SAĂ?DA Numero 11, volume 1, 25 de brumario
MUITO A TEMER?
Seja a saída que você espera do mundo: Lê, Escreve, Faz arte? Colabore: gocanarim@gmail.com
Sumário Editorial ........................................................ 4 Panorama.................................................. 5 CAI, NÃO CAI… MAS, AFINAL, O QUE DEVE CAIR? ............................................... 5 Por Mauro Luis Iasi. .................................. 5 #FORATODOSNÓS? .................................. 8 Gisele Rezende ......................................... 8 SAFATLE: “NOS RESTA A DESOBEDIÊNCIA SISTEMÁTICA A TODAS AS AÇÕES GOVERNAMENTAIS”................................. 8 Por Vladimir Safatle. ............................. 8 ESCOLA SEM PARTIDO: UM PROJETO QUE FALIU ATÉ NO MUNDO DA MAGIA .......... 9 Diego Rodrigo Ferraz ................................ 9 Notas de literatura .............................. 12 SOBRE O CARÁTER ENIGMÁTICO DA OBRA DE ARTE EM ADORNO E AS HABILIDADES CULINÁRIAS PARA O PREPARO DE BOLOS. ................................................................ 12 Guilherme Orestes Canarim ................... 12 A SOCIEDADE CAPITALISTA, PENSAMENTOS SOCIOLÓGICOS E RELAÇÃO SÓCIO-CULTURAL ................... 12 Letícia Herica Buratto ............................. 12 SOBRE ESCREVER.................................... 13 Guilherme orestes canarim .................... 13 Critica roedora ...................................... 14 “A dialética do esclarecimento: o olhar crítico de Adorno e Horkheimer sobre a história do homem.” .............................. 14 A dialética do esclarecimento: o olhar crítico de Adorno e Horkheimer sobre a história do homem (asbailao@gmail.com) ................................................................ 14 Ensayos ................................................... 22 A de ALEMÃO, ARMINDO TREVISAN, CONTEMPORÂNEA, .............. 22 HANS MAGNUS ENZENSBERGER, ........... 22 (https://escamandro.wordpress.com) ... 22 A SOCIEDADE CAPITALISTA, PENSAMENTOS SOCIOLÓGICOS E RELAÇÃO SÓCIO-CULTURAL. .................. 25 Amanda s. vieira ..................................... 25 CINISMO ................................................. 26 Karol Cypriano ........................................ 26 UM VERBETE .......................................... 27 Guilherme Orestes Canarim. .................. 27
Redação:
Editorial
Editor Guilherme Orestes Canarim
Parafraseando um colega “ a política é aquela com a qual ou
Comissão editorial
sem a qual tudo permanece igual”, hoje como muitas vezes
Gisele da silva Resende
na pré-história em que vivemos, temos a oportunidade de
Alex Sander da silva
viver estes tempos loucos.[...] é o melhor dos tempos, o pior dos tempos, a idade da sabedoria, a idade da insensatez, a
Projeto gráfico
época da crença, a época da descrença[...]. No entanto, já
Greyce Kelly
não é sem tempo de nos perguntarmos: como chegamos a
Colaboração
isso ? como pudemos enxergar a queda para a segunda
Mauro Iasi
divisão e não ver o abismo em que nos metemos ? é possível que sejamos tão imbecis para entregar a outros as decisões
Gisele Rezende Diego Ferraz Vladimir Safatle
sobre as nossas vidas ? será o caso de que nos compraram com batatas fritas, televisores e vibradores ? que tipo de escoria da terra nos temos nos tornado ?
Guilherme Orestes Canarim
Em meio a crise da queda dos valores e do ideário de toda a
Letícia Herica Buratto
civilização,aja vista que porque o capital não tem ideologia,
Amanda S. Vieira Armino Trevisan Karol Cypriano
nem cor, nem sexo nem nada, e por isso mesmo “quanto mais apodrece, o capitalismo, mais ele revive”, nos resta a conclusão de que a transformação do mundo fracassou, perdemos a “cabeça” e os nossos apetites infantis estão nos governando. Enquanto não pararmos para avaliar a situação como um todo, no mesmo momento em que damos prioridade ao pragmatismo de resolver “uma coisa de cada vez”, deixamos de lado o fato de que a humanidade e o próprio capitalismo, que formam a sociedade, são um todo, e a resolução de um problema nem sempre elimina suas causas ou efeitos. Se, e apenas se, pudermos parar um momento e deixarmos de nos preocupar com nossos próprios pirulitos e os tamanhos dos nossos “sucessos”, talvez vejamos que se o gênero humano não se engrandece com nossos feitos, não significamos nada, sequer a nossa existência é valida. Não sugiro que nos entreguemos em messianismos salvadores, nem a ideais revolucionários, ou sequer a quais quer esperanças, tudo isso é contos de fadas, são historia pra boi dormir.O que eu penso, e sugiro humílimo, é que paremos de pensar que sabemos tudo, deixemos nossas certezas de lado, e paremos de agir ( afinal foi esse ímpeto por fazer coisas que nos botou nessa sinuca de bico) e pensemos, isso mesmo : pense, não aja.
Panorama CAI, NÃO CAI… MAS, AFINAL, O QUE DEVE CAIR? Por Mauro Luis Iasi. “O Direito à revolução é o único direito histórico real, o único sobre o qual repousam todos os Estados modernos”. Friedrich Engels (1895) “Tudo pode acontecer, inclusive nada” Barão de Itararé
O usurpador balança e se vê na ponta da prancha do navio pirata que pensava comandar. Cobra lealdade de seus colegas saqueadores e usurpadores e tem dificuldade em manter ao seu lado até mesmo o papagaio que vivia pousado em seu ombro. A luta intestina entre os segmentos que levaram a cabo a interrupção do mandato presidencial eleito em 2014 chega ao ponto de fritura
e
ameaça
necessária
para
a
estabilidade
implementar
as
de propriedades e de riquezas… E
Ora, nestes casos quem poderia
não seria razoável esperar delas que
acusar e julgar o malfeitor? Os juízes
vivam entre o povo apenas com o
poderiam acusar, pois expressariam
direito a um voto como todo mundo.
o direito do povo de acusar o mal
Essa liberdade seria sua escravidão
feito, mas não julgar, porque “os
e eles não teriam nenhum interesse
grandes estão sempre expostos à
em obedecer as leis, “porque a
inveja; e se fossem julgados pelo
maioria das decisões seria contra
povo, poderiam correr perigo”. Eis
eles” (Montesquieu, O espírito das
que surge uma ideia incrível: eles
leis, Livro
teriam o direito, como qualquer um
11:
“Capítulo
VI:
Da
Constituição da Inglaterra”).
em um Estado livre, de serem julgados por seus iguais – e eles não
A solução imaginada é que no Estado exista um “corpo que tenha o direito de refrear as iniciativas do povo”, assim como esse povo teria o direito de refrear as ambições deste corpo. Assim se concebe o jogo de forças
entre
o
executivo
que
governa, mas não pode fazer a lei, e
são iguais ao povo. (Em outro momento, poderemos voltar a falar da igualdade para Montesquieu; por enquanto, nos basta afirmar que, para ele, o verdadeiro espírito da igualdade, a igualdade perante a lei, está distante da “igualdade extrema”, como o céu da terra).
o legislativo que faz a lei mas não pode
aplicá-la.
Tal
engenharia
Dessa forma, os “nobres” não podem
política, à época de Montesquieu e
ser
Locke, se materializava em duas
ordinários da nação, mas por aquela
casas distintas – uma dos nobres,
parte do corpo legislativo composta
outra do povo – nas quais fosse
por nobres, ou seja, seus iguais. É
possível
produzir
disso que se trata quando falamos de
fundadas
nos
deliberações
tribunais
foro privilegiado nos dias de hoje,
distintos de cada classe. O executivo
trata-se de um privilégio de ser
A democracia representativa faliu,
deveria levar em conta os dois
julgado por seus pares, no caso
mas não pelos motivos que a teoria
interesses e não somente o de um
presente, pelos colegas políticos e
política
pensava.
ou o de outro e, em caso de dúvida,
pelas
Montesquieu, por exemplo, buscava
o julgamento caberia a um terceiro
judiciário.
o
e
poder, o de julgar. Esse, por sua
pensava que a principal causa das
natureza deveria ser “nulo”, isto é,
instabilidades e da corrupção da
não poderia expressar nem uma
República era a ambição do povo em
vontade nem outra, mas somente a
tomar decisões e resoluções ativas.
Lei. Em casos de impasse, o Rei
O povo, segundo o ilustre Baron de
representaria
La Brède et de Montesquieu, deveria
acima dos interesses particulares,
contentar-se a apenas indicar seus
como um moderador. E, assim, tudo
representantes
aconteceria no melhor dos mundos e
clássica
equilíbrio
e
a
e
moderação
nada
mais,
deixando inteiramente a cargo deles a
elaboração
das
leis
e
o
de
pelos
vista
reformas contra os trabalhadores.
pontos
julgados
interesse
geral,
como o ato de julgar a quem lhe
democracia
superiores
se
do
corrompe,
na
concepção do barão proto-burguês, quando não apenas o princípio da igualdade
se
perde,
mas,
principalmente, quando impera o espírito da “igualdade extrema” que é assim descrita pelo pensador em questão: “cada um quer ser igual aos que
da melhor forma possível.
escolheu
para
comandá-lo;
porque, nesse caso, o povo, não
sua
implementação ao executivo, bem
A
instancias
No entanto, continua Montesquieu,
podendo suportar o próprio poder em
“poderia
acontecer
quem confia, quer fazer tudo por si
cidadão,
nos
que
públicos,
mesmo,
deliberar
em
violasse os direitos do povo, e
senado,
executar
em
Segundo nosso versado Barão, em
cometesse
crimes
que
os
magistrados e despojar todos os
qualquer
magistrados
estabelecidos
não
juízes” (Montesquieu, O espírito das
cabe. Mas, por que?
Estado
há
pessoas
eminentes, bem nascidas, detentoras
negócios
algum
soubessem ou não quisessem punir”.
leis,
Livro
8:
Da
lugar lugar
corrupção
do dos
do
princípio da Democracia). Assim, não
estabilidade necessária. Isto é, a
partidos registrados no TSE em
poderia
crise se alastraria até 2018.
2014, somente quatro não estão
haver
mais
virtude
na
democracia.
envolvidos: o PCB, PSOL, PSTU e Diante da decisão momentânea do
Ora, ora, ora, meu bom Barão. Não
usurpador
foi qualquer cidadão que violou os
problema se coloca. Um processo de
direitos do povo e cometeu crimes,
impedimento se alastraria por um
foi o usurpador que ocupou o lugar
tempo considerável (a presidente
da
A
eleita em 2014 teve o seu processo
particularidade da situação que se
de impedimento aberto na Câmara
expressa em uma crise política que
dos Deputados em 2 de dezembro
se avizinha de uma crise de Estado,
de 2015, foi afastada em 12 de maio
se dá pelo fato que, além dos
de 2016 e cassada só em 31 de
magistrados
agosto
Presidente
eleita.
não
demonstrarem
não
de
renunciar,
2016).
Uma
outro
eleição
PCO. Isso significa que, dos 28 partidos
com
representação
no
Congresso, 27 estão envolvidos. Em um pais sério, as eleições de 2014 deveriam ser anuladas e os atos tomados
pelos
governantes
parlamentares
desde
e
então
considerados nulos. Como, então, atribuir a esse Congresso o direito de indicar
um
sucessor
para
o
questione
a
usurpador?
muita vontade em punir, existe o
indireta ou direta teria que se dar
grande problema do que colocar no
com um intervalo de tempo que
Ainda
lugar do delinquente a ser deposto.
poderia variar de 90 dias até algo
legitimidade de quem clama pela
As alternativas apresentadas são:
próximo de 150 dias. Nos parece
antecipação das eleições, existe um
assume o presidente da Câmara,
muito tempo para um vácuo de poder
problema de fundo ignorado. Todas
que teria trinta dias para chamar uma
na temperatura de crise política
as distorções presentes no pleito
eleição
atual.
passado estão inalteradas e, em
indireta,
deliberada
pelo
Congresso, de um novo mandatário a ser escolhido em 90 dias; eleições diretas antecipadas; ou uma espécie de governo provisório no qual a presidente do STF, Carmen Lúcia, no caso, estaria à frente (indicada pelo Congresso ou por um outro meio qualquer). Também se cogita a figura execrável do senhor Nelson Jobim, que sintetiza em si as três dimensões do parlamentar, ministro do executivo e membro do STJ.
alternativa que responda a essa variante, o tempo. No entanto, ao lado disso se apresenta o fato que a alternativa que resolva esse vetor inviabilize outro vetor essencial: a legitimidade enfrentar
a
necessária
para
instabilidade.
