Hashtag Cinema Edição 02 Maio 2013

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HasHtag

Cinema Edição 02 - Ano 01 - Março 2013

Personagens de Quadrinhos que mer ecem estar nos cinemas !

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HasHtag Créditos/Colaboradores

Cinema

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Leonardo Freitas

Estudante de Artes Plásticas pela Faculdade de Artes Dulcina Moraes e dono do blog Perdidos na Gaveta.

Bernardo HM Chacur

“Para amar cinema não é preciso apenas assitir, é preciso falar sobre”. Formado em Letras pela Universidade Federal de Minas Gerais

Natália Roncador

Rafiza Varão

Fotografa e apaixonada por artes, é estudante de Teoria Crítica e História da Arte pela Universidade de Brasília e também Jornalismo pela Universidade Católica de Brasília.

Doutora em Comunicação pelaUniversidade de Brasília. É mestre em Comunicação também pela Universidade de Brasília, graduada em Jornalismo e professora da Universidade Católica de Brasília.

Lucas Santhyago

Clara Nogueira

Estudante de Filosofia pela Universidade de Brasília e apaixonado por cinema e dono do blog Contos Escrotos

Amante de cinema e cultura em geral e estudante de Direito pela Universidade Federal da Bahia

Edição 02 Março 2013

facebook.com/ HashtagCinema

Gustavo Moreno

Tem 20 anos, é um cinéfilo estudante de Sistemas de Informação, apaixonado pela história do cinema, e fã de O Poderoso Chefão, da série 007 e das animações da Pixar.

Fernanda Pinnola

Estudante de Administração, Fernanda ama cinema desde que se entende como pessoa, tem Amelie Poulain como filme favorito

Caio Sigmaringna

Ator, tradutor e apaixonado pela dança, desde criança é apaixonado por filmes e seriados, tendo como maior hobby ler e escrever sobre cinema e a indústria.

Felipe Moraes

É jornalista formado pela Universidade Católica de Brasília. Escreve no caderno de cultura do Correio Braziliense e é dono do blog O Prevísivel


Carta ao Leitor

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omo todo ano que sucede, os filmes mais esperados do ano são a maioria, baseados em histórias em quadrinhos, são eles sequências como O Homem de Ferro 3 e Kick-Ass 2 ou são novas adaptações e talvez novas franquias como o ambicioso reboot O Homem de Aço e o remake Robocop. Sabendo desse novo sub-gênero que

se instalou em Hollywood, preparamos como matéria especial deste mês sobre personagens de histórias em quadrinhos que ainda não tiveram a honra de ter o seu próprio filme e o por quê da adaptação não acontecer. A matéria especial acompanha críticas de filmes que já ganharam seu espaço no meio pop. Como Batman - O Cavaleiro das Trevas Ressurge e O Espetacular Homem Aranha.

Leonardo Resende Editor-Chefe

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o i r á m u S Cinematografia

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Hashtag Persona

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Hashtag Recomenda

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Os Sonhadores

Cristina Freitas

As Vantagens de Ser Invisível

Saiba Cinema Ilusões esquecidas

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O Cinema por ele mesmo

Capa Filmes de Heróis que faltam no Cinema

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Personagens de quadrinhos que merecem estar nos cinemas Batman - O Cavaleiro das Trevas Ressurge O Espetacular Homem-Aranha Os filmes que realmente vão acontecer

Hashtag Festivais Por que se importar com os festivais

Hashtag Dvds e Blu-Rays Lançamentos de Março, Abril e Maio

Crônicas Amor Extra-Terrestre

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Mulher-Maravilha ainda espera ansiosamente por seu filme. Página 18

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Não é que eu sou baixo, mas é o que eu faço que

me define

Christian Bale

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Cinematografia

Os Sonhadores, para sonhadores

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Por Natália Roncador s Sonhadores. E quem não é? Não poderia deixar de escrever, logo nas primeiras edições, sobre aquele sonho que tomou forma real de páginas virtuais, a história de três jovens apaixonados por cinema, que sonham por sonhar. Os Sonhadores (Bernardo Bertolucci) é o único filme que consegue adentrar minha pele de maneira bru-

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ta e definitiva – e eu ainda não sei o porquê. Conscientemente, quando escuto outros sonhadores de mesma faixa etária se referindo ao filme, sempre dizem o mesmo: que algo os prende àquelas cenas, de maneira menos explicável e mais forte possível. Talvez por retratar três almas novas que estão a descobrir o mundo e as sensações sem medo de errar, tendo o cinema como referência em todos os atos. Talvez,

por se inferir em um contexto social-politico de grande peso na sociedade francesa. Talvez, por irem à luta daquela liberdade e igualdade tão desejada, e nas telas descobrir. Ou, talvez, pelo simples fato de sonharem, e com o cinema fazer tudo aquilo se tornar real. A intimidade dos irmãos Isabelle (Eva Green) e Theo (Louis Garrel) e o mundo que criaram em suas mentes, baseado nos filmes por eles assistidos, a sen-

sualidade expressada em tons vibrantes, e paixão que saía em cada palavra, em cada cena, prenderam-me na tela. Na realidade, em aspectos críticos, segundo a linguagem audiovisual, o filme é considerado ‘cru’, sem grandes aplausos. Inclusive, quando lançado, na França, foi mal recebido pela critica, assim como na Itália. Em oposição, foi o filme mais visto no Festival do Rio de Janeiro e na Mostra Internacional de Ci


nema de São Paulo. Sei que não tem a melhor fotografia, roteiro e direção, apesar de achar belíssima a direção de arte, mais especificadamente a vibração de cores e luz em conjunto, mas a ideologia transmitida, tendo como base o cinema, torna o filme cativante. Há três cenas de destaque que mudaram o cenário fotográfico do cinema. Compostas por uma linda fotografia, as cenas ficaram marcadas com a cara do filme. A primeira é a dos personagens atravessando o museu, correndo, sendo o primeiro ponto libertário do filme. A vontade de quebrar as regras de um ambiente que era pra ser de expressão, mas que, pela sociedade, foi cotado como de alta classe, sobressai ideologicamente. A segunda é a

clássica cena da banheira, onde os três tomam banho juntos, se envolvendo no mais íntimo corporal, tendo a carne apenas como representação do material e do tocável, como representação daquilo que se sente, que se pega, que se toca. A última a ser destacada é aquela na qual Matthew (Michael Pitt) tem a primeira relação sexual com a jovem Isabelle, tirando sua virgindade, inesperadamente. Na cena, o filtro cai e os tons se esfriam. O amarelo, base do filme, se perde dando destaque ao azul e esverdeado. A cena se torna fria, assim como o que aconteceu. Na opinião de alguns, essa é a cena mais impactante da produção – e é claro que a fotografia contribuiu para essa percepção. A partir de então, os

dois jovens se envolvem em um relacionamento, direcionando o filme a outra visão. Além dasbelas cenas dos três tomando vinho e cantando clássicos do cinema juntos e do corpo representado apenas como uma massa tocável. Uma curiosidade que poucos sabem é que no livro onde o filme foi inspirado, The Holy Inocentes, havia uma cena de sexo entre os três, com cenas homossexuais entre Theo e Matthew, mas o diretor Bertolucci resolveu cortar. Mesmo que não seja tão polêmico, mas ainda se faz uma das obras cinematográficas mais apaixonantes, intercalada por cores, por luzes, por corpos, peles e sangue. Carregada por vinhos, cigarros, juventude e vidas. Feita por sonhadores. Para Sonhadores.

