Hashtag Cinema Edição 01 Fevereiro 2013

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Hashtag

Cinema Edição 01 - Ano 01 - Fevereiro 2013

Oscar 2013: A Estrela de Fevereiro 1


Hashtag Créditos/Colaboradores

Cinema

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Leonardo Freitas

Estudante de Artes Plásticas pela Faculdade de Artes Dulcina Moraes e dono do blog Perdidos na Gaveta.

Lucas Santhyago

Estudante de Filosofia pela Universidade de Brasília e apaixonado por cinema e dono do blog Contos Escrotos

Natália Roncador

Apaixonada por artes, é estudante de Teoria Crítica e História da Arte pela Universidade de Brasília e também Jornalismo pela Universidade Católica de Brasília.

Cássio Oliveira

Cineasta e estudante de Cinema pela Faculdade IESB

Rafiza Varão

Doutora em Comunicação pelaUniversidade de Brasília, É mestre em Comunicação também pela Universidade de Brasília, e graduada em Jornalismo, e professora da Universidade Católica de Brasília.

Julyano Abnner

Estudante de cinema no Centro Universitário Nossa Senhora do Patrocíniona, tem 24 anos e mora em Salto, SP

Edição 01 Fevereiro 2013 facebook.com/ HashtagCinema

Gustavo Moreno

Tem 20 anos, é um cinéfilo estudante de Sistemas de Informação, apaixonado pela história do cinema, e fã de O Poderoso Chefão, da série 007 e das animações da Pixar.

Thiago Calixto

# Caio Sigmaringna

Ator, tradutor e apaixonado pela dança, desde criança é apaixonado por filmes e seriados, tendo como maior hobby ler e escrever sobre cinema e a indústria.

Estudante de Jornalismo pela Faculdade Facitec de Brasília, ama escrever sobre política e admirador de ficção cientifica

Felipe Moraes

É jornalista formado pela Universidade Católica de Brasília. Escreve no caderno de cultura do Correio Braziliense e é dono do blog O Prevísivel

Clara Nogueira

Amante de cinema e cultura em geral e estudante de Direito pela Universidade Federal da Bahia


Carta ao Leitor

Hashtag Cinema é uma revista sem fins lucrativos com o único objetivo de informar sobre a sétima arte. O nome da revista está associado á um famoso símbolo da internet o Hashtag (#) por ela ser uma revista virtual. Mais um ano passou e chegou a vez da Academia de Ciências e Artes Cinematográficas de Hollywood escolher os melhores de 2012 com prêmio mais disputado do cinema. É o melhor? Talvez. E também um dos mais subjetivos da história da sétima arte, por cometer erros e erros ao longo dos anos. Grandes cineastas morreram sem ver o brilho do Oscar, como Alfred

Hitchcock e Stanley Kubrick. Subjetivo ou não, é um dos mais influentes de Hollywood e com certeza merece atenção. Na matéria especial da revista, o leitor irá encontrar a história, os erros, os acertos, nossas apostas e como funciona a escolha e a premiação dos filmes selecionados pela Academia. Além da matéria especial que se encontra na seção Capa, a revista é composta por mais outras sete seções: Cinematografia, Hashtag Persona, Hashtag Recomenda, Saiba Cinema, Hashtag Festivais, Lançamentos Dvds e Blu-Rays e como matéria especial de lançamento, Cinema e Política.

Leonardo Resende Editor-Chefe

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S u m á r io Cinematografia

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Hashtag Persona

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Hashtag Recomenda

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O Fabuloso Destino de Amélie Poulain

Alex Vidigal, o diretor do cerrado brasileiro

O Demônio das Onze Horas Taxi Driver

Saiba Cinema Quando o cinema começou a falar

Capa O Oscar 2013 História, Erros, Acertos e Nossas Apostas

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Hashtag Dvds e Blu-Rays

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Lançamentos de Janeiro e Fevereiro

Especial de lançamento Cinema e Política, Silent Hill: A Revelação

Crônicas Do simples neurótico ao neurótico de Hitchcock

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Hashtag Festivais

Mostra de Cinema de Tiradentes

Jamie Foxx em Django Livre! Filme com 5 indicações ao Oscar 2013. Página 22

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Todo mundo tem que saber por si mesmos o que é capaz

Daniel Day-Lewis

#

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Cinematografia

Porque a simplicidade de uma fotografia muda uma obra cinematográfica Por Natália Roncador Cinema, a arte de imaginar. A arte de enquadrar, de projetar. De se projetar. Quando pensamos em cinema criamos um imenso mundo em nossas cabeças, onde tudo é possível e qualquer coisa é alcançável, tornando o impossível pequeno demais para um novo diretor. Mas quando vivemos o cinema, as árvores falam, não somente os pássaros

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voam, o ar muda rapidamente, a bipolaridade aflora. Enfim, tudo muda, tudo gira. Tudo é arte. E o que seria da arte se não o inalcançável, o inexplicável. A louca vontade de gritar para o mundo suas ideias e tentar, de alguma forma, arrumar o que alguém bagunçou. Ou, quem sabe, nós bagunçamos, e essa é a graça! O que é a arte se não tentar

viver uma vida menos dolorosa que a realidade e o desesperado e imenso desejo de alcançar um sonho impossível demais para o ”real”? Tendo a Arte correndo dentro de mim, inspiro-me em tais ideologias, quanto mais alto, maior é minha vontade de alcançar e provar para o mundo que, de alguma maneira, é

possível. Sendo assim, não consegui pensar em outro filme para uma primeira matéria que não O Fabuloso Destino de Amélie Poulain. Uma história capaz de encantar qualquer um, desde os leigos até os apaixonados por se apaixonar. Na realidade, uma história como a minha. Como a sua. Apenas vista com outros olhos.


O que muitos devem pensar é como a história de uma garçonete de um café, moradora de um pequeno apartamento alugado e com mil historias em sua cabeça recebe cinco indicações ao Oscar 2002, incluindo melhor filme estrangeiro e melhor fotografia, Indicado ao prêmio Cesar de melhor fotografia, ao premio BaFTA de melhor fotografia, e vencedor de melhor fotografia pelo European Film Award. A filosofia transmitida por cores e narrada por uma belíssima trilha sonora conta a história de uma simples mulher que tem sua vida transformada ao encontrar, em seu apartamento uma antiga caixa cheia de objetos infantis. Provando que nem tudo é longe demais e é menos sem graça a ponto de nos fazer rir menos. Não sei se o motivo de eu me emocionar tanto com o filme foi o modo como o assisti pela primeira vez. Ainda nova, eu era apenas mais uma estudante de teatro que sonhava ser uma atriz que um dia viria a brilhar em palcos. Enquanto nos preparávamos para a realização de uma peça final, algumas cenas de O Fabuloso Destino de Amélie Poulain nos foram apresentadas, como inspiração. Lembro-me que por alguns instantes me perdi nas falas e no script a decorar, apenas queria saber o resto daquela história tão bem enquadrada, com cores fortes e tons que, de alguma forma, eu tentava vivenciar. Alguns anos depois, após descobrir minha verdadeira paixão, a fotografia, na realização do meu trabalho

final, perdida em meu roteiro e sem saber quando finalizálo, após acompanhar todo meu processo artístico e analisar minhas fotos, meu diretor fotográfico disse ”assista esse filme e saberá quando finalizar seu trabalho”. E foi então que, finalmente, pude ver toda a obra e a genialidade completa deste filme, que nos faz acreditar e se inspirar, como uma leve risada torta em um rosto triste, libertando sentimentos. O que poucos sabem é que sua graciosidade já está inserida, por debaixo das linhas, no título que, por acaso do destino, representa por si só o próprio enredo. Em uma entrevista, o diretor JeanPierre conta que foi por obra do acaso que encontrou o nome ”fabuloso destino”. Conta ele que estava preocupado, pois não sabia que título dar a sua obra. Estava em dúvida entre nomes de peças de teatro ou catálogos, mas nada era forte demais quando a mensagem de busca e de realização dos sonhos que o filme ressaltava. Mas foi em meio a uma leitura que, perdida entre as linhas, estava a expressão ”fabuloso destino”. E assim, o diretor achou, meio que sem querer, aquela pequena vírgula que faltava naquele grande ensaio. Como fotógrafa, não poderia deixar de falar do que realmente me faz encantar com esse filme: o seu visual. A composição faz parte da interpretação do filme, por isso os diretores de arte não se restringiram aos detalhes, desde a composição

Saiba Mais

Guia Turístico Algumas cenas do filme foram realizadas em locações reais. O lugar onde Amélie trabalha é uma cafeteria chamada “Les 2 Moulins”, que fica localizada na Rua Lepic, em Montmartre, Paris. Os fãs do longa costumam entrar no estabelecimento para tomar um café e conhecer o gnomo do filme, que foi mantido no local.

Roteiro de memórias O roteirista, e diretor, JeanPierre Jeunet começou a selecionar dados e memórias, que compuseram o roteiro do longa, em 1974.

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da própria personagem, Amélie, até a grande escala de cores, compreendendo todo o círculo cromático, ressaltado em contraste. Interessante observar que há o predomínio de cores fortes inclusive em cenas escuras, com pouca ou a ausência da luz. As cores utilizadas entram em um balance perfeito, acompanhados de uma fotografia sempre enquadrada, utilizando as janelas fotográficas como principal recurso fotográfico. Uma releitura da arte moderna é feita, como um novo Pop Art, utilizando elementos fundamentais da cor e luz para composição visual do filme. E claro, sempre acompanhado de um balance externo de luz que traz uma dramaticidade às cenas que, só de lembrar, dá vontade de pegar a máquina e ir atrás de nossos ensaios, em busca de novas cores. Não posso deixar de ressaltar que a fotografia se completa pela movimentação da cena, capaz de ressaltar os mais belos detalhes e ao mesmo modo não perder a essência da conjuntura cinematográfica. Conta o diretor de fotografia que, como pré-preparação, muitos filmes e quadros foram observados, tendo como inspiração final um artista plástico brasileiro, Machado, onde ele usa verde e vermelho em seus quadros. Assim, as cenas foram feitas por equilíbrios assimilados, nos quais a cor vermelha e verde eram destacadas com pequenos detalhes do azul, dando um equilíbrio a cena, criando toda a composição do

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Audrey Tautou como Amélie Poulain


“Uma releitura da

arte moderna é feita, como um novo Pop Art” filme por essas três cores, em um fundo amarelado. Totalizando 80 cenários, a graciosa Paris é fundo principal do filme. O ritmo é equilibrado com cenas de movimentação intercaladas, dinamizando-o. Deste modo, foca-se no real interesse da cena, as transformando em realidade e envolvendo o observador durante a obra.

