hiato ou rima
hiato ou rima
hiato, se a gente ficou junto. rima, se o amor se transformou em outra coisa. (ver dia 27)
hannah uesugi, 2013
para pedro, com e por amor, e nada mais.
quase não te dei livros, apesar de este ser mais um amor compartilhado por nós dois. também te escrevi poucas cartas. sobre o período que estivemos juntos, pouco ficou registrado no papel. este, no entanto, é um livro-diário que registra a época em que não estamos juntos. não tão diário assim por não ter sido escrito com disciplina cronológica suficiente para isso. também não tão verossímel assim por ter sofrido algumas disto rções de tempo e emoção. não tem número de páginas definido, talvez tenha inúmeros volumes ou só este. tem dois títulos possíveis, mas só um provável. não é prosa, nem é poesia, é só amor transformado em palavras. imprimi inteiro em helvética bold porque eu sei que gosta. e em preto.
dia -449 a dia -1
fui feliz. muito feliz. muito mesmo. (que nunca nos esqueรงamos disso.)
dia 0
você foi embora. eu não. a cena ainda está acontecendo no quarto, eu fecho o s olhos mas é impossível dormir.
não dormi e não chorei, doeu, e foi só isso.
dia 1 nunca esperei tanto para ir trabalhar, imaginei milhões de vezes que não conseguiria, mas fui. chorei o dia inteiro, a cada pensamento, a cada lembrança... achei que deveria escrever um email, pois precisava desabafar e trabalhei o dia inteiro nisso. o chefe viu a tela do gmail repleta de letrinhas, mas achou melhor não perguntar. (ninguém é melhor do que ele em reconhecer uma carta de amor — me disse ele uma vez.) hora do almoço: encontro com amigas queridas e distantes. não queria mas só tinha uma novidade e um pensamento: “não, ele não é esse bosta que vocês estão imaginando.” na hora de ir embora, choveu. tentei pegar o metrô na república, não deu. esperei o ônibus na augusta chorando sob a chuva, ele não veio. tentei pegar metrô no anhangabaú, ainda não deu. sentei no chão da plataforma. eu, meu celular, minhas lágrimas e a minha carta de amor.
dia 2 zero hora: enviar email. li, reli e reescrevi esse email umas trinta vezes, não havia mais o que ser melhorado. respirei fundo e foi. cinco horas: atualizar email. você respondeu. seco, frio, quase congelei. e nunca mais dormi.
o gelo me acompanhou até te encontrar naquele gélido café luz branca. pedi um mate para amargar ainda mais o momento, mas o que vi era extremamente doce e quente. era você, meu amor! não esperava te encontrar daquele jeito, tão frágil, tão abatido e levei tempo pra conseguir compartilhar minhas lágrimas com você, desculpa.
desta noite, levei alguns presentes: “o passado”, a carta de amor no papel manteiga e a certeza de amar a pessoa mais bonita que já havia cruzado o meu caminho.
dia 3
status de relacionamento:
.
dia 4 98 anos era a idade da aniversariante, mas a grande estrela da festa da vovó era o choro da netinha caçula.
“vai passar, vai passar.” — diziam t odos, sem exceção
dia 5
que bom que é segunda-feira e eu posso ir trabalhar. nunca foi tão prazeroso ocupar a cabeça e te esquecer.
pena que isso nunca aconteceu.
dia 6 dias 19 sempre foram inspiradores para mim, pelo menos desde aquele novembro. 15 meses e você não está mais aqui, insuperável.
“... quando abri os olhos estava sentado à beira de uma piscina deserta bebendo vinho no chão, uma garrafa d`água pra dois e a pessoa que eu mais amava emoldurada por um dos lugares mais lindos que eu já visitei. eu não sentia mais medo de nada...” — da sua carta derradeira, que ainda leio todo dia
dia 7
uma semana, como pude sobreviver essa eternidade sem te ter?
a sua cachorrinha te deixou, como eu fiquei triste, como você pôde passar por isso sem mim??? te mandei uma mensagem linda, eu sei. “beijos, ainda te amo.”
dia 8
dia de ser sincera com as amigas.
“não, eu não vou arranjar um car a melhor simplesmente porque eu não quero.”