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Hashtag Persona

Onde mora a beleza da atuação, com Cristina Freitas

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Por Leonardo Resende

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que pode representar a qualidade de um ator recentemente? Quantos filmes fez? Quantos diretores conhece? Cristina Freitas, nova entrevistada da Hashtag Cinema, prova o contrário, que atores são qualificados com a vivência e experiência de vida. Nascida em 28 de fevereiro de 1982, em Campinas (SP), Cristina teve sua infância recheada por encantos e veneração pelas artes. Cresceu fazendo ballet e sapateado, aumentando sua fascinação pelo mundo artístico, Teve ainda o impulso dos filmes, mais especificamente os musicais, nos quais via algo mágico. Sua fascinação precoce não fez com que perdesse seu objetivo. Apesar de iniciar o curso de Direito na Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC Campinas), sua vontade era sempre estar no mesmo lugar que sua diva Bette Davis, na atuação.

Cristina Freitas, atriz. Fotos por Roniel Felipe Interrompeu a faculdade de Direito ao notar que ser atriz não era algo tão platônico quanto parecia. Por algumas indicações, buscou a concorrida Escola de atores Wolf Maya, e passou no teste deixando sua crença de “o que tiver que ser, será” mais vivída. Cristina não tem foco artístico

especifico como teatro, tevê ou cinema, apenas acompanha a demanda. Seus filmes de cabeceira são Gritos e Sussurros e O Que Teria acontecido a Baby Jane, e garante que Hitchcock, Tarantino e Bergman são apenas o início e o básico para a bagagem de um ator. Cristina Freitas pode ser

vista no recente filme W, de Philippe Barcinski, estrelado por Angelo Antonio, com estreia prevista para junho/2013. Participou da série Julie e os Fantasmas da Nickelodeon/Band e atualmente participa do espetáculo musical Pinocchio - O Grande Musical.


HC: Como atriz que vive em São Paulo, por que a demanda e a concentração de atores é tão grande nessa cidade? O que pensa que colabora para essa demanda? Cristina: Na verdade, eu acho que a demanda de São Paulo é grande, mas em outras partes do país somos grandes também. Nós temos atores incríveis no nordeste, grupos muito fortes em Minas Gerais, Rio de Janeiro e em Brasília. São Paulo realmente tem essa concentração maior, porque lá se concentra tudo e todo o lugar do mundo, tem muitas pessoas diferentes de todos os lugares, e as pessoas são muito aceitas por serem diferentes. Acho que a arte cabe muito bem lá, justamente por isso. HC: Ser ator é carregar uma bagagem de personagens, alguns fáceis outros difíceis. O que foi mais difícil em se aceitar como atriz? Algum personagem já influenciou sua personalidade? Cristina: Eu concordo totalmente. Nós, atores, temos uma gama muito grande de sentimentos, posturas e construções muito importantes para qualquer personagem que tenhamos que desenvolver. Quando a gente se aceita como ator, é uma sensação muito boa, a sensação de conseguir mexer com os sentimentos alheios é única, ainda mais em um mundo como o nosso, onde está tudo

mecânico e acelerado. O ator que tem essa mistura muito grande de personagens é uma troca constante, todo ser humano tem raiva, tem amor, doçura, ou seja, uma série de tentações, a gente empresta para o personagem e grifa o que acha que nele vai ser mais interessante. Então, você acaba emprestando um pouco de você e acaba aprendendo com ele. HC: No que você acredita que faz com que a pessoa cresça como ator/atriz? Cristina: Acho que cada personagem tem a sua peculiaridade de dificuldade. Fiz uma vez um personagem muito difícil, uma vez em que eu era a narradora de uma peça. Então, sempre estava no palco e falava demais, falava diretamente com a plateia. Em outra peça, pelo contrário, eu não falava quase nada, mas eu também não saía do palco. Daí, o complicado foi encenar e fazer o público entender suas vontades e sentimentos sem abrir a boca e outros tipos de trabalhos, onde a gente tem a dificuldade de backstage, de você organizar uma seleção de músicas, troca de figurinos, troca de microfones, onde a roupa tem que estar certa, a música tem que estar certa também, a maquiagem tem que estar arrumada e tudo isso em segundos, para você entrar em seguida dançando e cantando. Então,

cada um tem uma dificuldade. HC: Na atualidade, quais os seus maiores desafios para interpretar? O que ajuda ou atrapalha na escolha de um papel? Cristina: Ultimamente, eu não tenho tido escolha. Na verdade, existe uma disputa ferrenha entre bons atores, mas quando a gente consegue, o trabalho vai ser definido de acordo com a equipe. Existem diretores que gostam de agir com uma maneira mais libe-

ral. Já outros gostam de orientar minuciosamente o trabalho do ator. Então, você tem que adequar com a equipe vai fazer, mas é claro que o mais interessante é o diretor e o roteirista estarem de acordo. Quando estão de acordo com o que foi construído, com a linguagem que tem que ser feita e com o que tem que ser construído, o trabalho do ator fica mais claro.

a t s e r p m e agem e t n e g n “A o s r e p parraifoa o que e g a que nele vai ser achis ma ressante” inte

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Hashtag Recomenda

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Por Clara Nogueira primeira vez que ouvi falar do livro As vantagens de ser invisível foi há quase um ano, pouco antes do trailer do filme ser liberado nas telas brasileiras. Uma amiga comentou que era simplesmente um dos grandes clássicos modernos da literatura americana, comparável a The Catcher in the rye (O Apanhador no Campo de Centeio), de Salinger e On the Road (Na estrada) de Kerouac – dois de meus livros favoritos. Logo de início, fiquei apreensiva, apesar de curiosa. Se era mesmo um livro tão “mági-

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co” – nas palavras dela – como eu (que além de cinéfila sou devoradora de livros) pude ignorá -lo durante todo esse tempo? Foi então que, enquanto aguardava o início de Para Roma com Amor, me descobri emocionada pelos dois minutos de trailer desse filme sensível, simples, completo e infinito que é The Perks of Being a Wallflower (título original). Corri para comprar o livro e, dois meses depois, para assistir ao filme. Mesmo depois de virar fã da obra, não foi sem um pé atrás que fui vê-la no cinema. Afinal de contas, adaptações cinematográficas são sempre complicadas.

Traduzir uma linguagem artística numa outra, completamente diferente e muito mais complexa, como é o caso do cinema, é uma tarefa quase impossível. Em outras palavras, traduzir palavras em imagens é uma arte, e não é para todos. Muitos já tentaram, poucos conseguiram. A franquia Harry Potter, por exemplo, através da mudança constante de diretores e, consequentemente, de estilos artísticos e abordagens, ilustra a dificuldade de se adaptar e de se transformar a arte literária na arte do cinema. Foi com esse receio em mente que entrei na sala de cinema. E

foi maravilhosamente satisfeita e surpresa que saí. Esse pequeno grande filme, que não repercutiu tanto quanto merecia, solucionou, com a incrível sacada de ter como diretor o próprio autor, o problema das adaptações, tendo chegado muito perto de uma tradução artística fiel e completa. É assim que Stephen Chbosky nos apresenta uma história sensível e inteligente, com personagens autênticos e de uma profundidade comovente. Dramas, conflitos internos, questionamentos e a busca por “pertencer” são quase que pressupostos da adolescência e o diretor con


segue explorar e retratar esse universo sem cair em estereótipos e superficialidades. O livro-filme traz personagens reais, nem sempre sinceros com seus problemas, aprendendo a lidar com suas próprias subjetividades no contexto de uma sociedade que nem sempre enxerga e compreende. Charlie, interpretado por Logan Lerman, acaba de sair de uma instituição psiquiátrica, após o suicídio de seu único amigo, e enfrenta a dificuldade de ser calouro numa típica high school americana. Extremamente tímido, ele se esforça para fazer amigos. Mas as melhores amizades vêm naturalmente. O ícone queer Patrick e sua meia-irmã Sam são dois indivíduos singulares, que não pertencem a nenhum grupo específico e fogem aos típicos padrões hollywoodianos adolescentes. Gay assumido, Patrick, na maravilhosa atuação de Ezra Miller, não esconde quem é, apesar de manter em segredo seu relacionamento com o quarterback enrustido Brad (vivido por Johnny Simmons). Já Sam foge da popularidade que se espera de uma garota notadamente bonita. Com um passado difícil, um gosto musical impecável e, é claro, a incrível interpretação de Emma Watson, que, mais uma vez, mostra ser uma atriz talentosa e versátil, Sam conquista não só a Charlie,