Todos esses elementos, juntos, fazem da vida da pequena Amélie Poulain, um fabuloso destino. Mostrando que pequenas coisas são as principais motivações da vida. E é essa a grande motivação que nos faz nos envolvermos no cinema, dança, teatro e fotografia. A graça de não ver o mundo apenas como ele aparenta ser, mas de poder enquadrar os acontecimentos, focar naquilo

que realmente importa, projetar, dirigir, ir em busca da trilha sonora perfeita, ajustar figurino de maneira com que melhor represente, pincelar espaços de luz, controlar, aumentar ou diminuir o diafragma dos olhos e assim poder enxergar um mundo de possibilidades, cores e amores que estão soltos por ai. Isso é cinema, a vontade de crescer e construir, nunca

sozinho, mas com uma mão no coração e a outra na câmera, sempre sabendo que se um filme queimar, ainda teremos outros, o importante é se surpreender no final. A verdadeira arte desta sétima está em projetar aquilo que sentimos aquilo que vivemos. E assim vamos, projetando sonhos, projetando cores. Projetando vidas.

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Hashtag Persona

Alex Vidigal, o diretor do cerrado brasileiro Por Leonardo Resende Nascido em Brasília, mas com influência nordestina, por causa de seus pais, Alex Vidigal (32) é um dos grandes destaques no cenário cinematográfico de Brasília. Apaixonado desde pequeno por cinema, Vidigal achou sua paixão ao perceber que a sétima arte é um mundo de imaginação e criação, o qual, desde criança, ansiava tocar. A sua jornada começa com a tentativa de ingressar no curso de Cinema da Universidade de Brasília (UnB). Mas depois que o curso da universidade mudou para Audiovisual, seus planos também mudaram. Sua nova opção foi a Universidade Católica de Brasília (UCB), no curso de Jornalismo. Vidigal se surpreendeu quando conheceu o diretor de cinema Mauro Giuntini, que na época era coordenador do Centro de Rádio e Televisão (CRTV) da instituição. Seu primeiro contato com o cinema foi quando teve a oportunidade de realizar o roteiro de um filme institucional, Ciclo dos Livros. O resultado do seu primeiro trabalho foi “um divisor de águas” – como ele

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Alex Vidigal, diretor Brasiliense. Foto por Hélio Monteiro mesmo diz. O texto completo foi mandado para a supervisora do filme ao invés de ser mandado para o diretor, Mauro. Seu trabalho, odiado por Guintini, foi extremamente aprovado pela supervisora. O que fez Vidigal acreditar mais na sua paixão pelo cinema. Sua paixão é influciada por grande diretores como Quentin Tarantino e Pedro Almodóvar caracterizam o seu

cinema quanto a temática, isto é, assuntos marginais, mas o que define sua ocupação como diretor é Alfred Hitchcock. Alex Vidigal, formado pela Universidade Católica de Brasília em 2007, é professor de fundamentos da linguagem audiovisual na mesma faculdade e ,atualmente, mestrando de Audiovisual pela UnB. Dono do incrível curta-metragem Filho do Vizinho, Vidigal tem

mais três curtas em projeto que ele define como uma trilogia e, assim como Tarantino, acredita no cinema independente. Nesta entrevista para a Hashtag Cinema, o professor conta dos problemas que enfrentou ao começar sua carreira, o status do mercado cinematográfico de Brasília e o seu curta-metragem O Filho do Vizinho.


Seu filme, O Filho do Vizinho HC: O Cinema Brasiliense tem crescido muito, comparado com 10 anos atrás. O que você acha que colaborou com esse mercado? Alex: Acho que, em Brasília, temos um fator específico de novas formações de cinema, cursos particulares e em faculdades que são espaços querendo desenvolver capacidades técnicas. Já que essa construção técnica está muito fácil de chegar, por equipamentos de edição e câmeras mais baratos. Em Brasília, essa possibilidade de estarmos produzindo um material daqui e estar ganhando projeção nacionalmente ou internacionalmente.; Três fatores, então, colaboram: técnico, espaço para a formação técnica e o próprio Festivalde Cinema de Brasília, com essa tradição de cinema brasiliense que já existe de outros realizadores como Afonso Brazza e Vladimir. HC: Como diretor, qual é a sua maior dificuldade em Brasília? Alex: Durante muito tempo, foi formar equipe que acreditasse

nos trabalhos, porque quando você tem profissionais muito bons, eles vivem disso, eles têm que estar trabalhando para ganhar o dinheiro deles. Então, é criar essa possiblidade de projetos interessantes para essas pessoas estarem expostas. Mas a grande dificuldade que enfrento é encontrar pessoas dispostas a fazer cinema com você. Com o tempo, isso foi mudando e foram aparecendo outras gerações. Tenho pessoas mais novas que trabalham comigo, sendo que aquelas que formaram comigo, uma ou duas que realizam comigo; as outras foram trabalhar em outras áreas. Hoje, já consigo encontrar núcleos que realmente estão dispostos a realizar e acreditar, são gerações mais novas, novas perspectivas. HC: Como diretor, qual é a sua maior dificuldade em Brasília? Alex: Durante muito tempo, foi formar equipe que acreditasse nos trabalhos, porque quando você tem profissionais muito bons, eles vivem disso, eles têm que estar trabalhando para

ganhar o dinheiro deles. Então, é criar essa possiblidade de projetos interessantes para essas pessoas estarem expostas. Mas a grande dificuldade que enfrento é encontrar pessoas dispostas a fazer cinema com você. Com o tempo, isso foi mudando e foram aparecendo outras gerações. Tenho pessoas mais novas que trabalham comigo, sendo que aquelas que formaram comigo, uma ou duas que realizam comigo; as outras foram trabalhar em outras áreas. Hoje, já consigo encontrar núcleos que realmente estão dispostos a realizar e acreditar, são gerações mais novas, novas perspectivas. HC: E qual seria o maior problema que o Cinema Brasiliense enfrenta? Alex: O problema do cinema brasiliense é que não é coeso e em outras partes do Brasil, você tem grupos de cinema coesos. Em Minas Gerais, você tem o grupo Teia, que juntapessoas para ler o roteiro uma das outras, desde curtas a longasmetragens, e isso tem uma articulação muito forte. Também em São Paulo e Rio há grupos que acreditam em vários tipos de cinema e trabalham nesses tipos de cinema. O problema é o clima da cidade. Vou fazer uma analogia: aqui temos uma rua de farmácias, uma rua de materiais elétricos e uma rua de restaurantes. Aqui tem uma rua de cinema de arte, outra de cinema de entretenimento e outra de cinema independente. Então, as pessoas não convergem para todos estarem fazendo

juntos. É cada um numa raia, é esse grande problema que vejo no cinema de Brasília. HC: Indicaria o cinema como profissão para algum aluno? Alex: Indicaria, sim, mas indicaria começar uma carreira de Brasília, não de São Paulo ou Rio. E eu até acho mais importante, porque nós estamos numa formação de identidade do cinema brasiliense e nós não temos nossos referenciais, nossos filmes. HC: O Filho Vizinho têm sido um enorme sucesso, você pretende expandir o universo criado? Alex: Em outras percepções, eu vou expandir o universo criado na minha constante como realizador que é à margem da sociedade. Se cada um dos diretores que a gente gosta tem uma constante, tem uma coisa que estrutura, o meu é a margem. É o que eu me identifico, é o que está como constante pra mim. São assuntos que estão povoando o nosso dia-a-dia. É isso que me alimenta, é esse o meu universo. HC: Mas como história, você não expandiria O Filho do Vizinho? Alex: Não, assim como as pessoas que eu admiro, eu penso ainda em brincar com outros gêneros e tem a minha constante, como disse, que é a margem. Se O Filho do Vizinho é sobre uma criança, eu vou fazer o oposto, com um ator mais velho. Eu quero estar sempre me desafiando. Mas não quero fazer algo como Tainá 1, 2 e 3.

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Hashtag Recomenda

O Demônio das Onze Horas

Metalinguagem no cinema de Jean Luc Godard

Por Julyano abnner

Em O demônio das onze

burguesia francesa, o domínio

e usa o seu cinema para propor

de um automóvel escutando o

horas, Godard fragmenta a

das montadoras americanas na

uma retomada da consciência

boletim diário da guerra e, logo

narrativa,

da

França, dentre outras reflexões

nacional francesa, contribuindo,

após, conversando a respeito das

metalinguagem, e desenha, assim,

políticas e sociológicas sobre as

através de sua narrativa, para

mortes dos soldados americanos

de forma consciente, sua posição

relações de ambos os países no

que

perceba

massacrados pelos vietcongues,

política no decorrer da história.

cenário internacional. – e até o

tal fato e mude a sua forma

ressaltando que, na guerra,

No filme, são levantadas

Al Capone, conhecido gangster

de

”intercâmbio

somos apenas números diante

discussões sobre as numerosas

americano, e principalente pela

cultural” desigual. Acerca das

da imensidão de mortos nas

mortes causadas pela Guerra do

figura de Samuel Fuller, dando

discussões

podemos

batalhas diárias e criticando,

Vietnã, a corrida armamentista

sua definição do que é cinema.

destacar

seqüências

desta forma, o patriotismo norte-

a

sobre a Guerra do Vietnã.

americano, uma vez que o jovem

e soviéticos, a influência da

forte influência dos Estados

Na primeira, observamos

estadunidense seria doutrinado

publicidade

Unidos em seu país de origem

Marianne e Ferdinand dentro

a lutar pelos interesses políticos

fazendo

uso

e tecnológica entre americanos

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americana

na

O

diretor

evidencia

o ver

espectador esse

acima duas


e econômicos de seu país, sendo

repetidos que simboliza a língua

Soviética, e a batalha tecnológica

reivindicam perante o mundo,

reduzido a uma mera ferramenta

falada na região. Nessa cena, o

travada entre os dois países. O

da qual a marca de refrigerante é

de desenvolvimento.

uso da metalinguagem ajusta a

diretor cita o astronauta russo

um dos simbolismos.

