Revista Saída 6

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SAÍDA N. 6, V.1, Novembro 2015.

TEMPOS SOMBRIOS

Panorama OS CAPOS DE FORÇA DA ESTETICA DE ADORNO Luis Satie

Notas de literatura AS FACES DE JESUS CRISTO. Rosa Virginia R. Daitx1

CRITICA ROEDORA RACISMO

E

CAPITALISTA

A

OPRESSÃO

EM

TEMPOS

SOMBRIOS Alex Sander da Silva

ENSAIOS ENSAIO SOBRE A EXISTÊNCIA E A DECREPITUDE Guilherme Orestes Canarim


Seja a saída que você espera do mundo: Lê, Escreve, Faz arte? Colabore: gocanarim@gmail.com


EDITOR Guilherme Orestes Canarim

TEMPOS SOMBRIOS Guilherme Orestes Canarim

CONSELHO EDITORIAL

Esta edição de numero seis da revista Saída esta

Alex Sander Da Silva

dedicada as muitas perguntas resultantes do

Gabriel Silveira Angelo

aparente frenesi da contemporaneidade, mesmo

Gisele Da Silva Rezende

em grande parte da esquerda, em que parecem estar paranoicamente presos os humanos do

COLABORAÇÃO

nosso tempo. Dai que pensamos: estão as

Alex Sander da Silva

utopias exauridas? O tempo histórico teve seu

Slavoj Zizek;; Gisele Rezende; Gabriel da Silva

fim como desejam os partidários de Fukuyama?

Angelo; Luis Satie

É este o tempo sombrio da proximidade com o grande hotel abismo? Quando o trem perdido á distancia

acena

consolando

o

peripato

da

incompletude? E o fervor austral se não morre nos braços dos poderosos empedernidos pelo furor fálico? Ou inda jorra o sangue quente da gente

mui

nossa

nas

calçadas?

A

quem

regurgitados lamentos e cantilenas ensaiaremos no fito vão de alijarmo-nos da culpa tão adida? Haverá n’alhures terra alguma em cujo seio a verdura não se esvaia á nossa vista? Qual é a paga

que

o

tempo

guarda

a

tal

ardil

inconsequente? Ou como seremos humanos, se contra nos irados lutamos? As respostas para estas e outras questões estão mais perto do que parece.


Sumário Notas de literatura ................................................................................ 1 AS FACES DE JESUS CRISTO. ................................................................................................. 1 Panorama .............................................................................................. 5 OS CAPOS DE FORÇA DA ESTETICA DE ADORNO ....................................................................... 5 Luis Satie .............................................................................................. 5 Notas de literatura .............................................................................. 20 AS FACES DE JESUS CRISTO. ............................................................................................... 20 CRITICA ROEDORA .............................................................................. 23 ŽIŽEK: NÃO PODEMOS ABORDAR A CRISE DOS REFUGIADOS SEM ENFRENTAR O CAPITALISMO GLOBAL ..................................................................... 23 RACISMO E A OPRESSÃO CAPITALISTA EM TEMPOS SOMBRIOS .......................................................................................... 27 Alex Sander da Silva .......................................................................... 27 A PRODUÇÃO DE CONHECIMENTO E APRENDIZAGEM NA PERSPECTIVA MARXISTA DE PAULO FREIRE ................................................................................... 28 Gabriel da Silveira Ângelo ................................................................. 28 ENSAIOS ............................................................................................... 31 ENSAIO SOBRE A EXISTÊNCIA E A DECREPITUDE .................................................................................... 31 Guilherme Orestes Canarim .............................................................. 31


se sobre a possibilidade de um juízo

universal, em Adorno a obra de arte

refratam-se. Essa refração é forçada

interroga-se acerca da possibilidade

pelo caráter de aparência do novo

do particular. É por intermédio da

plano, conferindo à arte a condição

ESTETICA DE ADORNO

individuação que a obra transforma o

de experimento da liberdade. Desse

Luis Satie

universal no escândalo da arte: “ao

modo, a arte imuniza-se contra o

tornar-se o que é, a arte não pode

pensamento abstrato, que a situa

ser o que pretende tornar-se.”. Essa

muito além de tais determinações,

A estética adorniana nos oferece um

tensão

o

concedendo-lhe espaço, tempo e

manancial categórico ainda pouco

universal é constitutiva da linguagem

causalidade próprios, sem qualquer

explorado pelas ciências humanas,

da arte na modernidade: “Na arte, os

mediação. Longe de ser essa a

ainda presa à compartimentação do

universais possuem a sua força

esfera ideal, a arte constitui-se de

conhecimento e, por conseguinte, da

máxima quando estão mais próximos

categorias

própria razão. Para além desse

da linguagem: alguma coisa diz, que,

diferentes das categorias externas. O

ambiente fragmentado, a estética

ao ser dito, ultrapassa o seu aqui-e-

que faz a diferença é o meio onde

adorniana anuncia a possibilidade de

agora; mas tal transcendência só é

elas se manifestam.

atualização

não-

alcançada pela arte em virtude da

de

sua tendência para a particularização

Se no âmbito da existência externa

atualizar seus próprios problemas.

radical; ao dizer senão o que pode

essas categorias são dominadoras

Exploraremos

dizer num processo imanente”.

da natureza, na obra de arte, que lida

OS

CAPOS

estético,

DE

do

FORÇA

DA

pensamento

tornando-o

capaz

aqui,

micrologicamente,

esse

entre

o

particular

e

tempo,

com

campo

se

individualizam

não

elas

e

qualitativamente

livremente,

serão

categorial, sempre na perspectiva de

Para Adorno, embora não sejam

dominadas. Nas palavras de Adorno,

sua ubiquidade com relação aos

conceituais, nem formulem juízos, as

“através

outros saberes.

obras de arte são lógicas e possuem

dominante,

uma racionalidade imanente que as

profundamente

a

identifica consigo mesmas, dotando-

natureza.”

Quais

categorias

compõem

da

dominação a a

do

arte

revê

dominação

da

constelação

negativa

da

estética

as de objetividade. No entanto, por

adorniana?

A

do

estudo

ser um processo raciocinante sem

O caráter de inelutabilidade que tais

da Teoria Estética (TE) de Adorno,

conceito e juízo, a lógica da arte é

categorias apresentam, na realidade,

agruparemos

paradoxal: ela atua sobre fenômenos

é desmascarado pela arte quando

compõem essa constelação em cinco

espírito,

elas penetram em sua interioridade.

campos, sob os quais identificaremos

portanto, já logicizados, renunciando

Ou seja, a arte revela a aparência do

as categorias concernentes a cada

aos fins empíricos.

conhecimento empírico ao mimetizar

um

partir

os

deles:

elementos

1)

campo

que

mediatizados

pelo

suas formas, submetendo-as ao seu

lógico-

epistemológico, 2) campo político-

Não é uma lógica da experiência,

domínio. Essa comunicação da arte

antropológico,

ético-

mas uma lógica que revela as

com a empiria acusa um conflito

histórico-

fraturas da lógica da experiência.

permanente

Naturalizando a lógica formal, a

puramente

lógica da arte apresenta-se como

objetivas ou, se quisermos, entre

uma

natureza,

logicidade e causalidade. Essa dupla

epistemológico constitui-se a partir

desvendando a face mítica do que se

natureza é que garantirá a relação da

do fato de que toda a experiência da

acreditava verdadeiro: “(...) na arte,

arte com o seu outro: “Nada há na

obra

esvanece-se a diferença entre as

arte, mesmo na mais sublime, que

socialmente. Mesmo a obra mais

formas

as

não provenha do mundo; nada que

hermética

formas que se abrem à objetividade;

permaneça intacto. As categorias

[nela]

estéticas devem definir-se tanto pela

pedagógico,

3) 4)

campo

campo

natural e 5) campo hermenêutico.

Para

Adorno,

de

arte

o

campo

está

posicionada

ultrapassa

fechamento

lógico-

o

seu

monadológico,

segunda

puramente

hiberna

a

lógicas

e

inseparabilidade

arcaica de lógica e causalidade.”

comunicando-se com a empiria.

por

exemplo,

em

Kant

o

conhecimento não-estético interroga-

Com efeito, o espaço, o tempo e a causalidade

são

rebatidos

lógicas

as e

as

formas formas

sua relação ao mundo como pela renúncia

Se,

entre

para

dentro da obra de arte, onde, a um

a

este.

A

arte

conhecimento em ambos os casos.”

é


Nesses termos, a arte insere-se,

conserva como aquilo que é, na sua

consonância da obra. É essencial à

criticamente,

Aufklärung,

divergência e nas suas contradições,

unidade

demolindo a ratio dominadora da

e eis porque ela é efetivamente um

estética que ela se interrompa, que

natureza. Contudo, não se trata aqui

desdobramento da verdade”.

admita a presença do seu outro,

de uma negação abstrata: a arte

Longe de confundir a forma estética

embora não se submeta a ele,

revoga,

com a forma matemática, Adorno

inserindo-o, todavia, no território da

atribui

não-violência.

na

concretamente,

violento

da

o

ato

racionalidade,

àquela

a

capacidade

forma

arregimentar

inaugura uma nova relação com os

resolvê-los, nem reconciliá-los. Como

Por esse motivo, Adorno define a

objetos, no ato da crítica; é, a um só

observa Arnold Schoenberg (1874-

forma como o elemento antibárbaro

tempo, utopia e hybris – insolência.

1951), a forma de uma peça musical

da arte. É por meio dela que a arte

indica

uma

participa criticamente da civilização.

de

organização, que ela é constituída

O não formado, o não filtrado pela

relacionamento com as coisas foi

por elementos que se movimentam,

obra é o pré-crítico. Nesse sentido é

muito bem percebido por Kant em

como um organismo vivo: “Sem

que

sua formulação do belo como uma

organização, a música seria uma

garantindo

finalidade sem fim. Kant salvaguarda

massa

objetividade da reflexão, em si, da

o belo da trivialidade, apesar de

quanto um ensaio sem pontuação,

desistoricizá-lo,

ou tão desconexa quanto um diálogo

modo

numa

sui

generis

transformando-o

quimera.

Para

Adorno,

a

finalidade imanente das obras de

que

contrários

pela

emancipando-a da empiria. A arte

Esse

os

de

estabelecida

ela

amorfa,

possui

tão

sem

ininteligível

fora,

no

a

convergem,

mediatidade,

a

obra.

Do exposto até agora, não se torna

de um argumento a outro.”

difícil compreender que o conteúdo de uma obra de arte encontra-se

A consonância da obra deve-se a

sedimentado em sua forma, ou seja,

movimento de liberação dos fins

sua forma, mas isso não a protege

a

práticos.

de

ao

sedimentado: “Tudo o que aparece

passarem para o interior da obra,

na obra de arte é virtualmente

O sem finalidade da arte é a sua

sofrem atenuações, são convertidos

conteúdo tal como forma, ao passo

aconceptualidade,

não-

em ruídos internos, ou melhor, são

que esta permanece, no entanto, o

conceito,

ou

dominados pela forma, mas não

meio de definição do que aparece e

com

outro,

crítica

num

identidade

seu

e

que saltasse despropositadamente

arte constitui-se a partir do que vem de

forma

a o

sua

ruídos

externos.

Estes,

forma

é,

em

si,

conteúdo

melhor,

sua

não-predicação

ao

suprimidos. Para José Miguel Wisnik

o conteúdo permanece o que se

sujeito.

Fiel

à

da

(1948), por exemplo, a história da

define a si mesmo.” O conteúdo pré-

diferença, as obras de arte possuem

música é a história da relação entre o

artístico, por intermédio da mediação

sua

som,

da forma, converte-se em conteúdo

própria

sua

lógica

linguagem,

uma

linguagem das coisas.

considerado

produção

de

constância, e o ruído, tomado como

estético,

perturbação relativa da estabilidade:

qualidade de conteúdo.

como se articula essa linguagem do

O

A subsistir a diferença, a forma,

ponto de vista da unidade dialética

terminantemente

de forma e conteúdo.

adotando

Tentemos,

agora,

mas

não

perde

sua

compreender som

se

produz

outros,

certos

ruídos

e

necessariamente,

submete-se

à

introduzir

mediação do conteúdo pré-artístico,

instabilidades relativas: tempos e

do qual ela se origina. No entanto, na

Para Adorno, a possibilidade da arte

contratempos, tônicas e dominantes,

obra não há mais lugar para o

está na forma, a substância de todos

consonâncias e dissonâncias (...) a

conteúdo pré-artístico ou pré-crítico;

os momentos de logicidade. A forma

música contemporânea é aquela que

tudo nela é conteúdo estético, é

é a coerência dos artefatos, que faz

se defronta com a admissão de todos

forma ou, se quisermos, conteúdo

com que toda obra bem sucedida

os

crítico que aparece enigmaticamente.

separe-se do ente: “(...) a forma

som/ruído e silêncio, pulso e não-

estética é a organização objetiva de

pulso.

materiais

para

negando

sonoros

possíveis:

Decifrar esse enigma é decifrar o

tudo o que, no interior de uma obra

conteúdo de verdade da obra, e para

de arte, aparece como linguagem

Esses

estranhos

Adorno, é esse o papel da reflexão

coerente. É a síntese não violenta do

permanecem com a sua estranheza,

filosófica. Aprofundaremo-nos sobre

disperso

não

esse ponto quando tratarmos do

que

ela,

no

entanto,

elementos

se

harmonizando

com

a


campo

hermenêutico.

objetos ao seu projeto de mundo. De

Observa Adorno que Kant atribui,

doravante, no domínio da relação

outra

erroneamente, um caráter subjetivo

sujeito-objeto

mundo

na

Entremos,

Teoria

estética;

parte, é

acreditando o

que

produto

de

o

uma

ao

sentimento

estético,

para encaminharmos a discussão,

consciência que se reconhece em

contaminando-o com as emoções

contaremos com a contribuição do

suas criações objetivas, o sujeito

psicológicas imediatas, que excitam

texto de Martin Jay, Sujeito-objeto,

idealista traga os objetos, coagindo-

o prazer ou o desprazer.

uma relevante interpretação acerca

os a afirmá-lo. Em ambos os casos,

da Teoria estética de Adorno.

o que se percebe é a rejeição à

Assim,

diversidade do mundo natural.

capacidade

Segundo

Jay,

o

termo

sujeito,

Kant

estética

desconhece

que

possui

a de

a

experiência modificar

a

utilizado por Adorno, significa tanto o

Ao rejeitar os dois modelos, Adorno

experiência real. Ora, o sentimento

indivíduo

a

propõe a preponderância do objeto.

estético resulta da objetividade; é

não

Todavia, não é por meio de um

mais espanto do que prazer, o

podemos fazer referência ao nosso

retorno ao estado natural que a cisão

espanto

ego individual prescindindo de um

sujeito-objeto deve ser superada,

dominado pelo ininteligível, pelo não-

conceito.

mas por meio da comunicação entre

idêntico. A respeito da relação de

um e outro, conditio sine qua non da

não-identidade entre sujeito e objeto,

Paradoxalmente, poderíamos afirmar

realização da paz na diferença, em

é ilustrativa a passagem de Rainer

que o sujeito também é o objeto, o

que cada elemento distinto participa

Maria Rilke (1875-1926) acerca da

que, desde Descartes, não se admite

do outro.

obra de Auguste Rodin (1840-1917):

na

que

Nesses termos, o propósito de um

insiste na separação radical entre

pensamento crítico não seria o de

Quando vem a primeira inspiração de

esses dois termos. Não obstante, tal

entronar o objeto em detrimento do

um tema, quando uma lenda da

separação é verdadeira, ao atestar a

sujeito, mas abolir a hierarquia entre

Antigüidade, um poema, uma cena

atual dicotomia da condição humana,

eles,

histórica desencadeiam a criação,

e falsa, ao hipostasiar-se numa

Entenda-se,

invariante: a separação é, ao mesmo

preponderância do objeto o processo

trabalho de Rodin, se traduz em algo

tempo, real e ilusória – é real quando

de

cada

descreve

sujeito. Sem dúvida, é na experiência

objetivo: na transferência para a

estética

linguagem das mãos, as exigências

consciência

particular em

geral,

epistemologia

e

quanto pois

ocidental,

ilusória

quando

prescreve.

emancipando

sua

ensaio Para Jay, Adorno admite a cisão

a

diferença.

portanto,

desidentificação

que da

por

com

observaremos

peculiar

o

um

reconciliação

epistemológica supracitada.

esse

do

de

um

elemento,

vez

tema

mais

ser

no

totalmente

começo

não-nomeado

assumem

um

do

e

sentido

totalmente novo ligado à realização da escultura.

como uma verdade descritiva e não normativa,

Na Teoria estética, Adorno emprega

premissa

a expressão sujeito-objeto de modo

Por sua vez, apesar de ter ressaltado

dialético, ou seja, tendo em vista que

o momento da objetividade, em

necessariamente um dever-ser, em

o sujeito é sempre já objetivo. A

oposição a Kant, Hegel subsume a

estado latente, na descrição dialética

subjetividade coletiva e individual

objetividade da coisa à objetividade

do ser. Para Adorno, o todo não é o

sofre a contra-atração do objeto; por

do espírito absoluto, permanecendo

que

Por

isso a afirmação de Adorno: “em toda

na afirmação da identidade.

conseguinte, a verdade normativa só

a obra de arte ata-se o nó do

pode ser encontrada nas ruínas de

universal e particular.”

como

verdade

desconsiderando hegeliana

deve

a

de

ser;

que

é

o

falso.