Neste
estabelece
se a
resumir
ao
Constituição,
que não
apenas pela tensa relação entre o legal e o legítimo, mas pela natureza do fato que se busca enfrentar. O problema
para
as
classes
dominantes e setores de classe em franca
disputa
pelo
controle
do
governo é o da estabilidade que é essencial para a imposição das reformas contra os trabalhadores, notadamente a reforma trabalhista e da previdência, mas não só. A questão é que a saída constitucional (afastamento e eleição indireta pelo Congresso)
parece
não
levar
à
reforma política imposta. Desde o financiamento privado de campanha, passando pelo poder dos meios de comunicação e a ingerência dos grandes interesses econômicos, até as máquinas partidárias e o uso do poder público (municipal, estadual e federal).
ponto, as coisas se complicam, porque todas as alternativas são
Do ponto de vista das classes
problemáticas
dominantes, a antecipação abriria um
para
os
setores
cenário
de
agravamento
da
instabilidade – ainda que, no médio
O problema, como querem alguns, pode
não
certo sentido, agravadas pela mini Tudo indica que se gesta uma
dominantes em disputa.
não
que
O
presidente
da
Câmara,
que
assumiria para convocar as eleições, está envolvido na mesma denúncia que atingiu o usurpador. E pior: o Congresso que elegeria o presidente interino, em sua maioria, também está chafurdado na mesma lama que emporcalha
os
dois
primeiros.
prazo, esse poderia ser o caminho para legitimar as medidas que agora se impõem com as ditas reformas. Para as classes dominantes e seus aparelhos (entre eles a Rede Globo), o central é garantir as reformas, nem que para isso seja preciso rifar o usurpador que eles tanto apoiaram.
Afastar um presidente por um crime de corrupção passiva (entre outros) e
Desta maneira, não me parece que
dar
no
as classes dominantes estejam, pelo
mesmo crime o direito de nomear um
menos agora, em um beco sem
sucessor é, para dizer o mínimo,
saída. Há pelo menos duas saídas
complicado.
para o atual beco.
O teor da denúncia atinge 1829
Quando olhamos o quadro como um
candidatos e 28 partidos – dos 32
todo (a questão da legitimidade e a
aos
políticos
envolvidos
urgência do tempo), nos parece que
hesitam em assumir diretamente o
caminho: a resistência contra as
a ordem prepara uma solução pelo
ônus
suposta
reformas. E o campo para isso, como
alto. De certa maneira, antecipamos
imparcialidade. Essa é uma das
se demonstrou no dia 28 de abril, é a
esta possibilidade na coluna “O
saídas. O ônus a pagar é o custo de
Greve Geral e a luta nas ruas.
caminho da ditadura”, publicada aqui
uma
a
Entretanto, ainda que valorosa e
no Blog da Boitempo em 24/11/2016,
necessidade
as
necessária, a ação de resistência
quando analisávamos a crise e as
resistências que se farão presentes –
pode contribuir com duas estratégias
alternativas postas que poderiam
e aqui não podemos rejeitar o
que
colocar em risco a ordem em um
cenário, nem um pouco absurdo, de
contrárias
cenário no qual ainda prevalecia a
uma tentativa de cancelamento das
trabalhadores: de um lado, favorecer
luta
eleições de 2018.
a insolvência do governo usurpador
interna
vitoriosos
entre
do
os
golpe.
setores
militares não expressariam, como em 1964, esta personificação do Estado colocando-se acima dos segmentos em disputa, mas sim outra instância
“Os indícios apontam para outro sujeito, que busca se credenciar como forma universal, acima das disputas particulares, em nome da substância do capital e da ordem: o Judiciário. O direito reivindicaria sua natureza não como instrumento do como
ele
próprio
Estado. Não apenas como uma relação entre o direito público e fato político, mas o próprio direito como fato político. Caso isso se confirme estaríamos de forma límpida no campo
do
estado
de
imposição
a
pelo
de
alto
e
enfrentar
exceção
transformado em regra, chancelada
tanta incerteza, aparece uma quase unanimidade: Henrique Meirelles, o escudeiro
maior
das
reformas
antipopulares em favor do capital,
Isso quer dizer que as facções da burguesia
divergem
sobre
quem
deve assumir o governo, mas não sobre o que fazer com ele. Esse campo enfraquece a bandeira das eleições diretas uma vez que a candidatura Lula não se posiciona inequivocamente
sobre
essa
questão, ainda que tudo indique que a pretensão de remendar o pacto entre as classes aponte na direção de manter Meirelles (que já foi seu ministro) ou quem mantenha o que ele faz hoje. Esta, infelizmente, pode ser a outra saída, mas insegura que
resolveria,
aparentemente,
o
O fato das denúncias aparentemente
problema da legitimidade com um
pouparem o judiciário (o que é de
ônus menor.
certa
forma
estranho)
é estranho pois se acompanharmos a operação Mãos Limpas, da Itália, por
exemplo,
veremos
que
o
judiciário era um alvo estratégico das organizações criminosas envolvidas. O
judiciário
pode
legitimar
a
alternativa indireta pelo Congresso ou assumir diretamente a condução de um governo interino até 2018. Carmen Lúcia pode estar seduzida por esta alternativa, mas seus pares
aos
instância
são
interesses
dos
Entretanto,
o
gênio
da
extrema
direita colocada para fora da garrafa como meio de operar o golpe contra o governo passado é um problema nesse cenário. O pais está dividido e só se agravará a fissura no cenário de um retorno de Lula, com ou sem a intenção
de
repactuar
com
as
classes dominantes. O
saída
por
cima
promovida
pela
ordem (o que é muito ruim); por outro,
criar
as
condições
para,
antecipando ou não as eleições, viabilizar a alternativa de Lula, que
o pacto social que um dia promoveu (o que não é nada bom). Nossa alternativa deve ser criar as condições para barrar as reformas, seja por qual meio venham a se impor. Nosso dever é afirmar que a presente crise não clama por mais democracia
representativa,
mas
indica seu mais evidente limite, o que exige urgentemente uma nova forma política.
Existe
alternativa
que
uma se
terceira
inscreve
na
medida em que a crise política se converte em crise do Estado. Mas quem
a
apresentou,
interessantemente, a colocava como um perigo terrível a ser evitado. Sim, é
aquela
apresentada
por
Montesquieu em 1748: cada um
acabou
preservando essa esfera. E digo que
última
aponta para a tentativa de remendar
a primeira, mas pode ser aquela que
por quem de direito”.
em
(o que é muito bom) e propiciar a De qualquer maneira, em meio a
seguiria no comando da economia.
do Estado burguês. Dizíamos:
mas
“perder”
Naquela
oportunidade, ponderávamos que os
Estado,
de
paradoxo,
para
a
esquerda,
consiste no seguinte problema. Os trabalhadores
só
têm
um
único
querer ser igual ao que escolheu e comandá-lo; deliberar em lugar do Senado, executar em lugar dos governos e despojar todos os juízes. Enfim,
governar
a
si
mesmo.
Chamamos isso de Poder Popular. O Barão pira… existem outros que se inquietam.
#FORATODOSNÓS?
Quando o objetivo do que queremos
desafio da realidade, o homem se
Gisele Rezende
diverge com o que estamos fazendo,
pretendeu responder com a reflexão,
a
qual será o papel da Educação em
do modo como viemos tratando ao
sociedade tem como necessidade
meio a uma diversidade étnica e
longo dos anos, não considerando
uma educação mais exigente, de
cultural
da
uma reflexão radical, rigorosa e do
conhecimentos
insistência
veículos
de
conjunto.
esta
sentido de examinar/apurar o que
grupos
agrega resultados propostos para
Hoje
podemos
constatar
mais
que
amplos.
O
que
persiste dos
apesar
Problematizando
pedagogo tem como função ampliar
comunicação
em
restringir
e capacitar os trabalhadores, ou seja,
pluralidade
a
dois
que esses trabalhadores consigam
conceituais: os que atentam aos
desenvolver
desenvolver
a
habilidades
e
modismos e os que o repudiam sem
indivíduo,
necessárias
para
apresentar um pensamento reflexivo
desdobramentos
exercerem um ótimo trabalho na
que resultaria neste posicionamento?
sociedade
competências
empresa que os mesmos fazem parte.
Procura-se
falsear
uma
vontade própria nas tomadas de decisões,
sugerindo
assim
uma
possível autonomia aparentemente conquistada
historicamente
por
grupos ditos minoritários de lutas sociais sugerindo causa e efeito. Presumi-se que o dilema em discutir a
apreensão
e
produção
do
conhecimento científico se arrastará ainda por tempo indeterminado em razão da incongruência das partes envolvidas e até possivelmente dos atravessamentos
epistemológicos
que precedem uma análise crítica diante
dos
impossibilitando
conceitos, ao
ser
ativo
(homem) penetrar na ruptura de soluções específicas. É uma luta desigual do homem consigo mesmo onde um ponto é o indivíduo na mais profunda intimidade em relação à constituição e elaboração de ideias e o outro ponto tem haver com as necessidades para manutenção do mesmo, sua sobrevivência física, porém ambos estão assujeitados a modelos
sociais
que
intervém
diretamente em nossa personalidade arraigando-nos a escolhas cada vez mais limitadas, ao instante em que não seguir os demais não é uma opção. É um caminho único a seguir e
o
percurso
desmanchou
em
realizado razão
da
Movimentos
tendenciosos
surgem
diariamente
reivindicando
atender
conveniências
particulares
de
determinados profissionais, porém delegando o poder a quem de fato pouco
importasse
com
isso.
Profissionais
da
Educação
não
conseguem
desprender-se
da
historicidade
destes,
quando
atendiam a classe dominante (e
autonomia partir
do
dos
seus
formativos
numa
que
privilegia
hegemonicamente
a
dimensão
técnico-profissional,
ao
invés
de
promover uma formação cultural e educativa ampla. É preciso uma reorientação
das
práticas
pedagógicas que possibilitem uma análise das condições da formação acadêmica para a autonomia, tanto educacional
quanto
profissional.
Caso contrário, FORA TODOS NÓS.
ainda o fazem). Pesquisadores por todo mundo sugerem periodicamente mudanças quer seja em conceitos de ensino, ou em metodologia, mas para os educadores lhes parece mais descomplicado atentar ao modismo
SAFATLE: “NOS RESTA A DESOBEDIÊNCIA SISTEMÁTICA A TODAS AS AÇÕES GOVERNAMENTAIS” Por Vladimir Safatle.
social. Para atender o que demanda sociedade
Devemos obedecer a um governo
contemporânea, o professor se vê
ilegítimo? Devemos aceitar ordens
obrigado
de quem, de forma explícita, se
intensivamente
a
a
metodologia,
diversificar a
fim
de
sua
atrair
a
mostra
capaz
de
servir-se
governo
dispersos
tanta
funcionamento da Justiça ou para
a
fazer passar leis que contrariam
comum
abertamente a vontade da maioria?
em
tecnologia.
meio
a
Considerando
diversidade
cultural,
é
para
do
atenção de alunos cada vez mais
impedir
Essas
métodos, em razão de toda uma
lembradas neste momento. Pois a
política-
com
adesão pontual do povo a seu
não
governo
histórica-
transformações esclarecidas,
cultural ainda
pelo
menos
perguntas
o
aparecer resistências a estes novos
não
se
devem
dá
ser
devido
à
exigência da lei, mas devido à
internamente no indivíduo. É possível
capacidade
compreender o distanciamento entre
governo de respeitarem a vontade
o que busca a sociedade com a
geral.
prática em sala de aula?
Essa
se sua
a
no
A
inconsistência
do
tradicional
dos
membros
capacidade
do
está
pensamento
definitivamente quebrada. Não. Na
conduziu
verdade,
inconsistência factual quando nossa
ocidental
o
duvida ocorreu em raras situações.
indivíduo a agir acreditando que isto
quisermos
resultou de um pensar sobre. E ao
devemos
ela
nunca
ser dizer
mais que
existiu.
Se
precisos, apenas
se
as
vivemos. Afinal, como admitir que um
junta que impõe ao país “reformas”
aparências. O desgoverno Temer
presidente seja escolhido por um
que visam destruir até mesmo a
não consegue nem sequer sustentar
Congresso Nacional de indiciados e
possibilidade de se aposentar com
uma aparência de legitimidade. Cada
réus, fruto de um sistema incestuoso
uma renda minimamente digna. Ela
dia a mais desse “governo” é uma
de relações entre casta política e
tentará
afronta ao povo brasileiro. O que nos
empresariado que agora vem a tona?
independentemente de quem seja o
quebrou
a
última
de
todas
resta é a desobediência sistemática a todas as ações governamentais até que o “governo” caia. entrará
para
a
brasileira
não
apenas
primeiro
vice-presidente
história
governo
Uma das bases da democracia é não
Ela tentará o velho mote: “Tudo
submeter a soberania popular nem a
mudar para que nada mude”. Mas,
equivocadas
passado,
nem
a
feitas
no
instituições
para isso, precisará deixar o povo afastado de toda decisão política.
o
aberrantes. O povo não é prisioneiro
ter
dos erros do passado. Sua vontade é
* Artigo publicado originalmente no
conspirado abertamente contra sua
sempre atual e soberana. Ele pode
jornal Folha
própria presidenta até sua queda
desfazer as leis que ele mesmo fez e
19/05/2017 com o título “O povo
final. Ele será lembrado como o
destituir instituições que se mostram
pode desfazer as leis que ele mesmo
primeiro
corrompidas.
fez e destituir instituições“.