mas a todos os cinéfilos. Assim como no livro, a narração em 1ª pessoa dá veracidade e honestidade à história, que se desenrola com leveza e diverte ao mesmo tempo em que emociona. A trilha sonora também tem um papel essencial na obra. Músicas como Asleep do The Smiths, MLK do U2 e Heroes de David Bowie (esta última, a música de fundo da cena mais emocionante do filme) são a alma da história e traduzem toda a angústia, a insegurança e o amor vividos pelos personagens. Começando pelo roteiro, cuja adaptação realiza a difícil tarefa de não decepcionar os fãs do livro, passando pela surpreendente direção do autor, Stephen Chbosky, e concluindo espetacularmente com o elenco jovem, que traz atuações dignas de nota, o filme é o melhor do cinema e faz você se sentir parte de algo se sentir, por mais clichê que possa parecer infinito.

“Right now we are

and in this moment I swear... We were

“We accept the love we think we deserve” oes

- Her ie w o B id v Da

“Dear Friend, I’m sorry I haven’t wri tten in awhile, but I’ve trying hard to not be a loser” 11


Saiba Cinema

Ilusões esquecidas

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Por Felipe Moraes ue os fãs de Star Wars não se irritem com a provocação da próxima frase. É que durante 1983, ano em que Darth Vader foi rendido pelo bom-mocismo jedi, passaram pelo cinema três sujeitos, tão vilôes quanto heróis e vítimas, bem mais instáveis, nervosos e representativos de uma época do que o grande algoz das galáxias. Max Renn (James Woods), Rupert Pupkin (Robert De Niro) e Tony Montana (Al Pacino), hoje trinta anos mais velhos do que na estreia dos filmes que protagonizaram, envelheceram bem e continuam, cada um à sua maneira, personas que

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registram no próprio corpo noções delirantes, e ainda atuais, de fama e celebridade. Talvez o mais urgente dos personagens seja Max Renn, programador e proprietário de uma estação de tevê de conteúdo duvidoso (pornografia leve e violência) sediada em Toronto, no Canadá. Em Videodrome, cuja trama é ligeiramente explicada pelo subtítulo em português (A síndrome do vídeo), o diretor David Cronenberg, a quem, aliás, a conexão entre sexo e sangue é tão crítica em seus melhores filmes, coloca Renn diante do que pode significar uma nova era para a tevê: um sinal pirata vindo da Malásia e com ele um progra-

ma chamado Videodrome -- série de filmes amadores com cenas de tortura e morte. Por mais que Cronenberg dê contornos de conspiração política e lavagem cerebral coletiva à trama, a força do filme repousa no enorme volume de questões levantadas pelo cineasta, numa espécie de ensaio sobre a febre televisiva. O sinal de Videodrome é alucinante, hipnótico e lança Renn num limbo de experiência real e representação. Não é difícil ligar o estado do personagem à seguinte pergunta: há diferença entre ver violência ao vivo ou pela tevê? Num mundo em que a vida é mais assistida que vivida, não há. Uma das maiores ousadias

do filme é justamente esta: a frontalidade de expor a nós mesmos, que em algum momento estivemos sentados e quietos vendo Videodrome, a experiência mediada de assistir a um personagem massacrado e alimentado por experiências mediadas. Não é à toa, portanto, que Renn acredite ter um entrada de VHS na altura do umbigo ou que as pessoas vaguem pelas calçadas não em busca de guimbas ou trocados, mas de raios catódicos. Aqui, não existe isso de “a revolução não será televisionada”. A revolução é própria tevê, ora, é o nascimento de uma nova raça humana. Não é?

A falência da fama

De um jeito curioso -- e


talvez não pelo simples acaso

--, o Rupert Pupkin de O Rei da Comédia é uma espécie de espectador modelo da nova humanidade inaugurada por Videodrome. Martin Scorsese, um cineasta do pesadelo, filmou aqui um de seus personagens mais enervantes. Sim, mais até que o insone de Taxi Driver, o paramédico de Vivendo no limite ou o Messias humanizado de A última tentação de Cristo. Pupkin vive com a mãe, tem um cômodo só seu e vive de um sonho -- ser um apresentador de tevê tão cômico e conhecido quanto Jerry Langford (Jerry Lewis). O fã chegou a conhecer o ídolo uma vez, mas, nas vezes que tentou mostrar seu trabalho, foi recusado sem cerimônia. Já que é assim, pensa, por que não sequestrar Langford, mantêlo em cativeiro e só liberá-lo se ele, Pupkin, puder gravar a

abertura do próximo programa de Langford com piadas suas e o show for televisionado como qualquer outro? O Rei da Comédia é sinistro por vários motivos - Masha (Sandra Bernhard), parceira de crime e fantasia de Pupkin, desvela o lado sombrio das groupies --, sobretudo pelo tratamento dado por Scorsese não ao esgotamento da celebridade, mas ao processo enganoso e vazio de celebrização. Pupkin torna-se, por vias tortas, uma celebridade tão conhecida quanto Langford -- e mais, tão conhecida por causa de Langford. O que importa para Pupkin -- e também para Langford -- é ser reconhecido, e só a tevê parece dar sentido a essa (re)visualização social de si mesmo. Falando em vias tortas, finalmente chegamos ao mais popular dos três personagens que viraram trintões em 2013. Se todo

mafioso é metade criminoso, metade celebridade, Tony Montana merece uma calçada da fama inteirinha só para ele. O tal “prisioneiro político de Cuba” fugiu do regime castrista e desembarcou em Miami à procura de uma vida melhor. Tal como quase todos os criminosos de grife, começou de baixo, sem um tostão no bolso, e será derrubado pela ganância. O arco dramático é óbvio. O que Scarface apresenta de diferente é o gosto pelo cartunesco, pelo exibicionismo, elementos caros a qualquer performance ou performer que se pretende midiático. Só isso explica por que os fanáticos por Scarface repetem de cor dezenas de dizeres, chistes, lampejos de fúria e palavrões (ah, os incontáveis fucks) de Tony. Brian De Palma, diretor às vezes mal entendido como imitador de

Alfred Hitchcock, é mestre nisso: tornar o histrionismo de alguns de seus filmes um comentário sobre a violência -- ou sobre a própria violência no cinema. E Scarface é o epítome do espetáculo, a síntese de um exagero verborrágico e gestual que inclusive permeou toda a carreira futura de Al Pacino, em títulos como Perfume de mulher (1992), pelo qual ganhou seu único Oscar, e Advogado do Diabo (1997). Cada aparição de Tony serve como um esquete tragicômico inscrito na velha tradição de ascensão e queda de outros gangster movies, bem como Scarface -- A Vergonha de uma Nação (1932), do qual o stand-up de três horas filmado por De Palma é tributário. Max Renn, Rupert Pupkin e Tony Montana. Ou: três sinônimos de ilusão.

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Saiba Cinema

O Cinema por ele mesmo

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Por Gustavo Moreno sétima arte desde a sua Gênese sempre abordou os mais diversos temas, de modo que pudesse atrair todo tipo de público, todo tipo de pessoa que se interessasse por determinado tema com certeza encontraria um ou outro filme que abordasse esse tema em especial, o cinema é uma arte popular, tão ou quiçá mais popular que a música. No meio de tantos temas e assuntos que vemos sendo abordados no cinema seria bastante improvável não encontrar o próprio Cinema!

