Capítulo 9 – Renascimento e Humanismo Capítulo 10 – Reformas Religiosas Capítulo 11 – Monarquias e Antigo Regime
22 –
23 –
24 –
Capítulo 17 – O Período da Mineração (séculos XVII e XVIII)
Capítulo Revoluções Industriais
5
25 –
Unidade – A TRANSIÇÃO PARA O MUNDO CONTEMPORÂNEO
Capítulo 5 – Alta Idade Média
Capítulo O Congresso de Viena e a Santa Aliança Capítulo – América Portuguesa: período pombalino e conjurações
Capítulo – Antiguidade Oriental
Capítulo Revolução Francesa
Capítulo O Período Napoleônico
26
2
4
Unidade 3 – O MUNDO MODERNO
Teias da HisTória Geral e do Brasil
3
Capítulo 6 – A Civilização do Islã Capítulo 7 – África, Áfricas Capítulo 8 – Baixa Idade Média
Unidade 4 – NAVEGAÇÕES, CONQUISTAS E COLONIZAÇÕES EUROPEIAS
– A PRÉ-HISTÓRIA E O MUNDO ANTIGO
Unidade 2 – O PERÍODO MEDIEVAL
Capítulo – Antigo Regime em Crise: revoluções inglesas e Iluminismo
Capítulo 18 – Conflitos na América Portuguesa Capítulo 19 – América Espanhola Capítulo 20 – América Inglesa
Capítulo 12 – Expansão Ultramarina Capítulo 13 – Pré-colombianos e Conquista Espanhola Capítulo 14 – América Portuguesa: os primeiros tempos Capítulo 15 – América Portuguesa: açúcar e escravizados Capítulo 16 – América Portuguesa: invasões e expansão territorial
21
Capítulo – Grécia Antiga
Capítulo – Roma Antiga
Capítulo 1 – O Início de uma História
SUMÁRIO
Capítulo 49 – O Regime Militar: de Castelo a Médici (1964-1974)
Unidade 8 – SÉCULO XIX: CONFORMAÇÕES E VARIAÇÕES
Unidade 11 – O MUNDO PÓS-GUERRA
Capítulo 28 – Independências da América Espanhola Capítulo 29 – Período Joanino e Independência do Brasil
Capítulo 45 – China, Revolução e Mudanças
Capítulo 39 – A Primeira Guerra Mundial (1914-1918)
Capítulo 31 – Período Regencial (1831-1840)
Capítulo 27 – Independência da América Inglesa
Unidade 7 – BRASIL IMPÉRIO
Capítulo 41 – Regimes Totalitários
Capítulo 43 – A Segunda Guerra Mundial (1939-1945)
Unidade 9 – BRASIL REPÚBLICA: PRIMEIROS TEMPOS
Capítulo 34 – Revoluções, Nação e Neocolonialismo
Capítulo 30 – Primeiro Reinado (1822-1831)
Capítulo 52 – A História Permanece: o despontar do século XXI
Capítulo 50 – O Regime Militar: Geisel e Figueiredo (1974-1985)
Teias da HisTória Geral e do Brasil
Unidade 6 – AS INDEPENDÊNCIAS NAS AMÉRICAS
Capítulo 51 – Redemocratização no Brasil: de 1985 aos dias atuais
Capítulo 32 – Segundo Reinado: política interna e economia cafeeira Capítulo 33 – Segundo Reinado: política externa, abolição e crise
Unidade 10 – GUERRA, REVOLUÇÕES E CRISE MUNDIAL
Capítulo 37 – A República da Espada e a República Oligárquica Capítulo 38 – República Oligárquica: a crise
Capítulo 48 – Brasil República: de 1946 a 1964
Unidade 12 – O BRASIL CONTEMPORÂNEO E O MUNDO APÓS 1990
Capítulo 36 – Política, Feminismos e Cultura
Capítulo 42 – A Era Vargas (1930-1945)
Capítulo 44 – A Guerra Fria (1946-1991)
Capítulo 35 – Estados Unidos no Século XIX
Capítulo 46 – Descolonizações e América Latina
Capítulo 40 – Revoluções Mexicana, Russa e Crise de 1929
Capítulo 47 – Israel e Palestina: histórias e conflitos
Relatos fantásticos povoavam a imaginação europeia desde os escritos de Marco Polo, em suas viagens ao Oriente, na segunda metade do século XIII. Entretanto, viajar era sempre um risco. As dificuldades eram muitas. O mar era temido e o número de naufrágios superava a quantidade de retornos. O desconhecido gerava grandes temores. No século XV, porém, o pequeno reino de Portugal iniciou, lentamente, o processo da expansão ultramarina. Cheios de fé, os navegadores esperavam retornar cobertos de ouro. A Espanha, em seguida, chegou à América. O “mundo é pequeno”, escreveu Colombo. Europeus, africanos, indígenas, centenas de idiomas e culturas passaram a constituir “novos mundos”. Até então, a Europa se via como uma parte sem todo, mas agora sabia a totalidade da qual fazia parte.
Torre de Belém, em Lisboa, Portugal, às margens do rio Tejo.
NAVEGAÇÕEScolonizaçõeseuropeias,conquistasecolonizações S-F/SHuTTerSToCK
198 Teias da HisTória Geral e do Brasil
O ser humano já esteve na Lua e estações espaciais tripuláveis são realidade. Pensar que navegar pelo oceano Atlântico já foi o maior dos desafios pode nos parecer estranho. Como a consolidação das monarquias, a busca por ouro e as disputas religiosas interferiram na decisão de organizar viagens marítimas? Quais os argumentos para convencer reis, financiadores, navegadores e pessoas comuns a embarcarem nesses caminhos tão incertos e temidos?
Narrativas bíblicas ainda determinavam os modos de se ver o mundo. O próprio mapa-múndi medieval, ainda dividido em três continentes, fazia referência aos filhos de Noé. Dessa forma, dentre os maiores obstáculos a serem vencidos estavam as próprias verdades estabelecidas e as concepções, até então, existentes. Foi necessário um longo processo de mudanças para que muitos apostassem na teoria da esfericidade da Terra e se convencessem de que havia alguma possibilidade de ir além das águas já navegadas desde muito tempo.
Nesse mapa, é possível identificar apenas três continentes e, esses, por sua vez, eram associados aos filhos de Noé: Sem (Ásia), Jafeth (Europa) e Cam (África). A cruz está no topo, seguida da palavra Oceanus, que rodeia a imagem. Também havia uma referência ao rio Nilo (Nilus) e ao oceano Atlântico, chamado ainda de “O Grande Mar” (Mare Magno).
12capítulo
Até os séculos XII-XIII, as concepções a respeito da humanidade e da Terra eram fundadas, predominantemente, no pensamento religioso. Assim, sem métodos experimentais, baseados na observação, o desconhecido era explicado com base em elementos invisíveis.
Xilogravura de 1483 de mapa-múndi de Santo Isidoro de Sevilha constante em Ethimologiarum Libri Viginti (século XIII). Colorida artificialmente. Biblioteca Nacional Digital Brasil.
Expansão ultramarina
STeVe ALLeN/ SHuTTerSToCK
A grande maioria dos europeus tinha medo da água e, mais ainda, da sua grande extensão, ou seja, o mar. O Oceano tornava-se um lugar perturbador e o reino das águas excluía a vida humana. O mar, assim, tornava-se o reino de todos os monstros. A este horror do mar juntava-se a conotação negativa dada ao lugar onde o Sol se põe (Ocidente), local das trevas, e a sua associação com a morte, por oposição ao lugar onde ele nasce (Oriente), ou seja, onde tudo começa, onde estava a Terra Santa. É esta concepção que explica o enorme horror à navegação para o MATTOSO,ocidente.”J. Antecedentes medievais da expansão portuguesa.
expansão da fé católica – o ideal cruzadístico ainda era forte no início do século XV. A presença islâmica (mouros), no Norte da África, também impulsionava o Estado e a Igreja a promoverem invasões, com o intuito de afastar os infiéis para longe das terras portuguesas e de, ao mesmo tempo, ter acesso ao ouro e ao trigo existentes em territórios africanos. A expansão da fé católica, dessa forma, não se dava de modo separado dos interesses do Estado português. Ao contrário, eles dialogavam;
expansão comercial – o desenvolvimento de regiões, como a do porto de Lisboa, e a presença cada vez maior na cena política e social dos comerciantes são evidências de que o renascimento urbano e comercial atingira as terras lusas com intensidade. Dessa forma, expandir o comércio para outras áreas, buscar novas mercadorias, rotas alternativas e intensificar trocas, além da procura por ouro, foram outros importantes elementos que fizeram muitos negociantes investir nessas viagens;
No século XV, Portugal, o mais ocidental reino europeu, deu início à expansão ultramarina. Lançar-se ao mar e conquistar novas terras foi um feito extraordinário na época, fruto da conjugação de múltiplos fatores. O pioneirismo português pode ser explicado a partir dos seguintes motivos:
Imaginário europeu: uma visão de mundo
ligiosa, com a expulsão de mouros e judeus, também trouxe forte sentimento de unidade para essas regiões. O desejo de ampliar os territórios do Estado, a busca por metais preciosos, o desejo de se estender rotas comerciais e o projeto de propagação da fé católica formaram uma teia de interesses que, juntos, foram capazes de financiar as Grandes Navegações
centralização política – a formação do Estado Moderno português, com suas estruturas administrativas, organizadas em torno da figura real, deu-se ainda na Idade Média, com a dinastia de Borgonha (1140). A autonomia política foi mantida com a vitória de D. João, durante a Revolução de Avis (1383-1385). A existência de um governo forte e centralizado, capaz de coordenar recursos (impostos) e diversos interesses foi a base dos investimentos náuticos;
Pioneirismo: qualidade daquele que é pioneiro, isto é, daquele que está entre os primeiros, que vai adiante, que se antecipa.
199Capítulo 12 – Expansão ultramarina
Por outro lado, Portugal e Espanha, diante das circunstâncias definidas pelas lutas contra os mouros (Reconquista), permitiram que estruturas políticas e administrativas, do Estado Moderno, se estabelecessem precocemente. Os reinos ibéricos, portanto, criaram as bases financeiras para sua própria manutenção, a partir da cobrança de impostos e do intenso comércio. A unificação re-
faunos, os dragões, os unicórnios, e tantos outros seres semi-humanos que não podem jamais serem encontrados na Cristandade (...). A visão do mundo prevalecente no fim do século XIII era, portanto, uma visão teológica.
“A área do mundo em que está implantada a Igreja é aquela porção da Terra onde reina a verdadeira ordem social, isto é, onde os homens se sujeitam a uma autoridade legítima, cujo poder vem diretamente de Deus (...) onde até a natureza física – mineral, vegetal e animal –está também sujeita à ordem desejada por Deus para as suas criaturas. Fora desse espaço, reina a idolatria, o pecado, a desordem, o caos e, por isso, até a própria natureza se torna também desordenada: os homens têm costumes bizarros, são cruéis, desregrados, destruidores, selvagens ou imorais.
