Hashtag Cinema Edição 04 Março 2014

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Edição 04 - Ano 02 - Março 2014


e t n e i d e Exp Editor Chefe Leonardo Resende Diretor de Arte Leonardo Resende Diagramação Leonardo Resende Apoio Rafiza Varão Sub-Editora Natália Roncador Ilustrador Gustavo Jácome Diretora de Redação Natália Roncador Editora Executiva Maísa Medeiros Diretor de Comunicação Mônica Wesley Maísa Medeiros

Redatores Brenda Knusten Carol Plima Felipe Moraes Guilherme Hiroki Gustavo Moreno Jéssica Eufrásio Kamila Braga Leonardo Resende Laura Torelli Marcelo Castro Silva Mariana de Ávila



Carta Ao Leitor er que Bem-vindo Leitor! É com grande praz 14 com um a Hashtag Cinema inicia o ano de 20 de criação, novo layout. E junto com essa inovação sobre o mera revista conta com a matéria principal máxima em cado de Hollywood tem que a aposta trashes, mas filmes que, antes eram considerados o científica. hoje tem o investimento pesado, a ficçã conta A quarta edição da revista também r que teve com a entrevista de Filipi Silveira, ato rista e relaseu filme exibido em Cannes, O Flo seção Cineta à revista como foi sua jornada. A cunho mais matografia mostra dois filmes com o ora é Para depressivo, são eles Submarine e Ag e participaSempre. Hashtag Cinema também tev O Segundo ção em um festival de cinema local, a em 2012, Curta Brasília, mostra de curta iniciad ano passateve sua segunda edição no final do m resenhas do. E para finalizar, a revista conta co oras, além de filmes recém-lançados na locad linda crônidas resenhas temos também uma a Bêbada” ca chamada “Passos de Uma Bailarin

Le o n a rd o Rese n d e Ed ito r-C h efe



S u m å ri o C in e m ato g rafia Ag o ra É p a ra S e m p re

H a s hta g Pe rso n a

S u b m a ri n e

O p r i m e i ro o m u r o s s a p a o est re lato


H a s hta g Re co m e n d a

A Viag em de Chri ro

S a ib a C in e m a

A z u l é Co r M a is Q u e nte

Ro g e r Co r m a n eo

Co ra çã o d e H o lly wo o d

O ci ne m a m o rto – e ress ur reto


C a pa

Ovnis em Hollywood


Hashtag Dvds e Blu-Rays

La n ça m e ntos d e J a n e iro e Feve re iro

C rô n ica Pa ssos d e b a ila ri n a b êba da

Has hta g Festiva is Se gu nd o Fest iva l Cu rta Bras í lia


# “

Quando eu crescer, ainda quero ser um diretor

Steven Spielberg


Cinematografia

Agora É para Sempre Por Kamila Braga

T

esse é uma jovem que so-

tendo sonhos com o futuro, o que ela Confesso que no começo do filme ima- mais realista ou fictício, sempre nos

fre de Leucemia, às vezes

gostaria que fosse ao decorrer do tempo. ginei que não seria bem o que eu gos- passará uma mensagem que muitas ve-

passa mal, desmaia etc. Ela

Assim, o filme deixa uma lição de taria, porque achei meio “adolescen- zes nos toca profundamente, seja por

tem uma amiga meio malu-

moral, que devemos correr atrás dos te demais”, pensei que o trailer que vi nos identificarmos com ele, gostar da

quinha que a incentiva a fazer todas

nossos sonhos ou objetivos, mesmo antes tivesse apenas me iludido, porém história ou ter a oportunidade de viver

as coisas que gostaria antes de mor-

sendo saudáveis. Que vivamos inten- continuei, e ao longo do filme coisas aquele lado que não temos fora dos so-

rer, o que a deixa feliz e realizada.

samente a vida, valorizando- a sem- me chamaram a atenção, além da his- nhos. Afinal, filme bom é aquele em que

No decorrer do filme ela se

pre, pois muitos não tem nem a opor- tória que é super bonita, as imagens, podemos entrar na história e sentirmos

apaixona por um rapaz chamado

tunidade de aproveitar um pouco. as cores, a qualidade delas e os lugares aquilo que os personagens sentem.

Adam ao qual ajuda ela a realizar vá-

A

rios sonhos que ela gostaria de viver.

Eles se divertem e ela consegue viver

bastante para nos sentirmos mais con- descanso. Tudo estava em harmonia.

um lado mágico da vida, feliz com

fortáveis ou até mesmo “apaixonados” Teve até momentos em que coloquei principal Dakota Fanning (Tesse),

momentos que à fazem esquecer da

pelas cenas. Seja na qualidade, como nas o pause no filme só para observar Jeremy Irvine (Adam) par român-

doença e do fato de que logo irá partir.

cores alegres ou em perfeito contraste aquela fotografia, imaginando estar lá. tico, Paddy Considine (pai de Tes-

No fim, quando ela está adoe-

com o ambiente dos momentos. Luga- Em geral, a Fotografia nos traz se), entre outros. O gênero do filme

cendo, a beira da morte, vai deixando a

res onde as gravações são feitas tam- lembranças do passado e nos pro- é ‘drama’ e a origem é o Reino unido.

imensa saudade nas pessoas q passaram

bém fazem diferença aos nossos olhos, porciona

por sua vida e que se apegaram, sendo

a beleza ou profundidade dos locais faz no presente e saudade no futuro.

difícil despedir. Enquanto morre vai

com que mergulhemos dentro do filme. Quando assistimos a um filme seja ele

influência

da

Fotografia que gravaram pra mim trouxeram uma

A imagem do filme influencia imensa paz, sensação de liberdade e de Dados: O filme Agora e Para Sem-

momentos

especiais

pre é do direto Ol Parker com a atriz



“Quando assistimos a

um filme seja ele mais realista ou fictício, sempre nos passará uma mensagem que muitas vezes nos toca profundamente”


Submarine O

Por Carol Plima filme Subarine do diretor Ri- tidade pessoal que não acaba nunca. chard Ayoade, conta a histó-

toque de magia e romantismo também

Apesar de o filme ter sido lan- vem com a intenção de colocar o te-

ria de Oliver Tate, um garoto çado no ano de 2011, um dos detalhes lespectador na mesma melâncolia que que tenta passer por várias que o torna encantador, é a inesquecí- Oliver Tate. Contudo vale resaltar que

situações complicadas para a sua ida- vel textura granulada que nos remete

para te afundar mais em tal melancolia

de, como a primeira namorada, que aos anos 90. O diretor do filme, tam-

o diretor do filme também conta um

no filme é um personagem, conhecido bém ultiliza do recurso de cores fortes uma trilha sonorassuper exclusiva incomo Jordana, que uma garota nada porém em tons frios durante todo fil-

terpretadasa por Alex Tunner (vocalista

convectional, também enfrenta a pos- me, trazendo uma fotografia crua e um da band Arctic Monkeys) que também sível separação de seus país e um con- cenário composto por praias desertas merece créditos pelo sucesso do filme. flito interno em busca de sua inden- e fogos de artifício que além de dar o


“O diretor do filme, também ultiliza do recurso de cores fortes porém em tons frios durante todo filme”


a n o s r e P g a t Hash

O p r i m e i ro o m u r o s s a p a o est re lato Por Leonardo Resende e Jéssica Eufrásio As dificuldades enfrentadas no mercado cinematográfico brasileiro não são segredo para muita gente. Garantir a visibilidade no meio se tornou uma questão não apenas de esforço, mas de experiência. No entanto, o ator e cineasta Filipi Silveira provou que experiência, apesar de importante, não é um fator crucial. O sul-mato-grossense, que trabalhou como diretor pela primeira vez, concorreu no ano passado ao prêmio de Melhor Diretor no Court Métrage - Short Film Corner com o filme O

Florista. A mostra, que acontece paralelamente ao Festival de Cannes, visa incentivar novos talentos dos curtasmetragens e pode ser o primeiro passo dos participantes para eventos maiores. Na entrevista concedida à Hashtag Cinema, Filipi fala um pouco sobre a película, suas referências no ramo e sobre seus próximos passos na carreira.