Na segunda, Ferdinand e

crítica feroz ao americano frente

Alexey Leonov e o astronauta

Marianne encenam uma peça

à guerra e suscita o orgulho do

americano

teatral sobre os conflitos do

estadunidense em relação a este

inclusive fazendo com que seus

em

Vietnã para alguns marinheiros

momento histórico.

personagens

uma

manipulação dos Estados Unidos

Edward imaginem

White,

Em um terceiro momento, Godard mostra sua preocupação relação

à

influência

e

americanos, utilizando-se do

Outra parte importante no

conversa entre os dois, na qual

frente à burguesia francesa,

sarcasmo para protagonizar a

filme é o dialogo entre Marianne

Leonov tenta falar sobre Lenin

expondo

história. Ferdinand faz o papel

e Ferdinand na praia a respeito

para White e o mesmo insere

dos franceses retratados na

de um marinheiro que tem

da

armamentista,

uma Coca Cola em sua boca,

cena da festa, na qual, em duas

prazer em matar e Marianne faz

referenciando, neste caso, os

criticando a posição superior

oportunidades, as personagens

uma vietnamita que emite sons

Estados Unidos frente à União

de poder que os Estados Unidos

citam

corrida

a

slogans

superficialidade

publicitários

“Godard

mostra sua preocupação em relação à influência e manipulação dos Estados Unidos frente

à burguesia francesa”

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de produtos americanos, na

francês introduz Samuel Fuller,

os Rover boys, ressaltando com

Bogart, principal ator desses

qual o primeiro refere-se ao

mostrando ao espectador o

clareza sua posição em relação à

momentos citados, que além de

desodorante

o

conceito de cinema segundo

forte influência que tanto o seu

homenagear também Al Capone,

segundo ao spray de cabelo

este diretor estadunidense, na

país quanto ele mesmo, recebem

retratado em um livro de leitura

Aquanet. Evidencia-se, então, a

qual define que o filme é como

dos norte-americanos.

de Marianne, junto a uma arma

manipulação que a publicidade

uma batalha, o amor, o ódio,

estadunidense exercia sobre a

Odorono

e

como

que simboliza o poder exercido

a ação, a violência e a morte,

economia, política e até mesmo

de um objeto sobre as pessoas,

França naquele momento. O

ou seja, em poucas palavras é

os gangster americanos, possuem

mostrando sua discussão sobre

diretor também relaciona as

a emoção; além de mais uma

papéis importantes na obra do

o poder americano frente aos

cores da bandeira francesa com

vez combinar França e Estados

diretor.

franceses.

as cores da bandeira americana

Unidos no momento em que

logo no começo do filme, nos

cita o filme que Fuller realizará

Horas,

letreiros

sugerindo,

no país, intitulado “As Flores do

trama com o estilo de retratar

o domínio das montadoras

desta maneira, que, em alguns

mal”, nome este correspondente

o crime americano do Cinema

americanas no solo francês com

momentos, a influência norte-

ao romance do poeta e crítico

Noir e dos clássicos filmes de

as citações diretas a General

americana é tão intensa que mal

francês Charles Baudelaire. Gangster, tendo como ponto

Motors, a Ford e a Lincoln, e

se sabe se ele está na França ou

Posteriormente, cita os

de referência o personagem de

a Esso, esta no caso, fazendo

nos Estados Unidos.

seriados de TV americanos,

Jean Paul Belmondo, inspirado

uso do seu slogan, quando

dentre eles o Gordo e o magro, e

no personagem de Humprey

Belmondo pede ao frentista do

iniciais,

Ainda nesta cena, o diretor

Outros

fatores

Em O Demônio das Onze Godard

compõe

a

Já em relação aos outros fatores

podemos

ressaltar

posto que coloque um tigre no seu tanque, relacionando com o slogan publicitário do grupo petrolífero. Godard

consolida

seu

estilo contestador, mostrando que o cinema pode sim estar a serviço de uma idéia, seja ela política ou filosófica, tirando os espectadores de um estado de repouso e instigando-os a um olhar crítico.

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Jean-Paul Belmondo e Anna Karina em O Demônio das Onze Horas


Hashtag Recomenda

Taxi Driver A guerra de um homem só

“Taxi driver envelheceu

Por Felipe Moraes “Tá

falando comigo?”, Travis Bickle pergunta à imagem refletida no espelho, enquanto aponta uma pistola na altura do ombro e prossegue com o monólogo raivoso e confuso. O atirador desfia o discurso de um homem que não suporta a sujeira das ruas e decidiu, como um padre que absolve pecados com gestos e dizeres sacros, tomar partido e limpar ele mesmo (e do jeito dele) os pecados dos outros. Travis está de braços cruzados no meio de seu apartamento, vestindo um casaco militar verde escuro. Discute com um anônimo invisível que dirigiu a

palavra a ele e saca uma arma que escorre até suas mãos como se o objeto fizesse parte do seu corpo. A cena mais repetida (e parodiada) de Taxi driver não deixa de ser também ligeiramente cômica. A pistola que ele segura na mão direita -- e não na esquerda, como parece sugerir o espelho -- é catapultada de seu antebraço por instrumento engenhoso, uma corrediça de gaveta adaptada para fins de artilharia. Há outras armas escondidas no tronco e até uma faca colada com fita adesiva à bota. O que não é nada

bem, situa-se no limiar entre um clássico popular e um filme cult” engraçado é o que levou esse magricela, que fala com a língua entre os dentes, a odiar tanto -as prostitutas, os traficantes, os viciados, os policiais, o candidato à presidência que deseja ver morto, e, por fim, ele próprio. Anjo e demônio Não é por acaso que o diretor Martin Scorsese, um cineasta especialista em solidão

e em duelos (quase todos noturnos) entre sujeito versus cidade, começa o filme com um close-up do rosto de Travis (Robert De Niro). Seus olhos revistam o ambiente, luzes avermelhadas colorem testa e bochecha. Ele conduz um táxi por uma cidade mal iluminada, decadente, barulhenta, obscena, um esgoto a céu aberto, o inferno

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Robert DeNiro como Travis Bickle em Taxi Driver na terra. Travis, 26 anos, morador da Nova York dos anos 1970, retornou da Guerra do Vietnã com dispensa honrosa. Arrumou emprego como motorista pois, se era para ficar por aí zanzando de madrugada (e batendo ponto em cinemas adultos), que fizesse disso seu ganha-pão. Corteja Betsy (Cybill Shepherd), uma jovem com ar de patricinha que trabalha na campanha do senador e candidato à presidência Charles Palantine, mas age como um pervertido (ou um romântico simplesmente ingênuo), levando-a para ver um filme pornô. Por fim, tenta resgatar, à maneira do veterano da guerra civil que procura a

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sobrinha tomada pelos índios em Rastros de ódio (1956), Iris (Jodie Foster), uma menina de 12 anos, da prostituição. E tudo -- a missão de Travis, a purificação coletiva, ou ao menos de um prédio controlado por cafetões -- termina num banho de sangue digno de um sacrifício do Velho Testamento. Lançado em 1976, Taxi driver envelheceu bem, situase no limiar entre um clássico popular e um filme cult, e é produto típico de um tempo e lugar. Hollywood já havia aprendido a ganhar dinheiro com os novos cineastas que despontavam em seus primeiros longas-metragens, como Francis

Ford Coppola (O poderoso chefão) e Steven Spielberg (Tubarão). Entre 1967 e 1980 (de Bonnie & Clyde a O portal do paraíso), a contracultura, a rebeldia estudantil, as drogas, o sexo sem repressão, e as rupturas estéticas de outros cinemas (sobretudo de Europa e Ásia) estavam espraiados nas telas. Era a Nova Hollywood, período em que os diretores faziam obras “artísticas e pessoais” com selos dos grandes estúdios. Taxi driver é uma conjugação de vontades particulares e testemunhos sociais. A um só tempo, registra e regurgita o passado de Scorsese -- que desistiu de ser padre e cresceu numa família italiana rígida e católica, acostumada a hostilidades locais -- e do roteirista Paul Schrader -- nascido em berço calvinista, e que na época vivia bêbado e deprimido --, e detona uma bomba-relógio de culpas, medos e chateações, como o Watergate, a demência da recém-encerrada Guerra do Vietnã, tensões xenófobas, étnicas e raciais, e o esgotamento de sentido da geração hippie. O mal-estar social elaborou todo um cinema de danação e redenção violenta -- dentro e fora da Nova Hollywood --, em títulos que exprimem as crises urbanas tanto em narrativas sobre isolamento, vigilância e insegurança (A conversação, Um dia de cão, Halloween) quanto em males da carne e do espírito (O exorcista, Carrie, a estranha, Madrugada dos mortos). Travis reverbera em

personagens homicidas, voyeurs e perturbados que vieram depois, como Henry -- Retrato de um assassino e o protagonista sem nome de Clube da luta, e apadrinha outros pesadelos de Scorsese (Depois de horas, Vivendo no limite, Ilha do medo). O taxista é o declínio encarnado, um assassino e um trabalhador, o pior e o melhor da humanidade. No final que uns e outros desprezam por um suposto otimismo, ele termina como herói, desses que estampam capa de jornal. E pouco interessa se foi ou não tudo um delírio mental -- afinal, ele não dorme nunca. O mundo que cria monstros é o mesmo que beatifica monstros. O mundo vivido, sonhado e filmado.


Saiba Cinema

Quando o Cinema começou a falar Por Gustavo Moreno O cinema é uma arte de tradições, sendo que o estabelecimento de novos paradigmas torna-se, imediatamente, um divisor de águas e gerador de muito barulho, nesse caso, literalmente. O cinema, desde a sua gênese, sempre teve tradições particulares que, simplesmente, mudam com o passar das décadas e com o surgimento de novos conceitos ou tecnologias que suplantam

as anteriores na função de base para o desenvolvimento cinematográfico, uma desses destruidores de paradigmas foi o som. Até o final da década de 20, a mímica e a narrativa completamente visual, reinavam no cinema. Os mímicos eram as grandes estrelas da época e o público se deliciava com as tramas a 18 quadros. Mas apesar do público se fascinar com os grandes

clássicos mudos daquela geração como Metropolis, de Fritz Lang, Napoleão, de Abel Gance, ou Nosferatu, de F.W. Murnau, a insistência dos mestres em técnica cinematográfica em trazer o som para o cinema era constante e incansável! Desde o final do século XIX, antes mesmo do apogeu do grande cinema já existiam tentativas e experiências para introduzir o som nos filmes.

Uma das primeiras investidoras na tecnologia de som associada a imagens foi a Edison Company, empresa de Thomas Edison. Um desses experimentos foi supervisionado por William Kennedy Dickson, assistente do próprio Thomas. O experimento tinha o singelo nome de “Filme Sonoro Experimental de Dickson” e tudo o que mostrava era um homem (Dickson, muito

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provável) tocando um fonógrafo (outra invenção de Edison, criado para registrar som), para a época, uma revolução complementar, pois acrescia à revolução dos irmãos Lumiére, que na época, o ano de 1894, ainda era relativamente recente, mas, infelizmente, foi algo sem muita “projeção” para o período, era simplesmente algo com o teor de experimento, tal qual hoje são interfaces holográficas ou médicos virtuais: Uma tecnologia avançada para a época, mas sem demandarelevante para o mercado, então, muito dificilmente a aplicação industrial do cinema sonoro iria além daquilo. Mesmo assim, Thomas Edison sempre surpreendia com algum avanço, mesmo que pequeno, em 1895 ele criou o cinetofone, uma variação do fabuloso cinetoscópio (uma espécie de “caixa” onde era possível assistir a filmes olhando por um pequeno orifício). Na verdade, tratava-se de um cinetoscópio propriamente dito, só que equipado com um fonógrafo interno acompanhado de dois tubos que funcionavam como “fones” de ouvido onde o espectador apoiava-os aos ouvidos e ouvia ao som que possuía uma sincronização pobre com o filme apresentado no aparelho, e somado ao fato de ter que segurar os tubos nos ouvidos e ainda olhar pelo orifício do cinetoscópio. Não parece uma experiência muito confortável, não é? Mas era o que havia de mais avançado em

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Nas fotos, Charlie Chaplin.

termos de cinema naquele final de século XIX e encantava a qualquer um que tivesse contato com aquele aparato. Durante um período, Edison ficou sem produzir nada de filmes sonoros, pois a demanda a este tipo de filme era muito baixa e voltou só em 1913. Nesse ano, produziu nada menos que 19 filmes sonoros e abandonou o cinema audiovisual de vez em 1915, um pioneiro da tecnologia sonora soprou de vez a vela que já estava se apagando espontaneamente, mas tão logo outra vela ainda maior seria acesa.

