mortais adquirimos em cada vez

Opa! Me desculpe novamente leitor

mais nos distanciarmos de nossa

o meu devaneio, o objetivo é a

essência.

indagação-reflexiva.

A

suas

conclusão

através da observação, foi possível Há ausência de um debate entre

verificar o motivo e os anseios de

sociedade,

publicas,

cada individuo que transitava sem

ambiente escolar, meio acadêmico.

olhar para os lados. Percepção é a

Há algo no cotidiano que não é

seguinte de que as pessoas não

tangível, mas que ecoa através de

possuem o habito de pensar antes

micro vibrações, imperceptíveis a

de agir. As amarras intelectuais são

olho nu, algo no âmago deste

as mais brutais, do que a violência

montante

física

políticas

populacional

que

não

tangível.

Esta

sutileza

observa o reverso fora do molde do

mercadológica que esta impregnada

pacato

no inconsciente das pessoas, faz

cidadão.

tecnológicos

nos

Os

aparatos

causam

uma

com que desenvolva uma afasia e

hipnose softpsicohiber, (hibernação

um comodismo de romper com o nó

psico-social da realidade natural

provocado

pelas

mensagens


externas (propagandas, marketing,

As transformações pelas quais a

folders,

ideologias

humanidade atravessa, pode ser

(religiosas, ditadura da estética,

fruto da globalização que iniciou no

liberdade de expressão, comodismo

séc. XVIII e culminou no séc. XX

intelecto reflexivo-critico). Mas fica a

resultando em grande acúmulo de

mensagem

informações,

outdoors,

de

uma

indagação.

tecnologias

e

Morrer lutando pelos seus direitos

comportamentos

ou falecer lentamente pagando alta

perturbadores. O professor recém-

carga tributaria ate o fim dos seus

formado contribui na medida em

dias. Duas palavras para refletir

que sequencia o trabalho que já

auto-reconhecimento

vem sendo realizado, sua função

e

autoavaliaçao.

humanísticos

aparenta a obrigação em atender o que prescreve a sociedade. A área de atuação do professor é extensa,

A PEDAGOGIA NO DIVÃ

quer seja no modo de produção

Por : Gisele da Silva Rezende

profissional ou nas práticas de socialização, obtemos na escola

Em meio à crise do magistério no

instruções de convívio equilibrado.

séc. XXI, o papel do professor para

A

a sociedade parece claro (ensinar a

processo

ler

o

aprendizagem, que visa a socializar

profissional quer seja o experiente

e perpetuar nossa espécie por meio

como o recém-formado, há muitas

dos ensinamentos. A história da

dúvidas quanto a sua atuação. O

educação,

professor com maior experiência

trajetória conturbada em razão de

limita-se a dar continuidade ao

mudanças radicais nas tendências

trabalho que vem realizando, pela

pedagógicas adotadas em nosso

dificuldade

país.

e

escrever),

de

mas

desconstruir

método de ensino. ignorar

para

O fato de

alterações

comportamento

seu

diz de

contudo,

Desafios

na

professor

experiente

respeito

ao

ensino

narra

educação, e

e

uma

para ao

o

que

seus

acaba de ser diplomado, estão cada

aprendizes impossibilita um trabalho

vez mais comuns a cerca de como

adequado

fazer. Não o fazer apenas no

para

dos

no

educação

obtenção

resultados propostos.

dos

sentido metodológico, mas como


realizá-lo na forma como propõem

como cidadão participativo, reflexivo

os PCN’s (Parâmetros Curriculares

e autônomo, conhecedor de seus

Nacionais).

a

direitos e deveres”. (PORTAL MEC)

educação infantil são apresentadas

A orientação ainda na graduação

ideias

quer

não lhe parece clara, sua avaliação

ensinar", "como se quer ensinar" e

é ineficiente, reduzido a reproduzir a

"para que se quer ensinar". Com

fala de autores que muitas vezes

incertezas em relação ao que dizem

nunca atuaram em uma sala de

os PCN’s sobre um ser autônomo,

aula. A proposta de uma teoria de

que

ensino

No

sobre

PCN

"o

resulte

que

de

uma

para

se

formação

desenvolvimental

como

integral do sujeito, o educador se vê

sugere o psicólogo e pedagogo

inseguro

da

Davídov soa como uma utopia. A

histórico

questão econômica do país, ou a

quanto

concepção cultural,

de

à

eficácia

ensino

que

propõem

uma

falta de esclarecimento sobre este

metodologia adequada de fato, para

autor,

atingir tais objetivos. Amplia-se o

comportamento assujeitado a casta

“modo operacional do educador” e

burguesa. O foco no aprendiz tem

restringe-se sua atuação peculiar

suas contradições, sendo que o

crítica e reflexiva. Sua identidade

indivíduo vem ao mundo buscando

profissional

dentre

respostas para seus anseios e, no

metas operacionais distantes de

entanto é colocado para interpretar

educação

o mundo em que vive sem um

esta

diluída

legítima.

Ciente

de

questões complexas como o espaço

nos

conduz

a

um

referencial/ um professor.

onde atua e o público que o procura para obter um esclarecimento no

O colapso da concepção histórico

mínimo social, o professor não

cultural

consegue refletir de maneira crítica sobre

as

metas

possíveis

de

cumprir. “O

É fato que até o momento nenhuma concepção de ensino atendeu com

propósito

do

Ministério

da

eficiência seus objetivos como o

do

Desporto,

ao

ensino tradicional. Nele continham

consolidar os Parâmetros, é apontar

metas claras e possíveis de obter

metas de qualidade que ajudem o

por tamanha simplicidade no modo

aluno a enfrentar o mundo atual

de atuar. Questões acerca de uma

Educação

e


postura mais enérgica conduziram

pressupostos, da maneira como é

professores a pensar em uma nova

orientado. Não sendo letrado, a

metodologia

interpretação deste profissional fica

que

transformações

atendesse políticas

as e

comprometida.

