SAÍDA N. 6, V.1, Novembro 2015.
TEMPOS SOMBRIOS
Panorama OS CAPOS DE FORÇA DA ESTETICA DE ADORNO Luis Satie
Notas de literatura AS FACES DE JESUS CRISTO. Rosa Virginia R. Daitx1
CRITICA ROEDORA RACISMO
E
CAPITALISTA
A
OPRESSÃO
EM
TEMPOS
SOMBRIOS Alex Sander da Silva
ENSAIOS ENSAIO SOBRE A EXISTÊNCIA E A DECREPITUDE Guilherme Orestes Canarim
Seja a saída que você espera do mundo: Lê, Escreve, Faz arte? Colabore: gocanarim@gmail.com
EDITOR Guilherme Orestes Canarim
TEMPOS SOMBRIOS Guilherme Orestes Canarim
CONSELHO EDITORIAL
Esta edição de numero seis da revista Saída esta
Alex Sander Da Silva
dedicada as muitas perguntas resultantes do
Gabriel Silveira Angelo
aparente frenesi da contemporaneidade, mesmo
Gisele Da Silva Rezende
em grande parte da esquerda, em que parecem estar paranoicamente presos os humanos do
COLABORAÇÃO
nosso tempo. Dai que pensamos: estão as
Alex Sander da Silva
utopias exauridas? O tempo histórico teve seu
Slavoj Zizek;; Gisele Rezende; Gabriel da Silva
fim como desejam os partidários de Fukuyama?
Angelo; Luis Satie
É este o tempo sombrio da proximidade com o grande hotel abismo? Quando o trem perdido á distancia
acena
consolando
o
peripato
da
incompletude? E o fervor austral se não morre nos braços dos poderosos empedernidos pelo furor fálico? Ou inda jorra o sangue quente da gente
mui
nossa
nas
calçadas?
A
quem
regurgitados lamentos e cantilenas ensaiaremos no fito vão de alijarmo-nos da culpa tão adida? Haverá n’alhures terra alguma em cujo seio a verdura não se esvaia á nossa vista? Qual é a paga
que
o
tempo
guarda
a
tal
ardil
inconsequente? Ou como seremos humanos, se contra nos irados lutamos? As respostas para estas e outras questões estão mais perto do que parece.
Sumário Notas de literatura ................................................................................ 1 AS FACES DE JESUS CRISTO. ................................................................................................. 1 Panorama .............................................................................................. 5 OS CAPOS DE FORÇA DA ESTETICA DE ADORNO ....................................................................... 5 Luis Satie .............................................................................................. 5 Notas de literatura .............................................................................. 20 AS FACES DE JESUS CRISTO. ............................................................................................... 20 CRITICA ROEDORA .............................................................................. 23 ŽIŽEK: NÃO PODEMOS ABORDAR A CRISE DOS REFUGIADOS SEM ENFRENTAR O CAPITALISMO GLOBAL ..................................................................... 23 RACISMO E A OPRESSÃO CAPITALISTA EM TEMPOS SOMBRIOS .......................................................................................... 27 Alex Sander da Silva .......................................................................... 27 A PRODUÇÃO DE CONHECIMENTO E APRENDIZAGEM NA PERSPECTIVA MARXISTA DE PAULO FREIRE ................................................................................... 28 Gabriel da Silveira Ângelo ................................................................. 28 ENSAIOS ............................................................................................... 31 ENSAIO SOBRE A EXISTÊNCIA E A DECREPITUDE .................................................................................... 31 Guilherme Orestes Canarim .............................................................. 31
se sobre a possibilidade de um juízo
só
universal, em Adorno a obra de arte
refratam-se. Essa refração é forçada
interroga-se acerca da possibilidade
pelo caráter de aparência do novo
do particular. É por intermédio da
plano, conferindo à arte a condição
ESTETICA DE ADORNO
individuação que a obra transforma o
de experimento da liberdade. Desse
Luis Satie
universal no escândalo da arte: “ao
modo, a arte imuniza-se contra o
tornar-se o que é, a arte não pode
pensamento abstrato, que a situa
ser o que pretende tornar-se.”. Essa
muito além de tais determinações,
A estética adorniana nos oferece um
tensão
o
concedendo-lhe espaço, tempo e
manancial categórico ainda pouco
universal é constitutiva da linguagem
causalidade próprios, sem qualquer
explorado pelas ciências humanas,
da arte na modernidade: “Na arte, os
mediação. Longe de ser essa a
ainda presa à compartimentação do
universais possuem a sua força
esfera ideal, a arte constitui-se de
conhecimento e, por conseguinte, da
máxima quando estão mais próximos
categorias
própria razão. Para além desse
da linguagem: alguma coisa diz, que,
diferentes das categorias externas. O
ambiente fragmentado, a estética
ao ser dito, ultrapassa o seu aqui-e-
que faz a diferença é o meio onde
adorniana anuncia a possibilidade de
agora; mas tal transcendência só é
elas se manifestam.
atualização
não-
alcançada pela arte em virtude da
de
sua tendência para a particularização
Se no âmbito da existência externa
atualizar seus próprios problemas.
radical; ao dizer senão o que pode
essas categorias são dominadoras
Exploraremos
dizer num processo imanente”.
da natureza, na obra de arte, que lida
OS
CAPOS
estético,
DE
do
FORÇA
DA
pensamento
tornando-o
capaz
aqui,
micrologicamente,
esse
entre
o
particular
e
tempo,
com
campo
se
individualizam
não
elas
e
qualitativamente
livremente,
serão
categorial, sempre na perspectiva de
Para Adorno, embora não sejam
dominadas. Nas palavras de Adorno,
sua ubiquidade com relação aos
conceituais, nem formulem juízos, as
“através
outros saberes.
obras de arte são lógicas e possuem
dominante,
uma racionalidade imanente que as
profundamente
a
identifica consigo mesmas, dotando-
natureza.”
Quais
categorias
compõem
da
dominação a a
do
arte
revê
dominação
da
constelação
negativa
da
estética
as de objetividade. No entanto, por
adorniana?
A
do
estudo
ser um processo raciocinante sem
O caráter de inelutabilidade que tais
da Teoria Estética (TE) de Adorno,
conceito e juízo, a lógica da arte é
categorias apresentam, na realidade,
agruparemos
paradoxal: ela atua sobre fenômenos
é desmascarado pela arte quando
compõem essa constelação em cinco
já
espírito,
elas penetram em sua interioridade.
campos, sob os quais identificaremos
portanto, já logicizados, renunciando
Ou seja, a arte revela a aparência do
as categorias concernentes a cada
aos fins empíricos.
conhecimento empírico ao mimetizar
um
partir
os
deles:
elementos
1)
campo
que
mediatizados
pelo
suas formas, submetendo-as ao seu
lógico-
epistemológico, 2) campo político-
Não é uma lógica da experiência,
domínio. Essa comunicação da arte
antropológico,
ético-
mas uma lógica que revela as
com a empiria acusa um conflito
histórico-
fraturas da lógica da experiência.
permanente
Naturalizando a lógica formal, a
puramente
lógica da arte apresenta-se como
objetivas ou, se quisermos, entre
uma
natureza,
logicidade e causalidade. Essa dupla
epistemológico constitui-se a partir
desvendando a face mítica do que se
natureza é que garantirá a relação da
do fato de que toda a experiência da
acreditava verdadeiro: “(...) na arte,
arte com o seu outro: “Nada há na
obra
esvanece-se a diferença entre as
arte, mesmo na mais sublime, que
socialmente. Mesmo a obra mais
formas
as
não provenha do mundo; nada que
hermética
formas que se abrem à objetividade;
permaneça intacto. As categorias
[nela]
estéticas devem definir-se tanto pela
pedagógico,
3) 4)
campo
campo
natural e 5) campo hermenêutico.
Para
Adorno,
de
arte
o
campo
está
posicionada
ultrapassa
fechamento
lógico-
o
seu
monadológico,
segunda
puramente
hiberna
a
lógicas
e
inseparabilidade
arcaica de lógica e causalidade.”
comunicando-se com a empiria.
por
exemplo,
em
Kant
o
conhecimento não-estético interroga-
Com efeito, o espaço, o tempo e a causalidade
são
rebatidos
lógicas
as e
as
formas formas
sua relação ao mundo como pela renúncia
Se,
entre
para
dentro da obra de arte, onde, a um
a
este.
A
arte
conhecimento em ambos os casos.”
é
Nesses termos, a arte insere-se,
conserva como aquilo que é, na sua
consonância da obra. É essencial à
criticamente,
Aufklärung,
divergência e nas suas contradições,
unidade
demolindo a ratio dominadora da
e eis porque ela é efetivamente um
estética que ela se interrompa, que
natureza. Contudo, não se trata aqui
desdobramento da verdade”.
admita a presença do seu outro,
de uma negação abstrata: a arte
Longe de confundir a forma estética
embora não se submeta a ele,
revoga,
com a forma matemática, Adorno
inserindo-o, todavia, no território da
atribui
não-violência.
na
concretamente,
violento
da
o
ato
racionalidade,
àquela
a
capacidade
forma
arregimentar
inaugura uma nova relação com os
resolvê-los, nem reconciliá-los. Como
Por esse motivo, Adorno define a
objetos, no ato da crítica; é, a um só
observa Arnold Schoenberg (1874-
forma como o elemento antibárbaro
tempo, utopia e hybris – insolência.
1951), a forma de uma peça musical
da arte. É por meio dela que a arte
indica
uma
participa criticamente da civilização.
de
organização, que ela é constituída
O não formado, o não filtrado pela
relacionamento com as coisas foi
por elementos que se movimentam,
obra é o pré-crítico. Nesse sentido é
muito bem percebido por Kant em
como um organismo vivo: “Sem
que
sua formulação do belo como uma
organização, a música seria uma
garantindo
finalidade sem fim. Kant salvaguarda
massa
objetividade da reflexão, em si, da
o belo da trivialidade, apesar de
quanto um ensaio sem pontuação,
desistoricizá-lo,
ou tão desconexa quanto um diálogo
modo
numa
sui
generis
transformando-o
quimera.
Para
Adorno,
a
finalidade imanente das obras de
que
contrários
pela
emancipando-a da empiria. A arte
Esse
os
de
estabelecida
ela
amorfa,
possui
tão
sem
ininteligível
fora,
no
a
convergem,
mediatidade,
a
obra.
Do exposto até agora, não se torna
de um argumento a outro.”
difícil compreender que o conteúdo de uma obra de arte encontra-se
A consonância da obra deve-se a
sedimentado em sua forma, ou seja,
movimento de liberação dos fins
sua forma, mas isso não a protege
a
práticos.
de
ao
sedimentado: “Tudo o que aparece
passarem para o interior da obra,
na obra de arte é virtualmente
O sem finalidade da arte é a sua
sofrem atenuações, são convertidos
conteúdo tal como forma, ao passo
aconceptualidade,
não-
em ruídos internos, ou melhor, são
que esta permanece, no entanto, o
conceito,
ou
dominados pela forma, mas não
meio de definição do que aparece e
com
outro,
crítica
num
identidade
seu
e
que saltasse despropositadamente
arte constitui-se a partir do que vem de
forma
a o
sua
ruídos
externos.
Estes,
forma
é,
em
si,
conteúdo
melhor,
sua
não-predicação
ao
suprimidos. Para José Miguel Wisnik
o conteúdo permanece o que se
sujeito.
Fiel
à
da
(1948), por exemplo, a história da
define a si mesmo.” O conteúdo pré-
diferença, as obras de arte possuem
música é a história da relação entre o
artístico, por intermédio da mediação
sua
som,
da forma, converte-se em conteúdo
própria
sua
lógica
linguagem,
uma
linguagem das coisas.
considerado
produção
de
constância, e o ruído, tomado como
estético,
perturbação relativa da estabilidade:
qualidade de conteúdo.
como se articula essa linguagem do
O
A subsistir a diferença, a forma,
ponto de vista da unidade dialética
terminantemente
de forma e conteúdo.
adotando
Tentemos,
agora,
mas
não
perde
sua
compreender som
se
produz
outros,
certos
ruídos
e
necessariamente,
submete-se
à
introduzir
mediação do conteúdo pré-artístico,
instabilidades relativas: tempos e
do qual ela se origina. No entanto, na
Para Adorno, a possibilidade da arte
contratempos, tônicas e dominantes,
obra não há mais lugar para o
está na forma, a substância de todos
consonâncias e dissonâncias (...) a
conteúdo pré-artístico ou pré-crítico;
os momentos de logicidade. A forma
música contemporânea é aquela que
tudo nela é conteúdo estético, é
é a coerência dos artefatos, que faz
se defronta com a admissão de todos
forma ou, se quisermos, conteúdo
com que toda obra bem sucedida
os
crítico que aparece enigmaticamente.
separe-se do ente: “(...) a forma
som/ruído e silêncio, pulso e não-
estética é a organização objetiva de
pulso.
materiais
para
negando
sonoros
possíveis:
Decifrar esse enigma é decifrar o
tudo o que, no interior de uma obra
conteúdo de verdade da obra, e para
de arte, aparece como linguagem
Esses
estranhos
Adorno, é esse o papel da reflexão
coerente. É a síntese não violenta do
permanecem com a sua estranheza,
filosófica. Aprofundaremo-nos sobre
disperso
não
esse ponto quando tratarmos do
que
ela,
no
entanto,
elementos
se
harmonizando
com
a
campo
hermenêutico.
objetos ao seu projeto de mundo. De
Observa Adorno que Kant atribui,
doravante, no domínio da relação
outra
erroneamente, um caráter subjetivo
sujeito-objeto
mundo
na
Entremos,
Teoria
estética;
parte, é
acreditando o
que
produto
de
o
uma
ao
sentimento
estético,
para encaminharmos a discussão,
consciência que se reconhece em
contaminando-o com as emoções
contaremos com a contribuição do
suas criações objetivas, o sujeito
psicológicas imediatas, que excitam
texto de Martin Jay, Sujeito-objeto,
idealista traga os objetos, coagindo-
o prazer ou o desprazer.
uma relevante interpretação acerca
os a afirmá-lo. Em ambos os casos,
da Teoria estética de Adorno.
o que se percebe é a rejeição à
Assim,
diversidade do mundo natural.
capacidade
Segundo
Jay,
o
termo
sujeito,
Kant
estética
desconhece
que
possui
a de
a
experiência modificar
a
utilizado por Adorno, significa tanto o
Ao rejeitar os dois modelos, Adorno
experiência real. Ora, o sentimento
indivíduo
a
propõe a preponderância do objeto.
estético resulta da objetividade; é
não
Todavia, não é por meio de um
mais espanto do que prazer, o
podemos fazer referência ao nosso
retorno ao estado natural que a cisão
espanto
ego individual prescindindo de um
sujeito-objeto deve ser superada,
dominado pelo ininteligível, pelo não-
conceito.
mas por meio da comunicação entre
idêntico. A respeito da relação de
um e outro, conditio sine qua non da
não-identidade entre sujeito e objeto,
Paradoxalmente, poderíamos afirmar
realização da paz na diferença, em
é ilustrativa a passagem de Rainer
que o sujeito também é o objeto, o
que cada elemento distinto participa
Maria Rilke (1875-1926) acerca da
que, desde Descartes, não se admite
do outro.
obra de Auguste Rodin (1840-1917):
na
que
Nesses termos, o propósito de um
insiste na separação radical entre
pensamento crítico não seria o de
Quando vem a primeira inspiração de
esses dois termos. Não obstante, tal
entronar o objeto em detrimento do
um tema, quando uma lenda da
separação é verdadeira, ao atestar a
sujeito, mas abolir a hierarquia entre
Antigüidade, um poema, uma cena
atual dicotomia da condição humana,
eles,
histórica desencadeiam a criação,
e falsa, ao hipostasiar-se numa
Entenda-se,
invariante: a separação é, ao mesmo
preponderância do objeto o processo
trabalho de Rodin, se traduz em algo
tempo, real e ilusória – é real quando
de
cada
descreve
sujeito. Sem dúvida, é na experiência
objetivo: na transferência para a
estética
linguagem das mãos, as exigências
consciência
particular em
geral,
epistemologia
e
quanto pois
ocidental,
ilusória
quando
prescreve.
emancipando
sua
ensaio Para Jay, Adorno admite a cisão
a
diferença.
portanto,
desidentificação
que da
por
com
observaremos
peculiar
o
um
reconciliação
epistemológica supracitada.
esse
do
de
um
elemento,
vez
tema
mais
ser
no
totalmente
começo
não-nomeado
assumem
um
do
e
sentido
totalmente novo ligado à realização da escultura.
como uma verdade descritiva e não normativa,
Na Teoria estética, Adorno emprega
premissa
a expressão sujeito-objeto de modo
Por sua vez, apesar de ter ressaltado
há
dialético, ou seja, tendo em vista que
o momento da objetividade, em
necessariamente um dever-ser, em
o sujeito é sempre já objetivo. A
oposição a Kant, Hegel subsume a
estado latente, na descrição dialética
subjetividade coletiva e individual
objetividade da coisa à objetividade
do ser. Para Adorno, o todo não é o
sofre a contra-atração do objeto; por
do espírito absoluto, permanecendo
que
Por
isso a afirmação de Adorno: “em toda
na afirmação da identidade.
conseguinte, a verdade normativa só
a obra de arte ata-se o nó do
pode ser encontrada nas ruínas de
universal e particular.”
como
verdade
desconsiderando hegeliana
deve
a
de
ser;
que
é
o
falso.
