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ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA PARA A PROMOÇÃO DO HIDROGÉNIO
Nº1 NOVEMBRO DEZEMBRO 2021 REVISTA BIMESTRAL 4€
ENTREVISTA JOÃO GALAMBA, SECRETÁRIO DE ESTADO ADJUNTO E DA ENERGIA
AP2H2 CELEBRA 19º ANIVERSÁRIO
TECNOLOGIA DESAFIOS E OPORTUNIDADES NO HIDROGÉNIO
INTERNACIONAL COREIA DO SUL APOSTA EM NOVAS SOLUÇÕES ENERGÉTICAS
FISCALIDADE REGIME FISCAL PARA A ECONOMIA DO HIDROGÉNIO VERDE
ÍNDICE
H2 Diretora Judite Rodrigues Diretor Adjunto Miguel Boavida Conselho Editorial Alexandra Pinto, Carmen Rangel, José Campos Rodrigues, Paulo Brito Redação David Espanca, Sofia Borges Editor de Fotografia Sérgio Saavedra Design e Paginação Sara Henriques Direção Comercial Mário Raposo Contacto para publicidade mario.raposo@bleed.pt Tel.: 217957045 Edição e Publicidade
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ESTATUTO EDITORIAL • A Revista H2 Magazine é uma publicação institucional e é editada em parceria com a AP2H2 - Associação Portuguesa para a Promoção do Hidrogénio; • A Revista H2 Magazine tem como função principal o contributo para a disseminação de conhecimento e a agregação da comunidade do hidrogénio; • A Revista H2 Magazine tem como principais objetivos a divulgação das melhores práticas e conhecimentos em torno das tecnologias do hidrogénio, fomentando a informação sobre projetos, opiniões e debate das grandes questões do setor, bem como difundir atividades relevantes junto da comunidade profissional e académica e do público em geral; • A Revista H2 Magazine visa manter vivo o valor das tecnologias do hidrogénio e divulgar o trabalho continuado de diferentes intervenientes que se empenham em inovar e demonstrar capacidades e competências, bem como a sua profunda vontade em adicionar valor às políticas públicas, ao ensino e formação, à investigação e à gestão das iniciativas ligadas ao hidrogénio; • A Revista H2 Magazine pretende configurar um espaço aberto à colaboração dos profissionais e especialistas nos vários níveis e setores do hidrogénio, pretendendo, deste modo, atingir uma audiência alargada e heterogénea, interessada na dinâmica energética e sensibilizada para a importância da implementação do hidrogénio como fonte de energia; • A Revista H2 Magazine pauta a sua conduta editorial pelo rigor da informação e pela liberdade de opinião dos artigos que publica, sendo a seleção dos conteúdos técnicos e científicos da exclusiva responsabilidade da Direção e Coordenação Editorial; • A Revista H2 Magazine integra publicidade, organizada por espaços de páginas e/ou frações, desde que aprovada pela Direção e Coordenação Editorial; • A Revista H2 Magazine garante que a publicidade, reimpressão ou outras receitas comerciais não têm qualquer impacto ou influência sobre as decisões editoriais; • A Revista H2 Magazine é independente do poder político, económico ou religioso; • A Revista H2 Magazine zela pelo cumprimento rigoroso das normas éticas e deontológicas do jornalismo; • A Revista H2 Magazine reconhece que o processo de revisão por pares é o cerne do sucesso da publicação, pelo que assume o compromisso de melhoria do processo em todos os aspetos da ética da publicação, especialmente nos casos de suspeita de submissão duplicada ou plágio; • A Revista H2 Magazine tem uma periodicidade bimestral.
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NOVEMBRO DEZEMBRO 2021
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Nº1
Editorial 4 O novo ciclo do hidrogénio Destaque 6 19º Aniversário da AP2H2 Fiscalidade 14 Um regime fiscal para a Economia do
Hidrogénio Verde - Pressupostos e algumas linhas orientadoras
Atualidade 16 Bio-hidrogénio - Uma alavanca ao
desenvolvimento do interior do país
18 A Economia do Hidrogénio Verde - Desafios e oportunidades Entrevista 20 João Galamba, Secretário de Estado
Adjunto e da Energia
Dossier 26 Contexto económico e tecnológico
do hidrogénio na República da Coreia
Inovação e Mercado 30 Green Pipeline Project Energia natural
do hidrogénio está a chegar ao Seixal
34 Projeto GreenH2ICE Hidrogénio para todos os carros
36 Working With Energy O hidrogénio como energia de futuro (cada vez mais próximo) 37 Power to X Know-how na produção de eletricidade renovável 38 Investigação e Inovação Hidrogénio é prioridade na União Europeia 40 PRF Gas Solutions Preparada para a mudança energética
42 Projeto Orange.Bat Comunidades
do hidrogénio verde: elemento essencial da transição energética e da descarbonização
44 Notícias
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EDITORIAL
MENSAGEM DO PRESIDENTE
O novo ciclo do hidrogénio
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ste é um momento particularmente gratificante para todos os que porfiaram na defesa e promoção do hidrogénio, vetor energético que fecha o puzzle da sustentabilidade ambiental, cuja resolução nos desafia a todos. É um imperativo moral que temos para as novas gerações, o que nunca é demais repetir. A H2 Magazine surge ao público marcando a viragem que se verifica na narrativa sobre o hidrogénio. Fechou-se um ciclo: Atingiu-se a maturidade tecnológica necessária e suficiente para que o hidrogénio entrasse nas Agendas energéticas e de sustentabilidade, de pleno direito. Foi a fase da ciência e tecnologia, dos protótipos, dos testes e demonstrações, da criação da cadeia de valor racional e sustentável, das pequenas séries… Agora um novo ciclo começa: o do roll-out, dando expressão à economia do hidrogénio, que se antecipava, mas que tardava a concretizar-se. A H2 Magazine marca esse ponto de viragem. Aparece na altura certa. A problemática da economia do hidrogénio já não é um tema restrito a um clube de iniciados. À medida que a economia do hidrogénio for ganhando expressão será cada vez mais um tema de interesse público, pois por ela vai passar parte significativa do nosso futuro coletivo. Será, nessa medida, um tema de debate público. Queremos contribuir, informando e ajudando a construir uma opinião fundamentada. Queremos ser, assim, uma tribuna aberta a todos os que queiram exprimir as suas ideias e opiniões sobre a forma como os desafios que se colocam estão a ser geridos aos mais diversos níveis. Queremos ser, igualmente, um espaço informativo, mantendo a comunidade atualizada sobre o que de novo vai acontecendo neste microcosmos que progressivamente se vai alargando. Em Portugal, depois de algumas hesitações de que o RNC - Roteiro da Neutralidade Carbónica é o exemplo mais negativo (e revelador da ignorância da APA relativamente ao hidrogénio)1, iniciou-se um caminho promissor de que as recentes calls no quadro do PRR são ilustrativas. Reconhecemos o esforço e iniciativa do Secretário de Estado da Energia para que o H2 ganhe visibilidade na Agenda da Sustentabilidade Energética e para que Portugal não fique à margem deste novo desígnio europeu.
Brevemente entraremos num novo ciclo político. É a oportunidade de questionar os partidos e atores políticos sobre o que pensam da mudança do paradigma energético, que contributo esperam do hidrogénio, que meios preveem alocar e quem (e como) vai beneficiar. Não são suficientes as declarações retóricas sobre a neutralidade carbónica e controlo das alterações climáticas, que em discurso político eleitoral será acompanhado por afirmações (gratuitas) de que a energia é um bem essencial para as famílias e para as empresas, pelo que não será social e politicamente aceitável qualquer agravamento dos seus custos. E, assim, caímos numa quadratura do círculo. Descarbonizar a indústria, eliminar o GN do sistema energético, termos uma mobilidade limpa: são objetivos nobres, mas têm um custo (as contas estão feitas?) Como se vão repartir estes custos (que são de toda a sociedade)? É importante que os partidos políticos clarifiquem o seu posicionamento sobre estes desafios e que apresentem as políticas que pretendem implementar para os resolver, caso venham a ser governo. Em 2017 a AP2H2 promoveu uma ronda de reuniões com os partidos políticos representados na AR. Não encontrámos um pensamento sobre o contributo do hidrogénio para a neutralidade carbónica. A iliteracia sobre o hidrogénio era dominante. Esperemos que hoje já seja diferente. Enquanto AP2H2 iremos examinar com a necessária atenção e rigor as várias plataformas partidárias. Vamos construir a nossa opinião, que partilharemos publicamente. Queremos saber, na sequência do próximo ato eleitoral, como se propõem os partidos gerir a defesa da sustentabilidade energética e ambiental e qual será (na visão de cada um deles) o contributo do hidrogénio (verde) na nova ordem energética (que se está a desenhar a nível mundial). A Economia do Hidrogénio é uma oportunidade que se abre ao crescimento da economia, ao reforço da autonomia energética, ao cumprimento dos objetivos de sustentabilidade ambiental. Queremos conhecer, avaliar e comparar as propostas partidárias para a nova realidade que se abre de especialização da economia e de transformação do sistema energético. l
José Campos Rodrigues Presidente da AP2H2
1. Para quando a sua revisão, ou devemos esquecê-lo?
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ANIVERSÁRIO AP2H2
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19 anos Tanto e tão pouco 2002s2021
A AP2H2 - Associação Portuguesa para a Promoção do Hidrogénio acaba de completar 19 anos de existência, merece, por isso, os nossos parabéns. Depois de um longo percurso, o hidrogénio está finalmente na Agenda e o futuro é muito promissor.
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5o Seminário Internacional
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o longo destas quase duas décadas de vida, a AP2H2 muita tinta já fez correr: Mensagens, notícias e newsletters, seminários internacionais, jornadas e workshops, cursos de formação, business lunches e webinars pontuaram estes 19 anos levando o conhecimento sobre o H2 a milhares de pessoas que, de algum modo, procuravam por diferentes razões saber mais sobre este vetor energético, construindo assim uma grande Comunidade onde o H2 é o cimento de ligação. O reforço dos laços construídos alimenta-se com as suas publicações regulares: Newsletter (mensal) e o H2Clip (semanal). Fazem parte deste universo associados empresariais, instituições científicas, entidades privadas sem fins lucrativos, entidades da Administração Pública, associados a título individual e público em geral interessado na divulgação e promoção da economia e tecnologias do H2 como solução energética a implementar de acordo com os objetivos estratégicos a que o país tem vindo a comprometer-se no quadro europeu, dando assim cumprimento à sua Missão. Fundada em 2002, a AP2H2 tem como objetivo fundamental a promoção do H2, disseminando informação relevante através da realização de seminários, jornadas, conferências e outras atividades de carácter informativo, estabelecendo interfaces com entidades nacionais e internacionais relacionadas com a cadeia de valor do H2, contribuindo para criar e implementar legislação e regulamentação sobre o H2 junto das autoridades competentes. Atualmente, é a única organização nacional a representar os interesses e objetivos das entidades que consideram o H2 como vetor relevante para a viabilização de um novo paradigma energético ambiental e economicamente sustentável. Envolvimento da comunidade
No desenvolvimento da sua atividade, a AP2H2 tem procurado, de forma alinhada com os seus objetivos programáticos, enquadrar o conjunto de ações que organiza em torno dos seus quatro eixos estratégicos: • Promoção e divulgação das Tecnologias do H2; • Atividades Educativas e de Formação Profissional; • Seminários Internacionais, Jornadas, Workshops e Webinars; • Estudos. Desenvolve a sua atividade num quadro aberto de parcerias com entidades nacionais dos setores universitário, Admi- }
H2 É DETERMINANTE PARA A NEUTRALIDADE CARBÓNICA
Nuno Nascimento Diretor de Estratégia, Transição Energética, Marketing e Comunicação | Galp Gás Natural Distribuição
Foi com grande prazer que recebi o convite para celebrar este aniversário da AP2H2, participando no lançamento da H2 Magazine. Para além do relevante trabalho de promoção do hidrogénio que tem vindo a ser desenvolvido pela AP2H2, a H2 Magazine será certamente mais um importante instrumento para esclarecer e envolver a sociedade sobre o papel que o hidrogénio terá na criação de um sistema energético mais resiliente e com menor intensidade carbónica. De facto, o H2 verde apresenta-se como uma solução determinante para que Portugal possa prosseguir um caminho rumo à neutralidade carbónica em 2050, permitindo a descarbonização de consumos residenciais, terciários e industriais, em particular nos setores de atividade onde a eletrificação não é solução. A Galp Gás Natural Distribuição (GGND), enquanto operador líder na distribuição de gás em Portugal, está empenhada em contribuir para as metas de descarbonização e destaca a importância da atual infraestrutura de distribuição de gás no suporte ao desenvolvimento e penetração de gases renováveis. Neste intuito, a GGND apresentou recentemente o Green Pipeline Project - o 1º projeto de injeção de H2 verde na rede de distribuição de gás natural, em Portugal. Um projeto que vai abranger cerca de 80 clientes no município do Seixal e visa a injeção de H2 até 20%(vol). Para um projeto desta relevância, a nível nacional e internacional, a GGND conta com o precioso contributo de diversos stakeholders, dos quais faz parte a AP2H2.
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RESPONDER À URGÊNCIA DAS ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS
Rui Gomes Business Development Manager | Direction Commerciale Air Liquid
O compromisso do grupo Air Liquide, em linha com o Acordo de Paris, visa responder à urgência das alterações climáticas e à neutralidade de carbono até 2050. Como pioneiros, nos últimos 50 anos desenvolvemos todas as competências na cadeia de abastecimento do hidrogénio, e estamos certos de que é uma pedra angular na transição energética. Foi com base nos nossos valores, no nosso compromisso e conscientes do contributo que podemos dar, que a Air Liquide tem vindo a participar de forma ativa na vida da AP2H2, da qual fazemos orgulhosamente parte desde a sua fundação em 2003. Ao longo destes anos foram várias as iniciativas promovidas pela Associação e que muito contribuíram para a divulgação das potencialidades do hidrogénio, em particular a sua importância, hoje inquestionável e incontornável, na luta contra as alterações climáticas. A AP2H2 tem tido, e continuará a ter, certamente, um papel fundamental na sociedade portuguesa em termos de promoção do hidrogénio como vetor energético em Portugal.