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Sim, desde os seus primórdios o cinema sempre adorou exaltar a si mesmo, a promover a si mesmo, a criticar a si mesmo e a expor a si mesmo, a metalinguagem é um recurso bastante presente na arte cinematográfica, o cinema falando de cinema. Um dos primeiros a se utilizar da sétima arte para retratar o seu funcionamento foi um dos grande precursores do cinema, Georges Meliès, em seu filme La Lanterne Magique de 1903 onde os protagonistas, dois agitados palhaços montam uma enorme lanterna que projeta imagens em

movimento, de certa forma uma mitificação da figura do projetor, era Meliès dizendo ao espectador que o cinema era uma coisa mágica. Já outros preferiam fornecer uma visão mais estapafúrdia e exagerada de como funcionava a experiência do cinema, como fez D.W. Griffith em 1909 com seu curta Those Awful Hats, onde tudo que Griffith fez foi posicionar uma câmera em um tripé na entrada de uma sala de cinema e eis que temos uma das mais absurdas situações em uma sala de cinema que já foi concebida, consiste basicamente em um casal

um tanto excêntrico que começa a perturbar a paz na sala de projeção, sendo seguidos por um grupo de mulheres que conseguem ser ainda mais excêntricas, tipo de filme que dispensa palavras e as imagens falam por si. O cinema é tão abrangente de diversas formas que a própria metalinguagem abre porta pra diversas maneiras de explorar o cinema dentro da própria narrativa cinematográfica, e por esse motivo é de se esperar que até mesmo os grandes astros e empreendedores do cinema tenham em seu currículo pelo menos uma obra que


contenha essa metalinguagem, um desses astros/empreendedores é Buster Keaton, um astro da mímica no cinema equiparável a Chaplin, mas infelizmente, menos reconhecido, em 1928 ele lançou o filme O Cameraman que conta das peripécias de um jovem que arruma emprego como cameraman na, veja só, MGM, porque se apaixona por uma funcionária do estúdio , foi um dos filmes que contribuiu para impulsionar a carreira de Keaton e também foi o primeiro dele pelos estúdios da MGM, e com certeza um dos primeiros registros da dissecação e exposição dos bastidores cinematográficos em um filme, tornando o filme tão significativo que o mesmo chegou a ser adicionado em 2005 ao National Film Registry por reconhecimento a seu valor cultural, histórico e estético. Quase um homônimo do filme anteriormente menciona-

do, mas com uma proposta completamente distinta, Um Homem com uma Câmera, de Dziga Vertov, lançado em 1929, está mais para uma sugestão de estética cinematográfica do que metalinguagem em si. Apesar da metalinguagem ainda permanecer presente na obra, o filme tem um teor mais prosaico, mostra um cinegrafista acompanhando e registrando o desenvolver de um dia comum em Moscou. O filme foi inovador em termos de montagem e sequenciamento e serviu de referência para diversas obras posteriores, como os filmes vanguardistas da série Qatsi (Koyaanisqatsi, Powaqquatsi e Naqoyqatsi) do diretor Godfrey Reggio que também apresentavam a proposta de mostrar a “vida em movimento”. Filmes como Nasce uma Estrela da às pessoas que sonhavam em (Willam A. Wellman) de 1937, incursionar como profissionais eram uma espécie de auto-aju- do cinema. O filme conta um plot que foi repetido à exaustão no cinema e de muitas maneiras diferentes. Como o próprio título sugere, temos aqui a clássica trama da jovem que almeja tornar-se uma estrela de cinema, e como de costume, a garota é de origem humilde, uma garçonete, graciosamente interpretada por Janet Gaynor, recrutada por um olheiro para transformá-la numa estrela e obviamente, apaixona-se por ela durante o processo.

“O cinema é tão abran-

gente de diversas formas que a própria metalinguagem abre porta pra diversas maneiras de explorar o cinema”

Filmes que mostram de maneira otimista esta faceta glamourosa e tão almejada de Hollywood se tornaram tendência à partir dos anos 1930, o que com certeza contribuiu para aumentar a popularidade da sétima arte e fascínio do público por ela. O próprio cinema se encarregou de construir sua reputação e formato no imaginário popular, um dos filmes que carregava essa idealização glamorosa do cinema foi o clássico musical Cantando na Chuva (1952), a obra prima de Gene Kelly, que insistia em deno

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tar o quão alegre e animada era a vida de dois astros do cinema, mesmo com todos os percalços que insistem em aparecer. Como a consequência da chegada do cinema falado para dois artistas de cinema mudo, filmes como este motivavam as pessoas a quererem entrar para o cinema com a ideia criada pelos próprios filmes de que as estrelas levavam uma vida mágica, algo distante do cidadão comum. No entanto, havia filmes que mostravam uma visão mais realista do lado mais sufocante e cobrador da vida de estrela. Um exemplo notório é o belíssimo filme Crepúsculo dos Deuses,(Billy Wilder) de 1951, que trata de maneira bastante crítica as consequências a que um ator (no contexto do filme, uma atriz) seria capaz de chegar para manter-se

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no foco da fama. Destaca-se pelo uso absurdo de metalinguagem ao mostrar de maneira rápida como funciona a construção de um roteiro no cinema, de expor o perfil predatório dos burocratas hollywoodianos, de mostrar os critérios de escolha de um astro para determinado papel e também por utilizar grandes estrelas daquela época e de épocas anteriores no papel deles mesmos para acrescentar ainda mais realismo à trama, como Cecil B. DeMille e estrelas do cinema mudo já aposentadas e com semblantes cálidos e abandonados. Uma dessas estrelas do cinema mudo mostradas no filme é Buster Keaton que tem uma rápida e melancólica aparição. Apesar de termos os dois lados do cinema expostos e destrinchados para o

grande público, o cinema ainda despertava um fascínio paradoxal a platéia por, ao mesmo tempo que mostrava os bastidores da sétima arte como algo transcendental e acima do homem comum, também mostrava que nele também corriam problemas cotidianos como ocorre em todo lugar. Da tragédia à magia, da magia à tragédia A dualidade metalinguística entre mostrar o lado mágico e trágico da arte cinematográfica sempre esteve presente no cinema, filmes que exaltam e filmes que criticam a própria indústria cinematográfica das mais diversas formas, seja criando situações para representar os bastidores, seja relatos de situações reais. Avançando mais um pouco no

tempo, temos o ótimo e cativante filme Cinema Paradiso, (Giuseppe Tornatore) de 1988, que mostra uma relação de amizade construída através do cinema, o clássico plot otimista de que o cinema é uma arte que une as pessoas pela motivação de contar histórias, sem deixar de lado o drama e outras questões emocionais. Embora em Cinema Paradiso pareça que a questão do cinema é um mero pano de fundo para tratar de sentimentos, a perda e outras coisas, na verdade, tudo isso gira em torno do cinema, pois, a princípio, o cinema torna possível a existência de todos os outros elementos no enredo. Mas nem só de adaptações de histórias reais ou histórias criadas vive a metalinguagem no cinema. Há também relatos


documentais sobre como o cinema funciona e um dos mais marcantes é Francis Ford Coppola – O Apocalipse de um Cineasta (1991), no qual a própria mulher de Francis Ford, Eleanor Coppola, revela ao mundo as gravações que fez dos bastidores de Apocalipse Now (1979), a obra mais difícil de Francis Ford Coppola. O filme, teoricamente, poderia ser caracterizado como um making of, mas sendo tão trágico como é, já se torna mais do que isso, pois foca no exacerbado desespero, sensação de impotência e decepção que tanto Coppola quanto os atores e toda a equipe de produção passaram durante as gravações de Apocalipse Now. A tragédia se torna ainda mais contundente quando o filme dá a entender que esse tipo de produção conturbada é algo mais comum que se imagina em Hollywood e muitas vezes até pior - praticamente uma bola de aço em cima de toda a ideia de Cinema Mágico.