Fora do âmbito onde reina a Igreja existem animais ferozes; os monstros aparecem por toda a parte; multiplicam-se as tempestades. Tudo isso está representado na cartografia do mundo não cristão: aí aparecem enormes gigantes, os bicéfalos de duas cabeças, os ipótamos com corpo de cavalo e cauda de peixe ou de serpente, os
In.: BETHENCOURT, F. História da Expansão Portuguesa: a formação do Império (1415-1570). Lisboa: Círculo de Leitores, 1998. p.15-16.
O espelho do céu – a dianteira portuguesa
AIBA MAIS
2ª fase (1434-1487) – após a passagem pelo Bojador, Portugal iniciou comércio com reinos africanos. Daomé, Oyó, Benim, Congo e Angola eram os principais. Os europeus realizavam trocas. Os africanos ofereciam ouro em pó, dendê, pimenta, marfim e escravizados. O primeiro tráfico registrado data de 1444. Portugal, por sua vez, trazia cavalos, armas de fogo, azeite, vidro e tecidos. Esse comércio foi feito a partir das feitorias, isto é, entrepostos comerciais fortificados, usados para armazenar e dar apoio às navegações. No ano de 1487, Bartolomeu Dias cruzou o Cabo das Tormentas, rebatizado posteriormente como “Cabo da Boa Esperança”. A partir de agora, olhava-se para a África oriental, islâmica, e para a possibilidade de se navegar pelo oceano Índico.
200 Teias da HisTória Geral e do Brasil
A expansão ultramarina foi um projeto lento e dividido em diferentes etapas, com múltiplas dificuldades e objetivos diversos que foram se construindo ao longo do tempo. Nesse sentido, podemos dividir as navegações portuguesas em três fases:
Nesse primeiro momento, os temores e o imaginário faziam as pessoas acreditarem em monstros: ciclopes, demônios marinhos, sereias e serpentes gigantes que engoliam as embarcações. Versão do mapa de Sebastian Münster, 1550.
1ª fase (1415-1434) – nesse momento, Portugal invadiu a região de Ceuta (1415), no norte da África, chegou a algumas ilhas, como os arquipélagos da Madeira (1419) e dos Açores (1427), mas demorou anos para atravessar a difícil região do Cabo Bojador (Cabo do Medo), ultrapassado-o somente em 1434, com Gil Eanes. O trigo e o ouro vindos de Ceuta, o início do cultivo de cana-de-açúcar nos Açores (açúcar açoriano), os primeiros colonos na Ilha da Madeira e a expulsão de islâmicos (mouros) marcaram esse primeiro momento das navegações. Além disso, foram muitos os naufrágios e, por isso, imaginavam-se monstros e abismos ao sul do Bojador, até então inexplorado. O Mediterrâneo chegou a ser chamado de “Mar Tenebroso”, ou seja, o mar da escuridão, das trevas.
avanços náuticos – várias transformações técnicas foram usadas durante as grandes navegações: a construção de naus e caravelas, o desenvolvimento das cartas náuticas, a ampliação dos conhecimentos sobre correntes marítimas e, sobretudo, o uso do astrolábio e da bússola que, ao indicarem a posição das embarcações em relação aos astros, permitia uma navegação mais segura.
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Astrolábio em latão e ferro fundido, 21,6 × 17,1 cm, 1654-1655 (atribuído ao Irã). The Metropolitan Museum of Art, Nova York.
A posição geográfica de Portugal, naturalmente, facilitou a empresa náutica, mas não se tratava de novidade. A região, há tempos, tinha contato marítimo com o norte da África e, no geral, com o comércio do Mediterrâneo.
Nau: grande embarcação, importante para a navegação comercial, pois podia transportar mais mercadorias e marujos.
a empresa Museum
reprodução
Caravela: pequena embarcação, mais leve e ágil, usada para entrar em águas mais rasas e abastecer fortalezas.
Existem incertezas a respeito da “invenção” do astrolábio. O nome tem origem grega e significa “pegador de estrelas”, daí muitos estudiosos confiarem aos gregos a sua criação. Outros pesquisadores atribuíram aos babilônios, um dos povos da antiga Mesopotâmia. De qualquer maneira, há consenso sobre o fato de que os árabes contribuíram para o aperfeiçoamento de um dos principais instrumentos das navegações entre os séculos XV e XVII.
O cronista português Gomes Eanes de Zurara, assim descreveu o primeiro tráfico de escravizados. Aproximadamente 235 presos, entre homens, mulheres e crianças, foram sequestrados e acorrentados no litoral africano, desembarcando em Lagos, Portugal:
201Capítulo 12 – Expansão ultramarina
1. De que forma o relato de Gomes Eanes de Zurara evidencia a visão de que os escravizados eram tratados como mercadorias?
Especiarias: do latim, species, aquilo que tem características únicas, que “se vê” como único. Esses produtos eram usados tanto em temperos como em práticas de cura.
3ª fase (1487-1500): a partir do contato com o Índico, Portugal poderia vislumbrar as rotas das especiarias. A pimenta-do-reino, o cravo, a canela, o gengibre e a nozmoscada estavam entre os produtos mais procurados. Criar uma nova rota, diferente do caminho pelo Mediterrâneo, já dominado por Gênova, Veneza e Constantinopla, tornou-se o foco português desse período. Enquanto Portugal traçava o caminho para as Índias, Colombo, em nome dos reis espanhóis, chegou a novas terras (1492) e, por isso, entre 1493 e 1494, Portugal e Espanha assinaram acordos, dividindo as áreas de influências na navegação. Por fim, os portugueses Paulo da Gama e Vasco da Gama comandaram as naus São Rafael e São Gabriel e, depois de um ano de viagem, chegaram à cidade de Calicute (1498). O rei de Portugal, Manuel I, o Venturoso, após o grande lucro da viagem de Vasco da Gama (4.000%), decidiu retornar às Índias, iniciando, então, a organização da viagem de 1500. O capitão-mor seria Pedro Álvares Cabral
A viagem dos irmãos Gama marcou a chegada dos portugueses às Índias (1498) e inaugurou a rota Cabo/Calicute. No retorno, Paulo da Gama foi vítima de escorbuto (falta de vitamina C), o “mal de Luanda”, e, falecendo, foi enterrado nos Açores. Nesse documento de 1558, é possível ver uma terceira embarcação, a nau Bérrio, comandada por Nicolau Coelho.
O INTERIOR DAS EMBARCAÇÕES CoMMoNSCreATIVe
“No dia seguinte, 8 de agosto, começando pela madrugada por causa do calor, as equipes começaram a trabalhar em seus barcos, descarregaram seus prisioneiros e os levaram para terra firme como ordenado. Alguns tinham os rostos cabisbaixos, molhados em lágrimas; alguns olhavam para os outros e gemiam de dor; alguns olhavam para o céu, fixando ali o olhar, gritando em voz alta, como se pedissem ajuda ao Pai da Natureza. Outros batiam nas bochechas com as palmas das mãos ou se jogavam no chão; outros faziam lamentações de maneira
musical, seguindo o costume de sua terra natal. Embora as palavras de sua língua não pudessem ser entendidas por nós, a tristeza delas certamente foi. Uma tristeza que aumentou quando os encarregados de dividi-los vieram e começaram a separá-los uns dos outros. Filhos foram separados de seus pais, esposas de maridos, irmãos de irmãs. Para parentes e parentescos não houve regras e cada prisioneiro foi levado à própria sorte. Entre eles, havia alguns de razoável brancura, bonitos e bem constituídos; outros, menos brancos, tão negros, eram feios de rosto e corpo (...)”.ZURARA, G. E. Crônica do Descobrimento e Conquista da Guiné Publicações Europa-América: Lisboa, 1989.
DA
As viagens marítimas estavam bem distantes das ideias de conforto e segurança. Saiba mais lendo o QR Code ao lado.
Crônica do primeiro tráfico de escravizados
ECORTES HISTÓRIA
A expedição foi tumultuada, com vários motins, durante os 33 dias que durou a via gem pelo Atlântico. No dia 10 de outubro de 1492, o comando de Colombo esteve por um fio. Os tripulantes, já com água e comida racionadas, em péssimas condições de higiene, acusavam o comandante de os estar conduzindo não para o Oriente, mas para a morte. Nesse clima de tensão, no dia seguinte, um marinheiro avistou terra.
Primeiro Desembarque de Cristóvão Colombo na América, de Dióscoro Teófilo de la Puebla Tolín. Museo del Prado, Madri.
Colombo desembarcou no dia 12 de outubro de 1492, acreditando ter chegado a Cipango (Japão). Ele estava enganado, desembarcou numa ilha do Caribe (Guanahani), nas Bahamas, que foi batizada de São Salvador. Nas semanas seguintes, Colombo explo rou o litoral da atual Cuba e o de uma ilha maior, que foi denominada Hispaniola (atual República Dominicana). Na viagem de volta, a Santa Maria naufragou e apesar de não ter chegado ao Oriente e de voltar à Espanha (março de 1493) com suas modestas naus va zias, os novos territórios demonstraram ter, desde o início, a presença abundante de ouro.
Nessa representação, de 1862, Colombo parece cumprir uma missão divina, como se a chegada às terras fizesse parte de um plano de Deus. No lado direito pode-se ver a bandeira branca com a Cruz Verde, mencionada na descrição de Colombo.
Cristóvão Colombo morreu em 1505 sem ter ideia de quanto o seu “desacredi tado” projeto de navegação teria relação com o futuro “século de ouro espanhol”. Somente tempos depois, a partir de algumas viagens feitas por Américo Vespúcio, é que as novas terras foram chamadas de América.
A chegada à América: um feito espanhol
Enquanto Portugal construía a rota para atingir as Índias, a partir do Cabo da Boa Esperança, os reis espanhóis, Fernando e Isabel, decidiram financiar o projeto de Co lombo para chegar ao Oriente navegando na direção Oeste – ainda que, a princípio, a proposta não inspirasse muita confiança. O genovês tinha certeza da esfericidade da Terra o que, na época, era compartilhado por poucos de seus contemporâneos. Ele também acreditava que, partindo da Espanha, em apenas três semanas daria a volta em toda a circunferência, atingindo o Oriente. Colombo partiu do porto de Palos, em setembro de 1492, com três embarcações: Santa Maria, Pinta e Niña.
202 Teias da HisTória Geral e do Brasil
reprodução
Portugal só começou a ter alguma concorrência, quando a Coroa espanhola finan ciou o projeto do genovês Cristóvão Colombo, já no final do século XV.
As práticas mercantilistas buscavam garantir os elevados lucros das trocas comerciais, principalmente por meio de monopólios sobre as rotas comerciais e sobre gêneros comercializados. A concorrência dificultava a manutenção dos preços das mercadorias em patamares elevados, aspecto fundamental para a obtenção de uma balança comercial favorável e do consequente acúmulo de metais preciosos
Nessa representação, Colombo aparece como verdadeiro renascentista. O retrato do rosto, único, enfatiza o gênio individual. Leitor da Bíblia, mas de manuais geográficos, como o Imago mundi, de Pierre d’Ailly, Colombo passou a representar a civilização, cruzando mares e oceanos, enfrentando temores e lendas e, assim, domando a natureza.