As estéticas subjetiva e objetiva, enquanto pólos contrários, expõem-

uma realidade que escape ao poder Na Crítica do juízo Kant pressentira

se igualmente à crítica de uma

esse fenômeno como um problema.

estética dialética: aquela, porque é

o

O belo não se define pelo conceito,

abstrata

idealismo expressam filosoficamente

pois é o que agrada universalmente,

contingente, segundo o gosto do

o momento da dominação do objeto

sem conceito. Kant sofre uma contra-

indivíduo - esta, porque desconhece

pelo sujeito. Travestido de uma

atração irresistível do objeto em sua

a mediatização objetiva da arte pelo

aparente passividade e neutralidade,

última

o sujeito positivista submete os

amarrado

totalitário dessa totalidade vigente.

Tanto

o

positivismo

quanto

Crítica, à

e

transcendental

ou

mas

permanece

sujeito. Na obra, não é o sujeito nem

lógica

discursiva.

o contemplador, nem o criador, nem


o espírito absoluto, mas antes o que

um

está ligado à coisa (Sache) (...).(grifo

Natur).

pedaço

de

natureza

(stück

intelectual postulado por Adorno esse privilégio imerecido de poucos,

nosso)

de não se acomodar às normas Ademais, para atingir a felicidade

vigentes - não se confunde com

sujeito

sensual (sinliche Glück), objetivo da

elitismo,

expresso

sociedade, o conhecimento deve não

conflitos de classe. Citemo-lo em sua

objetivamente. E é com base nessa

do

própria defesa: “Nada casa menos

constatação que penetraremos nas

sofrimento humano, como afirma

con la experiencia filosófica que una

linhas do campo de força político-

Horkheimer, mas assumir seu caráter

soberbia

antropológico,

somático.

Morss

filosófica es posible gracias a lo

acerca do papel do indivíduo como

identifica em Adorno a influência de

estabelecido, y tiene que rendir-se

sujeito da experiência.

Walter Benjamin (1892-1940), para

cuentas de su contaminación con ello

quem o pensamento é inseparável

y en último término con la situación

do mundo sensível.

de las clases sociales.”

em sua Origen de la dialéctica

Contudo, Adorno não se questiona

Na Teoria estética, a arte representa

negativa,

acerca da origem de classe ou da

um modelo de práxis objetiva, na

posição particular do sujeito dentro

medida

das relações sociais de produção.

implacavelmente a crítica radical ao

procura

Para ele, tanto a burguesia quanto o

real, contribuindo para a liquidação

redimir o conceito de indivíduo,

proletariado podem ser igualmente

do

recuperando-o

portadores

falsa

perceber os seus limites e sua

individualismo burguês. Em lugar de

totalidade, apostando, todavia, na

finitude. Esse abalo não conduz ao

uma

da

capacidade do indivíduo em resistir à

enfraquecimento do eu, promovido

como

identificação com o status quo, por

preponderantemente pela indústria

meio

cultural. Enquanto esta última o

A

coisa,

portanto,

é

sedimentado,

questionando-nos

Acompanhemos,

inicialmente,

os

reconhecer

a

realidade

Nesse

ponto,

nem

é

indiferente

elitista.

La

aos

experiencia

comentários de Susan Buck-Morss,

para,

em

seguida,

retornarmos à Teoria estética.

Segundo

Morss,

Adorno

do

naufrágio

concepção

consciência

desenvolve

marxiana

de

experiência

do

classe

política, uma

Adorno

concepção

o

conceito

em

vista

fazê-lo

consciência individual como sujeito

experiência em Adorno não inclui,

a arte insere o eu na mais extrema

da

nem sequer supõe uma teoria da

tensão: a tensão entre o que é e o

regressa a Kant, fazendo eco ao

intersubjetividade,

a

que pode ser. E é aí que reside o

apelo de Ernst Bloch de manter a

verdade objetiva não depende do

engagement imanente da arte: “A

atualidade de Kant através de Hegel.

consenso subjetivo.

dialéctica do elemento social e do

Ele

Morss,

cognitiva.

tendo

exerce

aprisiona pela mitificação do prazer,

cognitiva.

Segundo

experiência

da

eu,

que

de

experiência

da

da

ideológicos

em

visto

que

Se, para Kant, o sujeito não pode

em-si das obras de arte é uma

pretender experimentar o objeto em

Com efeito, Adorno faz duo com

dialéctica da sua própria natureza, na

si, senão por meio de formas e

Benjamin:

medida em que não toleram nenhum

categorias

subjetivas,

tratando

o

elemento

se

Adorno a relação inverte-se: o objeto

cualquiera no es el criterio de lo

exterior que não seja portador da sua

recupera sua órbita em torno do

verdadero. Ahora que todo paso

interioridade

sujeito,

revolução

hacia la comunicación vende y falsea

verdade.”

copernicana de Kant e remetendo o

la verdad, es preciso resistir a la

sujeito

coacción casi universal que hace

Adorno

confundir

à

experiência

da

não-

identidade.

lo

conocido

con

a

não

La

a

comunicabilidade

que

objeto como idêntico ao sujeito, para

sublevando

imediata

interior

su

exteriorize,

e

nenhum

-

do

o

artista

trabalhador

e

não

elemento

conteúdo

como como

de

um um

comunicación e incluso poner a ésta

interlocutor da mensagem. Estar,

Ao rechaçar a idéia de um sujeito

por encima. Todo lo que es lenguage

portanto, diante do material é estar

transcendental,

padece

diante

experiência

o

sujeito

filosófica,

da

Adorno

vislumbra um ser humano empírico, material

e

transitório,

um

entre

tanto

bajo

esta

um

problema

a

ser

paradoja. La verdad es objetiva y no

resolvido e cuja solução encontra-se

plausible (grifo nosso)

potencialmente no próprio material: “Se ao utensílio se chamou um braço

corpo

humano que sente ou, se quisermos,

de

No entanto, ao contrário do que

prolongado, poder-se-ia chamar ao

possa

artista

parecer,

o

inconformismo

um

utensílio

prolongado,


utensílio

de

passagem

da

de arte devem surgir como se o

de descobrir as soluções. Com isso,

impossível fosse possível.”

o conceito de fantasia adquire, em

Em sua concepção minimalista do eu

Adorno, o estatuto de uma categoria

Nesse sentido, o verdadeiro sujeito

privado, Adorno critica o conceito

diferencial da liberdade em meio da

da obra não é quem a produz ou

idealista de gênio, que faz coincidir o

determinação.

quem a recebe, mas quem fala por

indivíduo com um sujeito absoluto,

intermédio dela. O eu latente é

tornando

imanente à coisa, que se expressa

particular

na forma da obra. O eu do artista

sociedade. No entanto, Adorno tenta

força

está para o eu da coisa, assim como

redimir

gênio,

que sim, desde que consideremos

o particular está para o universal. A

iluminando-o a partir da coisa. Genial

que a obra de arte, para Adorno,

força que faz com que o eu privado

é o instante em que a participação da

possibilita

se exteriorize no objeto é a essência

obra de arte na linguagem abandona

transgressão do ente, ao ensaiar a

coletiva, que sobrepuja esse eu.

a

configuração de um não-ente.

Como nota Marc Jimenez:

contingente: “O genial é um nó

potencialidade à atualidade.”

também e

o

absoluto

desviando-o

conceito

convenção

e

de

ressalta

o

É possível localizarmos na Teoria

da

estética as linhas de um campo de

o

ético-pedagógico?

o

Julgamos

aprendizado

da

dialético: o não rotineiro, o não

Ao estabelecer uma distância entre o

A individuação, no sentido em que o

repetido, o que é livre, o que

espectador e o objeto, a experiência

sujeito

simultaneamente

o

estética exige a autonegação do

da

sentimento do necessário, a pirueta

espectador, o que a caracteriza

tendência social geral, não entra em

paradoxal da arte e um dos seus

como um movimento contrário ao

contradição com a objetivação. O

critérios mais fidedignos.”

sujeito: “(...) a experiência estética

é

antes

Gesamtsubjekt,

de

tudo

representante

traz

consigo

indivíduo, por sua imersão em si

(...) desfaz o sortilégio da estúpida

próprio, registra o sofrimento do

Contudo, a tensão existente entre o

autoconservação,

mundo alienado, que só se traduz

livremente inventado e o necessário

estado de consciência em que o eu

pela forma, porque é graças a ela

faz com que o genial permaneça

deixaria de ter a sua felicidade nos

que a arte transcende o sujeito

paradoxal

seus interesses, por fim, na sua

implicado na sociedade.

possibilidade presente da catástrofe,

e

precário:

“Sem

a

modelo

de

um

reprodução.”

nada é genial nas obras de arte.” A

esse

encontro

dialético

do

Assim, a arte é uma linguagem do

particular com o universal é que

Adorno também submete à crítica o

sofrimento,

Adorno atribui o caráter linguístico da

conceito

definida

nossas misérias, ao mesmo tempo

obra. Em verdade, o trabalho da obra

tradicionalmente como a capacidade

que inventa a novidade, a utopia.

de arte é social, manifestado por

de produzir um determinado ente

Aliás,

intermédio do indivíduo, mesmo que

artístico, a partir do nada. Ora, se as

sociedade, a arte é uma forma de

este não tenha consciência disso.

obras se opõem ao existente é

práxis, um modo de conduta. Para

porque a imaginação o rejeita a partir

Adorno a práxis não está no efeito de

Aliás, quanto menos consciente for,

dele. Não há creatio ex nihilo na arte:

prazer que as obras possam gerar no

maiores as chances de o Outro se

“Somente mediante o ente é que a

indivíduo, mas no seu conteúdo de

expressar. Ou seja, o indivíduo é o

arte se transcende em não-ente; de

verdade.

mínimo que a obra precisa para

outro modo, ela torna-se a projecção

cristalizar-se, pois o que fala por

impotente do que de qualquer modo

Se a arte participa da moralidade,

meio da obra é um nós e não um eu,

é.”

não é por meio da promulgação de

de

fantasia,

não um nós unívoco, de posição

um

como

testemunho

antítese

social

da

máximas morais, nem pela obtenção

social ou de classe determinada,

Ao considerar o artista como um

de

mas um nós cindido. Assim, ao

trabalhador, Adorno não separa a

receptores,

mas

mesmo tempo que testemunha o

fantasia do trabalho de reflexão.

brutalidade

perante

irreconciliável,

antagonismos

Nesses termos, a separação teórico-

negando,

sociais, a arte tende à reconciliação,

cognoscitiva entre a sensibilidade e o

brutalidade

apontando para um sujeito e uma

entendimento é refutada pela arte.

homens/mulheres.

sociedade não existentes: “as obras

Se uma obra envolve um conjunto de

os

de

problemas, a fantasia é a faculdade

efeitos

morais

por

nos

por

seus

negar as

coisas,

conseguinte,

para

com

a

a os


Podemos, portanto, falar de uma

são

a

a respeito da religião em sua crítica à

racionalidade

consciência

progressista

é

filosofia

assegura

da

podemos dizer que a miséria da arte

a

atualidade dos problemas colocados

é, de um lado, a expressão da

entendimento,

nos materiais. Assim, o métier é

miséria real e, de outro, o protesto

inaugura uma nova relação com os

concreto, pois é o exercício de

contra a miséria real. A arte é o

objetos, instituindo a diferença na

ultrapassagem

dos

suspiro da criatura aflita, o estado de

identidade.

procedimentos

arte

ânimo de um mundo sem coração,

domina a técnica ao penetrar no

porque é o espírito da situação sem

da

desconhecido e rejeitar o status quo,

espírito. A arte é o ópio do povo. É

racionalidade da arte na moralidade

ensaiando soluções que tomem por

ópio por revelar a tensão entre o real

só se dá por meio da recusa. A forma

base

e o imaginário, encenando a utopia.

é o selo de um trabalho social que

administrado.

estética,

racionalidade

crítica,

derrubar

fronteiras

as

sensibilidade

Todavia,

e

a

o

uma

porque, entre

participação

ao

colocados.

aquela

Na

mais

que

as

se

arte,

permanente técnicos.

tensões

A

do

mundo

seleciona, amputa e renuncia os

do

Direito

de

Hegel,

A tensão entre utopia e possibilidade

seus materiais: “A arte cai no pecado

Adorno

define

o

comportamento

imprime-se

do vivo a fim de o trazer à linguagem,

estético

como

a

capacidade

de

inserindo-as na catástrofe da qual

e o mutila.”

perceber nas coisas mais do que

elas próprias dão o testemunho,

elas são, o corretivo perfeito da

mediante sua efemeridade. Por isso,

Desse modo, prolonga-se na arte a

consciência reificada. Também o

Adorno utiliza-se da alegoria do fogo

dominação que ela própria critica.

define, em última análise, como a

de artifício para falar da verdade da

Imersas num mundo contraditório, as

capacidade de estremecer-se diante

arte. O fogo de artifício é uma

obras de arte estão fadadas ao

do não-idêntico ou da subjetividade

aparição empírica liberta do peso da

declínio.

que

Esse

empiria, bem como da duração, do

são

estremecimento ocorre quando o ser

tempo administrado; é um sinal

heteronomicamente

dependentes,

é tocado pelo outro, momento de

produzido

mas

sua

objetivação da subjetividade, ponto

configurando uma escrita ao mesmo

constituição autônoma condensam

de

tempo fulgurante e fugidia, que não

os antagonismos: “Ao seu próprio

conhecimento.

se permite à significação.