“querida, jantar com você no america é delicioso mas não sobreviverei sem comer no subway.”
dia 9
achei que eu t e veria hoje, renovei meu ânimo nessa esperança, mas não, acabei presa na liberdade. eu odeio comida chinesa e não tenho mais nada a ver com essas companhias. what the hell am i doing here?
ah sim, lembrando do cine jóia, do táxi na avenida liberdade e de você.
uma mendiga passou e me deu um soco nas costas, bem feito pra mim.
dia 10
é tempo de reviver a piriguetagem. vestido curto e balada na augusta nunca decepcionaram.
briguei com um, xinguei ou tros dois, fiz papelão com a foto no facebook, mas acabei nos braços daquele outro, again!
é bom ter alguém que vai e volta na nossa vida, né? será que você também volta???
dia 11
pior do que não te ter é saber que não estou pronta para ter ninguém.
adeus fotos, bilhetes, postais, cartinha... tudo já para a gaveta que é uma tortura olhar para vocês.
dia 12 segunda-feira de novo, que beleza. só que não.
“estou triste, tão triste, e o lugar mais frio do rio é o meu quarto.” — cantou caetano no ipod, sem conhecer o meu quarto em são paulo.
dia 13
aniversário da pessoa mais importante da minha vida e você não estava. insuperável, novamente.
dia 14
duas semanas... uma eternidade!
dia 15
já acabei o “amores difíceis”, você sentiria orgulho de mim.
"sim, os amores são difíceis mas talvez a maior dificuldade seja saber o que (e se) é amor." — da primeira vez que você escreveu que me amava
dia 16 fui almoçar com o meu amigo, encontrei o seu. sensação esquisita a de encontrar uma parte sua perdida pela cidade.
sabia que poderia forçar um encontro, mas sabia mais ainda que não seria capaz de suportar...
e acabei mais uma vez presa num karaokê box na liberdade. quem canta seus males espanta? mesmo se cantar “evidências”??
dia 17 aniversário da amorinha e você não estava. insuperável.
li a “cachalote” inteira, numa só. ah como eu queria te ter aqui comigo. mas por que raios você não me escreveu nem um cartãozinho nesse natal?
dia 18
mais uma festinha familiar, dessa vez consegui ficar sem chorar socialmente, olha que bom!
andei de skate e sĂł conseguia pensar "por que mesmo ele nĂŁo estĂĄ aqui comigo? por que?" nunca uma foto minha fez tanto sucesso, uma curtida sua e eu ganhei o mundo.
dia 19
"sim, odeio você. sim, perdôo você. o amor é uma torrente contínua..." — escreveu sophia, a ex de rímini
dia 20
que brilhante ideia eu tive ao dizer que acompanharia o meu amigo na festa da monolito! eu achava que poderia te encontrar, escolhi a roupa pensando nisso, eu confesso. mas não queria criar expectativas, meu estômago não aguenta mais esse tipo de tratamento.
e eis que te vi no meio de tanta gente chata, sem nenhuma graça. vi e logo depois te perdi, estava certa de que era uma miragem. feliz mesmo eu fiquei ao ver aquele seu amigo, tive a certeza de não estar delirando.
embora tenha delirado o restante da noite inteira... sonhei acordada, te abracei, te beijei, te cheirei. como foi b om! no meu sonho você era assim exatamente como você é, assim mesmo do seu jeitinho, o homem que eu amo.
dia 21
acordei. como é ruim acordar de sonho bom né?
"volta, vem viver outra vez ao meu lado. não consigo dormir sem teu braço, pois meu corpo está acostumado." — repetia a gal na minha cama
dia 22
confesso que tinha uma ponta de esperança de você ir ao show do vitor. acabei, porém, na mais pura, deliciosa e elevada solidão.
tinha ao m eu lado as duas pessoas mais importantes da minha vida, mas continuava a me sentir só.
foram quatro solidões, chorei em todas mas só por uma.
dia 23 nunca liguei para datas criadas pelos outros, muito menos para o dia da mulher. mas ano passado, eu fui a sua mulher escolhida e como foi bom me sentir mulher!
esse ano não tem jantar, não tem presente e nem tem você.
não, você não estava me esperando no sofá da livraria na frente do elevador. fui beber na d. josé gaspar.
dia 24 tenho que te confessar: eu sempre olho para o celular esperando me deparar com uma mensagem espontânea sua, do facebook mesmo que seja.
nunca soube qual seria o assunto, ou cumprimento, ou qual palavra doce você usaria. hoje eu descobri que as mensagens mais sem contexto são as melhores. que bom que você continua pé-frio e que bom que eu continuo aqui pra me importar com isso!