“A dualidade metalinguísti-

ca entre mostrar o lado mágico e trágico da arte cinematográfica sempre continuou presente no cinema”

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e d s n e g a n o s r e P m e c e r e m e u q s o h n i r d a u ! Q s a m e n i c s o n r a t es

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Capa

k

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!

Por Leonardo Resende, Leonardo Freitas e Lucas Santhyago

P

ensando na demanda criada pelo público depois da majestosa trilogia do homem morcego de Christopher Nolan (A Origem) e também na fracassada tentativa de uma nova franquia (Lanterna Verde), criou-se então uma expectativa dos fãs da DC Comics de verem no cinema o mesmo nível de qualidade que a Marvel Studios tem em suas adaptações. Em 2012, foi anunciada uma adaptação do primeiro arco de histórias da nova revista da Liga da Justiça, uma das equipes de heróis mais icônicas da cultura pop, para 2015. O projeto teria o roteiro de Will Beall (Caça aos Gangsters), um escritor estreante. Além do roteiro, foram cotados inúmeros diretores para o grande emprego, dentre eles: Zack Snyder (do inédito Homem de Aço), Ben Affleck (Argo) e Christopher Nolan. Snyder e Nolan recusaram, Affleck considerou a chance

grande demais para seu potencial estreante. Para felicidade dos fãs (ou não), o roteiro de Beall foi descartado, deixando o público órfão. O burburinho na impressa especializada em quadrinhos divulga o projeto da Warner como iniciante no vindouro O Homem de Aço, que possivelmente terá uma menção a Mulher-Maravilha, também membro importante nas histórias da Liga. Essa menção abriria portas para filmes com outros personagens da equipe, como a própria Maravilha, Flash e Aquaman, já visando um universo cinematográfico coeso unindo-os no filme do grupo de heróis. Eles merecem seu espaço, uma vez que suas histórias contém uma mitologia da qual roteiristas ou cineastas podem utilizar para trazer algo novo ao cinema. Assim como X-men (2000) ou Batman - O Cavaleiro das Trevas (2008). Projetos de filmes solo com os personagens da DC Comics que deveriam encaminhar para

Gina Carano (meio) seria uma excelente escolha para Mulher-Maravilha e Ben Affleck (topo) que já esteve cotado para dirigir A Liga da Justiça. E Armie Hammer que estava na lista de favoritos para interpretar um novo Batman.

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Ver Batman e Superman no mesmo filme, sonho de qualquer fã

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um filme de grupo como Os Vingadores (2012) quase não existe, ou seja, existe um rumor aqui ou ali, mas nunca é consistente. Com a famosa heroína amazona, tentou-se fazer uma série de televisão com Adrianne Palicki, um fiasco, o que deixa poucas esperanças pra projetos futuros com a personagem. Apesar disso, Michael Green e outros da equipe de roteiristas de Lanterna Verde (2011) são nomes fortes para uma possível equipe criativa para um próximo filme, e também para os outros projetos solo. Infelizmente o filme Lanterna Verde não conseguiu um retorno da crítica e muito menos do público, não conseguindo nem cobrir os gastos de seu orçamento. O que levou o piloto da série da Mulher-Maravilha a ser recusado foi a extrema diferença entre o que se conhece da personagem em senso comum e a proposta de modernização da mesma na série com base no que havia sido feito em Smallville, a série do Superman jovem. Outra série de TV que tentou seguir o sucesso da já consagrada é Arrow, que usando um personagem pouco conhecido do grande público pôde inovar mais e funcionou, a série já tem confirmada uma segunda temporada. A série possui o clima policial dos filmes de Christopher Nolan com

o Batman, que, culminando com o recente reboot da DC Comics, mudou até mesmo o olhar do público de quadrinhos sobre o personagem. Apesar do sucesso do Batman de Nolan, o diretor não vê proveito em sua trilogia ser aproveitada para o filme da Liga da Justiça, o que em tese atrasaria um pouco o fechamento da adaptação da Liga. Se a Warner corre para lançar um filme com qualidades cinematográficas comparáveis às obras deixadas por Nolan, tentando encaixá-lo como supervisor de sua linha de adaptações da DC Comics, ou seja, tentando dar um ar de seriedade ás suas tramas, não notou ainda o potencial das animações adaptadas como Batman e o Capuz Vermelho, Justiça Jovem, Liga da Justiça Sem Limites, entre outras. Com trilhas sonoras impecáveis e ótimo uso da ação, os personagens ganham personalidade e diferem dos caricatos Superamigos dos anos 1970. Infelizmente, essas animações têm sido mais vistas por um público infanto-juvenil, o que as enfraquecem diante de um público mais crítico e mais fechado. Também é preciso perceber que cada herói se encaixa mais a um tipo de proposta, como Homem-Aranha (2002) fitou com o drama adolescente, Os Vingadores (2012)com uma dinâmica en


tre ação e comédia, Batman com o thriller policial e Capitão América (2011) com o estilo retrô. A Marvel Studios tem muito respeito do público de quadrinhos por colocar grandes nomes da mídia do formato original (como Joss Whedon) trabalhando na mídia adaptada, o que a Fox, que faz os filmes dos X-Men, já notou e chamou Mark Millar, renomado quadrinista como consultor do próximo filme dos mutantes, X-men: Dias de um Futuro Esquecido. A Warner, por vezes, usa nomes de peso da indústria de quadrinhos como consultores, no exemplo de Geoff Johns em Lanterna Verde. Talvez aliando os consultores dos quadrinhos com grandes cineastas como Nolan ou Snyder os projetos fiquem cada vez mais interessantes tanto para quem vai ver o filme pelos personagens como para quem vai ver o filme pelo filme. Existem de fato tentativas de criar franquias de heróis queridos dos fãs, mas sob a memória do alto padrão de qualidade criado por filmes aqui citados, talvez se arrisque pouco para não errar feio como em Lanterna-Verde. Pelo visto, o cinema de quadrinhos já tem visibilidade e agora clama por respeito.

! s i a M a b i Sa

o x u L e d e t n a r u g i F cer por e r a p a a r a P inutos m 0 1 s a n e ap an - O em Superm or Fime, o at ando Marlon Br achê de c m u u e b rece hões. l i m 4 $ S U

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Batman - O Cavaleiro das Trevas Ressurge

E

m 2008, quando aconteceu a estreia da sequência de Batman Begins, Batman - O Cavaleiro das Trevas, nenhum fã e espectador esperava a qual patamar o diretor Christopher Nolan poderia levar as adaptações de histórias em quadrinhos. Anunciado o terceiro e último capitulo, as expectativas foram muito altas. Lançado este último capitulo da saga, pode se dizer que Christopher Nolan realmente reinventou o herói-morcego, mesmo que não consiga superar a originalidade e qualidade deixada por seu antecessor. Batman - O Cavaleiro das Trevas Ressurge (2012) começa oito anos depois dos acontecimentos do segundo filme. Bruce Wayne/Batman (Cristian Bale) fica recluso e assume os assassinatos deixados pelo promotor Harvey Dent, deixando sua reputação intacta, mesmo que depois de morto. Mesmo que a cidade esteja “lim-

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pa” graças a Lei Dent, Batman é obrigado a voltar depois que um terrorista chamado Bane (Tom Hardy), treinado por seu antigo mestre (Ras Al’ghul), ameaça Gotham City, além de ter que lidar com gatuna Selina Kyle (Anne Hathaway). Neste novo capitulo, Nolan tenta encerrar a franquia colocando o maior desafio que o herói poderia enfrentar. Para colocar um ponto final, o filme fica, às vezes, muito corrido e não deixa seus personagens se desenvolverem, deixando-os incompletos, como a origem de Bane e de Selina Kyle que não são citadas. Mesmo que ambos tenham atuações excelentes, com a última dando uma outra atmosfera de realidade para Mulher-Gato. Por fim, este capítulo da franquia de Christopher Nolan está aquém ao seu antecessor por ter um enredo corrido demais e furos de roteiro, mas consegue se sustentar pela mitologia do personagem.