O Cantor de Jazz – A ascensão

do cinema falado. Em 1927 uma nova revolução no cinema foi empreendida, numa época em que o cinema já havia se tornado cultura, a novidade foi muito mais do que a quebra de um paradigma técnico, foi também a quebra de um paradigma cultural, pois representava uma novidade de peso em algo que já tinha um apelo consolidado ao grande público. Al Jolson (um ator branco pintado de negro, algo bem comum naquela época, acreditem ou não) estrelava no filme O Cantor de Jazz, no qual interpretava Jakie Rabinowitz, um carismático e histriônico artista de Jazz. O filme é um alegre e cativante musical, considerado unanimemente o primeiro musical, e também o primeiro filme falado, apesar dos diálogos serem rápidos, rasteiros e bem poucos, geralmente ocorridos


antes e depois dos números musicais ao longo do filme, era uma novidade na época. Chegou a ganhar um Oscar por inovação técnica no uso de som e enchia as salas de cinema, despertava muita curiosidade no público degustar a experiência cinematográfica sem o tempero dos intertítulos nos diálogos, porém, apesar de O Cantor de Jazz ter trazido voz ao cinema, essa transição da narrativa 100% visual para a narrativa audiovisual não ocorreu da noite para o dia, pois o sistema usado no filme era de sincronização, com uma gravação rodando ao mesmo tempo em que a projeção do filme. O sistema chamava-se vitaphone e era pesado e bastante caro. A produção de um filme sonoro com tal tecnologia rudimentar dobrava o orçamento de um filme e, por esse motivo, compensava pouco produzir um filme falado numa época onde ainda se valia a pena investir nos filmes mudos. O vitaphone funcionava através de uma interface mecânica entre o projetor e a plataforma giratória onde o som era produzido, era pouco portável e ocupava bastante espaço, por isso a adesão do grande cinema ao som foi lenta e gradual até o surgimento de uma tecnologia mais avançada. A chamada FotofilmFox, que dispunha de um processo de edição mais simples e um projetor mais moderno, porém mais caro, matando de vez o vitaphone, mas as produções sonoras continuavam caras

“O som chegou

no cinema como uma onda”

Al Jonson, estrela de O Cantor de Jazz

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e os equipamentos sonoros para uso em estúdio (como microfones e outros aparatos) eram difíceis de encontrar e também possuíam um custo alto, o que também contribuía para elevar consideravelmente o orçamento de um filme. Graças a isso, muitos estúdios distribuíam tanto cópias sonoras quanto mudas de seus filmes para ajudar a cobrir os custos extras com todo o processo de sonorização. Todo esse trabalho e esforço demonstrava o desejo que a indústria do cinema tinha por uma evolução, uma reestilização de toda a estética cinematográfica, pois já podiam prever que o público ansiava por algo novo muito em breve. O primeiro longa com diálogo bem sincronizado foi Luzes de Nova York, era época de inovação e surpresas consecutivas, o que era exatamente o que a chegada do som representava ao cinema, um misto de surpresa com inovação, tal qual a chegada das cores na metade da década de 1930 ou do uso de efeitos em CG no começo dos anos 1980.

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Mickey Mouse em Fantasia

Charles Chaplin – O Porta-Voz da Resistência ao Som Toda mudança é uma ação, e como dizia Isaac Newton, toda ação gera uma reação, e quando falamos especificamente de mudanças em um setor tradicional, essas reações podem ser tanto positivas quanto negativas. No caso do som, podemos dizer que as reações positivas vieram tanto do público deslumbrado com a nova


tecnologia quanto dos estúdios que faturaram horrores com o uso do som e da fala em seus filmes, já as reações negativas vieram de segmentos diversos dentro do ramo cinematográfico, desde os mímicos que viram no cinema falado o fim do sucesso das suas performances, já que o público iria preferir conversas com palavras ao invés de gestos. Também os mestres do cinema da época viam nos filmes mudos algo que dava uma identidade ao cinema, que o tornava diferente do Teatro, a ausência do som era um elemento importante que integrava a sétima arte. Pensavam assim muitas pessoas, como Buster Keaton (que ficou esquecido após a ascensão do cinema falado, aparecendo posteriormente em uma ponta em Crepúsculo dos Deuses, no papel dele mesmo, em referência a muitas das estrelas do cinema mudo que caíram na obscuridade apóso sucesso do cinema falado) e o astro-mor do cinema mudo, Charles Chaplin, que acreditava inabalavelmente que a chegada do som representava o fim do cinema. Até mesmo os gênios cometem grandes enganos. Inicialmente, Chaplin recusavase veementemente a aderir à fala em seus filmes e mantevese firme nessa posição até 1936 quando lançou o clássico Tempos Modernos, a mais forte e famosa crítica a exploração do trabalho (que certamente contribuiu para que Chaplin fosse exilado dos EUA nos anos 1950 sob a acusação de ser comunista). Ainda assim, era possível

notar como Chaplin não havia abraçado totalmente a tecnologia do som no cinema, pois o filme possuía poucas falas, a narrativa visual e a mímica ainda ganhavam um destaque superior, e mesmo nas partes sonoras era possível observar esse destaque, como na cena musical que é encenada em um idioma ininteligível, denotando que os gestos e a interpretação visual diziam mais do que palavras e sons. O contexto de Tempos Modernos realmente era isso. Pouco depois, Chaplin vem com O Grande Ditador, no qual o uso do som é mais presente e com direito a um monumental discurso de Charles Chaplin que reverbera, é consistente e pertinente até os dias atuais. O anti-herói V, no filme V de Vingança, dizia que ideias são à prova de balas. O Grande Ditador mostra que elas são à prova do tempo também, e mesmo um tradicionalista inflexível como Chaplin conseguiu ver os benefícios que o som trouxe à sétima arte. Walt Disney inovando dentro da inovação Em 1937, o grande Walt Disney surpreendia a indústria de cinema com sua Branca de Neve e os Sete Anões. O primeiro longa animado que lhe rendeu um prêmio honorário ao Oscar de uma estatueta e outras sete mini-estatuetas (na época não existia Oscar de Melhor Animação). Porém, alguém acha mesmo que uma revolução era o suficiente para Walt

O Artista, filme que “brinca” com essa transição do cinema Disney? Para Disney, melhor que uma inovação, eram duas. Em 1940, ele lançou a majestosa animação Fantasia, onde víamos o adorável Mickey como o aprendiz de feiticeiro, um show de cores e imagens que só Disney poderia conceber. A inovação na animação estava justamente no som. Fantasia foi o primeiro filme a usar som estéreo, tecnologia que Disney considerava absolutamente necessária em um filme como esse, para sincronizar as músicas com os efeitos sonoros e falas, pois antes do estéreo no cinema, o som era de somente um canal, ou seja, não tínhamos falas com trilha sonora. Geralmente se parava a trilha sonora quando algum diálogo ia começar. Fantasia utilizava nada menos que seis canais de som, o que abria as mais diversas possibilidades para o que Disney desejava fazer com som e muito mais, e basta assistir e ver o quão avançado é para a época. Além da inovação técnica, o cineasta usou

Fantasia como uma crítica a indústria cinematográfica. O filme era colorido, porém mudo, somente orquestrado. De todas as grandes mudanças no cinema, incluindo a chegada das cores e os efeitos por computador, o som com certeza foi a que causou mais controvérsia e barulho, pois se mudaram os tipos de profissionais, mudaramse as técnicas, mudou-se a forma de ver o cinema, os intertítulos (que eram uma marca clássica) foram abolidos, os tocadores de piano durante as projeções foram dispensados. O som chegou no cinema como uma onda, tanto que é mais comum vermos o cinema dividido entre antes do som e depois do som do que antes das cores e depois das cores, por exemplo. Cinema é mudança de tradições, mudança de paradigmas e a cada surgimento de uma tecnologia nova o cinema se reinventa, o cinema mostra do que é capaz. Com o som foi basicamente isso: o público chegava ao cinema e o cinema provava que podia falar.

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Melhor

D i reto r

Michael H a n e ke B e n h Ze itli n A n g Le e Steve n S p i e l b e rg Davi d O . Ru sse l l

lme i F r o h l e M a d o ra h n o s l e v In d o m รก d a vid a m o b o d a Ol esc u ra is a m a r o Ah L in co l n ve is Os M ise rรก de Pi s a r u t n e v As a Am o r re Dj a n g o l iv A rg o

Oscar 2013: Histรณria, erros, acertos, como funciona a Academia e nossas apostas

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Por Leonardo Resende


Capa

História Globo de Ouro, SAG Awards, PGA Awards. Todos esses prêmios não existiriam se não fosse pelo cobiçado prêmio da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, o Oscar. A ideia de uma Academia surgiu com o presidente da MGM, Louis B Mayer, que, em conjunto com um grupo de trinta e seis fundadores, composto por diretores e atores, a fundou, em 4 de maio de 1927, sem fins lucrativos. A Academia surgiu inicialmente como uma concessão de prêmios, um incentivo para o crescimento técnico e cinematográfico e promoção da imagem de Hollywood. A primeira apresentação dos prêmios foi no dia 26 de maio de 1929, no Hotel Roosevelt, honrando, após um banquete para 270 pessoas, com 11 prêmios, os filmes das temporadas de 1927/1928. Na segunda edição,

as indicações que eram onze passaram a ser sete: melhor diretor, filme, ator, atriz, roteiro, fotografia e direção de arte. Os números de indicações foram aumentando com o decorrer dos anos, à medida que os filmes se desenvolviam tecnicamente, com, por exemplo, o surgimento do cinema falado e em cores. Nas primeiras edições, o comitê era formado por 20 pessoas, mas apenas cinco delas decidiam os vencedores. Os critérios de escolha mudaram depois de Mary Pickford (Coquette, 1929) ser acusada de receber ajuda dos juízes. Após o incidente, a escolha final passou a ser feita pelos membros da Academia, que na época eram mais de 350. Depois de 1934, o critério de seleção de filmes mudou. Só concorriam filmes lançados de 1º de janeiro até 31 de dezembro. Para concorrer, o filme deveria

ser longa-metragem em inglês ou com legendas em inglês, independendo o país de origem, desde que fosse exibido em 35 milímetros. Em 1935, Price Waterhouse, empresa de consultoria e prestação de serviços, passou a fiscalizar os prêmios, para evitar que estúdios controlassem a premiação, até porque a MGM recebeu 155 indicações e 33 prêmios, mais do que qualquer outro estúdio na época. Durante essa intervenção, os resultados foram postos em segredo e selados em envelopes, método que se tornou tradição e perdura até hoje. A cerimônia, que, nos seus primórdios, durava geralmente 15 minutos e era anunciada no rádio (e, mais tarde, em 1953, na televisão), hoje dura mais de três horas e é vista por mais de um milhão de pessoas ao redor do mundo.