Filipi Silveira: Cannes foi uma experiência extremamente construtiva. Recebi convites de exibição do meu filme em festivais no Brasil e exterior. Como profissional, me deu mais estímulo para seguir em frente e acreditar no meu trabalho. Muitos profissionais de fora gostaram bastante do meu filme e elogiaram o trabalho da produção. Em 2012 dirigi um curta, especialmente Hashtag Cinema: Como você caracte- para a internet, que se chama Curta Ser riza sua carreira depois de Cannes e Saudável; ele fala de forma construtiva de ser indicado ao primeiro turno do para crianças sobre a importância de Grande Prêmio do Cinema Brasileiro? uma alimentação saudável. Soube re-

centemente que vários professores exibiram o curta para seus alunos. Uma professora que trabalha nos Estados Unidos mostrou para a turma dela, o que é muito gratificante. Ser indicado ao Grande Prêmio do Cinema Brasileiro em meu primeiro trabalho como diretor, mesmo que no primeiro turno, é uma vitória, uma honra, a indicação de que estou no caminho certo e de que o trabalho comunicou. Como ator, espero que esses feedbacks positivos possam, inclusive, abrir mais o mercado e as possibilidades de captação de recur-


atográfico brasileiro Filipi conta que o mercado cinem ais caro. está mais fácil, mas cada vez m Foto: Hemerson Celtic

sos dos meus próximos projetos; espe- faz trabalhos autorais e belíssimos. ro também ter a oportunidade de atuar A TV, hoje em dia, tem flertado muicom profissionais que admiro no Brasil. to com a linguagem cinematográfica; o núcleo de Ricardo Waddington faz H.C.: Quais são os profissionais que isso de uma forma bem interessante. você admira e com quais gostaria de H.C.: Quantos filmes você ainda pretrabalhar? F.S.: Estou hipnotizado pelo traba- tende dirigir, produzir ou atuar? lho de diretores de Recife como Kle- F.S.: Tenho dois curtas que filmei em ber Mendonça Filho, Hilton Lacerda São Paulo e estão na pós-produção e e recentemente fiquei encantado com um longa que recentemente terminei o trabalho de Marcelo Lordello. Tam- o roteiro, o qual pretendo produzir no bém gostaria, claro, de trabalhar com Mato Grosso do Sul – o mesmo estado José Padilha, Heitor Dhalia, Marco onde filmei, e executei com ótimos parDutra e outros diretores instigan- ceiros profissionais, O Florista. Apesar tes. Também sou um grande admira- de um processo bem cheio, gosto de dor de Luiz Fernando Carvalho, que me envolver em todas as esferas cria-

tivas, principalmente como ator que, para mim, é a parte mais divertida. H.C.: Qual a influência de filmes que O Florista carrega? F.S.: O Florista é um curta que flerta com diversos gêneros como suspense, terror, noir... Também usei como referência, principalmente no primeiro ato, os animes que têm closes bem fechados em suas imagens. Apesar de trabalhar com a atmosfera violenta que é o dia deste serial killer, a ideia geral era fazer um filme bonito de se ver, realizando tudo de uma forma poética, usando poucos (mas eficientes) signos, que já comunicavam nos momentos certos

para surpreender e aterrorizar o público. H.C.: Você pretende dar uma continuação ao curta? F.S.: Muitos me perguntam isso. Sempre me dizem que o mundo tem muita praga para ser eliminada, mas um curta se tornar uma franquia seria algo diferente. Sinceramente nunca pensei nesta possibilidade, acho que poderia se tornar uma série, talvez.


Hashtag Recomenda

A Viagem de

Chihiro Por Guilherme Hiroki

O filme A Viagem de Chihi-

para o fantasiado. Os pais de Chihiro, verdadeiro, sua verdadeira identidade. cio, há uma analogia na qual vivenciam

ro de Hayao Miyazaki, criado em já no início do filme, são transforma-

Como serviçal, Sen torna-se com-

e nos fazem questionarmos se há uma

2001, demonstra um mundo diferen-

dos em porcos por terem se alimen- prometida com seu trabalho e faz

passagem ou se morreram ou ador-

te do “Real”. Foi premiado pelo Os-

tado da refeição dos convidados, os seu melhor. Desta forma é reco-

meceram ou uma força inexplicável

car de melhor animação em 2003.

Deuses. Considera-se que estão no

nhecida e recebe brindes dos clien-

que leva o físico no mundo espiritual.

A família de Chihiro estava de mundo espiritual, pois lá estão pre- tes

que

recebem

seus

serviços. Já no filme Meu vizinho Totoro ou-

mudança para outra cidade. Acompa-

sentes Deuses, espíritos e criaturas

nhada somente pelos pais acabam pas-

que fogem do nosso padrão normal.

ficam atentos ao filme percebem que

simbologia do real e o imaginado.

sando do caminho para a nova casa. O

Nesta dimensão há uma em-

no início a paisagem onde os pais de

pai, acreditando no seu senso de di- presa que faz a separação de atividades

Chihiro estacionam o carro está com

de Chiriro, Hayao Miyazaki, criado

reção, acaba tomando um atalho para entre os serviçais e atendem os clientes,

gramado baixo, aparentemente seria em 1988, podemos comparar tanto a

Entretanto, para aqueles que Tonari no Totoro

tem a mesma

Do mesmo criador da Viagem

chegar mais rápido. No meio do cami- os Deuses. Um lugar para descansarem primavera ou verão. Já no final, quando

fotografia como algumas cenas que as

nho encontram um muro de gesso com dos trabalhos pesados que vem realizan-

caracterizam da mesma linha de pen-

voltam para o mundo real, há folhas em

várias estátuas no caminho simbolizan-

do no mundo a fora. Cerca de 8 (oito) cima no carro que simboliza o outono, samento, mesmo que a diferença entre

do algo religioso. Aparentemente nor-

milhões de Deuses relaxam no local. maior quantidade de lodo nas pedras, o lançamento de um filme e outro tem

mal, pois seria considerado um templo.

Chihiro recebeu nome de sen.

gramado alto e o carro sujo. Curioso... 13 anos. Algo que fantasia a mente das

Entretanto, para que possa voltar ao

podemos considerar que os dois mun- crianças, mesmo em épocas difíceis.