Por essa razão, o único passo na
extraordinária de eleições gerais,
ESCOLA SEM PARTIDO: UM PROJETO QUE FALIU ATÉ NO MUNDO DA MAGIA
com a possibilidade de apresentação
Diego Rodrigo Ferraz
presidente
operando
a
diretamente
como
no
manobrista no Palácio do Planalto.
decisões Temer
continuar
a
ser
pego
casos
antigo ministro da Cultura sendo obrigado a liberar uma licença para viabilizar o apartamento de Geddel Vieira) e de pagamento para silenciar
direção correta seria a convocação
de candidaturas independentes, para
Exatamente no mesmo momento em
à
destruição de condições mínimas de trabalho e garantia previdenciária, ele pedia ao dono da Friboi que continuasse a dar mesada para presos ficarem calados. O mesmo que entregará o país com 14 milhões desempregados
e
mais
3,6
milhões de pobres garantiu lucros recordes para os bancos brasileiros
prolíficos leitores desta revista, o projeto de lei denominado como
Que o Brasil entenda de um vez por
“escola
todas: em situações de crise, não há
especificamente,
outra coisa a fazer do que caminhar
“PROJETO DE LEI DO SENADO nº
em
da
193 de 2016”, que consta como
representação, convocar diretamente
autoria do Senador Magno Malta,
o povo e deixá-lo encontrar suas
haja vista que há muitos textos tanto
próprias soluções. Toda democracia
na câmara dos deputados, quanto
é um “kratos” do “demos”, ou seja, o
em câmaras municipais e estaduais,
exercício de uma força (“kratos”)
optei
própria ao povo em assembléia.
desse.
direção
ao
grau
zero
deve seguir então “os procedimentos
Pois que não se enganem. Como já
legais” e empossar o investigado
dissera anteriormente aqui, Temer não
existe.
Esse
operador
dos
escaninhos do poder, acostumado à sombras e aos negócios escusos,
De
todos
os
disparates
nesta
sempre foi politicamente ninguém.
república oligárquica, este seria o maior de todos. Em um momento como o atual, o país não deve recorrer
a
leis
claramente
inaceitáveis, ainda mais se levarmos em
conta
a
situação
em
que
sem
por
Para procurarei
Agora, alguns acham que o Brasil
uma eleição indireta para presidente.
do
também ter presença política.
novos horizontes neste momento.
Rodrigo Maia para que convoque
seja
conhecimento dos bem informados e
Essa é a única força que pode abrir
no último trimestre.
que,
representados por partidos possam
que esse senhor exigia do povo
de
Acredito
que aqueles que não se sentem mais
presos.
“sacrifícios” ligados
S.Paulo em
de
tráfico de influência (o caso de seu
brasileiro
do
partido”. aqui,
falar,
sobre
o
especificamente,
tratar ser
Falarei,
o
desse
tema,
menos
sério
possível, isso não quer dizer que não o tratarei com seriedade, mas sim que utilizarei do cômico até mesmo do improvável, ou ao menos tentarei, para abordar a temática, pois espero que tamanha estapafúrdia jamais deixe de ser um projeto. Além disso,
Quem governa efetivamente é uma
penso que o riso carrega uma
junta financeira que procura reduzir o
potência
em
si
que
Estado brasileiro a mero instrumento
despotencialize
o
projeto
de rentabilização de ativos da elite
questão. A proposta aqui é realizar
patrimonialista e rentista. A mesma
uma aproximação entre o projeto de
talvez em
lei e um decreto educacional que lhe
graduação, mas me parece muita
é anterior. Primeiramente, vale dizer
pretensão uma proposta advir de um
sem
que o programa escola sem partido
sujeito que quase não possui vínculo
comentários.
surge em 2004 (o programa não o
direto com a educação e papagaia
projeto de lei visa ao extermínio da
projeto de lei que é de 2016), já o
um montante de falácias permeadas
possibilidade
decreto de lei que creio ser a
de
tangenciar assuntos que fujam à sua
inspiração para isso foi publicado
excelência diga o contrário.
pela primeira vez em língua inglesa
Prossigamos,
ideologias
ainda
que
vossa
Esse decreto fala por si só a
necessidade De
de
igual
de
tecer
modo,
o
o
professor
disciplina, pois poderá incorrer o das
risco de ser interpretado como uma
em 2003, com tradução para o
semelhanças observáveis entre o
imposição ideológica, sem falar que
português brasileiro no mesmo ano.
PLS 193/2016 e os decretos de lei
a neutralidade da língua por si só é
Assim,
instaurados
por
um discurso esfarrapado (mas essa
Umbridge,
alta
creio
que,
muito
uma
Dolores
Joana
provavelmente,
nossos
inquisidora
de
excelentíssimos
políticos
Hogwarts, é que ambos têm de estar
aproveitaram suas férias para ler
expostos para todos os alunos e para
Além disso, segundo o projeto
Harry Potter e a ordem da fênix e,
os professores. Sim, o projeto prevê
de lei em seu artigo segundo e inciso
desse modo, surgiu a ideologia“
no artigo terceiro que:
sétimo, a educação moral tem de
escola sem partido”.
é uma discussão para outro texto e a deixo para os analistas do discurso).
estar de acordo com o que os pais
Sim caro leitor desta revista,
As instituições de educação básica
desejam.Ora, se há um direito a
podes não crer, mas ideia tão
afixarão nas salas de aula e nas
pluralidade e temos uma sala plural,
salas dos professores cartazes com
horrenda, ainda mais apoiada por um
o conteúdo previsto no anexo desta
como poderemos satisfazer a todos
pastor e senador, advém da escola
Lei, com, no mínimo, 90 centímetros
os pais? Mais que isso, algumas
de magia e bruxaria Hogwarts ou, ao
de altura por 70 centímetros de
pautas
menos, existem muitas semelhanças.
largura,
feministas, de gênero, de classe e
Certo é que dizem ser essa uma
compatível
instituição
de
reconhecidíssima renome
e
grande
internacional,
porém
convenhamos nem em Hogwarts a lei deu certo, por que daria aqui no Brasil? Antes de continuar, gostaria de dizer que o que me intriga é que estão
querendo
dizer
a
nós
professores o que podemos e como devemos fazer as coisas. Então eu pergunto, qual a formação de vossa excelência Magno Malta para ousar impor tal lei? Quase nenhuma pelo que consta no site do senador. Ok, ele é formado em teologia pelo Seminário teológico Batista do Norte do Brasil que não é credenciado, vinculado,
reconhecido,
nem
avaliado pelo MEC e tem, somente, validade de cunho religioso, isto é, vossa
excelência
não
possui
formação quase que nenhuma e quer instaurar uma lei para educação? Pois bem, não é que para discutir educação
seja
necessária
uma
graduação reconhecida ou uma pós-
fonte
com
com
as
tamanho dimensões
adotadas.
ensino de
e
antiquada e descabida, totalmente semelhante à postura de Dolores Umbridge, contudo, aqui, trata-se de Magno Malta e companhia. Outra semelhança é que o decreto educacional número vinte e seis diz o seguinte (optei por manter a diagramação próxima a do livro): ORDEM
DA
ALTA
INQUISIDORA DE HOGWARTS Doravante,
os
professores
estão
proibidos de passar informações aos estudantes
que
não
estejam
estritamente relacionadas com as disciplinas
discussões
textos
como
literários
seriam
impossíveis de se ler e discutir diante
Concordo caro leitor, tal atitude é
“POR
alguns
de
que
são
pagos
para
ensinar. A ordem acima está de acordo com o Decreto Educacional Número Vinte e Seis Assinado: Dolores Joana Umbridge, Alta Inquisidora” (ROWLING, 2003, p. 449).
da aprovação da lei. O que fica claro é que os decretos e o posicionamento de Dolores
Umbridge
eram
explicitamente a favor do ministério da magia. Entretanto, o que se quer negar, mas é visível é que o projeto escola
sem
partido(s),
partido
uma
tem
posição
um(ns) e
uma
ideologia muito bem posta e está vinculado a uma ideia de oligarquia, pois a neutralidade estará sempre a favor daquilo que está posto. Diante disso, talvez esta seja a maior semelhança entre o projeto e o decreto:
a
conservação
procura ou
por
manutenção
uma do
status quo (conservadorismo) e se, por um lado, há, na ficção, a negação da volta de Lorde Voldemort por parte do ministério e da alta inquisidora, por outro lado, há,na realidade,a negação de que nossa sociedade
precisa
passar
por
mudanças radicais e que a educação sem as mordaças de um estado que
se diz neutro é uma possibilidade, senão a única, para isso. Talvez, daí resulte o medo desses sujeitos, bem como a necessidade de criação de “projetos” de lei como esse.
Referências
ROWLING, Joanne K. Harry Potter e a ordem da fênix. Rio de Janeiro: Rocco, 2003.
Site para consulta do projeto de lei: <https://www12.senado.leg.br/ecidad ania/visualizacaomateria?id=125666 >. Acesso em: 22 maio 2017.
Notas de literatura SOBRE O CARÁTER ENIGMÁTICO DA OBRA DE ARTE EM ADORNO E AS HABILIDADES CULINÁRIAS PARA O PREPARO DE BOLOS.
pode se arrogar o bolo-semente,
dessume-se
para os epicuristas, ou o bolo em
construção da contingência em que
potencia, para aqueles nietzschiano,
objetividade se subjetividade, ente e
e nem sequer garantir a nuclearidade
sujeito, coisa e objeto, espírito e ser,
do acepipe bolesco enquanto relação
tornar-se-ão
dos
ou
enquanto possibilidade de abertura
interconectados sob a forma de um
dialética para o seu não-idêntico, ou
fundamentum in re, para aqueles
seja é preciso aquecer a massa do
mais modernos que se pensem
que se tornara o bolo.
elementos
coligados
hegelianos.
Guilherme Orestes Canarim
Porem, ao contrario do que ocorre na A compreensão identifica-se com a
mimetização
critica;
de
imediatidade do objeto, que é o
o
momento regressivo na dialética do
a
capacidade
compreender,
de
perceber
compreendido como algo intelectual, é apenas a aptidão para distinguir o
da
esclarecimento,
aparente
reprodutora
verdadeiro e o falso, por muito que esta
do
prometido desde de a hetoimasia, é
procedimento da lógica tradicional.
menos fundamental do que deveria,
Enfaticamente,
o que acontece quando se mistura
distinção
se
desvie
a
conhecimento,
arte mas
conhecimento
de
é não
objetos.
Só
tudo, no preparo de bolos, é que se
compreende uma obra de arte quem
consegue nada alem de um mosaico
a compreende como complexão de
mal feito: varias peças mais ou
verdade ( ADORNO, 2008, p.395)
menos coladas pelas suas afinidades substantivas. O que nos diz que um ultimo elemento da tópica dialética
O caráter enigmático da arte pode ser
relacionado
constelativamente
com o preparo de um bolo. Quando
anda resta ausente, a sublimação real/simbólico/imaginário
não
prosseguiu seu movimento.
é
urgente
portanto
a
viventes
A SOCIEDADE CAPITALISTA, PENSAMENTOS SOCIOLÓGICOS E RELAÇÃO SÓCIO-CULTURAL Letícia Herica Buratto
da
mistificação ritual na qual o alem,
que
Desigualdade
social
é
um
conceito que afeta principalmente os países
não
desenvolvidos
e
subdesenvolvidos, onde não há um equilíbrio no padrão de vida dos seus habitantes,
seja
no
âmbito econômico, escolar, profissio nal. Alguns estudiosos dizem que o crescimento da desigualdade social começou
com
o
surgimento
do capitalismo, com a acumulação de
capital
e
de propriedades
privadas. O poder econômico ficou concentrado nas mãos dos mais
se cozinha, em geral, as partes já Ora, se a materialidade objetiva
ricos, enquanto que as famílias mais
sua
(gehalt) solapada interiormente pelos
pobres ficaram marginalizadas na
ipseidade esta garantida na sua
chacoalhões da realidade, que lhe
sociedade. No entanto, podemos
transvaloração, mesmo quando se
introjetam
desmembrar
fala em culinária oriental. No entanto
singularidade
no caso do bolo, para ficarmos em
própria lei de movimento (inhalt), não
envolvendo desde desigualdade de
um exemplo, nenhuma das partes
deram conta de imixar o real nas
oportunidades
cotem a bolicidade necessária para,
dimensões aprioristicas do tempo e
trabalho
sozinha, se arvorar enquanto a coisa
do espaço1, o que poderia faltar para
escolaridade.
propriamente
a realização da experiência mesma
preocupações na desigualdade é a
da captarcio benevolenciae, ou seja
luta por uma educação pública e
para
igualitária, onde poderíamos colocar
contem
em
consciência
si e
sua
própria
propriedade,
que seja o bolo em
potencia. Sequer
os
ovos,
que
poderiam
indicar a presença metafísica do
que
pretensa
na
interioridade geradora
se
da
apreenda
bolicidade
uma
o
sua
aquela mais
completamente possível ?
espírito do homens, ou o leite que primeva
o açúcar ou a
esta indicado que “pela religação do
manteiga, que seriam aqui claros
equilíbrio entre finitude e infinito esta
indícios da consubstanciação de um
a validação da arte” , e em se
ente
sabendo alguma coisa sobre bolos,
a
dialética
heraclitiana e nem
qualquer.
ingredientes
Nenhum ontológicos
desses que
conformam a complexão bolicícia,
social em
no
diversos
no
até
mesmo
a
aspectos,
mercado
desigualdade
Uma
nível
das
das
de de
grandes
lutas por
salários dignos luta por moradias entre tantas outras desigualdades
Como na teoria estética adorniana
insinua
a desigualdade
1
O que certamente não será ignorado enquanto manifestação patente das aporias daquela analítica kantiana.
existentes sistema
no
país.