Visita técnica a Sines nistração Pública e empresarial, de que são exemplo as seguintes iniciativas: • Em parceria com o IST/IDMEC (2007-2008) e apoio do Compete para a realização de um conjunto de ações para a promoção da Sociedade do H2 junto de diversos públicos: empresas que desenvolvem atividades relacionadas com o H2, profissionais de comunicação social, estudantes universitários e público em geral; • Com o LNEG, (2013-2015) e apoio do Compete/SIAC para a realização de um conjunto de atividades visando colocar a economia do H2 na Agenda Energética, Ambiental e Económica nacional. Para além do apoio a ações
CONSTRUIR AS BASES DA FUTURA ECONOMIA DO HIDROGÉNIO
António Comprido Secretário-Geral da Apetro
Considerado, e muito bem, como um ano de viragem para o hidrogénio, 2021 é o ano de celebração do 19.º aniversário de existência da AP2H2. Merece por isso o reconhecimento de todos os que se interessam pelas questões da energia. Há muito que o hidrogénio tem um papel fundamental em muitas indústrias, incluindo aquela em que nos inserimos: a refinação, que é um dos seus principais produtores e consumidores. Mas demorou um pouco mais a afirmar-se noutra dimensão: a de vetor energético, onde terá uma importância crescente no cabaz da energia final, afirmando-se em muitos setores, desde a indústria aos transportes, em concorrência saudável com outras formas de energia. Tive o prazer de acompanhar os primeiros passos da Associação, com quem mantivemos sempre uma relação de colaboração. Vêm-me à memória os tempos do projeto CUTE, em que durante cerca de 2 anos houve autocarros equipados com células de combustível alimentadas a hidrogénio, a circular no Porto, em várias outras cidades europeias e na Austrália. Felicitações pela vossa perseverança que ajudou a construir as bases da futura economia do hidrogénio.
de promoção e divulgação do H2 (newsletter, workshops, blog, site), o projeto compreendeu a realização de estudos de avaliação da competitividade e impacto macroeconómico do H2 como vetor energético em vários cenários do mix energético nacional; • Mais recentemente (2016-2019), em parceria com o IPP e o INEGI, celebrou um novo contrato com o SIAC com vista à realização do Projeto H2Se (Hidrogénio e Sustentabilidade Energética) para o triénio seguinte. O projeto, liderado pela AP2H2, repartia-se por um conjunto de ações agregadas em três eixos estratégicos: - Promoção, Divulgação e Comunicação da Economia do H2; - Inovação e Tecnologias; - Estudos de Interesse Estratégico. Um quarto eixo, de natureza mais operacional, apoiava as atividades de acompanhamento e de avaliação do projeto. As atividades realizadas ao abrigo do H2Se constituíram uma janela de oportunidade incrível para a afirmação da Associação, não obstante o clima de retraimento do tecido empresarial nacional em investir em tecnologias mais disruptivas ou menos conhecidas como o H2 e o alheamento do Governo apesar de subscritor do Acordo de Paris (2015) e da Aliança para o Hidrogénio/Linz (2019). No contexto internacional, ao invés, a aposta no H2 ga- }
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EMPENHO NA PROMOÇÃO DA ECONOMIA DO HIDROGÉNIO
Song Oh Embaixador da República da Coreia em Portugal
Gostaria de felicitar a AP2H2 pelo 19º aniversário da sua fundação, celebrado em 2021, ano em que também a República da Coreia festeja o 60º aniversário do estabelecimento de relações diplomáticas com a República Portuguesa. Gostaria, ainda, de manifestar a minha satisfação ao presidente da AP2H2, Eng. Campos Rodrigues, pelo seu empenho em promover a economia do hidrogénio. É, pois, com muito prazer que irei apresentar nesta edição da revista a situação atual da economia e do desenvolvimento tecnológico relativos ao hidrogénio na República da Coreia que se tornou líder em termos desta indústria.
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UMA REFERÊNCIA NA PROMOÇÃO DO HIDROGÉNIO
Paulo Ferreira Administrador da PRF
A Associação Portuguesa para a Promoção do Hidrogénio tem feito, ao longo de quase 20 anos, um trabalho sério, conquistando dia após dia o seu espaço e tornando-se uma das referências como veículo de comunicação especializado na promoção e divulgação do hidrogénio como vetor energético, apoiando o desenvolvimento das tecnologias associadas e incentivando a utilização do hidrogénio em aplicações comerciais e industriais em Portugal. A PRF, como parceiro da AP2H2 congratula-se por esta iniciativa que vem reafirmar a vocação natural da Associação que, na sua origem, reuniu lideranças e ideias, imbuídas do espírito público que norteia o progresso em toda a sociedade e cobrindo as principais áreas de intervenção no mundo da implementação do hidrogénio como vetor energético. A forma de abordagem e a riqueza de conteúdo nas matérias apresentadas é realmente o que nós, leitores, esperamos encontrar. Parabéns e muito sucesso!
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DESENVOLVIMENTO DA SOCIEDADE DO HIDROGÉNIO
Jornadas do Hidrogénio em Torres Vedras nhava um consenso alargado mobilizando investimentos vultuosos em projetos de demonstração e de desenvolvimento com o apoio da FCH-JU Fuel Cell reconhecendo que no combate às alterações climáticas o contributo do H2 era incontornável. O reconhecimento público, no país, da contribuição do H2 para o processo de transição energética e consequente necessidade de revisão do PNEC, que apenas previa a entrada do H2 em 2040 e pontualmente na mobilidade de pesados - posição contestada publicamente pela AP2H2, fundamentada nos estudos que vinha realizando com a equipa do CENSE da FCT/UNL, veio a verificar-se em novembro de 2019, pela mão do Secretário de Estado Adjunto e da Energia. Revisto o PNEC, com o contributo da AP2H2 (final de dezembro de 2019), o H2 (re)ganhou um novo espaço como solução energética para o curto-médio prazo e fez a sua entrada definitivamente na Agenda Nacional da Sustentabilidade Energética, abrindo assim as portas à Economia do H2. Hidrogénio na Agenda
A missão principal da Associação, desde a sua criação colocar o hidrogénio na Agenda Política e Energética - foi alcançada no final de 2019, com a revisão do PNEC 20-30, que passou a incluir o H2 no mix energético nacional e reconhecido o seu contributo para a descarbonização da economia, em alinhamento com as orientações da Comunidade Europeia. O importante papel desempenhado pela Associação neste percurso foi igualmente reconhecido pelas comunidades empresarial e científica e pelo Secretário de Estado da Energia. A dinâmica entretanto criada continuou em 2020 e 2021. No espaço de um ano, de país que marginalizava o H2 como vetor energético (RNC e PNEC, versão 2019) passa a posicionar-se como um dos principais players europeus. Em agosto, o Governo aprova a Estratégia Nacional para o Hidrogénio (EN-H2), dá início ao processo de auscultação de empresas com projetos na área do H2 e anuncia um primeiro pacote de 40 milhões. O PRR, no âmbito da descarbonização, vai apresentando as diferentes call’s criando novas oportunidades de investimento na área do H2. O caminho está feito! O chegar até aqui não foi fácil, mas foi muito estimulante e trabalhoso. O H2 está na Agenda, finalmente! Rumo ao futuro
Neste aniversário, a AP2H2 quer partilhar com a Comu- }
José Ramos Presidente da CaetanoBus | Presidente e CEO da Toyota Caetano Portugal
A Toyota Caetano Portugal e a CaetanoBus na pessoa do seu Presidente, congratulam a AP2H2 pelos seus 19 anos de existência, dedicados ao serviço da divulgação, promoção e desenvolvimento da Sociedade do Hidrogénio, no âmbito da sustentabilidade energética e ambiental. Por coincidência, 19 anos foi também o período decorrido desde a apresentação pela Toyota do primeiro protótipo de um veículo com célula de combustível, em 1996, e o início da comercialização, em 2015, da 1.ª geração do Toyota MIRAI, o primeiro veículo de mobilidade elétrica a hidrogénio, com energia produzida a bordo através da tecnologia Fuel Cell. Todavia, o ressurgimento em alta do petróleo em 2010, o continuado apoio estatal ao diesel e o excessivo foco na mobilidade elétrica a baterias (BEV), levou a que o hidrogénio permanecesse institucionalmente excluído ou ignorado. O hidrogénio e o MIRAI teriam que esperar mais alguns anos, mas a AP2H2 e a Toyota Caetano Portugal não se resignavam. A AP2H2 mantinha a sua missão de divulgação, informação e facilitação, organizando e/ou participando em seminários e workshops, com entidades do mundo científico, académico, estatal e empresarial, promovendo o desenvolvimento no domínio do hidrogénio. A Toyota Caetano Portugal, aceitava os primeiros desafios para a introdução do veículo e respetiva tecnologia, como foi o caso de uma eventual participação num projeto de âmbito ibérico, suportado por Fundos Europeus, mas que viria a abortar pelo facto de à data, o hidrogénio não constar do roteiro nacional, não existir ainda no nosso país uma estratégia nacional ou qualquer apoio institucional. A AP2H2 ajudou-nos então a obter um retrato mais fiel do “estado da nação” e, a partir de então, a sermos mais participativos em ações, promovidas pela AP2H2 em conjunto com o LNEG e DGEG. Podíamos ter perdido o comboio ibérico, mas o maior e mais relevante desafio surgia algum tempo depois, no decurso de uma visita à Toyota Motor Corporation. O desafio aceite logo de imediato consubstanciava-se num projeto irrecusável, promissor e de enorme importância para o Grupo Salvador Caetano e para o País, estamos a falar da uma parceria Toyota e o Grupo Salvador Caetano para a produção de um autocarro urbano elétrico a hidrogénio com célula de combustível Toyota, a qual viria a ser formalmente oficializada em outubro de 2018. Por via deste projeto, passamos então a constar do roteiro internacional do hidrogénio, confirmado um ano depois, a 18 de outubro de 2019, quando a CaetanoBus e a Toyota
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Motor Europe levaram a cabo a apresentação pública internacional na “Bus World Fair” em Bruxelas, do autocarro urbano “H2.CityGold CAETANO” c/Fuel Cell TOYOTA. Já em 2020, a 14 de agosto, em sede de Resolução do Conselho de Ministros n.º 63/2020, Portugal oficializa a Estratégia Nacional para o Hidrogénio (EN-H2). Chegados ao presente e olhando o futuro, diríamos que as prioridades passam agora pelo apoio à implementação das estratégias de âmbito nacional. É chegado o momento de agir, de fazer com que o hidrogénio passe a desempenhar um papel relevante na descarbonização dos transportes, da indústria e do sistema energético dos edifícios, tirando o máximo partido dos instrumentos disponibilizados pela Europa. Na vertente transportes e mobilidade, a sociedade em geral e a sociedade do hidrogénio em particular, podem continuar a contar connosco. Já se encontram disponíveis carros e autocarros FCEV a hidrogénio em Portugal, a Toyota e Caetano estão a fazer a sua parte, a sua visão e missão é e continuará a ser a de prosseguir com excelência o percurso proporcionado por
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esta parceria com a Toyota, desenvolvendo e disponibilizando novos produtos de mobilidade zero emissões, expandindo a sua gama de produtos elétricos (bateria ou Fuel Cell) ao serviço das pessoas. Chegam ao nosso conhecimento notícias sobre projetos de produção de hidrogénio, já em curso. Todavia, urge uma rápida implementação de postos de abastecimento para o setor dos transportes. Cabe agora à sociedade, aos políticos, às entidades públicas e às empresas do setor fazerem a sua parte, contribuírem para que, até 2025, possa estar concretizado pelo menos o número mínimo de postos de abastecimento previstos na EN-H2 - Estratégia Nacional para o Hidrogénio (10 a 25). A AP2H2 terá seguramente um papel importante, não só continuando a divulgar as tecnologias e os benefícios do hidrogénio enquanto vetor energético, mas também agregando e coordenando interesses comuns que levem ao sucesso da transição energética e à implementação de uma economia do hidrogénio no nosso país, em linha com a estratégia europeia.
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TESTEMUNHO DE UMA CRUZADA
Pedro Guedes de Campos Financial Engineering Officer | Clean Hydrogen Joint Undertaking
Cruzei-me pela primeira vez com a AP2H2, na pessoa do seu presidente, o Sr. Eng.º Campos Rodrigues. Dava os meus primeiros passos no hidrogénio, quatro meses após ter iniciado funções no organismo europeu dedicado ao financiamento da investigação e desenvolvimento de pilhas de combustível e hidrogénio, a Fuel Cells and Hydrogen Joint Undertaking - recentemente renovada e rebatizada como Clean Hydrogen Joint Undertaking. Isto aconteceu em março de 2017, durante o primeiro workshop organizado conjuntamente pela DGEG e o LNEG para a “elaboração do roteiro português” do hidrogénio. Já conhecia a dinâmica das associações do hidrogénio a nível europeu, até porque, em parceria com a Comissão Europeia, a Hydrogen Europe (indústria) e a Hydrogen Europe Research fazem parte do Conselho de Administração da Joint Undertaking. No entanto, e talvez por nunca ter estado desperto para essa realidade, não sabia existirem exemplos de associativismo dinâmico entre empresas e investigação em Portugal, especialmente num setor até então tão “exótico” e desconhecido para o público em geral. Nesse workshop, durante as diversas mesas redondas, apercebi-me que remávamos no mesmo sentido, mas ainda um pouco contra a maré, fruto de uma tendência natural para nada fazer e pouco investir - normal para um país que dava então tímidos passos na recuperação económica da anterior crise financeira. O papel do hidrogénio será tão mais importante quanto maior for a taxa de penetração de energias renováveis intermitentes no sistema energético nacional. O potencial é tal, e com tão boas
nidade do Hidrogénio a sua satisfação por achar que se encontra num momento de final do seu primeiro grande ciclo. Relembra, no entanto, a situação extremamente difícil que atravessou, provocada, em grande parte, pela crise de 200810, que levou à perda de muitos associados, com grande impacto na sua capacidade financeira e no (des)interesse dos sócios na participação da vida associativa. Esta situação que considera ultrapassada com o contributo empenhado e competente da sua equipa constituída pela Secretária Geral e a Assistente da Direção, trabalhando a meio tempo, e ao seu corpo associativo que quase triplicou o seu número de associados, contando entre eles com os principais players da área da energia. São hoje inúmeros os pedidos de informação e convites recebidos quase diariamente dirigidos à Associação para participar em seminários, jornais e revistas de grande dimensão e na televisão com artigos e depoimentos sobre o H2, para organizar cursos de formação sobre a cadeia de valor do H2 e sobre avaliação de risco e segurança de trabalhadores, processos e instalações, que se encontram em fase de prepa-
condições económicas neste canto da Europa, que a exportação deste vetor energético para os nossos parceiros do Norte, mais industrializados mas menos abençoados por recursos renováveis, certamente contribuirá para coletivamente atingirmos a ambição do European Green Deal e do Acordo de Paris. Portugal precisa e merece ter um cluster de hidrogénio integrando toda a cadeia de valor, desde a geração do “eletrão verde” até à sua transformação e utilização final enquanto “molécula verde”. Um cluster que permita industrializar o país desde a produção e instalação de equipamentos de energias renováveis de ponta, passando pela reconversão e descarbonização de ativos cujo risco de obsoletismo é enorme face à ambição de neutralidade carbónica em 2050, até à produção e assemblagem de componentes nos equipamentos de utilização final do hidrogénio, como é por exemplo o caso da Caetano Bus - na vanguarda dos autocarros a pilhas de combustível. Nestes últimos cinco anos Portugal beneficiou da intervenção atenta e informada da AP2H2. Esta teve um papel central na criação do momento, foi essencial para passar a mensagem e desafiar o tecido empresarial português, mostrou a inviabilidade do status quo e as oportunidades emergentes, estimulou a componente de investigação e desenvolvimento fazendo a ponte entre centros de investigação e empresas, sem nunca perder de vista a cadeia de valor no seu todo. Além disso, trabalhou na modelização dos casos de negócio, estimulou a iniciativa privada e propôs formas eficientes de alcançar os ambiciosos objetivos que o Governo vinha assumindo. Com o seu trabalho persistente contribuiu decisivamente para melhorar a já arrojada Estratégia Nacional para o Hidrogénio. O hidrogénio verde está para ficar e contribuir decisivamente para a transição energética em Portugal, na Europa e no Mundo. É uma caminhada ambiciosa para a qual a AP2H2 já se está a preparar, como é tão bom exemplo esta nova revista da sua iniciativa. Parabéns AP2H2! Obrigado AP2H2!