As estéticas subjetiva e objetiva, enquanto pólos contrários, expõem-
uma realidade que escape ao poder Na Crítica do juízo Kant pressentira
se igualmente à crítica de uma
esse fenômeno como um problema.
estética dialética: aquela, porque é
o
O belo não se define pelo conceito,
abstrata
idealismo expressam filosoficamente
pois é o que agrada universalmente,
contingente, segundo o gosto do
o momento da dominação do objeto
sem conceito. Kant sofre uma contra-
indivíduo - esta, porque desconhece
pelo sujeito. Travestido de uma
atração irresistível do objeto em sua
a mediatização objetiva da arte pelo
aparente passividade e neutralidade,
última
o sujeito positivista submete os
amarrado
totalitário dessa totalidade vigente.
Tanto
o
positivismo
quanto
Crítica, à
e
transcendental
ou
mas
permanece
sujeito. Na obra, não é o sujeito nem
lógica
discursiva.
o contemplador, nem o criador, nem
o espírito absoluto, mas antes o que
um
está ligado à coisa (Sache) (...).(grifo
Natur).
pedaço
de
natureza
(stück
intelectual postulado por Adorno esse privilégio imerecido de poucos,
nosso)
de não se acomodar às normas Ademais, para atingir a felicidade
vigentes - não se confunde com
sujeito
sensual (sinliche Glück), objetivo da
elitismo,
expresso
sociedade, o conhecimento deve não
conflitos de classe. Citemo-lo em sua
objetivamente. E é com base nessa
só
do
própria defesa: “Nada casa menos
constatação que penetraremos nas
sofrimento humano, como afirma
con la experiencia filosófica que una
linhas do campo de força político-
Horkheimer, mas assumir seu caráter
soberbia
antropológico,
somático.
Morss
filosófica es posible gracias a lo
acerca do papel do indivíduo como
identifica em Adorno a influência de
estabelecido, y tiene que rendir-se
sujeito da experiência.
Walter Benjamin (1892-1940), para
cuentas de su contaminación con ello
quem o pensamento é inseparável
y en último término con la situación
do mundo sensível.
de las clases sociales.”
em sua Origen de la dialéctica
Contudo, Adorno não se questiona
Na Teoria estética, a arte representa
negativa,
acerca da origem de classe ou da
um modelo de práxis objetiva, na
posição particular do sujeito dentro
medida
das relações sociais de produção.
implacavelmente a crítica radical ao
procura
Para ele, tanto a burguesia quanto o
real, contribuindo para a liquidação
redimir o conceito de indivíduo,
proletariado podem ser igualmente
do
recuperando-o
portadores
falsa
perceber os seus limites e sua
individualismo burguês. Em lugar de
totalidade, apostando, todavia, na
finitude. Esse abalo não conduz ao
uma
da
capacidade do indivíduo em resistir à
enfraquecimento do eu, promovido
como
identificação com o status quo, por
preponderantemente pela indústria
meio
cultural. Enquanto esta última o
A
coisa,
portanto,
é
sedimentado,
questionando-nos
Acompanhemos,
inicialmente,
os
reconhecer
a
realidade
Nesse
ponto,
nem
é
indiferente
elitista.
La
aos
experiencia
comentários de Susan Buck-Morss,
para,
em
seguida,
retornarmos à Teoria estética.
Segundo
Morss,
Adorno
do
naufrágio
concepção
consciência
desenvolve
marxiana
de
experiência
do
classe
política, uma
Adorno
concepção
o
conceito
em
vista
fazê-lo
consciência individual como sujeito
experiência em Adorno não inclui,
a arte insere o eu na mais extrema
da
nem sequer supõe uma teoria da
tensão: a tensão entre o que é e o
regressa a Kant, fazendo eco ao
intersubjetividade,
a
que pode ser. E é aí que reside o
apelo de Ernst Bloch de manter a
verdade objetiva não depende do
engagement imanente da arte: “A
atualidade de Kant através de Hegel.
consenso subjetivo.
dialéctica do elemento social e do
Ele
Morss,
cognitiva.
tendo
exerce
aprisiona pela mitificação do prazer,
cognitiva.
Segundo
experiência
da
eu,
que
de
experiência
da
da
ideológicos
em
visto
que
Se, para Kant, o sujeito não pode
em-si das obras de arte é uma
pretender experimentar o objeto em
Com efeito, Adorno faz duo com
dialéctica da sua própria natureza, na
si, senão por meio de formas e
Benjamin:
medida em que não toleram nenhum
categorias
subjetivas,
tratando
o
elemento
se
Adorno a relação inverte-se: o objeto
cualquiera no es el criterio de lo
exterior que não seja portador da sua
recupera sua órbita em torno do
verdadero. Ahora que todo paso
interioridade
sujeito,
revolução
hacia la comunicación vende y falsea
verdade.”
copernicana de Kant e remetendo o
la verdad, es preciso resistir a la
sujeito
coacción casi universal que hace
Adorno
confundir
à
experiência
da
não-
identidade.
lo
conocido
con
a
não
La
a
comunicabilidade
que
objeto como idêntico ao sujeito, para
sublevando
imediata
interior
su
exteriorize,
e
nenhum
-
do
vê
o
artista
trabalhador
e
não
elemento
conteúdo
como como
de
um um
comunicación e incluso poner a ésta
interlocutor da mensagem. Estar,
Ao rechaçar a idéia de um sujeito
por encima. Todo lo que es lenguage
portanto, diante do material é estar
transcendental,
padece
diante
experiência
o
sujeito
filosófica,
da
Adorno
vislumbra um ser humano empírico, material
e
transitório,
um
entre
tanto
bajo
esta
um
problema
a
ser
paradoja. La verdad es objetiva y no
resolvido e cuja solução encontra-se
plausible (grifo nosso)
potencialmente no próprio material: “Se ao utensílio se chamou um braço
corpo
humano que sente ou, se quisermos,
de
No entanto, ao contrário do que
prolongado, poder-se-ia chamar ao
possa
artista
parecer,
o
inconformismo
um
utensílio
prolongado,
utensílio
de
passagem
da
de arte devem surgir como se o
de descobrir as soluções. Com isso,
impossível fosse possível.”
o conceito de fantasia adquire, em
Em sua concepção minimalista do eu
Adorno, o estatuto de uma categoria
Nesse sentido, o verdadeiro sujeito
privado, Adorno critica o conceito
diferencial da liberdade em meio da
da obra não é quem a produz ou
idealista de gênio, que faz coincidir o
determinação.
quem a recebe, mas quem fala por
indivíduo com um sujeito absoluto,
intermédio dela. O eu latente é
tornando
imanente à coisa, que se expressa
particular
na forma da obra. O eu do artista
sociedade. No entanto, Adorno tenta
força
está para o eu da coisa, assim como
redimir
gênio,
que sim, desde que consideremos
o particular está para o universal. A
iluminando-o a partir da coisa. Genial
que a obra de arte, para Adorno,
força que faz com que o eu privado
é o instante em que a participação da
possibilita
se exteriorize no objeto é a essência
obra de arte na linguagem abandona
transgressão do ente, ao ensaiar a
coletiva, que sobrepuja esse eu.
a
configuração de um não-ente.
Como nota Marc Jimenez:
contingente: “O genial é um nó
potencialidade à atualidade.”
também e
o
absoluto
desviando-o
conceito
convenção
e
de
ressalta
o
É possível localizarmos na Teoria
da
estética as linhas de um campo de
o
ético-pedagógico?
o
Julgamos
aprendizado
da
dialético: o não rotineiro, o não
Ao estabelecer uma distância entre o
A individuação, no sentido em que o
repetido, o que é livre, o que
espectador e o objeto, a experiência
sujeito
simultaneamente
o
estética exige a autonegação do
da
sentimento do necessário, a pirueta
espectador, o que a caracteriza
tendência social geral, não entra em
paradoxal da arte e um dos seus
como um movimento contrário ao
contradição com a objetivação. O
critérios mais fidedignos.”
sujeito: “(...) a experiência estética
é
antes
Gesamtsubjekt,
de
tudo
representante
traz
consigo
indivíduo, por sua imersão em si
(...) desfaz o sortilégio da estúpida
próprio, registra o sofrimento do
Contudo, a tensão existente entre o
autoconservação,
mundo alienado, que só se traduz
livremente inventado e o necessário
estado de consciência em que o eu
pela forma, porque é graças a ela
faz com que o genial permaneça
deixaria de ter a sua felicidade nos
que a arte transcende o sujeito
paradoxal
seus interesses, por fim, na sua
implicado na sociedade.
possibilidade presente da catástrofe,
e
precário:
“Sem
a
modelo
de
um
reprodução.”
nada é genial nas obras de arte.” A
esse
encontro
dialético
do
Assim, a arte é uma linguagem do
particular com o universal é que
Adorno também submete à crítica o
sofrimento,
Adorno atribui o caráter linguístico da
conceito
definida
nossas misérias, ao mesmo tempo
obra. Em verdade, o trabalho da obra
tradicionalmente como a capacidade
que inventa a novidade, a utopia.
de arte é social, manifestado por
de produzir um determinado ente
Aliás,
intermédio do indivíduo, mesmo que
artístico, a partir do nada. Ora, se as
sociedade, a arte é uma forma de
este não tenha consciência disso.
obras se opõem ao existente é
práxis, um modo de conduta. Para
porque a imaginação o rejeita a partir
Adorno a práxis não está no efeito de
Aliás, quanto menos consciente for,
dele. Não há creatio ex nihilo na arte:
prazer que as obras possam gerar no
maiores as chances de o Outro se
“Somente mediante o ente é que a
indivíduo, mas no seu conteúdo de
expressar. Ou seja, o indivíduo é o
arte se transcende em não-ente; de
verdade.
mínimo que a obra precisa para
outro modo, ela torna-se a projecção
cristalizar-se, pois o que fala por
impotente do que de qualquer modo
Se a arte participa da moralidade,
meio da obra é um nós e não um eu,
é.”
não é por meio da promulgação de
de
fantasia,
não um nós unívoco, de posição
um
como
testemunho
antítese
social
da
máximas morais, nem pela obtenção
social ou de classe determinada,
Ao considerar o artista como um
de
mas um nós cindido. Assim, ao
trabalhador, Adorno não separa a
receptores,
mas
mesmo tempo que testemunha o
fantasia do trabalho de reflexão.
brutalidade
perante
irreconciliável,
antagonismos
Nesses termos, a separação teórico-
negando,
sociais, a arte tende à reconciliação,
cognoscitiva entre a sensibilidade e o
brutalidade
apontando para um sujeito e uma
entendimento é refutada pela arte.
homens/mulheres.
sociedade não existentes: “as obras
Se uma obra envolve um conjunto de
os
de
problemas, a fantasia é a faculdade
efeitos
morais
por
nos
por
seus
negar as
coisas,
conseguinte,
para
com
a
a os
Podemos, portanto, falar de uma
são
a
a respeito da religião em sua crítica à
racionalidade
consciência
progressista
é
filosofia
assegura
da
podemos dizer que a miséria da arte
a
atualidade dos problemas colocados
é, de um lado, a expressão da
entendimento,
nos materiais. Assim, o métier é
miséria real e, de outro, o protesto
inaugura uma nova relação com os
concreto, pois é o exercício de
contra a miséria real. A arte é o
objetos, instituindo a diferença na
ultrapassagem
dos
suspiro da criatura aflita, o estado de
identidade.
procedimentos
arte
ânimo de um mundo sem coração,
domina a técnica ao penetrar no
porque é o espírito da situação sem
da
desconhecido e rejeitar o status quo,
espírito. A arte é o ópio do povo. É
racionalidade da arte na moralidade
ensaiando soluções que tomem por
ópio por revelar a tensão entre o real
só se dá por meio da recusa. A forma
base
e o imaginário, encenando a utopia.
é o selo de um trabalho social que
administrado.
estética,
racionalidade
crítica,
derrubar
fronteiras
as
sensibilidade
Todavia,
e
a
o
uma
porque, entre
participação
ao
colocados.
aquela
Na
mais
que
as
se
arte,
permanente técnicos.
tensões
A
do
mundo
seleciona, amputa e renuncia os
do
Direito
de
Hegel,
A tensão entre utopia e possibilidade
seus materiais: “A arte cai no pecado
Adorno
define
o
comportamento
imprime-se
do vivo a fim de o trazer à linguagem,
estético
como
a
capacidade
de
inserindo-as na catástrofe da qual
e o mutila.”
perceber nas coisas mais do que
elas próprias dão o testemunho,
elas são, o corretivo perfeito da
mediante sua efemeridade. Por isso,
Desse modo, prolonga-se na arte a
consciência reificada. Também o
Adorno utiliza-se da alegoria do fogo
dominação que ela própria critica.
define, em última análise, como a
de artifício para falar da verdade da
Imersas num mundo contraditório, as
capacidade de estremecer-se diante
arte. O fogo de artifício é uma
obras de arte estão fadadas ao
do não-idêntico ou da subjetividade
aparição empírica liberta do peso da
declínio.
que
Esse
empiria, bem como da duração, do
são
estremecimento ocorre quando o ser
tempo administrado; é um sinal
heteronomicamente
dependentes,
é tocado pelo outro, momento de
produzido
mas
sua
objetivação da subjetividade, ponto
configurando uma escrita ao mesmo
constituição autônoma condensam
de
tempo fulgurante e fugidia, que não
os antagonismos: “Ao seu próprio
conhecimento.
se permite à significação.
Enfim, a arte é um fenômeno ético-
De sorte que a verdade da arte,
pedagógico
que
como aparição, não é passível de
Seu caráter pedagógico emerge em
apresenta um conteúdo de verdade.
troca, pois não é um equivalente,
razão do métier artístico ser uma
A obra de arte constitui-se como um
uma generalidade vazia que a tudo
revolução permanente do estado das
ser à segunda potência no processo
nivela, nem algo inerte que possa ser
forças produtivas estéticas; é disso
de separação crítica da empiria,
substituído por outra coisa. Sua
que depende a possibilidade da arte:
quando reinstitui em território próprio
verdade é a diferença, é o infungível.
“Não se pode decidir a partir de cima,
a relação do todo com as partes.