Dentro
do
educacional,
milhões
de
crianças hoje em dia enfrentam diversas dificuldades: encaram a reprovação e evasão escolar, estão atrasadas na escola, sofrem com um ensino
racista,
sexista
e
etnocêntrico.No Brasil hoje vemos
economistas e sociólogos que há
realização
dois lados bem distintos um estão às
uma evidencia clara e mais ou
comunicativo dos meios científicos e
pessoas da elite, da classe alta, do
menos auto-explicativa em relação a
sua inquestionável qualidade total e
poder, obtendo todos os benefícios,
isso, ou seja de que o capitalismo
comunicabilidade precisa, de cuja
porem
global
exatidão,
em
outro
lado
temos a
e
sistematizado
sociedade
marginalizados,
uma
perscrutando
sociedade
excluída
onde
enquanto serve de suporte para sua
encontramos milhares de pessoas
constituição. No entanto para alem
sem ser alfabetizados, que nem ao
disso a produção dita acadêmica
menos uma certidão de nascimento
sofre se não mais tanto quanto a
não há tem, sem muitas vezes casa
literatura em geral em sua condição
digna e, portanto assim sabem que
de meio, quero dizer, ninguém ou
dificilmente conseguirão entrar no
pouquíssimos estudiosos consideram
mercado de trabalho. Uma sociedade
a possibilidade de que a própria
desigual
escrita seja o seu fim, de que ele
necessita
no
gênero
vem-se humano
sim
de
qualidade
com
possa
iguais oportunidades para todos,a
cainho
educação pode sim modificar toda a
habilidades,
competências,
nossa sociedade e nos dar melhores
capacidades,
objetividades,
condições de vida.
comunicações e ou seja la o que elas
uma educação de
estabelecer-se para
o
como
um
exercício
das
se pretenderem, mas que também se construam
enquanto
um
lócus
SOBRE ESCREVER
própria a colaboração na produção
Guilherme Orestes Canarim
do conhecimento, tácito é claro, daqueles tais membros pares cegos
[...]cada vez mais as exigências estão se reduzindo[...] (DAITX, 2017,)
da comunidade acadêmica. Portanto a questão da possibilidade de um “paper” ter alguma validade ou cientificidade, de carregar consigo de
Quanto a questão da escrita, se por um lado podemos hoje, mais do que em qualquer outra época da história, ter algum razoável acesso aos meios necessário para a produção de um texto, por outro igualmente é este o ponto em que a humanidade poderia facilmente marcar no tempo a sua
um autor alguma dimensão e de uma serie
de
fontes
outros
tanto
elementos constitutivos, e de este produto alcançar algum grau de clareza ou de solidez conteudal fica numa espécie de impasse, numa encruzilhada, Baudelaire
no e
de
sentido Breton,
de se
contextualiza e se reconhece a partir
débâcle derradeira.
de sua própria deslocalidade, ou seja A realização do desiderato moderno
não
de formar sujeitos capazes para a
preocupação com o que tange a sua
utilização da língua em seu pleno
própria natureza.
há
necessariamente
uma
desenvolvimento, dando conta do aparato de sua operação, custounos,
e
talvez
ainda
continue
custando, um imenso esforço de manutenção
e
estruturação
das
condições
necessária
ao
aparecimento
do
fenômeno
da
Parece
a
civilização.
alguns
Talvez as implicações econômicas do
neoliberalismo
grassante
no
mundo acadêmico esteja por traz da canalha que tem se tornado a produção acadêmica, e com suas novíssimas e sempre mais bem arranjadas
estratégias
de
melhoramento
e
da
promoção
do
pleno
clareza,
potencial
profundidade,
utilidade, e ou mérito poder-se-ia pelo menos duvidar. Quem sabe as transformações e as reconverções culturais dinâmicas e fluidas do contexto social de livre transição
e
os
ambientes
de
favorável apoio e suporte a educação e
cultura,
civilização inigualável
que
brindam
ocidental
nossa
com
uma
homogeneidade
apedeutica, estejam na base do empobrecimento e do dilaceramento do que um dia pretendemos ser.
Critica roedora
contemporânea, literatura ocidental e indústria cultural.
apenas
Estes diversos autores reuniramse
em
torno
fortalecimento Pesquisas
da do
criação
e
Instituto
de
(Institut
für
Sociais
“A dialética do esclarecimento: o olhar crítico de Adorno e Horkheimer sobre a história do homem.”
Sozialforschung)
A dialética do esclarecimento: o olhar crítico de Adorno e Horkheimer sobre a história do homem (asbailao@gmail.com)
com um arcabouço teórico marxista.
Este trabalho tem por objetivo discutir alguns pontos da filosofia da história de dois autores da chamada Escola de Frankfurt, Theodor Adorno e Max Horkheimer, que junto com outros
pensadores
foram
responsáveis pela criação de um corpo
teórico
muito
vasto
e
heterogêneo em ciências humanas, chamado tradicionalmente de Teoria Crítica da Sociedade. Estes dois autores, em conjunto com outros como,
por
exemplo,
Herbert
Marcuse, Erich Fromm, Friedrich Pollock, e Walter Benjamin – que não se manteve tão próximo ao Instituto como
os
outros
prematuramente
e
em
morreu 1940
–,
dedicaram suas atividades, desde meados
da
década
de
20,
a
pesquisas e publicações de ensaios, artigos e livros de temáticas díspares como sociologia, filosofia da história, estética, economia e filosofia da ciência, objetivando realizar uma crítica
ampla
e
estruturas
profunda
das
epistemológicas
contemporâneas, e da organização da sociedade ocidental, incluindo análises sobre o capitalismo no século
XX,
a
situação
ligado
a
Universidade de Frankfurt, que já existia desde 1924 e fora criado com o intuito de realizar pesquisas sociais
Após um período de estruturação, o
Introdução
dos
trabalhadores, a estrutura familiar na sociedade, estudos sobre música
Neste trabalho serão analisadas as
primeiras
discussões
filosóficas conjuntas de Adorno e Horkheimer,
que
são
mais
aproximadas entre si, principalmente com
a publicação da Dialética do
Esclarecimento em 1944, de autoria de ambos, após o exílio do Instituto para Nova Iorque motivado pela perseguição
político-ideológica
e
racial perpetuada pelo regime nazista na década anterior.
Instituto deu sua guinada para o
Cabe ressaltar que os autores em
aprofundamento de sua produção
questão não possuem uma filosofia
teórica na década de 30, após a
da história bem delimitada, e nem se
nomeação de Max Horkheimer, já
propuseram a discutir essa questão,
parte da fileira de membros do
mas tratam do tema e de seus
Instituto, como diretor em 1931. Os
conceitos ao longo de seus ensaios,
artigos
seus
principalmente no primeiro estudo
a
ser
desta obra conjunta, o “Conceito de
Zeitschrift
für
Esclarecimento”
e
ensaios
pesquisadores publicados
de
passaram na
e
fragmento
Sozialforschung, na qual em seus
filosófico
primeiros números já se firmava os
filosofia da história”, da seção “Notas
caminhos a serem trilhados por seus
e Esboços” da obra.
membros, como, por exemplo, em ensaios sobre a crise do sistema econômico capitalista, ou sobre a dimensão psicológica da pesquisa social,
em
que
autores
como
Horkheimer e Fromm utilizavam-se tantos dos pressupostos teóricos marxistas
como
freudiana,
da
psicanálise
integração
que
irá
perpetuar-se ao longo da produção teórica da maior parte dos membros do Instituto. Mesmo tratando-se de pensadores de origens acadêmicas e interesses
tão
distintos,
“no
pensamento da Escola de Frankfurt havia uma coerência essencial que
“Para
no
uma
crítica
da
A intenção deste trabalho é tentar expor a maneira pela qual estes dois autores entendem o desenvolvimento das
idéias
de
progresso
esclarecimento
no
ocidente,
tradicionalmente
fazem
parte
e
que de
concepções modernas da história que
enxergam
melhora
uma
das
espécie
condições
de da
humanidade, a existência de uma idéia perfectibilidade humana, e a ampliação ao longo dos séculos de nossa
liberdade
em
relação
ao
mundo, idéia a qual é criticado fortemente por ambos.
influenciava praticamente todo seu
Muito já se foi escritos sobre os
trabalho e em áreas diferentes” e
chamados frankfurtianos, mas neste
“inclusive quando se desenvolveram
trabalho foi utilizado como obra
conflitos sobre alguns pontos (…),
complementar para a análise o livro
estes estavam articulados por um
Os arcanos do inteiramente outro de
vocabulário
Olgária Matos, uma extensa tese de
comum
e
estavam
embasados em um conjunto de
doutoramento
pressupostos
conceitos de razão e história desta
mais
compartilhados”. [1]
ou
menos
escola,
tão
que
discute
discutidos
por
os
seus
membros, principalmente nas obras
de Benjamin, Adorno, Horkheimer e
amarras
Marcuse.
consideravam
A
esclarecimento. Esse processo de
os conceitos de história a partir da
Regime
desencantar
literatura alemã romântica e barroca;
Revoluções Francesa e Americana.
obscuridade da magia, dos mitos, e
passando, em seguida, sobre a
Esse
setecentista
da imaginação, e substituí-los pela
discussão de Adorno e Horkheimer
encontra suas melhores definições
razão e o saber deve, para tanto,
sobre
o
em Kant, que o define como “a saída
praticar
uma
do homem de sua menoridade, da
natureza, dominá-la, para, de acordo
perspectivas
qual é o próprio culpado” – enquanto
com seu próprio programa, libertar os
desses autores que antes de apenas
que “a menoridade é a incapacidade
homens, colocando-os no lugar de
analisarem
sociedade
de se servir de seu entendimento
senhores do mundo. Mas somente o
ocidental contemporânea, tentaram
sem a direção de outrem”.[2] Como
“pensamento que se faz violência a
criar uma filosofia social crítica.
os
na
si mesmo é suficientemente duro
Olgária Matos realizou uma ampla
Dialética, esta saída kantiana da
para destruir os mitos” [5]. Assim que
pesquisa acerca das origens do
menoridade se dá por meio da
se coloca, portanto para Adorno e
pensamento
racionalidade.
Horkheimer, que em conjunto com
Iluminismo;
e
finaliza
sobre
as
com
nossa
frankfurtiano,
analisando as relações dos autores com as obras de Hegel, Nietzsche, Marx, e sua crítica e reencontro com Kant. Para este trabalho, entretanto, será utilizado apenas o que a autora se referiu na temática da filosofia da história pela Escola de Frankfurt, para não se estender em demasia sobre assuntos não concernentes à temática.
ignorância
deste modo empregar um conceito
obscurantismo religioso e do Antigo
e
a
iluministas
análises, feitas por Benjamin, sobre
Esclarecimento
das
os
muito mais amplo e profundo de
discussão
parte
que
do
o
autora
do
encontram
luz
esclarecimento
próprios
autores
com
definem
as
Mas eles buscam as origens do esclarecimento de outra maneira, procurando estendê-la não aos anos do Iluminismo, mas muito antes, na origem da civilização, e têm como objetivo
principal
entender
dialética
intrínseca,
que
une
sua os
conceitos de libertação e iluminação, os quais sempre propagaram os pensadores
iluministas,
com
o
uma
o
mundo
violência
da
contra
a
este processo de dominação da natureza das coisas, do objeto, em prol de uma libertação do sujeito, há um
processo
de
dominação
do
próprio sujeito. Processo esse que não encontra nenhuma barreira, o que
une
a
busca
pela
autoconservação, de libertação, a um caminho
de
autodestruição
da
própria humanidade esclarecida.
A análise do esclarecimento e do
conceito de dominação – fazendo,
chamado progresso do pensamento
deste modo, uma crítica ao conceito
devemos buscar as origens desse
humano.
tradicional
A
processo no momento histórico em
primeira sentença do “Conceito de
que se dá a transição entre o mito e
Esclarecimento”, primeira parte da
o saber, o momento primeiro do
Dialética, já define a crítica, pois para
desencantamento do mundo, que
eles “no sentido mais amplo do
buscou
progresso
o
mitológico e as antigas tradições. Os
perseguido
autores percebem que a Odisséia de
Os
autores
analisados
neste
trabalho, em sua produção conjunta Dialética do Esclarecimento, traçam certa análise do desenvolvimento do esclarecimento
na
sociedade
ocidental, desde os primórdios de seu surgimento, o qual eles situam na passagem da mitologia para a narrativa epopéica. Este período de surgimento do esclarecimento não se trata do mesmo pelo qual a maioria dos
autores
contemporâneos
de
do
esclarecimento sempre
o
esclarecimento.
pensamento, tem
objetivo
de
livrar
Horkheimer,
o
animismo
homens do medo e de investi-los na
simbólica desse momento, presente
posição de senhores. Mas a terra
na trajetória de Ulisses, o herói
totalmente esclarecida resplandece
astucioso que foge de todos os
sob o signo de uma calamidade
perigos impostos pelos deuses, a
triunfal”. [3]
natureza e seus monstros e espíritos,
iluminista do final do século XVIII. É
Nietzsche havia feito[4], voltam à
nesse século que Kant e outros
Antigüidade clássica para encontrar
pensadores lançam as bases da
as origens do “desencantamento” do
racionalidade ocidental – que havia
mundo, a principal característica do
dado seus primeiros passos com os
esclarecimento, ao invés de se ater
modernos -, assim como os ideais de
apenas
libertação
revoluções
antigas
destruir
e
Homero mantém uma grande carga
Horkheimer e Adorno, assim como
das
Adorno
os
costuma defini-lo, ou seja, o período
política
Para
na
Ilustração modernas,
e
nas
procurando
em direção a libertação promovida por sua própria razão, uma espécie de trajetória da racionalidade que impõe o sujeito em oposição ao objeto por meio da dominação do primeiro ao segundo. É por meio dos exemplos tirados da viagem de Ulisses, dos cantos da Odisséia, que
os autores exemplificam o caminho
razão, que crê ter se desprendido do
A antiga ligação entre as coisas, a
traçado
pela
na
objeto, da natureza – e assim a
pessoa e seu nome ou objeto, por
história.