dia 25 eu não posso deixar de ir ao show do caetano. mais do que isso, eu não posso deixar de ir com você ao show do caetano. dia 13 de abril comemoraremos (?) dois meses de distância com um abraçaço.
caetano sempre fez bem pra gente e hoje não foi diferente. perdi uma grana, mas ganhei duas horas de conversa com você pelo facebook. eu não gosto muito, me incomoda me ver igual às outras, mas hoje me fez um bem danado.
e ainda por cima, ganhei um convite pro show do gil.
como eu te amo.
dia 26
a terapeuta falou que viu um brilho nos meus olhos.
eu n達o acho que ela minta.
dia 27
"amor, então, também, acaba? não, que eu saiba. o que eu sei é que se transforma numa matéria-prima que a vida se encarrega de transformar em raiva. ou em rima." — me disse o leminski hoje no metrô
dia 28
chega 2014 mas não chega sexta-feira.
e lá se foi um mês.
dia 29
"que tal se fosse real esse realce que gil se viu viajou se via gil?" — até o leminski tá ansioso
dia 30 a semana não existiu. de domingo eu pulei pra sexta. que delícia ver o meu telefone tocar e nele reconhecer a sua foto. que delícia sair mais cedo do trabalho sem ter qu e esconder do chefe. que delícia correr pra casa e me arrumar pra te ver. fiz tudo certinho, cheguei cedo, trocada e perfumosa para te aguardar. vi sua mãe, sua irmã e depois você. me senti muito bem, obrigada! nunca pensei tantas vezes na ideia de eternizar um momento, não queria que aquilo acabasse por nada. pouco me importava se o gil tivesse algum outro compromisso inadiável, eu tinha a sua mão sobre a minha coxa. confissão: sushi nunca foi indigesto pra mim, mas te ver como amigo foi. tudo foi divino, maravilhoso. e isso soou estranho e definitivo demais para eu digerir assim, sem mais nem menos.
dia 31 só um roda e uma caipirinha de saquê poderiam me livrar da inconstância dos meus pensamentos. foi bom voltar pra tudo aquilo. foi bom me sentir parte de algum grupo ou lugar que pouco tivessem a ver com você.
conheci um cara incrível, tive muito medo.
como assim você ousa querer desviar meu interesse?
dia 32 "amarga mágua o pobre pranto tem por que cargas-d`água chove tant o e você não vem?" — leminski, claro
acordei, vi a chuva e chorei. você não viria. chorei o dia inteiro.
dia 33 voltou a doer como achei que não mais doeria. alguns dizem que é muito pouco, recente demais para parar de machucar. eu acho que já deu. não aguento mais, não vai passar. se em 33 dias a dor não diminuiu nem um tiquinho, não vai mais diminuir. o que mais me tortura é a forma pacífica como aceitamos o nosso fim. era para ser assim mesmo? a gente era feliz, lembra?
senti um desejo súbito de te ver, propus um encontro qualquer numa festa qu alquer. você preferiu ir treinar. e quando foi que eu me apaixonei por um atleta? hoje mesmo, já que me apaixono ainda mais por você ao te ver se comprometendo com você mesmo. a minha saudade pode esperar.
dia 34 segurei o choro o dia todo, não sei o que me deu. só porque hoje faríamos 16 meses? depressão no dia 34? tá maior que no começo, maior do que sempre foi.
e agora a linda mancando.
usei disso para ligar pra sua casa, eu confesso, mas não consegui nada mais que duas mensagens no facebook.
dia 35 5 semanas.
matei o trabalho de manhã pra cuidar da linda. nada tem me importado mais do que ficar perto do que eu amo. nada. eu não me conformo com as coisas da vida. você era pra ser pra sempre. a linda também.
dia 36
esperanรงa renovada, talvez te veja amanhรฃ. sรณ isso e eu consegui atravessar mais um dia. que bom!
dia 37 te vi, te senti e me despedi.
sensação estranha de dizer tchau e não ficar desesperada. fiquei decepcionada só, mas já estou me acostumando bem a esse sentimento.
a imagem que ficou na minha cabeça é a de uma fotografia velha que vai se apagando com o tempo. nada mais triste do que isso.
dia 38
mais triste do que a fotografia velha que vai se apagando com o tempo, é a nova, digital e pública que de um dia pro outro é apagada do facebook.
não tô a fim de fazer drama hoje, mas que doeu, doeu. caralho, vida, como eu te odeio por isso.
dia 39 este domingo não choveu, mas também não fez sol. você não veio, nem me ligou. nunca me senti tão longe de você. que pena, que pena.