Discussões

a

econômicas do país, orientando a

respeito da atuação do pedagogo

uma nova concepção de ensino

são

com funções cada vez mais amplas

dimensão dos não alfabetizados na

e resultados duvidosos. Alternar

idade certa, fora as questões que

drasticamente esta concepção, sem

levam o indivíduo a escolha desta

avaliar o que nela funcionava com

formação.

méritos, conduziu a um desfecho

Um expoente na educação

inesperado o que era para melhoria,

A Finlândia é o país com a melhor

transformou-se

desordem.

educação do mundo, com bons

Neste período o aprendiz precisa

professores e onde as crianças

alcançar o conhecimento por seus

passam menos tempo nas salas de

esforços, no entanto a pedagogia

aula.

começa a considerar o contexto

cronogramas, objetivos e conteúdos

conturbado do país, e passa a criar

e caso haja mudança, isto ocorre

políticas compensatórias, de certo

dentro da própria escola, é um

modo, democratizando o ensino. A

modelo de autonomia educacional

proposta de autores como Paulo

sustentável. Apesar do povo não ser

Freire, em nada se parecem com o

muito

que está posto, criou-se a ideia de

ajudam. O educador neste país

igualdade, quando de fato temos

acredita

uma banalização dos resultados. A

conhecimento

e

atuação do professor vai adquirindo

consequencia

da

uma “autonomia”, resultante de uma

preciso

formação ineficiente, que busca

educação, depois em preservar o

unicamente atender o mercado de

planeta, pois sem a educação o

trabalho,

uma

planeta

não

sociedade. O educador, na medida

Mesmo

tendo

em que desconhece a essência

sabem

deste

cultural,

coerência no ensino. Cientes disto

busca reproduzir o que dizem os

acreditam que não há um modelo

em

ludibriando

modelo

toda

histórico

frequentes,

haja

visto

Trabalha-se

sociável,

as

que

se

vem

este

do

é

uma

educação.

É

primeiro

a

considerar

seus

com

pessoas

tudo

a

terá

continuidade.

liberdade, limites

e

todos utilizam


único, ao qual devam seguir, pois

“Justamente entre os universitários

não

formados

como

educativos.

O

exportar que

valores

realmente

mais

concluíram

talentosos

o

exame

que oficial,

importa, não pode ser ensinado nas

constatei uma forte repulsa frente

salas de aula.

aquilo a que são qualificados pelo

A formação do professor

exame oficial, e em relação ao que

O campo educacional urge por uma

se espera deles após este exame”.

nova percepção de ensino que

(ADORNO)

produza

Pretende-se criar uma solução para

resultados

claros

e

objetivos de modo a atender ao

os

Plano Nacional de Educação (PNE),

indivíduo,

sem

assim

reformular

projetos,

como

a

concepção

problemas

complexos considerar que

tradicional, que atinja suas metas. O

determinados

aspectos,

professor

funcionais.

Neste

reconhece

em a

sua atual

prática,

não

concepção

do

caminhamos

e em

foram sentido,

desorientados,

histórico cultural, no seu espaço de

culpabilizando as orientações dadas

atuação considerando a dimensão

por meio de documentos oficiais.

da desorientação do sujeito que

Mas em que momento o pedagogo

aprende. A etimologia da pedagogia

buscou

sugere alguém que conduza a

apreender

criança, referindo-se ao período

conhecimento específico?

escravo na Grécia antiga. Hoje tem

“Decerto, não se pode traçar uma

como sentido o de conhecer mais

divisão

do que o fazer, mas também o

pessoas

conteúdo/

chamados papéis sociais. Estes

currículo

considerando

uma

formação,

para

determinado

tão

simples

em

si

e

entre seus

as

assim

sua atribuição enquanto educador, e

penetram

profundamente

nas

as fazes de cada idade. Alguém em

próprias

características

das

constante

pessoas,

aprendizado,

com

além

do

determinado

autoridade e habilidade para lidar

pelas funções. Isto pesa muito

com

de

sobre a questão do tempo livre. Não

vivenciarmos um período histórico

significa menos do que, mesmo

de amplos debates sobre ensino, é

onde o encantamento se atenua e

também o período mais necessitado

as

de ações.

subjetivamente convictas de que

uma

criança.

Apesar

pessoas

estão

ao

menos


agem por vontade própria, essa

justificam a não alfabetização da

vontade é modelada por aquilo de

criança na idade certa, em razão da

que desejam estar livres fora do

fase

horário de trabalho”. (ADORNO)

individual de aprendizagem), ou por

de

cada

um

(momento

momentos conturbados na política e Este

profissional

a

economia do país. Não se vê este,

repassar o que lhe foi orientado no

considerar um despreparo, ou até

período

mesmo uma acomodação de sua

de

limita-se

formação,

as

tais

práticas pedagógicas, conduzindo a

parte,

aula muito mais para um lazer que

desfavorável, com resultados ruins.

um aprendizado real. Considerando

O espaço escolar

mais o brincar do que o educar

Afinal qual o interesse dos jovens

propriamente dito, pretendendo que

em relação à instituição escolar?

a criança aprenda por meio da

Com

ludicidade

assistencialistas, por que estudar?

sempre,

desconsiderando

qualquer

para

uma

educação

tantas

políticas

outra

Mesmo tendo liberdade, é preciso

proposta metodológica quer seja por

saber nossos limites. A escola

distanciamento da realidade onde

mesmo

se aplica, ou por comodidade visto o

comportamentais “inesperadas” na

período da infância favorável a

sociedade

aceitação.

