Healthcare Brazil 11ª Edição

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Ano 3 - 2010 - Edição nº11 - www.healthcarebrazil.com.br

AUTOMEDICAÇÃO O consultor Guilherme S. Hummel propõe debate sobre a inócua luta contra a automedicação. A quem interessa essa impertinente e renitente condenação desmedida?

SEGURANÇA DO PACIENTE Robert Wachter, da University of California, discute o sistema de segurança do paciente vigente nos hospitais e clínicas de todo o mundo

GOVERNANÇA Corporativa Não é de hoje que a Governança está na pauta dos hospitais. No Especial: Hospital e Maternidade São Luiz veja como a instituição paulistana se organizou para atuar como rede nacional. Os planos são ambiciosos: análise de oito diferentes praças e investimentos de até R$ 800 milhões

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CARTA AO LEITOR

GOVERNANÇA CORPORATIVA E EXPANSÃO

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ão é de hoje que a Governança Corporativa está na pauta dos hospitais brasileiros. Embora vital para a sobrevivência daqueles que querem permanecer no mercado, a estratégia ainda é desconhecida e assusta boa parte dos gestores no Brasil. Não é o caso do Hospital e Maternidade São Luiz, de São Paulo, onde a adoção da política de governança tem contribuído para o desenvolvimento sustentável da rede. Os resultados vão além do equilíbrio e fortalecimento de relacionamento com acionistas e administradores. Em 2009, por exemplo, a Receita Bruta Operacional alcançou um aumento de 20%, em relação ao ano anterior. Além de melhorar a gestão, o investimento feito em governança tem outro objetivo bem mais ambicioso: o de tornar-se uma rede nacional. No Especial São Luiz, que você poderá acompanhar nesta edição, a presidente do Hospital, Denise dos Santos, explica a análise da viabilidade de atuação em oito praças e investimentos de até R$ 800 milhões para a aquisição ou construção de novos hospitais nos próximos cinco anos. Outros gestores da companhia contam como a expansão está sendo trabalhada em áreas como a de Recursos Humanos, Tecnologia da Informação, Qualidade, Gestão Médica, entre outras. Ainda sobre Gestão, três temas importantes integram as matérias desta edição: Segurança do Paciente, Segurança Predial, e, Segurança jurídica. Robert M. Wachter (Chefe da Divisão de Medicina Hospitalar da University of California), Rômulo Ponte (Gerente de atendimento e segurança do Hospital Oswaldo Cruz, de São Paulo), e, Juliane Pitella (Diretora da Rede Nacional de Advogados Especializados na Área da Saúde) falam sobre os temas. Na pauta, duas importantes pesquisas são abordadas. A primeira (iLupas), inédita, identifica os motivos para a baixa usabilidade das Tecnologias de Informação em saúde. Já o Levantamento Suplementar de Saúde, que integra a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), traz um completo panorama sobre as características de saúde da população brasileira.Uma boa discussão - proposta pelo consultor Guilherme S. Hummel - é sobre a inócua luta contra a automedicação. O tema traz embutido, logo de saída, a nociva preliminar de que seu debate é politicamente incorreto, cabendo a comunidade médica radicalizá-lo à luz dos códigos de ética. Antes de qualquer outra consideração, o autor lembra que automedicação não é autoprescrição, e isso faz toda a diferença no debate.

Boa Leitura! Equipe HealthCare Brazil

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Edição nº 11 - 2010

Reportagem de Capa Especial São Luiz Um dos mais avançados hospitais do país, o Hospital e Maternidade São Luiz, de São Paulo, se prepara para atuar em rede nacional. Operando atualmente com três unidades, a instituição analisa a viabilidade de atuação em oito praças. A meta é investir entre R$ 600 e 800 milhões para a aquisição ou construção de novos hospitais nos próximos cinco anos.

38 Seções

70 - Na Estante 72 - Business Place 81 - Guia de Empresas 82 - Inside

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Inócua luta contra a automedicação

O consultor Guilherme S. Hummel traz para discussão a automedicação, que quase sempre empaca na ignorância e na desinformação. O tema traz, embutido, a nociva preliminar de que seu debate é politicamente incorreto. O autor lembra: automedicação não é autoprescrição. Assim, indaga a quem interessa a impertinente e renitente condenação desmedida à automedicação.