Enfim, a arte é um fenômeno ético-

De sorte que a verdade da arte,

pedagógico

que

como aparição, não é passível de

Seu caráter pedagógico emerge em

apresenta um conteúdo de verdade.

troca, pois não é um equivalente,

razão do métier artístico ser uma

A obra de arte constitui-se como um

uma generalidade vazia que a tudo

revolução permanente do estado das

ser à segunda potência no processo

nivela, nem algo inerte que possa ser

forças produtivas estéticas; é disso

de separação crítica da empiria,

substituído por outra coisa. Sua

que depende a possibilidade da arte:

quando reinstitui em território próprio

verdade é a diferença, é o infungível.

“Não se pode decidir a partir de cima,

a relação do todo com as partes.

Assim como o fogo de artifício não

segundo o critério das relações de

Desse ponto de vista, a obra pode

permanece, também as obras de arte

produção, se a arte é hoje ainda

ser compreendida como um ente

não

possível. A decisão depende do

empírico

confessando-se

estado das forças produtivas.”

misérias.

social,

Inserem-se não

porque

em

na

tragédia

porque

própria

ainda

não

encontro

entre

é.

eros

e

o

nas

de

obras

de

uma

arte,

vez,

conceito está mesclado o fermento que a suprime.”

na

medida

emancipado

em

de

sua

promessa,

incapazes

de

como

convocar o não-ente que anunciam

linguagem do não-idêntico, as obras

para a existência. Elas interiorizam

Para não estagnar, ou sucumbir à

de arte são vivas: “a arte é o mundo

em si os antagonismos sociais, bem

técnica,

uma vez mais, a ele tão semelhante

como a cisão histórica de sujeito e

como diferente.”

objeto,

os

artistas

não

podem

menosprezar o estado atual dos

Consideradas

suas

garantem

materiais, pois é neles que a história

para

comburentes a

explosão

aparência,

Se a arte promete o que não é, no

momento

extrair o conteúdo de verdade da

entanto, no ato de sua aparição,

essência do que aparece, quando se

obra. Adorno concorda com Marx

anuncia

exterioriza

quando este assevera que cada

possibilidade

promessa.

rebentando o invólucro da empiria.

época resolve os problemas que lhe

Parafraseando o que Marx escreveu

Por meio do seu próprio sacrifício, as

da

a

o

que

da

sedimenta-se; é deles que se deve

objetivamente

em

necessários

seu

se

grito

liberta

a

interior,


obras

de

arte

antecipam

apocalipse66,

crendo

o na

possibilidade do impossível:

por meio das obras e não de acordo

submetida a natureza material; os

com

princípio

fenômenos “naturais” do presente,

as

por sua vez, não se identificam com

qualquer

tipo

transcendente.

de

Ademais,

leis

formais do passado não devem servir

o

A pesar de que la sociedad exige

de parâmetro para a criação do

realidade essencial, por terem sido

moralidad, ésta sólo puede existir

presente.

produzidos

realmente en una sociedad liberada;

conceito

de

natureza

como

historicamente.

Considerando

essa

interrelação

dialética,

uma,

en la sociedad socializada no hay

Ao

individuo que pueda ser moral. La

vislumbra na revolução proletária a

podem adquirir o estatuto de um

única moral aún posible es terminar

possibilidade de restabelecimento da

primeiro princípio ontológico.

de una vez com la mala infinitud, el

totalidade perdida, de reconciliação

canje atroz de represalias. Hasta

entre sujeito e objeto, Adorno insiste

Ao desmitificar tais idéias, Adorno

entonces el individuo

puede

na negação da identidade entre

libera o presente do fatalismo ou da

disfrutar de outra moralidad que la

razão e realidade: a história é

necessidade,

absolutamente despreciada por la

descontínua, não é uma totalidade

possibilidade

ética kantiana, cuando a los animales

estruturada. Assim, Adorno rejeita a

“progresso”

les concede inclinación, pero no

concepção

história

progressiva, sendo a verdade da

respeto: la de intentar vivir de modo

como identidade entre o racional e o

obra de arte estreitamente ligada a

que se pueda creer haber sido un

real,

sua própria decadência.

buen animal.

interpretações

no

contrário

de

Lukács

hegeliana

bem

da

como da

que

todas história

as

nem

nem

outra,

recuperando da

a

catástrofe,

como

do

desintegração

como

progresso.

Ao estabelecer o presente como

Ingressemos, agora, nas linhas do

ponto de referência, Adorno busca

campo histórico-natural, valendo-nos

Segundo Morss, Nietzsche já alertara

evitar, ao mesmo tempo, a metafísica

mais uma vez de Morss, mais

sobre

e o relativismo históricos. Não é o

exatamente do capítulo em que ela

interpretações,

a

presente que obtém seu significado

comenta a dialética sem identidade,

racionalização do sofrimento. Adorno

da história; é a história que é

com base na idéia de história natural

expressa a mesma crítica, ao afirmar

significada

de Adorno. Segundo a autora, foram

em sua conferência inaugural, Die

aduz Morss: “Si los historicistas

os estudos musicais de Adorno que o

Aktualität

Philosophie,

relativizaban el presente al situar los

conduziram

da

apresentada em 1931 na faculdade

fenómenos cotidianos dentro de un

dimensão histórica de um modo

de filosofia de Frankfurt, que a razão

desarrollo

muito

não pode surgir de uma realidade

procedimento de Adorno era inverso:

estruturada pelo irracionalismo.

el presente relativizaba el passado.

a

refletir

peculiar.

acerca

Para

Adorno

a

música, por ser uma arte temporal, é

o

perigo por

der

dessas

buscarem

marcada pela irreversibilidade de seu

pelo

presente.

histórico

Como

general,

el

La historia cobrava sentido sólo en

a

Ora, se a história não tem razão, não

tanto se manifestaba como “historia

desenvolver-se a si mesma. Ou seja,

há que se falar de uma filosofia da

interior” dentro de los fenómenos

a obra contém uma historicidade que

história. Segundo Morss, história e

presentes”.

lhe

natureza são, para Adorno, opostos

história participa da constelação da

dialéticos, utilizados como conceitos

verdade, é sem nenhum propósito de

cognitivos,

salvação

movimento,

é

que

a

imanente,

compele

reflexo

das

condições históricas objetivas.

isto

é,

graças

a

à

imortal, a forma musical insere-se

mutuamente: a natureza revela a

num tempo próprio, é concreta e

não-identidade entre o conceito de

transitória, não obedecendo a leis

história e a realidade histórica, ao

A inversão da relação entre presente

eternas

passo que a história desmitifica o

e

conceito de natureza.

denomina de revolução copernicana

Por

exemplo, SCHOENBERG tinha isso

criticam

permanente,

se

reguladoras

composição.

se

idéias

modo,

Ao invés de atemporal, abstrata e

de

que

como

Desse

bastante claro quando deflagrou o processo

ruptura

com

precariedade da verdade.

passado

é

o

que

Benjamin

do enfoque histórico. Para enfocar o

a

Ou seja, a história real passada não

presente, entretanto, impõe-se não

as

se identifica com o conceito de

apenas analisar dialeticamente a

pretensas “leis naturais” da música;

história como progresso racional, em

relação entre os conceitos de história

segundo ele, a arte desenvolve-se

razão

e natureza, mas também verificar a

tonalidade,

de

vulnerabilidade do presente e à

desmitificando

da

violência

a

que

foi


dialeticidade em si, imanente em

das convenções burguesas, o mundo

original, não devendo ser definida

cada conceito.

alienado.

dogmaticamente: “a arte tem o seu conceito

Acompanhemos,

comentários de Morss acerca da

histórica

historicamente.”

conferência de Adorno Die Idee der

“natural”,

Naturgeschichte, a fim de apreender

“dada”, é preciso que se dirija o

Por essa razão, não há que se falar

um

enfoque ao momento da produção

das primeiras obras de arte como as

social daquele fenômeno, revelando

mais elevadas ou as mais puras,

assim o seu caráter de segunda

crença atribuída por Adorno a um

A história possui um significado

natureza, histórico, já que produzido

romantismo

positivo e um negativo. O positivo é a

pela má infinitude ou falsa totalidade.

desprende de uma certa nostalgia da

riqueza

do

os

seu

enfoque.

práxis

social

dialética,

do

que

aparece

como

uma

como

que

se

de

momentos

da

seguir,

constelação

Portanto, para se revelar a dimensão

pouco

a

na

transformam

realidade

um

tardio,

que

não

se

origem. A arte deve ser captada em

comportamento social que aponta

De outra parte, se quisermos evitar o

para o qualitativamente novo; quanto

encantamento

ao negativo, está presente na não

necessário que ela seja interpretada

Parafraseando

historicidade de uma práxis que

do

primeira

disparara contra a filosofia tradicional

apenas reproduz as condições e

natureza, do sofrimento do mundo

ao afirmar que também pode ser

relações de classe.

sensível, do contingente.Por isso,

verdadeiro mesmo aquilo que foi

segundo Benjamin, a história deve

sujeito do devir, Adorno afirma que a

Do mesmo modo, a natureza possui

ser tratada como alegoria, que é a

verdade só existe como o que esteve

um

exposição simbólica da história como

em devir. Ou seja, as obras de arte

quando se refere a entes concretos,

tragédia,

ou,

só adquirem identidade no processo

individuais, mortais e transitórios, no

segundo Adorno, como o modo mais

de negação permanente de sua

momento em que o natural dá corpo

adequado de retratar a verdade

origem. A arte determina-se, pois, na

à

numa época de decadência histórica.

relação com o que ela não é: “O

apresenta-se naquilo que ainda não

Tanto

segunda

carácter artístico específico que nela

foi incorporado à história, no que

natureza como o conceito alegórico

existe deve deduzir-se, quanto ao

ainda não foi penetrado pela razão.

de história têm o mérito de revelar a

conteúdo, do seu Outro; apenas isto

Aqui, a natureza é o que se repete, é

transitoriedade da realidade material.

bastaria para qualquer exigência de

o mítico.

E é justamente esse momento de

uma estética materialista dialética.”

pólo

positivo,

história.

Seu

materialista,

pólo

negativo

ponto

o

de

da

história,

vista

como

da

sofrimento,

conceito

de

seu movimento, em seu devir.

é Nietzsche,

que

transitoriedade que faz convergir, Eleger um ou outro desses conceitos

mais

intensamente,

como primeiro princípio ontológico

história.

natureza

e

Mas como fica a relação da arte com a tradição, já que esta não deve ser

implicaria na perda do seu duplo

parâmetro para aquela? Ora, para

caráter, inibindo a crítica e, por

Retornemos à Teoria estética com o

Adorno a tradição não deve ser

conseguinte, justificando a ordem

intuito de perceber como a obra de

negada de maneira abstrata; ela

social dada. O procedimento de

arte

desses

deve ser criticada com base na

Adorno é o de, ao mesmo tempo,

conceitos cognitivos de história e

situação presente. Em verdade, é o

desconstruir a história como natureza

natureza,

realiza,

presente que constitui o passado,

e reconstruir a natureza como ente

concretamente, por meio de sua

como já tivemos a oportunidade de

histórico.

efemeridade, o encontro dialético

discutir.

Mas

como

“desencantar” natureza

e

procedermos os

conceitos

história?

Para

para

comporta-se

diante

que

ela

aqui referido.

de isso,

O tempo não é critério absoluto para Um

importante

aspecto

a

ser

a crítica, seja porque não devemos

Adorno cria mais dois pares de

destacado é o problema da origem.

aceitar algo só pelo fato de ter

conceitos, a saber, o de primeira

Para Adorno, a essência da arte não

validado alguma coisa no passado,

natureza, para se referir ao mundo

é dedutível de sua origem; não há

seja porque não devemos eliminar

sensível, definido como a natureza

um fundamento primeiro sobre o qual

nada

concreta e particular, e o de segunda

a história da arte sustente-se. A arte

contemporaneidade.

natureza, para se referir ao mundo

não é corolário de nenhum axioma

por

não

participar

da


Por conseguinte, a novidade, nem

possibilidade real da utopia (...) se

O que Hegel não percebera é que a

deve

conjuga, num ponto extremo, com a

incapacidade das obras, no período

possibilidade da catástrofe total.”

romântico, de refletir o conteúdo de

aprisionar-se

tombando

ao

passado,

da

máxima

diante

conformista a enunciar que “tudo já foi

feito”,

nem

absolutamente, invenção

a

contrário,

o

negá-lo

Vejamos em que medida podemos

era mais que o reflexo do fracasso

numa

falar de progresso na arte, já que seu

do

conteúdo

escândalo da particularidade.

fiando-se

partir do novo

“verdade” do espírito absoluto não

nada.

possui

Ao sua

de

verdade,

do

qual

próprio

espírito,

perante

o

depende sua qualidade, é histórico.

especificidade, bem como o seu

Investiguemos

agora

a

relação

conteúdo de verdade próprio, ao

Mais uma vez, o tempo, como

dialética existente entre natureza e

articular objetivamente o indivíduo e

categoria externa às obras, não é o

história, com base nas idéias de belo

a sociedade diante da problemática

critério

natural e belo artístico.

mais atual.

subsumir seu conteúdo de verdade e

sob

o

qual

devam

se

sua qualidade. Isso porque a história

Adorno ensina que o belo natural,

Ao deslocar toda a dor cósmica

é imanente às obras e não um

objeto da Crítica do juízo de Kant, foi

(Weltschmerz) para o inimigo, a

destino exterior que as sobrepuje.

recalcado pelo conceito hegeliano de

saber, o próprio mundo, o novo

Segundo Adorno, a historicidade do

belo artístico. Refletir sobre ele é,

“a

conteúdo de verdade é concedida

portanto, tocar numa ferida, o que

vista

pela objetivação, nas obras, da

reveste esta reflexão de um caráter

consciência verídica.

inalienável na teoria da arte, muito

aparenta-se nouveauté,

a

com do

morte,

ponto

de

estético, é um produto do devir”, um devir concreto que brota da própria

embora a temática possa parecer

coisa como história sedimentada; um

Ora,

diante

do

crescimento

devir da diferença. Daí que a arte

potencial de liberdade no curso do

deve e pretende ser utopia, mas

mundo, a consciência verídica nada

Não obstante, se o conceito de belo

apenas à medida que negue o

mais é do que “a consciência mais

natural desapareceu da estética, foi

existente a partir dele.

progressista das contradições, no

em razão da dominação crescente

horizonte

do conceito kantiano de liberdade e

da

sua

possível

reconciliação.”

a

dignidade humana, segundo o qual

criança que busca no piano um

consciência do problema, que se

“nada no mundo se deve respeitar, a

acorde nunca ouvido. No entanto, tal

aloja no estado atual das forças

não ser o que o sujeito autônomo a si

acorde já se encontra no teclado,

produtivas estéticas, no material,

mesmo deve.”

sendo limitadas as possibilidades de

onde a história se condensa. Por

combinação, que serão buscadas por

esse motivo, podemos nos referir às

Para Adorno, o que aqui aparece

meio da experiência. A se considerar

obras

como verdade de uma liberdade para

o exemplo, é curiosa esta afirmação

inconsciente,

de Adorno: “o Novo é a nostalgia do

permanente

Novo”, que aponta para o devir e a

sociais.

das

obras,

seja,

como

é

monótona e arcaica.