Este

profissional

responsabilidade para com atitudes

resultado

de

uma

é

política

na

ciente

das

mudanças

descarta

maioria

das

a

vezes

de

compensatória adotada no país em

incivilidade. É preciso parar de

1996, para erradicar a evasão nas

discutir/ debater e agir efetivamente

escolas,

na

ou

permanência

oportunizar

a

indivíduo

na

do

mudança

de

atitudes,

constituindo articuladores por meio

escola, “democratizando” o ensino,

dos

mas sem qualidade/ conteúdo. Com

semelhante ao ato de escovar os

o

do

dentes, se a escova não for de boa

ele

qualidade,

certificado

primeiro

e

de

conclusão

segundo

grau,

educandos.

trará

Educar

é

danos

adentra no curso, sem preocupar-

gradativamente a arcada dentária,

se, na maioria das vezes, com sua

até atingir a raiz. Contudo se a

atuação profissional. Ainda preso ao

escova é boa, mas a ação não é

currículo,

realizada

muitos

professores

de

forma

adequada/


acertada, os danos são similares. Mudamos o indivíduo na função de educador, mas não mudamos o personagem que ele representa, não

basta

ter

conteúdo

e

desconhecer metodologias, assim como o inverso premiará enganos. A compreensão das crianças se dará por meio da nossa atuação sobre

o

que

de

fato

significa

equidade. Ela precisa se envolver com o trabalho realizado por meio de atividades dinâmicas. Pensar como cada conhecimento científico funciona e por isso pensar

a

educação na contemporaneidade, envolve

compreender

múltiplos

níveis da vida em sociedade, e portanto é preciso considerar um eixo de cunho interdisciplinar.


socialistas. Muda-se da casa de

Notas

de

seus pais e funda, com muitas costureiras, uma oficina cooperativa em St. Petersburg. Em resumo: ela quer uma vida correta. E uma vida sensata

significa

Tschernyschewskij

literatura

socialista.

para

uma

Tschernyschewskij

vida foi

socialista. Por exemplo: Marx, um contemporâneo

do

Tschernyschewskij,

foi

um

ESTÉTICA DO SOCIALISMO

admirador seu e leu todas as suas

Por : Hannes Giessler

sete novelas. Mas, evidentemente, a vida de Wera Pawlowna é só mais

Nikolaj

Tschernyschewskij,

escritor

russo,

escreveu

um uma

narrativa a respeito de uma senhora jovem de nome Wera Pawlowna,

uma vida na sociedade falsa. Ela viveria

melhor

numa

sociedade

socialista. Isso Tschernyschewskij sabe bem.

em 1863 (mil oitocentos e sessenta

Por isso, Wera Pawlowna sonha

e três) na sua novela "Que fazer".

novamente, não um novo pesadelo,

Wera Pawlowna deve esperar, na

mas sim um sonho maravilhoso. Ela

casa da família, por um homem da

sonha uma Rússia socialista, uma

classe superior, que é do agrado de

Rússia fecunda onde corre leite e

seus pais. Numa noite ela tem um

mel. O sonho cita ao pé da letra o

pesadelo. Neste pesadelo, ela está

livro do Êxodo. Mas esta Rússia do

trancada no subsolo. Depois que ela

futuro não é um paraíso pré-

acordou, ela percebeu que este

fabricado, esta Rússia do futuro é

pesadelo foi uma alegoria da vida

fecunda, porque uma sociedade

dela. Ela entendeu que ela devia

socialista a cultiva. Uma sociedade

libertar-se. Então, ela começa a

socialista significa, no sonho de

estudar obras socialistas, encontra-

Wera Pawlowna, uma sociedade, na

se com socialistas, e começa um

qual todas as pessoas não vão

namoro platônico com dois homens

trabalhar uma contra a outra, mas


sim,

pelo

contrário,

serão

é ruim. Tanto na alma como na

cooperativas. Nesse sonho, tanto no

sociedade devem ser a escuridão e

dia quanto na noite, os ideais do

a desordem eliminado. Na república

socialismo são realizados: primeiro,

platônica

iluminação, ou seja, esclarecimento;

almas são racionais. Através de tais

segundo,

pessoas a razão deve dominar a

coletividade,

ou

seja,

cooperação; terceiro, ordem, ou seja, planificação. De dia, todos os habitantes trabalharão de modo coletivo e planificado. De tarde, os habitantes se encontrarão numa sala grande, uma sala de festas. Esta

sala

envidraçada,

é

quadricular,

transparente

e

iluminada. Para o autor, a sala iluminada apresenta um exemplo retirado da realidade: o palácio de cristal, em Londres. Este palácio foi queimado cem anos antes. No século XIX, o palácio de cristal foi um símbolo dos tempos modernos e famoso em todo o mundo, como, mais tarde, a torre Eiffel, em Paris. O palácio de cristal era grande, quadricular,

envidraçado,

transparente e iluminado. No livro do Tschernyschewskij o subsolo escuro

se

contrapõe

à

sala

iluminada.

regem

pessoas,

quais

sociedade. Nesse sentido, Marx é um sucessor de Platão. Marx também se opōe à escuridão e ao caos. "A produção nacional" vai regular "segundo um plano comum" (Karl Marx: A Guerra Cevil

em

Franca,

www.dorl.pcp.pt/classicos/guerracev il.pdf, S. 38) e "as relações sociais dos homens com os seus trabalhos e com os produtos do trabalho" vêem ser "simples e transparentes, tanto

na

produção

como,

na

distribuição" (Karl Marx: O Capital, Critica

da

Economia

Politica,

Volume I, / Traducão de Regis Borbesa e Flário . Kothe / Circulo do Livro Ltda.: São Paulo 1996, S. 204).

A

coerência

de

toda

sociedade deve ser racional. O socialismo é um esclarecimento radical. Em toda parte deve haver ordem e razão. Eu não falo sobre

Os ideais de iluminação e ordem

um pouco de socialismo e de

existem já na filosofia do Platão. Na

redistribuição, eu falo sobre uma

alegoria da caverna, o sol e a luz

economia socialista sem capital,

são bons; a caverna, por outro lado,


sem mercado, sem dinheiro, sem

divididos

comércio.

quatro.