“O que é verdadeiramente extraordinário para nós não é que Colombo tenha se convencido de que estava nas proximidades da Ásia, mas sim a circunstância de ter mantido essa crença durante toda a exploração, apesar de não ter comprovado nada do que esperava (...). Em tudo e, em todas as partes, Colombo via a Ásia. A rudeza e a nudez dos povoadores naturais, a absoluta ausência de cidades e de palácios que deveria ter encontrado e que inutilmente procurou, a circunstância de que o ouro só brilhava no rumor das falsas notícias que lhe davam os indígenas e o fracasso repetido na tentativa de localizar (...) Cipango em nada abalaram sua fé: havia chegado à Ásia, estava na Ásia e da Ásia voltava e desta convicção nada nem ninguém o fará retroceder até o dia de sua morte. Eis aqui, pois, a situação: Colombo não apenas acreditou que havia chegado ao outro extremo da Ilha da Terra, quando deu com a primeira terra, mas também tudo quanto verificou durante a exploração foi interpretado por ele como prova empírica dessa crença. Para um homem de outra formação mental, a reiterada ausência dos indícios previstos em suas especulações deveria, pelo menos, ter semeado a dúvida. Em Colombo, observa-se justamente o contrário: nada abalou a sua O’GORMAN,fé.”E.
ISSERAM A RESPEITO
CoMMoNSCreATIVe
Retrato do Papa Alexandre VI , de Cristofano dell’Altíssimo. Óleo sobre tela, 59 × 44 cm, 1560. Vasari Corridor, Florença, Itália.
1. Por que, diante das evidências concretas, Colombo continuou pensando ter chegado à Ásia?
Retrato de Cristóvão Colombo, de Ridolfo Ghirlandaio [ca. 1520]. Pegli Naval Museum, Gênova, Itália.
A presença de papas, em acordos territoriais, era uma tradição medieval. Se a Terra era obra de Deus, então a divisão dessa mesma obra precisava da autorização do Criador. Além disso, os papas também emitiam documentos (bulas) autorizando o “direito de domínio” aos reinos ibéricos.
A Invenção da América São Paulo: Ed. Unesp, 1992. p. 104-105.
CoMMoNSCreATIVe
Portugal e Espanha: os “donos do mundo”
Assim, tão logo a Espanha surgiu como uma ameaça naval, Portugal passou a ter interesse na formalização de um acordo para evitar concorrências com o reino vizinho. Os portugueses queriam manter o percurso que faziam pela África longe dos interesses castelhanos e a Espanha, por sua vez, tinha interesse em manter a nova rota de Colombo em segurança, longe dos interesses lusos.
O Papa Alexandre VI serviu como mediador do acordo entre os reinos ibéricos. Em 3 de maio de 1493, foi promulgada a bula Inter Coetera, documento assinado pelo Sumo Pontífice, estabelecendo uma linha imaginária a 100 léguas a oeste do Arquipélago de Cabo Verde. As terras que estivessem a leste daquela linha seriam portuguesas e os espanhóis ficariam com todos os territórios conhecidos e a serem descobertos situados a oeste dessa mesma linha.
Portugal sentiu-se prejudicado com a decisão papal, pois argumentava que a linha estava muito próxima do litoral africano e, por isso, rejeitou a bula. Portugal, tentando manter suas rotas já conquistadas ao longo da costa africana propôs, então, que uma nova linha imaginária fosse traçada, mas a 370 léguas a oeste das ilhas de Cabo Verde.
203Capítulo 12 – Expansão ultramarina
Colombo não soube de sua descoberta
EIAS ENTRE TEMAS
EUR O P A
oNd/SHuTTerSToCK
A sãoexpresultraplus : “há algo ondasante”.adi-do
S. Julian
Equador ordesilhasTdeMeridiano
A coroa de Castela
Renascimento e Navegações
A Capitulação da Divisão do mar Oceano, também conhecido como Tratado de Tordesilhas foi assinado em 1494. Anos mais tarde, porém, esse mesmo tratado foi aproveitado para também demarcar as fronteiras territoriais entre a América Hispânica e a América Portuguesa.
reino de Navarra.
Cabo Hornos Estreito Magalhãesde
No atual brasão da Espanha, podem-se ver antigas referências à história do império marítimo. No centro, ainda é possível localizar a flor-de-lis, menção à família francesa Bourbon que, durante alguns anos, governou os espanhóis.
A M É R I C A Caboda Boa Esperança
Existem várias relações entre o Renascimento e as Navegações. Em primeiro lugar, foram acontecimentos contemporâneos. O uso de novas técnicas, como o astrolábio, a bússola, a melhora nas lentes de aumento e, sobretudo, o desenvolvimento da imprensa, colaboraram para a expansão ultramarina. A observação racional do espaço geográfico e as teorias heliocêntricas também fizeram parte dessa conexão. As viagens marítimas, por sua vez, trouxeram o orgulho civilizacional ainda mais à tona. Pintar grandes formas humanas e diferentes espécies animais e vegetais também começaram a fazer parte das telas dos artistas. Não foi à toa que diversos escritores fizeram referências às amazonas, ciclopes, gigantes e sereias em seus escritos e mapas. O resgate do clássico também aparecia nas maneiras de se representar o mundo.
Dessas associações surgiria um detalhe no brasão do imperador espanhol Carlos V. As colunas do herói Hércules, desenhadas no escudo espanhol, faziam referência a uma passagem das aventuras mitológicas desse herói. As colunas, situadas no estreito de Gibraltar, simbolizavam para Hércules os limites do mundo até então conhecido pelos gregos. Mais tarde, sob o lema “Non Terrae Plus Ultra”, que significa “não existem terras adiante”, os romanos também assinalavam esses limites geográficos, quer dizer, não existiriam terras além do Mediterrâneo. No entanto, no escudo de armas da Espanha, já no século XVI, durante as grandes navegações, as colunas de Hércules foram incorporadas, mas com uma expressão “Plus Ultra”, ou seja, “ha algo adiante”.
A grande coroa unificada pelos dois maiores reinos (Castela + Aragão).
A Hércules.decolunareinodeLeão.
CONGO Sta. Helena
Acima de todos, a cruz, isto é, um “império cristão”.
mar, comércio marítimo, “império do além-mar”.
204 Teias da HisTória Geral e do Brasil
PORTUGAL, ESPANHA E SEUS TRATADOS GuanahaniHaitiJamaica Trinidad Fernando de AscensãoNoronhaLisboaPalosCádiz AOCEANOTLÂNTICO AOCEANOTLÂNTICO
PortoSalvadorRecifeSeguro
SERRALEOA
Á F R I C AAçoresVCaboerdeMadeiraIs.CanáriasSENEGALGUINÉ
A Espanha aceitou a proposta, pois dessa forma estava garantida sua soberania sobre as terras descobertas por Colombo. Assim, em 7 de junho de 1494 foi assinado o Tratado de Tordesilhas que destinou as terras a oeste do Meridiano de Tordesilhas para a Espanha e as situadas a leste, para Portugal e, dessa maneira, os dois reinos conseguiram manter suas áreas conquistadas
Tordesilhas: nome de uma cidade na Espanha, na região de Valladolid.
A decoroaAragão.
CoeteraInterBula de:Adaptado ATLASHistóricoEscolar cit.Op..
1. O escudo espanhol poderia ser associado à expressão “anões em ombros de gigantes”, como vimos no capítulo sobre Renascimento? Explique.
205Capítulo 12 – Expansão ultramarina
Escolar.HistóricoAtlasde:Adaptado cit.Op. AS
A chegada ao “ B rasil”: um feito português
GuanahaniHaitiJamaica Trinidad Fernando de Noronha Cabo de S. RoqueAscensão MombaçaMelinde Luanda LisboaPalosCádiz Calicute Bornéo Sumatra Java FilipinasMolucasAUSTRÁLIATasmâniaSIÃO BENGALA CHINAMONGÓLIA ÁSIA AOCEANOTLÂNTICO AOCEANOTLÂNTICO Equador ordesilhasTdeMeridiano OCEANOÍNDICO POCEANOACÍFICO ÁFRICA EUROP A Moçambique Nova Amsterdã Mascarenhas Bartolomeu Dias Vasco da Gama Pedro Álvares Cabral Cristóvão Colombo (S.MadagascarLourenço)Sofala Baía da Lagoa Cabo AçoresVerdeMadeiraIs.CanáriasSENEGALGUINÉ CONGONÚBIAETIÓPIAARÁBIA Sta. Helena Cabo Hornos Estreito Magalhãesde PortoSalvadorRecifeSeguro S. Julian SERRALEOA A M É R I C A Caboda Boa Esperança 01 .700 3.400 km
Nesse mapa, podem-se ver alguns caminhos estabelecidos durante a expansão ultramarina ibérica. A rota de Colombo (1492), o contato com as Índias (1498) e a chegada ao Brasil (1500) foram os principais trajetos até então consolidados por Portugal e Espanha. GRANDES NAVEGAÇÕES
KoNSTANTINKS/SHuTTerSToCK
Depois de terem atingido o arquipélago de Cabo Verde, na costa ocidental africana, em 22 de março, as naus continuaram navegando a sudoeste. Trinta
dias depois, os tripulantes viram no mar sinais de que estavam próximos de terra, como algas marinhas e, na manhã do dia seguinte, pássaros. Após 44 dias de viagem, os marinheiros avistaram terra e, então, no dia 22 de abril de 1500, perceberam uma região elevada, ao sul do atual estado da Bahia, que denominaram Monte Pascoal. As naus portuguesas demoraram a encontrar um local para descer com segurança, até que decidiram desembarcar. O lugar foi chamado de Porto Seguro, na atual Praia da Coroa OVermelha.primeiro contato com os nativos foi amistoso e, dias depois, em 26 de abril, foi rezada uma primeira missa, pelo religioso Henrique Soares de Coimbra. Cabral e sua tripulação permaneceram nas terras até o dia 3 de maio, dia em que a Igreja católica comemorava a “cruz de Cristo” e, por isso, as terras foram batizadas inicialmente como Ilha de Vera Cruz. Depois, numa reunião, o capitão-mor e seus principais auxiliares decidiram mandar uma mensagem ao rei de Portugal, Manuel I, relatando o sucedido. Uma nau seguiu para Lisboa com a Carta de Achamento, de Pero Vaz de Caminha. As demais embarcações continuaram a viagem com destino a Calicute, na Índia, restabelecendo a rota original.
A cruz da Ordem de Cristo, criada no século XIV, foi um dos símbolos utilizados pelos portugueses em suas embarcações. Essa ordem, religiosa e militar, herdou propriedades dos cavaleiros templários em Portugal, isto é, a presença dessa cruz, nos navios lusos, carregava uma simbologia de “cruzada”, de longa viagem para expandir a fé e, se preciso, combater infiéis.