Adorno sugere o exemplo de uma

indefinibilidade

Ou

do

historiografia

como dos

atualização antagonismos

si

é,

ao

mesmo

tempo,

uma

inverdade, a saber, a servidão para com o outro. Entretanto, se o ato de

bem

imputar o belo à natureza atende à

como, em razão das mudanças de

Nesse

qualidade, para a descontinuidade na

considera haver tanto e tão pouco

perseguir o não-idêntico, tragando-o

história da arte.

progresso

na

em nome do auto-engrandecimento

sociedade95. Para Adorno, o mérito

do animal-homem e colocando o

Todavia, não há que se condenar a

da Estética de Hegel foi o de ter

homem acima da animalidade, ele

arte

percebido o momento histórico da

carrega consigo, na mesma medida,

condições de realizar a utopia; afinal,

arte

a crítica ao fabricado, ao útil, ao

não é outro o dilema da teoria, tão

desdobramento da verdade, muito

impotente

“Pela

embora ele tenha circunscrito essa

recusa intransigente da aparência de

verdade no cânone da antiguidade,

De certa forma, o sentimento do belo

reconciliação, a arte mantém a utopia

refreando

natural canaliza o sofrimento do

no seio do irreconciliado, consciência

progresso artístico.

por

ela

quanto

não

apresentar

aquela:

autêntica de uma época, em que a

sentido

é

na

como

arte

o

a

que

Adorno

como

momento

possibilidade

do

do

necessidade

do

idealismo

de

descartável.

sujeito diante de um mundo pronto e instituído.

Nesses

termos,

Kant


repete a crítica de Rousseau. Ora, o

hoje se chama sentido participa

ultrapassam

belo natural aparece aqui como

desta monstruosidade”.

imediatamente,

crítica à civilização, ao modo como

fetiche,

o

à

objeto

dado

amarrando-se

forma

ao

reificada,

em

ela se relaciona com os objetos. A

O silêncio é a linguagem da natureza

detrimento da natureza social da

contemplação

e

a

coisa,

a

Segundo ele, o particular deve ser

o

relacionado dialeticamente com a

indefinível e do inútil. Nesse contato,

sortilégio da identidade universal.

totalidade, pois o objeto é mais do

o sujeito não se afirma, não se

Contudo, é somente por meio da

que

consola, não se autoconserva: ele se

mediação do que já é mediatizado na

conseguinte, o geral encontra-se

aterroriza perante o não-dominado.

arte que conseguiremos escutar esse

dentro

silêncio

essa

particular e a verdade habita o

Isso posto, a arte, o belo artístico,

segunda reflexão é o papel de uma

aparentemente mais insignificante,

não é a natureza, mas almeja manter

filosofia que anseie manter suas

atípico ou estranho.

o que ela promete ao traduzi-la in

promessas.

desinteressada

das

a

obra

imagens da natureza coloca o sujeito

linguagem

diante

lembrança

do

desconhecido,

do

de

arte

torna-se

desse da

silêncio,

diferença

imanente.

sob

Operar

effigie; as características do belo

foi

criticada

o

objeto

das

Essa

por

Adorno.

mesmo.

Por

características

propensão

à

do

análise

natural migram para a arte. Podemos

Mas como nos abandonaremos ao

microcósmica é uma herança de

compreender esse movimento como

objeto, em busca do seu enigmático

Benjamin,

a passagem do imediato para o

conteúdo de verdade, por meio do

atribuía

uma

mediato ou, se quisermos, como a

conceito? Guiemo-nos, finalmente,

percepção

para

liquidação

rumo às poderosas linhas do campo

inusual e o não-esquemático. Ao

de força hermenêutico da Teoria

utilizar-se

estética

de

microscóspica como ferramenta para

natural

verificarmos seu emprego na análise

o conhecimento filosófico, Adorno

enquanto conceito fixo, redefinindo-o

das obras de arte, mais uma vez são

aspira à dissolução da aparência

como

oportunos os comentários de Morss

reificada,

Verlaine afirma, para seguir um

acerca

significação do objeto.

exemplo do próprio Adorno, que o

desintegração.

do

mito,

isto

é,

da

natureza como destino.

Adorno

critica

o

histórico.

belo

Assim,

quando

de

Adorno.

dessa

Antes

lógica

da

mar é mais belo que as catedrais, está

afirmando

Ernst

extraordinária o

individual,

dessa

na

liberar

a

contingência,

todavia,

convencional, conforme o mar esteja

por Benjamin, responde ao dilema da

dimensão utópica. Com efeito, nessa

ou não integrado ao circuito das

filosofia burguesa de enaltecer o

abordagem, o particular não constitui

mercadorias.

universal, o necessário, o conceitual

um caso do geral; como as mônadas

e rejeitar o particular, o contingente,

de Leibniz, cada particular é único,

Transparece, aqui, a não-identidade,

o carente de conceito, com uma

contendo, ao mesmo tempo, uma

o primado do objeto na experiência

guinada rumo ao objeto, ao particular

imagem do todo ou, como quer

subjetiva. Logo, podemos asseverar

concreto. Isso, porque, para ele, a

Benjamin, uma imagem do mundo.

que, para Adorno, a arte, ao invés de

autonomia da razão, tese de todo

Ora, à medida que o particular é

imitação da natureza, é imitação do

sistema idealista, que se supunha

transitório e resiste à categorização,

belo natural; um belo natural como

capaz de desenvolver o conceito de

desafia a estrutura social burguesa,

história

devir

realidade com base em si mesma,

que expressa a seu modo.

indeterminado,

não tem mais sua razão de ser.

interrompido, e

como

negativo:

um

belo

natural em si, que se recusa à comunicação:

“A

dignidade

Realidade

e

razão

não

se

harmonizam.

também

o

mirada

intentando

perder-se

Bloch

Segundo Morss, Adorno, influenciado

suspensa,

negando

quem

o

indefinível

ou

Esse

a

Segundo

Morss,

apresenta

Adorno

uma

toma

emprestado de Bloch a idéia de

da

leitura

da

não-identidade

natureza é a de um ainda-não-ente,

Todavia, Adorno não abandona a

particulares

que recusa através da sua expressão

totalidade

situar-se,

utopia. A não-identidade é o lugar da

a humanização intencional (...) Pois,

confortavelmente,

particular.

verdade,

a comunicação é a adaptação do

Aliás, essa atitude, assumida pela

inintencional, cuja interpretação deve

espírito ao útil, mediante a qual ele

Fenomenologia de Husserl e pelo

se dar pela justaposição analítica de

se integra nas mercadorias, e o que

Existencialismo,

seus elementos, mantendo, cada um

para no

que

não

como

mas

de

promessa

dos

uma

da

verdade


filosófica

independência, de modo a poder

intersubjetividade homogeneizadora,

Trauerspiels,

iluminar

o objeto é que se converte, se

experiência filosófica da verdade

pensamento

traduz, se mimetiza em filosofia.

tomando por base os elementos das

identificador. Novamente Adorno faz

Portanto, o objeto não se transporta,

teorias do conhecimento de Platão e

eco às palavras de Benjamin, para

mas se transforma em palavras, e

Kant. Benjamin designa o conceito

quem o objeto de conhecimento,

estas,

kantiano

como algo determinado dentro da

transformam-se

intenção

indiferença cede lugar à diferença; o

adequado à ciência, e distingue-o da

pedantismo idealista cai por terra.

experiência

o

real

sufocado

conceitual,

pelo

não

é

verdadeiro.

rumo

em

ao

mercado

movimento em

da

No ensaio Ursprung des deutschen

deles, com a totalidade sua relativa

contrário,

imagens.

A

Benjamin

de

pensa

experiência

conhecimento

a

como

(Erkenntnis),

(Erfahrung)

filosófica,

adequada à revelação da verdade. Adorno

La transformación mimética puede

considera o material das idéias,

ser vista como la reversión de la

Se, em Kant, o sujeito constitui o

teorias, conceitos, enfim, objetos do

subjetividad kantiana. La creatividad

mundo

pensamento, como locus da verdade

de esta (...) residía en la capacidad

estruturas conceituais, em Benjamin

inintencional, pois esses tipos de

del

la

são os fenômenos particulares, por

materiais

experiencia sus propias formas y

intermédio das afinidades eletivas de

atributo da transitoriedade: nascem,

categorías

absorbiendo

seus elementos, que determinam,

envelhecem e morrem.

dentro de sí el objeto. Pero el sujeto

objetivamente, as ideias do sujeito.

de Adorno deja la iniciativa al objeto;

Enquanto o conhecimento kantiano é

Todavia, se a verdade reside no

forma al objeto sólo en el sentido de

possessão, ao submeter a realidade

objeto,

transformarlo

nueva

às categorias do entendimento, a

conteúdo seja liberado pelo sujeito

modalidad. (...) La verdad como

experiência filosófica benjaminiana é

racional,

numa

representación lingüística mimética

a representação das ideias com base

experiência cognitiva. Para Adorno,

suponía llamar a las cosas por sus

naquela realidade.

esse sujeito deve imergir no objeto,

nombres correctos. (grifo do autor)

Além

da

matéria

física,

carregam

é

consigo

necessário

que

se

que

envolva

o

seu

sujeto

de

a

proyectar

priori,

en

una

en

aparelhado com uma certa arte de

conforme

Conceitualizar,

suas

para

próprias

Benjamin,

encontrar algo, uma ars inveniendi.

Mas como expor a lógica interna dos

significa configurar os elementos do

Eis o papel da fantasia, de uma

objetos sem recorrer à ficção? Como

fenômeno,

fantasia

a fantasia pode ser exata?

relações tornem-se visíveis para o

exata,

que

adira

estritamente aos fatos, na ânsia da descoberta,

do

desvelamento

da

intelecto,

de

modo

constituindo

que

suas

ideias

que

Segundo Morss, Adorno, em sua

possam ser percebidas. Se, em Kant,

conferência de 1931, Die Aktualität

o particular desaparece no “buraco

der Philosophie, define a tarefa da

negro” da abstração, em Benjamin,

Morss explica que, se a fantasia

filosofia

de

ele reemerge na ideia, transforma-se

exata é científica, com o fito de não

constelações. Adorno inspirara-se no

em ideia, por meio da configuração

abandonar

estudo de Benjamin sobre a tragédia

de seus elementos, como se, por

barroca

des

assim dizer ao modo de Benjamin, as

elementos,

deutschen Trauerspiels, no qual as

ideias fossem as constelações e os

abrindo-os à compreensão cognitiva.

constelações são a imagem central

fenômenos as estrelas.

Desse modo, a lógica interna do

de sua teoria do conhecimento,

objeto

esboçada

verdade objetiva.

o

artística,

na

reacomoda

os

pode

verbalmente, redefinição

objeto, medida seus

ser

também em

que

traduzida

provocando da

é

linguagem

a

como

a

construção

alemã, Ursprung

no

capítulo

inicial

do

referido estudo.

quando admite que as idéias são

como

expressão da lógica da matéria.

Benjamin faz convergir Platão e Kant

mais do que os fenômenos, embora Acompanhemos os comentários de

suas derivadas. Se, em Platão, as

Morss

de

ideias aparecem como a verdade do

acerca a

do

trabalho

fim

de

Assim, a filosofia cumpre seu papel

Benjamin,

melhor

fenômeno, em Benjamin, o fenômeno

de apresentação da verdade. Ao

compreendermos o uso que Adorno

é que aparece como a verdade das

invés de apropriar-se do objeto como

faz dele.

ideias, mantendo a dignidade dos

se ele fosse uma mercadoria a ser

particulares. Desse modo, Benjamin

transportada

propõe

pela

linguagem

a

redenção

do

mundo


fenomênico, por meio da disposição

Acerca desse método, comenta o

caracterizando sua unidade como

de seus elementos em constelações

filósofo

uma unidade viva, instável. A obra

eternas.

Zamora:

“Sólo

reservas

en

espanhol

José

Antonio sin

que apresenta uma forma plena e

su

estabilizada é autoritária, porém, não

No final da década de 20, Adorno e

dimensión histórica, puede la crítica

intensa, por pretender reprimir os

Benjamin trabalharam juntos, com o

sacar a la luz lo que ha quedado

particulares.

intuito de desenvolver a teoria das

pendiente y dar expresión al derecho

constelações,

de lo posible frente a lo que existe.”

Ao entrelaçamento do uno com o

referencial marxista. Por isso, em

Adorno

múltiplo,

sua conferência inaugural de 1931,

relativizar a décima primeira tese de

intensidade:

Adorno refere-se ao método de

Marx sobre Feuerbach: interpretar já

mimese

realizada

construção das constelações como o

é transformar o mundo.

cedida

pela

valendo-se

do

abismándose

las

redime

cosas,

a

en

filosofia

ao

se

pretenda

intensidade pela

de é

a

unidade,

multiplicidade

à

e

Talvez por isso a obra de arte

aberta, na medida em que ilumina os

defende sua utilização não só para

(Kunstwerk), para Adorno, não se

pormenores e é iluminada por eles.

tratar do reino fenomênico, mas da

confunde simplesmente com algo

própria história da filosofia.

fabricado, com o artefato (Artefact). A

Essa abertura ao fragmentário, ao

obra é uma coisa feita, elaborada,

inconciliável,

da

viva, que possui sua linguagem

dialética da forma, é que constituirá a

tradição por intermédio da crítica

própria. No artefato, a gênese, ou o

profundidade

imanente de seus conceitos; por

momento do fazer, não se distingue

profundas as obras de arte que não

essa razão, elogia o Trauerspiel,

qualitativamente do produto social

mascaram as divergências ou as

considerando sua importância na

realizado, ficando inscrito nos limites

contradições,

nem

as

redenção da indução. Ao invés de

da utilidade. Na obra de arte, esses

inconciliadas.

Ao

forçá-las

à

subsumir o particular no geral, a

dois

aparição,

tirada

do

teoria de Benjamin mantém a auto-

qualitativamente; ao invés de cumprir

inconciliado, as obras encarnam a

suficiência

da

o

possibilidade de uma conciliação.”

constelação

dos

Adorno

busca

particular.

materialista

“A

designa

totalidade(...)”. Esta é uma totalidade

programa de todo o conhecimento que

Adorno

a

Cada

liquidação

ideia

como

elementos ideia

do

mostra-se,

momentos

intencional

separam-se

destino

utilitário,

mobilizada da

que

pela

obra:

é

“São

deixam

prometido pela gênese, como no artefato,

a

arte

exprime,

É

graças

à

articulação

desses

pois, como uma mônada que contém

esteticamente, os problemas que a

elementos contraditórios que a obra

em si a totalidade, ou seja, uma

sociedade não foi capaz de resolver.

de arte adquire a sua forma e, na

“imagem do mundo”. No entanto,

Enquanto o artefato é um objeto

mesma medida, a possibilidade de

essas

mundo

(Ding), a obra de arte é uma coisa

seu

fenomênico são descontínuas, uma

(Sache), ou seja, ela é ao mesmo

articulação

vez que cada ideia é diferente de

tempo devir e resultado.

mesmo tempo formal e material. A

outra

constelações

ideia,

não

do

havendo,

conseguinte,

por

declínio. é

conseqüência

Isso uma

desse

porque

a

categoria

ao

estado

de

hierarquias,

Nesse distanciamento da empiria,

inconciliabilidade entre o idêntico e o

dependência ou paridade entre elas,

cada obra de arte aspira, grosso

não-idêntico é que, condicionado

como se cada uma delas fosse um

modo, à unidade, à forma integral,

pela má infinitude, o não-poder-

sol, iluminando a verdade com luz

mas não o consegue. A aparência

concluir deve tornar-se princípio de

própria.

formal

inintencionalmente,

expressão e procedimento da arte

pelos

contemporânea:

é,

condicionada

das

e

obras de arte não pode ser o que ela

materialistas,

ameaçam constantemente. É o que

deve ser, a unidade da variedade: ao

transformar a filosofia num poderoso

Adorno

sintetizar, ela viola o sintetizado e

método

racionalidade estética.

de

interpretação,

numa

designa

de

constituem

unidade

individuais

pretende

a

“A

Ao expor essa teoria sobre bases Adorno

que

impulsos

astúcia

da

prejudica nele a síntese. As obras de

lógica da desintegração. Agora, a

arte sofrem tanto na sua totalidade

ideia, a mônada, é o conteúdo social

Na obra de arte, o uno e o múltiplo

mediatizada,

em

esse

atraem-se e repelem-se. Essa tensão

imediatidades.”

conteúdo social é o conteúdo de

entre forças centrípetas e centrífugas

verdade a ser buscado na diferença.