Hoje, esses ideais radicais existem, por exemplo, na utopia de Jacques Fresco, o spiritus rector (espírito diretor,

ídolo)

"Zeitgeist". produção

do

Nessa e

a

movimento utopia,

distribuição

completamente

planificadas

cientificamente,

por

meio

a são – de

computadores e internet. Todas as áreas da vida serão esclarecidas. Não existe suor, não existe porcaria, não existe cavernas escuras ou subsolos fechados. Nas ilustrações dos livros de Fresco há sempre

geometricamente Estes

bairros

têm

por um

almoxarifado no centro. "A Cidade do Sol" de Tomasso Campanella é um circulo e é feito de seis argolas. Estas argolas são muralhas. No centro da cidade, na argola interior, fica o templo das sacerdotisas, as quais dirigem a cidade. Este templo tem uma forma redonda perfeita. Parecido com este templo é o prédio, que se encontra no centro da cidade circular da utopia atual de Jacques Fresco. Este prédio unifica ambas

as

funções,

a

do

almoxarifado e a da direção.

muita luz do sol e todos prédios tem

Igualmente Platão honra formas

formas geométricas.

geométricas,

E todas as

especialmente

cidades são circulares. Por isso,

redonda.

essas cidades se chamam cidades

(Timaios)

circulares. Tais cidades geométricas

necessária dominação da razão

são arquétipos da literatura utópica.

sobre a matéria, sobre os corpos e

As utopias mais famosas da Idade

sobre as paixões. No começo do

Moderna são a "Utopia" de 1516

diálogo, Platão pergunta porque

(mil quinhentos e dezesseis), de

existe

Thomas Morus e "A Cidade da Sol",

matéria e razão, no homem. Para

de 1623 (mil seiscentos e vinte

responder, Platão recorre a um

três), de Tomasso Campanella. Na

mito. Presumivelmente, Platão não

ilha Utopia existem 54 (cinqüenta e

crê no mito, mas ele acha que este

quadro) cidades, nas quais todos se

mito conta a verdade. O mito

assemelham.

começa como no Gênesis bíblico. O

quadricular,

Cada

cidade

circundada

de

é uma

muralha e repartida em bairros,

No

o

demiurgo pandemônio

dialogo

a

Platão

"Timeu"

explica

entrelaçamento

cria

a

a

entre

ordem

no

(tohuwabohu).

E


como? Ele cria o cosmo como

Este mito, e a interpretação de

esfera − a forma redonda perfeita.

Platão, encerram alguma verdade.

Depois o Demiurgo cria os deuses.

Existe uma contradição, ou seja,

E então ele cria os cinco elementos

uma guerra entre a natureza e a

fundamentais.

cinco

razão. E as formas geométricas são

formas

o uniforme da razão nesta guerra.

fundamentais e tridimensionais. Até

Das pirâmides até os smartphones

neste ponto a criação é boa. A partir

− formas claras são um atributo e

daí, o demiurgo quer criar os

um feitiço da razão. O socialismo

homens. Ele mesmo cria o espírito

quer fazer prevalecer estas formas

dos homens. Contudo, a criação

no todo da sociedade. Não só os

dos corpos ele cede aos deuses. Os

prédios,

deuses,

cidade, isto é, a sociedade, tem de

elementos

Estes

têm

cinco

porém,

são

também

criaturas, por isso eles não são perfeitos. Eles são secundários. Sendo

secundários,

eles

fazem

disparates. Eles misturam os cinco elementos de maneira inútil. Por isso, os corpos dos homens não tem

ordem

nem

razão.

Nesse

sentido, é importante que a razão do espírito tente dominar e subjugar o corpo. O espírito dos homens recebe ajuda na contemplação do sol e das estrelas. Na luz clara, nos movimentos e harmonias do céu, revela-se a razão do cosmos. O cosmo,

com

suas

formas

e

movimentos geométricos, é o aliado da razão, e combate as paixões dos corpos natureza.

e

a

desorientação

da

como

também

toda

a

ser ordenada. Este imperialismo da razão existe nas utopias de Fresco, Morus e Campanella também. Na utopia de Fresco os homens jamais bebem álcool. Na utopia de Morus as portas jamais estão trancadas – não há locais privados. Na cidade do sol de Campanella a procriação dos homens da cidade é planificada pelos sacerdotes – deve corrigir a aparência

selvagem

de

seus

corpos; a razão pretende moldar os corpos segundo seu próprio ideal. E na cidade toda natureza é escrita − em suas próprias muralhas. As seis muralhas servem como livros. O que

aparentemente

habitantes

da

motiva

Cidade

do

os Sol,

descreveu, Francis Bacon, em seu


romance utópico sobre a fundação

um ano, Tschernyschewskij recebeu

da Nova Atlantida: "O fim da nossa

uma resposta. O nome da reposta

fundação é o conhecimento das

se chama "Notas do Subsolo", uma

causas

dos

novela de Dostojewskij. O narrador

a

em primeira pessoa das notas não

ampliação dos limites do império

quer se deixar ver. Ele prefere o seu

humano para a realização de todas

subsolo. Sua argumentação: a vida

as coisas que forem possíveis."

não é só razão. E a parte irracional

(Francis Bacon: Nova Atlântida, Em:

da vida tem valor e legitimação

Francis Bacon: Novum organum ou

também. Esta parte da vida não

Verdadeiras inidicações acerca da

deve estar suprimida da razão. Se a

interpretaçou da natureza; Nova

razão pretende dominar a vida, os

Atlântida / tradução e notas de José

homens devem viver no palácio de

Aluysio Reis de Andrade / 3. ed,

cristal. Os advogados da razão

São Paulo : Abril Cultural, 1984, P.

gostam do palácio de cristal, mas o

236-272, aqui P. 262)

autor das notas não gosta. "Os

e

dos

movimentos

segredos

das

coisas

e

A natureza desconhecida é sinistra. A isto acrescentam-se as pulsões e o inconscientes no interior dos homens. Por isso, Leon Trótski aclamou a psicanálise. Ele compara a psique a uma gruta escura. A psicanálise

é

uma

lanterna.