Vera: verdadeira, real.
Vasco da Gama foi o último de sua expedição, com destino às Índias, a voltar a Lisboa, em meados de 1499. Seis meses depois, em 9 de março de 1500, uma nova expedição, muito maior, com treze navios e cerca de mil e quinhentos homens, contando com navegadores experientes como Bartolomeu Dias e Nicolau Coelho, além de cosmógrafos, frades franciscanos e funcionários reais, saiu da praia do Restelo, em Lisboa, às margens do Tejo, rumo às Índias. O objetivo era consolidar o comércio iniciado pelos irmãos Gama. O comando da armada foi entregue a Pedro Álvares Cabral.
REVISITANDO A HISTÓRIA
OLIVEIRA, T. K. Desconstruindo mapas, revelando espacializações: reflexões sobre o uso da cartografia em estudos sobre o Brasil colonial. Revista Brasileira de História, n. 68, 2014 (adaptado).
“Depois da descoberta por Vasco da Gama do caminho marítimo para as Índias, a Coroa portuguesa logo entendeu que devia repetir a expedição à luz das informações recolhidas pelo navegante. Seria uma armada cuidadosamente preparada, onde não podiam faltar os metais preciosos, indispensáveis para as compras de especiarias, cuja falta se sentira na primeira expedição. Para capitão-mor da armada seria indicado o próprio Vasco da Gama. Mas não foi o que aconteceu. Acabou sendo nomeado Pedro Álvares de Gouveia, depois conhecido como Pedro Álvares Cabral. (...)
Analise alguns dos principais pontos do capítulo.
In.: Nossa História. Rio de Janeiro: Vera Cruz –Conselho de Pesquisa da Biblioteca Nacional, 2005. ano 2, n. 18.
A história oficial do Descobrimento do Brasil é a das polêmicas sobre se Portugal sabia ou não da existência das novas terras antes que nelas desembarcasse Cabral, em abril de 1500. É a velha questão da casualidade ou intencionalidade da viagem que acabou em Porto Seguro, que se desdobrou depois na discussão sobre se foram mesmo os portugueses os primeiros a “descobrir” o futuro Brasil. O historiador português Joaquim Romero de magalhães, da Universidade de Coimbra, e um dos maiores especialistas sobre os descobrimentos, escreveu:
“Descobrimento”: sem querer ou de propósito?
ocidental banhada pelo Atlântico decorre, com certeza, de uma excessiva inflexão para sudoeste da rota armada de Cabral (...). Nenhum documento permite afirmar que Pedro Álvares Cabral partira de Lisboa com o propósito de descobrir novas terras. A intencionalidade da descoberta não encontra fundamento em nenhuma das testemunhas, seja Pero Vaz de Caminha, Mestre João ou o Piloto Anônimo.
DEBATENDO IDEIAS
Por que esse choque entre a “realidade” e a “imaginação” estava presente em Colombo? Na atualidade, esse mesmo confronto existe? Como isso pode ser evitado? Apresente argumentos.
VIDEOTECA
ENEM E VESTIBULARES
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Ao longo do capítulo tivemos várias referências sobre a concepção de Colombo, que tinha um argumento lógico e uma crença de que havia chegado ao Oriente. Isso o impediu de saber o tamanho de seu próprio feito, que foi chegar a um novo continente.
1. (Enem) “Afirmar que a cartografia da época moderna integrou o processo de invenção da América por parte dos europeus significa que os conhecimentos dos ameríndios sobre o território foram ignorados pela cartografia europeia ou que eles foram privados de sua representação territorial e da autoridade que seus conhecimentos tinham sobre o espaço.”
206 Teias da HisTória Geral e do Brasil
É arriscado demais supor que tivessem sido redigidas outras instruções secretas, quando as que se conhecem também não eram públicas. Não seguiam a bordo quaisquer padrões de pedra para assinalar descobertas, como acontecia nas viagens de exploração de terras desconhecidas. Cabral apressou-se a reunir um conselho dos capitães que decidiu enviar a Lisboa um navio da armada para anunciar o descobrimento. Reunião que seria absurda se tivesse instruções prévias para a descoberta. A armada partiu com destino à Índia, e foi só isso”.
1. Apresente as principais teses que motivaram polêmicas sobre a chegada dos portugueses ao território que viria a ser o Brasil.
2. Quais são os argumentos do historiador, presentes no texto, que tentam resolver essas mesmas polêmicas?
Na análise contida no texto, a representação cartográfica da América foi marcada por: a) asserção da cultura dos nativos. b) avanço dos estudos do ambiente. c) afirmação das formas de dominação. d) exatidão da demarcação das regiões. e) aprimoramento do conceito de fronteira.
A 22 de abril de 1500, a armada, que pelo oceano Atlântico ia a caminho das Índias, deparou com terra a ocidente. Tudo leva a concluir que esse “achamento” não foi proposital. O descobrimento ocasional da costa
ISSERAM A RESPEITO
MAGALHÃES, J. R. de. Ao sabor das ondas.
J. PT. “Histoire de plusieurs voyages aventureux”. 1600.
Os ossos para sempre sepultaram.
Capítulo 12 – Expansão ultramarina
b) a centralização monárquica e o desenvolvimento de conhecimentos cartográficos.
EsperançadaCaboBoa(1488)
5. (Unesp) Entre os motivos do pioneirismo português nas navegações oceânicas dos séculos XV e XVI, podem-se citar:
c) malária, doença de ampla ocorrência nas viagens de exploradores para a África e as Américas nos séculos XV e XVI.
É correto afirmar que Camões, neste trecho, descreveu sintomas de:
ÁSIA
Quem haverá que, sem ver, o creia?
a) O que representou, para os interesses de Portugal, a rota marítima Lisboa-Cabo da Boa Esperança-Calicute?
b) escorbuto, deficiência em vitamina C, doença comum nas viagens ultramarinas europeias dos séculos XV e XVI, como a de Vasco da Gama em busca das Índias.
Muitos a vida, e em terra estranha e alheia
2. (Enem) “Todo homem de bom juízo, depois que tiver rea lizado sua viagem, reconhecerá que é um milagre manifesto ter podido escapar de todos os perigos que se apresentam em sua peregrinação; tanto mais que há tantos outros aci dentes que diariamente podem aí ocorrer que seria coisa pavorosa àqueles que aí navegam querer pô-los todos diante dos olhos quando querem empreender suas viagens.”
a) peste bubônica, zoonose transmitida por ratos que assolou populações europeias e asiáticas no século XIV, propagada pelas viagens comerciais.
Que tão disformemente ali lhe incharam
d) varíola, doença viral disseminada no Velho Mundo e trazida pelos navegantes dos séculos XV e XVI às colônias, onde dizimou populações nativas.
e) leishmaniose, parasitose transmitida por mosquitos e contraída pelos primeiros exploradores da Amazônia e dos Andes durante o século XVI.
e) o fim do interesse europeu pelas especiarias e a busca de formas de conservação dos alimentos.
a) a influência árabe e a parceria com os comerciantes genoveses e venezianos.
207
Adaptado de: ATLAS Histórico Escolar. 8. ed. Rio de Janeiro: FAE, 1991. Observe as rotas no mapa e responda:
ocorreram várias mudanças na mentalidade europeia. Sobre essa realidade, é correto afirmar que
3. (Fuvest – SP)
Canto V Estância 81
Bartolomeu Dias Álvares (1498) (1500)
Calicute
c) a superação do mito do abismo do mar e o apoio financeiro e tecnológico britânico.
OCEANO
e) a Espanha acabou por ocupar boa parte do território africano, dominando assim o tráfico negreiro até fins do século XVIII.
b) O que significou a expedição de Pedro Álvares Cabral para o Império Português?
4. (UPE) O processo da expansão ultramarina acabou por redefinir o mapa mundial nos séculos XV-XVI. Com a descoberta da América e a possibilidade de um melhor conhecimento da África e Ásia, por parte dos europeus,
E foi que, de doença crua e feia, A mais que eu nunca vi, desampararam
VIAGENS PORTUGUESAS NA ÉPOCA MODERNA
Vasco da Gama Pedro
As gengivas na boca, que crescia
b) os espanhóis, logo de início, caracterizaram as descobertas de Colombo como a chegada a um novo continente até então desconhecido.
Cabral ÍNDIA ÁFRICA
6. (Fuvest – SP) Lisboa km ATLÂNTICO ÍNDICO
OCEANO
a) várias narrativas sobre as terras distantes e exóticas e seus habitantes foram publicadas na Europa, como os escritos de Hans Staden.
d) o avanço das ideias iluministas e a defesa do livre-comércio entre as nações.
1.230
d) a França e a Inglaterra colheram os lucros pela antecipação às nações ibéricas no processo das descobertas ultramarinas.
a) gosto pela aventura. b) fascínio pelo fantástico. c) temor do desconhecido. d) interesse pela natureza. e) purgação dos pecados.
c) os portugueses optaram por colonizar a África central, evitando fixarem-se na América.
In: DELUMEAU, J. História do medo no Ocidente: 1300-1800. São Paulo Companhia das Letras. 2009 (adaptado). Esse relato, associado ao imaginário das viagens marítimas da época moderna, expressa um sentimento de:
A carne e juntamente apodrecia?LuisVazde Camões, Os Lusíadas
A construção da nação e de certa ideia de Brasil foram questões que atravessaram todo o período imperial.
A figura de um imperador português, de um monarca ainda criança, os conflitos políticos internos e uma série de rebeliões determinaram, em parte, escolhas e caminhos. Os campos de café, o barulho e a fumaça dos trens e a chegada de imigrantes europeus delineavam uma imagem de “Império civilizado dos trópicos” que, no entanto, era mantido às custas de um violento e prolongado sistema escravocrata.
408 Teias da HisTória Geral
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Detalhe do Monumento à Independência do Brasil, Praça do Monumento, São Paulo.
Primeirorimeiro Reinado (1822-1831) BRASIL IMPÉRIO ALF RIBEIRO/SHUTTERSTOCK/SHUTTERSTOCK
CREATIVE COMMONS
Primeiro
As elites baianas temiam que as guerras de independência pudessem levar os escravizados a lutarem também pelo fim do regime escravista.
O (1822-1831)Reinado
410 Teias da HisTória Geral e do Brasil
O Primeiro Passo para a Independência da Bahia, de Antônio Parreiras (1931). Palácio Rio Branco, Salvador.
Guerras de independência (1822-1823)
A independência do Brasil não foi pacífica. Houve guerras sangrentas em várias partes do território. Muitas províncias não aceitavam a autoridade de D. Pedro I e nem a centralização das decisões no Rio de Janeiro. Nesse sentido, Lisboa e o Rei D. João VI, em Portugal, ainda tinham súditos fiéis no Brasil. As regiões da Bahia, Pará, Maranhão, Piauí, Ceará e Cisplatina foram os locais em que as divisões tornaram-se mais acirradas. Dessa forma, ocorreu uma grande guerra civil, violenta e sangrenta, entre os partidários das cortes portuguesas e aqueles que apoiavam o imperador.