Há um túnel na qual levaria

para uma passagem do mundo real

mundo real não deve esquecer o nome dos são paralelos. Já em questão do fictí-


“há

uma analogia na qual vivenciam e nos fazem questionarmos se há uma passagem ou se morreram ou adormeceram ”



Azu l é a Co r m a i s

e t n e qu

T

Por Marcelo Castro Silva ão bela quanto poética é a faça mais jus ao conteúdo da obra. tradução literal do título

E mesmo com toda a vistosa

Tanto que a contraparte de

Tal afirmação do primeiro pa- estética azul desmistificadora da sig- Adèle, Emma (Léa Seydoux), uma

da, então pouco conhecida, rágrafo se abaliza, sem demora, nos nificação do supracitado azul como mulher de cabelos azuis, de inevitáHQ Le Bleu est une Couleur primeiros momentos de Azul é a Cor simbolismo da tristeza que reveste esse vel força imagética, é uma estudante

Chaude (algo como Azul é a Cor Mais Mais Quente, onde é feita toda uma trabalho ganhador da Palma de Ouro de Belas Artes. E existe arte feia? PerQuente), roteirizada e desenhada pela analogia da nossa protagonista, Adè- em Cannes 2013, a narrativa é muito gunta em dado momento uma Adèle francesa Julie Maroh. Logo não é es-

le (Adèle Exarchopoulos), ao livro La mais sobre a vida da protagonista do recém-saída da adolescência. E nessas

tranho ser utilizado igualmente nos

Vie de Marianne ou Les Aventures de que um apanhado estritamente libi- singelas, mas pontuais situações, Azul

EUA e no Brasil, e também em outros

Madame La Comtesse de ***. Tal obra, dinoso, apesar de toda a propaganda é a Cor Mais Quente revela camadas

países, para intitular o filme dirigido inacabada, diga-se de passagem, escri- feita sobre as tórridas cenas de sexo. que lidam com amadurecimento, ripelo tunisiano Abdellatif Kechiche, de

ta no distante século XVIII, traz onze Tal como La Vie de Marianne, Azul tos de passagem. Não à toa o filosofo

Venus Negra (2010). Mas penso que o cartas relatando as desventuras amoro- é a Cor Mais Quente envolve a audi- Jean-Paul Sartre, defensor do existenoriginal francês escolhido para nomear sas e sexuais de uma jovem, prematura ência com o romance de contornos cialismo (a existência precede a esesse pungente trabalho cinematográfi- em beleza e libertinagem, numa so- desafiadores permeado sempre por sência), apareça em conversas para co, La Vie d´Adèle (A Vida de Adèle),

ciedade parisiense falsamente liberal. uma discussão sobre o valor da arte. exemplificar algum ponto de vista.


Embora possa parecer que Azul

palpáveis, a entrega de Adèle Exar-

é a Cor Mais Quente seja um trabalho

chopoulos e Léa Seydoux é imensa.

com apreço apenas pelo lado mais ce-

Sinceridade é encontrada nas compo-

rebral, existem diversas característi-

sições capazes de impressionar, cons-

cas de fácil identificação. Lá está às tranger e comover pelas verdades encedúvidas inerentes a adolescência, ora

nadas. E críticas a hipocrisia se fazem

pelo viés da sexualidade ora sobre o

de valentes alívios cômicos em Azul é

futuro profissional. O primeiro acaba

a Cor Mais Quente – o contraponto en-

ganhando mais destaque através das tre as cenas em que uma leva a outra frustrações de Adèle vividas em um re-

para conhecer a família: a de Emma

lacionamento hétero e posteriormente

liberal e a de Adèle conservadora. En-

com a entrada da misteriosa Emma.

quanto nas sequências de sexo, talvez

Ainda que possa parecer que Emma as mais acentuadas já captadas em seduza Adèle, o jogo é de mão dupla, um filme, Adèle e Emma se fundem ambas seduzem e se deixam seduzir. em uma urgente simbiose de corpos.

Por ser mais experiente, Emma

E o toque que propicia êxta-

conduz Adèle pelas descobertas. Seja se nunca é esquecido, tanto para reno tocante a confusão dos sentimen-

lembrar o prazer de outrora quanto

tos, aceitação da condição homo-a- para causar dor excruciante. Nessa fetiva e na evidente necessidade do da incessante procura por um sentitoque provocador de frisson. É uma

do, um norte, o sempre presente due-

jornada de envolvimento comum - o

lo entre razão versus paixão também

flerte, a idealização, o sexo vigoroso

dá seu necessário expediente em Azul

-, mas dotada de encantamento e não é a Cor Mais Quente. Num confronto ausente de possíveis desdobramen-

rígido, onde a altivez de uma e o avil-

tos melancólicos. Tais dilemas, mui-

tamento da outra são a tônica pre-

tos universais, que Azul é a Cor Mais

dominante. Não somente os perso-

Quente se alicerça com força, fazendo nagens saem com marcas indeléveis, das problemáticas da dupla princi- mas a audiência também, que nem pal um possível, e incômodo, reflexo.

Para fazer tais imprecisões,

inseguranças, hesitações e certezas

tão cedo irá esquecer Adèle e Emma.

“Por ser mais experiente, Emma conduz Adèle pelas descobertas. Seja no tocante a confusão dos sentimentos, aceitação da condição homo-afetiva e na evidente necessidade do toque provocador de frisson”


Saiba Cinema Roger Corman e o Coração de Hollywood

Por Gustavo Moreno

Q

uando falamos em “história

são de Hollywood na segunda metade hoje o simpático senhor de 87 anos

vez o cinema de estúdio e abraçar as

de Hollywood” que nomes

do século XX muito dificilmente se

que nasceu em Detroit e formou-se em

produções independentes. Corman é

costumam vir à nossa cabe-

tornariam o que se tornaram se não Engenharia em Stanford e exerceu a

uma figura folclórica do cinema, e de-

ça? Normalmente pensaría-

fosse uma única pessoa? Pois sim, foi

profissão por apenas 4 dias, até conse-

tém recorde de filmografia: Possui cer-

mos em Francis Ford Coppola, Martin

exatamente deste jeito que funcionou

guir um emprego como mensageiro na

ca de 400 produções na sua, trabalhan-

Scorsese, Robert De Niro, Jack Nichol- e essa pessoa surpreendentemente não

Fox e posteriormente ser promovido a do tanto como roteirista, tanto como

son, Vincent Price e muitos outros. De é um nome tão conhecido quanto os Analista de Roteiros e nesse cargo, ele diretor, tanto como produtor e por fato, esses nomes todos fazem parte e supracitados, ele é o homem com o

pegou um roteiro de uma produção da muitas vezes como todos esses juntos.

deram imensa contribuição para for-

“Inferno em seu inconsciente” como Fox onde fez algumas modificações no

mar a Hollywood que conhecemos

ele mesmo diz, ele é Roger Corman.

Corman nos créditos foi “The Monster

hoje, mas e se lhe disséssemos, preza-

texto que foram aceitas pelo estúdio,

O primeiro filme com o nome de

“Eu nunca tive oportunida-

porém quando o dito filme foi para as of Ocean Floor”, de 1954, um filme que

do leitor, que a maioria desses grandes

de de estudar cinema, meu trabalho

telas, o nome de Corman não estava foi bancado com dinheiro de parentes,

nomes que contribuíram para a ascen-

de estudante se passava nas telas”, diz nos créditos, isso o levou a largar de amigos e ex-colegas de trabalho da Fox.