O Espetacular Homem-Aranha

H

á dez anos, o super -herói preferido da Marvel foi responsável por protagonizar aquela que viria a ser uma das mais elogiadas adaptações de uma história de quadrinhos para os cinemas. Homem-Aranha (2002), dirigido por Sam Raimi (A Morte do Demônio) e interpretado por Tobey Maguire, foi elogiado pela crítica e público e ainda hoje ocupa um lugar muito estável na lembrança, seja de leitores, seja de fãs de super-heróis em geral, com um dos filmes mais marcantes do gênero. Não foi necessário muita espera para que o filme ganhasse uma sequência e fechasse uma trilogia com o excelente Homem-Aranha 2 (2004) e o controverso Homem-Aranha 3 (2007). Eis que no ano de 2012 o menino dos olhos da Marvel ressurge totalmente repaginado pelos olhos do diretor Marc Webb (500 dias com ela). Optar por um reboot apenas cincos anos após o último filme de Sam Raimi foi visto por muitos olhos desdenhosos como um caça-níquel desnecessário. Ledo engano. Peter Parker foi criado pelos tios Ben (Martin Sheen)

e May (Sally Field) depois que seus pais, misteriosamente, fugiriam quando esse ainda era uma criança. Já adolescente, seguindo pistas que, acreditava, o levariam a esclarecimentos sobre o desaparecimento dos seus pais, Peter é acidentalmente picado por uma aranha radioativa que o transformou no Espetacular Homem-Aranha. Tan Dam! A estética está claramente inspirada no universo Ultimate da Marvel, mas o roteiro é nostálgico, focando numa das melhores épocas da vida do herói nos quadrinhos, o colegial, e, daí em diante, é só alegria para os fãs. Está tudo ali: colegial, Flash Thompson, Gwen Stacy, Dr. Curt Connors, Capitão Stacy, o Lagarto e até os icônicos lançadores de teia. Tudo cheira a papel jornal, há muito esquecido debaixo das teias. O aracnídeo dessa vez é interpretado por Andrew Garfield (A Rede Social). Enquanto o Peter Parker de Tobey Maguire era demasiadamente passivo, o de Garfield é o que mais se aproxima do herói que os leitores conhecem: um cérebro genial escondido em uma cabeça introvertida. Como visto em 500 dias com ela, Webb tem habilidade para dirigir atores. Aqui, todos tem uma inter-

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ção para além de satisfatória. A relação de Peter com seus tios, com sua namorada, com seu tutor, seu sogro, são todas sinceras e convincentes. Embora a morte do tio Ben tenha sido mais icônica no filme de Sam Raimi, aqui tudo soa mais orgânico e natural. Não existem frases de efeitos (“great power, great responsability”) e é tudo tratado com mais sutileza e realidade. O amadurecimento do herói pode ser acompanhado durante todo o filme. Com nada acontecendo de imediato, tal ritmo opta por deixar a maioria dos conflitos a serem resolvidos nos próximos filmes. Apesar de ser um pouco longo, tanto tempo é facilmente distraído por toda a parte visual do filme. Acompanhar, o herói se balançando na teia, lutando, saltando, caindo, andando pela parede e caindo de novo... é um deleite visual impressionante. Tudo beira a perfeição com movimentos soberbamente coreografados. O 3D também é uma surpresa, bem utilizado e divertido. Talvez o maior problema do filme fique por conta do vilão, mesmo que Rhys Ifans se esforce, as motivações do Lagarto são tão profundas quanto uma colher de chá. O mesmo não pode ser dito a respeito do romance. Se há um quesito no qual O Espetacular Homem-Aranha reina sobre todas as

demais adaptações de super-heróis, é em seu relacionamento romântico. O maior triunfo está na química entre Peter e Gwen Stacy (Emma Stone). Se você ainda sente falta da Mary Jane, esqueça! Gwen Stacy se mostra uma personagem muito mais carismática e forte do que a antiga ruiva. Por mais que o Espetacular Homem -Aranha não alcance o tom cômico do filme de Sam Raimi, essa refilmagem se mostra muito mais profunda emocionalmente que a antiga trilogia. O filme está distante de ser perfeito, mas ainda mais longe de ser ruim, mesmo com deslizes, nota-se que o herói está sendo tratado com muito respeito, por pessoas que entenderam a verdadeira essência do personagem. Peter Parker tinha todos os motivos para não querer ajudar as pessoas, mas se põe em conflito ao se deparar com questão da responsabilidade. O final do filme mostra que esse assunto será levado a outro patamar na já adiantada sequência. A atriz Shailene Woodley viverá Mary Jane Watson. Especula-se Paul Giamatti como o Rhino e se confirma Jamie Foxx como Electro. Enquanto a sequência não sai, podemos aproveitar o filme em DVD ou Blu-Ray, pois o Homem-Aranha de Marc Webb é, de fato, espetacular.


Filmes que realmente vao Acontecer Enquanto a DC Comics enrola, a Marvel Studios confirma um projeto atras do outro...

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Os Vingadores 2

Os Vingadores (2012) estreou batendo recordes e arrecadando milhões e acabou com a bilheteria mundial na casa dos bilhões. Nada mais obvio que o sinal verde para a continuação. E graças a todo esse sucesso a Marvel Studios não quer tirar o fenômeno Joss Whedon da direção, mesmo que o diretor já tenha anunciado que não sabe qual rumo tomar com a sequência.

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O Espetacular Homem-aranha 2

O Espetacular Homem-Aranha não foi um hit nas bilheterias como foi a primeira adaptação feita por Sam Raimi, mas ainda não fez feio, arrecadando mais de 750 milhões! Não é muita coisa se comparado com o filme Os Vingadores, mas esses números animam qualquer produtor por uma sequência. Mais ainda ser for um personagem tão querido como esse.

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Thor:o Mundo Sombrio

A cada ano que passa a Marvel está cada vez mais expandindo o seu universo nos cinemas, com a bilheteria arrebatadora do filme Os Vingadores, a editora de gibis não vê feito mais lucrativo do que dar sequência à filmes-solos como Thor, Homem de Ferro e Capitão América. As filmagens foram iniciadas em março e tem estreia prevista para novembro de 2013.

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A maioria dos filmes desta lista contam com o sucesso dos Vingadores, agora que a Marvel desseminou seus personagens para todos os lados, qualquer coisa que for lançada será assistida e para aumentar o universo, o estúdio resolveu adaptar sua história de herois em equipe para as telas. Se a formula dos Vingadores deu tão certo, por que não usá-la novamente?

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Hashtag Festivais

Por que se importar com os festivais

Q

Por Bernardo HM Chacur

uando nos deparamos com ocasionais notas de imprensa sobre os grandes festivais, algumas perguntas são inevitáveis. E elas convergem para: qual sua relevância para o cinéfilo? Deveríamos nos importar com eles? Vamos imaginar que você se interesse por cinema e que não queira se limitar aos blockbusters. E, ao mesmo tempo, que já tenha percebido as limitações do suposto contraponto, o tal ‘filme de Oscar’. E, por último, que não seja alérgico às produções vindas de fora dos Estados Unidos. Se