Assim como o fogo de artifício não
segundo o critério das relações de
Desse ponto de vista, a obra pode
permanece, também as obras de arte
produção, se a arte é hoje ainda
ser compreendida como um ente
não
possível. A decisão depende do
empírico
confessando-se
estado das forças produtivas.”
misérias.
social,
Inserem-se não
só
porque
em
na
tragédia
porque
própria
ainda
não
encontro
entre
é.
eros
e
o
nas
de
obras
de
uma
só
arte,
vez,
conceito está mesclado o fermento que a suprime.”
na
medida
emancipado
em
de
sua
promessa,
incapazes
de
como
convocar o não-ente que anunciam
linguagem do não-idêntico, as obras
para a existência. Elas interiorizam
Para não estagnar, ou sucumbir à
de arte são vivas: “a arte é o mundo
em si os antagonismos sociais, bem
técnica,
uma vez mais, a ele tão semelhante
como a cisão histórica de sujeito e
como diferente.”
objeto,
os
artistas
não
podem
menosprezar o estado atual dos
Consideradas
suas
garantem
materiais, pois é neles que a história
para
comburentes a
explosão
aparência,
Se a arte promete o que não é, no
momento
extrair o conteúdo de verdade da
entanto, no ato de sua aparição,
essência do que aparece, quando se
obra. Adorno concorda com Marx
anuncia
exterioriza
quando este assevera que cada
possibilidade
promessa.
rebentando o invólucro da empiria.
época resolve os problemas que lhe
Parafraseando o que Marx escreveu
Por meio do seu próprio sacrifício, as
da
a
o
que
da
sedimenta-se; é deles que se deve
objetivamente
em
necessários
seu
se
grito
liberta
a
interior,
obras
de
arte
antecipam
apocalipse66,
crendo
o na
possibilidade do impossível:
por meio das obras e não de acordo
submetida a natureza material; os
com
princípio
fenômenos “naturais” do presente,
as
por sua vez, não se identificam com
qualquer
tipo
transcendente.
de
Ademais,
leis
formais do passado não devem servir
o
A pesar de que la sociedad exige
de parâmetro para a criação do
realidade essencial, por terem sido
moralidad, ésta sólo puede existir
presente.
produzidos
realmente en una sociedad liberada;
conceito
de
natureza
como
historicamente.
Considerando
essa
interrelação
dialética,
uma,
en la sociedad socializada no hay
Ao
individuo que pueda ser moral. La
vislumbra na revolução proletária a
podem adquirir o estatuto de um
única moral aún posible es terminar
possibilidade de restabelecimento da
primeiro princípio ontológico.
de una vez com la mala infinitud, el
totalidade perdida, de reconciliação
canje atroz de represalias. Hasta
entre sujeito e objeto, Adorno insiste
Ao desmitificar tais idéias, Adorno
entonces el individuo
puede
na negação da identidade entre
libera o presente do fatalismo ou da
disfrutar de outra moralidad que la
razão e realidade: a história é
necessidade,
absolutamente despreciada por la
descontínua, não é uma totalidade
possibilidade
ética kantiana, cuando a los animales
estruturada. Assim, Adorno rejeita a
“progresso”
les concede inclinación, pero no
concepção
história
progressiva, sendo a verdade da
respeto: la de intentar vivir de modo
como identidade entre o racional e o
obra de arte estreitamente ligada a
que se pueda creer haber sido un
real,
sua própria decadência.
buen animal.
interpretações
no
contrário
de
Lukács
hegeliana
bem
da
como da
que
todas história
as
nem
nem
outra,
recuperando da
a
catástrofe,
como
do
desintegração
como
progresso.
Ao estabelecer o presente como
Ingressemos, agora, nas linhas do
ponto de referência, Adorno busca
campo histórico-natural, valendo-nos
Segundo Morss, Nietzsche já alertara
evitar, ao mesmo tempo, a metafísica
mais uma vez de Morss, mais
sobre
e o relativismo históricos. Não é o
exatamente do capítulo em que ela
interpretações,
a
presente que obtém seu significado
comenta a dialética sem identidade,
racionalização do sofrimento. Adorno
da história; é a história que é
com base na idéia de história natural
expressa a mesma crítica, ao afirmar
significada
de Adorno. Segundo a autora, foram
em sua conferência inaugural, Die
aduz Morss: “Si los historicistas
os estudos musicais de Adorno que o
Aktualität
Philosophie,
relativizaban el presente al situar los
conduziram
da
apresentada em 1931 na faculdade
fenómenos cotidianos dentro de un
dimensão histórica de um modo
de filosofia de Frankfurt, que a razão
desarrollo
muito
não pode surgir de uma realidade
procedimento de Adorno era inverso:
estruturada pelo irracionalismo.
el presente relativizaba el passado.
a
refletir
peculiar.
acerca
Para
Adorno
a
música, por ser uma arte temporal, é
o
perigo por
der
dessas
buscarem
marcada pela irreversibilidade de seu
pelo
presente.
histórico
Como
general,
el
La historia cobrava sentido sólo en
a
Ora, se a história não tem razão, não
tanto se manifestaba como “historia
desenvolver-se a si mesma. Ou seja,
há que se falar de uma filosofia da
interior” dentro de los fenómenos
a obra contém uma historicidade que
história. Segundo Morss, história e
presentes”.
lhe
natureza são, para Adorno, opostos
história participa da constelação da
dialéticos, utilizados como conceitos
verdade, é sem nenhum propósito de
cognitivos,
salvação
movimento,
é
que
a
imanente,
compele
reflexo
das
condições históricas objetivas.
isto
é,
graças
a
à
imortal, a forma musical insere-se
mutuamente: a natureza revela a
num tempo próprio, é concreta e
não-identidade entre o conceito de
transitória, não obedecendo a leis
história e a realidade histórica, ao
A inversão da relação entre presente
eternas
passo que a história desmitifica o
e
conceito de natureza.
denomina de revolução copernicana
Por
exemplo, SCHOENBERG tinha isso
criticam
permanente,
se
reguladoras
composição.
se
idéias
modo,
Ao invés de atemporal, abstrata e
de
que
como
Desse
bastante claro quando deflagrou o processo
ruptura
com
precariedade da verdade.
passado
é
o
que
Benjamin
do enfoque histórico. Para enfocar o
a
Ou seja, a história real passada não
presente, entretanto, impõe-se não
as
se identifica com o conceito de
apenas analisar dialeticamente a
pretensas “leis naturais” da música;
história como progresso racional, em
relação entre os conceitos de história
segundo ele, a arte desenvolve-se
razão
e natureza, mas também verificar a
tonalidade,
de
vulnerabilidade do presente e à
desmitificando
da
violência
a
que
foi
dialeticidade em si, imanente em
das convenções burguesas, o mundo
original, não devendo ser definida
cada conceito.
alienado.
dogmaticamente: “a arte tem o seu conceito
Acompanhemos,
comentários de Morss acerca da
histórica
historicamente.”
conferência de Adorno Die Idee der
“natural”,
Naturgeschichte, a fim de apreender
“dada”, é preciso que se dirija o
Por essa razão, não há que se falar
um
enfoque ao momento da produção
das primeiras obras de arte como as
social daquele fenômeno, revelando
mais elevadas ou as mais puras,
assim o seu caráter de segunda
crença atribuída por Adorno a um
A história possui um significado
natureza, histórico, já que produzido
romantismo
positivo e um negativo. O positivo é a
pela má infinitude ou falsa totalidade.
desprende de uma certa nostalgia da
riqueza
do
os
seu
enfoque.
práxis
social
dialética,
do
que
aparece
como
uma
como
que
se
de
momentos
da
seguir,
constelação
Portanto, para se revelar a dimensão
pouco
a
na
transformam
realidade
um
tardio,
que
não
se
origem. A arte deve ser captada em
comportamento social que aponta
De outra parte, se quisermos evitar o
para o qualitativamente novo; quanto
encantamento
ao negativo, está presente na não
necessário que ela seja interpretada
Parafraseando
historicidade de uma práxis que
do
primeira
disparara contra a filosofia tradicional
apenas reproduz as condições e
natureza, do sofrimento do mundo
ao afirmar que também pode ser
relações de classe.
sensível, do contingente.Por isso,
verdadeiro mesmo aquilo que foi
segundo Benjamin, a história deve
sujeito do devir, Adorno afirma que a
Do mesmo modo, a natureza possui
ser tratada como alegoria, que é a
verdade só existe como o que esteve
um
exposição simbólica da história como
em devir. Ou seja, as obras de arte
quando se refere a entes concretos,
tragédia,
ou,
só adquirem identidade no processo
individuais, mortais e transitórios, no
segundo Adorno, como o modo mais
de negação permanente de sua
momento em que o natural dá corpo
adequado de retratar a verdade
origem. A arte determina-se, pois, na
à
numa época de decadência histórica.
relação com o que ela não é: “O
apresenta-se naquilo que ainda não
Tanto
segunda
carácter artístico específico que nela
foi incorporado à história, no que
natureza como o conceito alegórico
existe deve deduzir-se, quanto ao
ainda não foi penetrado pela razão.
de história têm o mérito de revelar a
conteúdo, do seu Outro; apenas isto
Aqui, a natureza é o que se repete, é
transitoriedade da realidade material.
bastaria para qualquer exigência de
o mítico.
E é justamente esse momento de
uma estética materialista dialética.”
pólo
positivo,
história.
Seu
materialista,
pólo
negativo
ponto
o
de
da
história,
vista
como
da
sofrimento,
conceito
de
seu movimento, em seu devir.
é Nietzsche,
que
transitoriedade que faz convergir, Eleger um ou outro desses conceitos
mais
intensamente,
como primeiro princípio ontológico
história.
natureza
e
Mas como fica a relação da arte com a tradição, já que esta não deve ser
implicaria na perda do seu duplo
parâmetro para aquela? Ora, para
caráter, inibindo a crítica e, por
Retornemos à Teoria estética com o
Adorno a tradição não deve ser
conseguinte, justificando a ordem
intuito de perceber como a obra de
negada de maneira abstrata; ela
social dada. O procedimento de
arte
desses
deve ser criticada com base na
Adorno é o de, ao mesmo tempo,
conceitos cognitivos de história e
situação presente. Em verdade, é o
desconstruir a história como natureza
natureza,
realiza,
presente que constitui o passado,
e reconstruir a natureza como ente
concretamente, por meio de sua
como já tivemos a oportunidade de
histórico.
efemeridade, o encontro dialético
discutir.
Mas
como
“desencantar” natureza
e
procedermos os
conceitos
história?
Para
para
comporta-se
já
diante
que
ela
aqui referido.
de isso,
O tempo não é critério absoluto para Um
importante
aspecto
a
ser
a crítica, seja porque não devemos
Adorno cria mais dois pares de
destacado é o problema da origem.
aceitar algo só pelo fato de ter
conceitos, a saber, o de primeira
Para Adorno, a essência da arte não
validado alguma coisa no passado,
natureza, para se referir ao mundo
é dedutível de sua origem; não há
seja porque não devemos eliminar
sensível, definido como a natureza
um fundamento primeiro sobre o qual
nada
concreta e particular, e o de segunda
a história da arte sustente-se. A arte
contemporaneidade.
natureza, para se referir ao mundo
não é corolário de nenhum axioma
só
por
não
participar
da
Por conseguinte, a novidade, nem
possibilidade real da utopia (...) se
O que Hegel não percebera é que a
deve
conjuga, num ponto extremo, com a
incapacidade das obras, no período
possibilidade da catástrofe total.”
romântico, de refletir o conteúdo de
aprisionar-se
tombando
ao
passado,
da
máxima
diante
conformista a enunciar que “tudo já foi
feito”,
nem
absolutamente, invenção
a
contrário,
o
negá-lo
Vejamos em que medida podemos
era mais que o reflexo do fracasso
numa
falar de progresso na arte, já que seu
do
conteúdo
escândalo da particularidade.
fiando-se
partir do novo
“verdade” do espírito absoluto não
nada.
possui
Ao sua
de
verdade,
do
qual
próprio
espírito,
perante
o
depende sua qualidade, é histórico.
especificidade, bem como o seu
Investiguemos
agora
a
relação
conteúdo de verdade próprio, ao
Mais uma vez, o tempo, como
dialética existente entre natureza e
articular objetivamente o indivíduo e
categoria externa às obras, não é o
história, com base nas idéias de belo
a sociedade diante da problemática
critério
natural e belo artístico.
mais atual.
subsumir seu conteúdo de verdade e
sob
o
qual
devam
se
sua qualidade. Isso porque a história
Adorno ensina que o belo natural,
Ao deslocar toda a dor cósmica
é imanente às obras e não um
objeto da Crítica do juízo de Kant, foi
(Weltschmerz) para o inimigo, a
destino exterior que as sobrepuje.
recalcado pelo conceito hegeliano de
saber, o próprio mundo, o novo
Segundo Adorno, a historicidade do
belo artístico. Refletir sobre ele é,
“a
conteúdo de verdade é concedida
portanto, tocar numa ferida, o que
vista
pela objetivação, nas obras, da
reveste esta reflexão de um caráter
consciência verídica.
inalienável na teoria da arte, muito
aparenta-se nouveauté,
a
com do
morte,
ponto
de
estético, é um produto do devir”, um devir concreto que brota da própria
embora a temática possa parecer
coisa como história sedimentada; um
Ora,
diante
do
crescimento
devir da diferença. Daí que a arte
potencial de liberdade no curso do
deve e pretende ser utopia, mas
mundo, a consciência verídica nada
Não obstante, se o conceito de belo
apenas à medida que negue o
mais é do que “a consciência mais
natural desapareceu da estética, foi
existente a partir dele.
progressista das contradições, no
em razão da dominação crescente
horizonte
do conceito kantiano de liberdade e
da
sua
possível
reconciliação.”
a
dignidade humana, segundo o qual
criança que busca no piano um
consciência do problema, que se
“nada no mundo se deve respeitar, a
acorde nunca ouvido. No entanto, tal
aloja no estado atual das forças
não ser o que o sujeito autônomo a si
acorde já se encontra no teclado,
produtivas estéticas, no material,
mesmo deve.”
sendo limitadas as possibilidades de
onde a história se condensa. Por
combinação, que serão buscadas por
esse motivo, podemos nos referir às
Para Adorno, o que aqui aparece
meio da experiência. A se considerar
obras
como verdade de uma liberdade para
o exemplo, é curiosa esta afirmação
inconsciente,
de Adorno: “o Novo é a nostalgia do
permanente
Novo”, que aponta para o devir e a
sociais.
das
obras,
seja,
como
é
monótona e arcaica.
Adorno sugere o exemplo de uma
indefinibilidade
Ou
do
historiografia
como dos
atualização antagonismos
si
é,
ao
mesmo
tempo,
uma
inverdade, a saber, a servidão para com o outro. Entretanto, se o ato de
bem
imputar o belo à natureza atende à
como, em razão das mudanças de
Nesse
qualidade, para a descontinuidade na
considera haver tanto e tão pouco
perseguir o não-idêntico, tragando-o
história da arte.
progresso
na
em nome do auto-engrandecimento
sociedade95. Para Adorno, o mérito
do animal-homem e colocando o
Todavia, não há que se condenar a
da Estética de Hegel foi o de ter
homem acima da animalidade, ele
arte
percebido o momento histórico da
carrega consigo, na mesma medida,
condições de realizar a utopia; afinal,
arte
a crítica ao fabricado, ao útil, ao
não é outro o dilema da teoria, tão
desdobramento da verdade, muito
impotente
“Pela
embora ele tenha circunscrito essa
recusa intransigente da aparência de
verdade no cânone da antiguidade,
De certa forma, o sentimento do belo
reconciliação, a arte mantém a utopia
refreando
natural canaliza o sofrimento do
no seio do irreconciliado, consciência
progresso artístico.
por
ela
quanto
não
apresentar
aquela:
autêntica de uma época, em que a
sentido
é
na
como
arte
o
a
que
Adorno
como
momento
possibilidade
do
do
necessidade
do
idealismo
de
descartável.
sujeito diante de um mundo pronto e instituído.