A
Odisséia
dominado – e atingindo a libertação
exemplo,
também se insere na idéia de que o
do homem, que se coloca como
“onipotência dos pensamentos”, os
mito entre os gregos, assim como
senhor do mundo; a ideologia por
pensamentos tornados “autônomos
outros
trás do esclarecimento.
em face dos objetos”. O eu procura
própria
escolha
povos,
esclarecimento,
razão
da
também pois
já
era
vemos
na
Dialética que a passagem do mito primitivo ao mito patriarcal, com o estabelecimento
da
hierarquia
olímpica já continha estes primeiros
Essa primeira relação do homem com
natureza
“cosmologias
se
dá
nas
pré-socráticas”,
que
“fixam o instante da transição”[9]
é
negada
e
surge
a
sua autoconservação, esse que é o medo imemorial de se perder, perder o próprio eu. Olgária
Matos
analisando
entre mito e esclarecimento. Essas
Dialética
afirma
cosmologias primitivas e animistas
mitologia
quanto
O rito e a magia transformaram-se
que marcam a vida como matéria e
encontram suas raízes nas mesmas
em doutrina religiosa, “capturados
espírito indissociáveis continham a
necessidades
pelo logos filosófico”.[6] “Os mitos,
identificação do homem com o seu
sobrevivência,
como os encontraram os poetas
redor, representada pelos espíritos e
medo”[10], o medo de se perder é
trágicos, já se encontram sob o signo
elementos – o “meio, de que serviam
que gera a volta do eu para si
(…)” do esclarecimento. “O lugar dos
os homens, no ritual mágico, para
mesmo, esse primeiro passo em
espíritos
foi
tentar influenciar a natureza”. Os
direção à negação do outro, e o
tomado pelo céu e sua hierarquia; o
homens por meio da magia tentam
“recolhimento
lugar das práticas de conjuração do
dominar a natureza pela “mimese”,
mesmo.
feiticeiro e da tribo, pelo sacrifício
como quando o sacerdote se utiliza
bem dosado e pelo trabalho servil
de
mediado pelo comando”.[7]
espíritos, cada máscara para cada
elementos de dominação.
e
demônios
locais
As origens desse desejo de libertar o
homem,
opô-lo
a
natureza,
encontram-se, de acordo com a análise
de
Olgária
Matos
da
Dialética, na angústia que sofre o eu em sua busca pela autoconservação. Os
autores
são
claramente
inspirados por Hegel, que já havia traçado o que para ele se tratava da trajetória do espírito universal em sua Fenomenologia, quando o espírito deve
atravessar
os
caminhos
sofridos da autoconsciência, que se afirma como consciência-em-si em oposição às outras consciências. “A idéia da existência de algo estranho, da existência de um outro de si mesmo é a fonte da angústia; com isto, o homem se ilude acreditando liberar-se do medo quando não existir mais nada de desconhecido, quando nada permanecer fora da possibilidade de ser redutível ao seu poder. É isso que determina o trajeto da
desmitologização”[8].
É
neste
ponto que surge a subjetivação da
máscaras
espírito,
para
espantar
identificando-se
com
os
a
natureza. “O que acontece à lança do inimigo, à sua cabeleira, a seu nome, afeta ao mesmo tempo a pessoa.” O esclarecimento surge com o processo de desencantar das coisas, no qual deve vencer a superstição e imperar sobre o mundo ao redor. “Doravante, a matéria deve ser dominada sem o recurso ilusório a forças soberanas ou imanentes, sem a ilusão de qualidades ocultas.” A razão deve dominar o outro não por mimese, essa identificação direta com a natureza, mas pela sua abstração e a separação do sujeito do objeto. Para o esclarecimento isso que ele define como projeção do subjetivo no natural, realizada por meio da crença nos espíritos, é o medo que rege a vida dos homens, o qual deve ser extinto, para o bem da libertação dos homens. A natureza é então
transformada
em
mera
objetividade sem sentido, separado do sujeito, doador de todo o sentido.
que o
“tanto
a a
Iluminismo
básicas: autoconservação
egocêntrico”
em
e
si
O esclarecimento ao pensar-se livre do que o prendia à natureza, não
encontra,
portanto,
nenhum
limite, sua própria potência não vê outro do que um horizonte infinito para si, ao mesmo tempo em que os autores estabelecem um fim possível para
essa
“calamidade
falta
de
triunfal”.
limite Esta
na é
a
ideologia por trás do esclarecimento, quando os homens pensam que esclarecidos
estão
libertos
da
natureza, tanto exterior como interior, quando na verdade não o estão. Esta “cegueira” se dá pelo desejo de autoconservação,
na
presentes
elementos
os
qual
estão de
autodestruição. A violência contra o outro é violência contra si, e o esclarecimento não é outra coisa além de mito, assim como o mito já continha
elementos
de
esclarecimento. A natureza, o outro, se trata tanto daquilo que não sou eu, como do que está dentro de mim e não controlo. O homem esclarecido é aquele que crê ter se libertado da prisão da natureza, do mito o qual o mantinha
preso
a
“entidades
ontológicas” e também dos instintos,
e acontecimentos dos homens, a
antes desconhecidos aos europeus,
o que há dentro de si que não se
história
política
das
assim como novos achados e novas
pode controlar. “O eu que, após o
guerras
e
grandes
traduções de textos antigos, para
extermínio metódico de todos os
personalidades, e nem mesmo fazem
não deixar de citar toda a nova
vestígios naturais como algo de
uma história materialista tradicional,
análise psicanalítica que fez uso de
mitológico, não queria mais ser nem
como
exemplos
corpo, nem sangue, nem alma e nem
exemplo, em sua obra A Ideologia
para
mesmo um eu natural, constituiu,
Alemã, sobre a trajetória dos modos
inconscientes
sublimado
sujeito
de produção; fazem ao invés disso
ocidental, lançando um novo olhar
transcendental ou lógico, o ponto de
uma espécie de reconstrução de um
sobre essa espécie de bibliografia da
referência da razão, a instância
momento
Antigüidade.
legisladora da ação. Segundo o juízo
cronológica certa na história antiga
do esclarecimento (…) quem se
da civilização, utilizando-se de uma
abandona imediatamente à vida sem
epopéia da época, a Odisséia, para
relação
a
retirar exemplos. Os autores nesta
pré-
época ainda têm um olhar guiado
história. O instinto enquanto tal seria
pelo materialismo histórico e suas
tão mítico quanto a superstição
premissas, mas suas obras mostram
(…)”.[11] Dominação, portanto, não
um interesse conjunto em entender o
se trata apenas da dominação da
problema da dominação que se
natureza física, mas de tudo aquilo
esconde por detrás da ideologia por
considerado por uma subjetivação
outros caminhos analíticos, como o
exacerbada como o outro passível de
estudo da cultura, e as análises
dominação.
psicanalíticas do inconsciente dos
num
racional
autoconservação
com
regride
à
Em uma passagem que resume esse processo da civilização, dizem que “nos momentos decisivos da civilização ocidental, da transição para
a
religião
das
Marx
havia
sem
exposto,
por
determinação
homens e da sociedade – ainda à luz da
perspectiva
sócio-histórica
e
tendo em mente a emancipação do mundo.
buscados na
entender
mitologia
os
fundamentos
da
sociedade
Na Dialética, os autores ao invés de traçar uma sistematização geral, em seu desenvolvimento através de eras e períodos, buscam em alguns pontos-chave
da
história
os
elementos necessários para criar sua teoria
dialética
sobre
o
esclarecimento. Fazem uma história das idéias no ocidente, mas não de maneira sistemática, que procurasse traçar uma cronologia do desenrolar progressivo
da
idéia
de
esclarecimento na história, mas, pelo contrário, procuram discutir em forma de
ensaio
os
conceitos
e
os
exemplos, trabalhando a dialética inerente
esclarecimento.
ao
de grande quantidade de fontes de
buscando
ateísmo burguês, todas as vezes que
antropologia e história, como pode
modelo histórico generalizado sobre
novos povos e camadas sociais
ser visto com um olhar mais acurado
esse momento da humanidade, mas
recalcavam o mito, de maneira mais
em sua Bibliografia, mas não fazem
o analisam filosoficamente. Assim
decidida, o medo da natureza não
eles próprios uma análise nesse
como
sentido.
totemismo
e
reconstituição filosófica do período
sociedades
ditas
materialização e objetualização – era
primordial
que
encontrar elementos de explicação
degradado em superstição animista,
fizeram, já havia sido tentada antes
sobre certos comportamentos infantis
e a dominação da natureza interna e
deles
como
e em doentes mentais na atualidade,
externa tornava-se o fim absoluto da
Rousseau, por exemplo, mas eles
eles buscam os elementos desse
vida. (…) Os homens sempre tiveram
agora tinham à sua disposição um
momento primitivo para compreender
de escolher entre submeter-se à
vasto material de pesquisa histórica,
o
natureza ou submeter a natureza ao
arqueológica e antropológica. As
moderna história esclarecida.
eu. (…) Forçado pela dominação, o
expedições
trabalho humano tendeu sempre a se
para fora da Europa ocidental no final
afastar do mito, voltando a cair sob o
do século XIX e início do século XX
seu influxo, levado pela mesma
tiveram
dominação”.[12]
pesquisas sobre as culturas antigas
compreendida
e
conseqüência
de
Adorno
e
reforma
e
ameaçadora sua
Horkheimer
–
própria
fazem,
portanto, uma história não dos fatos
Essa
da
por
espécie
humanidade
muitos
por
outros,
científicas
resultado
de
européias
diversas
na Grécia e no Oriente Próximo e as culturas ainda existentes de povos
uma
análise
Não
Os autores na Dialética fazem uso
à
fazem
ao
ao
renascimento,
olímpica
tradicional,
dados
Freud,
desenrolar
A
análise
historicista,
para
que os
criar
um
analisou
o
tabus
das
primitivas
para
desencantado
dos
autores
da
do
esclarecimento se faz por meio de um
olhar
literárias
detalhado que
em
obras
funcionam
como
símbolos de diferentes instantes a este desenrolar. Em seu primeiro excurso
analisam
a
epopéia
homérica, o surgimento do processo
esse
de luta do esclarecimento contra a
moderno com o antigo.
mitologia; enquanto que no segundo excurso, o fazem com as “crônicas escandalosas”,
as
obras
dos
“escritores sombrios da burguesia”, como Sade e Nietzsche.
viés
de
comparação
do
refletida no espelho, o pensamento
Já Sade e Nietzsche escrevem em um momento distinto, quando já havia
um
alto
desenvolvimento
nível
da
Assustado com a própria imagem
de
racionalidade
abre uma perspectiva para o que está situado além dele”.[15] Os autores buscam explicitar nas análises
dessas
obras
as
moderna e os ideais políticos e
características
Na análise da Odisséia os autores
econômicos característicos de nossa
inerentes ao esclarecimento, tanto as
buscam encontrar os elementos do
era encontravam a luz. Frente a essa
de autoconservação e libertação do
surgimento do esclarecimento em
situação, estes autores expuseram o
homem como as de autodestruição e
oposição
espírito de seu tempo de maneira
dominação, em toda sua trajetória
exagerada
considerada
através da história da civilização. Em
mares
escandalosa. “O esclarecimento dos
uma frase do segundo excurso que
desconhecidos, perdido em sua volta
tempos modernos esteve desde o
resume a idéia, dizem Adorno e
para casa, teve que enfrentar todo o
começo sob o signo da radicalidade:
Horkheimer que “cada passo foi um
tipo
é isso que o distingue de toda etapa
progresso,
ilustrativas as passagens que os
anterior
desmitologização.
esclarecimento. Mas, enquanto todas
autores analisam, nas quais apontam
Quando uma nova forma de vida
as mudanças anteriores (do pré-
o que há de mais moderno nessa
social surgia na história universal
animismo
epopéia antiga, para depois mostrar
juntamente com uma nova religião e
matriarcal à patriarcal, do politeísmo
a
muitas
uma nova mentalidade, derrubavam-
dos
características modernas. Comparam
se os velhos deuses, juntamente
católica)
Ulisses ao burguês moderno na
com as velhas classes, tribos e
mitologias, ainda que esclarecidas,
passagem das Sereias, em que o
povos”.[14] As obras desses autores
no lugar das antigas (o deus dos
herói tapa os ouvidos dos remadores
proferiram brutalmente a verdade
exércitos no lugar da Grande Mãe, a
com cera para que eles não ouçam o
chocante da situação ao seu redor
adoração do cordeiro no lugar do
canto
em
com o intuito de apontar seu horror,
totem), toda forma de devotamente
para
ao contrário de todos os apologetas
que
amarrá-lo no mastro, e assim poder
da burguesia, que para “distorcer as
fundamentada na coisa, dissipava-se
ter um curto contato com a beleza do
conseqüências do esclarecimento”
à luz da razão esclarecida”.[16]
canto. “Amarrado, Ulisses assiste a
recorreram
um concerto, a escutar imóvel como
harmonizadoras”.
os
de
obras “não deixou a cargo dos
concertos”, enquanto que “alertas e
adversários a tarefa de levar o
concentrados, os trabalhadores têm
esclarecimento
de olhar para a frente e esquecer o
consigo mesmo” e ao invés de
que foi posto de lado”. “Assim a
escrever sobre as utopias políticas,
fruição artística e o trabalho manual
ou
já se separam na despedida do
harmoniosa, fez dele alguém que
mundo pré-histórico. A epopéia já
tentou
contém a teoria correta. O patrimônio
mostrando o que nele há de pior.
cultural está em exata correlação
“Pois a chronique scandaleuse de
com o trabalho comandado, e ambos
Justine e Juliette – que produzida em
se
série, prefigurou no estilo do século
descrita
ao
mito,
acima.
aventurar
de
na
Ulisses
ao
pelos
infortúnio.