é

sua

especificidade

e

que

movimento

à

obra,

como

nas

suas


A expressão estética é a objetivação

e o contingente; sua verdade é sua

fenômeno contraditório que tem algo

do

aparência total.

mais a dizer do que o que se quer

conteúdo

social,

que

é

sedimentado nos materiais por meio

que ela diga. Ora, é no momento da

da mediação subjetiva do artista:

Para não se tornar mercadoria,

produção que ocorre o processo de

“(...) é objectivação do inobjectivo de

reifica-se; para não comunicar, torna-

sedimentação

tal sorte que, pela sua objectivação,

se enigmática, resistindo a todo

sociais

se torna num segundo inobjectivo, no

custo

mundo

constitutivo de seus centros de força.

que se exprime a partir do artefacto e

administrado. Para Adorno, a “arte

É na produção que se condensa a

não como imitação do sujeito.”

representa o que não se deixa

tensão entre o caráter mimético e o

Adorno refere-se às obras de arte

organizar

a

construtivo, a articulação entre o real

como mônadas fechadas umas para

organização

que

e o utópico, que confere o caráter

as outras, sem janelas. Cada obra é,

apreendamos a ambigüidade das

ao mesmo tempo, coisa e centro de

obras de arte, sua relação com a

forças: “As obras de arte estão

sociedade,

fechadas umas para as outras, são

analisemos menos o momento de

salva;

cegas

sua recepção do que o momento de

objetivamente o enigma de cada

sua produção.

obra, obtendo seu conteúdo social de

e,

apesar

de

tudo,

representam no seu hermetismo o

à

integração

e

o

no

que

total.”

é

oprime Para

necessário

que

que se encontra no exterior.”

dos

nas

antagonismos

obras,

momento

enigmático às obras.

Em Adorno, a hermenêutica não sua

função

é

resolver

verdade: “as obras de arte são Com efeito, Adorno rechaça a falsa

enigmáticas enquanto fisionomia de

Todavia, esse hermetismo já contém

intersubjetividade como parâmetro

um espírito objetivo (...)”. Adorno

o exterior, na medida em que é

de

Ao

define ainda o enigma como a zona

capaz de imobilizá-lo, transformando

integrar-se

da

de

suas

linguagem

comunicação, a arte é neutralizada.

de

A comunicação no mundo vigente é

categorias

universal.

Nas

em obras

arte,

julgamento

das

no

obras. circuito

indeterminação

entre

o

inacessível e o realizável:

a comunicação da falsa consciência,

Mas, porque a utopia, o não-ente, se

universal e o particular. Daí advém

da

Assim,

encontra para a arte velada de

que o papel de uma estética dialética

Adorno relativiza o otimismo de

negro, permanece, em todas as suas

seja o de elevar tal interação à

Hannah Arendt, ao desconfiar da

mediações,

consciência,

promessa de um juízo estético que

lembrança do possível contra o real

se

que

interagem,

inconscientemente,

por

intermédio

o

da

análise imanente das obras.

consciência

reificada.

legitime

mediante

seu

a

como

reprime,

lembrança,

algo

como

a

alargamento no circuito social. Ao

compensação

Outrossim, não se deve descuidar do

apostar na circulação, Arendt parece

catástrofe da história do mundo,

caráter ambíguo da arte. Ao mesmo

desconsiderar a possibilidade da

liberdade que, sob a influência da

tempo que reflete a sociedade, ela é

ruptura, apontando muito mais para a

necessidade, não existiu e acerca da

um como se; se é um produto do

reconciliação, para a realização de

qual não se sabe se pode existir. Na

trabalho social do espírito, é também

um contrato intersubjetivo, escorado

sua

denúncia da sociedade de troca total,

no modelo do juízo de gosto. Menos

permanente, a negatividade da arte

onde tudo existe para-outra-coisa.

otimista, Adorno prefere manter a

está ligada à méthexis [participação]

imagem

na obscuridade.

da

catástrofe

como

tensão

imaginária

a

para

a

da

catástrofe

Seu aspecto associal é a negação

promessa da arte; não há contrato

determinada de uma determinada

possível sem a ruptura objetiva com

O que Adorno denomina de mímesis

sociedade, o que a torna social

a falsa totalidade, sem a superação

na arte é o pré-espiritual, aquilo que

enquanto

imanente

do ente. EsseKulturpessimismus de

provém da empiria, da natureza, da

contra a sociedade. Sua função

Adorno deve ser interpretado como

realidade exterior; é o que se opõe

social é sua ausência de função; seu

uma constatação e não como um

ao espírito. Por construção, designa

encantamento é desencantamento,

princípio filosófico.

o elemento espiritual, a forma das

movimento

um ser-para-si que se relaciona com

obras, a objetivação dos impulsos

o outro. Autônoma e heterônoma, a

Analisar o potencial da arte pelo

miméticos

obra de arte é um interior que já

prisma

representante

contém o exterior, uma mônada sem

intermédio da rede dos mass media,

causalidade no âmbito da arte; ou

janelas que aglutina em si o universal

é não compreendê-la como um

ainda, a racionalidade das obras.

de

sua

circulação

por

ou,

se da

quisermos, lógica

e

o da


Desse modo, a construção reunifica

ele não pôde ter sido, e empenhado,

os elementos do real no contexto da

de modo responsável, no que ele

HEGEL, Georg Wilhelm Friedrich.

obra, libertando-os da contingência,

deve ser, para que o resgate do seu

Introdução à história da filosofia. São

transformando

e

futuro seja possível a partir da sua

Paulo : Hemus, 1976.

A

imanência. Nesse sentido, além de

inserindo-os

sua no

qualidade universal.

construção anuncia o novo, almeja

redimir

a

própria

tornar-se um real sui generis, um ser

conteúdo de verdade dos campos de

Políticas

à segunda potência, continuando, no

força da teoria estética dialética de

ensayos de crítica cultural. 2ed.

entanto, prisioneira da aparência.

Adorno pode atrair a intelligentsia

Barcelona : Península, 1994.

Essa tensão entre o mimético e o

filosófica

construtivo reproduz, na forma das

capacidade

obras, a tragédia social. A tensão é a

problemas

demarcação de um limite, não de

contemporâneo.

para de

metafísica,

que

o

HELLER, Ágnes; FEHÉR, Ferenc. de

la

postmodernidad:

renove

sua

expressão

dos

HOCHART, Patrick. Guilherme de

mundo

Ockham: o signo e sua duplicidade.

do

In:

uma impossibilidade:

História

doutrinas:

da a

filosofia:

filosofia

idéias,

medieval.

CHÂTELET, François (org). Rio de Pois a arte e as suas obras são apenas o que se podem tornar.

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resolver totalmente a sua tensão

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imanente; porque a história ataca,

ADORNO,

finalmente,

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1982.

de Janeiro : Francisco Alves, 1977.

obras de arte existentes e do seu

_____. Dialectica negativa. Madrid :

KOPNIN,

conceito. Ao virar-se para o seu

Taurus, 1975.

dialética como lógica e teoria do

a

idéia de

uma

tal

resolução, a teoria estética não pode

Theodor

Wiesengrund.

contentar-se com a interpretação das

conteúdo de verdade, é impelida,

conhecimento.

enquanto filosofia, para lá das obras.

ARENDT, Hannah. Lições sobre a

(grifo nosso)

filosofia política de Kant. Rio de Janeiro: Relume, 1993.

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Do exposto, salta à evidência a força epistemológica

Pável

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Marxismo

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a

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Lukács, Benjamin y Adorno. México :

terceira crítica de Kant, e para muito

filosofia da história. São Paulo :

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além dela, a Teoria Estética de

Ática, 1985.

Adorno renova a pergunta pelo que

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não foi alçado pela lógica formal à

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metafísica. São Paulo : Abril Cultural,

filosofia

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Rio de Janeiro : Zahar, 1982.

dialectica negativa. Mexico : Siglo

interroga

pela

com

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Adorno

se

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Dialética

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ZAMORA, José Antonio. Religion tras

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Adorno

Bragança

versus

Paulista

:


Notas de

“A

generalidade

apresenta

duas grandes ordens: à ordem

2. A Idade Média: As faces de cristo.

qualitativa das semelhanças e

literatura

a

ordem

quantitativa

Rosa Virginia R. Daitx1

Segundo

Goff

&

Schmitt

equivalências. Os ciclos e as

(2006) a idade média não existe. Ela

igualdades são seus símbolos.

foi uma invenção a construção de um

Mas,

a

mito, através de representações e

um

imagens que se movimentam no

ponto de vista segundo o qual

tempo e espaço a partir de sua

um termo pode ser trocado por

difusão na sociedade que ultrapassa

outro,

gerações. Os grandes castelos e a

de

toda

generalidade AS FACES DE JESUS CRISTO.

das

maneira, exprime

substituído

por

outro”(DELEUZE. 1988. p.21)

monumentabilidade

das

igrejas

avançam séculos e favorecem a Subtituir o olhar acostumado,

oportunidade de podermos imaginar

generalizado e conformado, é no que

a grandiosidade da devoção cristã e

elaborado com base nas reflexões

acreditamos

todo seu poder.

expostas

arte

procedimento

medieval, referente ao curso de Pós

aproximarmos

Graduação

aproximação

Resumo:

O

na

presente

disciplina

artigo

de

Especialização

foi

em

ser

o

melhor

para

nos

O que existiu foi uma luta pelo poder,

Nesta

uma decadência no domínio cultural

da

arte.

iremos

encontradas

abordar

uma

expansão

que

colocou

o

História da Arte Univille. No decorrer

faces

período

ocidente em contato outros povos.

do mesmo haverá uma discussão

medieval, como uma maneira de

Havia pelo protestantismo segundo

sobre as diversas faces de Jesus

percebemos que a repetição de

Goff, Schmitt (2006) uma tentativa de

Cristo na arte Medieval.

vários Jesus Cristos nos mostram

retorno de um cristianismo de uma

também uma singularidade no gesto

origem pura que contradiz uma igreja

Palavras Chave: Medieval, Faces de

de cada pintor ou escultor destas

católica presa a cidade terrestre e

Jesus Cristo

faces. Mesmo que todos sejam

distante da cidade de Deus. A

Jesus

duração da idade média se dará por

Cristos,

semelhantes.

no

as

são

apenas

Reconhecemos

na

muitos séculos. De acordo com o

humanidade que cada ser humano

autor

possui uma face. No entanto, não

começa a se tornar entre os eruditos

Repetir não é copiar. O repetir

temos faces iguais, não possuímos a

europeus, um termo mais neutro,

está mais para uma reflexão sobre a

mesma boca, nem o mesmo nariz e

desprovido de pejorativos utilizado

diferença do que para a igualdade e

nem os mesmos olhos. Temos todos

para identificar um período recuado

generalidade. Se pensarmos que

uma face, mas com características

no tempo. Para Focillon (1980) a

para criar é necessário um repertório,

diferentes, com um olhar diferente,

idade

também é fato que nosso repertório

em caso de gêmeos poderá haver

ocidental da civilização européia. Era

possa ter certa similaridade com o

igualdade externa, mas, assim como

um período em que o homem se

outro. No entanto, muitas vezes não

todos os outros,

acima de tudo

definia por um sistema social e

percebemos

sempre terá uma singularidade da

intelectual que se não fosse pelos

alma.

monumentos,

1.Introdução

os

detalhes

e

as

pequenas diferenças, e nosso olhar

a

expressão

média

é

idade

uma

poderiam

média

expressão

ter

sido

esquecidos por nós. Geralmente a

mal educado poderá nos apontar uma igualdade inexistente. É em

“(...) as almas não são do

encontramos

busca desta não generalização da

domínio da semelhança ou da

períodos: Greco Romana, Judaísmo

imagem que utilizaremos as faces de

equivalência; e assim como

e Cristianismo, mesmo assim não

Jesus Cristo como uma referência

não há possibilidade de se

existe

para mostrar que:

trocar de alma. Se a troca é

historiadores sobre a definição de

um critério da generalidade, o

tempo.

roubo e o dom são os critérios

divida entre primeira idade média no

da

século IV, VIII, Pré Românico. Alta

1

Acadêmica do curso de Pós- Graduação. História da Arte- Univille 2013

repetição.

1988, p.22)

(DELEUZE,

divida

um

em

consenso

Portanto

a

três

dos

encontramos

idade média no século VIII até XI, considerado

Românico

e

idade


média central do século XI ao XII. A

(886-

baixa idade média seria entorno

912) Inscrição livro: “A paz esteja

1453- 1492 e 1517.

com você. Eu sou a luz do mundo.”

A

idade

média

Cristã

na

metade do segundo século já havia se expandido pelo império romano e

O que nos faz deduzir que a

criado suas comunidades. Diz Stórig

figura

(2008), que o cristianismo era visto

orientais. Percebemos neste mosaico

pelo império romano como inimigos

que

da ordem pública por acreditarem e

amendoados, que seu cabelo não é

difundirem a religião, se reuniam

tão cumprido e tão pouco existe

escondidos pois sua prática religiosa

alguma dramatização de expressão Figura nº1. Catacumbas de

era totalmente proibida. Tanto a

nº2 possui influência

Cristo

possui

os

dos

olhos

facial. De acordo com Janson (1992)

cultura como a intelectualidade da

Comodilla. Sé. IV. Roma

o significado da mão de Cristo

Idade Média seria da ordem do

Representação mais antiga de cristo

erguida, é um gesto tradicional que

incompleto se os bárbaros fossem

com uma barba

representa os membros da igreja em

A figura nº1 se refere há uma

excluídos. Foram eles que tiveram forças

para

superar

o

império

arte cristã primitiva. Segundo Janson

romano e se inserirem como parte do

(1992)

mesmo.

transferiu

a

Romano

para

As

bárbaras,

tribos

Celtas,

denominadas Germânicos

e

Constantino, capital cidade

o

grande,

do

Império

grega

de

incivilizadas,

Bizãncio, conhecida Constantinopla.

porém abandonaram suas tradições

Roma ainda não era o centro oficial

e adotaram a religião cristã e a

da

intelectualidade, se transferindo do

existiam no norte da África. Com

papel de bárbaros, para difusores da

toda certeza, estas comunidades

cultura cristã.

mais antigas já tinham seus valores

Eslavos,

não

eram

busca do auxílio divino.

fé,

comunidades

antigas

filosofia,

artísticos definidos. Diz o autor que

do

que

nosso conhecimento sobre esta arte

ouvimos falar sem ter a certeza de

é muito vago e o que nos restou

sua existência, é algo quase que

foram apenas algumas descobertas

impossível. Porém, percebemos que

de

de

Figura nº3 Capa anterior da

foi com o uso da imagem da face de

catacumbas, galerias subterrâneas

encadernação dos Evangelhos de

cristo

onde os cristãos enterravam seus

Lindau.

Difundir acreditar

na

existência

muitos

fiéis

conquistados.

A

verdade,

superioridade

de

homem.

que

uma

Jesus

Deus cristo,

foram da

sobre um

pinturas

nas

paredes

C.

mortos.