“nesta próxima fase que vai de 24/03 (hoje) a 26/03, a lua estará quase cheia, hannah, e ocupando o nono setor zodiacal. há aqui uma pequena contradição: sua alma está começando a sentir que precisa expandir-se para novos horizontes, conhecer novas pessoas, fazer novos contatos, aprender coisas novas, ir para lugares não antes navegados. todavia, o sol na quarta casa ilumina seu mapa informando-lhe que ainda não é tempo, mas brevemente será.” — li no horóscopo, que eu vejo diariamente mesmo sem acreditar
dia 40
hoje, na minha sessão de psicodrama: — e o que você está sentindo, hannah? — cansaço, eu estou exausta.
nem meu corpo aguenta mais isso.
estou ficando doente.
— não, hannah, resposta errada.
ódio! você está sentindo ódio.
vamos, assuma isso, hannah!
dia 41
cansei. cansei de chorar, cansei de pensar, cansei de esperar, cansei de me culpar, cansei de te perdoar, cansei de ser otimista, cansei de ser paciente, cansei de tent ar entender, cansei de tent ar esquecer, cansei de te procurar, cansei de te pedir pra voltar, cansei de te amar, cansei de te odiar, cansei desses 41 dias, cansei de n贸s e de voc锚.
dia 42 6 semanas: estou começando a sentir a passagem do tempo. mistura de medo (de ser definitivo) e alívio (por notar que, bem ou mal, estou sobrevivendo a isso tudo).
surpresinha da vida: hoje reencontrei o cara que primeiro me fez dizer e ouvir “eu te amo” na vida e que prim eiro me traiu e me fez chorar. eu achava que tinha levado anos para superar essa dor, mas descobri que ela nunca acabou. nasceu, cresceu e se reproduziu. hoje, mãe e filha se encontraram... que morram de mãos dadas, essas demônias!
dia 43
acho que estou aprendendo a viver sem voc锚. hoje falei para algu茅m que estou como os alco贸latras an么nimos: vivendo um dia de cada vez. ouvi que eu era viciada e precisava me tratar.
talvez seja verdade mesmo.
dia 44 estou preocupada com você. queria saber onde você anda, o que está fazendo, com quem está e se estão te fazendo bem. é prepotência achar que se você não está comigo talvez esteja precisando de mim, eu sei. mas eu duvido que você esteja tão bem que eu não pudesse melhorar... sou prepotente e impotente, que merda.
dia 45
assim você me deixa ainda mais prepotente, mas continuo no mesmo nível de impotência... como me dói ouvir que você precisou de mim e eu não estava. como me dói querer te fazer feliz e não poder. mas como me faz bem te sentir por alguns minutinhos de conversa... domingo a gente se vê?
hoje te contei sobre este livro, agora ele é seu mesmo, não tem mais jeito. será que posso voltar a te contar sobre mim? quero voltar a ser sua também!
dia 46 esta poderia ser a última página do livro e este o último dia de sofrimento da minha vida, mas eu sei que não é. não, o tem po não parou naquele abraçaço na starbucks, nem na carona de bicicleta. nem o mundo se reduziu àquele quarto de hotel. o seu cheiro, apesar de ser o melhor dentre todos, não é o ún ico cheiro que sou capaz de sentir e o seu corpo não permaneceu grudado ao meu como pareceu que seria por alguns instantes. não fui capaz de te prometer que não sofreria. nem sei se fui capaz de te fazer tão feliz como um dia já fiz. sei que estava inteira naquele lugar, a noite toda, aliás. a sensação era de que nada poderia nos fazer mal e de fato nada fez. não teve parede descascada, lençol furado, papel de parede desenhado, mesa desalinhada, sujeira de janela, teia de aranha, piso rangendo ou banheiro amarelado que atrapalhasse o nosso cenário. nele, parecia que poderíamos viver por mil anos. eu, você e a sua bicicleta.
dia 47
já é quase o fim de hoje e ainda estou vivendo o ontem. parece até que estou com medo de dormir...
dia 48 voltei a chorar no metrô. nada muito dolorido, talvez seja só saudade. já. mas não, pessoas ao redor, vocês ficarem me olhando com cara de assustados não vai fazer minhas lágrimas voltarem para os meus olhos. eu viro a maior rodoviarista nesses casos, acho que t oda pessoa deveria ter o direito de ter um carro pra poder chorar em paz e fazendo barulho. com a cara e o nariz bem vermelhos. o trânsito até ajuda nesses casos!