ração, o que ilustra o papel relevante da AP2H2, enquanto interlocutora representativa deste setor de atividade. A AP2H2 colabora e/ou é parceira em vários projetos, designadamente na Secil, projeto H2Valley, na Câmara Municipal de Alenquer, Projeto H2 Mobilidade Alenquer, na Câmara Municipal de Torres Vedras, projeto Living Lab, na CP, projeto H2Rail, no H2Green Pipeline do Seixal, liderado pela GalpGN Distribuição. Com a sua situação financeira saneada, a AP2H2 respira vitalidade e é com confiança que encara o futuro, que se adivinha promissor. A Economia do H2 está a caminho, é o nosso novo ciclo, desafiador, naturalmente, que queremos ajudar a construir! Para a Câmara Municipal de Caldas da Rainha uma menção muito especial de reconhecimento pelo apoio e generosidade com que acolheu a Associação no seu parque empresarial e a todos os que nos acompanharam neste percurso, o nosso profundo agradecimento. Um brinde ao futuro do Hidrogénio e a um País mais verde, mais sustentável e mais feliz. Hip, Hip, Urra! l
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FISCALIDADE
NACIONAL
Um regime fiscal para a Economia do Hidrogénio Verde Pressupostos e algumas linhas orientadoras 2. O papel da política fiscal na Estratégia Nacional para o Hidrogénio (EN-H2)
Filipe de Vasconcelos Fernandes
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Enquadramento
A eclosão de uma Economia do Hidrogénio Verde está diretamente relacionada com as necessidades de descarbonização de cada Estado e as respetivas metas em termos de neutralidade carbónica - circunstâncias às quais Portugal, pelo seu contexto e enquadramento em termos europeus e internacionais, não poderá ser alheio. Cumprir a exigente trajetória de descarbonização suscita um conjunto de desafios de larga expressão, com particular relevo para os padrões de produção e de consumo e, bem assim, para os pressupostos subjacentes aos atuais processos de produção de energia, sabendo de antemão que a procura global irá aumentar exponencialmente nas próximas décadas. Neste contexto, o papel dos regimes fiscais é particularmente relevante, não apenas por motivos creditícios (com flutuações previsíveis na arrecadação de receita) como, de igual modo, pela importância dos referidos regimes ao nível da indução de comportamentos, tanto ao nível da oferta como da procura.
A Resolução do Conselho de Ministros n.º 25/2018, de 8 de março, aprovou o Plano Nacional do Hidrogénio, subjacente ao qual está a Estratégia Nacional para o Hidrogénio (EN-H2). A política fiscal é objeto de expresso enfoque por parte da EN-H2, pese embora em termos breves e seguindo uma base programática que antecipa os seguintes eixos de atuação: • Em primeiro lugar, a implementação de benefícios fiscais, como normalmente sucede em relação a novos vetores energéticos, especialmente de base renovável; • Em segundo lugar, a implementação de discriminações positivas, em prol do Hidrogénio Verde - pese embora sem especificação sobre o tipo de atividades abrangidas; • Em terceiro e último lugar, alterações à Fiscalidade Verde, antecipando-se o consequente reforço da tributação do Carbono e a respetiva consignação de receitas, presumivelmente ao Fundo Ambiental
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A política fiscal é objeto de expresso enfoque por parte da EN-H2, pese embora em termos breves
- sobretudo num momento em que, nos termos da Lei do Orçamento do Estado para 2021 (Lei n.º 75.º -B, de 31 de dezembro), o Governo procedeu à incorporação, neste último, do Fundo Florestal Permanente, do Fundo de Apoio à Inovação, do Fundo de Eficiência Energética e do Fundo para a Sustentabilidade Sistémica do Setor Energético. 3. O presumível enfoque na tributação (especial) do consumo e nos créditos fiscais
Segundo entendemos, as orientações programáticas da EN-H2 em matéria de política fiscal poderão levar à implementação de medidas a três níveis essenciais, que doravante se sintetizam em moldes sugestivos: • Em primeiro lugar, antecipamos a proliferação de isenções na ótica dos Impostos Especiais sobre o Consumo (neste caso, avançando na direção já trilhada pela mencionada Lei do Orçamento do Estado de 2021) e do próprio IVA - sendo de destacar que, no contexto comparado, a Estratégia Nacional do Hidrogénio da Noruega já prevê a implementação de isenções de IVA para a aquisição de veículos movidos a Hidrogénio, em linha com o que, entretanto, fora adotado por outros Estados; • Em segundo lugar, antecipamos igualmente a aplicação generalizada de mecanismos de crédito fiscal ao investimento (produtivo), com eventual especificação de aplicações relevantes para os projetos relativos ao Hidrogénio Verde, sobretudo com conexão (ainda que indireta) aos custos dos eletrolisa-
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Cumprir a exigente trajetória de descarbonização suscita um conjunto de desafios de larga expressão
dores (CAPEX) - sem prejuízo do ritmo adotado ao nível dos regimes de incentivos financeiros. Neste momento, parece-nos particularmente dificultada uma orientação que passe pela criação de isenções de grande amplitude ao nível de impostos como o IRC, em especial em segmentos como a taxa nominal ou isenções; • Em terceiro e último lugar, não excluímos o potencial relevo atribuído a: a) Regimes especiais de depreciações/amortizações aceleradas no caso de projetos híbridos (produção de Hidrogénio associada a centrais solares e eólicas já existentes), sobre-
tudo caso tal implique um mecanismo de substituição de tarifas feed-in (FiT) ainda em curso; b) Implementação de uma modalidade especial de subsídios ao abate, sobretudo em relação a projeto de reconversão (ex.: reconversão ferroviária dos equipamentos a diesel para Hidrogénio Verde ou reconversão de ativos de Gás Natural para Hidrogénio). 4. As tarifas como parte do regime fiscal do Hidrogénio Verde
Uma última nota para referir que a componente tarifária é, pela sua própria natureza, parte do regime
fiscal do Hidrogénio. Como tal, sobretudo no segmento do Power-to-Gas (“P2G”), será muito relevante atentar à implementação de isenções, como a anunciada, na ENH2, ao nível de uma, total ou parcial, de Tarifas de Acesso às Redes para a injeção de Hidrogénio nas redes de Gás Natural (transporte e distribuição). l
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• Assistente Convidado na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa (FDUL). • Mestre e Doutorando em Direito Fiscal. • Consultor Sénior na Vieira de Almeida & Associados (VdA). • Fundador do H2Tax – O Primeiro “Think Tank” em Portugal exclusivamente dedicado à Fiscalidade do Hidrogénio.
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Bio-hidrogénio Uma alavanca ao desenvolvimento do interior do país
Paulo Brito
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ivemos tempos de mudança em termos energéticos devido à urgente necessidade de reduzirmos as emissões de gases de efeito de estufa, em particular, o dióxido de carbono, cuja principal fonte são os combustíveis fósseis, no sentido de termos uma efetiva descarbonização da nossa sociedade e não aumentarmos mais a temperatura média do planeta. Aumento tal que tem como consequência o seu desequilíbrio e ajuste a um outro estado de equilíbrio muito menos favorável à espécie humana e ecosistemas. Os combustíveis fósseis, que temos vindo a consumir de forma intensiva, ao longo dos últimos 100 anos, são os principais responsáveis por esse desequilíbrio devido à libertação de grandes quantidades de carbono, sob a forma de dióxido de carbono, que esteve armazenado durante milhares de anos. Face a este problema, a Europa colocou o objetivo de atingir a neutralidade carbónica em 2050, sendo evidente a necessidade de se alterar o paradigma energético se o queremos atingir. Implementar alternativas aos combustíveis fosseis, hidrocarbonetos com elevado poder calorífico que, em termos económicos, é uma tarefa difícil de se conseguir de forma competitiva. Porém, se queremos assegurar a sobrevivência das gerações futu-
ras, a busca dessas alternativas não pode diminuir. O vetor energético que tem como base o hidrogénio é uma alternativa que pode ter uma contribuição muito significativa em todo o mix energético, pois permite diferentes aplicações e apresenta vantagens quer ao nível do armazenamento de energia renovável e estabilizador da rede elétrica, quer em aplicações de mobilidade elétrica como combustível, bem como, a possibilidade de ser utilizado como combustível numa vasta gama de aplicações industriais. A cadeia de valor do hidrogénio vai desde as tecnologias de produção de hidrogénio renovável, com base em eletrólise da água ou tecnologias que partem de recursos biomássicos, passando pelo seu transporte e armazenamento, até à sua utilização. A Estratégia Nacional para o Hidrogénio (EN-H2) vem estabelecer a visão do país para o hidrogénio, identificando oportunidades e identificando todas as cadeias de valor, bem como as políticas e medidas de ação legislativa e operacional a implementar de modo que os objetivos
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O vetor energético que tem como base o hidrogénio é uma alternativa que pode ter uma contribuição muito significativa em todo o mix energético
sejam atingidos, nomeadamente, a obtenção em 2030 de 5% de hidrogénio no consumo final de energia, no transporte rodoviário e no sector industrial, 15% de injeção na rede de gás natural, 50 a 100 estações de abastecimento e 2 GW de capacidade instalada. A concretização destes objetivos passa, essencialmente, pela produção com base em eletrólise da água com energias renováveis. Se a utilização de energia renovável, principalmente a que não é despachável e com potencial de ser armazenada, não oferece qualquer dúvida, a questão dos recursos hídricos já pode significar um problema dada a escassez do recurso que tende, todos os estudos apontam nesse sentido, a aumentar no futuro. Basta dizer que para produzir 1 kg de hidrogénio por eletrólise é necessário, pelo menos, 9 kg de água. Fontes de água alternativas, como águas resultantes de estações de tratamento de efluentes, ou água do mar, devem ser analisadas e estudadas a sua viabilidade tecnológica. Porém, o hidrogénio pode ser produzido a partir de um grande número de diferentes matérias-primas tal como a água, referida anteriormente, mas também o carvão, gás natural, biomassa, sulfureto de hidrogénio, hidretos de boro e outros, através de processos térmicos, eletrolíticos ou fotolíticos. Apesar de atualmente a maior produção de hidrogénio ser a partir do gás natural, para aplicações na indústria petroquímica, é a produção de hidrogénio eletrolítico a partir de fontes de energia renováveis, que se centra a maior aposta para dar corpo ao vetor energético hidrogénio, de acordo com as várias estratégias do hidrogénio apresentadas pelos vários países europeus. Mas, a produção de hidrogénio
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a partir de recursos biomássicos, em particular, recursos biomássicos residuais (talvez fosse melhor designar resíduos por sub-produtos), apresenta um enorme potencial em Portugal, permitindo, também, um aumento da sustentabilidade do território quer a nível económico, quer social promovendo, por exemplo, se olharmos para os resíduos florestais, a ordenação e dinamização da floresta nacional, tão deixada ao abandono em toda a faixa interior do território. Em termos de produção de resíduos biomássicos, estudos recentes realizados em Portugal, revelam que o potencial energético da biomassa total disponível é de 42 GWh/ano, sendo o principal recurso os resíduos sólidos urbanos (17 GWh/ano), seguido pelos resíduos florestais (12 GWh/ano), podendo estes recursos serem convertidos em hidrogénio com base em tecnologias termoquímicas e bioquímicas. As tecnologias termoquímicas, tais como, gaseificação e pirólise, permitem produzir hidrogénio a partir de uma variedade de biomassas residuais. A gaseificação é a conversão de um material sólido à base de carbono num produto gasoso constituído, essencialmente, por hidrogénio, monóxido de carbono, metano e hidrocarbonetos de baixo peso molecular, pelo fornecimento de um agente de gaseificação, oxigénio ou vapor de água, a temperaturas entre 800900°C, a fim de otimizar a produção de hidrogénio. O gás produzido, rico em hidrogénio, pode depois sofrer um processo de beneficiação para aumentar a concentração de hidrogénio promovendo a reação com vapor de água catalisada (reação de Water Gas
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Em termos de produção de resíduos biomássicos, estudos recentes realizados em Portugal, revelam que o potencial energético da biomassa total disponível é de 42 GWh/ano
Shift) e, posteriormente, purificado por processos de separação. O hidrogénio também pode ser produzido a partir da biomassa utilizando tecnologias biológicas, como é o caso da fermentação na ausência de luz, ou o processo fotofermentativo que utiliza algas e bactérias na presença de luz. Os métodos biológicos são considerados promissores para a produção de hidrogénio pois permitem elevadas eficiências acompanhadas de reduzido impacte ambiental. A reação de fermentação escura é realizada por micro-organismos anaeróbios que convertem a matéria rica em hidratos de carbono em hidrogénio, dióxido de carbono e alguns ácidos. Tal fermentação tem várias vantagens, incluindo a simplicidade de design e de operação do reator, a disponibilidade imediata dos micro-organismos fermentativos, o facto de diversos resíduos poderem ser usados, e as elevadas taxas de produção de hidrogénio em comparação com outros processos biológicos. Um dos maiores desafios da fermentação escura é a reduzida capacidade de produção face ao investimento. No sentido de melhorar este aspeto negativo, vários esforços de investigação têm sido envidados no desenvol-
vimento de sistemas de dois estágios para extrair mais energia do processo dado os ácidos gordos voláteis poderem ser usados para produzir metano recorrendo à tecnologia de digestão anaeróbia. Dada a propensão agrícola do território, em particular o seu interior sul, com disponibilidade de recursos biomássicos, e com poucas limitações em termos de área de implantação, esta via biológica de produção de hidrogénio apresenta, também, um claro interesse em ser dinamizada. Apesar de algumas das tecnologias apresentadas estarem ainda em TRL (Technology Readiness Levels) intermédios, há tecnologias que já têm maturidade suficiente para se entender que a produção de bio-hidrogénio pode ter um maior afirmação na estratégia para o hidrogénio, concretamente, a obtida através dos resíduos florestais e agrícolas, que envolve consigo a estruturação do setor florestal e do sector agrícola e que pode constituir uma alavanca e oportunidade no desenvolvimento do interior do país despovoado e com uma floresta desordenada. l
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Instituto Politécnico de Portalegre
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A Economia do Hidrogénio Verde Desafios e oportunidades
Alexandra Pinto
A
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s alterações climáticas e os seus impactos, especialmente visíveis e preocupantes nos últimos anos, chamam o país para uma resposta coletiva forte, cuja necessidade o contexto da pandemia causada pela COVID-19 reforçou. Entre várias estratégias e caminhos, aquele que leva a uma economia e sociedade neutras em carbono é obrigatório, para promover o crescimento económico e melhorar a qualidade de vida. Quando a importância do uso de recursos renováveis e intermitentes para a produção de energia aumenta em todo o setor, desenvolver uma forma de armazenar com eficiência e baixo custo os seus excedentes, torna-se uma necessidade urgente, pedindo o desenvolvimento das chamadas tecnologias facilitadoras. O hidrogénio (H2) é considerado um vetor energético com grande potencial, sobretudo se for produzido a partir de eletricidade renovável (H2 verde), podendo ser armazenado e transportado ou reconvertido para a rede quando necessário. No entanto, o atual mercado para o H2 verde ainda é incipiente, com custos elevados de produção, armazenamento e transporte, e para que a indústria em torno do H2 verde cresça