A equipe contava basicamente com os

Nicholson virassem grandes amigos e

atores, que trabalharam de graça, al- Corman o convidasse para protagonigumas pessoas para segurar as câme- zar um filme. Sim, o primeiro filme da ras e Corman, que era o tudo-em-um: carreira de Jack Nicholson foi dirigido Roteirista, Produtor, Câmera, Diretor, por Roger Corman e era The Cry Baby Diretor de Arte, Contra-Regra enfim,

Killer, de 1958, daí por diante, Nichol-

era Roger Corman criando o conceito son trabalharia tendo Corman como de Cinema de Guerrilha, no filme, os

seu único contratante por 10 anos. Ao

personagens têm que lidar com uma

lado de Corman, Nicholson protago-

bizarra criatura marinha que ameaça

nizou diversos filmes de “Adolescente

suas vidas, esse tipo de plot envolven-

Rebelde” ao maior estilo James Dean,

do criaturas, pessoas desesperadas e

na época, Corman achava que os filmes

mortes, muitas mortes se tornaria mar- de adolescentes rebeldes possuíam deca registrada na carreira de Corman.

manda e era um filão pouco explora-

do, e neste caso, deveria ser ele a puxar

Obviamente será impossível

detalhar nesta matéria todas as produ- alguma corrente do gênero. O sucesso ções da carreira de Corman e as curio-

de filmes como Teenage Doll e Rock

sidades em torno de todas elas, então

All Night nas matinês, provaram que

vamos nos ater às mais relevantes. De Corman estava certo em sua dedução, 1954 a 1958, Corman trabalhou duro

pois os filmes possuíam aquele efeito

em produções que não se preocupa- catártico de transgressão que no funvam em ser visualmente atraentes ou do fluía nas veias de todo adolescente coerentes em seu texto, como A Mu- do fim dos anos 50 (e até do próprio lher Apache (1955), Ataque dos Caran- Corman que chegou a servir na Mariguejos Gigantes (1957) e muitas outras, nha, e acumulava deméritos de tanto ele chegou a fazer 50 filmes só no ano quebrar regras, coisas que os jovens de 1957, um feito simplesmente inacre- de seus filmes faziam frequentemenditável e que torna a carreira de Cor- te) que ansiava por ser visto e ouvido. man ainda mais surpreendente, prin-

Chega o ano de 1960 e conhe-

cipalmente se levarmos em conta os

cemos aqui um dos feitos mais bizar-

poucos recursos de que ele dispunha.

ramente inacreditáveis de Roger Cor-

man: Nesse ano Corman levava cada

Um belo dia ele decidiu que

precisava ter conhecimentos técnicos vez mais alto sua obsessão em otimizar em atuação, e foi num curso de atu- o tempo de produção de um filme e ação em 1958 que ele conheceu um

aperfeiçoar seu método de gravar mais

jovem chamado Jack Nicholson, não películas em menos tempo, ao filmar “A demorando muito para que Corman e

Pequena Loja dos Horrores”, Corman


“Em

1962, Corman e seu irmão Gene estavam preocupados com o rumo que o país estava tomando naquela época”

eleva tal obsessão a um outro patamar,

um dos maiores nomes do terror no

pois A Pequena Loja dos Horrores foi cinema, fazendo sempre papéis sotur-

pessoas diferentes devido às ocupações

branca nos EUA, que chegaram a acu-

de Corman em outras produções, esse sar Corman e seu irmão de Comunis-

filmado em nada menos que 2 dias de nos, sérios e por vezes carregados de mesmo filme chegou a ser dirigido por ta, quando na verdade Corman queria árduo trabalho, e também dois jovens e

ironia. Se nos seus filmes B anteriores nomes como o jovem Francis Ford mostrar que aquele não era o American

desengonçados Jack Nicholson e Jona-

para a American International Pictures Coppola, um certo Monte Hellmann

Way of Life, era uma distorção grossei-

than Haze na icônica cena da cadeira de víamos tomadas apressadas, efeitos es-

e até o próprio Jack Nicholson chegou

ra deste conceito, e por conta disto o

dentista, na época era um feito inédito

peciais parcos e atuações secundárias

a dirigir algumas tomadas e o final foi

filme foi um completo fracasso de bi-

e impressionante ainda pros dias atuais,

bem ruins, nas adaptações de Allan dirigido por Corman que levou o cré-

lheteria. Gene Corman declara: “Foi o

era Corman moldando com o tempo o

Poe, víamos todo o perfeccionismo de

único filme com o qual não ganhamos

Método Corman de produzir filmes,

Corman sendo extravasado: O cuida- o filme antes dele não reclamou, todos um único centavo, mas ao mesmo tem-

sem se preocupar em alugar locações,

do com o roteiro, com a fotografia, a

adoravam trabalhar com Corman.

com a verossimilhança dos efeitos es-

maneira que as tomadas são conduzi-

dito sozinho pela direção, quem dirigiu

po, foi o melhor filme que já fizemos”.

Em 1962, Corman e seu irmão

Depois das adaptações de Allan

peciais ou com furos de roteiro...acima das e conectadas, o clima soturno dos

Gene estavam preocupados com o Poe, Corman decidiu retornar às pro-

de tudo, Corman passava mensagens

cenários e da história em si, além de

rumo que o país estava tomando na-

e ainda mais acima, se divertia muito!

atuações marcantes formavam o gros-

quela época. No auge das guerras de “The Wild Angels”, de 1966, um fil-

so da passagem de Corman neste seg- integração e da segregação racial nos me sobre a gangue estadunidense de

Então, Corman chegou a um

ponto de sua carreira em que se con-

mento que fez Hollywood considerar EUA, Corman e seu irmão resolveram

duções comerciais, logo com o filme

motoqueiros Hell’s Angels, onde teve

siderava já um artista, alguém com obras como O Corvo, Mansão do Ter-

produzir um filme onde pudessem se como assistente de filmagem um ra-

domínio pleno da arte cinematográ- ror, A Máscara da Morte e O Túmulo

expressar acerca da questão, então nos

paz chamado Peter Bogdanovich e teve

fica, eis que então à partir de 1960 ele Sinistro verdadeiras obras de arte do

mesmo ano é lançado o filme The In-

como protagonista um jovem Peter

começa a investir em adaptações cine- gênero Terror e ainda são considera-

truder, protagonizado por um tal de

Fonda que graças a esse filme foi im-

matográficas de contos de Edgar Allan das como tais, mais marcadas ainda

William Shatner que interpretava um

pulsionado rumo ao estrelato graças

Poe. De uma vez Corman obteve rotei-

pela presença efusivamente carismá-

jovem racista que ia para o sul inflamar

ao sucesso de bilheteria da película,

ros para 6 adaptações, que filmaria até tica de Vincent Price nas películas. O

a população local contra os negros da

inclusive “The Wild Angels” foi a refe-

1964, todas numa parceria insuperável filme O Terror no Castelo, dentre essas

cidade. Com um final surpreendente, o

rência máxima para o filme Easy Rider,

com o grande Vincent Price que gra-

adaptações merece uma atenção espe-

filme incomodou as plateias segregacio-

de 1968, o aclamado clássico bebeu de

ças a esses filmes se consolidaria como cial por ter sido dirigido por diversas

nistas que eram a maioria dentre a elite

muitos elementos da obra de Corman,


e tinha atores que trabalharam com

man abriria uma produtora própria

ma que não seriam o que são se não

Corman, Nicholson e Dennis Hopper,

de filmes que financiaria produções

fosse o senhor Roger Corman sabem

que estrelou The Trip de 1967, um fil-

e faria suas próprias também, a New

da sua importância para o cinema e a

me que abordava o uso de LSD. Easy

World, com a qual produziu cente- reconhecem merecidamente, no fim

Rider é considerado o começo da nova nas de filmes incluindo uma adapta- das contas, reconhecimento é algo Hollywood, portanto, é quase impos-

ção do Quarteto Fantástico em 1994.

sível imaginar a nova Hollywood ter

que surge com o tempo inevitavel-

É interessante notar que boa

mente, mas Corman possuía o Mere-

tido sua gênese sem Roger Corman.

parte das pessoas que trabalharam com

cimento desse reconhecimento des-

Corman, como Jack Nicholson, Martin

de que entrou para o Cinema de vez.