30capítulo
Os piores conflitos se deram na Bahia, na cidade de Cachoeira e em Salvador. O imperador D. Pedro I precisou contratar mercenários, como o escocês Thomas Cochrane, para liderar as tropas favoráveis à independência. A soldada Maria Quitéria, a freira Joana Angélica e a ex-escravizada Maria Felipa foram nomes importantes durante as lutas favoráveis à separação. A vitória definitiva, em solo baiano, ocorreu no dia 2 de julho de 1823. Na capital, Rio de Janeiro, também houve uma série de desordens e tumultos. Somente no final de 1823 é que a independência foi, de fato, reconhecida em todo o Brasil, às custas de guerras, conflitos navais e cerca de 3 mil mortes.
A independência trouxe uma série de novas necessidades para uma nação que, até pouco tempo, sequer existia. O Brasil emancipado havia acabado de surgir. Era preciso imaginar um futuro, elaborar projetos, erguer uma monarquia constitucional, edificar um Estado, debater as novas leis e reinventar a escravidão em um contexto nacional. De todos os pontos, a ordenação de uma nova identidade, diferente da portuguesa, parece ter sido questão central. Definir-se como “brasileiro”, em um território em que todos ainda se viam como “portugueses da América”, não seria tarefa fácil, ainda mais diante de um Brasil livre em que o atual imperador poderia vir a ser o futuro rei de Portugal.
Adaptado de: REIS, J. J. O Jogo Duro do Dois de Julho: o partido negro na independência da Bahia. In: SILVA, E.; REIS, J. J. Negociação e Conflito: resistência negra no Brasil escravista. São Paulo: Companhia das Letras, 1989. p. 88-98.
Escravizados e guerras na Bahia RESPEITO
1. De que forma as informações sobre Maria Quitéria (abaixo da imagem) e a respeito dos negros, na Bahia, trazem um novo olhar sobre a independência do Brasil?
Os negros preocuparam os observadores da ruína do Império Português no Brasil, mas foi pensando nos escravos que eles distinguiram a atuação de um ‘partido negro’. Um anônimo informante da Coroa portuguesa escreveria numa data entre 1822 e 1823: “(...) embora havendo no Brasil aparentemente só dois partidos [portugueses e brasileiros], existe também um terceiro: o partido dos negros, que é o mais perigoso, pois se trata do mais forte numericamente”. Com efeito, os escravos, sobretudo os nascidos no Brasil, mas também os africanos, não testemunharam passivamente a Independência. Muitos chegaram a acreditar que lhes cabia um melhor papel no palco político. (...)
411Capítulo 30 – O Primeiro Reinado (1822-1831)
ISSERAM A
Maria Quitéria, de Domenico Failutti. Óleo sobre tela, 253,5 × 155 cm, 1920. Museu Paulista, São Paulo.
Maria Quitéria de Jesus chegou a fingir ser homem para lutar a favor da independência. Ela se alistou como “José Medeiros”. O chefe das tropas baianas, José Joaquim de Lima e Silva, escreveu sobre ela: “Esta mulher tem se destacado. Por três vezes apresentou feitos de grande heroísmo (...); em luta, entrou em um rio com água até os peitos e a ela foi concedida a honra de primeiro cadete”.
Na imagem, símbolos do poder real. Ao fundo, à esquerda, a coroa. O cetro na mão direita indica justiça e comando. No trono, pode-se ler “P-I”, isto é, “Pedro Primeiro”. O traje majestático era feito com veludo, cetim, penas de papo de tucano e era bordado com fios de ouro.
2. Como o “partido negro” usou o discurso da independência em causa própria? Explique.
Após as guerras de independência, ocorreu certa pacificação do território e a autoridade de D. Pedro I foi, enfim, reconhecida. A manutenção do termo “Império” estava relacionada a diversos fatores. Ainda existia, nesse momento, a possibilidade de que Brasil e Portugal viessem a se juntar novamente, na criação do Império Luso-brasileiro, ou seja, aquele projeto de D. João VI não estava totalmente descartado. Por outro lado, o Brasil era visto como um local predestinado à grandeza, com dimensões naturais de império. A figura do imperador deveria estar à altura dessas dimensões continentais e, dessa forma, foi pensada e construída.
REPRODUÇÃO
A guerra pela independência na Bahia permitiu a formação de uma ampla aliança entre baianos das mais variadas origens, mas não conseguiu desativar divisões internas. No próprio calor da luta, senhores de engenho tiveram disputas com líderes mais radicais, como o tenente Joaquim Sátiro da Cunha e o cadete João Primo. Aliás, a elite baiana decidiu abraçar a causa da Independência em parte para evitar que o movimento caísse em mãos erradas. (...)
COMMONSCREATIVE
A construção do Primeiro Reinado
D. Pedro I, de Pedro Américo (1879). Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro.
Símbolos do poderoso Império e P-I
Na metáfora predileta dos oradores patrióticos, representava-se o Brasil como escravo de Portugal. Os escravos parecem haver compreendido a hipocrisia do discurso patriótico. Se era para libertar o país da figurada escravidão portuguesa, por que não libertá-los também da autêntica escravidão brasileira? (...)
Bandeira imperial. Observe as principais referências utilizadas para sua construção.
Brasão dos Braganças de Portugal: “verde”.
Losango: o feminino, a origem, o (re)começo.
Versão de Thierry Frères a partir do esboço em aquarela de Debret (1822).
Primeiros Sons do Hino da Independência, de Augusto Bracet. Óleo sobre tela, 250 × 190 cm, 1922. Museu Histórico Nacional, Rio de Janeiro.
A coroa e a cruz: “Império cristão”.
Brasão dos Habsburgos da Áustria: “amarelo”.
“D. Pedro I estava longe do estereótipo de ignorante, degenerado e doente que lhe coube na História do Brasil. A memória coletiva acentua a profusão de amantes, a truculência e os ataques epiléticos. Mas não foi bem assim. Ele era apaixonado por música, aprendeu latim, teve diversos mestres e constantemente, em seus discursos, citava o poema ‘Eneida’, de Virgílio. Ele tocava vários instrumentos, cantava e compunha. Ele compôs, inclusive, o Hino da Independência. Com a sua esposa, Leopoldina, teve aulas de alemão. Além disso, foi leitor de Voltaire, Benjamin Constant e Edmund Burke. Para Domitila de Castro, ele chegou a escrever: ‘Às vezes tenho-me portado com alguma grosseria. Contudo, a fruta é fina, mas a casca é grossa’. Para o seu filho, futuro D. Pedro II, ele recomendou: ‘(...) o tempo em que se respeitavam os príncipes por serem príncipes, aca-
AIBA MAIS
D. Pedro I: música e poesia
COMMONSCREATIVE
De todos os instrumentos, D. Pedro I tinha maior domínio sobre o piano. Além disso, foi um amante das poesias.
Globo central: império de origem portuguesa.
A inscrição abreviada “P-I” (Pedro Primeiro) aparecia nos documentos, em pratos, xícaras, talheres, louças, no próprio trono e marcava a estética de uma verdadeira Corte nos trópicos. Na construção dos símbolos, a bandeira imperial teve destaque. O amarelo da família Habsburgo, da Áustria, e o verde da casa Bragança, de Portugal, foram as cores predominantes. O pintor francês Jean-Baptiste Debret foi o responsável pelo projeto.
412 Teias da HisTória Geral e do Brasil
Ramos de café e tabaco: potencialidades naturais.
Esboço de Debret para D. João VI (1820).
Os grupos políticos
A reunião e a “mandioca”
bou-se; é preciso reconhecer que são homens e não deuses e que lhes é indispensável terem muitos conhecimentos’. Ele escrevia compulsivamente. São muitas as suas cartas, mas também redigia textos para jornais da época, usando apelidos para não ser identificado, como ‘Piolho Viajante’, ‘Duende’, ‘Inimigo dos Marotos’. Foi um pai afetuoso e prometia padrões de educação ainda maiores para os seus filhos.”
A Constituinte de 1823 teve um forte caráter simbólico, na medida em que ela foi marcada para o dia 3 de maio. Nesse mesmo dia, em 1500, Pedro Álvares Cabral havia dado o primeiro nome às terras, em homenagem à cruz. Era, portanto, uma data inaugural, que representava um “início”, uma (re)fundação.
de Andrada, irmão de José Bonifácio. Em alguns momentos, esse esboço de constituição recorreu ao valor dos alqueires de mandioca como unidade e referência de medida. Por isso, esse projeto foi chamado de “Constituição da Mandioca”
Alqueire: cestas de carga utilizadas para transportar grãos, normalmente presas nos dois lados dos animal.
In.: A outra Face de D. Pedro I. Revista de História da Biblioteca Nacional. Rio de Janeiro. n. 74, nov. 2011.
A fala do imperador Pedro I na abertura da sessão gerou uma série de cochichos e murmurinhos. Ele estava vestido com uniforme de marechal, botas militares e espada à cinta. Os deputados presentes perceberam certo tom de ameaça, para que o projeto de lei tivesse uma estrutura mais centralizada, ou seja, que privilegiasse os poderes de um imperador. O principal relator foi Antônio Carlos Ribeiro
Adaptado de: DELMAS, A. C. Uma leve bagagem cultural.
O começo dos debates do projeto acentuou ainda mais as divergências políticas entre os deputados e elevou a tensão na capital do Império. O Partido Português questionava os limites impostos ao poder de D. Pedro I. Alguns comerciantes também reclamaram sobre os critérios censitários das eleições e o Partido Brasileiro não queria, de forma alguma, que o imperador tivesse poder para “autorizar ou não” (sancionar) as leis criadas pelo Legislativo. Outro ponto de discussão foi quando José Bonifácio apresentou um texto em que propunha o fim do tráfico negreiro e a abolição gradual da escravidão no Brasil.
Partido Brasileiro – representavam a elite colonial e tinham apoiado D. Pedro I durante o processo de independência. No geral, defendiam o direito à propriedade e a manutenção da ordem social. Internamente, porém, havia uma divisão, pois existiam discordâncias a respeito da estrutura política. Quem deveria ter mais poder, o governo central e o imperador ou as províncias e as localidades?
Indumentária dos Ministros, de Jean-Baptiste Debret (1826). Museus Castro Maya, Rio de Janeiro.
Durante o Primeiro Reinado existiram dois importantes grupos políticos. Embora não tenham sido exatamente partidos, tal qual os conhecemos, eles representavam duas correntes de opinião. Um deles estava vinculado à elite local e, o outro, aos portugueses que ainda viviam no Brasil. As principais ideias desses dois “partidos” eram as seguintes:
Partido Português – formado por comerciantes e políticos portugueses, se opuseram à independência. Defendiam uma futura união com Portugal e mantinham viva a ideia do poderoso Império Luso-brasileiro. No geral, apoiavam D. Pedro I e pensavam a força política centralizada nas mãos do monarca, quase em um modelo absolutista.