870. Ouro e pedras preciosas. The

o

Pierpont

rosto

Morgan

Library,

Nova

Yorque.

conhecido por todos no mundo, reconhecido até mesmo por quem nele nunca acreditou.

A figura nº3 é do império carolíngio. Representação de um Cristo

sem

expressão,

sem

dramatização, com um olhar perdido, um corpo desproporcional e Nada comum para o que conhecemos nos dias de hoje, a não ser sua condição de sacrifício. Este cristo representa Figura nº2 Hagia Sophia. 532-537.

um momento do império carolíngio,

Istambul, Turquia. Mosaico acima da

quando

porta de entrada.

Janson (1992) teve um papel ativo

Carlos

Magno

segundo


na luta por um ideal de preservação

relação a todas as outras. No caso

JANSON, J.W. História da Arte. São

dos

de

da figura nº4, ela possui a expressão

Paulo: Martins Fontes, 1992

civilização

do sofrimento de Cristo. Um homem

romana. Diz Janson (1992) que as

que segundo a religião cristã, se

STORIG, Joaquim Hans. História

igrejas carolíngias desapareceram,

sacrificou por nós homens terrenos.

Geral da Filosofia. Rio de Janeiro:

mas, as obras menores e livros

Seus

Vozes, 2008.

sobreviveram em boa quantidade. A

amendoados como na figura nº1,

figura nº3 de acordo com o autor é

muito pelo contrário, eles estão semi-

um relevo adornado com jóias dos

abertos, como entre a vida e a morte,

Evangelhos de Lindau uma obra do

suplicando piedade e ao mesmo

terceiro quartel do século IX. A

tempo perdoando os que lhe fizeram

ourivesaria

sentir tamanho sofrimento. Rosto

clássicos

recuperar

na

a

tentativa

antiga

deste

demonstra

a

manuscrito

não

são

tão

celto-

alongado, olhos expressivos de dor,

germânica de trabalho em metal

esta figura nº4 traz consigo as

adaptado

características do período Gótico.

ao

tradição

olhos

império

carolíngio.

Neste caso fica claro a busca de um

Porém

rosto

percebermos que independente do

para

percebemos

o

de

é

definições de igualdade, mas sim um

ideal de Cristo. As várias faces de

ideal. O ideal de um único rosto, de

Jesus Cristo não cessam apenas

uma única fé, de um único homem

nestas aqui apresentadas. Apenas

que possa servir como exemplo do

discorremos

certo

percebemos na beleza de ideal que

e

não

importante

período, existe uma procura do rosto

errado

ainda

Maria,

mais

e

que

filho

o

possa

ser

reconhecido por todos.

percorreu

um

a

importância

pouco

idade para

do

que

média. arte

e

Sua para

humanidade. A idade muitas vezes corriqueiramente

conhecida

como

idade das trevas e que, no entanto criou catedrais monumentais, utilizou ouro,

pedras

preciosas,

letras

desenhadas e pintadas em suas iluminuras e faces diversificadas de Cristo para expandir a crença do cristianismo.

REFERÊNCIAS:

DELEUZE,

Gilles.

Repetição

e

Diferença. RJ,grall,1988

Figura nº4 Mestre de Naumburg. Calvário. Pórtico Capela-mor.

FOCILLON,

Henri.

A

arte

do

ocidente - a idade média românica

Catedral

e gótica. Lisboa: Estampa, 1980.

de Naumburg. C. 1240-50 GOFF, Jacques Le; SCHIMTT, JeanClaude, Dicionário Temático do Chegando

mais

perto

da

nossa realidade, podemos perceber que existe diferença da figura nº4 em

Ocidente

Medieval.

Paulo: EDUSC,2006

Vol.II.

São


CRITICA ROEDORA

nem que os cinco estágios são

uma imediata revolta populista na

vivenciados por todos os pacientes.

Europa. Eles jogam com a bela alma

A reação da opinião pública e das

que os fazem se sentir superiores

autoridades na Europa Ocidental ao

diante de um mundo corrompido

fluxo de refugiados da África e do

enquanto secretamente participam

Oriente

dele.

Médio

não

teve

uma

combinação semelhante de reações

O populista anti-imigrante também

disparatadas? Houve a negação,

sabe muito bem que, deixados por si

agora diminuindo: “Não é tão sério,

mesmos, os africanos não terão

ŽIŽEK: NÃO PODEMOS ABORDAR

vamos simplesmente ignorar.” Existe

sucesso

A CRISE DOS REFUGIADOS SEM

uma raiva: “Os refugiados são uma

sociedades. Por que não? Porque

ENFRENTAR

ameaça ao nosso modo de vida,

nós, norte-americanos e europeus

CAPITALISMO GLOBAL

entre

escondem-se

ocidentais, estamos impedindo-os.

Por Slavoj Žižek.*

fundamentalistas muçulmanos, eles

Foi a intervenção europeia na Líbia

precisam ser barrados a qualquer

que jogou o país no caos. Foi o

“Nós não podemos abordar a crise

preço”. Há negociação: “Ok, vamos

ataque

dos refugiados sem enfrentar o

estabelecer

os

Iraque que criou as condições para o

capitalismo global. Os refugiados

campos de refugiados nos seus

surgimento do ISIS [Estado Islâmico

não chegarão à Noruega. Mas a

próprios

depressão:

do Iraque e do Levante]. A guerra

Noruega que eles procuram

“Estamos perdidos, a Europa está se

civil em curso na República Centro-

sequer existe.”

transformando em uma Europa-stan.”

Africana não é apenas uma explosão

O que está faltando é a aceitação, o

do ódio étnico; França e China estão

Em seu estudo clássico On Death

que, neste caso, significaria um

lutando pelo controle dos recursos

and Dying, Elisabeth Kübler-Ross

consistente plano pan-europeu para

petrolíferos

propôs o famoso esquema de cinco

lidar com os refugiados.

procuradores.

estágios de como reagimos ao saber

Então, o que fazer com centenas de

Mas o caso mais claro de nossa

que temos uma doença terminal:

milhares de pessoas desesperadas,

responsabilidade é o Congo de hoje,

negação (a pessoa simplesmente se

que esperam no Norte da África,

que

recusa a aceitar o fato: “Isso não

fugindo

como

pode

tentando

O

estar

acontecendo,

não

eles

quotas

países!”

da

e

apoiar

guerra

e

atravessar

da o

fome,

mar

e

na

dos

mudança

Estados

de

novamente “coração

o

suas

Unidos

através

está

de

ao

seus

emergindo

das

trevas”

africano. Em 2001, uma investigação

comigo.”); raiva (que explode quando

encontrar refúgio na Europa?

da ONU, sobre a exploração ilegal de

já não podemos negar o fato: “Como

Existem duas principais respostas.

recursos

comigo.”);

Liberais de esquerda expressam sua

descobriu que os conflitos internos

negociação (a esperança de que

indignação com a forma como a

acontecem para se ter o acesso, o

podemos de alguma forma adiar ou

Europa está permitindo que milhares

controle e o comércio de cinco

diminuir o fato: “Apenas deixe-me

de

minerais

viver para ver meu filho graduado.”);

Mediterrâneo. O argumento deles é

diamante, cobre, cobalto e ouro. Sob

depressão (desinvestimento libidinal:

que

mostrar

a fachada de guerra étnica, nós

“Eu vou morrer, então por que se

solidariedade

portas

podemos identificar o funcionamento

coisa?”);

amplamente.

anti-

do capitalismo global. O Congo não

isso

pode

preocupar

acontecer

com

alguma

pessoas

a

se

Europa

afoguem

deve

abrindo Os

as

populistas

no

naturais

no

Congo,

fundamentais:

aceitação (“Eu não posso lutar contra

imigrantes reivindicam que devemos

existe

isso, mas eu bem posso me preparar

proteger nosso modo de vida e

unificado; é uma multiplicidade de

para isso.”). Mais tarde, Kübler-Ross

deixar que os africanos resolvam

territórios governados por senhores

aplicou esses estágios a qualquer

seus próprios problemas.

da guerra locais, que controlam o

forma de perda catastrófica pessoal

Qual

(desemprego, morte de um ente

Parafraseando Stalin, as duas são

exército, que como regra, inclui

querido, divórcio, vício em drogas) e

piores. Aqueles que defendem a

crianças drogadas. Cada um desses

enfatizou que eles não acontecem

abertura das fronteiras são grandes

senhores da guerra estão ligados

necessariamente na mesma ordem,

hipócritas:

pelos negócios com empresas ou

é

a

melhor

solução?

Secretamente,

eles

seu

mais

pedaço

como

coltan,

de

um

terra

estado

com

estrangeiras

um

sabem muito bem que isso nunca vai

corporações

que

acontecer, uma vez que provocaria

exploram as riquezas minerais da


região. A ironia é que muitos destes

maioria

minerais são usados em produtos de

Europa. Arábia Saudita tem até

Qatar,

alta tecnologia, tais como laptops e

mesmo devolvido alguns refugiados

trabalhadores imigrantes são de fato

telefones celulares.

muçulmanos da Somália. Isto porque

privados de direitos civis elementares

Retire as empresas estrangeiras de

a

teocracia

e liberdades; o controle total sobre

alta tecnologia da equação e toda a

fundamentalista que não pode tolerar

milhões de trabalhadores em fábricas

narrativa de guerra étnica alimentada

estrangeiros

asiáticas, muitas vezes organizados

por velhas paixões desmorona. Este

deve-se também ter em mente que

diretamente

é o lugar onde devemos começar se

esta

é

concentração; o uso massivo de

realmente

totalmente integrada à economia do

trabalho forçado na exploração de

africanos e parar com o fluxo de

Ocidente.

vista

recursos naturais em muitos estados

refugiados.

econômico,

e

africanos centrais (Congo etc.). Mas

lembrar que a maioria dos refugiados

Emirados, que afirmam depender

nós não temos que olhar tão longe.

vem de Estados falidos – onde a

totalmente

Em 01 de dezembro de 2013, pelo

autoridade pública é inoperante, pelo

petrolíferas, não são puros postos

menos

menos em grandes regiões – Síria,

avançados do capital ocidental? A

quando uma fábrica de roupas de

Líbano,

comunidade

deveria

propriedade chinesa em uma zona

Congo, etc. Essa desintegração do

colocar toda pressão em países

industrial na cidade italiana de Prato,

poder do Estado não é um fenômeno

como Arábia Saudita, Kuwait e Qatar

a 19 km do centro de Florença,

local, mas o resultado da economia e

para

incendiou,

da política internacional, em alguns

aceitarem um grande contingente de

presos em um dormitório de papelão

casos, como a Líbia e o Iraque, um

refugiados. Além disso, por estar

improvisado, construído no local. O

resultado

apoiando os rebeldes anti-Assad, a

acidente

ocidental. É claro que o aumento

Arábia

distrito industrial da cidade conhecido

destes “Estados falidos” não é um

responsável pela situação na Síria.

por

inesperado infortúnio, mas sim uma

E, em diferentes graus, o mesmo se

Milhares

de

das formas que as grandes potências

aplica para muitos outros países –

estariam

vivendo

exercem

nós estamos todos nisso.

cidade, trabalhando até 16 horas por

Uma nova escravidão

dia para uma rede de oficinas

“Estados

Outra característica partilhada por

atacadista que confeccionava roupa

falidos” do Oriente Médio devem ser

esses países é o surgimento de uma

barata.

procuradas nas fronteiras arbitrárias

nova

o

Nós, portanto, não temos que olhar

desenhadas após a Primeira Guerra

capitalismo

o

para a vida miserável dos novos

Mundial pelo Reino Unido e a

sistema econômico que sugere e

escravos nos longínquos subúrbios

França, que criaram uma série de

promove a liberdade individual (como

de Xangai (ou em Dubai e Qatar) e

Estados “artificiais”. Com o propósito

uma condição do mercado cambial),

hipocritamente criticar a China – a

de unir os sunitas na Síria e no

ele

a

escravidão pode estar aqui mesmo,

Iraque, o ISIS está, em última

escravidão,

sua

dentro de nossa casa, nós apenas

análise, juntando o que foi dilacerado

dinâmica:

escravidão

não vemos (ou melhor, fingimos não

pelos mestres coloniais.

estivesse quase extinta no final da

ver). Este novo apartheid de facto,

Não se pode deixar de notar o fato

Idade

na

esta explosão sistemática do número

de que alguns países não muito ricos

modernidade e durou até a Guerra

de diferentes formas de escravidão

do Oriente Médio (Turquia, Egito,

Civil Americana. E hoje, numa nova

de

Iraque) são muito mais abertos aos

época do capitalismo global, pode-se

lamentável, mas uma necessidade

refugiados do que os realmente ricos

arriscar a hipótese de que uma nova

estrutural do capitalismo global de

(Arábia Saudita, Kuwait, Emirados

era da escravidão também está

hoje.

Árabes, Qatar). Arábia e Emirados

surgindo. Embora não exista um

Mas estão os refugiados entrando na

não receberam refugiados, embora

estatuto jurídico legal para escravizar

Europa apenas oferecendo-se para

façam fronteira com países em crise

as pessoas de forma direta, a

se tornar força de trabalho precário,

e são culturalmente muito mais

escravidão

uma

em muitos casos, à custa dos

próximos aos refugiados (que são na

multiplicidade de novas formas: na

trabalhadores locais, que reagem a

queremos

A

ajudar

primeira

Iraque,

coisa

Líbia,

direto

da

seu

os

é

Somália,

intervenção

colonialismo

econômico. Deve-se notar também que

as

sementes

dos

muçulmanos)

Arábia

é

uma

intrusos?

mesma

Arábia

de Saudita

suas

receitas

internacional

fazer

seus

Saudita

escravidão. se

por

o

grande

como

conta

embora

de

Enquanto

legitima

como

Média,

deveres

é

própria

parte a

explodiu

adquire

a

mas

Saudita

ponto

das

que

Sim,

Arábia

Do

gerou

do

de

cedo

península

da

Arábia

etc.),

suas

facto,

milhões

como

sete

(Emirados,

campos

pessoas

matando

ocorreu

morreram

Macrolotto,

de

imigrantes

não

vestuário. chineses

ilegalmente

é

de

trabalhadores

em

fábricas

de

um

na

acidente


essa ameaça unindo-se a partidos

Um dos grandes tabus da esquerda

da brutalidade anti-imigrante. Ambas

político

a

terá que ser quebrado aqui: a noção

as

maioria dos refugiados, esta será a

de que uma maneira de proteger um

pressuposto, o que não é de forma

realidade de seu sonho realizado.

modo de vida [way of life] é em si

alguma evidente, que a defesa do

Os refugiados não estão somente

mesma protofascista ou racista. Se

próprio

fugindo de suas terras devastadas

não

noção,

universalismo ético. Assim, deve-se

pela guerra; eles também estão

abrimos o caminho para a onda anti-

evitar ser pego pelo jogo liberal de

possuídos por um sonho. Podemos

imigrante que prospera em toda a

“quanto

ver repedidas vezes em nossas

Europa. (Mesmo na Dinamarca, o

oferecer.”

telas. Refugiados no Sul da Itália

Partido Democrático, anti-imigrante,

impedirem suas crianças de irem

deixam claro que eles não querem

pela primeira vez ultrapassou os

para as escolas estaduais, eles

ficar

sociais-democratas e tornou-se o

arrumarem casamentos para seus

majoritariamente viver nos países

partido

país.)