tô em choque: descobri que este livro já existe. uma menina chamada juliana vive como eu, pensa como eu, sente como eu e escreve como eu. e o site dela é mais bonito que o meu livro. duvido que o amor dela seja mais lindo que o meu. chupa, juliana!
dia 49 não estou triste, mas também não estou feliz. não me sinto nem menos nem mais amada. também não sei se te amo mais ou menos. não sei se te verei amanhã ou só semana que vem. e não sei se estou muito preocupada com isso. odeio incertezas. isso eu sei e você também sabe.
essa noite tive dois sonhos horríveis: em um, perdia meu emprego; no outro, perdia a esperança. você estava com uma delas e eu sabia.
7 semanas!
dia 50 hoje estive pensando: o que eu ganharia se pudesse voltar ao dia -1? você de volta, acordando feliz ao meu lado naquele saudoso futon, na sua já saudosa casa. lá fora, sobre a mesa do jardim, estaria o seu gato. e na cozinha, a sua família. o sol estaria até ensaiando sair. eu me sentiria feliz e amada novamente. mas ainda bem que eu não posso voltar. e nem adiantaria. sei que faria tudo de novo, sofreria tudo de novo e chegaria no ponto que estou hoje: sem você, mas comigo. aconteça o que acontecer, eu nunca vou esquecer o que você fez que me fez jogar tudo para o alto. e isso não é não te perdoar ou ser rancorosa, é ser honesta com a nossa história. queria recomeçar tudo, sendo fiel a você e a mim. não como se estivéssemos ainda felizes no dia -1, mas tendo vivido e sentido cada um desses impressionantes 50 e (espero que) poucos dias. ainda te amo, mas te amo diferente. e isso é bom!
dia 51 tem dias em que não te ter por perto é ainda pior. hoje percebi que sinto mais a sua falta quanto melhor é o meu dia. e não o contrário. tive um dia impressionantemente bom, mas sem você mal consigo me dar o direito de sorrir. queria te contar que aquele fotógrafo que gostamos esteve ao meu lado e que ele é um cara legal. e também que eu fiz cinco marcas “do caralho” — palavras do chefe — de uma só vez. talvez fosse o caso de te ligar, se você achasse o celular, só para dividir o meu dia com você. acho que você ficaria feliz. mas nem mensagem eu consegui deixar... parece que agora eu vivo me testando para ver até onde consigo ir sem você. e tenho ido longe, viu.
estou com medo de estar te substituindo por este livro. quero acabar logo com ele.
dia 52 você nem pode imaginar como ainda sou sua. hoje troquei uma festa na casa do “cara incrível” (que já descobri que não é tão incrível assim) pra me dedicar a você e ao nosso amor, neste livro. segunda à noite tinha um encontro (sim, eu sinto muito, mas estou me forçando a te esquecer...) mas depois de passar a noite com você, nem me lembrei de desmarcá-lo. essa semana que passou, não respondi mensagens, não quis ver ninguém, não quis tentar te esquecer. fico pensando o quanto você ainda é meu. não consigo evitar pensamentos doentios em relação às suas novas companhias, se é que elas existem... e quanto às antigas? vivo fantasiando se alguma delas conseguiu te ganhar. será que você contou que a gente terminou? tenho ciúme à distância sim. e isso é tão eu.
(posso imaginar a sua cara de reprovação lendo isso, mas o dia que eu achar tudo bem te imaginar com outra, tudo terá acabado. e até pode ser que achemos isso bom, é verdade.)
dia 53
domingo triste, apesar de feliz. hoje você me deixou profundamente chateada, me senti muito sozinha naquele cinema. e antes disso, me senti mais sozinha ainda em casa pronta, esperando o telefone tocar. eu odeio a sua falta de comprometimento. é só ela que me faz lembrar como você é imperfeito, como você é egoísta sem perceber. e isso não é de hoje nem do dia 0, é anterior a nós. você acabou indo me encontrar depois e foi ótimo como sempre. mas foi depois. e por causa disso, não consegui te amar como gostaria e poderia. desculpa, fraqueza minha... voltei pra casa sem querer voltar. com um “eu te amo” entalado na garganta.
dia 54 te ouvir contando sobre o que tem feito sozinho e como se sente bem com isso me deixa com a estranha sensação de que te roubei de você mesmo por algum tempo. infelizmente, para mim não é tão tranquilo assim, não deixei de fazer as minhas coisas mas as faço com bem menos prazer. e sofro ainda com a sua ausência, vez ou outra. quem me vê mal nesses dias, costuma me dizer que você não me merece. eu digo que não, você apenas não me quer.