22 Segurança do Paciente

A grande quantidade de pacientes afetados por erros incentivou Robert M. Wachter, Chefe da Divisão de Medicina Hospitalar da University of Califórnia, a publicar o livro “Compreendendo a segurança do paciente”, que acaba de ser lançado no Brasil. Confira, com exclusividade, o primeiro capítulo da obra.

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Pesquisa inédita sobre TI em Saúde

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Pesquisa Nacional identifica investimentos em Tecnologias da Informação e Comunicação na área de Saúde. Cláudio Giulliano da Costa – Presidente da SBIS – explica o projeto iLupas e fala das resistências e barreiras encontradas no mercado nacional.

30 Segurança Hospitalar Hospital Alemão Oswaldo Cruz, de São Paulo, mantém gestão estratégica de segurança predial com avaliação de riscos, definição de metas e mensuração de eficácia do sistema por meio de indicadores.

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Avaliação da Saúde Brasileira

Gestão Jurídica

Juliane Pitella, diretora da Rede Nacional de Advogados Especializados na Área da Saúde, explica a nova resolução do CFM que determina se o médico está ou não obrigado a fornecer o prontuário médico de paciente falecido a familiares.

O Ministério da Saúde e o IBGE divulgaram recentemente o Levantamento Suplementar de Saúde, que integra a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), e amplia conhecimento sobre as características de saúde da população brasileira.

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Primeira leitura |tendências

Inócua luta contra a automedicação Por Guilherme S. Hummel

Consta ser de autoria do grande Voltaire a frase: “Eu desaprovo o que você diz, mas defenderei até a morte vosso direito de dizê-lo”. Sem dúvida a expressão foi um marco que varou séculos impregnando corações e mentes daqueles que de alguma forma lutam pela liberdade de expressão. Mais do que isso, o pensamento de Voltaire, um incansável opositor da intolerância, é um libelo a favor dos direitos da sociedade. Vários assuntos difíceis, que envolvem a Saúde, vêm sendo abordados nos últimos tempos, e nos remetem a pensar melhor sobre os direitos básicos do cidadão. Suicídio assistido, eutanásia, bioética, etc., são alguns dos temas que retornam à mídia com frequência com novas visões, opiniões e estudos. Uma querela que volta e meia circula e quase sempre empaca na ignorância ou na desinformação é a questão da automedicação. O tema traz embutido, logo de saída, a nociva preliminar de que seu debate é politicamente incorreto, cabendo à comunidade médica radicalizá-lo à luz dos códigos de ética. Não sou médico, nem pensador, mas sou pensante e refém da lógica. Assim, recoloco o tema à mesa para indagar a quem interessa a impertinente e renitente condenação desmedida à automedicação.

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Primeira leitura |tendências

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ntes de qualquer outra consideração, vale lembrar que automedicação não é autoprescrição, e isso faz toda a diferença no debate. Como ressalta o Dr. Anthony Wong, prestigiado médico pediatra e toxicologista do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo, em entrevista ao não menos prestigiado Dr. Dráuzio Varella, “a automedicação, que todo o mundo condena, muitas vezes, é desejável. Há até uma recomendação da Organização Mundial de Saúde (OMS) de que a automedicação responsável é benéfica para o sistema de saúde. Por quê? Porque nos casos de uma simples dor de cabeça ou de um dente, de cólicas abdominais ou menstruais, por exemplo, se a pessoa tomar um remédio que não tenha tarja na caixa, por um período curto, vai aplacar os sintomas e dar tempo para que o problema se resolva. Já a autoprescrição, ou seja, o uso por conta própria de remédios com tarja vermelha ou preta na caixa, e que só podem ser receitados por médicos, é extremamente perigosa”. Incutir na cabeça da população que toda e qualquer automedicação é danosa, como fazem várias instituições médicas, e até o Estado, é no mínimo temerário. O problema é que a automedicação não se desliga do autodiagnóstico, e este do autotratamento, que está alinhado à responsabilidade que cada indivíduo deve ter com a sua Saúde. Trata-se de uma cadeia de direitos e obrigações, algumas naturais e orgânicas, outras nem tanto, que se acumulam na cabeça do paciente dia após dia. Publiquei um livro sobre o perfil do pacienteséculo XXI (“ePatient – A Odisséia Digital do Paciente em busca da Saúde”), e tentei mostrar que é inalienável a busca do paciente por soluções e informações que auxiliem seu autoacompanhamento, independente do apoio que o médico possa dar. O fato não é uma simples ilação, mas uma tendência clara nos dias de hoje. Toda pessoa deve ter o direito de buscar seu bem-estar, e o Estado brasileiro certamente entende e respeita isso, mas até onde? A sociedade, incluindo o Governo, não impõe qualquer lei que proíba, por exemplo, a venda de cigarro ou álcool, limitando a legislação existente a coibir seu uso em determinadas condições ou locais. Da mesma forma, não exige do usuário que ao comprar um maço de “nicotina embalada” apresente uma receita médica “autorizado-o” a se arriscar no mundo do fumo. O mesmo para o álcool. O que parece ser óbvio e razoável nesses casos extremos, não é em outros, como na compra de certos tipos de me-