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A estatueta O famoso “homenzinho dourado” mede 33 cm, é composto por prata maciça e banhado a ouro 18 quilates. A inconfundível estatueta foi desenhada por Cedric Gibbons, diretor de arte da MGM e confeccionada pelo escultor George Stanley. A origem do seu nome, Oscar, ainda é um mistério. Existem diversos boatos, envolvendo diversas personalidades, dentre elas a atriz Bette Davis, a bibliotecária e posterior secretária executiva da Academia, Margaret Herrick e o colunista Sidney Skolsky. Dizem que a célebre atriz apelidou a estatueta ao achála semelhante ao seu marido, Harmon Oscar Nelson. Já a bibliotecária a teria nomeado ao achá-la parecida com seu tio Oscar. Quanto ao colunista, ao noticiar que Katharine Hepburn havia ganhado o prêmio, teria usado o nome Oscar, simplesmente por não suportar mais chamá-lo de estatueta. Até hoje, porém, nenhuma versão oficial da origem é reconhecida.

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por Django Livre, mesmo com 2009, ao ser divulgada a lista muitos dizendo que seu grande de indicados ao Oscar, o filme mérito foi o roteiro. Batman – O Cavaleiro das Tom Hooper era outro diretor que Trevas, não constava. Fãs e poderia estar entre os indicados, críticos foram à loucura e um uma vez que este mudou os alvoroço foi criado em cima da seus conceitos, trocando o ausência do filme. Por isso, em enquadramento convencional 2010, a Academia decidiu mudar por tomadas mais longas e mais as regras de indicados a Melhor fixas nos protagonistas dando Filme. As indicações, que antes mais realismo á adaptação de Os eram cinco, podiam chegar até Miseráveis. Hooper não utilizou dez. A grande mudança foi feita playback nas canções, dando uma para que blockbusters pudessem atmosfera teatral á adaptação. Tal concorrer. Mesmo após a indicação poderia ter entrado no mudança, o ano passado ignorou lugar de Benh Zeitlin. O novato fantásticos blockbusters, como tem um trabalho competente, Super 8 e o último capítulo da mas a atmosfera criada por saga Harry Potter. Ano de 2012, Hooper surpreende além das ano novo, velhos erros. expectativas. A Academia simplesmente Ver Paul Thomas ignorou a “nova regra” e deixou Anderson fora da disputa por O um bom filme de lado. Skyfall Mestre é de grande tristeza, vez foi esquecido, mesmo ainda que, desde Magnólia, ele vem havendo vaga. montando uma carreira sólida Além de Skyfall, Moonrise e repleta de obras-primas, como Kingdom, que foi ovacionado Sangue Negro. pela crítica especializada, Comentários bem comuns também foi deixado de lado. sobre o Oscar deste ano trazem Além de faltar à indicação de Argo como favorito para o prêmio Melhor Filme, o diretor do filme, principal. A película abocanhou Wes Anderson, também ficou diversos prêmios, como o CCA de fora, mas aparenta satisfeito (Critics Choice Awards), prêmio apenas com a indicação de do sindicato dos produtores, o Melhor Roteiro, juntamente com PGA, o Globo de Ouro e o SAG, Roman Coppolla. Outro que não do sindicato dos atores. Será que está na lista é Quentin Tarantino Argo merece tal merecimento? No começo do ano de

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John Hakwes (Acima) e O Mestre, sem suas indicações a 26 Melhor Filme e Melhor Diretor

Não. O mérito do filme é sua direção, de Ben Affleck, que também ficou de fora. A força que Argo está ganhando pode ser uma simples revolta - com razão - dos sindicatos por não ver o diretor na disputa. Aumentando a lista de erros deste ano, temos a escolha de Naomi Watts pelo filme O Impossível. A atuação é boa, mas não é digna de indicação. Atrizes como Rachel Weisz (The Deep Blue Sea) ou Marion Coutilliard (Ferrugem e Osso) poderiam estar no lugar de Naomi. Embora ambas já terem ganho suas estatuetas, elas, com certeza, tiveram um desempenho superior ao de Watts. Se a loira teve, algum dia, chance de conquistar o prêmio, foi há alguns anos atrás, com os excelentes 21 Gramas e Cidade dos Sonhos. A outra grande estrela azarona, “novata” favorita da Academia, é a ruiva Jessica Chastain. A mocinha fez sete filmes em 2011 e já soma duas indicações ao Oscar. De fato, a primeira é merecida, por Histórias Cruzadas, mas a sua atuação em A Hora Mais Escura é perdida e, ás vezes, exagerada. Hollywood ainda insiste em indicar rostinhos novos, como Bradley Cooper, que virou estrela da noite para o dia com Se Beber, Não Case e Sem Limites. Este último fez a carreira do galã decolar pelo fato de conseguir carregar o filme sozinho nas costas, no quesito bilheteria. A sua indicação é totalmente desarticulada, seu desempenho na comédia dramática O Lado

Bom da Vida só convence graças a excelente direção de David O.Russell. Uma opção que de longe era bem melhor que Bradley é a atuação de John Hakwes no filme As Sessões, que, infelizmente, foi lembrado apenas no Globo de Ouro. Mais um erro que a lista de indicados desse ano apresenta é a indicação de Jacki Weaver para Melhor Atriz Coadjuvante, porque sua atuação é exagerada e histérica, e não apresenta profundidade na personagem. Inclusive Nicole Kidman, pelo fraco Paperboy, poderia ter ficado com a indicação de Weaver, uma vez que sua atuação nos faz lembrar do seu modo bitchy em filmes como Flertando – Aprendendo a Viver e Um Sonho Sem Limites. Na lista de indicados a Melhor Animação, a Academia resolveu apostar mais em escolhas comerciais, deixando de lado as produções independentes que foram indicadas nos anos anteriores. Embora tais produções não tenham vencido a disputa, pelo menos foram promovidas pela Academia. Entre elas, tínhamos O Mágico, Um Gato em Paris e Chico e Rita. Este ano, o desenho Piratas Pirados poderia ter dado espaço ao excepcional desenho japonês From Up On Poppy Hil, dos Studios Ghibil, ou o francês O Gato do Rabino. Triste, mas antes Piratas Pirados para a indicação do que Hotel Transilvânia. Mesmo que a safra de 2011 não tenha sido tão boa quanto de 2012 não justifica a ausência


das animações independentes, afinal, o ano de 2010 foi tão fraco quanto 2011 e mesmo assim ainda teve o magnífico O Mágico. À primeira vista, a categoria de Melhor Documentário parece perfeita, até se notar que um dos melhores documentários lançados em 2012 não aparece. Isto Não é Um Filme apareceu apenas na lista de pré-selecionados, mas o seu verdadeiro lugar era entre os indicados. O filme, que chegou até Cannes, mostra a dificuldade de se realizar uma película no atual contexto político. O diretor iraniano Jafar Panahi, que vêm fazendo bons trabalhos contra o regime do presidente Ahmadjinehad, merece reconhecimento. Seu desempenho é admirável e não tinha por que estar fora da disputa. Há alguns dias atrás, Leonardo DiCaprio anunciou que iria dar uma pausa na atuação. O motivo não foi revelado, mas pode-se arriscar dizer que o ator está cansado dos seus esforços não recompensados pela Academia. Realmente, sendo uma estrela, nada melhor do que reconhecimento. No ano passado, Leo foi esquecido pela sua performance arrebatadora como John Edgar Hoover no filme J.Edgar. Mesmo que o filme não tenha sido bom, o desempenho foi merecedor de pelo menos uma indicação ao Oscar. Na lista de 2013 a decepção não chega a surpreender pela ausência do ator concorrendo por Melhor Ator Coadjuvante pelo filme Django Livre. Leo

poderia facilmente tomar o lugar de Alan Arkin (Argo) na lista dos selecionados. Dizer que a escolha dos filmes para Melhor Filme Estrangeiro está perfeita é errado. Ainda mais sem a presença de um dos filmes mais impressionantes da carreira de Leos Carax e também do ano de 2012: Holy Motors nem se quer apareceu na lista de préselecionados. O Amante da Rainha seria uma escolha para trocar com o filme de Carax. Aumentando a lista de erros, ainda temos a ausência do escritor Stephen Chbosky, que não somente dirigiu o filme, As Vantagens de Ser Invisível, como também o adaptou e roteirizou. Por mais que a Academia tenha ignorado todas as possibilidades perante as atuações e direção, o roteiro era de extrema qualidade e difícil de ser ignorado. Cloud Atlas foi o filme que mais dividiu opiniões em 2012. Tem um roteiro bem amarrado, mas não é digno de indicação a Melhor Filme. Porém, suas qualidades técnicas são acima da média, sendo o melhor dos exemplos,a trilha sonora marcante e bela realizada pelo próprio roteirista e diretor, Tom Tykwer (Corra Lola, Corra). Isso sem falar no quesito Maquiagem do filme. O filme com certeza deveria estar na disputa de Melhor Trilha Original e Melhor Maquiagem, tendo Hitchcock e A Hora Mais Escura tirados da lista de indicação.

Alan Arkin (acima) e Jacki Weaver, o que estão fazendo na lista mesmo?

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Acertos

Quando a lista de indicados saiu, a primeira sensação que imprensa teve foi de decepção pela ausência de algumas personalidades, como citadas e também grande felicidade de ver outras. Infelizmente, a lista de acertos é bem menor do que a de erros. Aliás, todas as indicações têm um erro ou outro, mas não tão lastimáveis quantos os já pré-citados. Comecemos pela indicação tão esperada de Michael Haneke que, ignorado pela obra-prima que lhe rendeu sua primeira Palma de Ouro, o brilhante A Fita

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Branca, deve se sentir redimido pela disputa por Melhor Direção neste ano, por O Amante da Rainha. Já é de grande felicidade ver o diretor austríaco na disputa. Assim como Haneke, é ótimo ver o nome de Joaquin Phoenix no prêmio de Melhor Ator pelo filme O Mestre, assim como outros integrantes do elenco, como Amy Adams, que adiciona mais um personagem marcante em sua filmografia e Philip Seymour Hoffman, que cada vez mais constrói o título de grande ator. A Academia pode ter se esquecido das produções independentes na

indicação de Melhor Animação, mas fez algo melhor ainda ao indicar um filme independente como Indomável Sonhadora para Melhor Filme. Ainda melhor foi a nomeação da atriz mirim Quvenzhané Wallis, que conduz o filme de maneira incrível, principalmente levando-se em conta a sua pouca idade. Além da pequena Wallis, uma presença mais que satisfatória no prêmio de Melhor Atriz, é Emmanuelle Riva, estrela dos filmes franceses como Hiroshima, Meu Amor e Léon Morin, Padre. Skyfall ficou de fora da disputa

de Melhor Filme, e pelo menos a Academia teve o bom senso de indicar o filme nas categorias técnicas. Uma das categorias na qual o filme é dado como vencedor é a de Melhor Canção Original pela música Skyfall, escrita por Adele e Paul Epworth. Outra categoria em que o filme foi indicado é a de Melhor Trilha Sonora Original por Thomas Newman, que deu um tom melhor do que o deixado pelo antecessor, David Arnold.