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você se identificou com o perfil descrito, é possível que o assunto contenha algo do seu interesse. Convém desmontar a idéia de que tais eventos são dominados por obras inacessíveis. Um exemplo: a animação Os Croods teve estréia mundial na Berlinale. Mas, de modo geral, representam um cinema que não é feito na linha de montagem, ou que pelo menos não é feito na linha de montagem hegemônica. Com alguma intenção (ou pretensão) autoral. As produções de maior porte já possuem uma estrutura que as viabilizem. As demais podem depender de uma boa recepção em um festival para obter um

acordo de distribuição. Muitas sequer sairiam do papel sem essa perspectiva. Isto é especialmente relevante para os títulos não feitos em Hollywood, cuja participação no mercado internacional é incomparavelmente menor. As competições se espalham pelo calendário de forma a alimentar e aproveitar o ciclo de notícias da imprensa especializada. Sundance é realizado em janeiro, Berlin em fevereiro, Cannes em maio. No meio do ano, pausa para cobrir as superproduções do verão americano. Entre agosto e setembro, Veneza e finalmente Toronto, que costuma ser a estréia norte-americana

de vários destaques dos festivais europeus e a primeira olhada em alguns dos candidatos ao Oscar. Daí em diante, os cotados para os prêmios da Academia dominam a pauta até a efetiva premiação em fevereiro do ano seguinte. E recomeça o ciclo. Pelo menos de acordo com o juízo da crítica, tais mostras costumam reunir o melhor da cinematografia mundial. Em duas das mais tradicionais listas de melhores do ano - as elaboradas pelas revistas Cahiers du Cinema e Sight and Sound (do British Film Institute) - todos os selecionados competiram ou foram exibidos em Cannes, Vene


za, Berlim, Sundance ou Toronto. Cannes tem posição de destaque: doze entre os dezoito citados. E como Cannes consegue esse nível de “acerto”? Basicamente, priorizando diretores já respeitados. Dos vinte e dois integrantes da mostra competitiva de 2012, catorze eram dirigidos por realizadores que já haviam concorrido à Palma de Ouro (e outros três já haviam participado em uma das mostras paralelas). Ainda que sejam importantes e necessários, os festivais não estão acima de críticas e é importante que os questionemos. No caso acima: com o seu conservadorismo evidente o comitê organizador de Cannes (e dos demais) não estaria direcionando atenção sempre para as mesmas pessoas, as mesmas ideais e as mesmas estéticas? Cannes também vem sendo criticado nos últimos anos por um aparente sexismo: em 2012 nenhuma diretora na mostra competitiva. A justificativa clássica - que a seleção se baseia estritamente em critérios artísticos - caiu em descrédito graças a algumas inclusões que ficaram entre o decepcionante (o egípcio After the Battle) e o medíocre (Caça aos Gangsters). Havia curiosidade sobre como a questão seria tratada em 2013, mas os que esperavam uma

retratação decepcionaram-se: apenas uma diretora (a italiana Valeria Bruni-Tedeschi) concorrendo à Palma. E completando o quadro, apesar de suas filmografias respeitáveis, tanto a francesa Claire Denis quanto a americana Soffia Coppola foram relegadas à competição paralela Un certain regard (Um Certo Olhar), normalmente reservada a cineastas iniciantes ou pouco conhecidos no cenário internacional. As polêmicas não envolvem apenas Cannes. Sundance, realizado no estado americano de Utah e cujo objetivo seria fomentar o cinema independente, é periodicamente criticado por ter sido cooptado pelos estúdios, da mesma forma que os eventos europeus são criticados pela presença maciça de Hollywood entre os títulos exibidos e até na composição de seus júris. Mesmo com essas ressalvas, os festivais seguem gerando interesse, alimentado por nossas expectativas, talvez ingênuas, de que através deles encontraremos grandes filmes. Buscamos evidências para renovar uma crença: de que o cinema ainda é uma mídia vital e capaz de surpreender. No processo, ocasionalmente nos deparamos com algo capaz de renovar o nosso entusiasmo e isto é o suficiente para nos fazer persistir na procura.

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Hashtag Dvds e Blu-Rays 0 Segredo da Cabana

É

raro um filme reinventar completamente seu gênero, desconstruindo e subvertendo suas tropes (situações e personagens que são tão comuns que já viraram praticamente parte obrigatória do estilo). Com sorte, um longa assim aparece a cada dez, vinte anos. No gênero do horror, o último a conseguir essa façanha foi Pânico, de 1996. Segredo da Cabana, misto de comédia e horror dirigido por Drew Goddard e co-escrito por Joss Whedon ( célebre escritor de filmes e séries sci-fi e fantasia, da série Buffy e do filme Os Vingadores), atinge esse objetivo. O filme começa com cinco amigos seguindo viagem para um final de semana em uma cabana

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na floresta. As personagens são arquétipos conhecidos deste tipo de filme, como a estudiosa virgem, a loira burra, o drogado. Situações comuns ao estilo também aparecem em grande quantidade, como o velho assustador que avisa os jovens a não continuar viagem, ou o livro antigo que, ao ser lido, liberta uma maldição antiga (A premissa básica é praticamente igual a de A Morte do Demônio, clássico cult da década de 80 que ganha remake este ano). Em 1996, Pânico foi um sucesso de bilheteria, estimulando uma década de imitações que nunca conseguiram manter a qualidade do original. Neste, o filme utilizava-se da metalinguística para ridicularizar os clichês e trope” do gênero horror, mas

ainda assim os utilizava no roteiro. Já em Segredo da Cabana, o que o diferencia das dezenas de terror adolescente lançadas a cada ano, e abre porta para discutir uma revolução no gênero, é, além do humor que brinca com situações comuns em filmes de terror, que são usados na narrativa, como em Pânico - uma história paralela sobre pessoas misteriosas em um grande laboratório. A medida que essa sub -história vai ficando mais clara, e ligando-se aos personagens principais, percebe-se a engenhosidade e genialidade do roteiro, que explica todos os clichés batidos utilizados em filmes do gênero desde a década de setenta, sem nunca descanbar para a comédia e perder a tensão, e a sensa-

ção de horror e medo necessária. Com um roteiro inteligente, que mistura horror, comédia, e até um pouco de fantasia, atuações excelentes, ótimos efeitos especiais, e uma participação surpresa na cena final que fará todo fã de horror abrir um sorriso, Segredo da Cabana é um excelente e indispensável “terrir”.

Nota: 4/5

r i r r Te

s n e ro e ê g qu d os U m r ro r e m d i a é e d o t ra co m . u h m i st ro r t ra s u m a r e te Ra i m i é c i a. n S a m a refe rê n ót i m J a c kso o r d Pete p a r te o m z c e j á f i m e nto a d o m m ov e c h a l d e m a l i of An i m e Fo m . 1 9 92


As Aventuras de Pi

A

ng Lee é um sujeito curioso, se formos comparar os três últimos filmes que dirigiu podemos notar que nenhum deles têm algo em comum, em termos de direção: O Tigre e o Dragão (2000), O Segredo de Brokeback Mountain (2005) e este mais novo que lhe rendeu seu segundo Oscar, As Aventuras de Pi. O que há de curioso em Lee é a sua direção versatíl. O filme trata-se da história de um jornalista (Rafe Spall) que deseja escrever um livro sobre religião e também encontrar sua fé. Pi (Irfan Khan na fase adulta e na juventude pelo estreante Suraj Sharma) é conhecido por ser protagonista de uma fantástica história sobre crenças. Nesta sua procura espiritual e um livro novo, o jornalista procura o dono da “maior história sobre fé” O filme é uma adaptação do mesmo livro em que ganhou muito destaque na mídia por ser classificado como “impossivel de filmar”. É de grande satisfação ver Lee utilizando o 3D com tanto capricho, conseguindo misturar os objetos que saiem da tela e a profundidade de campo. Mas talvez seja por isso que o filme peca tanto, a preocupação pela estética

é mais importante que o ritmo. E é essa falta de preocupação com o ritmo que deixa Aventuras de Pi tão obsoleto. Além do bom uso do 3D, é de grande importância dar destaque na atuação do novato Suraj Sharma, ator que foi encontrado por Ang Lee, rapaz que consegue sustentar várias cenas sozinho. Se não fosse pela necessidade incessante do filme por um visual arrebatador, Aventuras de Pi poderia ser bem melhor do que é vendido.