de forma sustentável há ainda vários desafios tecnológicos para resolver. Mas, tal como os dois lados de uma mesma moeda, cada desafio é também uma oportunidade, se forem encontradas as soluções tecnológica e de mercado adequadas. A oportunidade é agora: estado da arte e principais barreiras
Produção A eletrólise da água (envolvendo o uso de eletricidade para quebrar a ligação química das suas moléculas) é a tecnologia de eleição para a produção massiva de H2 verde, apesar de atualmente apenas 4% da produção mundial de H2 provir da sua utilização. Existem três tipos principais de eletrolisadores com tipos diferentes de materiais que constituem o eletrólito a separar o ânodo e cátodo destes dispositivos: • Os eletrolisadores PEM (membrana polimérica de permuta protónica, gama de temperatura de operação 50ºC-80ºC, pressão até 70 bar - ITM Power, Nel Hydrogen, Plug Power e Siemens Energy); • Os eletrolisadores alcalinos (solução aquosa básica usando normalmente a base hidróxido de potássio, KOH, gama de temperatura de operação 70ºC-90ºC, pressão até 30 bar - Gre-
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en Hydrogen Systems, Hitachi Zosen, McPhy Energy, Nel Hydrogen); • Os eletrolisadores de óxido sólido (SOEL, com um eletrólito sólido cerâmico, gama de temperatura de operação 700ºC-850ºC, pressão 1 bar Haldor Topsoe, SOLID power, Sunfire,Toshiba). Existe ainda o muito menos maduro eletrolisador de membrana aniónica (AEM, gama de temperatura de operação 50ºC-80ºC, pressão até 35 bar), ainda à escala de laboratório ou em protótipos de pequena escala (empresa ENAPTER conta operar os primeiros AEM em 2022). A eletrólise alcalina é, à data atual, uma tecnologia madura para escalas da ordem da uma a duas dezenas de MW. Tem o menor custo instalado, mas também a maior pegada ecológica por GW prevista de 10 ha17 ha. Os eletrolisadores PEM são mais flexíveis, adaptados para um aumento de escala facilitado, reversíveis (podem operar igualmente em modo de pilha de combustível), apresentam uma melhor dinâmica de resposta, têm vantagens de utilização em pequenas soluções descentralizadas e uma pegada ecológica por GW 20% -24% menor do que a dos alcalinos. Atualmente o maior eletrolisador PEM em funcionamento, com 10MW, fornecido pela ITM Power)
O hidrogénio (H2) é considerado um vetor energético com grande potencial, sobretudo se for produzido a partir de eletricidade renovável
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opera desde julho de 2021 (Projeto Refhyne - Alemanha) e prevê-se que seja escalado em breve até 100MW. Estas duas tecnologias lutarão para desempenhar o papel principal no caminho para a escala dos GW. O desafio crítico que a indústria de H2 renovável enfrenta hoje é a necessidade de rápida diminuição do preço (3 a 6 vezes) do H2 produzido para níveis comparáveis ao obtido a partir de combustíveis fósseis. A descida consistente do preço da eletricidade renovável nos últimos anos em alguns países (incluindo Portugal) é uma oportunidade a não perder, à qual tem que acrescer uma diminuição acentuada do preço dos eletrolisadores. Vários estudos recentes (IRENA) mostram que, a manter-se a meta climática de 1,5 °C, uma redução no custo dos eletrolisadores (quer PEM, quer alcalinos) de mais de 40% pode ser alcançável até 2030 (desenvolvimento de novos materiais, utilização de menores quantidades de metais nobres, técnicas inovadoras de fabrico em massa e aumento do tempo de vida). O fator escala (valor crítico 1GW) terá impacto ao nível das unidades industriais permitindo, um decréscimo adicional nos custos. Armazenamento e transporte Os problemas e custos associados ao armazenamento e transporte do H2 são outro desafio (e oportunidade) a resolver. O H2 pode ser armazenado sob a forma de gás comprimido quer abaixo do solo (cavernas salinas, com potencial para armazenamento sazonal), quer acima em reservatórios cilíndricos e a bordo de veículos a 700 bar em reservatórios leves, de
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A Estratégia Nacional para o Hidrogénio (EN-H2) delineou o caminho para atingir a descarbonização
materiais compósitos à base de fibras de carbono (prevê-se um aumento da densidade gravimétrica de armazenamento na próxima década, através do desenho de reservatórios ainda mais leves e resistentes, o que permitirá aumentar a autonomia). A grande vantagem de armazenar H2 sob a forma líquida é a elevada densidade energética obtida (a 20 K) e a baixa pressão, permitindo um armazenamento compacto e um transporte eficiente através de camiões. As grandes desvantagens são as perdas por evaporação e os custos elevados do processo de liquefação. O H2 criocomprimido a pressões (20-40 MP) e a temperaturas moderadas (80K) com custos substancialmente menores e maiores períodos de dormência, apresenta-se como uma solução com elevado potencial. O transporte de H2 está intimamente relacionado com o seu armazenamento. Na ausência de tubagens dedicadas ou adaptadas da rede de distribuição de gás natural, os chamados transportadores de H2 químicos/físicos (H2 carriers) aparecem como uma alternativa interessante, aliando duas etapas reversíveis - a carga do composto com H2, o transporte terrestre ou marítimo e a etapa de descarga do gás próximo do utilizador final. Neste grupo incluem-se os hidretos metálicos, os transportadores líquidos orgânicos (LOHC), os hidretos químicos e a amónia líquida. Perspectivam-se
a curto prazo inovações tecnológicas com grande impacto positivo na capacidade de armazenamento/custos em alguns destes carriers. O caso particular de Portugal
A Estratégia Nacional para o Hidrogénio (EN-H2) delineou o caminho para atingir a descarbonização total do país em 2050 e vai dando alguns passos necessários para o efeito, através da publicação de legislação indispensável, reunindo empresas nacionais em torno do H2. O projeto de H2 verde de Sines, Green H2 Atlantic, vai representar um investimento total de 76,6 M€, com os fundos europeus a contribuírem com 30 M€. Estamos perante uma oportunidade única de modernização da economia e de qualificação/requalificação dos recursos humanos. Neste contexto agregador de competências, é fundamental que o estado da arte das tecnologias envolvidas, o seu potencial para a resolução de vários problemas e os desafios a ultrapassar sejam divulgados à sociedade. Igualmente importante é a aproximação entre Universidade/Centros de I&D e Indústria e o fortalecimento da ligação entre as atividades de I&D e as necessidades regionais e nacionais para que neste processo se incorpore o máximo de tecnologia nacional. l
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Professora Universitária FEUP
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ENTREVISTA
JOÃO GALAMBA Secretário de Estado Adjunto e da Energia
“Hidrogénio verde dinamiza um novo ecossistema económico” Afirmando que Portugal está totalmente empenhado na transição energética, João Galamba acredita que o desenvolvimento de uma indústria de produção de hidrogénio tem potencial para dinamizar um novo ecossistema económico, aliado ao enorme potencial para a descarbonização. Nesta entrevista, o SEAE faz um balanço da Estratégia Nacional para o Hidrogénio e das medidas e apoios que estão em curso para o setor, realçando o seu papel inequívoco no novo modelo energético nacional.
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uma altura em que tanto se discute a importância da descarbonização e da necessidade de criação de fontes de energia limpa, como enquadra as tecnologias do hidrogénio na estratégia energética nacional? Qual a potencialidade que vê nesta fonte? Como define a evolução da sua introdução no País? Portugal está empenhado na transição energética, seja na criação de legislação adaptada ao desenvolvimento de novos mercados e modelos inovadores, seja
pelo desenvolvimento de planos e estratégias que visam impulsionar um novo paradigma energético, nomeadamente no âmbito do Plano Nacional Energia e Clima 2030 da Estratégia Nacional para o Hidrogénio, alinhados com o compromisso de neutralidade carbónica até 2050. Esta transição não se subsume na eletrificação. Acelerar a transição energética e a descarbonização da economia, já na próxima década, significa que Portugal tem de apostar na produção e na incorporação de volumes crescentes de hidrogénio renovável e seus
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derivados (amónia, metanol e combustíveis sintéticos), promovendo uma substituição dos combustíveis fósseis mais intensa naqueles setores da economia onde a eletrificação poderá não ser a solução mais custo-eficaz, ou que poderá não ser sequer tecnicamente viável. Para concretizar este novo paradigma aprovámos a Estratégia Nacional para o Hidrogénio, que promove a introdução gradual do hidrogénio como pilar sustentável e integrado na mais abrangente estratégia de transição para uma economia descarbonizada. A aposta de Portugal no hidrogénio renovável permite, entre outros, reduzir os custos da descarbonização, reforçar substancialmente a segurança de abastecimento num contexto de descarbonização, dado que permite armazenar eletricidade renovável durante longos períodos de tempo, reduz a dependência energética ao usar na sua produção fontes endógenas, reduz as emissões de GEE em vários setores da economia uma vez que promove mais facilmente a substituição de combustíveis fósseis, contribui para potenciar o cumprimento dos objetivos nacionais de incorporação de fontes renováveis no consumo final de energia e para a descarbonização, promove a eficiência na produção e no consumo de energia ao permitir soluções em escala variável à medida das necessidades e possibilita o surgimento de outros combustíveis de base renovável (ex.: combustíveis sintéticos para o setor dos transportes marítimos e aviação). Para além do importante contributo para o setor energético, o desenvolvimento de uma indústria de produção de hidrogénio verde em Portugal tem potencial para dinamizar todo um novo ecossistema económico, por via do desenvolvimento de novas indústrias e serviços associados, bem como através da promoção da investigação e o desenvolvimento, acelerando o progresso tecnológico e o surgimento de novas soluções tecnológicas, com elevadas sinergias com o tecido empresarial. A aposta de Portugal no hidrogénio verde será feita de forma gradual, assim a Estratégia o define, e dessa forma será possível aferir o impacto da sua introdução no sistema energético. Os primeiros meses após a aprovação da Estratégia foram de intenso debate e de preparação da base legislativa para enquadrar o hidrogénio, como foi o caso do Decreto-Lei 60/2020 que estabelece o mecanismo de emissão de garantias de origem para gases de baixo teor de carbono e para gases de origem renovável, e do Decreto-Lei 62/2020 que estabelece a organização e o funcionamento do Sistema Nacional de Gás e o respetivo regime jurídico, criando as condições para o desenvolvimento e a regulação das atividades de produção de gases de origem renovável e de produção de gases de baixo teor de carbono, bem como para a incorporação desses gases no Sistema Nacional de Gás. Temos assistido nos últimos meses a uma mobilização geral em torno do hidrogénio verde enquanto oportunidade para descarbonizar e enquanto oportunidade para reforçar e desenvolver novos modelos de negócio. Acredito seriamente que esta é uma verdadeira oportunidade para o país e que não podemos deixar de agarrar.
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No domínio do hidrogénio, que medidas legislativas e de regulamentação estão em preparação? E no que diz respeito às medidas previstas para assegurar a competitividade do H2 na fase de transição? Desde a aprovação da Estratégia Nacional para o Hidrogénio (EN-H2) foram dados importantes passos, em particular no domínio legislativo e regulamentar. Neste aspeto, salienta-se que estão em preparação importantes medidas onde se inclui o novo Regulamento de Construção e Operação de Postos de Abastecimento de Hidrogénio, por forma a criar um ambiente regulatório claro e seguro para a construção, manutenção, operação e utilização dessas instalações, e a revisão dos Regulamentos da RNTG e da RNDG, do Regulamento de Armazenamento Subterrâneo e do Regulamento de Terminal de Receção, Armazenamento e Regaseificação de GNL, que foram adaptados em linha com o Decreto-Lei n.º 62/2020.
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A aposta de Portugal no hidrogénio verde será feita de forma gradual, e dessa forma será possível aferir o impacto da sua introdução no sistema energético
Estes últimos regulamentos já foram notificados à Comissão Europeia para um processo de consulta aos Estados-Membros. No domínio da competitividade do H2 estão previstos apoios ao investimento (CAPEX) e à operação (OPEX), que, tal como referido na EN-H2, serão apoios com recursos a fundos comunitários e serão mecanismos claros, transparentes e plenamente concorrenciais que não distorcem o mercado, não oneram os consumidores e promovem o uso eficiente e racional dos recursos financeiros disponíveis. Os apoios ao CAPEX são claros e já estão a ser disponibilizados, como é o caso do Aviso PO SEUR destinado a apoiar projetos de produção de gases de origem renovável para autoconsumo e/ou injeção na rede com um montante total de apoio de 40 milhões de euros e que encerrou no dia 30 de abril, tendo }
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resultado em 13 candidaturas aprovadas (12 de hidrogénio e 1 de biometano) com um investimento total de 62,3 M€. Mais recentemente, foi lançado o primeiro aviso no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), enquadrado na “Componente C14 - Hidrogénio e Renováveis”, com uma dotação de 62 milhões de euros e com o objetivo de alcançar 88 MW de capacidade instalada para a produção de hidrogénio renovável e outros gases renováveis até final de 2023. A dotação total prevista para esta tipologia de projetos no âmbito do PRR é de 185 M€ repartidos por 3 avisos - 2021, 2022 e 2023 - e visam alcançar um total de 264 MW de capacidade instalada para a produção de hidrogénio renovável e outros gases renováveis até final de 2025. Para além da Componente 14 do PRR, que conta com um investimento específico para o hidrogénio renovável, existem outras componentes do PRR onde o hidrogénio é elegível, como seja na “Componente 11 - Descarbonização da Indústria” e nas Agendas Mobilizadoras (“Componente 5 - Capitalização e Inovação Empresarial”), onde sabemos que foram apresentados diversos projetos onde está incluída uma componente de hidrogénio. No que respeita ao apoio ao OPEX, está em fase de preparação um mecanismo através de um leilão direcionado para o consumidor final, para substituir o consumo de hidrogénio cinzento ou de gás natural. Será baseado num Contrato por Diferenças (CfD Contrat for Difference) que terá em conta a alternativa ao hidrogénio - gás natural (consumidores industriais) e gasóleo (transportes) - incluindo o custo do CO2, e os consumidores “virtuais” terão de adquirir garantias de origem para certificar o consumo de hidrogénio renovável.