O

psicanalista ilumina esta gruta, de tal

forma

que

nada

pode-se

esconder na escuridão da gruta. Tudo na gruta torna-se visível para a razão. Na

novela

senhores acreditam no edifício de cristal ["palácio de cristal" seria a tradução sempre

melhor,

H.G.],

indestrutível,

para

ou

seja,

acreditam num edifício ao qual ninguém poderá mostrar a língua mesmo às escondidas, nem fazerlhe uma figa com a mão no bolso. Bom, eu tenho medo desse edifício, talvez porque ele seja de cristal e indestrutível através dos séculos e porque não será possível mostrarlhe a língua nem às escondidas."

"Que

fazer",

(Fiódor

Tschernyschewskij dirige, por fim,

subsolo

suas palavras diretamente ao leitor.

L&PM, 2012. p. 46)

"Liberte-se de seu subsolo! Venha à luz!" (minha tradução) . Depois de

Dostoiévski, (1864).

Notas

Porto

do

Alegre:


Sem dúvida: o protagonista da

CONTO INACABADO

novela

Por : Fernando Selau.

de

repugnante.

Dostojewskij A

é

sociedade

não

poderia existir, se só houvesse uma multidão

de

vultos

carrancudos

O ventilador balançando no teto, aquela cena típica de filme dos

como ele. Mas posto que, para

anos

Dostojewski,

sociedade

piscando violenta. O sol entrando na

racional se confronta com um tipo

penumbra da manhã. Um sutiã

extravagante

largado

uma

como

esse,

ela

cinquenta,

no

com

criado

uma

mudo.

As

imediatamente se confronta com

cobertas

suas consequências. Que fazer?

umas nas outras. Lençóis e fronhas

Que fazer com pessoas insensatas,

em ondas irregulares. E o cheiro...

ou com tendências irracionais dos

Ah! O cheiro! A sonolência do ar

homens? Dostojewskij discute na

esfumaçado de cigarro, suores e

novela

a

vodca jogada no carpete. A porta

dialética da razão e a sua execução.

balançando, deixando a paisagem

Uma sociedade como a descrita no

concreta,

sonho de Wera Pawlowna seria

aparecer. Um menino com cara de

talvez uma sociedade totalitária.

choro observava paciente a parede

Uma

e

oposta à cama. Um velho negro sai

iluminada seria um perigo para

do banheiro fechando as calças. O

todas as forças da vida, que,

menino não se apavora, mas o olhar

certamente, não são racionais. Uma

não demora e virar receio. Ele senta

sociedade socialista tem que deixar

a beira da cama, o velho, cheirando

claro,

a

a tabaco em vários sentidos. O bafo

escuridão podem ser integrados

dormido e embriagado formando

nela ou não. Isto é uma pergunta da

palavras no ar.

"Notas

do

sociedade

se

o

subsolo"

planejada

pandemônio

e

enroladas,

luz

da

abraçadas

cidade

grande,

liberdade individual, uma pergunta

_ Quando a Juli volta?

da privacidade e uma pergunta da

_ Não volta... – respondeu o

estética.

menino, meio aturdido e com seus dezesseis anos. _

.

Assim

é

melhor...

gargalhou alto já deitando na cama – Assim é melhor meu pequeno, e


veja

só!

Ela

nos

deixou

um

cintura, enquanto outra arava as

presente... – e sua mão já viajava

costas. Com um movimento lerdo, o

até o sutiã pequeno e com ursinhos

velho, abria o sutiã. De repente

desenhados – Agora põe pra eu

caíram ursinhos pelos ombros e

pode tira.

braços do garoto.

_ Mas já, meu senhor?

O velho sorriu...

_ Agora pequeno. – a voz era

_ Meu pequeno... Cada vez

calma e maliciosa. Assustadora, a

mais meu. – gargalhou alto – Agora

palavra certa.

vou

O menino magro apanhou o

tirar

sua

cuequinha

meu

pequeno. – e gargalhou outra vez.

sutiã. Levantou-se. Usava somente

O

menino

mantinha

sua

as cuecas. Nos olhos as cicatrizes

cabeça baixa. Os olhos varando por

tingidas num azul claro. Na pele os

entre as pernas do velho. Ora o

beijos opacos da infância roubada,

chão,

a pela clara. Os cabelos cumpridos,

daquela besta negra que maestrava

quem dera poder cortar aquelas

seus pesadelos.

ora

o

volume

crescente

tranças cor de palha. Colocou a

_ Meu senhor?

peça intima feminina com uma

_ Sim, meu pequeno, você

agilidade que a natureza masculina

tem alguma coisa pra mim?

só tem para tirar. Se entre as pernas não visse seu pênis, não

_ Não seria melhor procurar a Juli, meu senhor?

saberia que era homem. “A Juli tem

E outra gargalhada corroeu o

um machucado entre as coxas...”

ar. Já sabia a resposta. As mãos do

pensava ele na inocência de quem

velho

viu o mundo uma só vez, mas não

puxando lentamente a cueca. Os

sem

olhos do menino agora se perdiam

consequências.

Tinha

as

escorreram

marcas de fuga... Grandes marcas

nos olhos fixos

que mapeavam as costas.

intimamente

Aproximou o pequeno corpo

escondida,

da

cintura,

do velho. Tão

ligados, uma

raiva

angustia.