São
ancestralidade
maravilhoso
perdição,
trajetória
de
e
enquanto
futuros
muito
caiam pede
freqüentadores
baseiam
na
se
inescapável
a
e
da
“a
falsa
Sade
a
se
idéia
salvar
o
da
em
suas
horrorizar
sociedade
esclarecimento,
compulsão à dominação social da
dezoito
natureza”.[13]
do
dezenove e a literatura de massas do
ocidental
século vinte – é a epopéia homérica
surgimento
Falam
da
também
cultura
o
doutrinas
folhetim
do
século
patriarcal quando discorrem sobre a
liberada
maga Circe e o papel da mulher na
mitológico: a história do pensamento
sociedade, entre outras análises com
como
órgão
último
do
de
invólucro
dominação.
contraditórias
uma
à
etapa
magia,
escravocratas
da
à
do
cultura
hierarquia
colocavam
se
considerava
novas
objetiva,
Em sua tese, Olgária Matos trata a filosofia da história destes autores como
sendo
“trans-histórica”.
“Observa-se, portanto, que a noção de Iluminismo é polissêmica entre os frankfurtianos, referindo-se tanto a um período da história da filosofia e das idéias, quanto a uma atitude ou tendência epistemológica, ética e política anterior e posterior ao século XVIII. O conceito é trans-histórico e funda-se no exame da origem e das formas de dominação”.[17] O plano de desenvolvimento cronológico do conceito
é
outro,
diferente
do
tradicional que situa as origens do esclarecimento na idade moderna, e de fato no período iluminista. “(…) cronologicamente
aquém
e
além
dessa modernidade datada, [o texto]
encontra
a
atitude
iluminista
ali
mesmo onde a idade moderna a negaria, isto é, no coração do mito (o passado), e ali mesmo onde a idade moderna não o reconheceria, isto é, no
coração
da
ciência
(o
presente)”[18] Ela reafirma a idéia de que os autores fazem uma história “subterrânea e invisível”, analisando o inconsciente por trás da história do homem e encontrando as origens dos termos do período ilustrado em um momento pré-ilustrado.
perpassada
pela
idéia
de
emancipação do homem. “Articular
aos outros críticos do progresso,
historicamente
o
passado não significa conhecê-lo ‘como ele de fato foi’. Significa apropriar-se de uma reminiscência, tal como ela relampeja no momento de um perigo. Cabe ao materialismo histórico
fixar
uma
imagem
do
passado, como ela se apresenta, no momento
do
perigo,
histórico”[19] – o
vencedores”. Os autores, em relação
ao
sujeito
‘perigo’ sendo o
entregar-se às classes dominantes
como
os
decadentistas
ou
os
irracionalistas diferem deles neste aspecto. Não se trata de negar a razão
ao
entender toda
a
sua
trajetória como uma de dominação. Fazer isto seria voltar a condição que encontra figura na passagem da Odisséia, em que Ulisses e seus marujos
param
na
ilha
dos
comedores de lótus. Os habitantes passam o dia alimentando-se de lótus, completamente hipnotizados e
Outra análise que Olgária Matos
como seu mero instrumento, como
faz da história na Dialética do
afirma Benjamin na sexta de suas
esclarecimento, é a de que a visão
teses em Sobre o conceito da
da história para os autores está
história. Diz, na sétima tese, que
convertida em uma visão de “história
essa maneira de ver a história, esse
natural”. Se história é o que os
historicismo, com sua indiferença, ao
homens fazem mudar, natureza é o
tentar buscar a verdade dos fatos,
destino. “O iluminismo naturalizou a
acaba
história”, pois em seu ímpeto violento
vencedores,
para destruir o mito e a idéia de
esses uma relação de empatia. São
destino,
voltou
esses vencedores apontados pela
“suas armas” para si mesmo. A idéia
história que têm como herdeiros
exposta aqui anteriormente de que o
todos os que dominam depois deles,
antigo já continha elementos do novo
até hoje. Nessa tese, Benjamin faz
e o moderno é a continuação do
uso literário de uma imagem muito
antigo surge desse conceito de
famosa dentre seus escritos, a do
história.
mitologia
cortejo triunfal dos vencedores de
desfecha o processo sem fim do
todos os tempos, marchando por
esclarecimento,
toda
cima dos dominados, levando como
desenvolvimento das idéias destes
determinada
despojos os bens culturais, sobre os
autores ao longo de suas vidas, o
acaba fatalmente por sucumbir a
quais o materialista deve refletir com
conceito de história na época da
uma crítica arrasadora, a crítica de
horror,
um
Dialética, já continha elementos de
ser apenas uma crença, até que os
monumento de cultura que não fosse
uma revisão ao marxismo tradicional
próprios
(…)
também um monumento da barbárie”
e
esclarecimento tenham se convertido
[20], assim como o “processo de
contendo um telos, a experiência
em
O
transmissão da cultura” que perpetua
histórica engendrada no proletariado
a
essa incessante barbárie geração
e na perspectiva da Revolução como
após geração.
ponto de ruptura entre uma longa
o
esclarecimento
“A
concepção
própria
no
teórica
conceitos magia
esclarecimento história
qual
do
de
animista”. como
retorno
mito do
é
“sempre
idêntico”, a “história natural”.
por
dar
estabelecendo
pois
“nunca
com
obra, ao discutir o ser humano e o
autores está intimamente ligada a
desenvolvimento
sua
espirituais
de
houve
aos
Adorno e Horkheimer em sua
A idéia de Teoria Crítica dos
concepção
prioridade
história.
É
de
e
suas
obras
materiais
que
importante lembrar que tomaram
culminaram em nosso mundo atual,
diversas
realizam uma crítica dos conceitos
posições
em
diferentes trajetória
puramente
é
esclarecimento
momentos
de
sua
intelectual,
mas
ela
toda
presentes
positivos nessa
e
de progresso
“história
dos
entorpecidos pelo sabor divino da flor. Nesta ilha os homens eram felizes, comungados com a natureza, no ato de comer a lótus. “Uma vez comida a flor, os homens mergulham em uma relação harmoniosa com o seu meio. Mas a harmonia e a felicidade criadas não são frutos de um
trabalho
autoconsciente”.[21]
Adorno e Horkheimer ao fazerem sua crítica não a fazem em defesa de um irracionalismo contra racionalidade dominante; apontam os elementos que
potencialmente
levam
à
decadência a fim de prevê-los e não de modo resignado. Sem
entrar
sua
na
concepção
questão
de
do
história
(pré-)história de dominação e luta de classes, e uma futura história utópica socialista. A idéia de emancipação é presente na concepção dos autores, mas como lembra Olgária Matos, citando
Horkheimer,
“a
própria
situação do proletariado não constitui nesta
sociedade,
conhecimento
a
garantia
do
correto”[22].
Referindo-se aos autores, diz que
primazia
“tais questionamentos [acerca da
emancipação.
revisão do marxismo] não significam
esclarecimento como advindo dos
crítica
uma
projeto
primórdios da civilização cria um
presente
na
emancipatório. Trata-se, ao contrário,
peso histórico sobre ele, do retorno
Dialética:
“Visto
de colocar a emancipação como
milenar do horror, que não pode ser
enquanto correlato de uma teoria
problema,
entendido
perspectiva
unitária, como algo de construível,
renúncia
de
ao
acolher
do
sujeito, A
sua
Conclui-se essa idéia com o último
análise
do
parágrafo do esboço de “Para uma filosofia
da
última
história”,
seção
que
a
da
história
sua
desprovida
de
marxista teleológica ou hegeliana
não é o bem, mas justamente o
garantia, ‘as exigências de uma
progressista. O uso da violência com
horror, o pensamento, na verdade é
filosofia
O
fins de criar uma sociedade utópica
um elemento negativo. A esperança
críticas
encerra em si a mesma potência
de uma melhoria das condições, na
autodestrutiva
limites do
medida em que não é uma ilusão,
autores, não são resignação, mas
esclarecimento. O que a trajetória
funda-se menos na asseveração de
um
histórica do esclarecimento mostra é
que
esquecer de todo o sofrimento vivido
que
garantidas, estáveis e definitivas, do
pelas gerações anteriores, sendo
autodestruição, ao separar o objeto
que
uma maneira de protestar contra
do sujeito a fim de dominá-lo, acabou
respeito por tudo aquilo que está tão
toda essa “história dos vencedores”.
causando o processo de extinção do
solidamente fundado no sofrimento
“Para os frankfurtianos, a História é
próprio sujeito. A sociedade atual da
geral. A paciência infinita, o impulso
sinal
administração total da vida produz
delicado e inextinguível que leva a
processo está permanentemente em
uma
homens
criatura a buscar a expressão e a luz,
aberto.”.[24] Os autores na época da
manipuláveis, sendo que o sujeito
que parece abrandar e apaziguar a si
Dialética fazem uma Filosofia da
histórico e responsável está extinto –
mesma a violência da evolução
História em que a história “é vista
extinguindo-se a idéia de proletariado
criadora, não prescreve, como as
como soma de sofrimentos sem
como sujeito histórico. O ímpeto
filosofias
nenhum sentido, de tal modo que a
revolucionário
uma
nenhuma práxis determinada como a
[Dialética
sociedade
controlada
práxis salvadora, nem sequer a não-
renuncia a uma história material
acaba por levar ao mesmo caminho
resistência. O primeiro clarão da
como objeto de conhecimento; a
de dominação, já que não se desliga
razão, que se anuncia nesse impulso
história como correlato de uma teoria
da racionalidade moderna. Adorno e
e
unitária, como algo que se constrói, é
Horkheimer fazem, portanto, uma
recordante do homem, encontrará,
“o horror”: um mesmo conteúdo
análise
da
mesmo em seu dia mais feliz, sua
negativo
uma
sociedade, mas não abandonam o
contradição insuperável: a fatalidade
multiplicidade enganadora de formas.
desejo otimista de ver a humanidade
que a razão sozinha não consegue
O otimismo marxista negligencia o
emancipada da própria dominação.
mudar”.[26]
aspecto sombrio da história: não
Criam, portanto, um projeto que
teme, segundo a conjuntura, apelar a
retoma
uma racionalidade de tipo hegeliano,
kantianas de eterna autocrítica da
–
a uma concepção positivista de
razão, diferente da idéia de Marx de
HORKHEIMER, Max; Dialética do
Ciência
um
conciliação da teoria e da práxis –
Esclarecimento:
da
visando em um futuro indeterminado
filosóficos, Rio de Janeiro, Jorge
violência’. A Teoria Crítica mantém-
uma construção autoconsciente dos
Zahar Ed., 2006.[27]
se à distância daquelas teorias que
homens de sua própria história,
se aliam a uma técnica totalitária da
reconciliados com eles próprios e
tomada e da conservação do poder,
com a natureza. Uma análise mais
isto
correta a respeito desse projeto é
da
liberdade’”.[23]
pessimismo
e
generalizadas,
característicos
desejo
de
de
as
não
deixar-se
descontinuidade,
do
se
mesmo
‘irracionalismo
em
a
espontaneísta
é,
seu
Esclarecimento]
manifesta
e
dos
recondução
da
dominação”.[25]
do
homem
e
sem
sua
massa
força
de
para
criar
totalmente
pessimista
certas
e
crítica
de
características
indispensável sem uma análise dos
A compreensão que eles fazem da história
com
uma
da
em
indeterminação,
de
e
e
de
sua
racionalidade leva-os a defender a
elas
seriam
as
precisamente
se
na
racionais
reflete
condições
falta
da
no
de
história,
pensamento
Bibliografia.
–
ADORNO,
Theodor
fragmentos
BENJAMIN, Walter;
conceito escolhidas
da
W.,
história”
volume
“Sobre in:
1:
o
Obras
Magia
e
Técnica, Arte e Política, São Paulo, Editora Brasiliense.
textos posteriores à Dialética do Esclarecimento – o que não caberia
–
pela proposta deste trabalho.
dialéctica: una historia de la Escuela de
JAY,
Martin;
Frankfurt
y
La
el
imaginación
Instituto
de
Investigación social, Madrid, Taurus
[11] Adorno, Horkheimer, op. cit., p.
Ediciones, 1974.
36.
– MATOS, Olgária C. F.; Os arcanos
[12] Idem, Ibidem, p. 38.
do inteiramente outro: a Escola de Frankfurt,
a
Revolução,
Melancolia
São
Paulo,
e
a
Editora
Brasiliense, 1989.