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Estão em fase de preparação diversos projetos, alguns com caráter de projeto-piloto e outros à escala industrial, nomeadamente para testar a injeção de hidrogénio nas redes de gás
Especificamente no Fundo Ambiental, a componente “Apoio à produção de hidrogénio renovável e outros gases renováveis” enquadra-se num conjunto de medidas que visam contribuir para o objetivo da neutralidade carbónica. Que medidas destaca? Como está a decorrer a implementação dos apoios? Que entidades estão a aderir? Quais os projetos concretos que pode anunciar? Para quando se vislumbram os primeiros resultados? A medida que está a ser operacionalizada pelo Fundo Ambiental decorre do Plano de Recuperação e Resiliência e visa apoiar projetos de produção de gases de origem renovável, com particular enfoque no hidrogénio renovável. Esta é apenas uma das medidas do PRR que visa contribuir para o objetivo da neutralidade carbónica. O mercado tem dado uma boa resposta aos avisos que temos lançado para apoiar esta tipologia de projetos. Como referido anteriormente, decorrente do Aviso do PO SEUR serão apoiados 13 projetos (12 de hidrogénio e 1 de biometano), que perfazem um investimento total de 62,3M €. A procura foi superior, com cerca de 20 projetos candidatos, o que demonstra a dinâmica do setor. Nos próximos anos contamos que esta dinâmica se mantenha, e até mesmo que se registe um aumento da procura, muito por força dos incentivos que estão a ser disponibilizados ao abrigo do PRR, e à medida que o setor evolui e começa a ganhar escala. Estão em fase de preparação diversos projetos, alguns com caracter de projeto-piloto e outos à escala industrial, nomeadamente para testar a injeção de hidrogénio nas redes de gás que permitirá testar as tecnologias e as redes para esse mesmo efeito (Green Pipeline Project), projetos de produção de hidrogénio (ex.: Fusion Fuel em Évora), produção e uso em transportes (transportes de Cascais), projetos de caracter industrial (ex.: HyChem), entre outros, com uma vasta dispersão territorial e com o envolvimento de diversos promotores, nacionais e internacionais. Há que destacar o desenvolvimento de dois clusters industriais que terão no centro do seu desenvolvimento o hidrogénio renovável, nomeadamente o cluster de Sines e do Centro-Norte com enfoque na zona de Estarreja. Na sua opinião, quais as vertentes/projetos que mais viabilidade têm em Portugal? Quais são as melhores apostas e caminhos para incrementar a utilização do hidrogénio no nosso país? O hidrogénio irá desempenhar um papel em todos os subsetores da energia - eletricidade, transportes e aquecimento e arrefecimento - contribuindo no seu conjunto para alcançar a meta global de renováveis de um modo mais eficiente, complementando a eletrificação, que se mantém como prioridade. No caso do subsetor da eletricidade, o hidrogénio desempenhará um importante papel enquanto solução de armazenamento, em particular no armazenamento de longa duração, permitindo níveis mais elevados
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de incorporação de renováveis, incluindo os sistemas elétricos isolados, aumentará o grau de despachabilidade aportando um valor mais elevado à eletricidade de origem renovável, e permitirá descarbonizar centrais termoelétricas a gás natural, essenciais à manutenção da segurança do abastecimento. A nível setorial, e no caso dos transportes, um dos setores com maior importância em termos das emissões nacionais de GEE, o contributo do hidrogénio, enquanto solução alternativa e complementar à mobilidade elétrica a bateria, para a descarbonização deste setor será mais significativo ao nível do transporte pesado de passageiros, pela introdução de autocarros a hidrogénio, no transporte de mercadorias, incluindo o transporte logístico urbano, e na ferrovia onde existe um potencial para o reforço e expansão da oferta em troços onde seria necessário um investimento na eletrificação de linhas, nomeadamente troços atualmente desativados, assim como pela substituição das locomotivas a diesel por hidrogénio nos veículos ferroviários de manobras nos acessos a parques, terminais ferroviários e portos. Também ao nível do transporte marítimo, em particular no transporte doméstico de passageiros e mercadorias, existe potencial para o hidrogénio surgir como opção para a descarbonização. No caso dos veículos ligeiros, com destaque para táxis, frotas de empresas e mobilidade partilhada, é expectável que o hidrogénio possa começar a ser uma opção por volta de 2030, à medida que a tecnologia se torna mais custo-eficaz face à opção elétrica a bateria, e surjam no mercado mais opções, complementada por uma rede de estações de abastecimento. No caso da indústria, também um setor com grande peso nas emissões de GEE e onde se prevê uma descarbonização a um ritmo mais acelerado, muito por força da pressão dos preços dos combustíveis fósseis e das licenças de CO2, o hidrogénio, que tem o potencial para ser usado como combustível, substituindo os combustíveis fósseis na produção de eletricidade ou calor, ou como matéria-prima. Algumas das indústrias que mais podem tirar partido do hidrogénio enquanto opção para descarbonizar são a indústria do cimento, a refinação, química, extrativa, cimento, vidro e cerâmica uma vez que são setores com elevados consumos de energia, em particular gás natural, que utilizam altas temperaturas nos seus processos, nos quais não é exequível o recurso à eletrificação. No que concerne à integração da estratégia de Portugal no âmbito da União Europeia, como classifica a evolução das políticas e medidas da UE para este setor? Qual o posicionamento e oportunidades que o nosso país deve aspirar? Portugal está totalmente alinhado com as políticas europeias em matéria de descarbonização, principalmente por via do PNEC 2030, que decorre de uma obrigação comunitária no âmbito do Regulamento (UE) 2018/1999 relativo à Governação da União da
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Energia e da Ação Climática, e que estabelece as metas, objetivos e respetivas políticas e medidas em matéria de descarbonização, emissões de GEE e as energias renováveis, eficiência energética para esta década com o objetivo de alcançar a neutralidade carbónica em 2050. Em relação ao hidrogénio, o alinhamento estratégico é muito semelhante. O movimento em direção ao hidrogénio não é exclusivo de Portugal, nem da Europa, é um movimento global que tem cada vez mais aderentes. Na Europa, pela mão da Comissão Europeia, e em vários Estados-Membros, como a Holanda, a Alemanha e França, Espanha, e muitos outros, o hidrogénio já está no centro das dinâmicas energia-clima associado a uma forte componente de industrialização, como se demostra pelas várias estratégias europeias e nacionais recentemente }
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Estou convicto que o desenvolvimento de uma indústria de produção de hidrogénio em Portugal tem potencial para dinamizar um novo ecossistema económico
de hidrogénio para uma Europa neutra em termos de clima”, que visa explorar o potencial do hidrogénio como contributo para o processo de descarbonização da União Europeia, em linha com o objetivo de alcançar a neutralidade carbónica até 2050, e igualmente como contributo para a recuperação económica da Europa no contexto da pandemia da doença COVID-19, para a qual o contributo de Portugal, por via da EN-H2, será muito relevante.
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Nome completo
João Saldanha de Azevedo Galamba Data de nascimento
1976-08-04 Habilitações literárias
Licenciatura em Economia Frequência de Doutoramento em Filosofia Política Profissão
Economista
apresentadas, que refletem a ambição em torno do hidrogénio. A Comissão Europeia tem tido uma postura muito proativa nesta matéria. Veja-se o caso da iniciativa “Aliança para o hidrogénio limpo”, destinada a acelerar a descarbonização da indústria e manter a liderança industrial, seguida das alianças para as indústrias hipocarbónicas e as alianças para as nuvens e plataformas industriais e matérias-primas, e que conta com a participação de Portugal. Esta aliança tem como principal objetivo dinamizar a implementação de tecnologias de produção de hidrogénio até 2030, desde a produção de hidrogénio renovável e de baixo carbono, à procura nos setores da indústria, mobilidade e outros, até ao transporte e distribuição. Em simultâneo com o lançamento da Aliança, a Comissão Europeia apresentou a “Estratégia
Sendo esta revista a única publicação nacional dirigida especificamente à comunidade do hidrogénio, que mensagem pode deixar aos operadores do setor? Na ocasião em que a AP2H2 celebra o seu 19º aniversário, que papel preconiza para a sociedade civil para o futuro da comunidade do hidrogénio? Como já referi, Portugal está totalmente empenhado na transição energética. Os desafios decorrentes são evidentes, mas estamos conscientes de que estamos no ponto de viragem para a recuperação para a qual os investimentos na transição energética serão cruciais. Conscientes dos desafios que ainda teremos de ultrapassar, estamos cientes de que estamos num ponto de viragem para a recuperação para a qual os investimentos na transição energética serão cruciais. Neste sentido, estou convicto que o desenvolvimento de uma indústria de produção de hidrogénio em Portugal tem potencial para dinamizar um novo ecossistema económico, aliado ao enorme potencial para a descarbonização, permitindo alterar o posicionamento de Portugal enquanto integrador e importador de tecnologia para produtor e exportador de novos produtos e serviços associados a toda a cadeia de valor do hidrogénio, por via da criação de um cluster industrial em torno do hidrogénio. O novo modelo energético que temos em curso rumo à neutralidade carbónica é, sem dúvida nenhuma, uma verdadeira oportunidade para o país, que permitirá transformar a economia nacional numa lógica de desenvolvimento sustentável e onde o hidrogénio desempenhará um papel fundamental e inequívoco. l
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INTERNACIONAL
Contexto económico e tecnológico do hidrogénio na República da Coreia A Coreia do Sul foi pioneira na criação de um roteiro de promoção da economia do hidrogénio e na promulgação de legislação para incentivar a economia do hidrogénio. Com o foco na investigação e desenvolvimento, nas infraestruturas, nos veículos movidos a hidrogénio, nos postos de carregamento de hidrogénio, na segurança e na regulamentação, o país está a apostar fortemente neste elemento como vetor energético. A cooperação com Portugal está em curso e já foram lançados projetos concretos.
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Song Oh
governo coreano anunciou um roteiro de promoção da economia do hidrogénio em janeiro de 2019 e apresentou planos específicos para 6 setores: R&D, infraestruturas, veículos movidos a hidrogénio, postos de carregamento de hidrogénio, segurança e regulamentação. A Coreia foi o primeiro país a promulgar um Decreto-lei para incentivar a economia do hidrogénio e gerir as questões de segurança em relação ao desenvolvimento e utilização deste elemento. Esta medida foi implementada em fevereiro de 2021. O governo coreano criou uma Comissão para a Economia do Hidrogénio, liderada pelo primeiro-ministro, com a participação de outros governantes e especialistas, na qualidade de membros permanentes. Foi, também, estabelecida uma base institucional e concedida autorização para um aumento no investimento no R&D e nas infraestruturas respeitantes ao hidrogénio. Graças a estas medidas, os veículos a hidrogénio de marca coreana foram os mais vendidos mundialmente em 2019 e, desde julho de 2020, mais de 16 mil camiões a hidrogénio já se encontram em circulação na Coreia do Sul. Até ao momento, foi instalado um total de 112 postos de carregamento de hidrogénio, após ter atingido um recorde mundial de 45 postos em 2019. Está prevista a construção de 310 postos até 2022. Paralelamente, as baterias de hidrogénio - um dos componentes mais importantes nos veículos - têm estado a ser exportadas desde setembro de 2020, estando prevista uma aceleração na produção de baterias com a capacidade de 15 GW até 2040. Espera-se, assim, atingir uma boa mobilidade diária baseada no recurso ao hidrogénio em veículos e na dinamização dos postos de carregamento e produção de baterias. }
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O governo coreano criou uma Comissão para a Economia do Hidrogénio, liderada pelo primeiro-ministro, com a participação de outros governantes e especialistas
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Entretanto, empresas privadas anunciaram um plano de investimentos de cerca de 314 milhões de euros até 2030 na produção e distribuição de baterias de hidrogénio, não apenas nas suas componentes verde e azul, mas também de hidrogénio líquido de modo a assegurar maior diversidade na mobilidade com base no hidrogénio. Liderar mercado de hidrogénio
O governo sul-coreano divulgou três estratégias para tornar a Coreia num país mais avançado no setor da mobilidade automóvel e produção de baterias de hidrogénio e, assim, alcançar o objetivo de se tornar um produtor de hidrogénio verde num território sem recursos naturais, especialmente combustíveis fósseis. A primeira medida refere-se ao desenvolvimento das principais tecnologias relacionadas com a utilização do hidrogénio, tais como a sua produção, a armazenagem, o transporte e as infraestruturas. A segunda medida visa atingir a independência relativamente a técnicas de fabrico de componentes essenciais na indústria do hidrogénio. Por fim, a terceira medida estratégica consiste em desenvolver tecnologias inovadoras capazes de liderar o mercado do hidrogénio de forma a permitir, no futuro, explorar novos mercados. Para a realização destes objetivos existe, também, um plano para aumentar o aproveitamento de grandes quantidades de hidrogénio já usado. Ainda que, neste momento, a quantidade disponível seja, apenas, de 220 mil toneladas, espera-se que aumente para 3,9 milhões de toneladas em 2030 e para 27 milhões de toneladas em 2050. O rácio de
utilização de hidrogénio atingirá os 50% em 2030 e será de 100% em 2050. Em termos de desenvolvimento de tecnologias relacionadas com o hidrogénio, o governo divulgou estratégias sobre R&D a médio e a longo prazo em harmonia com o roteiro publicado em 2019 no qual se incluem a produção, a armazenagem, o transporte e as infraestruturas associadas. O roteiro será atualizado de 5 em 5 anos. Para a concretização destas estratégias, o governo coreano concebeu um orçamento de 36 milhões de euros dedicado ao desenvolvimento de tecnologias inovadoras entre 2019 e 2023, especialmente no que se refere a formas eficazes de produção e armazenamento de hidrogénio. Com o surto da pandemia, a todos os países são exigidas novas medidas no setor da economia, tal como na indústria do hidrogénio, na economia circular e nas energias renováveis. Parece-me que, sendo um país que tem investido muito em energias renováveis, nomeadamente eólica e fotovoltaica, Portugal possui um grande potencial em novos recursos energéticos e é um bom parceiro para colaborar no desenvolvimento de novas energias com a República da Coreia. Portugal não tem apenas potencial nas energias renováveis, mas também na produção de lítio - que possui em grande quantidade - fundamental na produção de veículos elétricos. Investimento português
A EDPR, grande empresa portuguesa de energia renovável, anunciou em junho deste ano um investimento de 200
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milhões de dólares na República da Coreia para construir centrais fotovoltaicas e eólicas. A CS Wind, empresa coreana que constrói torres para a produção de energia eólica, investiu 46,5 milhões de euros em Portugal no mês passado e divulgou um investimento adicional de 100 milhões de dólares até 2023 para expandir o mercado no continente europeu. Considerando estas negociações no plano energético entre ambos os países, espero que as mesmas possam ser alargadas ao setor do hidrogénio. Em 2021, houve alguns encontros de relevo entre a República da Coreia e a República Portuguesa. O Secretário de Estado da Internacionalização, Eurico Brilhante Dias, visitou a Coreia no dia 16 de junho para participar na reunião da Comissão Conjunta entre os dois países. João Galamba, Secretário de Estado Adjunto e da Energia, também esteve presente na Conferência Internacional do Hidrogénio no dia 30 de setembro e discutiu medidas de cooperação relativas à economia do hidrogénio e às energias renováveis. Espero que estes encontros políticos possam ter continuidade para uma maior cooperação no setor da energia com a aplicação de tecnologias inovadoras, em concreto, no potencial que existe associado ao hidrogénio. l
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+ Embaixador da República da Coreia em Portugal
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GREEN PIPELINE PROJECT
Energia natural do hidrogénio está a chegar ao Seixal A GGND apresentou em outubro o Green Pipeline Project, um projeto que reforçará a posição de liderança, inovação e compromisso da empresa com a descarbonização das atividades de distribuição de gás no nosso país.