Um

até o velho. Aos pés da cama um

pequeno

cinzeiro

fumaça,

garganta

do

finas

finalmente caia enquanto as mãos

baforava

envolvendo tremulas.

as As

sua

pernas mãos

do

e

velho

puxaram o corpo, uma acariciando a

do

velho

se

uma

trançava

menino.

se

A

na

cueca

reposicionam.


não

Exercícios

pobreza

material,

mas

também a pobreza humana, cita como a experiência vivida por uma juventude que cresce em meio a uma guerra e vive a guerra. Onde após alguns anos de guerra voltam

ensaístico

silenciosos, mais pobres de vida e mais

pobres

nas

relações

de

comunicação ou seja de expressão.

“EXPERIÊNCIA

E

POBREZA”

WALTER BENJAMIN

As experiências estavam a ponto de uma desmoralização ou já era a desmoralização diante do fim da

Por : Gabriel da Silveira Ângelo5

guerra,

que

nem

permeavam

Benjamin trás a reflexão perante

guerra não contavam a experiência

experiência e da pobreza humana.

vivida pelos combatentes ou a

Benjamin começa o texto trazendo a

história de uma sociedade que viveu

parábola do pai que deixa a herança

a guerra avanço do capitalismo para

para seus filhos, no entanto essa

Benjamin foi o eixo da mudança,

herança são parreiras de uva e não

onde formava pessoas miseráveis

ouro, Benjamin se utiliza deste

por completo, Benjamin trás um

exemplo e trás a reflexão de que o

novo conceito de barbárie diante da

ouro não trás a felicidade para o

experiência e da pobreza e acima

homem e sim o trabalho.

de tudo a miséria por completa

O

autor

experiência

trás

como de

relato

crise

a

do

Europa

livros

Experiência e pobreza de Walter

diante

a

nos

sobre

a

monstruoso

desenvolvimento tecnológico .

que

permanecia sobre Europa, em meio

Os indivíduos não se veem, mais

a duas guerras mundiais e o avanço

como homens, mas objeto indistinto

do capitalismo, Walter Benjamin trás

sem nenhum tipo de troca de

o conceito de barbárie a explicar

ralações e da experiência vivida sendo assim Benjamin diagnostica

5

Estudante do curso de geografia da UNESC( Universidade do Extremo Sul Catarinense).

que a tristeza e a pobreza cultural


afetam

os

vínculos

Contudo

após

artísticos da população Europeia.

Benjamin

Como

desses

contexto

culturais

Benjamin

e

cita

identificar as

isso

consequências

desenfreado

processo

Descartes e Einstein por parte da

capitalista,

construção ideológica, ele se utiliza

processo

do exemplo da tabula rasa de

reconhecerem suas experiências e

Descartes que ou seja a linha de

não

pensamento ceticista que propõem

existente dentro das relações e do

“penso, logo existo” e Einstein com

espíritos individuais de cada um na

a física moderna do século XX que

população

contradiz a física defendida por

apenas soldados que voltaram sem

Newton ,o autor cita os artistas

suas expressões e

cubistas e retrata uma linha artística

aqueles que viveram a primeira

sem alma. Essa discussão sobre a

guerra e veriam a crise de 29 e

experiência

também a segunda guerra.

e

diretamente

pobreza em

remete

todos

enxerga leva

o

que

serás

enxergarem

a

europeia.

este a

não

pobreza

Não

foram

sim todos

os

mecanismos sociais, da ciência e da cultura, o pós-guerra gera uma crise de identidade perante a sociedade

Portanto isso nos remete também um contexto atual da sociedade que vivemos, o capitalismo ainda evolui, apenas

europeia do século XX.

mudam

os

processos,

identidades se constroem e também Mal se começa um século e o

se descontroem, as experiências se

processo se constrói a partir de uma

fragmentam e desfragmentam que a

crise de identidade, as relações

corto com o processo que vivemos

produtivas afetam diretamente a

e as relações com a sociedade

vida

construímos

do

ser

social.

Benjamin

experiência

e

a

enxerga esses pilares novos de

pobreza inda é sombra deste modo

consolidação do capitalismo perante

econômico a qual vivemos um

o mundo e a sociedade europeia .A

sistema que cada vez mais caminha

relações se desencontram com o

para sua barbárie.

crescimento desenfreado do capital e do desenvolvimento tecnológico do século.


EXAGIUM

um lugar indizível por conta da sua

Por: Guilherme Orestes Canarim

subjetividade, mas preenchido de haver-se, ou de um estado de

Exagium ou o irreconciliável na

consciente habitar de si mesmo

perda e a origem do trauma.

diferente do daisen em Heidegger.

No fulcro do conceito de tempo “No templo há uma poesia

encontra-se a noção de memoria

chamada

em cujo limiar insinua-se o tártaro

“A

entalhada

na

Perda”, pedra.

Ela

residual

do

lembrar

e

seus

consiste de 3 palavras que

movimentos

infinitos

pela

foram rasuradas pelo poeta.

consciência que deixam atrás de si

Não se pode ler “A Perda”.

sulco profundos de negatividade, os

Só senti-la.”

quais convergem para os contornos que formam as impressões, que são

No seu texto Infância Berlinense

fonte dos extratos basilares da

Benjamin escreveu em forma de

experiência.

fragmentos sobre sua noção de

memoria entre o lembrado e o

lembrança

esquecido,

retalhos

e de

percepções

tempo sua

cozendo

historia

filosóficas

com

sobre

a

Neste

e

seus

limiar

da

conteúdos

permeados por caminhos dos seus deslocamentos, há ranhuras desses

necessidade da reinterpretação da

movimentos

sociedade e do próprio gênero

esvaziamento, do qual nasce a

humano movendo-se no mundo.

noção

de

nas

quais

um

perda, formado

pelo

tecido do que já foi chamado de Há dentre todos os fragmentos um

psicodrama.