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dicamentos que aliviam o sem receita médica. Da sofrimento humano. Que a automedicação pode ser um mal mesma forma, vem exerAutomedicação no cendo pressão sobre a combate ao tabaco é ninguém duvida ou contesta. A ques- sociedade “mostrando” até aconselhado pela tão é saber se ela já não é um “mal o excesso de automediOMS. Seu relatório sobre cação dos brasileiros. o tema revelou que o uso necessário”, e se for, quais as formas Iniciativas legítimas, reado tabaco está crescen- de produzir consciência crítica obje- lizadas dentro de suas do mais rapidamente em tivando reduzir os riscos e exageros funções, ao abrigo da lei países de renda mais baie com apoio das entidaxa, e que sem um comdes que representam a promisso claro de ajuda aos fumantes estima-se que comunidade médica. Minha pergunta é se essas ações um bilhão deles vão morrer prematuramente neste são suficientes, eficientes e pertinentes. Vou mais lonséculo devido ao vício. Da mesma forma, a OMS encoge: não terá chegado a hora de analisar o problema raja a luta contra o tabaco sugerindo que os países ofeda automedicação com vistas mais apuradas e mereçam, entre outros tipos de tratamentos (como aconnos farsescas? selhamento via telecomunicações), o uso da chamada Que a automedicação pode ser um mal ninguém farmacoterapia, incluindo nela a Nicotina Terapêutica duvida ou contesta, muito menos eu. A questão é sa(NRT - Nicotine Replacement Therapy), produtos como ber se ela já não é um “mal necessário”, e se for, quais pastilhas, adesivos, etc., vendidos sem prescrição méas formas de produzir consciência crítica objetivando dica e que auxiliam os usuários a reduzir o consumo. reduzir os riscos e exageros. Seria só o julgo da lei a Na Conferência Mundial sobre o Tabaco, realizada na forma de reduzir o mal necessário? Todos os brasileiÍndia em 2009, o Dr. Randeep Guleria, professor do ros teriam acesso “fácil” à assistência médica para não Instituto de Ciências Médicas da Índia, foi claro em sua precisarem se automedicar e aliviar suas crises? Seria palestra: “com a recente aprovação da proibição do o melhor caminho flagrar três ou quatro farmácias, enfumo em locais públicos fechados, o governo da Índia cenar uma grande operação, retirar os medicamentos está enviando uma forte mensagem aos seus mais de das gôndolas e chamar a imprensa para mostrar que 120 milhões de fumantes adultos: vai levar a sério a a vigilância está vigilante? Seria só o trabalho de “aculbatalha contra o tabaco. Encorajar o uso de produtos turamento médico” a forma de controlar uma incontrode ajuda para a redução do fumo, tais como a Nicotina lável necessidade da população se automedicar? Não Terapêutica, é o próximo passo na direção de livrar o seria o caso de perguntar por que ela o faz, elencar país de um de seus mais perigosos problemas de saúas razões e adicionar práticas orientativas que podem de”. Não sei bem qual o efeito desse tipo de tratamenaumentar e melhorar o seu poder de decisão? to (NRT) na redução do vício (nunca fumei), e não sou a O Ministério da Saúde acerta quando tenta coibir pessoa mais indicada para valorizá-lo, mas é crescente a propaganda da indústria farmacêutica, que sempre a quantidade de fumantes que faz uso dessa terapia. foi uma inequívoca forma de tentar vender a cura miSegundo dados da WSMI (World Self-Medication Innimizando as responsabilidades do curador. Todas as dustry), organização não governamental que atua na principais nações realmente comprometidas com prodefesa da automedicação, no primeiro ano em que os moção à Saúde têm regras rígidas contra os abusos NRTs ficaram disponíveis sem prescrição médica nos da propaganda enganosa de medicamentos. Nesse EUA, sua utilização aumentou em 152%, o que se traquesito o Brasil faz o dever de casa, mas deixa de duziu em mais de 100 mil novos ex-fumantes por ano fazê-lo quando induz a sociedade a pensar que essa é (dados da WSMI). Vale lembrar que a dependência do a melhor forma de inibir a automedicação, ou de tornátabaco custa aos norte-americanos mais de 96 bilhões la mais responsável. Lembra a velha piada do fumante de dólares por ano em despesas médicas diretas, e 97 que ao comprar um maço de cigarros vê escrito na bilhões em perda de produtividade. embalagem “... pode causar impotência sexual...” AsO Ministério da Saúde, através da ANVISA, vem sustado, ele chama o atendente e pede: “escuta, me apertando o cerco dentro da Cadeia de Assistência à vê aquele que só está escrito ‘pode causar câncer”... Saúde no sentido de coibir a venda de medicamentos A OMS calculou também que as internações hospi9