Nesses
termos,
Kant
repete a crítica de Rousseau. Ora, o
hoje se chama sentido participa
ultrapassam
belo natural aparece aqui como
desta monstruosidade”.
imediatamente,
crítica à civilização, ao modo como
fetiche,
o
à
objeto
dado
amarrando-se
forma
ao
reificada,
em
ela se relaciona com os objetos. A
O silêncio é a linguagem da natureza
detrimento da natureza social da
contemplação
e
a
coisa,
a
Segundo ele, o particular deve ser
o
relacionado dialeticamente com a
indefinível e do inútil. Nesse contato,
sortilégio da identidade universal.
totalidade, pois o objeto é mais do
o sujeito não se afirma, não se
Contudo, é somente por meio da
que
consola, não se autoconserva: ele se
mediação do que já é mediatizado na
conseguinte, o geral encontra-se
aterroriza perante o não-dominado.
arte que conseguiremos escutar esse
dentro
silêncio
essa
particular e a verdade habita o
Isso posto, a arte, o belo artístico,
segunda reflexão é o papel de uma
aparentemente mais insignificante,
não é a natureza, mas almeja manter
filosofia que anseie manter suas
atípico ou estranho.
o que ela promete ao traduzi-la in
promessas.
desinteressada
das
a
obra
imagens da natureza coloca o sujeito
linguagem
diante
lembrança
do
desconhecido,
do
de
arte
torna-se
desse da
silêncio,
diferença
imanente.
sob
Operar
effigie; as características do belo
foi
criticada
o
objeto
das
Essa
por
Adorno.
mesmo.
Por
características
propensão
à
do
análise
natural migram para a arte. Podemos
Mas como nos abandonaremos ao
microcósmica é uma herança de
compreender esse movimento como
objeto, em busca do seu enigmático
Benjamin,
a passagem do imediato para o
conteúdo de verdade, por meio do
atribuía
uma
mediato ou, se quisermos, como a
conceito? Guiemo-nos, finalmente,
percepção
para
liquidação
rumo às poderosas linhas do campo
inusual e o não-esquemático. Ao
de força hermenêutico da Teoria
utilizar-se
estética
de
microscóspica como ferramenta para
natural
verificarmos seu emprego na análise
o conhecimento filosófico, Adorno
enquanto conceito fixo, redefinindo-o
das obras de arte, mais uma vez são
aspira à dissolução da aparência
como
oportunos os comentários de Morss
reificada,
Verlaine afirma, para seguir um
acerca
significação do objeto.
exemplo do próprio Adorno, que o
desintegração.
do
mito,
isto
é,
da
natureza como destino.
Adorno
critica
o
histórico.
belo
Assim,
quando
de
Adorno.
dessa
Antes
lógica
da
mar é mais belo que as catedrais, está
afirmando
Ernst
extraordinária o
individual,
dessa
na
liberar
a
contingência,
todavia,
convencional, conforme o mar esteja
por Benjamin, responde ao dilema da
dimensão utópica. Com efeito, nessa
ou não integrado ao circuito das
filosofia burguesa de enaltecer o
abordagem, o particular não constitui
mercadorias.
universal, o necessário, o conceitual
um caso do geral; como as mônadas
e rejeitar o particular, o contingente,
de Leibniz, cada particular é único,
Transparece, aqui, a não-identidade,
o carente de conceito, com uma
contendo, ao mesmo tempo, uma
o primado do objeto na experiência
guinada rumo ao objeto, ao particular
imagem do todo ou, como quer
subjetiva. Logo, podemos asseverar
concreto. Isso, porque, para ele, a
Benjamin, uma imagem do mundo.
que, para Adorno, a arte, ao invés de
autonomia da razão, tese de todo
Ora, à medida que o particular é
imitação da natureza, é imitação do
sistema idealista, que se supunha
transitório e resiste à categorização,
belo natural; um belo natural como
capaz de desenvolver o conceito de
desafia a estrutura social burguesa,
história
devir
realidade com base em si mesma,
que expressa a seu modo.
indeterminado,
não tem mais sua razão de ser.
interrompido, e
como
negativo:
um
belo
natural em si, que se recusa à comunicação:
“A
dignidade
Realidade
e
razão
não
se
harmonizam.
também
o
mirada
intentando
perder-se
Bloch
Segundo Morss, Adorno, influenciado
suspensa,
negando
quem
o
indefinível
ou
Esse
a
Segundo
Morss,
apresenta
Adorno
uma
toma
emprestado de Bloch a idéia de
da
leitura
da
não-identidade
natureza é a de um ainda-não-ente,
Todavia, Adorno não abandona a
particulares
que recusa através da sua expressão
totalidade
situar-se,
utopia. A não-identidade é o lugar da
a humanização intencional (...) Pois,
confortavelmente,
particular.
verdade,
a comunicação é a adaptação do
Aliás, essa atitude, assumida pela
inintencional, cuja interpretação deve
espírito ao útil, mediante a qual ele
Fenomenologia de Husserl e pelo
se dar pela justaposição analítica de
se integra nas mercadorias, e o que
Existencialismo,
seus elementos, mantendo, cada um
para no
que
não
como
mas
de
promessa
dos
uma
da
verdade
filosófica
independência, de modo a poder
intersubjetividade homogeneizadora,
Trauerspiels,
iluminar
o objeto é que se converte, se
experiência filosófica da verdade
pensamento
traduz, se mimetiza em filosofia.
tomando por base os elementos das
identificador. Novamente Adorno faz
Portanto, o objeto não se transporta,
teorias do conhecimento de Platão e
eco às palavras de Benjamin, para
mas se transforma em palavras, e
Kant. Benjamin designa o conceito
quem o objeto de conhecimento,
estas,
kantiano
como algo determinado dentro da
transformam-se
intenção
indiferença cede lugar à diferença; o
adequado à ciência, e distingue-o da
pedantismo idealista cai por terra.
experiência
o
real
sufocado
conceitual,
pelo
não
é
verdadeiro.
rumo
em
ao
mercado
movimento em
da
No ensaio Ursprung des deutschen
deles, com a totalidade sua relativa
contrário,
imagens.
A
Benjamin
de
pensa
experiência
conhecimento
a
como
(Erkenntnis),
(Erfahrung)
filosófica,
adequada à revelação da verdade. Adorno
La transformación mimética puede
considera o material das idéias,
ser vista como la reversión de la
Se, em Kant, o sujeito constitui o
teorias, conceitos, enfim, objetos do
subjetividad kantiana. La creatividad
mundo
pensamento, como locus da verdade
de esta (...) residía en la capacidad
estruturas conceituais, em Benjamin
inintencional, pois esses tipos de
del
la
são os fenômenos particulares, por
materiais
experiencia sus propias formas y
intermédio das afinidades eletivas de
atributo da transitoriedade: nascem,
categorías
absorbiendo
seus elementos, que determinam,
envelhecem e morrem.
dentro de sí el objeto. Pero el sujeto
objetivamente, as ideias do sujeito.
de Adorno deja la iniciativa al objeto;
Enquanto o conhecimento kantiano é
Todavia, se a verdade reside no
forma al objeto sólo en el sentido de
possessão, ao submeter a realidade
objeto,
transformarlo
nueva
às categorias do entendimento, a
conteúdo seja liberado pelo sujeito
modalidad. (...) La verdad como
experiência filosófica benjaminiana é
racional,
numa
representación lingüística mimética
a representação das ideias com base
experiência cognitiva. Para Adorno,
suponía llamar a las cosas por sus
naquela realidade.
esse sujeito deve imergir no objeto,
nombres correctos. (grifo do autor)
Além
da
matéria
física,
carregam
é
consigo
necessário
que
se
que
envolva
o
seu
sujeto
de
a
proyectar
priori,
en
una
en
aparelhado com uma certa arte de
conforme
Conceitualizar,
suas
para
próprias
Benjamin,
encontrar algo, uma ars inveniendi.
Mas como expor a lógica interna dos
significa configurar os elementos do
Eis o papel da fantasia, de uma
objetos sem recorrer à ficção? Como
fenômeno,
fantasia
a fantasia pode ser exata?
relações tornem-se visíveis para o
exata,
que
adira
estritamente aos fatos, na ânsia da descoberta,
do
desvelamento
da
intelecto,
de
modo
constituindo
que
suas
ideias
que
Segundo Morss, Adorno, em sua
possam ser percebidas. Se, em Kant,
conferência de 1931, Die Aktualität
o particular desaparece no “buraco
der Philosophie, define a tarefa da
negro” da abstração, em Benjamin,
Morss explica que, se a fantasia
filosofia
de
ele reemerge na ideia, transforma-se
exata é científica, com o fito de não
constelações. Adorno inspirara-se no
em ideia, por meio da configuração
abandonar
estudo de Benjamin sobre a tragédia
de seus elementos, como se, por
barroca
des
assim dizer ao modo de Benjamin, as
elementos,
deutschen Trauerspiels, no qual as
ideias fossem as constelações e os
abrindo-os à compreensão cognitiva.
constelações são a imagem central
fenômenos as estrelas.
Desse modo, a lógica interna do
de sua teoria do conhecimento,
objeto
esboçada
verdade objetiva.
o
artística,
na
reacomoda
os
pode
verbalmente, redefinição
objeto, medida seus
ser
também em
que
traduzida
provocando da
é
linguagem
a
como
a
construção
alemã, Ursprung
no
capítulo
inicial
do
referido estudo.
quando admite que as idéias são
como
expressão da lógica da matéria.
Benjamin faz convergir Platão e Kant
mais do que os fenômenos, embora Acompanhemos os comentários de
suas derivadas. Se, em Platão, as
Morss
de
ideias aparecem como a verdade do
acerca a
do
trabalho
fim
de
Assim, a filosofia cumpre seu papel
Benjamin,
melhor
fenômeno, em Benjamin, o fenômeno
de apresentação da verdade. Ao
compreendermos o uso que Adorno
é que aparece como a verdade das
invés de apropriar-se do objeto como
faz dele.
ideias, mantendo a dignidade dos
se ele fosse uma mercadoria a ser
particulares. Desse modo, Benjamin
transportada
propõe
pela
linguagem
a
redenção
do
mundo
fenomênico, por meio da disposição
Acerca desse método, comenta o
caracterizando sua unidade como
de seus elementos em constelações
filósofo
uma unidade viva, instável. A obra
eternas.
Zamora:
“Sólo
reservas
en
espanhol
José
Antonio sin
que apresenta uma forma plena e
su
estabilizada é autoritária, porém, não
No final da década de 20, Adorno e
dimensión histórica, puede la crítica
intensa, por pretender reprimir os
Benjamin trabalharam juntos, com o
sacar a la luz lo que ha quedado
particulares.
intuito de desenvolver a teoria das
pendiente y dar expresión al derecho
constelações,
de lo posible frente a lo que existe.”
Ao entrelaçamento do uno com o
referencial marxista. Por isso, em
Adorno
múltiplo,
sua conferência inaugural de 1931,
relativizar a décima primeira tese de
intensidade:
Adorno refere-se ao método de
Marx sobre Feuerbach: interpretar já
mimese
realizada
construção das constelações como o
é transformar o mundo.
cedida
pela
valendo-se
do
abismándose
las
redime
cosas,
a
en
filosofia
ao
se
pretenda
intensidade pela
de é
a
unidade,
multiplicidade
à
e
Talvez por isso a obra de arte
aberta, na medida em que ilumina os
defende sua utilização não só para
(Kunstwerk), para Adorno, não se
pormenores e é iluminada por eles.
tratar do reino fenomênico, mas da
confunde simplesmente com algo
própria história da filosofia.
fabricado, com o artefato (Artefact). A
Essa abertura ao fragmentário, ao
obra é uma coisa feita, elaborada,
inconciliável,
da
viva, que possui sua linguagem
dialética da forma, é que constituirá a
tradição por intermédio da crítica
própria. No artefato, a gênese, ou o
profundidade
imanente de seus conceitos; por
momento do fazer, não se distingue
profundas as obras de arte que não
essa razão, elogia o Trauerspiel,
qualitativamente do produto social
mascaram as divergências ou as
considerando sua importância na
realizado, ficando inscrito nos limites
contradições,
nem
as
redenção da indução. Ao invés de
da utilidade. Na obra de arte, esses
inconciliadas.
Ao
forçá-las
à
subsumir o particular no geral, a
dois
aparição,
tirada
do
teoria de Benjamin mantém a auto-
qualitativamente; ao invés de cumprir
inconciliado, as obras encarnam a
suficiência
da
o
possibilidade de uma conciliação.”
constelação
dos
Adorno
busca
particular.
materialista
“A
designa
totalidade(...)”. Esta é uma totalidade
programa de todo o conhecimento que
Adorno
a
Cada
liquidação
ideia
como
elementos ideia
do
mostra-se,
momentos
intencional
separam-se
destino
utilitário,
mobilizada da
que
pela
obra:
é
“São
deixam
prometido pela gênese, como no artefato,
a
arte
exprime,
É
graças
à
articulação
desses
pois, como uma mônada que contém
esteticamente, os problemas que a
elementos contraditórios que a obra
em si a totalidade, ou seja, uma
sociedade não foi capaz de resolver.
de arte adquire a sua forma e, na
“imagem do mundo”. No entanto,
Enquanto o artefato é um objeto
mesma medida, a possibilidade de
essas
mundo
(Ding), a obra de arte é uma coisa
seu
fenomênico são descontínuas, uma
(Sache), ou seja, ela é ao mesmo
articulação
vez que cada ideia é diferente de
tempo devir e resultado.
mesmo tempo formal e material. A
outra
constelações
ideia,
não
do
havendo,
conseguinte,
por
declínio. é
conseqüência
Isso uma
desse
porque
a
categoria
ao
estado
de
hierarquias,
Nesse distanciamento da empiria,
inconciliabilidade entre o idêntico e o
dependência ou paridade entre elas,
cada obra de arte aspira, grosso
não-idêntico é que, condicionado
como se cada uma delas fosse um
modo, à unidade, à forma integral,
pela má infinitude, o não-poder-
sol, iluminando a verdade com luz
mas não o consegue. A aparência
concluir deve tornar-se princípio de
própria.
formal
inintencionalmente,
expressão e procedimento da arte
pelos
contemporânea:
é,
condicionada
das
e
obras de arte não pode ser o que ela
materialistas,
ameaçam constantemente. É o que
deve ser, a unidade da variedade: ao
transformar a filosofia num poderoso
Adorno
sintetizar, ela viola o sintetizado e
método
racionalidade estética.
de
interpretação,
numa
designa
de
constituem
unidade
individuais
pretende
a
“A
Ao expor essa teoria sobre bases Adorno
que
impulsos
astúcia
da
prejudica nele a síntese. As obras de
lógica da desintegração. Agora, a
arte sofrem tanto na sua totalidade
ideia, a mônada, é o conteúdo social
Na obra de arte, o uno e o múltiplo
mediatizada,
em
esse
atraem-se e repelem-se. Essa tensão
imediatidades.”
conteúdo social é o conteúdo de
entre forças centrípetas e centrífugas
verdade a ser buscado na diferença.
é
sua
especificidade
e
que
dá
movimento
à
obra,
como
nas
suas
A expressão estética é a objetivação
e o contingente; sua verdade é sua
fenômeno contraditório que tem algo
do
aparência total.
mais a dizer do que o que se quer
conteúdo
social,
que
é
sedimentado nos materiais por meio
que ela diga. Ora, é no momento da
da mediação subjetiva do artista:
Para não se tornar mercadoria,
produção que ocorre o processo de
“(...) é objectivação do inobjectivo de
reifica-se; para não comunicar, torna-
sedimentação
tal sorte que, pela sua objectivação,
se enigmática, resistindo a todo
sociais
se torna num segundo inobjectivo, no
custo
mundo
constitutivo de seus centros de força.
que se exprime a partir do artefacto e
administrado. Para Adorno, a “arte
É na produção que se condensa a
não como imitação do sujeito.”
representa o que não se deixa
tensão entre o caráter mimético e o
Adorno refere-se às obras de arte
organizar
a
construtivo, a articulação entre o real
como mônadas fechadas umas para
organização
que
e o utópico, que confere o caráter
as outras, sem janelas. Cada obra é,
apreendamos a ambigüidade das
ao mesmo tempo, coisa e centro de
obras de arte, sua relação com a
forças: “As obras de arte estão
sociedade,
fechadas umas para as outras, são
analisemos menos o momento de
salva;
cegas
sua recepção do que o momento de
objetivamente o enigma de cada
sua produção.
obra, obtendo seu conteúdo social de
e,
apesar
de
tudo,
representam no seu hermetismo o
à
integração
e
o
no
que
total.”