O imperador D. Pedro I convocou um grupo de 89 deputados para, reunidos, formarem uma Assembleia Constituinte. A ideia era elaborar um projeto de lei que pudesse dar origem à primeira Constituição do Brasil independente. Essa assembleia representava as catorze províncias que, então, constituíam o império brasileiro. Todos os participantes se encontraram na capital, Rio de Janeiro, em 3 de maio de 1823.
REPRODUÇÃO
No geral, o texto preservava a independência, mas limitava os poderes do monarca. O projeto determinava eleições indiretas e censitárias, isto é, os eleitores deveriam comprovar renda mínima anual equivalente a 150 alqueires de farinha de mandioca.
413Capítulo 30 – O Primeiro Reinado (1822-1831) Assembleia Constituinte de 1823
isTória
convertê-los gradualmente de vis escravos em homens livres e ativos.
1) Por que a visão de Bonifácio é uma leitura conservadora em relação à escravidão? Identifique argumentos no texto que justifiquem sua resposta.
ECORTES DA HISTÓRIA
Os trabalhos da Assembleia Constituinte de 1823 foram marcados por inúmeras divergências. Durante a “Noite da Agonia”, muitos temeram pela própria vida. Os irmãos Andrada foram presos e deportados.
Torno(...)a dizer porém que eu não desejo ver abolida de repente a escravidão; tal acontecimento traria consigo grandes males. Para emancipar escravos sem prejuízo, cumpre fazê-los primeiramente dignos da liberdade: cumpre que sejamos forçados pela razão e pela lei a
DOLHNIKOF, M. Projetos para o Brasil de José Bonifácio de Andrada e Silva. São Paulo: Companhia das Letras, 1998. p. 45-46, 63-65.
A partir disso, o grupo de José Bonifácio ficou politicamente isolado. Assim, uma boa parte da assembleia exigiu que o imperador se explicasse, declarando-se em sessão permanente. Entre os dias 11 e 12 de novembro de 1823, os deputados permaneceram de plantão. Essa noite foi chamada de Noite da Agonia. D. Pedro I respondeu energicamente. Soldados invadiram o prédio, prenderam deputados e o monarca decretou o fim dos trabalhos daquele grupo, nomeando, em seguida, uma nova assembleia, formada por políticos do Partido Português. Esse episódio marcou a ruptura entre D. Pedro I e o Partido Brasileiro, grupo que o havia apoiado durante o processo de independência.
Bonifácio e o fim da escravidão
REPRODUÇÃO
José Bonifácio, em 1823, apresentou uma Representação à Assembleia Geral Constituinte, defendendo o fim do tráfico negreiro e a adoção de medidas para uma emancipação gradual dos escravizados. O texto gerou incômodos e, por isso, não chegou a ser transformado em projeto de lei. Abaixo, um trecho do documento:
O mal está feito, senhores, mas não o aumentemos cada vez mais; ainda é tempo de emendar a mão. Acabado o infame comércio de escravatura, cumpre em primeiro lugar favorecer a sua gradual emancipação, e antes que consigamos ver o nosso país livre de todo deste cancro, o que levará tempo, desde já abrandemos o sofrimento dos escravos, favoreçamos, e aumentemos, todo os seus prazeres domésticos e civis; instruamo-los no fundo da verdadeira religião de Jesus Cristo, e não em gestos e superstições: por todos estes meios nós lhes daremos toda a civilização de que são capazes no seu desgraçado estado. Este é não só o nosso dever mas o nosso maior interesse, porque só então (...) eles nos servirão com fidelidade e amor; de inimigos se tornarão nossos amigos e clientes”.
“Como cidadão livre e deputado da nação dois objetos me parecem ser, fora a Constituição, de maior interesse para a prosperidade futura deste império. O primeiro é um novo regulamento para promover a civilização geral dos índios do Brasil, que farão com o andar do tempo inúteis os escravos, cujo esboço já comuniquei a esta Assembleia. Segundo, uma nova lei sobre o comércio da escravatura, e tratamento dos miseráveis cativos. [Eu me] proponho a mostrar a necessidade de abolir o tráfico da escravatura, de melhorar a sorte dos atuais cativos e de promover a sua progressiva emancipação.
No caso do sistema eleitoral, ele continuava a ser indireto e censitário: os eleitores de paróquia (eleitores de 1o grau) deveriam comprovar renda anual de 100 mil-réis. Esses escolhiam os eleitores de província (eleitores de 2o grau), que precisavam ter até 200 mil-réis por ano. E esses, por sua vez, escolhiam tanto os deputados (que precisavam ter um valor de 400 mil-réis) como os senadores (800 mil-réis).
Menores de 25 anos Mulheres Religiosos Estrangeiros Escravizados libertos COMMONSCREATIVE
Cidadãos Eleitores (eleitores de 2o grau)
NÃO PODIAM VOTAR:
SISTEMA ELEITORAL – PRIMEIRO REINADO Eleitores de Província (200 mil-réis) DEPUTADOS (400 mil-réis) SENADORES (800 mil-réis)
ElegemElegem
Confederação do Equador (1824)
Cidadãos Volantes (eleitores de 1o grau) Elegem Eleitores de Paróquia (100 mil-réis)
Em Pernambuco ocorreu um movimento político contra D. Pedro I. Havia o medo do retorno do absolutismo e de uma possível recolonização. O fechamento da Assembleia Constituinte de 1823, a imposição de uma nova constituição e, sobretudo, o fato de o imperador escolher quem governaria cada uma das províncias foram vistas como decisões arbitrárias do monarca. Além disso, a região passava por um declínio econômico, pois tanto o açúcar quanto o algodão sofriam quedas na exportação, ocasionadas principalmente por causa de concorrências estrangeiras.
era visto como um ponto de equilíbrio entre os demais poderes. No caso do Brasil, ele era de uso exclusivo de D. Pedro I, isto é, algumas funções eram reservadas somente ao imperador: nomear senadores, magistrados, embaixadores e agentes diplomáticos; nomear e demitir ministros e comandantes das forças de terra e mar, declarar a guerra e fazer a paz. Além disso, o monarca nomeava os presidentes das províncias. O Brasil se declarava oficialmente católico e o imperador nomeava os bispos do Brasil. As outras religiões eram permitidas, mas somente em cultos privados (domésticos) e todos os registros dos cidadãos do império eram feitos na Igreja católica. Além disso, as bulas papais passavam pela autorização (beneplácito) do imperador, antes de valerem ou não em território brasileiro.
Conheça alguns detalhes do poder do Imperador, lendo o QR Code ao lado. MODERADOR
O Partido Português, aliado ao imperador, entregou ao monarca um novo projeto de constituição. D. Pedro I o aprovou e as novas leis começaram a valer no dia 25 de março de 1824. A constituição foi outorgada, isto é, não houve eleições para se criar uma Assembleia Constituinte e, por isso, não se teve representação política. Dessa forma, a outorga ocorre quando um grupo ou um líder elabora leis e a população simplesmente obedece. A carta de 1824 foi a primeira constituição brasileira e, no geral, ela foi baseada em princípios liberais, como a monarquia constitucional e a representação política das províncias, a partir da possibilidade de se eleger deputados e senadores.
PODER
Dom Pedro I, de Manuel de Araújo Porto-Alegre (1826). Museu Histórico Nacional, Rio de Janeiro.
A principal novidade da Constituição foi a divisão em quatro poderes: Moderador, Executivo, Legislativo e Judiciário. O Executivo era formado pelo imperador e ministros (gabinete). O Legislativo tinha duas câmaras: Senado (vitalício) e Câmara dos Deputados (eleita a cada 4 anos). O Poder Moderador, em sua origem,
415Capítulo 30 – O Primeiro Reinado (1822-1831)
Constituição outorgada (1824)
REPRODUÇÃO
D. Pedro I e a Constituição de 1824. De acordo com esse novo texto, o monarca ganhava mais autonomia, mas não poderia assumir outros tronos, assim como já havia dito o projeto da mandioca.
Candidatos
D. Pedro I fez vários acordos para que outros países reconhecessem a independên cia do Brasil. No geral, nesses acordos, o imperador baixava os valores dos impostos alfandegários em troca do reconhecimento oficial. O primeiro país do mundo a legiti mar o Brasil como nação livre e soberana foram os Estados Unidos, em 1824, a partir da figura do presidente James Monroe. A negociação mais conhecida, no entanto, foi a que envolveu Brasil, Inglaterra e Portugal, a partir de 1825.
A proposta portuguesa era que o Brasil pagasse uma antiga dívida em relação à In glaterra (2 milhões de libras). Porém, para aceitar o acordo, o diplomata inglês Charles Stuart também fez algumas exigências a D. Pedro I: o Brasil assumiria a dívida, mas comprometia-se a renovar os acordos comerciais com a Inglaterra (mantendo os privi légios de 15% de impostos), além de prometer acabar com o tráfico negreiro.
D. Pedro I enviou tropas imperiais, co mandadas por Francisco de Lima e Silva. A repressão foi violentíssima.
Os portugueses alegavam que a independência do Brasil havia trazido inúmeros pre juízos para os cofres lusos, pois Portugal tinha perdido o território brasileiro, o lucro dos portos e os impostos que, até então, vinham da América. Enfim, todas essas perdas afetavam economicamente a antiga Metrópole. Desse modo, D. João VI afirmou que o Brasil deveria recompensar esses danos e que, em troca, assinaria a declaração oficial da independência.
Acordos de independência (1824-1825)
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Olinda e Recife começaram, então, a pensar em um movimento. Em 2 de ju lho de 1824, Manuel Carvalho de Andrade, ex-presidente da província, proclamou a existência da Confederação do Equador, unindo Pernambuco, Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte, separando-se do Brasil, criando uma República e defendendo o fim do tráfico negreiro. O movimento con tou com o apoio de produtores de algo dão, setores da elite urbana, homens livres empobrecidos e escravizados. Os grandes latifundiários do açúcar, no entanto, não aderiram à sedição.
A crise do governo de D. Pedro I foi construída aos poucos em uma sucessão de di ferentes acontecimentos. Dessa forma, podemos dizer que o declínio político foi lento, gradual e que vários fatores estiveram envolvidos.
Crise do Primeiro Reinado
A nomeação de Francisco Paes Barreto para presidente da província de Pernambu co, no lugar de Manuel Carvalho de Andrade (antigo revolucionário de 1817), fez com que o movimento começasse. Um dos principais líderes era o frei carmelita Joaquim do Amor Divino Rebelo, conhecido como Frei Caneca. No jornal Typhis Pernambucano, o religioso escrevia duras críticas contra o “absolutismo” de D. Pedro I: “as leis são feitas para o povo e não o povo para as leis”; “o Poder Moderador, essa nova invenção ma quiavélica, é a chave-mestra da opressão da nação brasileira”.
O castigo exemplar marcou a execução de vários rebeldes. Frei Caneca foi condena do à forca, mas nenhum carrasco quis cum prir a sentença. A sua pena foi transforma da em fuzilamento. Ele morreu no pátio do Forte das Cinco Pontas, no Recife, no dia 13 de janeiro de 1825.