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Primeira leitura |tendências talares ocasionadas por reações ao mau uso de medicamentos é superior a 10%. Outra pergunta que não quer calar é quanto desse percentual de intoxicação veio através da automedicação e quanto foi originário de prescrições equivocadas, ou patologias não declaradas pelo paciente, ou simplesmente por ingestão errada (a mais ou a menos). Estima-se que o Brasil tenha mais de 80 milhões de indivíduos que fazem uso de automedicação (dados da Associação Brasileira das Indústrias Farmacêuticas – ABIFARMA). Por que o fazem? Seria só comodidade, ou preguiça de procurar um médico, ou “indolência de brasileiro” (jeitinho)? O uso crescente no Brasil de analgésicos e antiinflamatórios é necessariamente ruim ou também pode ser bom? O cerne da questão é saber se a automedicação “mata mais ou salva mais”? Onde, em que circunstâncias, ela é menos danosa e mais amenizadora (embora uma coisa não elimine a outra)? Não é obrigação primária do paciente zelar por sua Saúde acima de qualquer coisa? Será sempre inválido o au-

totratamento (que alivie dores não diagnosticadas) caso este não seja chancelado pela “autorização” de um médico? Não seria também alvissareira a notícia sobre o aumento do uso de analgésicos se estes estão reduzindo o sofrimento dos pacientes? Não seria notável que estes estejam também enfrentando sozinhos sua dor, sendo que a analgesia aplicada é, por direito humano, sua responsabilidade? Onde estão as métricas, aferindo com segurança, que um indivíduo hipertenso, por exemplo, que entrou numa farmácia e comprou uma cartela de maleato enalapril, sem qualquer prescrição médica, não evitou um AVC eminente? Os dados que temos sobre automedicação estão atualizados, são seguros, e completam um conjunto sólido de elementos para deduções e decisões? E se não temos os dados, por que nunca vamos atrás deles já que o problema, pela óptica governamental e médica, é tão grave? O autocuidado (a autogestão da saúde) deve incluir comportamentos de vida saudáveis, evitando-se riscos à saúde, utilizando exercícios físicos, nutrição adequada e manutenção do bem-estar. É pródigo dizer que devemos cuidar da manutenção de nosso bem-estar somente quando um médico assim designe ou prescreva? É correto pensar que um paciente-século-XXI, que tem mais acesso a informações de saúde do que qualquer geração passada teve, deve sempre submeter-se ou esperar o diagnóstico médico (embora seja prudente fazê-lo)? A quem cabe a responsabilidade final por nossa Saúde se não a nós mesmos? Devemos ser eternamente tutelados, direcionados e persuadidos pelo médico, mesmo que nele só existam boas intenções e cabal competência? Não seria mais razoável aplicar alguma formação básica em Saúde às pessoas, principalmente às crianças, desde seus primeiros anos de escolaridade, de modo a induzi-las a cuidarse e evitar a automedicação abusiva? Não seria mais econômico, facilitador e até elementar introduzir desde cedo noções dos riscos embutidos na automedicação, sem medo, de forma estruturada, para que na tenra idade todos comecem a dar valor ao médico e aos seus próprios cuidados com a Saúde? Pacientes crônicos, reféns de uma centena de patologias que inundam a natureza humana, devem também ficar reféns da prescrição médica para medicamentos sem tarja, sem “susto”, sem saída quando moram em lugares sem acesso à assistência? Ninguém pretende descartar o auxilio médico, pelo contrário, sempre penso que pacientes autodetermina-