filhos, eles brutalizarem gays nos

escandinavos. E o que dizer dos

Responder às preocupações das

seus espaços? A este nível, é claro,

milhares de acampados em Calais

pessoas comuns sobre as ameaças

nós nunca somos suficientemente

que não estão contentes com a

ao seu especifico estilo de vida

tolerantes,

França,

a

também pode ser feito a partir da

tolerantes demais, negligenciando os

arriscar suas vidas para entrar no

esquerda. Bernie Sanders é uma

direitos das mulheres, etc. A única

Reino Unido? E o que dizer de

prova

verdadeira

maneira de sair deste impasse é

dezenas de milhares de refugiados

ameaça para nossos estilos de vida

movendo-se para além da mera

dos países Bálcãs que querem ao

comunitários

tolerância ou respeito em direção a

menos chegar à Alemanha? Eles

estrangeiros, mas a dinâmica do

uma luta comum.

declaram esse sonho como um

capitalismo global: Só nos Estados

Nesse sentido, é preciso ampliar a

direito incondicional, e exigem das

Unidos, as mudanças econômicas

perspectiva: Os refugiados são o

autoridades

das ultimas décadas fez mais para

preço da economia global. Em nosso

alimentação adequada e cuidados

destruir a convivência comunitária

mundo global, mercadorias circulam

médicos, mas também o transporte

das cidades pequenas do que todos

livremente, mas as pessoas não:

para o local de sua escolha.

os imigrantes juntos.

novas formas de apartheid estão

Há algo enigmaticamente utópico

A reação padrão da esquerda liberal

surgindo. O tema de parede oca, da

nesta demanda impossível: como

é, naturalmente, uma explosão de

ameaça de sermos inundado por

poderia a Europa realizar o sonho

arrogante moralismo: No momento

estrangeiros,

deles, um sonho que, aliás, está fora

em que damos alguma credibilidade

imamente ao capitalismo global, é o

do alcance para a maioria dos

a “proteção do nosso modo de vida”,

índex do que é falso sobre a

europeus. Quantos europeus do Sul

nós já comprometemos a nossa

globalização capitalista. Enquanto as

e do Leste não prefeririam viver na

posição, uma vez que propomos uma

grandes

Noruega? Pode-se observar aqui o

versão mais modesta do que os

característica constante da historia

paradoxo da utopia: precisamente

populistas anti-imigrantes defendem

da humana, a sua principal causa na

quando as pessoas se encontram em

abertamente. Esta não é a história

historia moderna são as expansões

situação de pobreza, aflição e perigo,

das

Partidos

coloniais: Antes da colonização, o

e seria de se esperar que eles

centristas rejeitam o racismo aberto

Sul Global consistia, principalmente,

estivessem satisfeitos com o mínimo

dos populistas anti-imigrantes, mas

de

de segurança e bem-estar, a utopia

afirmam

autossuficientes

absoluta explode. A dura lição para

“compreender as preocupações das

isoladas. Foi a ocupação colonial e o

pessoas comuns” e promulgam uma

comércio de escravos que lançou

Noruega”, mesmo na Noruega. Eles

versão mais “racional” da mesma

este modo de vida para fora dos

terão que aprender a censurar seus

política.

trilhos e renovou as migrações em

sonhos: Em vez de persegui-los, em

Mas, embora exista um núcleo de

larga escala.

realidade, eles devem se concentrar

verdade, as queixas moralistas – “A

A Europa não é o único lugar que

em mudar a realidade.

Europa

é

está experimentando uma onda de

Um tabu da esquerda

indiferente para o sofrimento dos

imigração. Na África do Sul, existem

outros,” etc. – são apenas o reverso

mais de um milhão de refugiados do

os

anti-imigrantes?

lá,

eles

mas

estão

querem

dispostos

europeias

refugiados

é

Para

que

não

“não

abandonarmos

mais

viva

últimas

essa

forte

disso!

do

A

não

são

décadas?

os

simultaneamente

perdeu

a

empatia,

posições

compartilham

modo

de

de vida

tolerância

Devemos

ou

exclui

migrações

comunidades e

o

podemos

tolerar

somos

é

o

eles

sempre

estritamente

são

uma

locais relativamente


Zimbabwe, que estão expostos a

mecanismos

ataques

mudanças

de

pobres

locais

por

de

decisão

serão

tais

decididas

e

os nossos próprios racistas antiimigrantes), se necessário.

roubarem empregos. E haverá mais,

executadas? Aqui uma série de

Em terceiro lugar, um novo tipo de

não apenas por causa de conflitos

tabus deverá ser quebrado e um

intervenção internacional terá de ser

armados, mas por conta dos novos

conjunto

inventada: intervenções militares e

“Estados párias”, crise econômica,

realizadas.

econômicas

desastres naturais (agravados pela

Em primeiro lugar, a Europa terá de

armadilhas neocoloniais. E sobre as

mudança

desastres

reafirmar seu total empenho em

forças da ONU que garantem a paz

criados pelo homem, etc. Sabe-se

proporcionar condições dignas para

na Líbia e no Congo? Uma vez que

que, após o desastre nuclear de

a sobrevivência dos refugiados. Não

tais intervenções estão intimamente

Fukushima, por um momento, as

deve

associadas com o neocolonialismo,

autoridades japonesas imaginaram

grandes migrações são o nosso

serão

que toda área de Tóquio – 20

futuro, e a única alternativa a esse

salvaguardas. Os casos de Iraque,

milhões de pessoas – deveria ser

empenho é a barbárie renovada (que

Síria e Líbia demonstram como o tipo

evacuada. Para onde essas pessoas

alguns

iriam? Em que condições? Eles

civilização”).

deveriam receber um pedaço de

Em

terras ou dispersar ao redor do

consequência

mundo? E se o Norte da Sibéria

empenho, a Europa deve organizar-

externos da Rússia, Arábia Saudita e

tornar-se mais habitável e arável,

se e impor regras e regulamentos

os EUA estão totalmente engajados)

enquanto várias áreas subsaarianas

claros. O controle do Estado ao fluxo

acabam no mesmo impasse.

tornam-se demasiadamente secos

de refugiados deve ser implantado

Em quarto lugar, a tarefa mais difícil

para que uma grande população

através

e

suporte

administrativa abrangendo toda a

econômica radical que deve abolir as

União

condições

sociais A

climática),

viver

organizado

lá?

o

Como

será

intercambio

de

de

medidas

existir

complexas

compromisso

chamam

de

aqui:

“choque

de

que

evitem

necessárias

as

extremas

de intervenção errada (no Iraque e Líbia), bem como a não intervenção

segundo

lugar, necessária

de

uma

Europeia

como

(na Síria, onde, sob a aparência de

deste

não

vasta

(para

rede

evitar

as

intervenção,

importante

é

os

poderes

uma

mudança

que

populações? No passado, quando

barbáries locais como as da Hungria

refugiados.

coisas similares aconteceram, as

ou Eslováquia). Os refugiados devem

refugiados é o próprio capitalismo

mudanças sociais ocorreram de uma

ser tranquilizados de sua segurança,

global

forma espontaneamente selvagem,

mas também devem acatar as áreas

geopolíticos,

com violência e destruição (recorde

de

pelas

transformarmos isso radicalmente, os

as grandes migrações no final do

autoridades europeias, além disso,

imigrantes da Grécia e de outros

Império Romano) – Nos dias de hoje,

precisam respeitar as leis e as

países

tal perspectiva é catastrófica, com

normas

juntarão aos refugiados africanos.

armas de destruição em massa

europeus:

a

Quando eu era jovem, uma tentativa

disponíveis para muitas nações.

violência religiosa, sexista ou étnica

organizada de regulamentar o bem

Portanto, a principal lição a ser

de qualquer dos lados, nenhum

comum [commons] foi chamada de

aprendida é que a humanidade deve

direito de impor sobre os outros o

comunismo.

estar preparada para viver de forma

próprio modo de vida ou religião, o

reinventar isso. Talvez, no longo

mais “plástica” e nômade: Rápidas

respeito

cada

prazo, isso seja a única solução.

mudanças

individuo

seus

Tudo isso é uma utopia? Talvez, mas

globais, podem exigir, de forma

costumes comunais, etc. Se uma

se não fizermos isso, então, estamos

inédita, transformações sociais em

mulher decide cobrir seu rosto, sua

realmente

larga escala. Uma coisa é clara: a

decisão deve ser respeitada, mas se

merecemos estar.

soberania nacional terá que ser

ele

sua

* Publicado originalmente em inglês

radicalmente

redefinida

novos

liberdade deve ser garantida. Sim,

no In these times em 9 de setembro

níveis

cooperação

global

um conjunto privilegiado de regras do

de 2015. A tradução é de Danilo

inventados. E o que dizer das

modo de vida europeu. Estas regras

Chaves Nakamura para o Blog da

enormes mudanças na economia e

devem ser claramente estabelecidas

Boitempo.

padrões de conservação do clima

e aplicadas, por medidas repressivas

devido

(contra

energia?

de

a

climáticas,

escassez Através

locais

de de

e

água

e

e

quais

convivência

atribuídas

sociais

dos

nenhuma

da

escolhe

tolerância

liberdade

de

Estados

de

abandonar

não

os

cobri-lo,

estrangeiros

fundamentalistas, bem como contra

de

última

criam

hoje e

europeus

e se

em

Talvez

perdidos,

causa

seus

dos

jogos

nós

breve

não

se

devêssemos

e

nós


RACISMO

E

A

CAPITALISTA

OPRESSÃO

EM

TEMPOS

sindicais reconhecidas? Quantos são

permite, por exemplo, aos negros

dirigentes políticos?

valorizar a característica que difere

SOMBRIOS

das outras populações e romper com Alguns

colegas,

até

bem

intencionados, estufam o peito e

Alex Sander da Silva

dizem pra nós que hoje não precisa Primeiramente,

quero

fazer

uma saudação especial a nossos antepassados, desde o continente africano até os nossos Quilombos, nossa

luta

libertação.

pela

resistência

Salve

Zumbi,

e

João

Candido, Anastacia, Luther King, Steve Biko, Malcom X, e todos os negros e negras que lutaram e ainda lutam

contra

preconceitos

a

e

humilhação,

toda

forma

de

opressão. Com a permissão desses antepassados quero falar. Quero tornar visível o que está invisível, isto

falar em racismo, e que raça não existe, que hoje já entendemos que somente exista a “raça humana” e seria mais conveniente falar em “etnias”, étnica.

num primeiro momento, um tanto óbvia, mas quando se trata de relações raciais isso não é tão simples. Infelizmente, ainda vivemos em uma sociedade marcadamente cuja

manifestação

do

racismo se dá de diversas formas algumas vezes sutis e outras vezes escancaradas, de preconceitos, de discriminações

e

muitos

outros

tempo

para

histórica

e

conceitualmente os dois termos raça e etnia, por hora quero apontar a necessidade

de

discutirmos

o

as

diversas

conceitos

são

carregados

de

ambigüidades e ideologias.

Se

fizermos

perguntas

do

tipo:

quantos negros e quantas negras ocupam importância médicos,

cargos hoje?

de

grande

Quantos

doutores,

são

juízes,

desembargadores? Ou, quantos têm condições de acesso às melhores escolas, universidades? Ou para o

foram

permeia o imaginário popular. Já o termo

étnico/etnia

associado

é

geralmente

aos

aspectos

socioculturais, que pouco aprofunda as

desigualdades

raciais.

Caracterizam mais a raiz cultural plantada na ancestralidade dos mais diversos grupos, que se diferem na visão de mundo, nos valores e princípios de sua origem indígena, europeia, africana, ou asiática. Nesse sentido, considero que o

conceito

esvaziamento

etnia

sofre

político

de

um

sobre

o

problema das desigualdades raciais. Atualmente,

o

conceito

de

causa inúmeras polêmicas, porque a área biológica comprovou que as diferenças genéticas entre os seres humanos são mínimas, por isso não se admite mais que a concepção que a humanidade seja constituída por raças. No entanto na década de 1970, o Movimento Negro Unificado e os teóricos que defendiam na luta contra o racismo, ressignificaram o

Além do que, ele dá espaços para a ideologia da miscigenação e das políticas de embraquecimento, temas que não poderei aprofundar. Mas, faz-se necessários compreender que o

racismo

hoje

serve

como

ferramenta para dividir a classe trabalhadora, negros e brancos, que deixa de enxergar o verdadeiro inimigo: a exploração capitalista, que reforça o preconceito como forma de aumentar os lucros dos patrões.

conceito de raça, admitindo-a como

relações

entre

brancos,

negros e indígenas.

É preciso uma luta contra o racismo

que

política

e

seja

independente

financeiramente

dos

governos e que seja protagonizada O termo raça usado nesse

questão da visibilidade negra nos

problema que precisa ser enfrentado.

que

formuladas no século XIX e até hoje

de raça. E, considerar que ambos os

políticas de combate ao racismo, a

amplos espaços sociais ainda é um

raciais

combate ao racismo na perspectiva

tensas com

temos

diversidade

teorias

uma construção social forjada nas

abusos racistas inconcebíveis. Mesmo

a

raça quando aplicado a humanidade

Esta afirmação nos parece,

racista,

Não

desenvolver

é, quero dar visibilidade a luta pela consciência negra.

respeito

as

contexto tem uma conotação política e é utilizado com frequência nas relações

sociais

informar

como

brasileiras,

para

determinadas

características físicas, como cor da pele, tipo de cabelo, entre outras, influenciam, interferem e até mesmo determinam o destino e o lugar social dos sujeitos no interior da sociedade brasileira.

nosso caso, quantos são lideranças

O conceito de raça ao ser usado

com

conotação

política

pelos

movimentos

sociais

e

populares, pelas entidades sindicais e estudantis, de modo que possamos enfrentar radicalmente o racismo estrutural que assola a sociedade brasileira.


A PRODUÇÃO DE

sujeito,

Ao que não deixou de perceber

cuja

“encher”

tarefa

os

inclinável

educandos

é dos

CONHECIMENTO E

o meio social de trabalho sob a

APRENDIZAGEM NA

formação do individuo como ser

PERSPECTIVA MARXISTA DE

social. Marx relaciona a formação do

realidade

PAULO FREIRE

individuo perante analise material

totalidade em que se engendram e

2

dizendo que “não é a consciência

em

dos homens que determina o seu

significação. (FREIRE 1982, p.33).

Gabriel da Silveira Ângelo

RESUMO O artigo propõe discutir o processo

que

determina

sua

Freire segundo seu ponto de vista

escreveram

sobre

educacional

contexto educacional, mas sim para

capitalista. Contudo ao discutir o

o âmbito social a qual se inseri a isso

processo de aprendizagem, baseia-

a educação.

se pela percepção do individuo como

diretamente

sobre

o

Não cabia apenas para Marx e Engels

perante os modos produtivos e a

educacional, a ciência marxista tem

influencia do capital no contesto

como proposta analise a reflexão do

educacional.

sujeito como sujeito da história. Essa

Freire propõe uma visão libertadora

discussão

de

a

histórico não se limita apenas em

como

caminhar pelo campo econômico,

sujeito de transformação e libertação.

mas sim como mecanismo humano

A contribuição de Freire trás para o

através da sua realidade.

educador as reflexões necessárias

A

para o processo de aprendizagem e

FREIRE SOBRE ATO EDUCAR

importância

destacando

do

educador

abordar

o

sobre

contexto

materialismo

CONTRIBUIÇÃO

DE

PAULO

da história. O debate acerca do

logo mais tarde é trazida pelo

processo

pedagogo Brasileiro Paulo Freire em

relacionado processo

diretamente estrutural

esta

com

do

o

sistema

Palavras-Chave:

sua analise de educação libertadora. De

acordo

“Ensinar

econômico capitalista. Aprendizagem;

com não

conhecimento,

Freire é

(1996) transferir

mas

criar

as

Educação; Capitalismo; Marxismo

possibilidades para a sua própria

INTRODUÇÃO

produção ou a sua construção.”