Roger Corman era o tipo de

homem que estava sempre atento ao

Scorsese, Francis Ford Coppola, Den-

Tardiamente em 2010, Corman

que ocorria no mundo, às mudanças de nis Hopper e outros, tornaram-se estre-

finalmente recebia o reconhecimen-

eras, de contextos, de pensamento, às

las consagradas, evoluíram, enquanto

to máximo ao ganhar da Academia

quebras de paradigma, ele sempre pro-

Corman foi o único a não dar o mes-

o Oscar Honorário de Conjunto da

curava incorporar isso em suas pelícu-

mo passo que eles. Todos se formaram

Obra e Imensa Contribuição ao Cine-

las de alguma forma e mesmo onde es-

na chamada Universidade Corman, e ma e ainda assim Corman continua aí,

ses elementos críticos e ilustradores de o único a não se formar nesta univer-

com 87 anos, produzindo seus filmes

uma geração estão extremamente sutis, sidade foi o próprio Roger Corman. B, com a educação, a calma e a poliexiste uma influência enorme, Corman

Roger Corman é um exemplo clássico dez de um lorde britânico que não liga

falava em seus filmes de drogas, músi- de amor por fazer cinema, ele não o faz

para reconhecimentos, não liga se ti-

cas, política, comportamento, cultura

pelo reconhecimento, pelo estrelato ou

ver que fugir da polícia por filmar em

enfim, se existem diretores ecléticos,

pelos gordos cachês, ele faz pelo amor à locações não autorizadas e não liga se

podemos dizer que poucos foram real-

sétima arte e pelo desejo de sempre ten-

mente tão ecléticos quanto Roger Cor-

tar algo novo sem ninguém para lhe di- para produzir mais sangue artificial.

man que era capaz de ir ao Terror B à

zer como se deve fazer, Corman é acima

Crítica Social num estalar de dedos, ou

de tudo, um espírito livre no cinema. para expressar suas ideias na tela sem

melhor, num bater de uma claquete.

Durante décadas Corman foi

tiver que desembolsar mais 20 dólares

O esforço contínuo de Corman

se importar em ser uma sombra obscu-

Em 1972, Corman produziu e considerado sempre um diretor de es- ra que paira sobre Hollywood sem ser,

escreveu o roteiro para o filme Sexy &

tética pobre e limitado devido à quan- injustamente, vista por aqueles que não

Marginal, e para dirigi-lo ele contratou

tidade de Filmes B de horror e ficção

o jovem e talentoso Martin Scorsese,

científica que produziu em escala tem o nome e a alma de Roger Corman

sabem que o local onde eles estão agora

que imediatamente viu os Storybo- maior ainda no fim dos anos 70 e anos em mais cantos onde podemos imaginar. ards elaborados por Corman, jogou 80, filmes com monstros bizarros, ro-

Para

saber

mais,

assis-

todos fora e fez as coisas a seu modo, bôs assassinos e todo tipo de fantasia ta o documentário Corman’s World mas ainda assim sobre a rasteira e vi-

que só uma mente extremamente fér-

gilante produção de Roger Corman

til pode conceber, mas aqueles que o

que não deixa que o filme seja lançado

conhecem de perto, seus fãs e acima

sem sua marca, posteriormente Cor-

de tudo as grandes figuras do Cine-

– Exploits of a Hollywood Rebel.


O cinema morto – e ressurreto Por Felipe Moraes

O

utro dia topei com uma de-

tras produções bem menos incensadas

finição curiosa – mas mui- de 2013 que, cada uma à sua maneira,

plataformas de video on demand. Quer ce, assistem a um péssimo comercial dizer: não seria absurdo pensar que boa

de um celular da Panasonic, enquanto

to precisa sobre a maneira refletem e repercutem o que Hughes parte do público norte-americano (e

discutem o próximo job. O movimen-

como escolhemos e/ou so-

problematiza – a maneira como vemos

brasileiro, ora) viu os novos trabalhos

to, aqui, é o oposto daquele de Monte

mos forçados (via torrents e serviços

os filmes, sozinhos, em experiências

de dois grandes cineastas numa tela Hellman em Caminho para o nada,

sob demanda) a ver filmes hoje. O crí-

solitárias e absolutamente voyeurísti- pequena – no máximo média, numa em que a câmera invade a tela de um

tico Darren Hughes, num texto par-

cas, e os destinos domésticos, pesso-

generosa tevê de LED, por exemplo.

notebook frontalmente assim que um

ticular (e sabiamente) pouco efusivo

ais e customizáveis de obras dester-

Não à toa, o primeiro plano de

filme-dentro-do-filme (o que veremos

com Azul é a cor mais quente, disse radas de seu solo (a sala de cinema). Passion é um travelling na direção de

pelos próximos 120 minutos) se inicia.

que este é um título feito para ser vis- Passion, de Brian De Palma, um MacBook com a tampa aberta, vi-

De Palma não é saudosista.

to no iPad, tal é a quantidade de clo-

e The Canyons, de Paul Schrader, não rada para nós, espectadores. Atrás dele,

Tanto que Passion, um thriller metade

se-ups em altíssima definição vista

passaram no circuito comercial bra-

as duas personagens principais, publi-

metafilme, metade whodunit (tal qual

no atual detentor da Palma de Ouro. sileiro. Lá fora, além da distribuição

citárias, amantes e futuras rivais vividas

Caminho), utiliza-se o tempo inteiro

convencional, foram replicados em por Rachel MacAdams e Noomi Rapa-

de imagens (no sentido menos cinema-

Trago essa provocação para ou-


tográfico e mais utilitário possível, o de obra, tal qual naquele plano de Holy dualmente transforma seu Passion footage) extraídas de celulares, câmeras

motors (outro meio thriller, meio me-

num thriller, Canyons também entre-

de segurança e toda sorte monitores. Se

tafilme) em que Leos Carax descasca

ga-se a atos de violência ao se aproxi-

existe uma outra tela no set, De Palma

o papel de parede de motivos flores-

mar do clímax. Christian (Deen), um

faz questão de fetichizá-la, talvez não tais de seu quarto de hotel, entra numa riquinho que eventualmente produz a fim de criticá-la, mas para, pelo con-

passagem secreta e se vê diante de uma coisas em Hollywood, anda enciu-

trário, embebê-la de sentido e aura.

plateia de cinema adormecida, inca-

mado da relação de sua mulher, Tara

paz de reagir ao que se passa na tela.