Como funciona a Academia A grande dúvida de muitos espectadores: como funciona a Academia? Simples frieza corporativa, política e matemática. Para entender o sistema, é preciso saber quem faz parte. A entidade é um grupo de artistas “notáveis” e não tem tanto peso corporativo, deixando esse papel para os sindicatos. Ela é dividida em 15 setores, de acordo com a especificação cinematográfica, como atores, diretores, documentaristas, maquiadores e técnicos de efeitos especiais. Se um ator é também diretor, ele poderá participar de apenas um clube de áreas particulares. No início de dezembro é enviada uma lista de cinco concorrentes, em ordem de preferência, do time em que participa: diretores votam em diretores, atores nas interpretações, roteiristas votam em roteiros e assim em diante. Porém todos os associados informam seus preferidos a Melhor Filme. A partir disso, chegase à lista final de indicados que disputam a estatueta. Os prêmios de Melhor Filme Estrangeiro e Melhor Animação são selecionados por comitês específicos. Dois meses depois, no momento de escolher os vencedores, todos os associados podem votar nos indicados, não sendo obrigatório

o voto e havendo a possibilidade de deixar em branco – mas isso raramente acontece. Um maquiador ou ator pode votar em outros prêmios técnicos, como Melhor Fotografia ou em Melhor Mixagem de Som, além dos principais prêmios. Com a nova regra de até dez indicados ao prêmio de Melhor Filme, a votação ficou diferente do que era nos anos passados. Antes só se podia marcar um “X” no seu filme favorito. Agora o associado pode votar em ordem de preferência de 1 a 10, sendo 1 o seu favorito e 10 aquele de que menos gostou. As últimas cédulas são enviadas no dia 2 de fevereiro e recebidas pela Academia até o dia 22. Antes de 2012, ganhava o Oscar o indicado com maior número de votos. Esse critério continua com as demais indicações, mas não para a de Melhor Filme. Com dez candidatos, a Academia considerava arriscado que uma produção com apenas 11% de apoio pudesse ganhar o prêmio. Por isso resolveram adotar o sistema de preferência. O modo complexo funciona assim: na apuração, a empresa PricewaterhouseCoopers monta dez pilhas de votos, separando de acordo com os filmes que tiveram a nota máxima, como, por exemplo, um pilha com O Artista, outra pilha com A

Invenção de Hugo Cabret e outra com Meia-Noite em Paris até todas estarem divididas. Depois de toda a separação, é hora de eliminar a pilha com o número de menor de cédulas, redistribuindo os votos a partir do filme na segunda posição em cada uma delas. Caso um filme que tenha sido descartado na segunda posição, o que está na terceira posição toma seu lugar e assim por diante. O processo é repetido até que um dos filmes tenha 51% do total. Este será o vencedor de Melhor Filme. A única vantagem do sistema preferencial é que ele realmente conta com a profundidade de todos os votantes.

Annette Bening (acima) uma dos representantes dos membros da Academia e os empresários da PricewaterhouseCoopers que guardam “o segredo”

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Nossas apostas A safra de filmes de 2012 foi considerada uma das piores dos últimos dez anos, principalmente se a compararmos ao ano passado. Dos nove filmes que foram indicados em 2012, cinco eram excelentes e marcantes, como O Artista, Os Descendentes, A Árvore da Vida, Meia-Noite em Paris e A invenção de Hugo Cabret. Esse ano a lista têm o mesmo número de indicados, mas infelizmente não têm o mesmo número de filmes memoráveis como o ano passado. Apenas três filmes podem ser chamados de obrasprimas e serão lembrados com o passar dos anos, sendo eles Django Livre , Lincoln e Amor. Mesmo que Lincoln possa ser considerado monótono ao extremo, é falta de respeito dizer que Steven Spielberg não fez um trabalho competente. Mesmo que Argo esteja levando tudo, o favorito aqui é Lincoln para Melhor Filme, por duas razões: estabelece um retrato e um marco na imagem de Abraham Lincoln e é puro patriotismo. Não é surpresa que o filme venha ganhando cada vez mais o público americano, arrecadando 170 milhões de dólares, somente nos EUA, números incríveis para um filme de quase três horas de

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duração e do gênero drama. De todos os indicados, Amor e Django Livre são os melhores filmes da lista. Lincoln, porém, deve levar a estatueta. Caso não leve, Argo, como todos vêm prevendo, vai ganhar. Quanto aos indicados a Melhor Diretor, Spielberg pode ter a quase certeza de levar o prêmio. Caso não leve, Ang Lee terá sua segunda estatueta. Quem, porém, deveria ganhar, é o austríaco Michael Hanake. Sua premiação aumentaria a credibilidade da Academia em pelo menos 50%, além de deixar muitos fãs satisfeitos. Jennifer Lawrence e Quvenzhané Wallis são muito novas para ganhar o prêmio. Lawrence já provou que é talentosa e sabe escolher bem seus papéis, ou seja, indicações futuras virão. Jessica Chastain pode ter duas indicações em dois anos de carreira, mas não parece tão à vontade no papel e Naomi Watts deve ter recebido sua indicação por consolo da Academia. O que resta é Emmanuelle Riva, que é favorita e com certeza pode levar a estatueta. A atriz é velha, tem uma carreira sólida e marcante, nunca teve o mérito que sempre mereceu e o momento nunca foi tão apropriado. Se ela não

Daniel Day-Lewis (acima) como Abraham Lincoln e Adele, que já pode cantar vitória literalmente.


levar, Jennifer Lawrence pode conseguir, o que seria de grande injustiça, claro, mas o antigo ditado sobre o Oscar é vero: “O Oscar é injusto, mas é sincero”. Joaquin Phoenix parece ter encontrado sua grande chance para ganhar o Oscar, de uma vez por todas, escolhendo um personagem alcoólatra, que lhe rendeu mudanças físicas, coisa que a Academia mais admira. Quanto mais deformado o ator, maior a chance, vide Charlize Theron e Christian Bale. Apesar disso, Phoenix não tinha se deparado com um concorrente tão devastador quanto o personagem de Daniel DayLewis em Lincoln o que deixará o páreo mais duro. Phoenix com certeza devia ganhar, mas

infelizmente ou felizmente, Daniel está soberbo e com certeza fará história sendo o primeiro ator á ganhar três Oscares. A categoria de Melhor Ator Coadjuvante é a mais difícil de fazer uma aposta, pois todas as performances são excelentes - com exceção de Alan Arkin e todos os atores já ganharam. Parece que Tommy Lee Jones vai levar sua segunda estatueta, uma vez que, mesmo que Philip Seymour Hoffman tenha mostrado uma de suas melhores atuações, o ator ganhou tem pouco tempo, assim como Christopher Waltz e Alan Arkin. Se Tommy não ganhar, Robert De Niro pode levar a estatueta. A escolha de Melhor Atriz Coadjuvante é uma indicação

que é fácil de adivinhar quem vai levar. Como dito acima, a Academia dá mais chances a aqueles que se modificam por um personagem, como o caso de Anne Hathaway, que emagreceu e cortou seus cabelos. Sua forte concorrente é Sally Field, mas a questão é: eles vão dar o Oscar para uma atriz na sua terceira indicação, sendo que, nas outras duas ela já ganhou? Não. Field é uma excelente atriz, mas eles não gostam dela tanto assim. Nossa aposta é Anne, mas se ela não ganhar, provavelmente Amy Adams ganhará. Tarantino não ganhou sua indicação por Melhor Diretor, mas poderá se redimir quando o resultado de Melhor Roteiro Original sair, pois Django é a

melhor opção, A Hora Mais Escura vem sendo muito controverso e polêmico, o que pode atrapalhar suas chances, mas se Django não conseguir, com certeza Amor consegue. Se Argo vencer Lincoln na categoria de Melhor Filme, com certeza essa será a única indicação em que o filme de Spielberg irá perder para Argo, o roteiro adaptado de Tony Kushner que já tinha trabalhado com Spielberg em Munique, é um dos melhores roteiros de todos indicados, pois amarra e estrutura muito bem os últimos meses de vida do presidente. Quem pode atrapalhar a vitória de Lincoln é O Lado Bom da Vida, que é uma hábil adaptação do livro de mesmo nome.

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Hashtag Festivais

A Mostra de cinema de Tiradentes e a configuração de um espaço para um intenso debate sobre a nova cena do jovem cinema brasileiro Por Cássio Oliveira A mostra de cinema de Tiradentes chegou a sua 16° edição e se consolidou como a principal e mais empolgante mostra de cinema do Brasil. Durante nove dias, foram exibidos mais de 131 filmes, 34 longas-metragens, 97 curtas e vários encontros, seminários e oficinas comprometidos a

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debater o jovem cinema brasileiro a partir do tema proposto, o cinema ”Fora de Centro”. O tema ”fora de centro” levantou como proposta tanto a linguagem dos filmes quanto a descentralização geográfica deles, vindo reafirmar, de certa forma, o compromisso da mostra com foco nos filmes

autorais e de baixo orçamento. Filmes esses que se destinam ao compromisso de experimentar e liberar a linguagem para além da narrativa tradicional clássica. Dominada pela seleção de documentários, esse a ano a mostra Aurora, a principal do festival e que privilegia diretores de primeiro ou segundo longas-

metragens, foi composta somente de dois filmes de ficção, a produção de Pernambuco Ferrolho de Taciano Valério e Linz - quando todos os acidentes acontecem, de Alexandre Veras (CE). Os outros cinco filmes que compuseram a mostra são os documentários ‘Matéria de composição’, de Pedro Aspahan