“eu gosto de ficar só, mas gosto mais de você. eu gosto da luz do sol, mas chove sempre agora sem você.” — do “mala” do arnaldo antunes, que voltei a ouvir agora que não te tenho mais pra passar de música
dia 55 café, conversa jogada fora, cineminha abraçados e beijo roubado. quem vê até pensa que somos namorados ainda. e que temos 15 anos.
00:09 hannah uesugi escreveu: “o beijo mais coxinha de todos os tempos <3”
dia 56
experiência nova: escrever no metrô com a pessoa ao lado olhando para a minha tela. (ela percebeu e agora disfarçou.)
estou pensando que poderia substituir esse blablabla todo por um simples: “volta pra mim?”
pessoas normais fazem assim, não é? não eu. não completando 8 semanas sem você.
dia 57
nunca te falei, mas a sua escova de dente continua na gaveta. e a sua esponja vegetal, no box. elas ainda sentem muita falta sua.
dia 58 a gente tem se visto mais, conversado mais, estamos conseguindo estar mais presentes. isso é muito bom, acho bastante saudável até, mas não é suficiente. hoje estou bem desanimada. cheguei do trabalho, dormi, acordei e não quis sair. minha mãe estranhou me ver em casa de sexta à noite e perguntou se tinha acontecido alguma coisa.
“não, mãe, não aconteceu. e, pelo visto, não vai mais acontecer. mas vou ficar em casa, esperando...”
(só que eu nem sei mais o que estou esperando...)
dia 59 posso afirmar com convicção que este foi o dia mais aguardado do último mês. o show foi lindo, caetano é lindo, você estava lindo. mais uma para a lista das noites memoráveis que vivemos juntos. mas sim, eu esperava bem mais. que azar esse povo resolver se casar bem no dia qu e eu reservei para nós! hoje me dei conta de que dois meses não é tempo suficiente para te esquecer, nem para deixar de te amar. mas é tempo suficiente para aprendermos a viver um sem o outro. me dói muito perceber que eu já não faço parte da sua vida, que eu nem sei quem é esse seu amigo que está casando, que eu não sou mais a sua acompanhante oficial dos eventos, que às vezes tudo que me resta é um “encaixe” no seu dia. sempre com hora marcada, sempre sabendo que uma hora teremos que nos despedir. e nos separar. odeio o tempo que voa. odeio os compromissos. odeio a sua aula do dia seguinte. odeio o horário do metrô e o último ônibus. e hoje também odeio as pessoas que se casam. enfim, odeio tudo que me impede de ficar com você.
dia 60 fico pensando: para quantas pessoas mais eu terei disposição e vontade de escrever um livro? ou uma carta de amor mesmo, que seja. consigo at é me imaginar amando mais, mas restam pouquíssimas outras formas de me doar mais a alguém... não acho, sinceramente, que você seja a pessoa que mais amarei na vida (e, infelizmente, é bom que eu esteja certa). mas novamente vejo que você, merecedor ou não, foi o meu escolhido.
(queria que você entendesse tudo isso como o “eu te amo” mais sincero e longo que já fui capaz de dizer. essa é uma ideia bonita.)
dia 61
“a uma mulher não se pergunta: que farás agora da tua liberdade? a nossa interrogação é uma só e muito mais perturbadora: que farei agora do meu amor? que farei deste amor informe como a nuvem e pesado como a pedra? que farei deste amor que me esvazia e vai removendo a cor e o sentido das coisas como um ácido?” — paulo mendes campos, acertando no decepcionante livro “o amor acaba”
dia 62
agora é oficial: decidi acabar com este livro. estou com imensa dificuldade de finalizar, mas minha ansiedade de ver pronto e te entregar está me fazendo abandoná-lo neste ponto. tentei buscar um sentido para o fim, uma data ou acontecimento simbólico, mas achei mais bonito deixá-lo em aberto. sei que posso continuar a te escrever (e quem sabe fazer um segundo volume, ou escrever em segredo, ou até criar um blog) mas acho que chegou a hora de me despedir deste. os dias não vão parar de correr e eu ainda estou bem longe de deixar de te amar. que venham os dias 63, 64, 65, 66, 67... mas que venham com menos sofrimento, por favor. e mais amor. acho que nós merecemos.