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dos e centrados em resolver suas próprias demandas de Saúde, principalmente quando ainda leves, ajudam em muito o trabalho do médico. Ocorre que estamos correndo na contramão de uma realidade inexorável: pacientes estão verticalizando seus cuidados médicos. É ruim? Talvez, mas, como disse, é irreversível. Em 2009, a Associação Européia da Indústria de Automedicação (AESGP) informou que os doentes europeus estão cada vez mais cuidando da própria saúde, e se automedicando. De acordo com um estudo elaborado pela AESGP, que abrangeu 7 mercados da União Européia, o aumento do consumo dos Medicamentos Não Sujeitos a Receita Médica, teria também, como efeito secundário, a diminuição das despesas suportadas pelo Estado com a Saúde. Um acréscimo de consumo de 5% traduzir-se-ia numa poupança de 150 milhões de Euros, gerando uma redução de milhares de visitas ao médico, que às vezes só ocorrem para obtenção de uma prescrição médica rotineira e reincidente. A França, depois de alcançar o mais baixo índice de automedicação da Europa, vem flexibilizando o acesso do consumidor. As medidas elaboradas pelo Ministério da Saúde, sempre controversas, começaram a surgir em 2004 visando à redução dos gastos com o reembolso de medicamentos, cujo custo é coberto em 75% (no mínimo) pelo Estado. Em 2009, para cada 7 medicamentos comercializados em território francês 1 foi vendido sem receita médica, sendo que a proporção em 2004 era de 11 para 1. Dados mostram que 71% dos franceses já se tratam com automedicação, sendo que 57% o fazem por razões práticas, e 44% por rotina (dados do instituto de pesquisa GfK HealthCare). Será que a França “enlouqueceu”? Por que será que o país que tem um dos três melhores Sistemas de Saúde do mundo está aos poucos cedendo à automedicação? Não seria lógico pensar que quando ela é utilizada de forma responsável pode salvar mais, custar menos e adicionar valor no desejo de autocuidado do paciente? No Brasil, o consumo de remédios sem prescrição médica está sempre associado às instruções de “farmacêuticos levianos ou sem competência”, amigos e parentes, propaganda enganosa, ou a falta de educação/formação/informação dos pacientes. Poucas vezes se leva em consideração o desejo autêntico da população, ou ao notório descrédito dela com o Sistema de Saúde. Ficamos à deriva, reféns da luta constante entre o lobby da indústria farmacêutica, versus o

“lobby” da comunidade médica, versus a visão xiita do Estado (que no fundo, acho eu, talvez ele até desconfie que a automedicação mascara alguns dos seus problemas de atendimento, se rendendo na surdina, sem deixar de bradar contra) . É óbvio que não estou me referindo às drogas pesadas, tarjadas, deveras arriscadas, fora dos limites. O foco é o equilíbrio, é saber até onde o Estado deve apoiar certo tipo de comportamento do paciente e o uso de certo tipo de medicamento. Não faz sentido praguejar eternamente contra o direito do paciente de se automedicar. Quando pensamos estar criando na mente das pessoas “alarmes inibidores” estamos criando, na realidade, uma visão bipolar (o certo e o errado) do problema. De que temos medo, afinal? Temos estatísticas seguras de quantas pessoas estão morrendo por automedicação, ou mesmo por autoprescrição? Sabemos no Brasil quantos pacientes dão entrada nos hospitais por interação danosa de medicamentos prescritos pelos médicos, ou aqueles oriundos da automedicação? Como não sabemos nada, adotamos o lema do “sabemos tudo”, e até por falta de 11