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Nuno Nascimento
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GGND (Galp Gás Natural Distribuição), detentora de nove empresas de distribuição regional de gás e líder do setor em Portugal, apresentou no passado dia 15 de outubro, no Seixal, o Green Pipeline Project, o primeiro projeto em Portugal de injeção de hidrogénio verde na rede de gás natural. Este projeto, verdadeiramente pioneiro em Portugal, vai abranger cerca de 80 clientes, residenciais,
terciários e industriais, dando assim um importante passo no plano de transição energética nacional. Estes clientes deverão receber a mistura de gás natural e hidrogénio já no primeiro trimestre de 2022, que arrancará com uma injeção de 2% de hidrogénio na rede de gás natural, subindo gradualmente esta percentagem até um máximo de 20% num período de 2 anos, duração estimada para a realização deste projeto piloto. Todo o processo será monitorizado e acompanhado em detalhe por um grupo de especialistas, de forma a que este projeto possa tornar-se uma referência de boas práticas, para muitos outros projetos que certamente irão ocorrer no futuro, tanto a nível nacional como internacional. Pela sua relevância, inovação e oportunidade no objetivo global do plano de transição energética nacional,
o Green Pipeline Project conta com a participação de vários parceiros, desde a área da engenharia à construção, juntando os contributos da academia e de instituições públicas e privadas. De referir ainda que o hidrogénio verde, 100% renovável, vai ser produzido no Parque Industrial do Seixal, através da parceria com a empresa local Gestene. Evento de apresentação com ilustres representantes do setor energético
No evento de apresentação do projeto, marcaram presença o Presidente da Câmara Municipal do Seixal, Joaquim Santos, o Secretário de Estado Adjunto e da Energia, João Galamba, o Diretor Geral da Direção Geral da Energia e Geologia, João Bernardo e o Membro da Comissão Executiva do Fundo de
INOVAÇÃO E MERCADO
Apoio à Inovação, Bruno Veloso. Para Gabriel Sousa, CEO da GGND, “este projeto pioneiro é um marco importante para o sistema energético nacional, porque promove uma mudança para uma economia mais verde, tendo como base uma das redes de distribuição de gás mais modernas da Europa. Na qualidade do maior operador da rede de gás em Portugal, a GGND está profundamente empenhada em contribuir para o cumprimento das metas de descarbonização com que o país está comprometido.” Este projeto é financiado pelo Fundo de Apoio à Inovação (FAI), tendo este atribuído ao Green Pipeline Project a avaliação de mérito excecional, pelo seu caráter inovador e relevância no momento atual. Para Bruno Veloso, Membro da Comissão Executiva do Fundo de Apoio à Inovação, “a atribuição de mérito excecional ao Green Pipeline Project, é o resultado de um projeto ambicioso, inovador e pioneiro no nosso país, que pretende democratizar o acesso a uma economia mais verde, fazendo desde já, chegar as moléculas de hidrogénio a casa das pessoas, garantindo as condições de segurança e minimizando os impactos pela sua utilização nos equipamentos de queima. Saliente-se ainda que os resultados e o conhecimento
obtidos com este projeto serão do domínio público, particularmente do interesse de todos os stakeholders, fundamental para o rápido crescimento de projetos power-to-gas e garantindo que o investimento público resulta em benefício de todos.” Aquisição de conhecimento em primeira mão
O Green Pipeline Project permitirá à GGND adquirir conhecimento direto das tecnologias relacionadas com a mistura e distribuição de misturas de hidrogénio/gás natural. O projeto abordará, entre tantos temas: • O comportamento dos diferentes materiais e equipamentos face à presença de hidrogénio; • A eficácia do processo de mistura idealizado pela GGND; • A medição da energia na mistura resultante; • Os processos de contabilização da
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energia consumida pelos utilizadores. O conhecimento adquirido, que será partilhável com as partes interessadas, colocará a empresa numa melhor posição para lidar com outros projetos de injeção de hidrogénio nas redes de gás, que estão a começar a surgir no nosso país. O potencial do nosso país na transição energética
Portugal apresenta recursos naturais e endógenos extremamente vantajosos, por comparação com os restantes países da União Europeia. A elevada exposição a energias renováveis, nomeadamente em termos de sol, vento e água, oferece ao nosso país enormes vantagens competitivas no caminho da transição energética. Adicionalmente, beneficia também de ativos físicos importantíssimos, nomeadamente no que diz respeito à rede de gás natural, que é das mais }
A GGND está profundamente empenhada em contribuir para o cumprimento das metas de descarbonização com que o país está comprometido Gabriel Sousa/CEO da GGND
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INOVAÇÃO E MERCADO
recentes da Europa e construída 94% em polietileno, assegurando as condições adequadas para a distribuição futura de hidrogénio em toda a rede de gás atualmente existente. O Green Pipeline Project assume-se como o início de um processo de transição energética nacional, assegurando o aproveitamento das atuais infraestruturas disponíveis e contri-
buindo, assim, de forma determinante, para o compromisso de Portugal na autossuficiência energética, no desenvolvimento económico e na preservação do ambiente. Impacte ambiental real
A introdução de 20% de hidrogénio verde na rede de gás natural, para o caso concreto do Green Pipeline
Project, evitará a emissão anual de cerca de 60 toneladas de CO2 para a atmosfera, o equivalente a plantar cerca de 3.000 ha de floresta. l
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Diretor de Estratégia, Transição Energética, Marketing e Comunicação | Galp Gás Natural Distribuição
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PROJETO GreenH2ICE
Hidrogénio para todos os carros
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projeto GreenH2ICE pretendeu investigar e desenvolver uma estação integrada de produção renovável de hidrogénio de alta eficiência para abastecimento de viaturas, em particular através da conceção de um eletrolisador e de um novo processo de conversão de motores de combustão interna para funcionarem a Hidrogénio (H2). O projeto iniciou-se em março de 2018 e conta com a participação do Laboratório Nacional de Energia e Geologia (LNEG). Outros aspetos de interesse deste projeto residem no facto de os motores de combustão interna, serem velhos conhecidos da indústria e dos seus utilizadores, assim como a possibilidade destes veículos poderem operar com hidrogénio de baixa pureza, resultando num custo mais baixo. Como resultado, pode-se antever uma redução das emissões de CO2 praticamente para 100%, não se colocando o problema de ficar na estrada sem hidrogénio, dado o sistema ser Dual Fuel. A disseminação desta solução poderá constituir o chamado consumo base, para a penetração do hidrogénio no mercado nacional. Ou seja, não precisa desistir do seu automóvel de hoje, basta convertê-lo para um sistema Dual Fuel a hidrogénio.
Porquê o Hidrogénio?
A utilização de veículos movidos a hidrogénio surge como uma alternativa credível em termos de autonomia, mas também em termos da tão falada Economia Circular, pois os motores existentes nos automóveis de hoje, podem ser operados quer a hidrogénio, quer a gasolina, sendo que são os que existem no mercado, não necessitando de hidrogénio de alta pureza ao contrário das células de combustíveis, fator este que dá origem a um aumento de custo de produção de cerca de 25%. Os motores Otto, quando alimentados a hidrogénio, funcionam também com um rendimento na mesma ordem de grandeza que as células de
combustível, são baratos e fiáveis, emitindo praticamente 0% de CO2. O interesse em hidrogénio como combustível de transporte alternativo decorre da: • Capacidade que os motores de combustão interna têm de funcionar sem emissões de CO2, equiparando-se às células de combustível e veículos elétricos com zero emissões; • Potencial para produção doméstica; • Tempo de enchimento rápido; • Alta eficiência do motor a hidrogénio, comparável com a eficiência da célula de combustível. Não obstante à abundância de hidrogénio na natureza, um dos maiores desafios reside na sua obtenção eficiente e armazenagem.
p Skid do eletrolisador desenvolvido pela TecnoVeritas para a produção de hidrogénio
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A utilização de veículos movidos a hidrogénio surge como uma alternativa credível em termos de autonomia
p Carro convertido para hidrogénio
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No projeto GreenH2ICE foi desenvolvido um eletrolisador alcalino de alta pressão
t Curvas de desempenho do carro convertido para hidrogénio
Produção de H2
O hidrogénio pode ser produzido com base numa variedade de tecnologias. Estas incluem recursos fósseis, como gás natural e carvão, bem como recursos renováveis, como a biomassa, a água e energia elétrica renovável. Para tal, podem ser utilizadas várias tecnologias químicas, biológicas, eletrólitos, fotolíticos e termoquímicos. Em termos absolutos, foram identificados 14 processos diferentes que permitem a produção de hidrogénio. No projeto GreenH2ICE, a eletrólise alcalina da água foi o processo selecionado por ser simples, bem conhecido e melhorável, o que foi o caso. Eletrólise Alcalina a Alta Pressão
A eletrólise da água consiste na decomposição da molécula da água em hidrogénio e oxigénio através da utilização de energia elétrica. Trata-se de um processo exotérmico não espontâneo, daí ser necessário
fornecer energia elétrica para que a reação ocorra. No projeto GreenH2ICE foi desenvolvido um eletrolisador alcalino de alta pressão. Nestes eletrolisadores a água é decomposta havendo a separação do Hidrogénio e Oxigénio através de uma membrana especial. A eletrólise alcalina fornece uma solução sustentável para a produção de hidrogénio e é adequada para o acoplamento com fontes de energia renovável, como a energia eólica e solar. As inovações do projeto
O projeto do eletrolisador de alto rendimento: • Recurso à turbulência, nas suas câmaras; • Alimentação pulsada; • Membranas de alta eficiência e resistência; • Elétrodos com recobrimentos catalíticos; • O projeto de conversão do veículo: • Solução de injeção eletrónica multi-point-port injection;
• Solução de injeção direta para alta performance; • Solução de abastecimento ou por cilindro a 700 bar, ou LOHC (Liquid Organic Hydrogen Carrier); • Concordância com as regras da União Europeia de segurança veicular. A vantagem dos motores de combustão interna é que: • O hidrogénio não necessita de ser de elevada pureza o que diminui o custo da sua produção em cerca de 25%; • O seu rendimento a altas cargas aumenta substancialmente e as emissões de NOx só se fazem sentir em misturas muito ricas; • O veículo convertido permite trabalhar também a gasolina ou a gasóleo, não limitando a autonomia do mesmo; • Converter um veículo com motor de combustão para funcionar a hidrogénio é um excelente exemplo de Economia Circular, dado 70% das emissões da vida de um automóvel terem lugar durante o seu processo de fabrico. l
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WORKING WITH ENERGY
O hidrogénio como energia de futuro (cada vez mais próximo) +
Pedro Martins
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escarbonização, transição energética e futuro sustentável. Estas três expressões têm feito parte do nosso quotidiano desde que, em 2015, o Acordo de Paris exigiu a redução de emissões e traçou a necessidade de melhor utilização da energia. Com a meta da descarbonização do planeta até 2050, a solução do hidrogénio surge como uma oportunidade imprescindível para a indústria portuguesa e, por isso, com incentivos dos fundos comunitários, o hidrogénio verde mostra-se promissor para a redução dos custos de geração de energia renovável em setores de emissões intensivas. Mas, afinal, quais as vantagens do hidrogénio? O hidrogénio é um dos elementos mais comuns e mais disponíveis do planeta. A ideia de “hidrogénio verde” como “energia limpa” surge através de um processo químico conhecido como eletrólise, que utiliza a corrente elétrica para separar o hidrogénio do oxigénio que existe na água. Se utilizarmos as fontes renováveis como o sol ou o vento neste processo, então será possível produzir energia sem emissão de dióxido de carbono para a atmosfera. Um plano ousado, mas que conduz as ambições de transição energética na Europa e no mundo. Estima-
-se que, desta forma, mais de 830 milhões de toneladas anuais de CO2 seriam evitadas. Sem emissão de gases poluentes durante o processo de combustão ou de produção, o hidrogénio é fácil de armazenar e é extremamente versátil, podendo ser transformado em eletricidade ou combustíveis sintéticos para utilização doméstica, comercial, industrial ou de mobilidade. A facilidade de transporte é também um ponto de vantagem, já que o hidrogénio pode ser misturado com o gás natural até 20% e circular pelos mesmos canais e infraestruturas. A realidade é que, nos últimos anos, a corrida ao hidrogénio verde tem feito parte da estratégia nacional e o investimento estatal é cada vez maior. As soluções de hidrogénio como energia alternativa nas áreas da mobilidade (postos de abastecimento), gás (injeção, medição e controlo na rede de gás natural) e ainda indústria (sistemas de armazenamento e compressão e utilização de fuel-cells) são o futuro e, por isso, a Rosseti
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A Rosseti é já responsável pelo trabalho mecânico, elétrico e de engenharia de um equipamento full set de produção de hidrogénio
Engenharia, seguindo o seu objetivo de encontrar soluções para projetos renováveis, mostra-se empenhada em manter-se na linha da frente. Neste momento, a Rosseti Engenharia encontra-se a desenvolver internamente duas centrais de produção de hidrogénio, 10MW e 60MW, Palmela e Elvas respetivamente. Na nossa visão, o hidrogénio verde terá um papel essencial no futuro próximo e, portanto, é imprescindível apontarmos o rumo. Projetos conceptuais e estudos de viabilidade, serviços de engenharia, aquisição e construção e ainda ferramentas integradoras de tecnologias de produção, liquefação e abastecimento são destaques dos propósitos de ação da Rosseti nesta área. Na verdade, a Rosseti é já responsável pelo trabalho mecânico, elétrico e de engenharia de um equipamento full set de produção de hidrogénio e de purificação, assim como pela construção da planta, instalação e formação dos operacionais. É um passo importante nesta corrida pela descarbonização e na diminuição da dependência de combustíveis fósseis. A visão da Rosseti segue a aposta estratégica para cumprimento das metas climáticas e desenvolvimento económico alicerçado na transição energética, num objetivo claro de liderança nas tecnologias associadas ao hidrogénio em Portugal. É um objetivo ambicioso, visto que a previsão é que, até 2030, a capacidade de produção de hidrogénio verde seja de 40 GW na Europa e 2 GW em Portugal. Com países como Austrália, Holanda, Alemanha, China, Arábia Saudita e Chile na dianteira do desenvolvimento de projetos de hidrogénio verde, esperamos que também Portugal assuma um papel interventivo dentro das normas de qualidade, segurança e fiabilidade. l