em especial que pode servir de estopim

para

demonstrar

em

alguma medida uma boa parte de

Esta pequena parte da noção de

uma partícula desagregável de seu

memoria que me parece apropriada

entendimento de memoria, qual seja

para

a perda, que é uma espécie de

constantemente sendo empurrada

tempo

pelo fluxo dos acontecimentos e das

primevo,

na

relação

do

sujeito com o mundo ou o outro, em

a

intensidades

observação,

no

esta

mundo


contemporâneo, de modo que a

totalmente abolido do rumo simples

reconciliação da perda com o seu

das coisas pré-concebidas.

conteúdo esvaziado pelo trauma da não permanência de um alcance

Deste modo, compreender quê seria

total dos sedimentos das imagens

mais que a clivagem, perdida por

construídas

entre

como

suportes

as

pedras

num

elevado

mnemônicos sobre os quais se

contra-partido,

depositariam

dispositivos

propriamente dito que constituiria a

retroalimentadores da consciência e

perda, esta profundamente ligado a

da personalidade torna-se agora

uma

inatingível por conta do modo de

imperativos

totêmicos,

operação da razão. (diga-se a razão

manutenção

dos

burguesa, iluminista, moderna e

ideológicos

fundantes

antropocêntrica).

sociedades

urgente

o

objeto

interpretação

agrafas,

dos de

aparelhos das

disparados

continuamente pela cultura subO pensamento estéril, que seria

repticiamente estruturada para alijar

perfeita burguesa

manifestação que

da

razão

o sujeito da possibilidade da sua

corrobora

sendo

materialização.

prototípia que antevê o que seja, lugar de abstração profunda em que

Como pressuposto de que há uma

há alguma curva, toda vez que um

transcendência

devir dum lugar que não existe, um

benjaminiano” antes do

chiste que resvala fundo no infame

que daí se sai bem ou mal como

choro.

existência concreta que a coisa seja

no

“perder-se pensar, e

em si mesmo, não como forma O sentido do devir que se torna

naquilo

movimento infinito da imanência do

sendo e portanto já percebemos a

nada que é lateral nos sulcos onde

finitude.

se acha a chave do entreposto, no infinito do que parecia ter morrido antes, não seria qualquer coisa, que coubesse em garatuja e por isso substancia fosse entre o concreto e o Nada que houve e que não foi

que

habitamos

quando


A guisa de ilustração :

irreparavelmente sinalado por uma espécie de negatividade que não

“certa

manhã

enquanto

pode ser exaurida de modo algum.

tentamos

Dai que dessa impossibilidade de

meu amigo e eu atravessar a

reparação das marcas do contorno

rua, como ele não sendo

desses movimentos que dão a

muito atento as sinalizações

gênese da experiência substancia-

eu

que

se o trauma como materialização

caminhávamos

lho

repreendi

fossemos

pela

faixa

de

daquele imperativo disparado pelos

pedestres,

ao

que

ele

signos observados no mundo.

respondeu que ela estava apagada e ninguém pararia para uma faixa inexistente. O que

reiteradamente

vem

acontecendo neste lugar é o desgaste

da

PLATÔS

pintura

Por: Thaís Wacholz

das

faixas brancas características deste tipo de sinal de transito.

Professora/Psicóloga/Psicanalista CRP 12/04705

Dai que desta percepção do esvaziamento de sentido dum símbolo apagado fez com

Há dias não escrevo, não escrevo

que eu pensasse sobre o

porque

problema da perda.”

pensamentos,

prescreveram outros

alguns tantos

se

perderam e muitos ainda não os Neste caso a reconciliação tipo

de

esvaziamento

deste poderia

simplesmente ser a concreta ação de

pintar novamente

as listras

brancas no chão da via. Mas aquele terreno

argiloso

densamente camadas

da

identidade

estratificado continuas

da

por vida

quotidiana dos indivíduos, quer eles se apercebam disso ou não, esta

pensei. Sinto

que

minha

inconstância

encontra seu lugar, no lugar que me encontro... mas, que lugar? Lugar de tatear no escuro, lugar de sentir a maré subir e descer e, neste balanço, reviver minhas palavras e o que sinto. O silêncio se fez e as palavras

também

silenciaram

o


sentido que faziam outrora. Não me

insuportável não encontrar um lugar

perdi,

para

porque

ainda

não

me

descansar,

tornou

no

escuro,

encontrei, e talvez esteja buscando

insuportável

marcar um encontro entre o que fui

insuportável acompanhar os altos e

e o que serei.

baixos

O

que

eu

desejei,

ainda está

conectado com o que eu hei de desejar, se mostra sutil, porém gritante e visível como a alternância do tempo, do tempo de gozar, de

tatear

se

da

maré

e,

principalmente, não sentir que todas as coisas fazem sentido, quando assim chegar a hora, se a hora chegar, se o Outro, se eu...se, sem...

deleite, de estar, de fugir e de voltar, de se perder e se encontrar e, sem

UFC ou BRABARIE

contar, do que ainda não aceitei como sendo meu. Quando

lúcida,

Por: Everson Matias encarnada

de

Esvazie sua xícara primeiro,

sentidos, quando insana, despida

só então você poderá provar

de razão, quando surda, minha alma

grita,

quando

cega,

meu chá. Afinal de contas a

bato

utilidade da xícara está em

contra a parede, quando eu, eu

poder esvaziar-se. Abra sua

mesma...A lucidez vela meu sono, a insanidade vigília,

a

acompanha surdez

mente para receber novas

minha

atropela

ideias.

meu

raciocínio, a cegueira inflama meu olhar, meu eu me pede paciência,

Bruce Lee

temperança e consciência de minha inconsciência. Hoje

volto

A grande surpresa entorno da derrota de Anderson Silva e o

escrever,

crescimento vertiginoso dos eventos

meus

de combates de MMA, marcam uma

pensamentos exigiram que fossem

etapa de grande crescimento e

repensados e resinificados. Minha

prestígio de um novo esporte. Existe

inconstância

uma

porque muitos

a dos

continua

soberana,

porém alerta, porque já se tornou

febre

hoje

que

contagia

crianças, jovens e adultos. É fácil


observar em bares e restaurantes

O

foco

na

respiração

canais de combate. Nas escolas

possibilita a diminuição do cansaço

públicas, cadernos, mochilas, bonés

além

e camisetas com o rótulo do UFC

depressão.