Estudo para Frei Caneca, de Antônio Parreiras. Óleo sobre tela, 77 × 96,2 cm, [ca. 1918]. Museu Antônio Parreiras, ONiterói.julgamento de Frei Caneca e sua posterior dedesgasteumEquador,aempregadasciamarcaramexecuçãoasequên-deviolênciascontraConfederaçãodoiniciandoprocessodedafiguraD.PedroI.
416 Teias da HisTória Geral e do Brasil
Morte da Imperatriz Leopoldina
Falecimento do Rei D. João VI
Cortejo Fúnebre da Imperatriz Leopoldina, Thierry Frères a partir de Jean-Baptiste Debret (1839). Biblioteca John Carter Brown, Providence, Estados Unidos.
Na caricatura, D. Miguel (esquerda) e D. Pedro I (direita) são representados como duas crianças que brigam pela Coroa. Autorizar que soldados portugueses fizessem a sua proteção particular, no Rio de Janeiro, também foi alvo de críticas e preocupações em relação às atitudes do imperador.
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A Imperatriz Maria Leopoldina faleceu aos 29 anos de idade, em 11 de dezembro de 1826. A sua morte colaborou para aumentar a crise do Primeiro Reinado. A imperatriz era bem vista pela opinião pública: boa mãe, estudiosa e, acima de tudo, uma das principais articuladoras da independência do Brasil. Assim que ela faleceu, a imagem de D. Pedro I começou a ser construída negativamente. Ele passou a ser narrado como infiel, agressivo, iletrado, violento, com amantes e pai de diversos filhos bastardos.
O interesse de D. Pedro I não foi bem-visto pela elite brasileira. Ao demonstrar disposição pelo trono de Portugal, D. Pedro I era questionado. Essa situação realimentou o antigo medo de possível recolonização. Na tentativa de resolver a situação, D. Pedro I ofereceu a sua filha Maria da Glória (de 7 anos) para se casar com D. Miguel (tio da menina). Ela seria a R ainha Maria II, em Portugal, e o irmão um “rei consorte”. O casamento aconteceu. Maria da Glória foi para a Europa, mas D. Miguel ignorou os assessores e os representantes da jovem rainha e passou a governar sozinho, inspirado em antigas teorias absolutistas. Essa guerra contra D. Miguel só foi definida em 1832.
417Capítulo 30 – O Primeiro Reinado (1822-1831)
MARIA LEOPOLDINA
Caricatura de Honoré Daumier, publicada no jornal La Caricature, 11 de julho de 1833. Litografia colorida sobre papel. Biblioteca Nacional de Portugal, Lisboa.
Em março de 1826 morreu o Rei D. João VI, em Portugal. A sua morte gerou uma terrível crise envolvendo D. Pedro I do Brasil e seu irmão mais jovem, D. Miguel. Os dois irmãos passaram a disputar o trono europeu. D. Pedro I era o filho mais velho, mas não poderia assumir a Coroa portuguesa, pois já era imperador do Brasil. D. Miguel, por outro lado, não tinha trono, mas como era mais jovem, não tinha direito.
Mesmo após o seu falecimento, a imperatriz Maria Leopoldina influenciou o caminho político de D. Pedro I. A imagem do imperador foi construída em oposição à dela, vista como letrada e fiel.
Conheça, por meio do QR Code ao lado, a relação entre Leopoldina, Goethe e Schubert.
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Além disso, ele demorou cerca de três anos para se casar novamente. Nesse período, não conseguir se casar era visto como fraqueza política, pois os monarcas usavam os casamentos para realizar alianças políticas e diplomáticas. D. Pedro I teve sete pedidos de casamento rejeitados, até que em 1829 ele se casou com Amélie de Leuchtenberg, princesa da Baviera, um reino bem menor e menos expressivo do que a poderosa Áustria dos Habsburgos.
Essa derrota fez aumentar a crise, pois o Brasil havia gastado muitos recursos com o financiamento da guerra, além de perder o próprio território e os portos de Sacramento e Montevidéu, que davam acesso direto ao rio da Prata. Muitos gaúchos, criadores de gado e produtores de charque, apoiaram D. Pedro I, pois tinham interesse em manter o acesso direto à região platina e também pela caça de gado selvagem.
Revolução de 1830 (França)
Nesse contexto, de “ventos liberais”, o jornalista Giovanni Battista Líbero Badaró, médico de origem italiana e proprietário do jornal O Observador Constitucional, era um ferrenho crítico de D. Pedro I. As suas críticas denunciavam os abusos de poder do imperador e pediam para que os brasileiros saíssem às ruas e o destronassem assim como a França havia derrubado Carlos X. Após uma emboscada, Líbero Badaró foi assassinado a tiros por inimigos políticos, em 21 de novembro de 1830, na cidade de São Paulo.
Retrato de Líbero Badaró, de Nair Opromolla de Araújo (1945). Museu Paulista, São Paulo.
A possível fala final de Líbero Badaró, publicada no jornal O Observador Constitucional, foi usada pela oposição. Verdade ou não, foi feito uso político dessas palavras, isto é, mesmo após a morte do jornalista as ideias liberais permaneceriam fortes, levando à derrubada de D. Pedro I.
Entre 27 e 29 de julho de 1830, a França viveu novas agitações revolucionárias. O episódio ficou conhecido como três dias gloriosos, sendo marcado por uma série de movimentos populares nas ruas de Paris. Após tumultos e barricadas, o Rei Carlos X, católico e absolutista, foi retirado do poder, exilando-se na Inglaterra e, em seguida, na Itália. Em seu lugar, assumiu o trono Luís Felipe de Orléans, o “rei cidadão”, o “rei burguês”. Esse episódio, ocorrido na Europa, estimulou uma série de jornais liberais, no Brasil, a criticarem ainda mais D. Pedro I, ou seja, que os brasileiros seguissem o exemplo francês, saíssem às ruas e destronassem um monarca autoritário.
A partir desse momento, se o Brasil quisesse navegar pela região teria que pagar tarifas para o Uruguai, como qualquer outro país. Os ingleses, no caso, estavam interessados na internacionalização da região, no livre-comércio e, por isso, pressionaram para a criação de uma nova nação. Dessa forma, o rio da Prata ficaria com duas bandas, uma uruguaia (oriental) e outra argentina (ocidental), o que garantiria o acesso inglês. A interferência da Inglaterra na guerra gerou um mal-estar no Brasil, fazendo aumentar as críticas contra D. Pedro I.
Guerra Cisplatina (1825-1828)
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A morte de Líbero Badaró e a prisão do alemão Henrique Stock, suspeito de atirar no jornalista, criaram um clima bastante desfavorável a D. Pedro I. Embora improvável, alguns afirmaram que as últimas palavras de Líbero Badaró teriam sido: “morre um liberal, mas não morre a liberdade”.
No ano de 1828, o Brasil perdeu o território da Província Cisplatina. A guerra de independência da região em relação ao Brasil durou três anos e, por fim, após pressão diplomática inglesa, a Cisplatina se transformou na República Oriental do Uruguai.
Morte de Líbero Badaró
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A formação do Uruguai deu início à tensão entre os produtores gaúchos de charque, prejudicados com os gastos da guerra e com a perda da região, e o governo central do Império Brasileiro.
A soma de todos esses fatores levaram a um quadro irreversível de crise. O maior opositor a D. Pedro I era o Partido Brasileiro, que havia rompido com o monarca ainda em 1823. Após uma viagem mal-sucedida a Minas Gerais, em que foi vaiado e recebido com faixas de luto, pela morte de Líbero Badaró, o monarca voltou ao Rio de Janeiro. Para recebê-lo de maneira mais calorosa, o Partido Português, os “pés de chumbo”, preparou uma recepção, com cartazes, fogos e coreto. No entanto, o partido brasileiro, ”os pés de cabra”, tentou impedir essa recepção. No dia 13 de março de 1831, o conflito tomou as ruas do Rio de Janeiro: brigas, socos, pontapés, postes quebrados e garrafas lançadas, no que ficou conhecido como Noite das Garrafadas. Feridos e cacos de vidro espalhados marcaram a cena, no dia seguinte, das ruas da capital.
diz que o menino passou mal após essa exposição pública.
Ao lado das três irmãs, D. Pedro II foi exibido em uma das janelas do Paço Imperial. Os aplausos misturavam-se com o barulho da artilharia. Fumaça e cheiro de pólvora assustaram o menino que foi consolado por sua aia, Dona Mariana, a “Dadama”.
419Capítulo 30 – O Primeiro Reinado (1822-1831)
Abdicar: desistir, dispensar, renegar.
Do lado esquerdo, na janela central, é possível ver D. Pedro II, em pé, em uma cadeira. Aqui, a imagem
ampliada.Anarrativa
Aclamação de Dom Pedro II como Imperador do Brasil, de Jean-Baptiste Debret [ca.1831]. Museus Castro Maya, Rio de Janeiro.
Abdicação do trono
Noite das Garrafadas
D. Pedro I foi, Pedrinho ficou
Pressionado para punir os membros do Partido Português, D. Pedro I chegou a nomear todo um ministério de membros do Partido Brasileiro, mas acabou recuando, demitindo todos e, em seguida, nomeando portugueses. Isolado, ele acabou abdicando o trono do Brasil a favor de seu filho, Pedro de Alcântara, o “Pedrinho”, que tinha apenas 5 anos de idade, no dia 7 de abril de 1831. Os principais membros da elite brasileira pegaram o menino em São Cristóvão e o levaram para uma cerimônia no centro da capital. Colocado na janela do Paço Imperial, ele foi saudado: “viva D. Pedro II”! José Bonifácio de Andrada e Silva foi nomeado como seu tutor.
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ANALISE ESTA IMAGEM
a) Que elementos da imagem marcam visualmente o poder dos monarcas?
No Brasil, em hospitais, como a Santa Casa de Misericórdia, existiu a “Roda dos Expostos”, também conhecida como “Roda dos Enjeitados”. Tratava-se de uma caixa de madeira, cilíndrica e giratória, encaixada na parede de um prédio. A criança era colocada na caixa. O “expositor” tocava um sino e girava o mecanismo e, assim, a criança era recebida do outro lado do prédio, preservando a identidade de quem tinha abandonado o recém-nascido. Os bebês eram, então, criados por instituições de caridade, as “Casas dos Expostos” ou “Casas da Roda”, financiadas pelas Santas Casas de Misericórdia, que contratavam escravizadas para amamentá-los. Na maioria das vezes, junto às crianças, vinha um bilhete, contendo o seu nome e as datas de nascimento e batismo. Na imagem, D. Pedro I e Maria Leopoldina visitando uma dessas instituições.
A Abdicação do Primeiro Imperador do Brasil, de Aurélio Figueiredo. Óleo sobre tela, 1911. Palácio Guanabara, Rio de Janeiro. D. Pedro I entregou sua abdicação: “Usando o direito que a Constituição me concede, declaro que irei mui voluntariamente abdicado na pessoa de meu mui amado e prezado filho, D. Pedro de Alcântara. Quinta da Boa Vista, 7 de abril de 1831”.