[13] Idem, Ibidem, pp. 39, 40. [14] Idem, Ibidem, p. 79. [15] Idem, Ibidem, p. 97.
[1] No original: “en el pensamiento de
[16] Idem, Ibidem, p. 79.
la Escula de Francfort había uma coherencia esencial que afectaba prácticamente a todo su trabajo e en áreas diferentes. (…) incluso cuando
[17] Matos, op. cit., p. 135. [18] Idem, Ibidem, p. 145.
sobre
[19] Benjamin, “Sobre o conceito da
algunos puntos (…), éstos estaban
história” in: Obras escolhidas volume
articulados por un vocabulario común
1: Magia e Técnica, Arte e Política,
y
São
se
desarrollaran
se
conflictos
proyectaban
sobre
um
transfondo de supuestos más o menos compartidos” in: Jay, op. cit.,
Paulo,
Editora
Brasiliense,
p.224. [20] Idem, Ibidem, op. cit., p. 225
p. 16. [2] Kant, Beantwortung der Frage: Was ist Aufklärung? in Kants
[21] Matos, op. cit., p.160.
werke, Akademie-Ausgabe, vol. VIII,
[22] Horkheimer, “Tratidionelle und
p.
Kritische Teorie”, Zeitschrift, p. 261
35
in:
Adorno,
Horkheimer,
Dialética, Rio de Janeiro, Jorge
in: Matos, op. cit., p. 12.
Zahar Ed., p. 71. [23] Idem, Ibidem, p. 13. [3] Idem, Ibidem, op. cit., p. 17. [24] [4]
A
busca
da
origem
do
esclarecimento na Antigüidade por Nietzsche se dá por meio da análise do papel de Sócrates nas origens da racionalidade
ocidental.
Adorno,
“Zur
Philosophie
Husserls”, 1934-1937, Gesammelte Schriften,
Frankfurt,
Suhrkamp
Verlag, 1971, I, p. 320 in: Idem, Ibidem, p. 13
Olgária
Matos trata melhor deste assunto em sua tese Os arcanos do inteiramente outro.
[25] Idem, Ibidem, p. 254. [26] Adorno, Horkheimer, op. cit., p. 185.
[5] Idem, Ibidem, op. cit., p. 18.
[27] A nova reimpressão de 2006 manteve inalterado o texto original
[6] Idem, Ibidem, op. cit., p. 19.
em português traduzido por Guido [7] Idem, Ibidem, op. cit., pp. 20, 21.
Antonio de Almeida em 1985, mas alterou a paginação em relação às edições anteriores.
[8]
Matos,
inteiramente
Os outro,
arcanos São
do
Paulo,
Editora Brasiliense, 1989, p. 147.
[9] Adorno, Horkheimer, op. cit., p. 19. [10] Matos, op. cit., p. 147.
Ensayos
repressão, na vida ordinária e nos
Para o livro de literatura de
prazeres dos atos criativos”.
segundo grau
Além de uma boa parte de sua obra
A de ALEMÃO, ARMINDO TREVISAN, CONTEMPORÂNEA, HANS MAGNUS ENZENSBERGER,
em prosa já ter sido traduzida, temos
Não leias odes, meu filho, lê os
em português, até onde sei, dois
horários
volumes
(dos trens, dos ônibus, dos aviões):
de
poemas
de
Enzensberger. Um é O Naufrágio do
são mais exatos. Abre os mapas
Titanic, uma tradução integral (mas
náuticos
não bilíngüe), realizada por José
antes que seja tarde demais. Sê
Marcos Mariani de Macedo, dos 33
vigilante, não cantes.
Hans Magnus Enzensberger é um
cantos
Chegará o dia em que eles, de novo,
poeta, ensaísta e tradutor alemão
Untergang (Companhia das Letras,
pregarão listas
nascido em 1929 e considerado por
2000). E o outro, Eu falo dos que não
no portão e desenharão marcas no
muitos o maior poeta vivo da língua.
falam,
peito daqueles que dizem
Criou-se em Nuremberg, a terra natal
Trevisan e Kurt Scharf (Brasiliense e
não. Aprende a ir incógnito, aprende
do nazismo, e passou pela guerra
Instituto
mais do que eu:
entre 44 e 45, tendo sido convocado,
numa antologia bilíngüe mais ampla,
a mudar de bairro, de passaporte, de
inclusive, pela Juventude Hitlerista,
contendo
dos
rosto.
da qual foi expulso não muito tempo
livros Verteidigung
der
Entende da pequena traição,
depois. Tinha 15 anos quando a
Wölfe , Landessprache, Blindenschrif
da salvação suja de todos os dias.
Segunda
t, Gedichte
Úteis
(https://escamandro.wordpress. com)
Guerra
acabou
e
28
que
compõem
traduzido
Goethe,
por
o Der
Armindo
1985),
consiste
poemas
1955-1970:
quando lançou seu primeiro livro de
Davor, Gedichte 1955-1970: Danach,
são as encíclicas para se fazer fogo,
poemas, Verteidigung
trechos
e os manifestos: para a manteiga e
der
do Der
Untergang,
e Die
Wölfe (Defesa do Lobo, 1957), que
Furie des Verschwindens.
sal
lhe rendeu, pelo seu forte tom de
Eu já citei um trecho do Naufrágio do
dos indefesos. É preciso raiva e
revolta política, o apelido de “jovem
Titanic num post anterior aqui do
paciência
irado” e que continuou e continua
escamandro sobre relações entre
para se soprar nos pulmões do poder
firme em sua produção até hoje –
poesia, ideologia, poder e linguagem
o fino pó mortal, moído
ainda que o tom colérico tenha aos
(clique aqui), mas é agora, dada a
por aqueles, que aprenderam muito,
poucos dado espaço a uma ironia e
ocasião nada comemorativa dos 50
que são exatos, por ti.
um senso de humor (negro) mais
anos do Golpe, que os versos ácidos
refinado.
de Enzensberger – tanto os dos
Talvez a sua maior obra poética —
poemas
ou pelo menos seu projeto mais
“Defesa dos lobos” quanto os dos
ambicioso — seja Der Untergang der
lies keine oden, mein sohn, lies die
pouco menos conhecidos, mas ainda
fahrpläne:
Titanic (O
assim
sie sind genauer, roll die Seekarten
Naufrágio
do
Titanic,
mais
antológicos
pungentíssimos
em
Ins Lesebuch für die Oberstufe
como
nosso
1978), um longo poema épico-lírico
contexto, como “Os desaparecidos” –
(e com o subtítulo de “uma comédia”
auf,
mais ganham impacto e se fazem
eh es zu spät ist. sei wachsam, sing
ainda por cima) que enxerga nessa
necessários. As traduções abaixo
nicht.
catástrofe, que lhe dá seu título e
foram retiradas dos dois volumes, Eu
der tag kommt, wo sie wieder listen
que põe em xeque toda uma crença
falo dos que não falam e O Naufrágio
ans tor
progressivista no avanço tecnológico,
do Titanic, respectivamente.
schlagen und malen den neinsagern
uma imagem para o fracasso da
PS:
empreitada utópica ocidental como
Enzensberger,
um todo, ao mesmo tempo em que,
postagens no blog da Modo de Usar
mehr als ich:
como comenta o crítico Alasdair King
& Co. e no blog pessoal do Ricardo
das viertel vechseln, den paß, das
(em
Domeneck,
gesicht.
clicando aqui, aqui e aqui.
versteh dich auf den kleinen verrat,
(Adriano Scandolara)
die tägliche schmutzige rettung.
seu
livro Hans
Enzensberger:
Writing,
Magnus Media,
Democracy), Enzensberger “sugere estratégias positivas para combater o barbarismo,
a
desilusão
e
a
para
mais vide
traduções as
de
seguintes
auf die brust zinken, lern unerkannt gehn, lern
nützlich
sind die enzykliken zum
barato o suficiente, cada chantagem
keine täuschung zu dumm, kein trost
feueranzünden,
ainda é clemente demais para vocês.
zu billig, jede erpressung
die manifeste: butter einzuwickeln
ist für euch noch zu milde.
und salz
Ó cordeiros, irmãs
ihr lämmer, schwestern sind,
für die wehrlosen, wut und geduld
são as gralhas comparadas a vocês:
mit euch verglichen, die krähen:
sind nötig,
vocês se arrancam os olhos uns aos
ihr blendet einer den anderen.
in die lungen der macht zu blasen
outros.
brüderlichkeit herrscht
den feinen tödlichen staub, gemahlen
Fraternidade reina
unter den wölfen:
von denen, die viel gelernt haben,
entre os lobos:
sie gehen in rudeln.
die genau sind, von dir.
andam em alcatéias.
gelobt sein die räuber: ihr, einladend zur vergewaltigung,
Louvados sejam os salteadores: Defesa dos lobos contra os
vocês
cordeiros
convidam para o estupro deitando-se no leito preguiçoso
Querem que o abutre coma
da obediência. Mesmo gemendo
miosótis?
vocês mentem. Querem
O que exigem do chacal,
ser devorados. Vocês
do lobo, que mude de pele? Querem
não mudam o mundo.
werft euch aufs faule bett des gehorsams. winselnd noch lügt ihr, zerrissen wollt ihr werden. ihr ändert die welt nicht.
Os Desaparecidos
que ele mesmo extraia seus dentes? O que é que não apreciam nos comissários políticos e nos papas, por que olham, feito burros, o vídeo mentiroso?
Verteidigung der Wölfe gegen die Lämmer
soll der geier vergissmeinicht fressen? was verlangt ihr vom schakal,
Não foi a terra que os engoliu. Foi o ar? Tão numerosos como a areia, mas não se tornaram areia, e sim nada. Em massa Foram esquecidos. Muitas vezes, de mãos dadas,
Quem costura a faixa de sangue
dass er sich häute, vom wolf? soll
nas calças do general? Quem
er sich selber ziehen die zähne?
trincha, diante do agiota, o capão?
was gefällt euch nicht
como os minutos. Mais do que nós,
Quem pendura orgulhoso, a cruz de
an politruks und an päpsten,
porém sem memória. Não
lata
was guckt ihr blöd aus der wäsche
registrados,
sobre o umbigo que ronca de fome?
auf den verlogenen bildschirm?
não decifráveis no pó, mas
Quem
wer näht denn dem general
desaparecidos
aceita a propina, a moeda de prata,
den blutstreif an seine hose? wer
seus nomes, colheres e solas.
o centavo para calar-se? Há
zerlegt vor dem wucherer den
muitos roubados, poucos ladrões;
kapaun?
Não nos fazem arrepender. Ninguém
quem
wer hängt sich stolz das blechkreuz
os lembra: nasceram,
os aplaude, quem
vor den knurrenden nabel? wer
fugiram, morreram? Saudade deles
lhes põe insígnias no peito, quem
nimmt das trinkgeld, den silberling,
não se sente. Sem vazios
é sequioso de mentiras?
den schweigepfennig? es gibt
é o mundo, porém seguro
viel bestohlene, wenig diebe; wer
pelos que não moram nele,
Olhem-se no espelho: covardes,
applaudiert ihnen denn, wer
os desaparecidos. Eles estão em
temendo a fadiga da verdade,
steckt die abzeichen an, wer
todas as partes.
sem vontade de aprender,
lechzt nach der lüge?
entregando
seht in den spiegel: feig,
Sem os ausentes não haveria nada.
o pensar aos lobos
scheuend die mühsal der wahrheit,
Sem os fugitivos nada seria firme.
um anel no nariz como adorno
dem lernen abgeneigt, das denken
Sem os esquecidos nada seria certo.
preferido
überantwortend den wölfen,
nenhuma ilusão burra o bastante,
der nasenring euer teuerster
nenhum consolo
schmuck,
Os desaparecidos são justos.
havia tudo, vindo por avião,
Wolken,
Assim também se vão nossos búzios
de certa maneira automaticamente.
die Ich sagten. Einmalig!
Elegantes
Überallhin Linienflüge. Selbst unsre
éramos, ninguém nos aturava.
Seufzer
Jogávamos pelas janelas concertos
gingen auf Scheckkarte. Wie die
Nicht die Erde hat sie verschluckt.
de solistas,
Rohrspatzen
War es die Luft?
chips, orquídeas, embrulhadas em
schimpften wir durcheinander.
Wie der Sand sind sie zahireich,
celofante. Nuvens
Jedermann
doch nicht zu Sand
que diziam “Eu”. Únicos!
hatte sein eigenes Unglück unter
sind sie geworden, sondern zu
Íamos a todas as partes em vôos de
dem Sitz,
nichte. In Scharen
carreira. Mesmo os nossos suspiros
griffbereit. Eigentlich schade drum.
sind sie vergessen. Häufig und Hand
eram pagos com cartões de crédito.
Es war so praktisch. Das Wasser
in Hand,
Xingávamos
floß aus den Wasserhähnen wie
wie die Minuten. Mehr als wir,
como gralhas, todos ao mesmo
nichts.
doch ohne Andenken. Nicht
tempo. Cada um
Wißt ihr noch? Einfach betäubt
verzeichnet,
guardava a sua própria desgraça
von unsern winzigen Gefühlen
nicht abzulesen im Staub, sondern
debaixo do assento,
aßen wir wenig. Hätten wir nur
verschwunden
à mão. Que pena!
geahnt,
sind ihre Namen, Löffel und Sohlen.