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Primeira leitura |tendências dados estatísticos críveis e atualizados criamos um cenário de Dante: o céu, para os que só ingerem medicamentos prescritos, e o inferno, para a automedicação. Banal demais. A OMS, em seu documento “The role of the pharmacist in self-medication and self-care”, publicado em 1998, define autocuidado “como a ação que as pessoas fazem por si mesmas para estabelecer e manter a saúde, prevenir e lidar com a doença”. É um conceito amplo, que abrange: higiene (geral e pessoal), nutrição (tipo e qualidade do alimento ingerido), estilo de vida (atividade física, lazer, etc.), fatores ambientais (condições de vida, hábitos sociais, etc.), fatores sócio-econômicos (nível de renda, crenças culturais, etc.) e automedicação. Ainda de acordo com a cartilha da OMS, a “automedicação é a seleção e o uso de medicamentos pelas pessoas para tratar doenças autodiagnosticadas, ou sintomas, e deve ser entendida como um dos elementos do autocuidado”. O documento define a automedicação responsável como “a prática pela qual os indivíduos tratam seus problemas

de saúde com medicamentos aprovados e disponíveis para serem adquiridos sem prescrição, e que sejam seguros e efetivos quando utilizados como indicado”. Para a OMS, a automedicação responsável requer: (1) que os medicamentos utilizados sejam de segurança, qualidade e eficácia comprovadas, e (2) que os medicamentos sejam aqueles indicados para “condições” autoreconhecíveis e para algumas condições crônicas ou recorrentes (seguindo um diagnóstico médico inicial). Em todos os casos, estes medicamentos devem ser especificamente designados para o propósito, e requerem dose e forma farmacêutica apropriadas. Aqui mora um importante papel do Estado: “medicamentos indicados para condições autoreconhecíveis”. Não caberia a ele (Estado), de forma clara e aberta, explicar quando e como deve-se aplicar a automedicação, quais são as condições autoreconhecíveis e quais medicamentos são adequados a elas? Quando a ANVISA, em 2009, publicou um novo regulamento para as bulas dos medicamentos, mostrando que “as embalagens disponibilizadas nas farmácias e drogarias deveriam trazer um bulário exclusivamente dirigido ao paciente”, ela deu um passo preciso na direção de garantir um melhor uso da automedicação. Talvez esse não tenha sido o objetivo da regulamentação, mas que ela também agregou valor na direção do autocuidado não há a menor dúvida. Numa sociedade promotora da Saúde, há tanta legitimidade em restringir como em apoiar. Automedicação tem riscos sim, óbvio, mas quanto mais ignoramos o “direito do paciente de se automedicar” mais riscos adicionamos ao problema. Segundo a Dra. Marilene Cabral do Nascimento, autora do livro “Medicamentos, ameaça ou apoio à saúde?”, publicado em 2003, outro fator facilitador da automedicação e da autoprescrição é proliferação de farmácias e remédios, aliada ao precário sistema público de saúde, ou seja, o paciente passa a se automedicar para economizar tempo e dinheiro. Espalhadas pelo território brasileiro existem mais de 50 mil drogarias (uma drogaria por 3,5 mil habitantes - quase o triplo do recomendado pela OMS). Talvez seja um número exagerado, não sei, mas talvez seja um sinal de que o varejo farmacêutico tem sido um ponto nevrálgico do “sistema informal de automedicação”, e que se riscos traz, traz também algum alívio à sociedade. Se houvesse a inclusão dessa magnífica rede em um programa de aconselhamento aos pacientes, algo de longo prazo (no mínimo uma década), com maiores obrigações dos

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farmacêuticos, e melhor treinamento para atuarem como “conselheiros oficiais na automedicação” (e não do modo informal e arriscado como é hoje), certamente teríamos mais luz ao final do túnel. O que temos hoje é pouca luz, muito túnel e nenhum final. A melhor forma de “fomentar” o bom senso das pessoas é a Educação. Só ela, ao longo do tempo, pode construir mecanismos individuais de ponderação, mediação e redução de riscos. Na falta de educação sobre Saúde Básica, que como já dissemos deveria ser implantada desde a mais básica escolaridade, a informação pode ajudar, principalmente se for Oficial, bem comunicada e parametrizada em protocolos médicos. Ocorre que o Estado tem muitas restrições a qualquer tipo de ação que de alguma forma beneficie ou promova a indústria farmacêutica, e não sem razão, já que esta é uma das manufaturas mais oportunistas da Era Industrial. Fica difícil aparecer na foto ao lado dela, mesmo que a distância. Mas de alguma forma isso deve ser feito, para o bem do país e da população. Encarcere os abusos, mas não encarcere a realidade. Na Europa, por exemplo, até a década de 80, era inconcebível qualquer ingestão de medicação sem uma prescrição médica, e o fato não ocorria só por conta da legislação, mas principalmente porque a população tinha total confiança no Sistema de Saúde, tinha menos confiança na sua própria capacidade de se cuidar e tinha baixa informação de como fazê-lo adequadamente. A automedicação só era utilizada em casos de alguma dor leve, tosse, resfriados, constipação ou pequenos problemas cutâneos. Nos últimos 20 anos, no entanto, as coisas mudaram dramaticamente. É crescente o volume de pessoas interessadas em assumir mais responsabilidade nas questões relacionadas à sua saúde. Em 2001, a Comissão Européia apoio financeiramente um projeto de pesquisa da AESGP (“Development of an Information Policy for Medicinal Products”) para examinar que tipo de informação o público e os profissionais de Saúde precisariam ter para um cenário em que mais medicamentos fossem utilizados sem receita médica (incluindo medicina alternativa, como homeopatia, fitoterapia, etc.). Esse projeto identificou a necessidade de se desenvolver, em vários estágios, políticas centradas no cidadão, e numa abordagem de Saúde Pública que desse mais responsabilidade aos indivíduos e condições para a gestão de sua própria Saúde. A conclusão, que teve apoio da OMS, mostrava claramente que a automedicação, por exemplo, “deveria ser sustentada por reformas na educação dos