é
oprime Para
necessário
que
que se encontra no exterior.”
dos
nas
antagonismos
obras,
momento
enigmático às obras.
Em Adorno, a hermenêutica não sua
função
é
resolver
verdade: “as obras de arte são Com efeito, Adorno rechaça a falsa
enigmáticas enquanto fisionomia de
Todavia, esse hermetismo já contém
intersubjetividade como parâmetro
um espírito objetivo (...)”. Adorno
o exterior, na medida em que é
de
Ao
define ainda o enigma como a zona
capaz de imobilizá-lo, transformando
integrar-se
da
de
suas
linguagem
comunicação, a arte é neutralizada.
de
A comunicação no mundo vigente é
categorias
universal.
Nas
em obras
arte,
julgamento
das
no
obras. circuito
indeterminação
entre
o
inacessível e o realizável:
a comunicação da falsa consciência,
Mas, porque a utopia, o não-ente, se
universal e o particular. Daí advém
da
Assim,
encontra para a arte velada de
que o papel de uma estética dialética
Adorno relativiza o otimismo de
negro, permanece, em todas as suas
seja o de elevar tal interação à
Hannah Arendt, ao desconfiar da
mediações,
consciência,
promessa de um juízo estético que
lembrança do possível contra o real
se
que
interagem,
inconscientemente,
por
intermédio
o
da
análise imanente das obras.
consciência
reificada.
legitime
mediante
seu
a
como
reprime,
lembrança,
algo
como
a
alargamento no circuito social. Ao
compensação
Outrossim, não se deve descuidar do
apostar na circulação, Arendt parece
catástrofe da história do mundo,
caráter ambíguo da arte. Ao mesmo
desconsiderar a possibilidade da
liberdade que, sob a influência da
tempo que reflete a sociedade, ela é
ruptura, apontando muito mais para a
necessidade, não existiu e acerca da
um como se; se é um produto do
reconciliação, para a realização de
qual não se sabe se pode existir. Na
trabalho social do espírito, é também
um contrato intersubjetivo, escorado
sua
denúncia da sociedade de troca total,
no modelo do juízo de gosto. Menos
permanente, a negatividade da arte
onde tudo existe para-outra-coisa.
otimista, Adorno prefere manter a
está ligada à méthexis [participação]
imagem
na obscuridade.
da
catástrofe
como
tensão
imaginária
a
para
a
da
catástrofe
Seu aspecto associal é a negação
promessa da arte; não há contrato
determinada de uma determinada
possível sem a ruptura objetiva com
O que Adorno denomina de mímesis
sociedade, o que a torna social
a falsa totalidade, sem a superação
na arte é o pré-espiritual, aquilo que
enquanto
imanente
do ente. EsseKulturpessimismus de
provém da empiria, da natureza, da
contra a sociedade. Sua função
Adorno deve ser interpretado como
realidade exterior; é o que se opõe
social é sua ausência de função; seu
uma constatação e não como um
ao espírito. Por construção, designa
encantamento é desencantamento,
princípio filosófico.
o elemento espiritual, a forma das
movimento
um ser-para-si que se relaciona com
obras, a objetivação dos impulsos
o outro. Autônoma e heterônoma, a
Analisar o potencial da arte pelo
miméticos
obra de arte é um interior que já
prisma
representante
contém o exterior, uma mônada sem
intermédio da rede dos mass media,
causalidade no âmbito da arte; ou
janelas que aglutina em si o universal
é não compreendê-la como um
ainda, a racionalidade das obras.
de
sua
circulação
por
ou,
se da
quisermos, lógica
e
o da
Desse modo, a construção reunifica
ele não pôde ter sido, e empenhado,
os elementos do real no contexto da
de modo responsável, no que ele
HEGEL, Georg Wilhelm Friedrich.
obra, libertando-os da contingência,
deve ser, para que o resgate do seu
Introdução à história da filosofia. São
transformando
e
futuro seja possível a partir da sua
Paulo : Hemus, 1976.
A
imanência. Nesse sentido, além de
inserindo-os
sua no
qualidade universal.
construção anuncia o novo, almeja
redimir
a
própria
tornar-se um real sui generis, um ser
conteúdo de verdade dos campos de
Políticas
à segunda potência, continuando, no
força da teoria estética dialética de
ensayos de crítica cultural. 2ed.
entanto, prisioneira da aparência.
Adorno pode atrair a intelligentsia
Barcelona : Península, 1994.
Essa tensão entre o mimético e o
filosófica
construtivo reproduz, na forma das
capacidade
obras, a tragédia social. A tensão é a
problemas
demarcação de um limite, não de
contemporâneo.
para de
metafísica,
que
o
HELLER, Ágnes; FEHÉR, Ferenc. de
la
postmodernidad:
renove
sua
expressão
dos
HOCHART, Patrick. Guilherme de
mundo
Ockham: o signo e sua duplicidade.
do
In:
uma impossibilidade:
História
doutrinas:
da a
filosofia:
filosofia
idéias,
medieval.
CHÂTELET, François (org). Rio de Pois a arte e as suas obras são apenas o que se podem tornar.
Janeiro : Zahar, 1974. REFERÊNCIAS
Porque nenhuma obra consegue
JAY, Martin. As idéias de Adorno.
resolver totalmente a sua tensão
São Paulo : Cultrix, 1988.
imanente; porque a história ataca,
ADORNO,
finalmente,
Teoria estética. Lisboa : Edições 70,
JIMENEZ, Marc. Para ler Adorno. Rio
1982.
de Janeiro : Francisco Alves, 1977.
obras de arte existentes e do seu
_____. Dialectica negativa. Madrid :
KOPNIN,
conceito. Ao virar-se para o seu
Taurus, 1975.
dialética como lógica e teoria do
a
idéia de
uma
tal
resolução, a teoria estética não pode
Theodor
Wiesengrund.
contentar-se com a interpretação das
conteúdo de verdade, é impelida,
conhecimento.
enquanto filosofia, para lá das obras.
ARENDT, Hannah. Lições sobre a
(grifo nosso)
filosofia política de Kant. Rio de Janeiro: Relume, 1993.
da
estética
BACHELARD, Gaston. A poética do
Adorno. Restringir sua jurisdição ao
espaço. São Paulo : Abril Cultural,
âmbito estrito da análise das obras
1974.
como
de
Janeiro
:
Civilização Brasileira, 1978.
Ática, 1978.
LUNN,
de arte está muito aquém de sua Assim
Rio
A
Adorno: confrontos. São Paulo :
de
potencialidade.
Vassílyevitch.
KOTHE, Flávio René. Benjamin e
Do exposto, salta à evidência a força epistemológica
Pável
Eugene.
Marxismo
y
modernismo: un estudio histórico de
a
BENJAMIN, Walter. Teses sobre
Lukács, Benjamin y Adorno. México :
terceira crítica de Kant, e para muito
filosofia da história. São Paulo :
Fondo de Cultura Económica, 1986.
além dela, a Teoria Estética de
Ática, 1985.
Adorno renova a pergunta pelo que
MARCUSE, Herbert. A dimensão
não foi alçado pela lógica formal à
BERGSON,
condição de conceito, afastando a
metafísica. São Paulo : Abril Cultural,
filosofia
1974.
da
inteligibilidade
dos
Henri.
Introdução
à
fenômenos. Ou seja: como o fez
estética. São Paulo: Martins Fontes, 1986.
MARX, Karl. Critica della filosofia
Kant, Adorno convida a razão e o
DESCAMPS,
Christian.
Os
hegeliana del diritto pubblico. Roma :
entendimento a libertar-se de seus
existencialismos.
In:
da
Riuniti, 1983.
imperativos, a arejar-se por meio da
filosofia: idéias, doutrinas: o século
aproximação
dialética
XX. CHÂTELET, François (org). 2 ed.
MORSS, Susan Buck. Origen de la
sensibilidade.
Melhor:
Rio de Janeiro : Zahar, 1982.
dialectica negativa. Mexico : Siglo
interroga
pela
com
a
Adorno
se
condição
História
de
Veintuno, 1981.
possibilidade de um pensamento
GOLDMAN,
Lucien.
Dialética
e
crítico capaz de compreender o
cultura. 2 ed. Rio de Janeiro : Paz e
REY,
mundo como ele é, sem esquecer do
Terra, 1979.
nietzschiana. In: História da filosofia:
Jean-Michel.
A
genealogia
idéias,
doutrinas:
mundo
científico
a
filosofia e
do
industrial.
CHÂTELET, François (org). Rio de Janeiro : Zahar, 1974.
RICOEUR, Paul. A metáfora viva. Porto : Rés, 1983.
RILKE, Rainer Maria. Rodin. Rio de Janeiro : Relume-Dumará, 1995.
ROUANET, Sérgio Paulo. A razão cativa: as ilusões da consciência, de Platão
a
Freud.
São
Paulo
:
Brasiliense, 1985.
SCHÉRER,
René.
Husserl:
fenomenologia
e
a
seus
desenvolvimentos. In: História da filosofia: idéias, doutrinas: a filosofia do mundo científico e industrial. CHÂTELET, François (org). Rio de Janeiro : Zahar, 1974.
SCHOENBERG,
Arnold.
Fundamentos
da
composição
musical. São Paulo: Edusp, 1991.
SLOTERDIJK,
Peter.
copernicana
e
Mobilização
desarmamento
ptolomaico: ensaio estético. Rio de Janeiro : Tempo Brasileiro, 1992.
VÁSQUEZ,
Adolfo
Sánchez.
Invitación a la estética. México : Grijalbo, 1992.
WEBER, Max. Ciência e política: duas vocações. 9 ed. São Paulo : Cultrix, 1993.
WISNIK, José Miguel. O som e o sentido:
uma
outra
história
das
músicas. São Paulo : Companhia das Letras; Círculo do Livro, 1989.
ZAMORA, José Antonio. Religion tras
su
final:
Habermas. Edusf, 1996.
Adorno
Bragança
versus
Paulista
:
Notas de
“A
generalidade
apresenta
duas grandes ordens: à ordem
2. A Idade Média: As faces de cristo.
qualitativa das semelhanças e
literatura
a
ordem
quantitativa
Rosa Virginia R. Daitx1
Segundo
Goff
&
Schmitt
equivalências. Os ciclos e as
(2006) a idade média não existe. Ela
igualdades são seus símbolos.
foi uma invenção a construção de um
Mas,
a
mito, através de representações e
um
imagens que se movimentam no
ponto de vista segundo o qual
tempo e espaço a partir de sua
um termo pode ser trocado por
difusão na sociedade que ultrapassa
outro,
gerações. Os grandes castelos e a
de
toda
generalidade AS FACES DE JESUS CRISTO.
das
maneira, exprime
substituído
por
outro”(DELEUZE. 1988. p.21)
monumentabilidade
das
igrejas
avançam séculos e favorecem a Subtituir o olhar acostumado,
oportunidade de podermos imaginar
generalizado e conformado, é no que
a grandiosidade da devoção cristã e
elaborado com base nas reflexões
acreditamos
todo seu poder.
expostas
arte
procedimento
medieval, referente ao curso de Pós
aproximarmos
Graduação
aproximação
Resumo:
O
na
presente
disciplina
artigo
de
Especialização
foi
em
ser
o
melhor
para
nos
O que existiu foi uma luta pelo poder,
Nesta
uma decadência no domínio cultural
da
arte.
iremos
encontradas
abordar
uma
expansão
que
colocou
o
História da Arte Univille. No decorrer
faces
período
ocidente em contato outros povos.
do mesmo haverá uma discussão
medieval, como uma maneira de
Havia pelo protestantismo segundo
sobre as diversas faces de Jesus
percebemos que a repetição de
Goff, Schmitt (2006) uma tentativa de
Cristo na arte Medieval.
vários Jesus Cristos nos mostram
retorno de um cristianismo de uma
também uma singularidade no gesto
origem pura que contradiz uma igreja
Palavras Chave: Medieval, Faces de
de cada pintor ou escultor destas
católica presa a cidade terrestre e
Jesus Cristo
faces. Mesmo que todos sejam
distante da cidade de Deus. A
Jesus
duração da idade média se dará por
Cristos,
semelhantes.
no
as
são
apenas
Reconhecemos
na
muitos séculos. De acordo com o
humanidade que cada ser humano
autor
possui uma face. No entanto, não
começa a se tornar entre os eruditos
Repetir não é copiar. O repetir
temos faces iguais, não possuímos a
europeus, um termo mais neutro,
está mais para uma reflexão sobre a
mesma boca, nem o mesmo nariz e
desprovido de pejorativos utilizado
diferença do que para a igualdade e
nem os mesmos olhos. Temos todos
para identificar um período recuado
generalidade. Se pensarmos que
uma face, mas com características
no tempo. Para Focillon (1980) a
para criar é necessário um repertório,
diferentes, com um olhar diferente,
idade
também é fato que nosso repertório
em caso de gêmeos poderá haver
ocidental da civilização européia. Era
possa ter certa similaridade com o
igualdade externa, mas, assim como
um período em que o homem se
outro. No entanto, muitas vezes não
todos os outros,
acima de tudo
definia por um sistema social e
percebemos
sempre terá uma singularidade da
intelectual que se não fosse pelos
alma.
monumentos,
1.Introdução
os
detalhes
e
as
pequenas diferenças, e nosso olhar
a
expressão
média
é
idade
uma
poderiam
média
expressão
ter
sido
esquecidos por nós. Geralmente a
mal educado poderá nos apontar uma igualdade inexistente. É em
“(...) as almas não são do
encontramos
busca desta não generalização da
domínio da semelhança ou da
períodos: Greco Romana, Judaísmo
imagem que utilizaremos as faces de
equivalência; e assim como
e Cristianismo, mesmo assim não
Jesus Cristo como uma referência
não há possibilidade de se
existe
para mostrar que:
trocar de alma. Se a troca é
historiadores sobre a definição de
um critério da generalidade, o
tempo.
roubo e o dom são os critérios
divida entre primeira idade média no
da
século IV, VIII, Pré Românico. Alta
1
Acadêmica do curso de Pós- Graduação. História da Arte- Univille 2013
repetição.
1988, p.22)
(DELEUZE,
divida
um
em
consenso
Portanto
a
três
dos
encontramos
idade média no século VIII até XI, considerado
Românico
e
idade
média central do século XI ao XII. A
(886-
baixa idade média seria entorno
912) Inscrição livro: “A paz esteja
1453- 1492 e 1517.
com você. Eu sou a luz do mundo.”
A
idade
média
Cristã
na
metade do segundo século já havia se expandido pelo império romano e
O que nos faz deduzir que a
criado suas comunidades. Diz Stórig
figura
(2008), que o cristianismo era visto
orientais. Percebemos neste mosaico
pelo império romano como inimigos
que
da ordem pública por acreditarem e
amendoados, que seu cabelo não é
difundirem a religião, se reuniam
tão cumprido e tão pouco existe
escondidos pois sua prática religiosa
alguma dramatização de expressão Figura nº1. Catacumbas de
era totalmente proibida. Tanto a
nº2 possui influência
Cristo
possui
os
dos
olhos
facial. De acordo com Janson (1992)
cultura como a intelectualidade da
Comodilla. Sé. IV. Roma
o significado da mão de Cristo
Idade Média seria da ordem do
Representação mais antiga de cristo
erguida, é um gesto tradicional que
incompleto se os bárbaros fossem
com uma barba
representa os membros da igreja em
A figura nº1 se refere há uma
excluídos. Foram eles que tiveram forças
para
superar
o
império
arte cristã primitiva. Segundo Janson
romano e se inserirem como parte do
(1992)
mesmo.
transferiu
a
Romano
para
As
bárbaras,
tribos
Celtas,
denominadas Germânicos
e
Constantino, capital cidade
o
grande,
do
Império
grega
de
incivilizadas,
Bizãncio, conhecida Constantinopla.
porém abandonaram suas tradições
Roma ainda não era o centro oficial
e adotaram a religião cristã e a
da
intelectualidade, se transferindo do
existiam no norte da África. Com
papel de bárbaros, para difusores da
toda certeza, estas comunidades
cultura cristã.
mais antigas já tinham seus valores
Eslavos,
não
eram
busca do auxílio divino.
fé,
comunidades
antigas
já
filosofia,
artísticos definidos. Diz o autor que
do
que
nosso conhecimento sobre esta arte
ouvimos falar sem ter a certeza de
é muito vago e o que nos restou
sua existência, é algo quase que
foram apenas algumas descobertas
impossível. Porém, percebemos que
de
de
Figura nº3 Capa anterior da
foi com o uso da imagem da face de
catacumbas, galerias subterrâneas
encadernação dos Evangelhos de
cristo
onde os cristãos enterravam seus
Lindau.