Era tão prático. A água
daß das alles vorbei sein würde
Sie reuen uns nicht. Es kann sich
corria à toa das torneiras.
in fünf Minuten, das Roastbeef
niemand
Lembram-se? Simplesmente
Wellington
auf sie besinnen: Sind sie geboren,
atordoados
hätte uns anders, ganz anders
geflohen, gestorben? Vermißt
por nossos sentimentos minúsculos
geschmeckt.
sind sie nicht worden. Lückenlos
comíamos pouco. Se soubéssemos
(Hans Magnus Enzensberger,
ist die Welt, doch zusammengehalten
que tudo passaria
traduções de Armindo Trevisan &
von dem was sie nicht behaust,
em cinco minutos, teríamos
Kurt Scharf)
von den Verschwundenen. Sie sind
saboreado
überall.
bem mais, muito mais, o roast-
Ohne die Abwesenden wäre nichts
beef Wellington.
Die Verschwundenen
da. Ohne die Flüchtigen wäre nichts fest.
O Naufrágio do Titanic Canto quinto
Kurze Geschichte der Bourgeoisie
Ohne die Vergessenen nichts gewiß.
Roubem o que lhes roubaram,
Die Verschwundenen sind gerecht.
Dies war der Augenblick, da wir,
tomem finalmente o que lhes
So verschallen wir auch.
ohne es zu bemerken, fünf Minuten
pertence, ele gritou,
lang
tremendo de frio em seu casaco
unermeßlich reich waren, großzügig
pequeno demais,
und elektrisch, gekühlt im Juli,
os cabelos ondeando ao vento, sob
oder für den Fall daß es November
os gavietes,
war,
estou com vocês, ele gritou,
loderte das eingeflogene finnische
o que estão esperando? Chegou
Holz
a hora, botem abaixo os tabiques,
in den Renaissancekaminen.
atirem os canalhas ao mar
Komisch,
junto com suas malas, cães e
alles war da, flog sich ein,
lacaios,
gewissermaßen von selber. Elegant
as mulheres inclusive e até as
waren wir, niemand konnte uns
crianças,
leiden.
com violência, com facas, com mãos
Wir warfen um uns mit
nuas!
Solokonzerten,
E mostrou-lhes a faca,
Chips, Orchideen in Cellophan.
mostrou-lhes a mão nua.
Breve História da Burguesia
Este foi o momento, quando nós, sem os apercebermos, durante cinco minutos estávamos imensamente ricos, generosamente refrigerados com a eletricidade no verão, ou caso fosse o inverno, a lenha, trazida de longe via aérea, ardia em lareiras estilo renascentista. Curioso:
Mas a gente da terceira classe,
Ele garante uma elevada dedução
problemas
todos eles imigrantes, permanecia
fiscal.
casamento, na teoria. A visão de
quieta
Ele é mais uma confirmação das
Adam Smith(apud CASTRO, 1993),
na escuridão e tirava calmamente
teses de Vladímir Ílitch Lênin.
"A ambição universal dos homens é
suas boinas da cabeça e o escutava.
Ele vai ao ar domingo à noite, logo
viver
após o programa de esportes.
plantaram”,
Quando é afinal que vocês querem
Ele é impagável.
empregador está disposto a “colher”
se vingar, se não for agora?
Ele é inevitável.
aquilo que foi custeado por horas de
Ou será que não suportam ver
Ele é melhor do que nada.
trabalhos, sem nem mesmo precisar
sangue,
Ele folga na segunda-feira.
colocar
além daquele dos seus filhos e do
Ele é ecológico.
Trabalham muito menos e recebem
seu próprio?
Ele abre caminho para um futuro
valores excessivo, enquanto dão o
E ele esfolou seu rosto
melhor.
mínimo
e cortou sua mão
Ele é arte.
funcionários.Há
e mostrou-lhes o sangue.
Ele gera empregos.
anticapitalismo,
Ele aos poucos nos dá nos nervos.
Dicionário de Sociologia (2017), “O
Ele é protegido por lei.
anticapitalismo propõe-se substituir
Ele tem respaldo das massas.
os
Ele vem a calhar.
funcionários
Ele funciona.
responsáveis eleitos pelos membros
Ele é um espetáculo de beleza
da empresa.”Partindo deste ponto de
empolgante.
vista,
Ele devia dar o que pensar aos
concretizada, não entraríamos no
responsáveis.
mesmo processo que passamos na
Ele também não é mais o que
política? Quem pode garantir que
costumava ser.
estes que irão assumir o poder no
(Hans Magnus Enzensberger,
lugar
tradução de José Marcos Mariani de
seguirão o mesmo rumo? Será que
Macedo)
apenas essa mudança resolveria a
Mas a gente da terceira classe Escutava-o sem abrir a boca. Não porque ele não falasse lituano (ele não falava lituano); não porque estivessem bêbados (tinham havia muito esvaziado suas garrafas avelhantadas, envoltas em panos grosseiros), não porque tivessem fome (se bem que fome eles tinham):
Não era nada disso. Não era tão fácil explicar.
mas não o compreendiam. Suas palavras não eram as palavras deles.
questão
colhendo
o
que
sendo
mão
para
o
produzir.
para
seus
também que
públicos
esta
o
segundo
empreendedores
dos
nunca
assim
possível
se
de
o
quer
por
quer
por
proposta
empreendedores,
fosse
não
necessidade de poder que todos
Eles bem que entendiam o que ele dizia,
na
A SOCIEDADE CAPITALISTA, PENSAMENTOS SOCIOLÓGICOS E RELAÇÃO SÓCIO-CULTURAL.
estão habituados? Devemos
pensar
então
quem seria responsável por esta questão de as pessoas desejarem
Amanda s. vieira
tanto o poder? Colégio ou Pais? Ou
Eram consumidos por outros medos
somos levados a isso através das
que não os dele, e por outras
Em uma sociedade capitalista sua
nossas relações com o mundo?
esperanças.
posição se baseia totalmente no seu
Somos cercados por mídias que nos
Deixavam-se ficar, pacientes,
poder de consumo, sendo assim
levam muitas vezes a desejar coisas
com seus alforjes, seus rosários,
pode-se elevar ou rebaixar de classe.
que não são nossas necessidades, e
seus filhos raquíticos
Porém, para descer basta se perder
isso acontece desde de crianças. As
junto aos tabiques; abriam espaço,
valor (dinheiro ou bens), mas para
mochilas
escutavam-no, respeitosos,
que possamos subir de nível há uma
melhores cadernos ou a caixinha de
e aguardavam o momento de afogar-
necessidade
valores
lápis com mais cores. O que a escola
se.
exorbitante e gastar neste mesmo
podia fazer a para combater isto?
nível.Está é uma das diferenças do
Percília(2017)
capitalismo, filhos de ricos podem ou
caracterizar como podíamos fazer
não
mesma
isso, “os pais e a escola podem
O naufrágio do Titanic é atestado por
classe, ao contrário de sistemas que
ensinar a criança a consumir com
documentos.
trabalham
consciência
Ele é coisa de poetas.
castas. Sendo assim também não há
Canto décimo sexto
de
continuarem
com
ganhar
nesta
estamentos
ou
de
Considerando
personagens,
fez
e
questão
os
de
responsabilidade. a
qualidade
do
produto e as necessidades a fim de
afasta o homem da simplicidade
não suficientes para torna-la a única
não
natural de que os animais dão
verdade. Portanto, se analisarmos de
desperdiçar
e
sim
de
economizar.”.Porém, a escola está
exemplo. (ABBAGNO, p 152)
muitas vezes está a serviço do
A própria origem do termo
cínico de viver de Diogenes, de
capitalismo, sendo uma barreira para
já o pressupõe, embora não se tenha
forma desprendida, levaríamos em
que os pais e professores consigam
certeza de que se originou do
conta que a forma racional também
então auxiliar neste caso de não
Ginasio Cinosarge (= “cão ágil”)
faz
consumismo.
espaço
duvida ou optaríamos pelo estado de
Outro grande problema da sociedade
capitalista
e
qual
Antístenes
maneira ceticista o posicionamento
teria
edificado sua escola, segundo Reale e Antiseri,
sentido,
logo
ficaríamos
na
apateia.
ou se origina-se da
principalmente da nossa, é a questão
palavra kŷőn, palavra grega que
de aceitar muito fácil tudo que é de
significa cachorro(SANTANA). Pois
fora e ter uma certa barreira para o
era
que vem do nosso próprio país.
cachorros, ou animais diversos, que,
filosofia, 2007. p.152.
Somos levados a admirar, enaltecer
falando a grosso modo, os cínicos
REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario.
e entrar em estado eufórico só de
acreditavam.
História da Filosofia, 1 Filosofia
saber que algo vem de algum país
seguidores de Antístenes, vivia de tal
Pagã Antiga, São Paulo: 2003
distante. O londrino Adam Smith, um
maneira: “radicalizou as propostas de
SANTANA,
estudante de Oxford e blogueiro da
Antístenes, e as exemplificou em sua
Infoescola,
BBC, após visitar nosso país e
própria vida”(In.).
<http://www.infoescola.com/filosofia/c
observar como engrandecemos tudo
Tendo
na
maneira
de
vida
Diogenes,
dos
um
em
vista
dos
os
que não vem de nosso próprio povo,
esclarecimentos sobre o conceito,
comentou:
podemos ligar ao vídeo Dancem
“Percebi o que gradualmente comecei a enxergar como o aspecto mais ‘sofrido’ deste país: a combinação do abandono de tudo brasileiro, e veneração, principalmente, de tudo americano. É um processo que parece estrangular a identidade brasileira.” (SMITH, 2015)
macacos,
dancem
maneiras
de
mensagem subjetiva,
2
.
Uma
interpretarmos
passada
de
que
somos
é
das a
maneira meros
animais, que inventamos hábitos, normas, ciências etc, desnecessárias
Não temos que nos martirizar por estar consumindo algo de fora, mas não devemos recusar algo apenas porque foi produzido aqui, devemos analisar todos os pontos e ver o que realmente ira suprir nossas necessidades. Mas observar todos os pontos, antes de sair apontando dedos.
para o verdadeiro trajeto do ser humano. Já
o
cinismo
moderno
consiste na ideia de que o mundo simplesmente não tem salvação. Deste modo, se interpretarmos como “o mundo é assim mesmo, não podemos
mudar/fazer
nada”,
estaremos de acordo com o cinismo
CINISMO
moderno.
Karol Cypriano
Tanto o Cinismo, tanto o antigo que rogava uma vida simples,
A tese fundamental do cinismo,
quanto o moderno que desacredita
criada por Antístenes de Atenas, era
no mundo, sem esperanças, se
que
assemelham
ao
pela
realidade.
Se
o único fim do homem é a
negação
felicidade e a felicidade consiste
contrapõem pois o ceticismo consiste
na virtude. Fora da virtude não
na ideia de que todas as teorias são
existem bens, de modo que foi característica desprezo
dos
pela
cínicos
o
comodidade,
pelas riquezas, pelos prazeres, [...] e, em geral, por tudo o que
da
ceticismo
insustentáveis, ou que todas as teorias têm argumentos válidos, mas 2
https://www.youtube.com/watch?v=ZY2z12OR YJI
REFERÊNCIAS ABBAGNO, Nicola. Dicionário de
Ana
Lucia.
Disponível
Cinismo, em:
inismo/> . Acesso em 10 mar. 2016.
UM VERBETE
merveilleuse,
Guilherme Orestes Canarim.
réellement de la chair du dieu. On en
croyant
se
nourrir
portoit aux malades, & il n’étoit point permis de rien boire ou manger avant que de l’avoir consommée. Voyez
YPAINA,
s.
f.
(Hist.
mod.
Superstition.) c’est le nom que les Méxiquains donnoient à une de leurs fêtes solemnelles, qui se célébroient au mois de Mai, en l’honneur de leur dieu Vitziliputzli. Deux jeunes filles, consacrées au service du temple, formoient une pâte composée de miel & de farine de maiz, dont on faisoit une grande idole, que l’on paroit d’ornemens très-riches, & que l’on plaçoit ensuite sur un brancard. Le jour de la fête, dès l’aurore, toutes les jeunes filles mexicaines, vêtues de robes blanches, couronnées de maiz grillé, ornées de bracelets & de guirlandes de la même matiere, fardées & parées de plumes de différentes couleurs, se rendoient au temple pour porter l’idole jusqu’à la cour.
Là
des
jeunes
gens
la
recevoient de leurs mains, & la plaçoient au pié des degrés, où le peuple
venoit
lui
rendre
ses
hommages ; ensuite de quoi on portoit le dieu en procession vers une montagne,
où
l’on
faisoit
promptement un sacrifice ; on partoit de-là avec précipitation, & après avoir fait deux nouvelles stations, on revenoit à Mexico. La procession étoit de quatre lieues, & devoit se faire en quatre heures. On remontoit le dieu dans son temple, au milieu des adorations du peuple, & on le posoit dans une boëte parfumée & remplie de fleurs : pendant ce tems, de jeunes filles formoient avec la même pâte dont l’idole étoit faite, des masses
semblables
à
des
os,
qu’elles nommoient les os du dieu Vitziliputzli. Les prêtres offroient des victimes sans nombre, & bénissoient les morceaux de pâte que l’on distribuoit au peuple ; chacun les mangeoit
avec
une
dévotion
l’hist. générale des voyages, tom. XII. in-4°. pag. 547. & suiv.
Seja a saída que você espera do mundo: Lê, Escreve, Faz arte ? Colabore : gocanarim@gmail.com