profissionais de saúde alocados nas farmácias”. Na China, entre 2004 e 2006, mais de 4500 drogas foram reclassificadas (switching) para serem usadas sem prescrição, sendo cerca de 3500 baseadas em ervas e 994 em produtos químicos. Estima-se que em março de 2006, 25% de todos os medicamentos comercializados na China foram vendidos sem receita médica, embora o conceito de assistência e prescrição médica por lá seja bem diferente dos países Ocidentais. No Japão, o Ministério da Saúde e Bem-Estar emitiu um comunicado em 1967 informando que haveria uma classificação de produtos médicos. Em 1983, apareceram as primeiras reclassificações (medicamentos que entraram para o regime de “nonprescription”) e o processo só se acelerou, sendo incentivado em 2002 com a publicação de um relatório que “linearizava” alguns dos chamados OTC (over-the-counter drugs), medicamentos que podem ser vendidos sem prescrição médica. O Japão foi mais longe, e em 2008 o Governo chamou a indústria farmacêutica para estudar a troca de determinados componentes químicos que 13

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Primeira leitura |tendências pudessem desobstruir o acesso aos medicamentos sem necessidade de prescrição. Mesmo o Canadá, um dos países mais severos na questão da receita médica, iniciou em 2009 consultas para transformar uma lista de onze produtos em medicamentos que possam ser comercializados sem receita (incluindo L-triptofano,L-Carnitina e a Lovastatina). Nas doenças crônicas ou epidêmicas, como a obesidade, significativos passos também estão sendo dados. Está claro que o sobrepeso e a obesidade aumentam sobremaneira o risco de hipertensão arterial, doenças coronárias, diabetes e morte prematura. Se há uma coisa que não tem dado certo são os programas públicos de contenção da obesidade. A primeiradama dos EUA, Michelle Obama, lançou em 2010 uma inédita cruzada no país do fast-food “contra” a indústria alimentícia, que já começa a ser tratada como a do tabaco. O objetivo é tentar alterar os hábitos alimentares e reduzir a obesidade. Duvido que dê certo sem incluir mais autonomia aos pacientes na aquisição de medicamentos. De acordo com a Sociedade Americana de Obesidade, 25% dos habitantes do país são obesos e 36,5% estão acima do peso. Ainda segundo a Sociedade, o total de norte-americanos com problemas de peso cresceu perto 10% na última década, sendo que em algumas minorias, como a das mulheres negras, por exemplo, os números são assustadores: 40% delas já são obesas, com os inexoráveis casos de diabete e problemas cardíacos. Isso sem falar na população infantil, uma bomba relógio de riscos incalculáveis. Nos EUA, a chamada “obesidade extrema” (categoria de maior risco) passou a ser um problema de segurança nacional. Cerca de 7,3% dos meninos e 5,5% das meninas de 2 a 19 anos já são considerados “obesos extremos”. A pergunta que todos fazem é se esse problema, com tal dimensão, poderá ser controlado só com o apelo a exercícios físicos, autocontenção alimentar ou aumento de práticas sexuais adequadas (!) Centenas de programas seguem nessa direção há décadas e o problema só tem piorado. No Brasil, o “problema obesóide” não é diferente. Estudo publicado em 2010, feito pela empresa de pesquisa LatinPanel, mostra que 41% dos brasileiros com mais de 7 anos está acima do peso, chegando a um total de quase 50 milhões de indivíduos. Das crianças com idade entre 7 e 12 anos, 35% já estão com excesso de peso, algo considerado alarmante pelos pesquisadores. O cenário da obesidade é tão grave que em alguns 14