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CEO da Rosseti Engenharia
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POWER TO X
Know-how na produção de eletricidade renovável
mundo encontra-se numa situação de emergência ambiental. Nunca como hoje foi tão premente a necessidade de redução drástica das emissões de CO2, por forma a conter o efeito de estufa e evitar o aumento global da temperatura média do planeta. Muitos países, Portugal incluído, definiram metas para a redução das emissões de CO2, num espaço de
lise da água alimentado por energia elétrica exclusivamente proveniente de fontes de energia renovável. Assim, contrariamente à forma mais típica de produção de hidrogénio hoje em dia - por reformação do metano - que é fortemente emissora de CO2, este processo carateriza-se por ser absolutamente isento de emissões de CO2. Tal como aconteceu com as energias renováveis que representam hoje mais de 70% da energia elétrica produzida em Portugal, a sociedade civil terá um papel decisivo na massificação da produção e utilização de hidrogénio verde no futuro. A Eurowind Energy é uma empresa que ambiciona contribuir para este processo de transição energética, nomeadamente para fontes de
tempo considerado por muitos, bastante ambicioso. Estratégias foram definidas por vários governos, a nível mundial, para o cumprimento dessas metas. Em Portugal essa estratégia passa, entre outros, por uma forte aposta na eletrificação, tirando assim partido das boas condições de que o país dispõe para a produção de energia elétrica a partir de fontes renováveis. Existem, no entanto, setores de atividade, tipicamente formados por empresas com grandes consumos energéticos, onde a eletrificação é extremamente complexa, ou mesmo impossível, designadamente por motivos técnicos ou económicos. Com vista a colmatar essa dificuldade ou impossibilidade de eletrificação tem havido recentemente uma aposta na utilização de hidrogénio verde para a substituição de combustíveis de origem fóssil. Esse hidrogénio é chamado de verde uma vez que a sua produção utiliza o processo de eletró-
energia armazenáveis com recurso a eletricidade produzida por fontes renováveis, comumente designado por “Power to X”. Dedicada desde 2006 à produção de energia elétrica a partir de fontes renováveis, com sede na Dinamarca e presente em 15 países, entre os quais Portugal, e mais recentemente também nos Estados Unidos, a Eurowind Energy tem atualmente mais de 1,5 GW de ativos sob gestão, dos quais mais de metade são de sua propriedade. Como produtora independente de energia elétrica a partir de fontes renováveis, sobretudo eólica e solar, a empresa conta com um staff de mais de 200 colaboradores em contínua expansão, que assegura o desenvolvimento dos projetos em que investe. Atualmente, a Eurowind Energy, conta com um pipeline de mais de 10GW, os quais incluem não só centrais de produção de energia elétrica a partir de fontes renováveis, mas tam-
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Pedro Gomes Pereira
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bém projetos de “Power to X”, para produção de hidrogénio, amoníaco e metanol verdes, entre outros. Integrada em consórcios, onde contribui principalmente com o seu extenso know-how na produção de eletricidade renovável, ou de forma independente, onde assume na integra toda a cadeia de valor, a Eurowind Energy, tem em desenvolvimento vários projetos de larga escala, nomeadamente para produção de hidrogénio verde, ambicionando assim contribuir ativamente para a política de descarbonização da Europa. Em Portugal, a Eurowind Energy conta com uma equipa multidisciplinar que lhe confere a capacidade necessária para o desenvolvimento de projetos de produção de hidrogénio verde, como é o caso da sua iniciativa relativa a uma central de média escala, localizada no concelho de Castelo Branco, atualmente em fase de licenciamento. Esta central contará com um parque híbrido (eólico e solar) para a produção de energia elétrica, suportada ainda por baterias de lítio para armazenamento dessa energia e otimização do fator de carga. Esta energia elétrica será utilizada para alimentar os eletrolisadores para a produção de hidrogénio verde que terá como destino a injeção na rede de transporte de gás natural e o armazenamento para venda direta no mercado a clientes finais. Este é apenas um exemplo de uma das várias iniciativas que contribuirão para que Portugal e os restantes países europeus alcancem as metas de descarbonização a que se comprometeram e para que finalmente se possa começar a chamar de alternativos aos combustíveis de origem fóssil. Para a Eurowind Energy, as energias renováveis não são, nem nunca foram uma alternativa. l
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Diretor Geral Europa do Sul
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INOVAÇÃO E MERCADO
INVESTIGAÇÃO E INOVAÇÃO
Hidrogénio é prioridade na União Europeia +
João Ferreira
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os anos mais recentes, um elemento químico com o número atómico 1, o mais leve da tabela periódica, assumiu um papel de peso no futuro energético de diversos países a nível mundial. Trata-se, claro, do hidrogénio. E tudo porque é expectável que venha a desempenhar um papel fulcral na futura economia climaticamente neutra, permitindo o transporte, o aquecimento e processos industriais livres de emissões, além de possibilitar a armazenagem inter-sazonal de energia. Graças a todas estas expetativas, a investigação e a inovação industrial em aplicações do hidrogénio são uma das prioridades da União Europeia. A esmagadora maioria dos EstadosMembro reconhece o papel preponderante do hidrogénio na sua estratégia nacional de energia e no alcançar dos seus objetivos climáticos. A regulamentação do setor do hidrogénio em Portugal ainda está a dar os seus primeiros passos, mas assenta fundamentalmente em duas Resoluções do Conselho de Minis-
tros, nomeadamente a Resolução n.º 53/2020 de 10 de julho, que aprova o Plano Nacional Energia e Clima 2030 (PNEC 2030) e a Resolução n.º 63/2020 de 14 de agosto, que aprova o Plano Nacional do Hidrogénio. O Plano encontra-se dividido em 3 fases, cobrindo o período de 2020 a 2050, cujo objetivo final é atingir o pleno desenvolvimento do mercado nacional do hidrogénio entre as décadas de 30 e 50. Assim, o Governo traçou como medidas de curto prazo a regulamentação da produção de gases renováveis, da injeção de gases renováveis na rede nacional de gás natural, a conceção de um mecanismo de apoio à produção de hidrogénio, bem como a implementação de um sistema de garantias de origem para os gases renováveis. A fixação de metas vinculativas para incorporação de hidrogénio na rede
de gás natural, nos transportes e na indústria até 2030 coloca elevados desafios técnicos, que têm vindo a ser respondidos através da normalização. Vários comités da ISO e do CEN têm desenvolvido esforços para produzir normas dedicadas ao hidrogénio, envolvendo diversos stakeholders desde organizações governamentais, fabricantes, operadores, organismos de inspeção e notificados, entre outros. Também em Portugal há Comissões Técnicas nacionais, que integram stakeholders portugueses, e que acompanham os trabalhos dos seus congéneres europeus e mundiais, preparando as normas que irão reger este setor, com destaque para a CT 2030 - Gás natural, biometano, hidrogénio, outros gases de origem renovável e suas misturas, coordenada pelo ITG - Instituto Tecnológico do Gás. l
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Diretor de Desenvolvimento do ITG
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INOVAÇÃO E MERCADO
PRF GAS SOLUTIONS
Preparada para a mudança energética +
Paulo Ferreira
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PRF Gas Solutions é uma empresa focalizada em tecnologia, engenharia, construção, operação e manutenção de tudo o que são equipamentos e infraestruturas para o setor dos gases combustíveis, desde as redes de transporte, distribuição e utilização de gás, estações de regulação, postos de abastecimento de veículos a gás natural e a hidrogénio, unidades autónomas de gás natural para abastecimento de cidades ou indústrias que estão fora das redes de gasodutos, a projetos na área das energias renováveis. Existiram marcos importantes para o crescimento e desenvolvimento da PRF. O primeiro foi o gás natural em Portugal; este projeto deu-nos um impulso importante, tivemos oportunidade de crescer, obrigou-nos a ganhar capacitação em outras áreas que não tínhamos, a abrir outras valências que nos deram novas oportunidades de negócio e conseguimos ganhar espaço no mercado. Tivemos que nos abrir para novos
p Módulo de mistura e Injeção: Green Pipeline Project
horizontes, formar pessoas, investir, criar estruturas internas, e nesse sentido, foi um lançamento da PRF para uma dimensão maior. Deixámos de ser uma empresa local de instalação de redes de gás para passar a ter uma dimensão nacional na área da rede de gás natural, mas também, das suas infraestruturas. Com essa nova oportunidade criamos conhecimento, capacitação, experiência e crescemos. Outro facto importante no nosso percurso foi quando iniciámos os projetos de Gás Natural Liquefeito. Mais uma vez, identificámos uma oportunidade de negócio, de crescimento, investimos, criámos uma equipa específica de trabalho e fomos para o mercado, produzimos e mostrámos qualidade no trabalho realizado. E hoje em dia, o GNL tem na empresa um peso importantíssimo
na nossa atividade e na globalidade do nosso volume de negócios. Recentemente, com os gases renováveis, sucedeu o mesmo: identificámos a oportunidade, e tal como os outros marcos no nosso percurso empresarial, será uma vantagem de negócio num futuro próximo. Todas as áreas de atividade em que a PRF atua tiveram o seu início em Portugal. Sendo um país pequeno, a verdade é que tem muitíssimas oportunidades, e a PRF foi capaz de escalar e levar para outras geografias, estando hoje presente em mais de 20 países, em 3 continentes. A PRF é uma empresa globalizada pelo que estamos capacitados para explorar novos mercados, independentemente da sua geografia. Atualmente estamos presentes fisicamente, com logística de apoio, em
Angola, Moçambique, Brasil, França e Espanha e desenvolvemos projetos em diversos países. Estamos, neste momento, a abordar o mercado do Médio Oriente, que é um mercado muito interessante, repleto de oportunidades. Unidade de Negócio Hidrogénio
A PRF tem, há cerca de três anos, uma área de negócios especificamente para o setor dos gases renováveis, e aqui estamos a falar concretamente de Bio metano, Biogás e Hidrogénio. Na realidade, sob o nosso ponto de vista, os gases renováveis e, claro está, o hidrogénio, irão ter um papel primordial num futuro muito próximo, e serão uma parte muito importante da nossa matriz energética. Nesta área, encontramo-nos a executar diversos projetos, desde engenharia, de dimensionamento, para postos de abastecimento de frotas de veículos ligeiros e pesados, estando já em funcionamento, em Cascais, o 1º posto portátil de abastecimento de hidrogénio, o primeiro a operar em Portugal, a que chamamos DRHYVE - e que foi inteiramente projetado e construído em Portugal pela PRF. Este posto encontra-se a abastecer dois autocarros movidos a hidrogénio. Integrados no Green Pipeline Project, estamos a desenvolver um projeto piloto no Seixal, que entrará em funcionamento brevemente e que tem como objetivo produzir hidrogénio verde a partir de energia solar fotovoltaica, que será posteriormente
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Integrados no Green Pipeline Project, estamos a desenvolver um projeto piloto no Seixal, que entrará em funcionamento brevemente e que tem como objetivo produzir hidrogénio verde injetado numa rede de distribuição de gás natural e que visa testar o comportamento dos equipamentos domésticos e industriais ao utilizar a mistura de gás natural e hidrogénio. Quanto à Indústria, e porque cada vez mais as empresas devem procurar ser menos dependentes de redes energéticas, quer seja a eletricidade ou o gás, estamos a desenvolver diversos projetos de produção de hidrogénio, pois é nossa convicção que num futuro muito próximo as empresas poderão começar a diminuir a sua dependência energética, produzindo hidrogénio a partir de energia renovável que estará localizada nas suas instalações. Para nós a aposta no desenvolvimento da solução hidrogénio é de extrema importância. Aliás, ela será de tal modo importante que pensamos que no presente já ninguém questiona a sua introdução e desenvolvimento no mercado. É preciso mudar os hábitos de consumo e a forma como lidamos com o ambiente. Na nossa perspetiva olhamos para esta aposta como uma imensa
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oportunidade, talvez irrepetível, pois vamos ter apoios financeiros elevados da União Europeia para desenvolver um verdadeiro cluster do hidrogénio, podendo dessa forma criar riqueza para o país. Serão certamente criadas várias empresas e o emprego vai subir necessariamente neste setor. No fundo, a criação de um cluster do hidrogénio vai ajudar significativamente a dinamizar toda a economia nacional, permitindo também reduzir as importações de energia, passando a produzir internamente e de forma mais limpa e sustentável. Temos a certeza que com todo o enquadramento e com todas as oportunidades que estão criadas para o desenvolvimento da indústria dos gases renováveis, sabemos que, num futuro muito próximo, uma parte da nossa matriz energética será, seguramente, baseada em gases renováveis. Na PRF estamos muito atentos a toda esta transformação energética que todos teremos que fazer, estamos muito atentos aos temas da descarbonização e sabemos que trará muitas oportunidades para a indústria do gás e também para a PRF. Sabemos que a indústria do gás está em franca mudança. Acreditamos que o paradigma desta indústria, ou da indústria dos combustíveis, de uma forma geral, pode estar até ela própria em mudança, com a facilidade e com a competitividade da produção local, junto aos locais de consumo, das energias renováveis ou até dos gases renováveis, como o hidrogénio, sabemos que o paradigma do consumo e da utilização da energia irá mudar e, na PRF, estamos preparados para operar essa mudança. l
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Administrador da PRF
p DRHYVE: Posto de Abastecimento Portátil de H2
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INOVAÇÃO E MERCADO
PROJETO ORANGE.BAT
Comunidades do hidrogénio verde: elemento essencial da transição energética e da descarbonização fa, de que são exemplos a eletricidade e os gases renováveis, como o hidrogénio verde.