Difundir acreditar
na
existência
muitos
fiéis
conquistados.
A
verdade,
superioridade
de
homem.
que
uma
Jesus
Deus cristo,
foram da
sobre um
pinturas
nas
paredes
C.
mortos.
870. Ouro e pedras preciosas. The
o
Pierpont
rosto
Morgan
Library,
Nova
Yorque.
conhecido por todos no mundo, reconhecido até mesmo por quem nele nunca acreditou.
A figura nº3 é do império carolíngio. Representação de um Cristo
sem
expressão,
sem
dramatização, com um olhar perdido, um corpo desproporcional e Nada comum para o que conhecemos nos dias de hoje, a não ser sua condição de sacrifício. Este cristo representa Figura nº2 Hagia Sophia. 532-537.
um momento do império carolíngio,
Istambul, Turquia. Mosaico acima da
quando
porta de entrada.
Janson (1992) teve um papel ativo
Carlos
Magno
segundo
na luta por um ideal de preservação
relação a todas as outras. No caso
JANSON, J.W. História da Arte. São
dos
de
da figura nº4, ela possui a expressão
Paulo: Martins Fontes, 1992
civilização
do sofrimento de Cristo. Um homem
romana. Diz Janson (1992) que as
que segundo a religião cristã, se
STORIG, Joaquim Hans. História
igrejas carolíngias desapareceram,
sacrificou por nós homens terrenos.
Geral da Filosofia. Rio de Janeiro:
mas, as obras menores e livros
Seus
Vozes, 2008.
sobreviveram em boa quantidade. A
amendoados como na figura nº1,
figura nº3 de acordo com o autor é
muito pelo contrário, eles estão semi-
um relevo adornado com jóias dos
abertos, como entre a vida e a morte,
Evangelhos de Lindau uma obra do
suplicando piedade e ao mesmo
terceiro quartel do século IX. A
tempo perdoando os que lhe fizeram
ourivesaria
sentir tamanho sofrimento. Rosto
clássicos
recuperar
na
a
tentativa
antiga
deste
demonstra
a
manuscrito
já
não
são
tão
celto-
alongado, olhos expressivos de dor,
germânica de trabalho em metal
esta figura nº4 traz consigo as
adaptado
características do período Gótico.
ao
tradição
olhos
império
carolíngio.
Neste caso fica claro a busca de um
Porém
rosto
percebermos que independente do
para
percebemos
o
de
é
definições de igualdade, mas sim um
ideal de Cristo. As várias faces de
ideal. O ideal de um único rosto, de
Jesus Cristo não cessam apenas
uma única fé, de um único homem
nestas aqui apresentadas. Apenas
que possa servir como exemplo do
discorremos
certo
percebemos na beleza de ideal que
e
não
importante
período, existe uma procura do rosto
errado
ainda
Maria,
mais
há
e
que
filho
o
possa
ser
reconhecido por todos.
percorreu
um
a
importância
pouco
idade para
do
que
média. arte
e
Sua para
humanidade. A idade muitas vezes corriqueiramente
conhecida
como
idade das trevas e que, no entanto criou catedrais monumentais, utilizou ouro,
pedras
preciosas,
letras
desenhadas e pintadas em suas iluminuras e faces diversificadas de Cristo para expandir a crença do cristianismo.
REFERÊNCIAS:
DELEUZE,
Gilles.
Repetição
e
Diferença. RJ,grall,1988
Figura nº4 Mestre de Naumburg. Calvário. Pórtico Capela-mor.
FOCILLON,
Henri.
A
arte
do
ocidente - a idade média românica
Catedral
e gótica. Lisboa: Estampa, 1980.
de Naumburg. C. 1240-50 GOFF, Jacques Le; SCHIMTT, JeanClaude, Dicionário Temático do Chegando
mais
perto
da
nossa realidade, podemos perceber que existe diferença da figura nº4 em
Ocidente
Medieval.
Paulo: EDUSC,2006
Vol.II.
São
CRITICA ROEDORA
nem que os cinco estágios são
uma imediata revolta populista na
vivenciados por todos os pacientes.
Europa. Eles jogam com a bela alma
A reação da opinião pública e das
que os fazem se sentir superiores
autoridades na Europa Ocidental ao
diante de um mundo corrompido
fluxo de refugiados da África e do
enquanto secretamente participam
Oriente
dele.
Médio
não
teve
uma
combinação semelhante de reações
O populista anti-imigrante também
disparatadas? Houve a negação,
sabe muito bem que, deixados por si
agora diminuindo: “Não é tão sério,
mesmos, os africanos não terão
ŽIŽEK: NÃO PODEMOS ABORDAR
vamos simplesmente ignorar.” Existe
sucesso
A CRISE DOS REFUGIADOS SEM
uma raiva: “Os refugiados são uma
sociedades. Por que não? Porque
ENFRENTAR
ameaça ao nosso modo de vida,
nós, norte-americanos e europeus
CAPITALISMO GLOBAL
entre
escondem-se
ocidentais, estamos impedindo-os.
Por Slavoj Žižek.*
fundamentalistas muçulmanos, eles
Foi a intervenção europeia na Líbia
precisam ser barrados a qualquer
que jogou o país no caos. Foi o
“Nós não podemos abordar a crise
preço”. Há negociação: “Ok, vamos
ataque
dos refugiados sem enfrentar o
estabelecer
os
Iraque que criou as condições para o
capitalismo global. Os refugiados
campos de refugiados nos seus
surgimento do ISIS [Estado Islâmico
não chegarão à Noruega. Mas a
próprios
depressão:
do Iraque e do Levante]. A guerra
Noruega que eles procuram
“Estamos perdidos, a Europa está se
civil em curso na República Centro-
sequer existe.”
transformando em uma Europa-stan.”
Africana não é apenas uma explosão
O que está faltando é a aceitação, o
do ódio étnico; França e China estão
Em seu estudo clássico On Death
que, neste caso, significaria um
lutando pelo controle dos recursos
and Dying, Elisabeth Kübler-Ross
consistente plano pan-europeu para
petrolíferos
propôs o famoso esquema de cinco
lidar com os refugiados.
procuradores.
estágios de como reagimos ao saber
Então, o que fazer com centenas de
Mas o caso mais claro de nossa
que temos uma doença terminal:
milhares de pessoas desesperadas,
responsabilidade é o Congo de hoje,
negação (a pessoa simplesmente se
que esperam no Norte da África,
que
recusa a aceitar o fato: “Isso não
fugindo
como
pode
tentando
O
estar
acontecendo,
não
eles
quotas
países!”
da
e
apoiar
Há
guerra
e
atravessar
da o
fome,
mar
e
na
dos
mudança
Estados
de
novamente “coração
o
suas
Unidos
através
está
de
ao
seus
emergindo
das
trevas”
africano. Em 2001, uma investigação
comigo.”); raiva (que explode quando
encontrar refúgio na Europa?
da ONU, sobre a exploração ilegal de
já não podemos negar o fato: “Como
Existem duas principais respostas.
recursos
comigo.”);
Liberais de esquerda expressam sua
descobriu que os conflitos internos
negociação (a esperança de que
indignação com a forma como a
acontecem para se ter o acesso, o
podemos de alguma forma adiar ou
Europa está permitindo que milhares
controle e o comércio de cinco
diminuir o fato: “Apenas deixe-me
de
minerais
viver para ver meu filho graduado.”);
Mediterrâneo. O argumento deles é
diamante, cobre, cobalto e ouro. Sob
depressão (desinvestimento libidinal:
que
mostrar
a fachada de guerra étnica, nós
“Eu vou morrer, então por que se
solidariedade
portas
podemos identificar o funcionamento
coisa?”);
amplamente.
anti-
do capitalismo global. O Congo não
isso
pode
preocupar
acontecer
com
alguma
pessoas
a
se
Europa
afoguem
deve
abrindo Os
as
populistas
no
naturais
no
Congo,
fundamentais:
aceitação (“Eu não posso lutar contra
imigrantes reivindicam que devemos
existe
isso, mas eu bem posso me preparar
proteger nosso modo de vida e
unificado; é uma multiplicidade de
para isso.”). Mais tarde, Kübler-Ross
deixar que os africanos resolvam
territórios governados por senhores
aplicou esses estágios a qualquer
seus próprios problemas.
da guerra locais, que controlam o
forma de perda catastrófica pessoal
Qual
(desemprego, morte de um ente
Parafraseando Stalin, as duas são
exército, que como regra, inclui
querido, divórcio, vício em drogas) e
piores. Aqueles que defendem a
crianças drogadas. Cada um desses
enfatizou que eles não acontecem
abertura das fronteiras são grandes
senhores da guerra estão ligados
necessariamente na mesma ordem,
hipócritas:
pelos negócios com empresas ou
é
a
melhor
solução?
Secretamente,
eles
seu
mais
pedaço
como
coltan,
de
um
terra
estado
com
estrangeiras
um
sabem muito bem que isso nunca vai
corporações
que
acontecer, uma vez que provocaria
exploram as riquezas minerais da
região. A ironia é que muitos destes
maioria
minerais são usados em produtos de
Europa. Arábia Saudita tem até
Qatar,
alta tecnologia, tais como laptops e
mesmo devolvido alguns refugiados
trabalhadores imigrantes são de fato
telefones celulares.
muçulmanos da Somália. Isto porque
privados de direitos civis elementares
Retire as empresas estrangeiras de
a
teocracia
e liberdades; o controle total sobre
alta tecnologia da equação e toda a
fundamentalista que não pode tolerar
milhões de trabalhadores em fábricas
narrativa de guerra étnica alimentada
estrangeiros
asiáticas, muitas vezes organizados
por velhas paixões desmorona. Este
deve-se também ter em mente que
diretamente
é o lugar onde devemos começar se
esta
é
concentração; o uso massivo de
realmente
totalmente integrada à economia do
trabalho forçado na exploração de
africanos e parar com o fluxo de
Ocidente.
vista
recursos naturais em muitos estados
refugiados.
econômico,
e
africanos centrais (Congo etc.). Mas
lembrar que a maioria dos refugiados
Emirados, que afirmam depender
nós não temos que olhar tão longe.
vem de Estados falidos – onde a
totalmente
Em 01 de dezembro de 2013, pelo
autoridade pública é inoperante, pelo
petrolíferas, não são puros postos
menos
menos em grandes regiões – Síria,
avançados do capital ocidental? A
quando uma fábrica de roupas de
Líbano,
comunidade
deveria
propriedade chinesa em uma zona
Congo, etc. Essa desintegração do
colocar toda pressão em países
industrial na cidade italiana de Prato,
poder do Estado não é um fenômeno
como Arábia Saudita, Kuwait e Qatar
a 19 km do centro de Florença,
local, mas o resultado da economia e
para
incendiou,
da política internacional, em alguns
aceitarem um grande contingente de
presos em um dormitório de papelão
casos, como a Líbia e o Iraque, um
refugiados. Além disso, por estar
improvisado, construído no local. O
resultado
apoiando os rebeldes anti-Assad, a
acidente
ocidental. É claro que o aumento
Arábia
distrito industrial da cidade conhecido
destes “Estados falidos” não é um
responsável pela situação na Síria.
por
inesperado infortúnio, mas sim uma
E, em diferentes graus, o mesmo se
Milhares
de
das formas que as grandes potências
aplica para muitos outros países –
estariam
vivendo
exercem
nós estamos todos nisso.
cidade, trabalhando até 16 horas por
Uma nova escravidão
dia para uma rede de oficinas
“Estados
Outra característica partilhada por
atacadista que confeccionava roupa
falidos” do Oriente Médio devem ser
esses países é o surgimento de uma
barata.
procuradas nas fronteiras arbitrárias
nova
o
Nós, portanto, não temos que olhar
desenhadas após a Primeira Guerra
capitalismo
o
para a vida miserável dos novos
Mundial pelo Reino Unido e a
sistema econômico que sugere e
escravos nos longínquos subúrbios
França, que criaram uma série de
promove a liberdade individual (como
de Xangai (ou em Dubai e Qatar) e
Estados “artificiais”. Com o propósito
uma condição do mercado cambial),
hipocritamente criticar a China – a
de unir os sunitas na Síria e no
ele
a
escravidão pode estar aqui mesmo,
Iraque, o ISIS está, em última
escravidão,
sua
dentro de nossa casa, nós apenas
análise, juntando o que foi dilacerado
dinâmica:
escravidão
não vemos (ou melhor, fingimos não
pelos mestres coloniais.
estivesse quase extinta no final da
ver). Este novo apartheid de facto,
Não se pode deixar de notar o fato
Idade
na
esta explosão sistemática do número
de que alguns países não muito ricos
modernidade e durou até a Guerra
de diferentes formas de escravidão
do Oriente Médio (Turquia, Egito,
Civil Americana. E hoje, numa nova
de
Iraque) são muito mais abertos aos
época do capitalismo global, pode-se
lamentável, mas uma necessidade
refugiados do que os realmente ricos
arriscar a hipótese de que uma nova
estrutural do capitalismo global de
(Arábia Saudita, Kuwait, Emirados
era da escravidão também está
hoje.