420 Teias da HisTória Geral e do Brasil
b) Representar o casal imperial em uma instituição de crianças órfãs era também uma postura política? Explique a partir da imagem.
D. Pedro I, por sua vez, voltou à Europa e terminou a guerra contra o próprio irmão, D. Miguel, na Guerra Civil Portuguesa ou Guerra dos Dois Irmãos. D. Pedro, vitorioso, tornou-se rei de Portugal, sendo coroado com o título de D. Pedro IV. No entanto, ele acabou falecendo pouco tempo depois, em 24 de setembro de 1834, de tuberculose. Diferentemente de sua imagem no Brasil, em Portugal ele foi celebrado como “rei liberal”, na medida em que seu irmão, D. Miguel, era visto como absolutista.
REVISITANDO A HISTÓRIA
Analise alguns dos principais pontos do capítulo.
A abdicação do trono brasileiro foi vista pelos membros do Partido Brasileiro como “verdadeira independência do Brasil” ou “Revolução do sete de abril”, na medida em que pela primeira vez, de fato, o Brasil seria governado por políticos nascidos em território brasileiro e não por portugueses. A Constituição de 1824 determinava que se o herdeiro do trono fosse menor de idade, o poder deveria ficar com um grupo de três regentes escolhidos pela Assembleia Geral (Câmara dos Deputados e Senado) até que o herdeiro atingisse os 18 anos de idade, dando início ao período da Regência (1831-1834).
Dom Pedro I e Dona Leopoldina Visitando os Órfãos na Casa dos Expostos, de Arnaud Pallière (1826). Fundação Romão Duarte, Rio de Janeiro.
c) Que detalhe da imagem nos aparenta certa estranheza ao pensarmos em atos de caridade social, mas que no século XIX não se apresentava como contradição? Explique.
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d) ética partidária e supervisão estatal.
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e) caráter liberal e sistema parlamentar.
Com a ajuda do professor e do seu grupo de trabalho, inicie o seguinte debate:
I. Os menores de vinte e cinco anos, nos quais se não compreendem os casados, os oficiais militares, que forem maiores de vinte e um anos, os bacharéis formados e os clérigos de ordens sacras.
sejam dadas à Providência, que vemos hoje a nação representada, e representada por tão dignos deputados. Quem dera que há mais tempo pudesse ter sido; mas as circunstâncias anteriores não o o permitiam, assim como depois as grandes distâncias (...) em um país tão novo e tão extenso como o Brasil.”
Com a economia em alta, em 14 de novembro de 2009, o jornal The Economist publicou: “O Brasil decola”. Dois anos depois, às vésperas de sediar a Copa do Mundo e as Olímpiadas, a marca Johnnie Walker, em vídeo, fez a seguinte propaganda: “O gigante não está mais adormecido”.
a) Que imagem a respeito do Brasil D. Pedro I transmitiu em seu discurso?
c) Essas representações a respeito do Brasil ainda ecoam dentro de nós? De que forma? Isso é positivo ou negativo? Dê exemplos capazes de defender os dois pontos de vista.
ENEM E VESTIBULARES
Leia o documento abaixo e observe as imagens seguintes.“Atodo o custo, até arriscando a vida, se preciso for, desempenharei o titulo com que os povos deste vasto e rico continente me honraram de ‘Defensor Perpétuo do Brasil’. Este título penhorou muito mais meu coração do que quanta glória alcancei com a espontânea e unânime aclamação de Imperador deste invejado Império. Graças
de galão branco, e os administradores das fazendas rurais e fábricas.
DEBATENDO IDEIAS
BRASIL. Constituição de 1824. Disponível em: <www.planalto.gov.br>. Acesso em: 4 abr. 2015 (adaptado). De acordo com os artigos do dispositivo legal apresentado, o sistema eleitoral instituído no início do Império é marcado pelo(a):
V. Os que não tiverem de renda líquida anual cem mil-réis por bens de raiz, indústria, comércio, ou emprego.”
II. Os filhos de famílias, que estiverem na companhia de seus pais, salvo se servirem a ofícios públicos.
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b) De que forma podemos comparar a fala do imperador com as propagandas feitas sobre o Brasil em 2009 e 2011?
Art. 92. São excluídos de votar nas assembleias paroquiais:
1. (Enem) “Art. 90. As nomeações dos deputados e senadores para a Assembleia Geral, e dos membros dos Conselhos Gerais das províncias, serão feitas por eleições, elegendo a massa dos cidadãos ativos em assembleias paroquiais, os eleitores de província, e estes, os representantes da nação e província.
III. Os criados de servir, em cuja classe não entram os guarda-livros, e primeiros caixeiros das casas de comércio, os criados da Casa Imperial, que não forem
c) liberdade pública e abertura política.
D. Pedro I, trechos da Fala do Trono, 3 de maio de 1823. Disponível em: <www2.senado.leg.br>.
IV. Os religiosos e quaisquer que vivam em comunidade claustral.
a) representação popular e sigilo individual. b) voto indireto e perfil censitário.
422 Teias da HisTória Geral e do Brasil
Frei Joaquim do Amor Divino Caneca, In: MELLO, E. C. de. Frei Joaquim do Amor Divino Caneca São Paulo: Ed. 34, 2001. p. 569-561.
Apaniguados: beneficiados, favorecidos.
DOLHNIKOFF. M.
b) imposta por Portugal e determinou o monopólio português do comércio colonial.
d) elitistas e era controlado apenas pelos portugueses residentes no país.
R. (Org.). Dicionário do Brasil Imperial Rio de Janeiro: Objetiva, 2008 (adaptado).
História do Brasil Império, 2019.
d) promulgada por uma Assembleia e concentrou a autoridade no Poder Executivo.
c) absolutistas e fundava-se no exercício dos três poderes pelo imperador.
O texto refere-se à organização política do Brasil após a independência, em 1822. O novo Estado brasileiro, antes da outorga da Constituição de 1824, foi baseado em padrões: a) federalistas e garantia completa autonomia às províncias. b) liberais e contava com sistema político representativo.
O Pharol, edição 117, 25 de maio de 1886, Juiz de Fora, Minas Gerais. Disponível em: <http://memoria.bn.br/hdb/periodico.aspx>.
A partir da leitura do discurso proferido por Frei Caneca, no dia 6 de junho de 1824, às vésperas da Confederação do Equador, e da declaração publicada no jornal O Pharol, no dia 25 de maio de 1886, responda as questões abaixo: a) A partir dos textos, faça uma análise do Poder Moderador na sociedade imperial brasileira. b) Estabeleça uma relação entre as ideias políticas presentes no discurso do Frei Caneca e a publicação do jornal O Pharol
e) democráticos e permitia a ampla participação da população brasileira.
“Uma Constituição não é outra coisa que a ata do pacto social, que fazem entre si homens quando se ajuntam e se associam para viver em reunião ou sociedade (...) O Poder Moderador da nova invenção maquiavélica é a chavemestra da opressão da nação brasileira e o garrote mais forte da liberdade dos povos. Por ele o imperador pode dissolver a Câmara dos Deputados, que é a representante do povo, ficando sempre no gozo de seus direitos o Senado, que é o representante dos apaniguados do imperador (...) ficando o povo indefeso nos atentados do imperador contra seus direitos...”
GOMES, L. 1822 Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2010.
“Está consumada a convicção!
4. (Unesp) “No que dizia respeito ao Estado a ser construído, genericamente o modelo disponível era aquele que prevalecia no mundo ocidental. Tratava-se de organizar um aparato político-administrativo com jurisdição sobre um território definido, que exercia as competências de ditar as normas que deveriam regrar todos os aspectos da vida na sociedade, cobrar compulsoriamente tributos para financiá-lo e às suas políticas, exercer o poder punitivo para aqueles que não respeitassem as normas por ele ditadas.”
A corrupção que maneja o poder pessoal já invadiu as instituições; agora inutiliza os homens.
a) estímulos ao racismo. b) apoio ao xenofobismo. c) críticas ao federalismo. d) repúdio ao republicanismo. e) questionamentos ao autoritarismo.
E os pretensos delegados do povo se convertem em instrumentos ignóbeis de uma única vontade soberana, vontade que tudo vence, porque tudo pode, acostada à lei fundamental, a essa carta constitucional, que, por escárnio, se diz Constituição, ninho de ferro em que se aquece e se nutre a hidra do despotismo, embora manhosamente desfigurado sob o manto estrelado de falazes e tentadoras liberdades!”
3. (Enem) “Após o retorno de uma viagem a Minas Gerais, onde Pedro I fora recebido com grande frieza, seus partidários prepararam uma série de manifestações a favor do imperador no Rio de Janeiro, armando fogueiras e luminárias na cidade. Contudo, na noite de 11 de março, tiveram início os conflitos que ficaram conhecidos como a Noite das Garrafadas, durante os quais os ‘brasileiros’ apagavam as fogueiras ‘portuguesas’ e atacavam as casas iluminadas, sendo respondidos com cacos de garrafas jogadas das janelas.”VAINFAS,
5. (Unesp) A primeira Constituição brasileira, de 1824, foi: a) aprovada pela Câmara dos Deputados e estabeleceu o voto censitário.
No processo de independência do Brasil, o caso mencionado é emblemático porque evidencia a: a) rigidez hierárquica da estrutura social. b) inserção feminina nos ofícios militares. c) adesão pública dos imigrantes portugueses. d) flexibilidade administrativa do governo imperial. e) receptividade metropolitana aos ideais emancipatórios.
e) determinada pela Inglaterra e estabeleceu o fim do tráfico de escravos.
Os anos finais do Primeiro Reinado (1822-1831) se caracterizaram pelo aumento da tensão política. Nesse sentido, a análise dos episódios descritos em Minas Gerais e no Rio de Janeiro revela:
2. (Enem) “Entre os combatentes estava a mais famosa heroína da Independência. Nascida em Feira de Santana, filha de lavradores pobres, Maria Quitéria de Jesus tinha trinta anos quando a Bahia começou a pegar em armas contra os portugueses. Apesar da proibição de mulheres nos batalhões de voluntários, decidiu se alistar às escondidas. Cortou os cabelos, amarrou os seios, vestiu-se de homem e incorporou-se às fileiras brasileiras com o nome de Soldado Medeiros.”
c) outorgada pelo imperador e definiu a existência de quatro poderes.
6. (UFJF – MG) Leia os trechos abaixo:
As teias envolvem a compreensão de um processo global, entrelaçando a História do Brasil e das demais partes do mundo. Nesse sentido, as teias reconhecem processos históricos que podem ser vistos de forma circunscrita e outros de forma articulada.
Teias da História Geral e do Brasil remete à construção do conhecimento histórico em conexão com o próprio tempo do estudante, o presente, e os períodos passados em um ato de tecer uma compreensão em que a pessoa se identifique como sujeito da História.
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