(MG), Nas minhas mãos eu não quero pregos, de Cris Ventura (MG), Vento de Valls, de Pablo Lobato (MG), Flutuantes, de Rodrigo Savastano (RJ) e os Dias com ele (SP), de Maria Clara Escobar, esse último premiado como melhor filme. A mostra Aurora além de privilegiar realizadores no inicio de carreira primam por filmes com inquietação formal e de orçamento modesto, feitos com ou sem dinheiro, conta o crítico e curador Cléber Eduardo. Diante desse quadro, a mostra mineira, pode-se dizer, configura-se como uma importante janela de exibição e um importante espaço de visibilidade e legitimação para esses filmes e realizadores em inicio de carreira, preocupados menos em circular pelo grande

circuito comercial de cinema e mais em procurar nos filmes uma forma de expressão artística e um modo de compartilhar um olhar. Depois dessas impressões gerais, listarei aqui alguns tópicos-assuntos que dominaram os debates formais e informais, dentro e fora das programações; nos bares, nas festas, nas ruas, fosse onde fosse. Documentário Na última década, o cinema brasileiro tem experimentado um boom dos filmes de documentários. Nunca se produziu, exibiu e nem se pensou tanto sobre o regime da imagem do cinema documental quanto agora. Em Tiradentes não é diferente, talvez o maior espaço de legitimação e debate a

“Diante

desse quadro, a mostra mineira, pode-se dizer, configurase como uma importante janela de exibição” cerca das várias mudanças e experiências estéticas que o documentário contemporâneo brasileiro vem sofrendo. Outra coisa importante no processo desse debate é a diluição da fronteira entre documentário e ficção; fabulação e realidade, verdade e artifício. O documentário, longe de ser um regime menor, didático e expositivo da realidade, vem reivindicando pra si uma pujante complexidade cinematográfica. Um exemplo recente é o filme vencedor da mostra Aurora em 2012, A cidade é uma só?, do cineasta do DF Adirley Queiroz, filme que reforça o documentário como material capaz de ser criativamente retocado para que se potencialize o real não compromissado pela ideia de uma realidade objetiva. Coletivos de cinema Desde 2007 vem surgindo um debate acerca do jovem

Mostra de Cinema de Tiradentes de 2011

cinema brasileiro chamado por muitos de o ‘novíssimo cinema brasileiro’. O termo ‘novíssimo’, claro, é controverso, dada a falta de critérios mais claros ou por falta de um projeto estético definitivo, como era no cinema novo por exemplo. O certo é que o fenômeno dos coletivos de cinema, representado principalmente pelo grupo Alumbramento do Ceará; o coletivo Teia de Minas Gerais e outros agrupamentos de Recife (PE), como a Símio filmes, vem monopolizando as atenções nessa nova configuração do cinema brasileiro pós-retomada. São coletivos formados por jovens cineastas com uma carga muito grande de referências. São realizadores, técnicos, pesquisadores, cinéfilos, críticos, pesquisadores. Todos eles vão se revezando nas funções e também vão se intercambiando entre um coletivo e outro, trocando experiências e promovendo

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parcerias. Tiradentes, como não poderia deixar de ser, tornou-se um importante local para o ajuntamento de diferentes coletivos e, sobretudo, para a legitimação deles na atual conjuntura do cinema independente brasileiro. Cinema digital Se o documentário experimentou um boom sem igual e os coletivos de cinema tornaram-se um dos protagonistas na cena do cinema Brasileiro atual, permitindo um aumento exponencial na produção e o surgimento sem igual de novos realizadores, tudo isso foi graças ao digital. O advento desse meio democratizou a produção, barateou os custos e abriu caminho para as mudanças dos modos de produção que refletiu não só nas formas de se fazer um filme, mas também no DNA estético deles. Desse modo, a mostra tomou também pra si a responsabilidade de pensar e discutir o cinema digital como fator principal e determinante na transformação e na atualização do cinema como um todo. Exibição Se a produção cresceu sem igual desde a retomada do cinema brasileiro pós- era Collor, a exibição continuou a ser um problema a ser resolvido. Como desaguar toda essa demanda se os espaços exibidores dominados pelos multiplex ainda é, essencialmente, um local de circulação dos grandes

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filmes, feitos com muito dinheiro e num esquema industrial cuja competição é incompatível com a realidade dessa nova demanda? No Brasil, milhares de festivais e mostras foram criados para acompanhar essa nova conjuntura, e aí os festivais acabam se tornando uma importante e única janela para que esses filmes sejam vistos. A principal reivindicação desses realizadores, contudo, é a criação de políticas públicas capaz de gerar mecanismos e garantias para a exibição desses filmes. Se o Estado estabelece para si essa responsabilidade de prover a produção cultural e artística, então precisa resolver também o problema da exibição, porque se não fica uma coisa esquizofrênica, no meio do caminho entre alguma coisa e coisa nenhuma, diz o cineasta de Ceilândia, Adirley Queiroz. Democratização regional da produção A mostra de Tiradentes também costuma tomar como política a descentralização da produção cinematográfica e reconhecer a pluralidade das produções vindas de várias regiões brasileiras. 65% dos filmes exibidos esse ano na mostra são originários de outros Estados que não Rio-São Paulo. Filmes de todos os lugares: Ceará, Paraíba, Minas Gerais, Paraná, Pernambuco, Bahia.

Público da Mostra de Cinema de Tiradentes de 2011


Hashtag Dvds e Blu-Rays ParaNorman Triunfal

animação produzida pela Laika Produções, que foi responsável pelo último sucesso do diretor de stopmotions Henry Selick, de Coraline e o Mundo Secreto. Esse novo filme é dirigido por dois diretores: Sam Fell (que dirigiu o fraquíssimo Por Água Abaixo e o mediano O Corajoso Ratinho Despereaux) e, Chris Butler, estreante na direção. A animação conta a história de Norman, um menino que possui a habilidade de ver pessoas mortas e passa seus

dias admirando os detalhes dos filmes de terror. Norman se esquiva do bullying de Alvin, troca confidências com o impressionável Neil e tenta não prestar muita atenção em sua professora petulante, a senhora Henscher. Norman é contatado inesperadamente por seu estranho tio Prenderghast, que o derruba com a revelação de que a praga de séculos de uma bruxa é verdadeira e está prestes a se tornar realidade. Para piorar, apenas Norman é capaz de impedir que isso

possa atingir o povo da cidade. A animação é acima da média. O roteiro contém inúmeras referências ao terror dos anos 1980, até na maneira estilizada de fazer a introdução do filme com uma tela preta escrito em vermelho “Feature Presentation” como nos filmes antigos. ParaNorman é uma animação para crianças, sem dúvidas, mas é também uma boa surpresa para os amantes do cinema trash-terror dos anos 80.

Na sua passagem pelos cinemas, Anjos da Lei fez o que poucas adaptações cinematográficas de seriados conseguiram até hoje: foi um sucesso tanto de bilheteria quanto de crítica. A série homônima, na qual o filme é baseado, sucesso da década de 1980, contava as histórias de um grupo de jovens policiais que se infiltrava em escolas para investigar crimes cometidos por alunos. Ao rever o filme em DVD, é fácil perceber o porquê do sucesso. O filme acerta em reciclar apenas a premissa da série e jogar o resto fora. Aqui, o drama

investigativo dá lugar a uma comédia assumida. Channing Tatum e Johan Hill são dois policiais idiotas que, após cometerem um grande erro, são rebaixados ao programa de policiais infiltrados chamado “Anjos da Lei”. Sua primeira missão é se infiltrar numa escola e descobrir quem está produzindo uma nova droga sintética antes que ela se espalhe para outros colégios. Engana-se quem pensa que o filme é uma comédia policial. A investigação aqui é apenas uma desculpa para uma série de gags e cenas absurdas, onde nada é levado a sério. Tudo

Anjos da Lei é constantemente debochado. Nenhum momento emocional consegue durar mais que dois minutos sem ser cortado por uma piada grotesca - e isso salva o filme de cair no melodrama comum. O excelente roteiro, aliado a uma direção competente, um elenco talentoso (repleto de astros da TV) e uma ótima participação de Johnny Depp, astro da série original, tornam este filme um dos mais engraçados de 2012, essencial para quem gosta de comédias adultas e escrachadas.

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Looper

Abraham Lincoln: Caçador de Vampiros O grande problema de Abraham Lincoln: Caçador de Vampiros, é que ele recusa a aceitar o ridículo de sua ideia central, sem um pingo de humor e auto-ridicularização necessárias para sustentar longas deste tipo. A história é contada com completa seriedade, mas o roteiro não tem inovação ou profundidade suficiente para conseguir conduzir a história sem a ajuda da comédia. Tirando sua ideia de principio absurda, o longa não passa de um filme de vingança sobrenatural cheio de situações e personagens repetitivos e clichés. Mesmo que a direção de Timur Bekmambetov (de O Procurado) seja eficiente e competente visualmente. No filme, a história do presidente americano é completamente revista. Na nova versão, após ver sua mãe ser morta por um vampiro quando criança, Lincoln passa a dedicar sua vida a destruir as criaturas. Com uma premissa desperdiçada e um roteiro que se leva a sério demais, Abraham Lincoln é uma decepção tanto quanto filme de terror sobrenatural quanto como revisionismo histórico, mas pode funcionar como uma comédia involuntária.

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Frakenweenie Quando Alice no País das Maravilhas foi lançado, a crítica ficou dividida. Tim Burton realmente não pôde dar o melhor de si pelo chamado ”Disney-Vírus” que não permitia ao diretor ousar no roteiro e muito menos na direção. A única coisa que Burton pode fazer foi levar o seu grande time técnico como o excelente diretor de arte Robert Stromberg e a figurinista Colleen Atwood. Sombras da Noite foi lançado e foi anunciado o que muitos previam: Tim Burton perdeu o ”toque”. Mas esperança é a última que morre e Burton nos presenteia com o delicioso Frakenweenie. Em 1984, antes de Burton fazer sua estreia nos longas-metragens, ele fez um curta metragem chamado Frakenweenie que deu origem a essa animação stop-motion. O enredo aqui é simples. Depois

de perder, inesperadamente, seu adorado cão Sparky, o jovem Victor usa o poder da ciência para trazer de volta à vida seu melhor amigo – com apenas alguns pequenos ajustes. Ele tenta esconder sua criação feita à mão, mas quando Sparky sai, os colegas de sala de Victor, seus professores e toda a cidade aprendem que tentar “dominar a vida” pode ser algo monstruoso. O mérito de Frankenweenie é resgatar a nostalgia deixada por Burton com sua história no Estranho Mundo de Jack e do mais recente A Noiva Cadáver. Com Frankenweenie, Burton quer provar que seu talento de fato é genuíno e que talvez não tenha perdido o ”toque”, pelo menos nas animações. E aqui lava um pouco a alma daqueles que sentem falta do Burton dos anos 1990.