Árabes, Qatar). Arábia e Emirados
surgindo. Embora não exista um
Mas estão os refugiados entrando na
não receberam refugiados, embora
estatuto jurídico legal para escravizar
Europa apenas oferecendo-se para
façam fronteira com países em crise
as pessoas de forma direta, a
se tornar força de trabalho precário,
e são culturalmente muito mais
escravidão
uma
em muitos casos, à custa dos
próximos aos refugiados (que são na
multiplicidade de novas formas: na
trabalhadores locais, que reagem a
queremos
A
ajudar
primeira
Iraque,
coisa
Líbia,
direto
da
seu
os
é
Somália,
intervenção
colonialismo
econômico. Deve-se notar também que
as
sementes
dos
muçulmanos)
Arábia
é
uma
intrusos?
mesma
Arábia
de Saudita
suas
receitas
internacional
fazer
seus
Saudita
escravidão. se
por
o
grande
como
conta
embora
de
Enquanto
legitima
como
Média,
deveres
é
própria
parte a
explodiu
adquire
a
mas
Saudita
ponto
das
que
Sim,
Arábia
Do
gerou
do
de
cedo
península
da
Arábia
etc.),
suas
facto,
milhões
como
sete
(Emirados,
campos
pessoas
matando
ocorreu
morreram
Macrolotto,
de
imigrantes
não
vestuário. chineses
ilegalmente
é
de
trabalhadores
em
fábricas
de
um
na
acidente
essa ameaça unindo-se a partidos
Um dos grandes tabus da esquerda
da brutalidade anti-imigrante. Ambas
político
a
terá que ser quebrado aqui: a noção
as
maioria dos refugiados, esta será a
de que uma maneira de proteger um
pressuposto, o que não é de forma
realidade de seu sonho realizado.
modo de vida [way of life] é em si
alguma evidente, que a defesa do
Os refugiados não estão somente
mesma protofascista ou racista. Se
próprio
fugindo de suas terras devastadas
não
noção,
universalismo ético. Assim, deve-se
pela guerra; eles também estão
abrimos o caminho para a onda anti-
evitar ser pego pelo jogo liberal de
possuídos por um sonho. Podemos
imigrante que prospera em toda a
“quanto
ver repedidas vezes em nossas
Europa. (Mesmo na Dinamarca, o
oferecer.”
telas. Refugiados no Sul da Itália
Partido Democrático, anti-imigrante,
impedirem suas crianças de irem
deixam claro que eles não querem
pela primeira vez ultrapassou os
para as escolas estaduais, eles
ficar
sociais-democratas e tornou-se o
arrumarem casamentos para seus
majoritariamente viver nos países
partido
país.)
filhos, eles brutalizarem gays nos
escandinavos. E o que dizer dos
Responder às preocupações das
seus espaços? A este nível, é claro,
milhares de acampados em Calais
pessoas comuns sobre as ameaças
nós nunca somos suficientemente
que não estão contentes com a
ao seu especifico estilo de vida
tolerantes,
França,
a
também pode ser feito a partir da
tolerantes demais, negligenciando os
arriscar suas vidas para entrar no
esquerda. Bernie Sanders é uma
direitos das mulheres, etc. A única
Reino Unido? E o que dizer de
prova
verdadeira
maneira de sair deste impasse é
dezenas de milhares de refugiados
ameaça para nossos estilos de vida
movendo-se para além da mera
dos países Bálcãs que querem ao
comunitários
tolerância ou respeito em direção a
menos chegar à Alemanha? Eles
estrangeiros, mas a dinâmica do
uma luta comum.
declaram esse sonho como um
capitalismo global: Só nos Estados
Nesse sentido, é preciso ampliar a
direito incondicional, e exigem das
Unidos, as mudanças econômicas
perspectiva: Os refugiados são o
autoridades
só
das ultimas décadas fez mais para
preço da economia global. Em nosso
alimentação adequada e cuidados
destruir a convivência comunitária
mundo global, mercadorias circulam
médicos, mas também o transporte
das cidades pequenas do que todos
livremente, mas as pessoas não:
para o local de sua escolha.
os imigrantes juntos.
novas formas de apartheid estão
Há algo enigmaticamente utópico
A reação padrão da esquerda liberal
surgindo. O tema de parede oca, da
nesta demanda impossível: como
é, naturalmente, uma explosão de
ameaça de sermos inundado por
poderia a Europa realizar o sonho
arrogante moralismo: No momento
estrangeiros,
deles, um sonho que, aliás, está fora
em que damos alguma credibilidade
imamente ao capitalismo global, é o
do alcance para a maioria dos
a “proteção do nosso modo de vida”,
índex do que é falso sobre a
europeus. Quantos europeus do Sul
nós já comprometemos a nossa
globalização capitalista. Enquanto as
e do Leste não prefeririam viver na
posição, uma vez que propomos uma
grandes
Noruega? Pode-se observar aqui o
versão mais modesta do que os
característica constante da historia
paradoxo da utopia: precisamente
populistas anti-imigrantes defendem
da humana, a sua principal causa na
quando as pessoas se encontram em
abertamente. Esta não é a história
historia moderna são as expansões
situação de pobreza, aflição e perigo,
das
Partidos
coloniais: Antes da colonização, o
e seria de se esperar que eles
centristas rejeitam o racismo aberto
Sul Global consistia, principalmente,
estivessem satisfeitos com o mínimo
dos populistas anti-imigrantes, mas
de
de segurança e bem-estar, a utopia
afirmam
autossuficientes
absoluta explode. A dura lição para
“compreender as preocupações das
isoladas. Foi a ocupação colonial e o
há
pessoas comuns” e promulgam uma
comércio de escravos que lançou
Noruega”, mesmo na Noruega. Eles
versão mais “racional” da mesma
este modo de vida para fora dos
terão que aprender a censurar seus
política.
trilhos e renovou as migrações em
sonhos: Em vez de persegui-los, em
Mas, embora exista um núcleo de
larga escala.
realidade, eles devem se concentrar
verdade, as queixas moralistas – “A
A Europa não é o único lugar que
em mudar a realidade.
Europa
é
está experimentando uma onda de
Um tabu da esquerda
indiferente para o sofrimento dos
imigração. Na África do Sul, existem
outros,” etc. – são apenas o reverso
mais de um milhão de refugiados do
os
anti-imigrantes?
lá,
eles
mas
estão
querem
dispostos
europeias
refugiados
é
Para
que
não
“não
abandonarmos
mais
viva
últimas
essa
forte
disso!
do
A
não
são
décadas?
os
simultaneamente
perdeu
a
empatia,
posições
compartilham
modo
de
de vida
tolerância
Devemos
ou
exclui
migrações
comunidades e
o
podemos
tolerar
somos
é
o
eles
sempre
estritamente
são
uma
locais relativamente
Zimbabwe, que estão expostos a
mecanismos
ataques
mudanças
de
pobres
locais
por
de
decisão
serão
tais
decididas
e
os nossos próprios racistas antiimigrantes), se necessário.
roubarem empregos. E haverá mais,
executadas? Aqui uma série de
Em terceiro lugar, um novo tipo de
não apenas por causa de conflitos
tabus deverá ser quebrado e um
intervenção internacional terá de ser
armados, mas por conta dos novos
conjunto
inventada: intervenções militares e
“Estados párias”, crise econômica,
realizadas.
econômicas
desastres naturais (agravados pela
Em primeiro lugar, a Europa terá de
armadilhas neocoloniais. E sobre as
mudança
desastres
reafirmar seu total empenho em
forças da ONU que garantem a paz
criados pelo homem, etc. Sabe-se
proporcionar condições dignas para
na Líbia e no Congo? Uma vez que
que, após o desastre nuclear de
a sobrevivência dos refugiados. Não
tais intervenções estão intimamente
Fukushima, por um momento, as
deve
associadas com o neocolonialismo,
autoridades japonesas imaginaram
grandes migrações são o nosso
serão
que toda área de Tóquio – 20
futuro, e a única alternativa a esse
salvaguardas. Os casos de Iraque,
milhões de pessoas – deveria ser
empenho é a barbárie renovada (que
Síria e Líbia demonstram como o tipo
evacuada. Para onde essas pessoas
alguns
iriam? Em que condições? Eles
civilização”).
deveriam receber um pedaço de
Em
terras ou dispersar ao redor do
consequência
mundo? E se o Norte da Sibéria
empenho, a Europa deve organizar-
externos da Rússia, Arábia Saudita e
tornar-se mais habitável e arável,
se e impor regras e regulamentos
os EUA estão totalmente engajados)
enquanto várias áreas subsaarianas
claros. O controle do Estado ao fluxo
acabam no mesmo impasse.
tornam-se demasiadamente secos
de refugiados deve ser implantado
Em quarto lugar, a tarefa mais difícil
para que uma grande população
através
e
suporte
administrativa abrangendo toda a
econômica radical que deve abolir as
União
condições
sociais A
climática),
viver
organizado
lá?
o
Como
será
intercambio
de
de
medidas
existir
complexas
compromisso
chamam
de
aqui:
“choque
de
que
evitem
necessárias
as
extremas
de intervenção errada (no Iraque e Líbia), bem como a não intervenção
segundo
lugar, necessária
de
uma
Europeia
como
(na Síria, onde, sob a aparência de
deste
não
vasta
(para
rede
evitar
as
intervenção,
importante
é
os
poderes
uma
mudança
que
populações? No passado, quando
barbáries locais como as da Hungria
refugiados.
coisas similares aconteceram, as
ou Eslováquia). Os refugiados devem
refugiados é o próprio capitalismo
mudanças sociais ocorreram de uma
ser tranquilizados de sua segurança,
global
forma espontaneamente selvagem,
mas também devem acatar as áreas
geopolíticos,
com violência e destruição (recorde
de
pelas
transformarmos isso radicalmente, os
as grandes migrações no final do
autoridades europeias, além disso,
imigrantes da Grécia e de outros
Império Romano) – Nos dias de hoje,
precisam respeitar as leis e as
países
tal perspectiva é catastrófica, com
normas
juntarão aos refugiados africanos.
armas de destruição em massa
europeus:
a
Quando eu era jovem, uma tentativa
disponíveis para muitas nações.
violência religiosa, sexista ou étnica
organizada de regulamentar o bem
Portanto, a principal lição a ser
de qualquer dos lados, nenhum
comum [commons] foi chamada de
aprendida é que a humanidade deve
direito de impor sobre os outros o
comunismo.
estar preparada para viver de forma
próprio modo de vida ou religião, o
reinventar isso. Talvez, no longo
mais “plástica” e nômade: Rápidas
respeito
cada
prazo, isso seja a única solução.
mudanças
individuo
seus
Tudo isso é uma utopia? Talvez, mas
globais, podem exigir, de forma
costumes comunais, etc. Se uma
se não fizermos isso, então, estamos
inédita, transformações sociais em
mulher decide cobrir seu rosto, sua
realmente
larga escala. Uma coisa é clara: a
decisão deve ser respeitada, mas se
merecemos estar.
soberania nacional terá que ser
ele
sua
* Publicado originalmente em inglês
radicalmente
redefinida
novos
liberdade deve ser garantida. Sim,
no In these times em 9 de setembro
níveis
cooperação
global
um conjunto privilegiado de regras do
de 2015. A tradução é de Danilo
inventados. E o que dizer das
modo de vida europeu. Estas regras
Chaves Nakamura para o Blog da
enormes mudanças na economia e
devem ser claramente estabelecidas
Boitempo.
padrões de conservação do clima
e aplicadas, por medidas repressivas
devido
(contra
energia?
de
a
climáticas,
escassez Através
locais
de de
e
água
e
e
quais
convivência
atribuídas
sociais
dos
nenhuma
da
escolhe
tolerância
liberdade
de
Estados
de
abandonar
não
os
cobri-lo,
estrangeiros
fundamentalistas, bem como contra
de
última
criam
hoje e
europeus
e se
em
Talvez
perdidos,
causa
seus
dos
jogos
nós
breve
não
se
devêssemos
e
nós
RACISMO
E
A
CAPITALISTA
OPRESSÃO
EM
TEMPOS
sindicais reconhecidas? Quantos são
permite, por exemplo, aos negros
dirigentes políticos?
valorizar a característica que difere
SOMBRIOS
das outras populações e romper com Alguns
colegas,
até
bem
intencionados, estufam o peito e
Alex Sander da Silva
dizem pra nós que hoje não precisa Primeiramente,
quero
fazer
uma saudação especial a nossos antepassados, desde o continente africano até os nossos Quilombos, nossa
luta
libertação.
pela
resistência
Salve
Zumbi,
e
João
Candido, Anastacia, Luther King, Steve Biko, Malcom X, e todos os negros e negras que lutaram e ainda lutam
contra
preconceitos
a
e
humilhação,
toda
forma
de
opressão. Com a permissão desses antepassados quero falar. Quero tornar visível o que está invisível, isto
falar em racismo, e que raça não existe, que hoje já entendemos que somente exista a “raça humana” e seria mais conveniente falar em “etnias”, étnica.
num primeiro momento, um tanto óbvia, mas quando se trata de relações raciais isso não é tão simples. Infelizmente, ainda vivemos em uma sociedade marcadamente cuja
manifestação
do
racismo se dá de diversas formas algumas vezes sutis e outras vezes escancaradas, de preconceitos, de discriminações
e
muitos
outros
tempo
para
histórica
e
conceitualmente os dois termos raça e etnia, por hora quero apontar a necessidade
de
discutirmos
o
as
diversas
conceitos
são
carregados
de
ambigüidades e ideologias.
Se
fizermos
perguntas
do
tipo:
quantos negros e quantas negras ocupam importância médicos,
cargos hoje?
de
grande
Quantos
doutores,
são
juízes,
desembargadores? Ou, quantos têm condições de acesso às melhores escolas, universidades? Ou para o
foram
permeia o imaginário popular. Já o termo
étnico/etnia
associado
é
geralmente
aos
aspectos
socioculturais, que pouco aprofunda as
desigualdades
raciais.
Caracterizam mais a raiz cultural plantada na ancestralidade dos mais diversos grupos, que se diferem na visão de mundo, nos valores e princípios de sua origem indígena, europeia, africana, ou asiática. Nesse sentido, considero que o
conceito
esvaziamento
etnia
sofre
político
de
um
sobre
o
problema das desigualdades raciais. Atualmente,
o
conceito
de
causa inúmeras polêmicas, porque a área biológica comprovou que as diferenças genéticas entre os seres humanos são mínimas, por isso não se admite mais que a concepção que a humanidade seja constituída por raças. No entanto na década de 1970, o Movimento Negro Unificado e os teóricos que defendiam na luta contra o racismo, ressignificaram o
Além do que, ele dá espaços para a ideologia da miscigenação e das políticas de embraquecimento, temas que não poderei aprofundar. Mas, faz-se necessários compreender que o
racismo
hoje
serve
como
ferramenta para dividir a classe trabalhadora, negros e brancos, que deixa de enxergar o verdadeiro inimigo: a exploração capitalista, que reforça o preconceito como forma de aumentar os lucros dos patrões.
conceito de raça, admitindo-a como
relações
entre
brancos,
negros e indígenas.
É preciso uma luta contra o racismo
que
política
e
seja
independente
financeiramente
dos
governos e que seja protagonizada O termo raça usado nesse
questão da visibilidade negra nos
problema que precisa ser enfrentado.
que
formuladas no século XIX e até hoje
de raça. E, considerar que ambos os
políticas de combate ao racismo, a
amplos espaços sociais ainda é um
raciais
combate ao racismo na perspectiva
tensas com
temos
diversidade
teorias
uma construção social forjada nas
abusos racistas inconcebíveis. Mesmo
a
raça quando aplicado a humanidade
Esta afirmação nos parece,
racista,
Não
desenvolver
é, quero dar visibilidade a luta pela consciência negra.
respeito
as
contexto tem uma conotação política e é utilizado com frequência nas relações
sociais
informar
como
brasileiras,
para
determinadas
características físicas, como cor da pele, tipo de cabelo, entre outras, influenciam, interferem e até mesmo determinam o destino e o lugar social dos sujeitos no interior da sociedade brasileira.
nosso caso, quantos são lideranças
O conceito de raça ao ser usado
com
conotação
política
pelos
movimentos
sociais
e
populares, pelas entidades sindicais e estudantis, de modo que possamos enfrentar radicalmente o racismo estrutural que assola a sociedade brasileira.
A PRODUÇÃO DE
sujeito,
Ao que não deixou de perceber
cuja
“encher”
tarefa
os
inclinável
educandos
é dos
CONHECIMENTO E
o meio social de trabalho sob a
APRENDIZAGEM NA
formação do individuo como ser
PERSPECTIVA MARXISTA DE
social. Marx relaciona a formação do
realidade
PAULO FREIRE
individuo perante analise material
totalidade em que se engendram e
2
dizendo que “não é a consciência
em
dos homens que determina o seu
significação. (FREIRE 1982, p.33).
Gabriel da Silveira Ângelo
RESUMO O artigo propõe discutir o processo
que
determina
sua
Freire segundo seu ponto de vista
escreveram
sobre
educacional
contexto educacional, mas sim para
capitalista. Contudo ao discutir o
o âmbito social a qual se inseri a isso
processo de aprendizagem, baseia-
a educação.
se pela percepção do individuo como
diretamente
sobre
o
Não cabia apenas para Marx e Engels
perante os modos produtivos e a
educacional, a ciência marxista tem
influencia do capital no contesto
como proposta analise a reflexão do
educacional.
sujeito como sujeito da história. Essa
Freire propõe uma visão libertadora
discussão
de
a
histórico não se limita apenas em
como
caminhar pelo campo econômico,
sujeito de transformação e libertação.
mas sim como mecanismo humano
A contribuição de Freire trás para o
através da sua realidade.
educador as reflexões necessárias
A
para o processo de aprendizagem e
FREIRE SOBRE ATO EDUCAR
importância
destacando
do
educador
abordar
o
sobre
contexto
materialismo
CONTRIBUIÇÃO
DE
PAULO
da história. O debate acerca do
logo mais tarde é trazida pelo
processo
pedagogo Brasileiro Paulo Freire em
relacionado processo
diretamente estrutural
esta
com
do
o
sistema
Palavras-Chave:
sua analise de educação libertadora. De
acordo
“Ensinar
econômico capitalista. Aprendizagem;
com não
conhecimento,
Freire é
(1996) transferir
mas
criar
as
Educação; Capitalismo; Marxismo
possibilidades para a sua própria
INTRODUÇÃO
produção ou a sua construção.”