(Lindsay), com o futuro protagonista

Numa esfera ainda mais urgen-

te de discussão – sobre como o cinema

Schrader fez um produto bara- de seu próximo projeto. Ao mesmo

é feito --, Canyons se apresenta como to (de míseros 250 mil dólares) e tosco

tempo, ele força sua mulher a transar

um típico filme doente, definição de porque a indústria não lhe dá moral

com homens e mulheres e registra as

Truffaut para os títulos subestimados, nem dinheiro para, digamos, rodar algo perversões pela câmera de um celular. falhos, esquecíveis se comparados às próximo do que os autores-dinossauros

obras-primas, anomalias que expõem da indústria (Spielberg, Scorsese) fa-

fornica com estranhos, há um filme

seus autores de forma crua e sincera. zem: obras de relevo comercial e artís-

sendo feito, ainda a ser rodado e lan-

tico, mas que não podem correr tantos

çado -- mas o roteiro de Bret Easton

New York Times publicada em ja- riscos ou ser tão melancólicos e francos

Ellis mal toca no assunto. Na cidade

neiro sobre o comportamento ins-

dos sonhos, os cinemas estão em sho-

A famosa matéria do The

quanto o autodepreciativo Canyons.

tável de Lindsay Lohan no set cer-

Em alguns dos planos iniciais

Enquanto Tara faz compras e

ppings – mais importa ter nas ruas

tamente passou a impressão errada

do filme, os personagens são enqua- hotéis e restaurantes caros. Quem

sobre as intenções de Schrader.

drados de frente, quase que falando di-

faz cinema pouco se importa com ci-

Não se trata de um pornô softcore ou retamente para a câmera, ou de cabeça nema – ele apenas é executado e gade um exploitation que se utiliza de baixa, com o plano de visão restrito ao

nha-se (ou não) dinheiro com isso.

um ator da indústria pornô (James celular. Há cenas com iluminação es- Canyons arrecadou um quarDeen) e de uma estrela caída (Lindsay) tourada e sequências que, visivelmente,

to do que custou não por culpa da má

para comentar o vazio de Hollywood.

usam suas locações (hotel, restaurante) vontade e/ou incapacidade de Lind-

ao máximo. O desleixe proposital de

As cenas iniciais e finais de

say em ajudar na divulgação ou por

Canyons parecem saídas do Instagram Schrader, que às vezes recusa o contra- sua apedrejada atuação. Nada mais de um cineasta bastante deprimido:

plano e coloca o espectador na posição

justo que um filme tão abrasivo sobre

fotos de cinemas de rua decadentes, incômoda de interlocutor, serve como

o fracasso do cinema ter sido ele pró-

fechados, às moscas, de bilheterias correspondente para as próprias mo- prio... um fracasso, uma aberração desabandonadas e fachadas irreconhecí-

tivações dos personagens – todos eles concertante – e, por isso, necessária.

veis. O cinema, sabe-se, é uma arte co- envolvidos na produção de um filme

O cinema – esteja ele em crise ou

letiva de apreciação solitária, mas tal-

em Los Angeles, mas que conversam

não, brutalizado ou não, embur-

vez não haja isolamento maior, este já entre si desinteressados uns nos ou-

recido ou não, ameaçado ou não

escancarado sempre nos créditos, que

-- precisa de filmes assim: doentes.

tros e vidrados em seus smartphones.

a de um diretor encerrado na própria

Bem como De Palma, que gra-

“o p um MacB ta, v


primeiro plano de Passion é travelling na direção de um Book com a tampa abervirada para nós, espectadores.”


Ovnis hollyw


s em wood

Por Leonardo Resende


Ovnis em re p re s e n t a m do cinema

H o l ly w o o d “ n o v a ” fa s e americano

Depois da megaproduçãoAvatar, investimento em ficção-científica aumenta a cada ano O ano é 2009, James Cameron lança o super aguardado Avatar, filme que restaura o gênero de ficção científica em Hollywood. Após seu lançamento, produtores e diretores colocam suas apostas no mesmo âmbito, como Ridley Scott com Prometheus, Christopher Nolan com o ainda inédito Interstella, além de vários outros diretores. Depois de assistir a alguns filmes lançados recentemente, a conclusão foi de que, da noite para o dia, Hollywood colocou as invasões alienígenas, ou nossa inserção no ambiente extraterreno, como pauta principal na realização de longas-metragens. Aqui analisamos um pouco esse processo, que ganhou destaque na década de 50, com o caso Roswell.

O Caso Roswell e a influência dos céus

Um dos primeiros acontecimentos mais conhecidos sobre ufologia começa com o polêmico Caso Roswell. A descoberta foi enorme e cheia de frisson, até os militares assumirem o caso e criarem a famosa Área 51. Para a década de 50, a ficção-científica surgia como gênero B, assim como o terror. Como uma das maiores fábricas de comunicação interativa do

mundo, Hollywood assume essa suposta fantasia deixada pelos militares.

O m e r c a d o atu a l d e Ho l l y w o o d : a f i c ç ã o

Ridley Scott renovou o gênero com Alien – O Oitavo Passageiro, em 1979; o gênero terror se estabelecia e Scott encontra em Alien, um mercado rico em fantasias. Com o filme, Scott une as filmagens no estilo Stanley Kubrick e cria um dos filmes mais assustadores sobre seres de outros planetas. Até mesmo o slogan era desafiador: “No espaço, ninguém vai ouvir você gritar”. O que deixava o público dos anos 80 fascinado pela ficção era a possibilidade fantasiosa do ser humano explorar outros mundos, como em Star Trek e Star Wars. As premissas são as mesmas, mas a narrativa e a tecnologia deixa o mercado mais propício para novas experiências como o fantástico filme Gravidade, de Alfonso Cuáron, que resume a história da ficção americana em 90 minutos de projeção. Além da tecnologia estabelecida (algo que fez George Lucas reinvestir na franquia Star Wars), Hollywood traz consigo premissas polêmicas, com hipóteses parecidas como as vistas no documentário Eram os Deuses Astro-

nautas? Prometheus é um ponto de referência e também a repaginação do queridão da pátria americana: Superman. Esse quê de possibilidade cientológica (hipótese de que o planeta Terra foi criado por seres mais evoluídos) é o que faz o mercado atual se sustentar.

Paul Thomas Anderson e sua melhor paródia

Espectadores e fãs do diretor Paul Thomas Anderson, que antes preferiam assistir filmes com roteiros mirabolantes como Magnólia e Boogie Nights, agora são obrigados a ver aqueles que contam os feitos politícos da América, como acontece em Sangue Negro. Seu último trabalho faz uma paródia da cientologia hollywoodiana. No filme O Mestre, Phillip Seymour Hoffman é presidente de uma igreja embasada na crença e acredita ter poderes cientológicos para curar um ser alienado (Joaquim Phoenix). A ironia do filme está na maneira como o personagem de Phillip trata Phoenix, dando a entender que o espectador é quem precisa de um tratamento mais erudito para acreditar em um ser superior.

Gênero B FIlmes com Baixo Orçamento


Steven Speilberg: aquele que “viu” os ETs

Se for para separar os filmes de Steven sobre aliens, é de praxe analisar que o diretor desenvolveu personalidades para os seres. Em ET: O Extraterrestre, por exemplo, o cineasta cria um perfil de alguém mais curioso e infantilizado. Já em Contatos Imediatos de Terceiro Grau, Speilberg mostra outro lado, algo mais pacífico e diplomático, de seres que querem aprender sobre a cultura humana, nada muito sombrio. Por fim, no filme Guerra dos Mundos, Steven mostra uma característica hostil e dominadora, onde seres de outros mundos podem ser tão perversos ou pacíficos quanto os humanos. A criatividade do diretor neste assunto facilita a construção de uma ponte de possiblidades, na qual tais espécies são tão iguais aos terráqueos.


O cinema depois de Avatar Depois do longa, o mercado de Hollywood ficou marcado pelas influências tecnológicas criadas por James Cameron. Até agora, o ano de 2014 segue na mesma linha com filmes como: No Limite do Amanhã, de Doug Liman (Vamos Nessa e Jumper), e Guardiões da Galáxia, que se juntam aos resquícios de 2013 Oblivion, Thor – Mundo Sombrio, Jogo do Exterminador e O Homem de Aço.