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Manuel Costeira da Rocha
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Isabel Maia e Silva
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ma das principais preocupações da sociedade atual tem que ver com o aquecimento global do nosso planeta, decorrente das emissões de gases com efeito de estufa, nomeadamente de dióxido de carbono. Estas emissões têm várias origens, sendo uma das mais relevantes a utilização de combustíveis fósseis. Assim, os esforços de descarbonização passam necessariamente por alterar o mix energético, o que implica uma transição energética. A transição energética passa por se abandonarem progressivamente os vetores energéticos fósseis que atualmente se utilizam (como o carvão e o gás natural), adotando outros mais “limpos”, tentativamente isentos de emissões de gases com efeito de estu-
O hidrogénio verde é obtido por um processo de eletrólise da água, utilizando eletricidade de origem renovável. A sua utilização, enquanto vetor energético, é possível em caldeiras, em fornos, em sistemas de cogeração, apenas para citar alguns exemplos. Contudo, em equipamentos existentes e em serviço, a troca de combustível, por exemplo de gás natural para um blend incluindo uma percentagem de hidrogénio, é possível desde que sejam observadas instruções facultadas pelos respetivos fabricantes. Percebe-se que a transição energética implica esforços por parte de todos os stakeholders da cadeira de valor. Os consumidores dos produtos finais têm progressivamente mais consciência do seu poder, e são conhecidos casos muito debatidos, que o exemplo mais sonante será porventura o da jovem Greta Thunberg. As novas gerações, e felizmente não só elas, têm uma consciência ambiental sedimentada e optam muitas vezes por produtos mais sustentáveis, mais verdes, pela circularidade, pela eficiência, pela redução das emissões de gases com efeito de estufa, nomeadamente de CO2. Por isso, as decisões tomadas pela indústria, mais e mais, têm em consideração esta realidade. Uma das decisões estratégicas em qualquer indústria tem que ver com as opções energéticas, indelevelmente associadas aos níveis de emissões que lhe estão associadas, e que os consumidores cada vez mais escrutinam. Sendo certo que a energia mais limpa, mais verde, será a que não se consome (o que nos transporta para a dimensão da eficiência económica
e da eficiência energética, fundamentais para a descarbonização), podemos dar como certo que a eletricidade gerada a partir de fontes renováveis será a melhor escolha em aplicações que possam ser eletrificadas. Quando tal não é possível, ou não é economicamente viável, é necessário recorrer a uma eletrificação indireta, ou seja, utilizar a eletricidade para produzir um outro vetor energético capaz de satisfazer as necessidades, nomeadamente as aplicações mais exigentes em termos de temperatura (casos do vidro e da cerâmica, por exemplo). Mas esta alteração implica ajustamentos que envolvem a tecnologia utilizada pelas indústrias, os seus fornecedores de energia, os operadores das infraestruturas, nomeadamente de eletricidade e de gás, bem assim como os produtores. As decisões de investimentos de todos estes agentes económicos regem-se por critérios objetivos, suportados por condições de mercado. No caso da transição energética de que falamos, verifica-se uma falha de mercado assinalável, porquanto é reconhecido que: a) temos que usar um vetor energético diferente; b) existe tecnologia para que o mesmo seja produzido, mas para isso tem que haver procura; c) para haver procura terá que haver investimento em equipamento produtivo novo e/ou na adaptação do existente; d) para fazer essa mudança é preciso assegurar a entrega do vetor energético novo em condições economicamente viáveis em preço, em volume e ao longo do tempo... Um enorme desafio cuja resolução implicará, para além dos atores privados e das associações empresariais que os representam, o envolvimento das entidades públicas, ao nível legislativo, e também ao nível regulatório.
INOVAÇÃO E MERCADO
Por tudo o antes referido, e como o demonstram várias exemplos por essa Europa fora, somos de opinião que estas falhas de mercado serão mais facilmente supridas pelo envolvimento proactivo das entidades públicas, na criação de enquadramentos regulatórios e legislativos adequados, na dotação dos organismos que materializam os licenciamentos com os recursos competentes e necessários, bem assim como disponibilizando, numa fase transitória, apoios de forma a garantir a competitividade dos vetores energéticos mais verdes. Por outro lado, e dada a escala dos investimentos necessários, entendemos que uma abordagem holística, envolvendo parceiros cobrindo toda a cadeia de valor, organizados em comunidades de hidrogénio verde, contribuirá para uma transição mais rápida e consequente, articulando os interesses de cada ator com os demais, e permitindo o aumento progressivo da escala da intervenção. Estas comunidades de hidrogénio permitem articular as necessidades de hidrogénio de várias indústrias, resultando numa procura agregada de maior escala, mais suscetível de ser satisfeita em condições económicas mais favoráveis, por uma instalação de produção e distribuição de energia mais eficiente e mais confiável. Por outro lado, pelas características do investimento, e pela possibilidade do mesmo ser replicado em vários setores industriais e noutros clusters geográficos, estas abordagens correspondem à filosofia dos programas de apoio públicos previstos para os próximos anos, nomeadamente do
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p A comunidade do hidrogénio verde do projeto ORANGE.BAT
Plano de Recuperação e Resiliência. É este o espírito do projeto ORANGE.BAT, em Espanha, de que a Smartenergy é um dos principais promotores. Este projeto é promovido por um consórcio internacional de cerca de quarenta entidades, entre as quais a Generalitat Valenciana, o Governo da Comunitad Valenciana. Integram ainda o consórcio a ETRA, a Naturgy, a Enel Green Power, o ITE (Instituto Tecnológico de la Energía), duas associações representativas de todo o setor cerâmico (ASCER e ANFFECC) e mais de duas dezenas de empresas do setor cerâmico. O projeto estabelece o caminho para a total descarbonização de um setor industrial intensivo em termos de energia, e consequentemente em CO2, substituindo o gás natural por hidrogénio verde como combustível. Prevê-se a criação de um ecossistema integrado onde a produção, armazenamento, distribuição e hubs de consumo de hidrogénio verde serão desenvolvidos em torno da indústria cerâmica, criando um ecossistema local que
integra todos os pilares da cadeia de valor, que é apresentado na figura 1. Em termos de consumo e utilização final do hidrogénio verde, o projeto incluirá um mínimo de 65 fornos adaptados, e mais de 23 industriais cerâmicos envolvidos. O hidrogénio verde também será utilizado no transporte pesado dos produtos cerâmicos e para a injeção na rede de gás natural. Trata-se de uma comunidade numerosa, interessada, proactiva, organizada em torno da adoção um novo vetor energético, o hidrogénio verde, fundamental para a descarbonização de um cluster industrial, Castellón, que representa cerca de 95% da indústria cerâmica espanhola e cerca de 30% das emissões de CO2 da Comunidad Valenciana. Este conceito de comunidade de hidrogénio verde, pode ser replicado em vários setores e zonas industriais em Portugal, com as necessárias adaptações à especificidade nacional. l
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Commercial Director H2 Market Research Manager
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NOTÍCIAS
SEMANA EUROPEIA DO HIDROGÉNIO
De 29 de novembro a 3 de dezembro, realizou-se em Bruxelas a 2ª edição da Semana Europeia do Hidrogénio (EHW), iniciativa que surge no âmbito da adoção da primeira Lei Climática para a Europa e dos objetivos estabelecidos no Pacto Ecológico Europeu. Para atingir estes objetivos, a Comissão Europeia adotou o pacote de propostas políticas “Fit for 55” para tornar as políticas da UE em matéria de clima, energia, utilização dos solos, transportes e fiscalidade adequadas a este objetivo. A UE pretende ser o primeiro continente do mundo neutro em termos climáticos até 2050.
Partindo destas ambições, a semana europeia discutiu as oportunidades associadas à produção e utilização de combustíveis à base de hidrogénio nos diferentes setores da economia e como o hidrogénio desempenhará um papel fundamental no Pacto Ecológico Europeu. O evento reuniu a indústria europeia, decisores políticos, representantes governamentais e a comunidade de investigação, para discutir e orientar o aumento do potencial de hidrogénio limpo nos próximos anos e integrou o Fórum do Hidrogénio e os Prémios do setor.
p George Lazar, MEWA Suíça, Mark Freymüller, Hyundai HM, e Kay Simon, MEWA Wiesbaden
CAMIÃO A HIDROGÉNIO JÁ CIRCULA COM A MEWA
Numa estratégia de respeito à sustentabilidade e ecologia, a MEWA é a primeira empresa alemã (de um grupo de 20 empresas selecionadas na Europa), a utilizar diariamente um camião a hidrogénio. Trata-se do Hyundai “Xcient Fuel Cell” que, desde abril, circula sem emissões pelas estradas suíças para fornecer os clientes da MEWA. O hidrogénio já é encarado como uma das fontes de energia mais importantes do futuro e na Suíça a sua aplicação já é real. «O conceito de utilização de hidrogénio para camiões é uma estreia mundial para nós. A MEWA é a única empresa alemã a participar neste projeto até à data», afirma Kay Simon, Diretor de Conceitos de Mobilidade e de Estratégia de Distribuição da MEWA, acrescentando que a empresa “tem muito orgulho em ser pioneira no hidrogénio”. O responsável adianta que “a utilização de hidrogénio verde, ou seja, neutro em CO2 torna este projeto único, pois é gerado a partir de eletricidade neutra em CO2 de centrais hidroelétricas”. As emissões do camião consistem exclusivamente em puro vapor de água e este ciclo sustentável enquadra-se perfeitamente nas novas estratégias de distribuição da MEWA. A Hyundai é o primeiro fabricante a lançar um veículo comercial pesado em série com acionamento a hidrogénio. A capacidade de armazenamento dos sete tanques de hidrogénio permite um alcance superior a 400 km. “É uma poupança de aproximadamente 65 toneladas de CO2 por camião e por ano. Este camião é um elemento-chave importante para o transporte com emissões zero”, diz Mark Freymüller, CEO da Hyundai Hydrogen Mobility. O camião “verde” combina perfeitamente com a MEWA, que pratica o princípio sustentável de reutilização há 113 anos. É também um passo importante rumo à frota ecológica que a MEWA definiu como objetivo.
HEIDELBERGCEMENT E UTIS ESTABELECEM PARCERIA
A HeidelbergCement, um dos maiores grupos cimenteiros mundiais, e a empresa portuguesa UTIS - Ultimate Technology to Industrial Savings assinaram um Acordo-Quadro Global para Produtos e Serviços, com o objetivo de implementar a tecnologia UTIS nas fábricas de cimento da Heidelberg. A tecnologia patenteada da UTIS resulta na Otimização dos Processos de Combustão Contínua, contribuindo significativamente também para a redução das emissões de CO2. Os equipamentos da UTIS já estão instalados em diversos clientes em várias dezenas de fábricas de cimento e outras aplicações industriais em mais de 15 países com excelentes resultados. A HeidelbergCement usa o H2 verde para descarbonizar as suas fábricas. As duas empresas estão firmemente empenhadas em contribuir para a neutralidade do carbono e melhoria ambiental em todo o mundo. Este Acordo-Quadro Global é mais um passo nessa direção.
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NOTÍCIAS
SINES HYDROGEN VALLEY JÁ ESTÁ EM CURSO
A procura de “novas soluções para as indústrias ‘energívoras’ no contexto da transição energética” animou o ‘Encontros na ZILS: Energia Sul’, realizado no Centro de Negócios da Zona Industrial e Logística de Sines (ZILS). a 3 de dezembro de 2021. O evento contou com as intervenções de Filipe Costa, CEO da aicep Global Parques e membro do Conselho de Administração da ADRAL; Eurico Brilhante Dias, Secretário de Estado da Internacionalização; Luís Delgado, Presidente da APQuímica e membro do Conselho de Administração da Bondalti; e João Galamba, Secretário de Estado Adjunto e da Energia. No painel empresarial participaram: Miguel Fonseca (EBM da EDP Comercial); João Conceição (COO da REN); José Pedro Salema (CEO da EDIA); Teresa Abecasis (COO Comercial da GALP); Marco Vantaggiato (EMEA Manufacturing Head da Indorama); e Pedro Aguiar (CEO da Prosolia Portugal). O projeto da aicep Global Parques para a ZILS foi apresentado em três eixos principais: 1.º “ZAL Sines – Zona de Atividades Logísticas”, de apoio aos Terminais Multiusos e de Contentores Porto de Sines, cuja capacidade de handling crescerá a prazo dos atuais 2 para 8 milhões de contentores/ano, investimentos que somados aos complementares nas acessibilidades rodoferroviárias apontam para um total de 2,5mM€, de investimento público e
privado; 2.º “Sines Tech – Innovation & Data Center Hub”, que visa habilitar a infraestrutura da transição digital nacional ao acolher estações de amarração de cabos submarinos, como a EllaLink, e centros de dados, como o Start – Sines Transatlantic Renewable & Technology Campus. O conjunto de investimentos privados antecipados são 4mM€; e 3.º “Energia Sul” congrega as gerações e indústrias energéticas, refinadoras, petroquímicas e químicas em presença, expansão, transição energética e instalação, com foco nos gases renováveis, na descarbonização e na circularidade. Os projetos do Sines Hydrogen Valley somam 5mM€ e os projetos industriais, como o de expansão do Complexo Petroquímico da Repsol Polímeros, ou os vários da Galp e outras empresas químicas em Sines, superam os 2,5mM€. Há no Complexo de Sines perspetivas de investimento a rondar os 14 mil milhões de euros. Investimento essencialmente priva-do e indiscutivelmente infraestrutural para o desenvolvimento nacional, a que acresce um enorme efeito multiplicador. Na dinamização das exportações, por via de uma maior inserção nas rotas do comércio intercontinental. No potenciar da economia digital. Na atração de mais indústria química de base, pela disponibilização, em proximidade e quantidade, de energias e matérias verdes.
NOVA GERAÇÃO DE GRANDES ELETROLISADORES AUGMENTED MCLYZER
BOSCH APOSTA NO HIDROGÉNIO
A Bosch expandiu o seu portfólio de produtos para aplicações móveis de hidrogénio. Agora, inclui também componentes para sistemas para tanque H2, como válvulas de tanque ou reguladores de pressão. Para o efeito, o fornecedor de tecnologia e serviços acaba de celebrar uma parceria de engenharia com o especialista italiano OMB Saleri, no âmbito da qual os produtos são desenvolvidos em conjunto. “No caminho para a neutralidade climática, o hidrogénio será um importante alicerce na futura combinação de motor de força”, disse Uwe Gackstatter, presidente da divisão Bosch Powertrain Solutions. A marca acredita que a procura por motores de força que funcionam com hidrogénio terá um forte crescimento nos próximos anos, especialmente em veículos comerciais e espera que até 2030 cerca de um em cada oito veículos comerciais recém-registados em todo o mundo será movido por célula de combustível. As empresas esperam que a parceria para componentes para sistemas de abastecimento de hidrogénio contribua para expandir as suas posições de mercado no setor do H2. Esta colaboração inclui um contrato de licenciamento e engenharia para vários produtos relacionados com soluções de armazenamento de hidrogénio a pressões de 350 bar e 700 bar.
A McPhy, empresa especializada no fabrico de equipamentos de produção e distribuição de hidrogénio com carbono zero (eletrolisadores e postos de abastecimento), anunciou recentemente a assinatura de um Memorando de Entendimento com a Enel Green Energia para o fornecimento de um eletrolisador alcalino pressurizado de 4 MW da gama Augmented McLyzer, o qual será conectado a um parque de energia renovável localizado em Carlentini, na região italiana da Sicília. O objetivo desta instalação é o de fornecer hidrogénio verde para um sistema de energia para gás e para setores difíceis de abater. Este projeto pioneiro é uma clara ilustração de como as energias renováveis e o hidrogénio podem combinar-se para formar o mix de energia zero carbono do futuro. De acordo com a McPhy, a sua experiência em produtos alcalinos de alta pressão eletrólise com elétrodos de alta densidade de corrente, foi a razão da escolha da gama Augmented McLyzer, a qual foi selecionada pela alta flexibilidade e resposta dinâmica rápida, mais adequada para a intermitência de energias renováveis.
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Accelerating the green transition
“Wind and solar projects is the pivotal enabler for the PtX business development. However, these PtX enablers can be different in various regions. For regions with no grid or low grid capacity, PtX is an opportunity to bring wind and solar projects to the market and hereby accelerate the green transition.” – Jens Rasmussen, CEO of Eurowind Energy
eurowindenergy.com