6º Seminário”As alterações climáticas e os recursos hídricos” FEUP, 11 e 12 de novembro de 2015
QUAL O WATERFRONT POSSÍVEL? A ÁREA ORIENTAL DE LISBOA EM TEMPO DE ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS GUGLIELMO RICCIARDI Universidade de Lisboa e Università degli Studi di Sassari Via Giacomo Leopardi 1, Grugliasco (Turim) guglielmoricciardi@gmail.com
Resumo Os efeitos das alterações climáticas (AC) produzem e produzirão grandes impactos nas áreas urbanas, nas quais se concentra uma maior quantidade de pessoas, actividades económicas, serviços e infra-estruturas. No futuro estes estes impactos serão maiores e a cidade de Lisboa pode constituir um exemplo paradigmático. Os estudos desenvolvidos pela equipa do CCIAM com o downscaling das previsões do V report do IPCC sobre AC, mostram que, no seculo XXI, os efeitos das AC produzirão uma variação significativa do nível médio do mar, o que irá afectar não só as áreas costeiras, mas também os ambientes de transição como os estuários, como o do Tejo que se caracteriza pela influência da dinâmica do oceano e do próprio rio. A transposição dos efeitos em cada componente que tem influência sobre o nível da água no estuário do Tejo, determinou dois cenários que definem um intervalo das possíveis flutuações do nível da água no estuário: entre +3,65 m s.n.m.m. e +4,65 m s.n.m.m, para o 2100. Neste sentido, para permitir a adopção de estratégias e políticas urbanas para a adaptação as AC, foram desenvolvidos cenários intermédios para o 2025, 2050 e o 2075. Os trabalhos produzidos estão na base do processo de adaptação das AC na área urbana, capaz de utilizar não só impactos da AC, mas também as vantagens e os pontos fracos da área estudada. A frente ribeirinha da área oriental de Lisboa (que hoje tem três terminais comerciais da APL e numerosas áreas devolutas, produzidas pelo processo de desindustrialização dos anos 90) será uma das áreas sujeita aos impactos da subida do nível da água no estuário, como também será afectada por inundações resultantes dos fenómenos extremos de precipitação. A possível subida do nível das águas do estuário junto aos pontos fortes e fracos da área em estudo, definiram uma análise de risco. Esta análise conduziu à definição das áreas de intervenção prioritária, coincidente com os terminais da APL e com algumas áreas industriais devolutas, bem como de outras funções urbanas. Após a definição das áreas de intervenção prioritária, o processo de planejamento urbano proposto procura inovar a prática usual na mitigação de risco, através da utilização de cenários como uma ferramenta para projetar a cidade na incerteza inerente na previsão de futuras alterações climáticas. Cada cenário de projecto representa o “what if?”, levando a reflectir sobre as políticas de adaptação, sobre uma possível renaturalização da área ou sobre propostas de redesenho urbano para a protecção da subida do nível das águas do estuário, com as áreas devolutas que têm vindo a ser utilizadas como área de expansão natural no caso dos eventos extremos de precipitações.
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6º Seminário”As alterações climáticas e os recursos hídricos” FEUP, 11 e 12 de novembro de 2015
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Já na fase de desenvolvimento dos cenários foi introduzida, em paralelo, uma avaliação económica com o modelo custo-benefício, que permitiu redefinir algumas proposta do redesenho urbano propostos nos cenários para racionalizar os custos. O modelo de avaliação confirmou o que é referido na maioria dos estudos de avaliação económica sobre AC, ou seja, que a intervenção com políticas urbanas de adaptação e redesenho do tecido urbano produz uma maior vantagem comparativamente às situações de ausência de políticas de adaptação. O processo de planeamento orientado para as AC urbanas é uma ferramenta inovadora para a adopção de políticas e projectos urbanos com vista a fazer frente aos impactos das AC; este processo permite constituir uma base de conhecimento e um apoio à tomada de decisão pela administração pública, no sentido de antecipar os eventos extremos (produzidos pelas AC), planear as mudanças sobre uma escala temporal mais ampla, aumentando o nível de segurança da população presente, limitando os danos sobre as actividades económicas e as infra-estruturas. A perspectiva futura de aplicação deste instrumento urbano deverá integrar um sistema de indicadores que permitam a monitorização das AC para reformular antecipadamente as políticas a adoptar em meio urbano.