Hashtag Festivais

Festival Curta Brasí lia traz panorama atual do curta-metragem brasileiro ao Cine Brasí lia

E ceses,

m sua segunda edição,

produções nacionais e estrangeiras,

local e nacional, o festival traz ainda radiografia da produção brasiliense no

o festival reúne o me-

totalizando cerca de 15 horas de pro-

sete mostras paralelas, oficinas, de- contexto do Festival de Cinema de Bra-

lhor da produção brasi-

gramação. A expectativa da organiza-

liense e nacional, além

ção é de que 5 mil pessoas circulem

de uma mostra interna-

pelo Cine Brasília durante os quatro

cional de curtas fran-

dias de festival: “A primeira edição tas franceses inéditos na capital, em filmes reunidos em tornos de temáti-

com

entrada

bate com os realizadores, e apresen- sília, de 1975 a 2012”, destaca a autora. tações de artistas da cidade no palco montado no hall do cinema. Já a

Janelas

para

o

mundo

A programação do Curta Brasí-

programação internacional traz cur- lia inclui ainda mostras paralelas, com

franca.

foi um sucesso, ficamos felizes com a parceria com a Embaixada da Fran- cas comuns. Dentre as novidades deste

Único festival brasiliense de-

participação do público e dos artistas. ça, Institut Français e Cine France. ano, destacam-se a Sessão Urbanida-

dicado inteiramente ao formato de Neste ano vamos ampliar para uma dicurta-metragem, o Festival Curta Bra- mensão internacional, gerando maior sília, que acontece de 28 de novembro

intercâmbio de linguagens, sotaques

a 1º de dezembro de 2013, amplia suas e oportunidades”, afirma Ana Arrufronteiras nesta segunda edição e exibe mais de 70 curtas-metragens, entre

Haverá também o lançamento des (29/11), cujosfilmes trazem os de-

do livro “Brasília 5.2 - Cinema e Me- safios das grandes cidades modernas, mória”, da pesquisadora de cinema bra-

como mobilidade, segurança e quali-

sileiro Berê Bahia. O lançamento será dade de vida; o cinema de animação dia 30 de novembro, às 16h, no Cine

ganha um espaço exclusivo de exibição

da, coordenadora-geral do festival. Brasília. “Para o festival serão distribu Além da mostra competitiva ídos 200 exemplares livro, que faz uma

na Sessão Anima (30/11), com curtas que apresentam grande diversidade


estética e de técnicas de animação; a

vem entrar em contato com a produ-

música terá espaço no festival com a

ção para realizar um agendamento (via

Sessão Especial de Videoclipes produ-

curtabrasilia@gmail.com).

zidos em Brasília(1/12), dando espaço

à produção artística de videoclipes e à

este ano o Festival premiará um fil-

cena musical independente da cidade.

me da categoria com o Prêmio Di-

A Sessão Provocações, que

reitos da Infância, oferecido pelo

será exibida no Dia Mundial da Luta

Instituto Sabin e pelo UNICEF. Já a

Contra a Aids (01/12), traz filmes que

Embaixada da França entra com uma

abordam a sexualidade e a intimidade

premiação que levará um represen-

dos personagens, e que preservou seu

tante do filme contemplado para a

espaço na edição deste ano devido ao

França, promovendo um intercâmbio

sucesso na primeira edição do festival.

cultural enriquecedor.

Para garantir a presença das crianças

Além disso, as duas mostras competiti-

e adolescentes na Sessão Calanguinho

vas premiarão o melhor curta de Brasília

(29/11) e na Sessão Isso Tudo Passa

e o melhor curta nacional com R$ 5 mil

(29/11), o Curta Brasília realizou uma

reais cada – ambos decididos pelo Júri

parceria com a Secretaria de Desen-

Popular. Estes prêmios serão ofereci-

volvimento Social e Transferência de

dos pelo Shopping Conjunto Nacional.

Renda (Sedest) e Secretaria de Educação do GDF, que irá levar estudantes da rede pública de ensino e participantes de programas sociais para as sessões. Outras escolas e instituições interessadas de-

Ainda no quesito infantil,

or p to Fo

du o Pr k lic c : In

es õ ç

g o t o eF

a fi a r


Premiações Prêmio ABD Nacional Pouco Mais de um Mês

André Novais

Troféu Brazucah Produções O Homem planta

Pedro Severian e Willam Paiva

Prêmio Melhor Curta Brasil Acalanto

Arthuro Saboia

Prêmio Oficial Melhor Curta Brasília E Quem é o Pai?

Daniela Diniz e Luana Miguel

Prêmio Direitos da Infância Meu Amigo Nietzsche

Troféu Cine França Brasil Os Sobreviventes

Faúston da Silva

Daniel Nolasco e Marcella Coppo

Prêmio Melhor Videoclipe do DF

Móveis Coloniais de Acaju

Troféu UCDF Meu Amigo Nietzsche

Faúston da Silva Troféu ABCV Meu Amigo Nietzsche

Fáuston da Silva Troféu Cine Memória E Quem é o Pai?

Daniela Diniz e Luana Miguel

Troféu Cine B Rota de Fuga

Bruno Bralfperr


Hashtag Dvds e Blu-Rays Círculo de Fogo

N

uma primeira espiada, Círculo de Fogo pode até lembrar um bocado a maquinaria de Transformers. Essa impressão, no entanto, diminui quase 100% quando o filme termina (ainda bem!). A história é simples. Em um futuro não muito distante, monstros gigantes, conhecidos como Kaijus, surgem de uma fenda no fundo do Oceano Pacífico e causam mortes e destruição. Para detê-los, os humanos criam robôs gigantes, os Jaegers; contudo, depois de um tempo, os gigantescos robôs não são suficientes para conter os monstros. A esperança para acabar de vez com os Kaijus está em no Jaeger chamado Gipsy Danger. A partir disso, os confrontos entre ficam ainda mais empolgantes. Para que um Jaeger realmente entre em ação, é preciso que dois pilotos comandem a enorme máquina. E um dos grandes desafios é que os dois precisam estabelecer uma conexão forte e firme. Os dois conseguem entrar na mente um dos outro e podem ter acesso às memórias. A principal dupla de pilotos de Círculo de Fogo, Ralei-

gh Becket (Charlie Hunnam) e Mako Mori (Rinko Kikushi), é quem, evidentemente, comandará o tal Gipsy, a grande esperança pra destruir os kaijus e, por meio de um plano, impedir que eles continuem invadindo à Terra. É por meio da conexão que Raleigh conhece um pouco mais da história de Mako. Em um determinado momento do filme, ele se vê dentro da memória da parceira e entende o porquê dela querer tanto pilotar um Jaeger. Fã de animes, o diretor Guilherme Del Toro optou por criar robôs com designs específicos. Um fato bacana é que foram criados vários modelos de Jaegers. Para citar exemplos: há russo, o chinês e, claro, o Gipsy. Todos eles são enormes, pesados e envolvem vários comandos O filme é “ão”. Grandes lutas, batalhas, monstros, cenários, efeitos especiais, pirotecnia. Ufa! Toda essa grandiosidade e a simples premissa não desmerecem o filme. É, certamente, um dos blockbusters de 2013 mais empolgantes de se assistir. Ah, tem uma pequena cena depois dos créditos.