O ano de 2012 foi o ano que consolidou a carreira do talentoso Joseph Gordon-Levitt. O rapaz co-estrelou o super arrasa quarteirões Batman – O Caveleiro das Trevas Ressurge, estrelou o ainda inédito no Brasil, mas queridinho entre os críticos, Perigo Por Encomenda. Além disso, atuou ao lado de Daniel Day-Lewis como filho de Abraham Lincoln, no filme sobre o presidente americano. Brilhou em todos, sem dúvida, mas o filme em que Joseph teve mais destaque foi esse: Looper – Assassinos do Futuro. O complexo enredo de Looper - Assassinos do Futuro é ambientado em um futuro próximo, onde um grupo de assassinos, conhecidos como Loopers, trabalha para um sindicato do crime. Eles são enviados do futuro para o presente, para matarem criminosos antes que os crimes sejam cometidos. Mas quando um deles descobre que foi enviado para o passado para matar a si mesmo, o sistema começa a ser questionado. É ótimo ver que Bruce Willis ainda tem fôlego para filmes de ação, alguns péssimos e outros terríveis. O astro finalmente acerta aqui. Looper é tomado por um roteiro bem enxuto e às vezes muito complicado e prolixo com os personagens. Mas Ver Bruce Willis em ação, estilo old fashioned, é de tirar o fôlego. Ter Joseph ao seu lado: não tem nada mais divertido e satisfatório.


Especial de lançamento

Você mora em Silent Hill Por Thiago Calixto Mentiram pra você: duas coisas ocupam, sim, o mesmo lugar no espaço – e ao mesmo tempo. A prova disso está ao seu redor. Vai, pode olhar! Mas veja lá com “quais” olhos irá fazê-lo. Na fotografia, no cinema, na televisão, inúmeras técnicas modificam a percepção sobre a realidade, mas nada é tão poderoso em fazer isso quanto usar a consciência. Se quiser uma ajuda pra entender melhor, é só assistir Terror em Silent Hill (2006, direção de Christophe Gans), ou aguardar a tão esperada continuação Silent Hill: Revelação (2012, direção de Michael J. Bassett). O filme narra a história macabra de uma cidade dominada pelo mal em pessoa. Tudo começou quando uma seita religiosa sacrificou uma garotinha chamada Alessa

Gillespie durante um desastroso ritual pagão, que levou toda a cidade a arder em chamas. Completamente deformada pelas queimaduras, Alessa Gillespie faz um pacto com o próprio Mal e começa uma jornada de vingança, mas também de redenção. Considerado uma das melhores adaptações de videogames para a telona, Terror em Silent Hill e sua continuação reúnem elementos de primeira ordem em matéria de estética do terror, tenebrosa trilha sonora, fotografia impecável, roteiro coeso e trama envolvente. Visceral, tanto o jogo quanto os filmes nos são muito familiares... Mas, por quê? Deve ser porque nós vivemos em Silent Hill. Quer apostar? Basta observar que nossa rotina social, maculada pela degradante alienação produtiva

e pelo cretino consenso político liberal conservador, adora pregar peças de extremo mau gosto nas pessoas. Nesse sentido, os lugares e as atividades ditos “democráticos”, de longe não são pra todo mundo não. Um banco de praça tem um uso absolutamente diametral para, digamos, um executivo que senta nele por um instante para ler seus e-mails pelo notebook, e um mendigo que faz dele a sua morada (mesmo sendo enxotado constantemente pela polícia e pelo serviço social). Em Silent Hill, toda vez que o alter ego maléfico de Alessa aparece, a cidade é tomada pela escuridão, se desfaz em pedaços e é invadida por criaturas monstruosas. E não é exatamente isso que acontece conosco num semáforo, num shopping center, num viaduto, num parque, numa calçada,

quando a realidade nos toma de assalto? É fácil percebemos que nem todos usam esses lugares da mesma forma... e alguns sequer tem acesso a eles. Mas então como esses dois mundos, essas duas dimensões e realidades convivem sem se misturar? Os filósofos István Mészáros e Slavoj Zizek explicam isso com monumental maestria. Mas se você tem preguiça de ler (não deveria ter), vai conversar então com a Renata Cruz da Silva. Moradora de rua e com apenas 22 anos, Renata saiu da Bahia com o pai e os irmãos pra tentar uma vida melhor. “Tamo na rua há já faz dez anos. Ora numa cidade, ora noutra. Nem sempre conseguimo arrumar trabalho”, revela Renata. Considerada e vista pela hipócrita sociedade industrial burguesa como uma

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ameaça, a ex-agricultora e empregada doméstica vagueia quase que invisível pelas ruas movimentadas, pelos fartos comércios, pelas casas aquecidas e iluminadas pelas televisões de plasma, sem nunca adentrar “nestes” mundos. “A gente tem que se humilhar por um prato de comida. Somos tratados que nem lixo, que nem bicho pelos outros”, desabafa a jovem Renata. A condição em que a maioria esmagadora da humanidade é colocada pelo capitalismo assemelha-se a das criaturas de Silent Hill: todos vivem nas trevas. Que Silent Hill que nada – talvez nada seja mais assustador do que em meio à fartura consumidora de um “Walmart da vida” sermos abordados por uma criança faminta: com uma margarina e um saco de arroz nas mãos, ela diz “dá uma ajuda pra interar, por favor!”. Saudando Michel Foucault, é notável como nossas instituições totalitárias, mestras em assegurar o patrimônio privado do sistema capitalista tornaram-se mestras na gestão dos corpos, gestão do tempo, dos espaços, da liberdade. O banco está vazio, as praças bem patrulhadas. Mas deixa cair a noite, e veremos os “mortos vivos” de Silent Hill pernoitarem no seio da madrugada em cada viela, canto, beco, marquise e papelão. Apagados durante o dia, os excluídos da glória do capital saltam da dimensão paralela em que são obrigados a definhar para a nossa imaculada realidade, exatamente como as criaturas

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comandadas por Alessa. Mas eles não vem sozinhos: o horror de nossas melhores qualidades vem junto. Reviram o lixo, para beber e comer os restos de nossos “fastfoods” deliciosos. Aguentam firme o frio cadavérico da indiferença e do medo (ah, sim, do relento também). Limpar-se e ter as mínimas necessidades feitas e supridas de forma digna parece um detalhe trivial, já que nossa civilização está atolada em esterco de primeira linha. Por fim, o extremismo direitista e religioso que condenou a pequena Alessa às trevas está mais perto do que imaginamos. Benoit Breville e Johann Hari nos mostram como os EUA podem materializar em apenas uma única campanha eleitoral todos os temores da humanidade: do avanço psicótico do aparato militar-industrial ao ultra-conservadorismo religioso e moralista. Nem precisamos ir tão longe: o que foi o avanço da IURD no Brasil e no mundo nos últimos anos? Por isso, vivemos numa democracia de faz de conta: fazemos de conta que nos divertimos, fazemos de conta que os nossos salários são bons, fazemos de conta que nossa saúde está legal, fazemos de conta que nos importamos com os outros, com o meio ambiente, com “as causas nobres”. Silent Hill nos deixa uma valiosa advertência: é melhor “olharmos” nossa realidade e agirmos, se não quisermos receber a catastrófica visita da pequena Alessa.


Crônicas

Do simples neurótico ao neurótico de Hitchcock Por Lucas Santhyago

Culpa é um conceito bem relativo a círculo social. Digo isso sendo um homem muito resguardado a solidão e aos pássaros. Mas, quando faço amigos, nestas poucas coincidências da vida, sinto culpa mesmo sem nunca ter tido lá meus pecados ou vícios. Amigos com tendências psicodélicas te fazem se sentir um pouco culpado por não entender completamente toda essa felicidade colorida e estampada, barulhenta. Amigos com longas fichas criminais e problemas financeiros te fazem se sentir culpado por ter uma casa, ter dinheiro e odiar assaltantes. Amigos com histórias pra contar te fazem se sentir culpado pela

monotonia de sua vida. Amigos com amores te fazem se sentir culpado por nunca ter ido atrás daquela moça da juventude. Amigos com vidas um pouco originais te trazem a culpa da normalidade e da não-ação. Eis então que conheci essa bela apreciadora da sétima arte. Ela ficou chocada com meus conhecimentos pífios acerca do tema. “O que? Nunca viste Hitchcock? Oh céus.” E era sempre esse Hitchcock, e eu nunca tinha visto o maldito nome dele no cinema em frente a minha casa. Tá, aquele cinema nunca foi referência. Mas ora, ora. Entrei em desespero. Um desespero temperado com certo

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ciúmes. Porque ela amava ele e não eu? O que tinha de mais nos filmes desse cineasta morto? Parti a lojas de DVDs e a cinemas alternativos, parti até locadoras e outros antros de cinefilia. Então encontrei. Os Pássaros. Parecia que aquele careca barrigudo tinha gostos similares aos meus. No conforto de minha casa, com todos os meus colibris, picapaus, papagaios, araras, tuiuiús e diversos outros engaiolados, todos conseguidos por meios cusos e escusos, assisti o filme. Aquilo não mudou a minha vida. - Ok, Mônica, - eu disse a moça quando a reencontrei - eu não acho Hitchcock um gênio. Acabei de assistir Os Pássaros e... - Os Pássaros? Oh, céus, aquele filme assustou fundo na minha alma, por favor. - Bem, a mim não. Na verdade, foi bem cansativo. - Eu disse tudo isso enquanto ela fazia caras que me deixavam cheio de culpa. - Então... É isso? - É, é sim. - Você já deu uma chance a Psicose? - Não. - Dê. - Como é? - Essa mulher rouba um dinheiro do chefe, aí foge para um hotel no meio do nada, no hotel estão só ela e, numa casa próxima, o dono do hotel e a mãe dele. - E? - E eu não posso te contar o resto, vai estragar tudo. - Ah, conta, vai. - Não. - Conta senão eu nem vejo. - Tá, tá, tá bom. Ele era a mãe

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dele, disfarçado. - Que idiotice, eu vou embora. - Ah, qual é, você não se acha pretensioso demais quando diz isso? - Pretensioso? Por favor. Esses filmes não fazem sentido algum. - Eu te odeio Pedro. - Ok... Fui pra casa, sem amigos e sem culpa de novo. Só eu e meus pássaros. Bem, não foi bem assim dessa vez. Ao chegar, me deparei com todas as gaiolas abertas, assim como as janelas do apartamento. Minha mãe sorria na cozinha. “Oi filho!”, ela disse, “vim te visitar, e não te encontrei. Tão bom que eu tinha feito uma cópia da chave da última vez que estive aqui. Você nem sabia né?”. “Mãe, cadê meus pássaros?”. “Eu os libertei por um tempinho. Eles voltam não?” “MÃE!”. Finalmente, eu entendi o estilo de terror de Hitchcock. Quando um fator aleatório que nunca pensamos em nossa realidade causa um enorme distúrbio em tudo que planejamos viver, não há para onde correr. Sejam gaivotas atacando em Bodega Bay, ou um assassino que se veste como a mãe para cometer crimes, ou a sua mãe que ataca a sua casa de repente e solta seus pássaros. Nunca mais voltei àquele apartamento. Deixei a velha trancada lá. O dono disse que, anos depois, foi vendê-lo a uma mulher chamada Mônica, que coincidência. Ela virou a cadeira e teve seu momento Psicose. Não parece tão legal quando tem cheiro, cor e tato.


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