Compreender o processo de aprendizagem
no
contexto
concepção filosófica de Marx de transformação
compreender
o
processo
percebe
aprendizagem
no
capitalismo,
necessário produtivo
analisar e
o
social.
é
contexto Marx
ganhariam
Paulo
Freire
contrapõe
a
realidade em relação às condições de transferência de conhecimento na sala de aula onde o professor é detentor do conhecimento e que só questiona a “Cátedra” modelo a qual o professor é o detentor exclusivo do conhecimento. Juntamente a essa percepção pode se refletir que as escolas funcionam como forma de banco
não
só
no
contexto
de
transferência de conhecimento, mas também de forma estrutural onde os alunos são trazidos para escola com
enquanto seus pais trabalham.
que
o
modelo
diretamente
produtivo na
reflete
estrutura
educacional, portanto no contexto capitalista a escola é vista pela perspectiva
de
mecanização
e
produção. Paulo Freire propõe que essas barreiras sejam quebradas pelo educador através do dialogo e da reflexão sobre seu ser social:
mundo.
O
diálogo,
como
encontro
dos
homens para a tarefa comum de
Freire
saber agir, se rompe, se seus pólos
educacional
(ou um deles) perdem a humildade.
capitalista como um método bancário
Como posso dialogar, se alieno a
de transferência de conhecimento:
ignorância, isto é, se a vejo sempre
o
de
método
no outro, nunca em mim? (FREIRE
ao
1982, p.46).
questionar o capital teve como ponto
Falar
de partida a analise a partir da
parado, estático, compartimentado e
história e dos meios produtivos a
visão
Freire se espelha diretamente na
capitalista, trás latente que para se de
cuja
da
Tendo em vista isso, é notório
A contribuição do marxismo
aprendizagem
desconectados
a finalidade de ser depositados
formação do individuo como sujeito
de
narração.
ele que pode ensinar. Sendo assim
ser histórico e como ele se move
educação,
sua
Conteúdos que são retalhos da
consciência”
(1982, p. 14). Marx e Engels não
estrutura
de
ser; ao contrário, é o seu ser social
de aprendizagem segundo Paulo
a
conteúdos
da
realidade
como
algo
bem comportado, quando não falar
O educador não deve se portar
algo
em uma condição de autoridade, pois
qual juntamente com Engels chamou
completamente alheio à experiência
a condição de aprendizagem em
de materialismo histórico.
existencial
vem
momento algum coloca em critério a
sendo, a suprema inquietação desta
autoridade, o educador deve trazer
ou
dissertar
dos
sobre
educandos
educação. A sua irrefreada ânsia. 2
Estudante do curso de geografia da UNESC ( Universidade do Extremo Sul Catarinense).
Nela o educador aparece como seu indiscutível agente, como o seu real
através do dialogo o despertar para o processo de aprendizagem a seu
aluno.
Trazendo
para
ou real”, em que se dão os fatores e o
uma
“contexto
perspectiva construtivista o educador
teórico”,
em
que
são
educando e os educando-educadores,
com os alunos e sua realidade e
como sujeitos cognoscentes, incidem
suas experiências.
sua reflexão crítica. (FREIRE, 1982, p.
conhecimentos
de
propõe
ao
Freire
educador trazer aos educandos a relação de sujeito da história e sujeito da realidade e a visão quanto individuo do mundo. Essa reflexão não se limita apenas para a relação sala de aula, mas para todo o meio
a
uma
A liberdade, que é uma conquista, e não
uma
doação
permanente
exige
busca.
uma Busca
permanente que só existe no ato
128).
Para entender o processo de troca
alunos
reflexão libertaria:
cognoscível sobre que o educador-
conhecimento, mas sim aprender
e
seus
analisadas; de outro, são o objeto
não tende apenas ser o detentor do
aprendizagem
conquista
responsável de quem a faz. Ninguém tem liberdade para ser livre: pelo
Outra discussão esta associada a
mediação
docente,e mentor
e
sua
de
relacionado
capacitação capacidade
indivíduos a
porque não a tem. (FREIRE, 1987, p.
do
35)
como
isso
esta
sociabilizarão
de
conhecimentos para o processo de aprendizagem.Freire ressalta: A segurança com que a autoridade
social a perceber o enfrentamento do
contrário, luta por ela precisamente
A reflexão de educar não esta exatamente
associada
apenas
transmitir teoria. A humanidade até os dias atuais vive de sua história
docente se move implica uma outra, a
materializada
que se funda na sua competência
aprendem por si e com mundo.
profissional.
autoridade
Como próprio Freire coloca que
da
docente se exerce ausente desta
“Ninguém se educa por si próprio,
descodificação, estarão os homens
competência. O professor que não
exteriorizando sua visão de mundo,
leve a sério sua formação, que não
sua forma de pensá-lo, sua percepção
estude, que não se esforce para estar
si mesmo: os homens se educam em
fatalista das “situações-limites”, sua
à altura de sua tarefa não tem força
comum, midiatizados pelo mundo”.
percepção estática ou dinâmica da
moral para coordenar as atividades de
(FREIRE, 1993, p. 9)
realidade. E, nesta forma expressada
sua classe. (FREIRE, 1997, p. 102)
sujeito com o mundo. Em
todas
as
etapas
Nenhuma
maneira
como
realizam
enfrentamento com
seu
o mundo, se
Hoje para o professor se coloca essa condição, uma boa aula se
encontram envolvidos seus “temas
reflete também no domínio que o
geradores”. (FREIRE, 1982, p. 115).
docente deve ter, não esta associado a
Freire
mostra
o
papel
condição
simplesmente
do
autoritária,mas de segurança em
educador que é trazer para suas
relação a troca de conhecimento e
aulas a realidade dos indivíduos que
experiências que o educador deve
ali estão a um objetivo real, isso esta
ministrar.Por isso o processo de
associada à condição de mediação.
aprendizagem
Portanto o estabelecimento da critica
ligado também a esse aspecto de
esta associado também ao concreto
mediação
ou ao objeto de cognição.
conhecimento
esta
e
que representam
situações existenciais, as codificações
fácil,pois
exige
do
a é o
ser
uma preparo
tarefa e
a
sua
formação do individuo docente e sem
oferecer
esquecer realidade semanal de um
possibilidades plurais de análises na
docente,que muitas vezes cumpri
sua descodificação, o que evita o
uma
devem
ser
simples
complexidade
e
na
dirigismo massificador da codificação propagandística. As codificações não são
slogans,
são
objetos
jornada
semanal
que
não
permite um bom rendimento. A condição libertaria deve estar
que
alicerçada na concepção filosófica do
deve incidir a reflexão crítica dos
docente para que ela de fato resulte
sujeitos
em libertação. De acordo com Freire
cognoscíveis,
desafios
sobre
descodificadores.
As
codificações, de um lado, são as mediação entre o “contexto concreto
aprendizagem
caminha
Freire não se limitou apenas em analisar a educação a um único ponto especifico, a analise de Freire fez frente à compreensão do campo do saber de cada sujeito. Como próprio Freire (1982, p.68) pontua sobre o campo do saber de cada sujeito: ''Não há saber mais, nem saber menos, há saberes diferentes''.
diretamente
domínio
sociabilizado.Não Na medida em
que
diretamente no campo do saber.
pensá-lo dinâmica ou estaticamente, na
homens
como tão pouco ninguém se educa a
A
de pensar o mundo fatalistamente, de
pelos
a libertação é condição de conquista por isso o docente deve tornar como
Contudo compreender
cabe o
o
educador
aluno
nessa
perspectiva, pois o processo de aprendizagem do individuo remete a condição pessoal de absorver o aprendizado. Essa é uma constante analise abordada por Freire, pois o educador deve se mover através da compreensão como sujeito e do mundo a uma condição de fazer com que
seus
alunos
também
compreendem está reflexão. Essa contextualização desafia o educador a se colocar na condição de
libertador
Segundo Freire:
diante
da
prática.
Ninguém começa a ser educador
saber é de todos, e muito menos
numa certa terça-feira às quatro a
exclusivo.
tarde. Ninguém nasce educador ou marcado para ser educador. A gente se faz educador, a gente se forma, como educador, permanentemente, na prática e na reflexão sobre a
O educador deve enxergar o processo de aprendizagem sob a noção de mundo e como transformálo, eis uma tarefa que parece estar
prática. (FREIRE, 1991. p.58)
em um campo “Lúdico”, mas é A posição de um educador não
preciso compreender que não há
esta apenas associada ao elemento
tempo e nem espaço para o “Lúdico”
“profissão”,
papel
o educador deve ir de encontro a sua
fundamental para a sociedade. Além
história e a história da humanidade.
da compreensão de sujeito como
A busca pela compreensão exige se
libertador. O fundamental não é sua
apegar
ao
movimento
compreensão
desenfreada
engrenagem
e
sim
a
um
apenas
no
campo
dessas a
qual
subjetivo de educar e sim no campo
remete cada dia prender a sociedade
do
a
concreto
de
se
ensinar
e
essas
esquinas
perigosas
da
transmitir conhecimento. Com todos
história. O educador tendo essa
os paradigmas e com todas as
compreensão certamente saberá que
incertezas o educador deve estar
o conhecimento é revolucionário e
ciente da sua importância e de sua
que o conhecimento e aprendizagem
contribuição para sociedade.
é libertam.
O papel do Marxismo não é apenas compreender o mundo e
REFERÊNCIAS FREIRE, P. Política e educação. São
suas condições sociais. O Marxismo
Paulo: Cortez, 1993
se coloca em uma condição de
FREIRE,
transformar
oprimido. 17ª ed. Rio de Janeiro, Paz
o
mundo.
Como
o
Paulo.
Pedagogia
do
próprio Marx disse sobre os filósofos
e Terra, 1987.
e a filosofia "Os filósofos se limitaram
FREIRE,
a interpretar o mundo de diferentes
Autonomia: saberes necessários à
maneiras;
prática educativa. São Paulo: Paz e
o
que
importa
é
Paulo.
Pedagogia
da
transformá-lo" (MARX e ENGELS,
Terra, 1997.
1996,
é
MARX, Karl. O Capital: crítica da
importante para o educador ter essa
economia política. 2 ed. São Paulo,
compreensão de ser agente possível
Nova Cultural, 1985. ______. Para
de uma transformação no campo do
Crítica da Economia Política e outros
conhecimento e no ato de aprender e
Escritos. São Paulo, Abril, 1982
inevitável no ato de transformar.
MARX, K. e ENGELS, F. A Ideologia
Além de tudo isso, a compreensão
Alemã. 10ª ed. São Paulo, Hucitec,
do processo de aprendizagem deve
1996.
estar
p.
14).
Dessa
relacionada
forma
também
a
realidade e a diversidade de saberes. A
compreensão
exclusivo
é
condicionante
posta pelo
de
saber
em
uma
modelo
de
educação capitalista, por isso Paulo Freire
vem
quebrar
com
esta
condicionante e colocar o campo do saber
ao
individuo
não
a
um
mecanismo social de exigência. Esse
encontra
ENSAIOS
pontos
principalmente
de
com
encontro,
onde as imagens são arquivos que
mulher,
se abrem com o intuito de revelar o
sua
Hildegarde. Aos trinta e cinco anos,
negativo da vida resguardada.
ela já não o atraia tanto, tudo nela perdia cor, enquanto ele adquiria, dia
Benjamin Button sente prazer por
ENSAIO SOBRE A EXISTÊNCIA E
após
sua
A DECREPITUDE
entusiasmo pela vida.
dia,
mais
energia,
mais
aparência
jovial
e
deseja
aproveitar todas as oportunidades, muitas negadas quando a idade
Guilherme Orestes Canarim Inversamente
a
proporcionalidade
cronológica
lhe
impunha
como
REFRENCIAS: FITZGERALD, Scott.
nos velhos, Benjamin percebe que a
obrigação pessoal e social, como a
Seis contos da era do jazz a outras
contingencia
degenerescência
vaga no Yale College, ou mesmo seu
histórias. Trad. e ensaio introdutório
(CIORAN,1995). em si segue outro
noivado com Hildegarde, realizado a
de Brenno Silveira. 6 ed. Rio de
movimento, o estado da ausência do
contragosto da família. O tempo
Janeiro: José Olympio, 2009.
esquecimento não lhe é apenas
passa, mas para o jovem Button ele
deturpação
como
é seu aliado porque no ano de 1910,
caducidade como também solapador
o rapaz de vinte anos consegue
da intensidade da “anástrofe” própria
entrar na Universidade de Harvard,
a sua condição. O curioso caso de
não cometendo o erro, entretanto, de
Benjamin Button é constituído por
declarar que jamais tornaria a ter 50
Neste ensaio pretendemos, por meio
memórias de ausências: as figuras
anos ou mesmo referir que seu filho,
da relação entre uma analise do filme
que animam o cenário são aquelas
dez
“o
que
naquela mesma instituição.
CIORAN,
Emil.
decomposição.
Breviário Rio
de
da
Janeiro:
Rocco, 1995.148p.
estranho
caso
de
benjamim
da
da
velhice
povoaram
a
Button” o texto “none” de marilena
maturidade
chaui que compõe a introdução do
personagem
livro
sociedade:
passagem
está
lembranças de velhos” escrito por
molduras,
posto
e
velhice,
a
a
juventude
antes,
diplomara-se
da Cada
Que nos velhos observemos que as
em
parapraxis não se dão mais como
de
ferloilung ou interface das estruturas
Eclea Bosi, entre outros, tocar em
recordar pertence ao presente, mas
psicológicas, não abole o fato de que
alguns aspectos da noção de velhice
o reencontro com os entes queridos
a
e o ensejo contemporâneo desta em
e
ocidental
nossa sociedade.
transporta o autor para um tempo
constituição
passado, permitindo, assim, que ele
demonstrativo na perda do substrato
o reviva, religando o princípio e o fim
identitario
e
primeira
“Memoria
e
Sobre a noção de velhice
com
protagonista.
anos
os
eternizada que
espaços
mostrando,
ao
o
ato
vivenciados
leitor,
que
o
O filme e o texto se entrecruzam no
percurso é a totalidade criadora.
que dos elementos do texto se
Entretanto, o conto de Fitzgerald
desprendem e transplantam para o
revela faceta que se opõem às
filme na forma do enredo certos
lembranças, pois, ao final da vida (ou
aspectos, dos quais pretendemos em
no
maior
psicológicos,
conseguia recordar nada mais, no
fisiológicos e sociológicos. Nessa
berço, percebia leves aromas e
trajetória inversa, Benjamin caminha
Textura,( FITZGERALD 2009p.22)
na direção contrária, desconstruindo
ruídos, luz e sombra para... no
as relações de afeto e de amizade
derradeiro instante, tudo ficar tomado
porque sua vida se constitui de modo
pela
inverso à normalidade, enquanto a
apagamento do mundo fosse o ponto
sociedade circundante amadurece e
de partida ou o ponto final de uma
envelhece, ele percorre a estrada a
existência vista pelo contrário –
caminho da juventude. Sob todos os
talvez
aspectos
preconceito
medida
suas
os
relações
ficam
prejudicadas porque ele mesmo não
início
dela),
escuridão,
uma
Benjamin
como
crítica da
se
severa
velhice,
não
o
ao mas,
especialmente, um modo de contar uma história guardada na memória,
formação
da
tem do
subjetividade
sua eu
quando
fratura como
se
degenerescência.
maior
mostra
oportunidade
na
a de