Nota: 3,5/5

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Amor

ichael Haneke é um diretor conhecido por ter em sua filmografia filmes de cunho visceral altissimo, como Violência Gratuita (1997), O Video de Benny (1992) e entre muitos outros que deixam o público divido entre admiração e repulsão extrema. Amor fala da história de um casal de idosos que estão à espera do maior acontecimento de suas vidas: a morte. Anne (Emmanuelle Riva) esposa de Georges (Jean -Louis Trintignant) inicia o pro-

cesso mais cedo do que o esperado, sendo vítima de uma doença degenerativa, colocando a prova o amor de ambos. Diferente do filme de estreia na direção de Sarah Polley, Longe Dela (2006), Amor trata da doença somente como um catalisador de conflito dos personagens. É nisso que Haneke vai mostrar sua veia violenta, deixando de lado o sangue e qualquer outra ferramenta para chocar. Muitos dizem que se trata de um filme sensivél, pelo contrário, a maneira em que Haneke conduz o filme é totalmente impiedoso. Não existe dú-

vida que o diretor é aquilo tudo que se fala. O mais interresante é como o filme atinge um ritmo lento, deixando implicito na tela como funciona a espera de seus personagens pela morte, ou seja, lenta e sofrivél. É um filme de fato arrebatador, é um filme de arte, filme em que Haneke expressa sem medo aquela especifica demonstração de Amor. Não se superou do incrível A Fita Branca que lhe rendeu sua primeira Palma de Ouro, mas ainda sim é inquietante e excelente.

Nota: 4/5

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I

Argo

magine que você trabalha para a CIA e é encarregado de resgatar seis diplomatas americanos refugiados na casa de um embaixador canadense em Teerã, após terem escapado de uma invasão de revolucionários iranianos à embaixada americana. Impossível? Não, a mais pura realidade. Baseada em fatos reais, a trama, dirigida por Ben Affleck, nos leva a um país violento e conturbado, logo após a revolução islâmica, e nos mostra que, às vezes, uma câmera pode ser mais poderosa que uma arma. O filme traz um breve resumo dos acontecimentos que levaram ao ataque de revolucionários à embaixada americana em

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novembro de 1979. Uma série de protestos invade o país, tendo os EUA como principal alvo, não só por terem apoiado o oprimente governo do antigo xá do Irã, Reza Pahlevi, mas também por concederem asilo político ao mesmo. Tony Mendez (Ben Affleck), um especialista da CIA, sem muitas opções, propõe a criação de um falso filme canadense de ficção científica, com o intuito de infiltrar o trabalho da agência no Irã e resgatar os seis cidadãos americanos. Para isso, conta com a ajuda diplomática do Canadá e dos cineastas Hollywoodianos: Lester Siegel (Alan Arkin) e John Chambers (John Goodman) especialistas em filmes de ficção, que, com um ar pouco cô-

mico, colaboram com a missão. Com um roteiro nas mãos, passaportes falsos, quadros de filmagem, câmera e a credibilidade da indústria cinematográfica, Tony embarca nessa missão aparentemente impossível com o propósito de encontrar os outros “membros” de sua produção. Seu objetivo agora é convencê-los a voltarem com ele, afinal, qualquer exposição indevida poderá custar-lhes a vida. Affleck consegue retratar o sofrimento e a indecisão dos diplomatas, que, sem saída, cooperam com a missão e se esforçam para aprender seus respectivos “personagens”. Cada um é um membro da produção e precisa agir de maneira convincente a fim de

evitar associações com qualquer aspecto da cultura americana. Para quem espera um filme de espionagem ou suspense, Argo não é recomendável. Apesar de prender nossa atenção no início, o filme decepciona com a estratégia adotada de fuga, uma vez que o diretor escolheu retratar os acontecimentos como de fato ocorreram. Quem espera uma “missão impossível”, sairá desapontado. O filme é sério, a missão é séria, e a película é original. Vale a pena conferir pela originalidade da história, e pelo esforço de Ben Affleck que, depois dos fracassos, parece ter finalmente encontrado o seu lugar: atrás das câmeras.

Nota: 3,5/5


Holy Motors

P

rimeira vez que Holy Motors foi exibido foi em Cannes, em sua primeira exibição um alvoroço enorme foi criado devido suas sequências desconexas e quase surreais e até chamado de obra de arte. O filme conta a história de Se-

nhor Oscar (Denis Lavant) que passa por inúmeras tranformações ao longo dos dias. O grande prestigio de Holy Motors é a ridicularização que o diretor Leos Carax faz da rotina e da arte. Utiliza seu personagem principal, Senhor Oscar para representar a transformação que

cada ser humano passa dia-a-dia, seja da mais grotesca até a mais convencional. Para estilizar o filme, o diretor utiliza inumeras refêrencias às artes, como a cena em que o Senhor Oscar deita nu no colo da modelo, fazendo uma releitura bizarra de Pietá de Michelangelo. Assim como foi o Da-

daísmo foi para a arte, Holy Motors é para o cinema, utilizando do exótico para descaracterizar o cinema conhecido como “normal”. É um filme no mínimo, brilhante por seus atos lúdicos e irreais.

Nota: 5/5

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Crônicas

Amor Extra-Terrestre Por Lucas Santhyago

N

ão sei por que depois de tantos anos ele voltou para mim, ele é um robô futurista de outro planeta e eu sou só um aspirador da Terra. Eu queria jogar toda a poeira dessa casa em cima dele e gritar palavrões por tudo o que senti quando de novo ele se foi, o quanto tudo isso afetou no meu funcionamento... Mas não, ele já está muito sujo e assim, meio destruído, com essas luzinhas acesas me olhando e esses sons irritantes saindo de suas caixas de som, ele sabe que me tem, e que não importa o que ele faça eu sempre estarei aqui, esperando-o voltar com suas estúpidas histórias sobre como aju-

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dou um messias intergaláctico a salvar o Universo e recuperar a psiqué transtornada de seu pai. Nos beijamos a nosso modo e nisso lhe faço uma pequena limpeza, ele agradece, todo educado, e sentamos no sofá. Minha dona chegará em meia hora, enquanto isso podemos conversar. Seis minutos e nada o agrada na tevê. O que ele quer mesmo é um bom trato gostoso como nos velhos tempos, mas eu não vou ceder. Eu quero a verdade, eu preciso! Porque dentre tantas máquinas sencientes ele escolheu logo eu? - São suas funções meu bem. - diz garboso - Com teu vasto cabo chegas a lugares inalcançáveis a espécie inferior que

pensa que nos criou. O modo como trocas de escova para absorver diferentes tipos de sujeira é fenomenal! Tuas luzes tem mais significados que as minhas, e teus sons são simples, só querem mostrar o quão forte estás trabalhando. Gosto de quando organizas a poeira em tua bolsa para depois jogá-la fora. E amo teu sexo, o melhor das galáxias! Ah, então ele me ama porque sou funcional? Ora, máquinas de lavar roupas são muito mais funcionais, impressoras então, algumas são multi-funcionais! Não sou amável, R2D2 só quer saber de sexo, nunca me leva para um passeio na relva guiados pelos pássaros ou um cine-drive-in de filmes românticos e de aventu-

ra. Aposto que tem uma amante em cada planetóide desse sistema. Que grande audácia vir aqui cheio de papo se na noite anterior poderias estar com qualquer outra? Safado, calhorda, nojento! Queria eu ter forças para não te amar, resistir a tua intensa sedução e... Oh Deus, ele pôs as rodas sobre mim, sua câmera reconheceu meu olhar, me enrubeço, ele não para de me beijar, apertar, machucar e então transamos. Ele fuma um cigarro, o que me leva a pensar em como ele aprendeu a fazer isso, ponho um Chico Buarque pra tocar no rádio e o assisto sentada num puff. “Eu sou sua menina, viu? E ele é o meu rapaz, meu corpo é testemunha do bem que ele me faz.”


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