Meu Malvado Favorito 2

L

ançado pela Illumination Entertainment, Meu Malvado Favorito 2 chegou aos cinemas em 2013. Diferentemente do primeiro filme, Gru, que antes era vilão, assume agora outra papel. Dedica-se, carinhosamente, às três filhas adotivas (Margô, Edith e Agnes), e tenta, junto com aquele monte de Minions, criar um tipo de geleia que faça sucesso. Até que um dia ele é recrutado pela Liga Anti-Vilões para, quem diria, procurar um bandido escondido em um shopping. Para essa missão, ele conta com a ajuda da agente Lucy Wilde. Juntos, eles observam El Macho, dono de um restaurante e principal suspeito da dupla de espiões. Ao mesmo tempo, Margô, filha mais velha, se apaixona pelo filho de El Macho. Ao longo da trama, outros empecilhos e vilões aparecem para atravancar o objetivo dos dois. Rola até um clima de romance no ar, como é possível supor.

Depois do sucesso que fizeram no primeiro filme, os Minions ganharam muito mais espaço neste segundo. Eles cantam, dançam, gritam e falam um monte de coisa que nem dá pra entender. Mas foi assim que conquistaram grande parte do público e viraram, até mesmo, meme espalhado, aos montes, pelo facebook. Em Meu Malvado Favorito 2, a função de alívio cômico dos Minions fica ainda mais evidente. Eles estão lá pra isso: fazer rir. Os bicinhos amarelos fizeram tanto sucesso que vão ganhar um filme só pra eles. O time de diretores e roteiristas do primeiro filme (Pierre Coffin e Chris Renaud e Ken Daurio e Cinco Paul, respectivamente) voltou neste segundo para tentar repetir a dose de sucesso que obtiveram anteriormente. E, olhando pelos números, conseguiram. Meu Malvado Favorito 2 apresenta uma história simples, consegue fazer rir e pronto. Nada muito além disso. E tem problema? Claro que não!


Você já conseguiu encontrar a saída de um labirinto?

É

justamente essa a sensação que Os Suspeitos (Prisoners) dá ao expectador: um labirinto. Não apenas por ser um elemento frequentemente mencionado ao longo do filme, mas por conta do vai-e-volta da história; uma hora o enredo nos leva para um lado, depois para o outro. E nenhum dos lados parece ser o caminho certo. Exatamente como em um labirinto. O roteiro de Aaron Guzikowski prende a atenção, além de conter um tema atual e estar recheado de questões morais da sociedade moderna. Quando as filhas de Keller Dover (Hugh Jackman) e Franklin (Terrence Howard) desaparecem, a pequena cidade em que vivem se mobiliza. As pessoas ajudam fazendo denúncias anônimas e a polícia faz buscas nas áreas florestais que envolvem a cidade. Mas as meninas ainda não são encontradas, parecem não haver pistas que levam ao paradeiro delas e o detetive Loki (Jake Gyllenhaal) libera o principal suspeito (Paul Dano). Diante tudo isso, Keller entra em desespero; cada dia que passa aumenta o perigo à vida das crianças e a polícia já parece ter perdido as esperanças. Ele resolve encontrar as res-

postas por conta própria - de qualquer maneira. Mesmo que as respostas só possam ser encontradas depois de raptar o suspeito e mantê-lo em cativeiro. Nessa hora do enredo que as questões morais são levantadas: nós temos esse direito? Mesmo tendo que nos submeter a um sistema policial extremamente falho - que, não se enganem, não é exclusivo do Brasil -, nós temos o direito de fazer justiça com as próprias mãos? Mas, se nós não temos esse direito, devemos então ficar apenas de braços cruzados? São essas as contradições que nos afligem ao debater internamente este tema. As duas polaridades são bem representadas nas personagens de Jackman e Howard, que em um ponto do filme chegam a se confrontar, mas não há uma solução real e concreta pelo simples motivo de: não existe uma solução real e concreta. É uma questão muito mais complexa do que a clichê (e extremamente fantasiosa) batalha entre um “bem” e um “mal”, pois as coisas não são bem definidas na vida real. Porém é preciso ao menos pensar sobre elas, e Os Suspeitos não só nos faz refletir, como consegue transmitir essa sensação de insolubilidade que nos acompanha diariamente.


“O roteiro de Aaron Guzikowski prende a atenção, além de conter um tema atual e estar recheado de questões morais da sociedade moderna”


C rô n ica Pa ssos d e b a ila ri n a b êba da

Por Brenda Knutsen

G

irava em torno de si mesma. Girando e girando. O dedo ossudo se precipitava ao tocar o ar, pois procurava sentir o amor que desceu sobre o cômodo abafado. Perguntou-se ao ter as lembranças amargas à mente: “Por que faz isso comigo?” e girava a cada batida da música, girava a cabeça, girava seu coração, e esperava que com todos esses movimentos as coisas voltassem ao lugar. Ainda tinha os olhos fechados quando o cheiro dele entrou pelo seu nariz, sua cabeça, seu útero e todas suas entranhas. Era irremediável: faz-se necessário reconhecer que a vida é cheia de dores para quem quer viver um amor, ou se ama ou se esquece. Se deixou levar de vez pela música, abraçando seu corpo, ficou na ponta dos pés como uma bailarina bêbada. Queria que ele estivesse ali. Queria sim. Até pouco estava tudo bem. Os cachorros, filhos, lutas e tardes por debaixo da coberta. Ele a puxaria do céu que ela pairava enquanto ela o ensinaria a ser mais feliz e menos Dom Casmurro. Ela continuaria consultando os astros e com muito misticismo lhe dizendo para trazer sua inteligência escorpiana e ela traria o otimismo sagitaria-

no. Ele muito provavelmente daria uma risada contida ao dizer: “Que bobeira, que bobeira. Senti falta disso” O desejou, de tal forma e com tamanha intensidade, que do outro lado da cidade seus passos de bailarina bêbada dançaram sobre os sonhos dele. Não quis sucumbir ao que crescia dentro de si - vontade desesperada dele -. A música flutuava em seus pensamentos erráticos, falava sozinha para não constatar a terrível verdade: estava louca de amor. O anseio se tornara real. Talvez fosse a brisa carregada, que ela chamou de amor, que passou entrando na rua e invadiu a sala. Talvez fosse o quarto copo de algo alcoólico que matava suas dores. O viu sentado no sofá respirando profundamente. Sentiu que os olhos dele a desejam e seguiam seus passos. Em sua mente, ele estava ali sentado preguiçosamente, com aqueles suspiros longos e lentos puxando algo para dentro. Gostava de imaginar que esse movimento era para resgatar a brisa quente do amor, e possivelmente de suas desgraças, que havia passado há pouco. Não era possível. Apenas podiam imaginar amores que poderiam ter sido e não foram. Agora, que vai ser de mim? Aquele ali olhando para ela, não era

ele. Não poderia ser ele. Era a parte dele que queria que houvesse ficado. Você já foi? Não, fique aí. Ainda quero te contar a lembrança mais doce que tenho, pois o que nós salva e ainda sermos crianças, mesmo quando não sabendo o que isso significava. Nos sonhos dele, devaneios que procurava enxergar de toda maneira, podia sentir o cheiro do livro velho nas mãos. Ouvir o riso das crianças e logo abrir os olhos, pois o sol esquentará seu rosto enquanto esperava que a calma da casa se partisse. Pensou que não havia nada como a luz do dia para que sentisse completamente vivo. O desejo que tenho, é contarte a lembrança mais doce que possuo nos meus pensamentos errantes. É de criança. Pois quando criança, não sabia que era uma criança. Tudo era salpicado de cores e a vida era infinita. Não havia ideais, escolhas ou opiniões; debruçava-me como menino, mesmo de vestido, e postava-me a mexer com as formigas que passavam indo para algum lar. Não há compromissos com o verbo amar, mas nem por isso me neguei a percorrer os caminhos da vida. Mesmo que a rota que me guie insista em levar para longe de ti.




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