Compreender o processo de aprendizagem

no

contexto

concepção filosófica de Marx de transformação

compreender

o

processo

percebe

aprendizagem

no

capitalismo,

necessário produtivo

analisar e

o

social.

é

contexto Marx

ganhariam

Paulo

Freire

contrapõe

a

realidade em relação às condições de transferência de conhecimento na sala de aula onde o professor é detentor do conhecimento e que só questiona a “Cátedra” modelo a qual o professor é o detentor exclusivo do conhecimento. Juntamente a essa percepção pode se refletir que as escolas funcionam como forma de banco

não

no

contexto

de

transferência de conhecimento, mas também de forma estrutural onde os alunos são trazidos para escola com

enquanto seus pais trabalham.

que

o

modelo

diretamente

produtivo na

reflete

estrutura

educacional, portanto no contexto capitalista a escola é vista pela perspectiva

de

mecanização

e

produção. Paulo Freire propõe que essas barreiras sejam quebradas pelo educador através do dialogo e da reflexão sobre seu ser social:

mundo.

O

diálogo,

como

encontro

dos

homens para a tarefa comum de

Freire

saber agir, se rompe, se seus pólos

educacional

(ou um deles) perdem a humildade.

capitalista como um método bancário

Como posso dialogar, se alieno a

de transferência de conhecimento:

ignorância, isto é, se a vejo sempre

o

de

método

no outro, nunca em mim? (FREIRE

ao

1982, p.46).

questionar o capital teve como ponto

Falar

de partida a analise a partir da

parado, estático, compartimentado e

história e dos meios produtivos a

visão

Freire se espelha diretamente na

capitalista, trás latente que para se de

cuja

da

Tendo em vista isso, é notório

A contribuição do marxismo

aprendizagem

desconectados

a finalidade de ser depositados

formação do individuo como sujeito

de

narração.

ele que pode ensinar. Sendo assim

ser histórico e como ele se move

educação,

sua

Conteúdos que são retalhos da

consciência”

(1982, p. 14). Marx e Engels não

estrutura

de

ser; ao contrário, é o seu ser social

de aprendizagem segundo Paulo

a

conteúdos

da

realidade

como

algo

bem comportado, quando não falar

O educador não deve se portar

algo

em uma condição de autoridade, pois

qual juntamente com Engels chamou

completamente alheio à experiência

a condição de aprendizagem em

de materialismo histórico.

existencial

vem

momento algum coloca em critério a

sendo, a suprema inquietação desta

autoridade, o educador deve trazer

ou

dissertar

dos

sobre

educandos

educação. A sua irrefreada ânsia. 2

Estudante do curso de geografia da UNESC ( Universidade do Extremo Sul Catarinense).

Nela o educador aparece como seu indiscutível agente, como o seu real

através do dialogo o despertar para o processo de aprendizagem a seu


aluno.

Trazendo

para

ou real”, em que se dão os fatores e o

uma

“contexto

perspectiva construtivista o educador

teórico”,

em

que

são

educando e os educando-educadores,

com os alunos e sua realidade e

como sujeitos cognoscentes, incidem

suas experiências.

sua reflexão crítica. (FREIRE, 1982, p.

conhecimentos

de

propõe

ao

Freire

educador trazer aos educandos a relação de sujeito da história e sujeito da realidade e a visão quanto individuo do mundo. Essa reflexão não se limita apenas para a relação sala de aula, mas para todo o meio

a

uma

A liberdade, que é uma conquista, e não

uma

doação

permanente

exige

busca.

uma Busca

permanente que só existe no ato

128).

Para entender o processo de troca

alunos

reflexão libertaria:

cognoscível sobre que o educador-

conhecimento, mas sim aprender

e

seus

analisadas; de outro, são o objeto

não tende apenas ser o detentor do

aprendizagem

conquista

responsável de quem a faz. Ninguém tem liberdade para ser livre: pelo

Outra discussão esta associada a

mediação

docente,e mentor

e

sua

de

relacionado

capacitação capacidade

indivíduos a

porque não a tem. (FREIRE, 1987, p.

do

35)

como

isso

esta

sociabilizarão

de

conhecimentos para o processo de aprendizagem.Freire ressalta: A segurança com que a autoridade

social a perceber o enfrentamento do

contrário, luta por ela precisamente

A reflexão de educar não esta exatamente

associada

apenas

transmitir teoria. A humanidade até os dias atuais vive de sua história

docente se move implica uma outra, a

materializada

que se funda na sua competência

aprendem por si e com mundo.

profissional.

autoridade

Como próprio Freire coloca que

da

docente se exerce ausente desta

“Ninguém se educa por si próprio,

descodificação, estarão os homens

competência. O professor que não

exteriorizando sua visão de mundo,

leve a sério sua formação, que não

sua forma de pensá-lo, sua percepção

estude, que não se esforce para estar

si mesmo: os homens se educam em

fatalista das “situações-limites”, sua

à altura de sua tarefa não tem força

comum, midiatizados pelo mundo”.

percepção estática ou dinâmica da

moral para coordenar as atividades de

(FREIRE, 1993, p. 9)

realidade. E, nesta forma expressada

sua classe. (FREIRE, 1997, p. 102)

sujeito com o mundo. Em

todas

as

etapas

Nenhuma

maneira

como

realizam

enfrentamento com

seu

o mundo, se

Hoje para o professor se coloca essa condição, uma boa aula se

encontram envolvidos seus “temas

reflete também no domínio que o

geradores”. (FREIRE, 1982, p. 115).

docente deve ter, não esta associado a

Freire

mostra

o

papel

condição

simplesmente

do

autoritária,mas de segurança em

educador que é trazer para suas

relação a troca de conhecimento e

aulas a realidade dos indivíduos que

experiências que o educador deve

ali estão a um objetivo real, isso esta

ministrar.Por isso o processo de

associada à condição de mediação.

aprendizagem

Portanto o estabelecimento da critica

ligado também a esse aspecto de

esta associado também ao concreto

mediação

ou ao objeto de cognição.

conhecimento

esta

e

que representam

situações existenciais, as codificações

fácil,pois

exige

do

a é o

ser

uma preparo

tarefa e

a

sua

formação do individuo docente e sem

oferecer

esquecer realidade semanal de um

possibilidades plurais de análises na

docente,que muitas vezes cumpri

sua descodificação, o que evita o

uma

devem

ser

simples

complexidade

e

na

dirigismo massificador da codificação propagandística. As codificações não são

slogans,

são

objetos

jornada

semanal

que

não

permite um bom rendimento. A condição libertaria deve estar

que

alicerçada na concepção filosófica do

deve incidir a reflexão crítica dos

docente para que ela de fato resulte

sujeitos

em libertação. De acordo com Freire

cognoscíveis,

desafios

sobre

descodificadores.

As

codificações, de um lado, são as mediação entre o “contexto concreto

aprendizagem

caminha

Freire não se limitou apenas em analisar a educação a um único ponto especifico, a analise de Freire fez frente à compreensão do campo do saber de cada sujeito. Como próprio Freire (1982, p.68) pontua sobre o campo do saber de cada sujeito: ''Não há saber mais, nem saber menos, há saberes diferentes''.

diretamente

domínio

sociabilizado.Não Na medida em

que

diretamente no campo do saber.

pensá-lo dinâmica ou estaticamente, na

homens

como tão pouco ninguém se educa a

A

de pensar o mundo fatalistamente, de

pelos

a libertação é condição de conquista por isso o docente deve tornar como

Contudo compreender

cabe o

o

educador

aluno

nessa

perspectiva, pois o processo de aprendizagem do individuo remete a condição pessoal de absorver o aprendizado. Essa é uma constante analise abordada por Freire, pois o educador deve se mover através da compreensão como sujeito e do mundo a uma condição de fazer com que

seus

alunos

também

compreendem está reflexão. Essa contextualização desafia o educador a se colocar na condição de

libertador

Segundo Freire:

diante

da

prática.


Ninguém começa a ser educador

saber é de todos, e muito menos

numa certa terça-feira às quatro a

exclusivo.

tarde. Ninguém nasce educador ou marcado para ser educador. A gente se faz educador, a gente se forma, como educador, permanentemente, na prática e na reflexão sobre a

O educador deve enxergar o processo de aprendizagem sob a noção de mundo e como transformálo, eis uma tarefa que parece estar

prática. (FREIRE, 1991. p.58)

em um campo “Lúdico”, mas é A posição de um educador não

preciso compreender que não há

esta apenas associada ao elemento

tempo e nem espaço para o “Lúdico”

“profissão”,

papel

o educador deve ir de encontro a sua

fundamental para a sociedade. Além

história e a história da humanidade.

da compreensão de sujeito como

A busca pela compreensão exige se

libertador. O fundamental não é sua

apegar

ao

movimento

compreensão

desenfreada

engrenagem

e

sim

a

um

apenas

no

campo

dessas a

qual

subjetivo de educar e sim no campo

remete cada dia prender a sociedade

do

a

concreto

de

se

ensinar

e

essas

esquinas

perigosas

da

transmitir conhecimento. Com todos

história. O educador tendo essa

os paradigmas e com todas as

compreensão certamente saberá que

incertezas o educador deve estar

o conhecimento é revolucionário e

ciente da sua importância e de sua

que o conhecimento e aprendizagem

contribuição para sociedade.

é libertam.

O papel do Marxismo não é apenas compreender o mundo e

REFERÊNCIAS FREIRE, P. Política e educação. São

suas condições sociais. O Marxismo

Paulo: Cortez, 1993

se coloca em uma condição de

FREIRE,

transformar

oprimido. 17ª ed. Rio de Janeiro, Paz

o

mundo.

Como

o

Paulo.

Pedagogia

do

próprio Marx disse sobre os filósofos

e Terra, 1987.

e a filosofia "Os filósofos se limitaram

FREIRE,

a interpretar o mundo de diferentes

Autonomia: saberes necessários à

maneiras;

prática educativa. São Paulo: Paz e

o

que

importa

é

Paulo.

Pedagogia

da

transformá-lo" (MARX e ENGELS,

Terra, 1997.

1996,

é

MARX, Karl. O Capital: crítica da

importante para o educador ter essa

economia política. 2 ed. São Paulo,

compreensão de ser agente possível

Nova Cultural, 1985. ______. Para

de uma transformação no campo do

Crítica da Economia Política e outros

conhecimento e no ato de aprender e

Escritos. São Paulo, Abril, 1982

inevitável no ato de transformar.

MARX, K. e ENGELS, F. A Ideologia

Além de tudo isso, a compreensão

Alemã. 10ª ed. São Paulo, Hucitec,

do processo de aprendizagem deve

1996.

estar

p.

14).

Dessa

relacionada

forma

também

a

realidade e a diversidade de saberes. A

compreensão

exclusivo

é

condicionante

posta pelo

de

saber

em

uma

modelo

de

educação capitalista, por isso Paulo Freire

vem

quebrar

com

esta

condicionante e colocar o campo do saber

ao

individuo

não

a

um

mecanismo social de exigência. Esse


encontra

ENSAIOS

pontos

principalmente

de

com

encontro,

onde as imagens são arquivos que

mulher,

se abrem com o intuito de revelar o

sua

Hildegarde. Aos trinta e cinco anos,

negativo da vida resguardada.

ela já não o atraia tanto, tudo nela perdia cor, enquanto ele adquiria, dia

Benjamin Button sente prazer por

ENSAIO SOBRE A EXISTÊNCIA E

após

sua

A DECREPITUDE

entusiasmo pela vida.

dia,

mais

energia,

mais

aparência

jovial

e

deseja

aproveitar todas as oportunidades, muitas negadas quando a idade

Guilherme Orestes Canarim Inversamente

a

proporcionalidade

cronológica

lhe

impunha

como

REFRENCIAS: FITZGERALD, Scott.

nos velhos, Benjamin percebe que a

obrigação pessoal e social, como a

Seis contos da era do jazz a outras

contingencia

degenerescência

vaga no Yale College, ou mesmo seu

histórias. Trad. e ensaio introdutório

(CIORAN,1995). em si segue outro

noivado com Hildegarde, realizado a

de Brenno Silveira. 6 ed. Rio de

movimento, o estado da ausência do

contragosto da família. O tempo

Janeiro: José Olympio, 2009.

esquecimento não lhe é apenas

passa, mas para o jovem Button ele

deturpação

como

é seu aliado porque no ano de 1910,

caducidade como também solapador

o rapaz de vinte anos consegue

da intensidade da “anástrofe” própria

entrar na Universidade de Harvard,

a sua condição. O curioso caso de

não cometendo o erro, entretanto, de

Benjamin Button é constituído por

declarar que jamais tornaria a ter 50

Neste ensaio pretendemos, por meio

memórias de ausências: as figuras

anos ou mesmo referir que seu filho,

da relação entre uma analise do filme

que animam o cenário são aquelas

dez

“o

que

naquela mesma instituição.

CIORAN,

Emil.

decomposição.

Breviário Rio

de

da

Janeiro:

Rocco, 1995.148p.

estranho

caso

de

benjamim

da

da

velhice

povoaram

a

Button” o texto “none” de marilena

maturidade

chaui que compõe a introdução do

personagem

livro

sociedade:

passagem

está

lembranças de velhos” escrito por

molduras,

posto

e

velhice,

a

a

juventude

antes,

diplomara-se

da Cada

Que nos velhos observemos que as

em

parapraxis não se dão mais como

de

ferloilung ou interface das estruturas

Eclea Bosi, entre outros, tocar em

recordar pertence ao presente, mas

psicológicas, não abole o fato de que

alguns aspectos da noção de velhice

o reencontro com os entes queridos

a

e o ensejo contemporâneo desta em

e

ocidental

nossa sociedade.

transporta o autor para um tempo

constituição

passado, permitindo, assim, que ele

demonstrativo na perda do substrato

o reviva, religando o princípio e o fim

identitario

e

primeira

“Memoria

e

Sobre a noção de velhice

com

protagonista.

anos

os

eternizada que

espaços

mostrando,

ao

o

ato

vivenciados

leitor,

que

o

O filme e o texto se entrecruzam no

percurso é a totalidade criadora.

que dos elementos do texto se

Entretanto, o conto de Fitzgerald

desprendem e transplantam para o

revela faceta que se opõem às

filme na forma do enredo certos

lembranças, pois, ao final da vida (ou

aspectos, dos quais pretendemos em

no

maior

psicológicos,

conseguia recordar nada mais, no

fisiológicos e sociológicos. Nessa

berço, percebia leves aromas e

trajetória inversa, Benjamin caminha

Textura,( FITZGERALD 2009p.22)

na direção contrária, desconstruindo

ruídos, luz e sombra para... no

as relações de afeto e de amizade

derradeiro instante, tudo ficar tomado

porque sua vida se constitui de modo

pela

inverso à normalidade, enquanto a

apagamento do mundo fosse o ponto

sociedade circundante amadurece e

de partida ou o ponto final de uma

envelhece, ele percorre a estrada a

existência vista pelo contrário –

caminho da juventude. Sob todos os

talvez

aspectos

preconceito

medida

suas

os

relações

ficam

prejudicadas porque ele mesmo não

início

dela),

escuridão,

uma

Benjamin

como

crítica da

se

severa

velhice,

não

o

ao mas,

especialmente, um modo de contar uma história guardada na memória,

formação

da

tem do

subjetividade

sua eu

quando

fratura como

se

degenerescência.

maior

mostra

oportunidade

na

a de


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