Combate se tornam moda entre os estudantes.

de

evitar

Enquanto

o

stress

arte

e

a

marcial,

o

MMA não fere qualquer princípio.

Da mesma forma, torneios e combates

amadores

Pode ser considerado um esporte

e

de autodefesa, é dialético, pois

multiplicam,

combina dentro de um mesmo

assim como academias de uma

praticante, as melhores técnicas de

dezena de artes marciais.

combate

semiprofissionais

se

O

de

diferentes

tempo

especialidades: a imobilização e o

dos bombadões ficou para trás, a

solo do jiu-jitsu, os chutes da

moda agora é ser“Spiderman”.

capoeira ou do Mauay-Thay, ou

Esporte ou não a problemática

especialidades refinadas do Kung

divide

Fu.

opiniões:

muitos

não

o

consideram como esporte. Acham que é violento e lembram com

Mas não estamos falando da

saudades do auge do boxe, outros

mesma coisa quando tratamos de

são imparciais, mas assistem. Há

UFC ou qualquer evento do gênero.

ainda aqueles que acham que é

O UFC, assim como tantas

feito por profissionais treinados e

outras organizações competitivas na

que tampouco é diferente do antigo

moda contemporânea, se traduz por

vale tudo, modalidade de barbárie

manter duas pessoas presas dentro

dos eventos de luta.

de

Mas o que seria de fato o MMA?

um

determinado

espaço,

aplicando

todas

técnicas

possíveis

até

as que

um

dos

oponentes perca a consciência ou Atualmente muitas pessoas

desista antes de uma lesão mais

estudam artes marciais por motivos

grave. Trata-se de um negócio

variados:

pessoal,

bilionário que arrasta multidões em

equilíbrio

todo o mundo e não se limita

psicológico e desenvolvimento da

somente ao esporte. Seu conteúdo

personalidade.

é absorvido consciente ou não pelo

coordenação

defesa física,


indivíduo e se converte em cultura,

arte,

materializando-se na moral e se

educação,

convertendo

desenvolvimento humano, mas o

pela

em método de luta

sobrevivência

em

uma

sociedade em decadência.

seu

equidade

social,

cultura,

saúde

contrário.

ou

A

crise

o

desta

sociedade, também levou a crise de

Estudando tais fenômenos, Martín Hernandez expõe que:

sua moral, assim os valores que antes eram inquebrantáveis hoje são métodos válidos para se obter

Vale

tudo

das

empresas

para

manter seus lucros. Vale tudo do

vantagens,

não

raras

vezes

materiais.

imperialismo para apropriar-se dos

O estado decadente se

recursos naturais. E esse “vale

degenera. Para não extinguir-se se

tudo”

defende

com

inevitavelmente, ao vale tudo dos

métodos.

Inclusive

os

oprimidos. Vale tudo para conseguir

Atualmente

os

estados

um emprego, e vale tudo para

violentos, de Israel e o Americano

mantê-lo. Vale tudo para conseguir

possuem

uma casa. Vale tudo para conseguir

treinamentos

um lugar na escola ou na faculdade.

avançadas, sendo aplicadas sobre

O vale tudo dos oprimidos expressa

povos

a luta pela subsistência em um

palestinos, afegãos e Iraquianos. No

mundo que está sendo destruído,

Brasil, muitos “caveiras”

cotidianamente, pelo imperialismo

(soldados

decadente.

academias

dos

opressores

leva,

todos

entre

os

muito

do e

marciais.

os

técnicas

mais

seus marciais

pobres

Bope)

seus

como

os

frequentam

mestres

marciais

prestam serviço como instrutores das forças armadas seja ela policial Isso porque, a partir da I Guerra

mundial,

capitalista

a

entrou

sociedade

numa

etapa

ou militar. A noção de arte marcial como instrumento

de

defesa

dos

definitivamente decadente. Todas

oprimidos praticamente não existe

as

mais. A essência foi violada. Os

inovações

conhecimento

técnicas científico

e não

serviram para alimentar as forças progressivas da humanidade como

segredos

milenares,

transmitidos

entre mestres da mesma forma que


o MMA entrou na ciranda do vale

ambiental, crise política, nuclear,

tudo.

crise de moral, crise de sociedade. Isso

nos

leva

a

outra

Sem

dúvida,

um

tempo

de

conclusão: A de que nossos avós

incertezas, mas fantástico de se

estavam certos, os tempos hoje não

viver.

são os mesmos.

Cabe

O Estado como poder

aos

oprimidos,

organizar-se e defender um modelo

centralizado e defensor do modelo

de

social existente necessita, por uma

humano, onde haja equidade social

questão vital, aplicar a violência de

e toda a riqueza, originada do

forma organizada: Polícia Militar,

trabalho

ROTA, CHOQUE, BOPE e exército.

humanidade.

Não faltam exemplos, sobre tais

socialista.

aparelhos, tampouco de sua função social. Este estado está a serviço de uma classe,

a

classe

capitalista,

enquanto ela dominar e manter seu modelo de sociedade persistirá a decadência

moral.

As

crises

persistirão e serão mais fortes o acirramento

de

interesses

contrários: o dos trabalhadores e pobres oprimidos e a burguesia capitalista

se

aprofundará.

O

exército e a polícia ficarão mais violentos e os trabalhadores darão a sua resposta.

Para onde caminharemos?

O tempo que nos tocou viver pode ser definido por ser um tempo de crise: Crise econômica, crise

sociedade

esteja

verdadeiramente

a Uma

serviço

da

sociedade


CanapĂŠ


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