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te de colesterol antes de países já saiu da zona do “politicamente correto”. Na Apoio à automedicação não é a li- começar a tomar a SinvasAustrália e Nova Zelândia, o beração desta, assim como também tatina. Os dados coletados após 5 anos do seu uso fármaco Orlistat, usado no não é solução enfiar a cabeça na sem receita não mostracontrole do peso, foi reclassificado para ser usado em terra, como um avestruz, esperan- ram significativos problemas associados. conjunto com outras três do que aos poucos ela vá sendo reApoio a automedicação drogas, sem receita médinão é a liberação desta, ca, com a ressalva de que duzida de forma natural. Não vai assim como também não os consumidores devem é solução enfiar a cabeça receber aconselhamento. na terra, como um avestruz, esperando que a quesO mesmo produto também já está disponível sem prestão não seja com ele, ou esperando também que aos crição médica na China, Singapura e EUA. Em 2009, poucos a automedicação vá sendo reduzida de forma o Orlistat foi aprovado pela Agência Européia de Medinatural. Não vai. Só vai crescer, só vai se multiplicar camentos para ajudar a combater a crescente prevaao longo dos anos, e só vai se tornar mais arriscada lência de doenças do coração, tornando-se o primeiro se não tiver o devido “apoio” do Estado e das entidades medicamento contra a obesidade a ser comercializado médicas. Vale lembrar um poema do grande dramaturna Europa sem receita médica. go alemão Bertold Brecht, um incansável defensor dos Cada dia mais os Sistemas de Saúde estão percedireito da sociedade. Escreveu ele: “... o vosso tanque, bendo que as pessoas precisam de ajuda. Programas general, é um carro forte, que derruba uma floresta e de conscientização, feitos através de publicidade maciesmaga cem homens, mas tem um defeito: precisa de ça, não estão gerando os resultados esperados e os um motorista. O vosso bombardeiro, general, é podecustos da atenção médica aos obesos, por exemplo, roso: voa mais depressa que a tempestade e transporou àqueles com patologia oriunda do excesso de peso, ta mais carga que um elefante. Mas tem um defeito: estão minando as contas públicas e privadas. Muitos precisa de um piloto. O homem, meu general, é muito são contra, outros já foram mais, mas uma boa parte útil: sabe voar e sabe matar. Mas tem um defeito: dos estudiosos do problema incentiva que este seja sabe pensar...”. Desqualificar, ou mistificar, ou tentar analisado também à luz da automedicação. Outro fárreduzir a capacidade que temos de pensar e decidir maco, a Sinvastatina, pertencente à classe das estatisobre nossa própria Saúde não vai mitigar a automedinas e usada com o objetivo de reduzir os níveis de cocação, só vai desqualificar os que dela reclamam. lesterol e lipídios no sangue, segue o mesmo caminho no Reino Unido. Ela foi reclassificada para ser usada sem prescrição no caso de pessoas com risco moderado de um ataque cardíaco (“nos próximos 10 anos”). A agência reguladora britânica responsável pelo switching demonstrou que o produto poderia reduzir, após 4 semanas de uso, cerca de 27% do mau colesterol (LDL) do organismo. No Reino Unido, o farmacêutico irá aconselhar os consumidores sobre a conveniência do produto, fornecendo informações sobre fatores de risco e outros aconselhamentos. Da mesma forma, os pacientes no Reino Unido não precisarão fazer um tes-

Guilherme S. Hummel Consultor, pesquisador e autor dos livros “eHealth - O Iluminismo Digital chega a Saúde” e “ePatient - A Odisséia Digital do Paciente em busca da Saúde” www.ehealth-summit.com guilherme.sydow@ehealth-summit.com 15

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entrevista

iLUPAS

Pesquisa Nacional identifica investimentos em tecnologias da informação e comunicação na área de Saúde Por Kelly de Souza

O baixo grau de investimento em Tecnologias da Informação e Comunicação (TICS) das empresas do mercado de Saúde (público e privado) aponta que além dos problemas conhecidos, como investimento e desconhecimento, existem outros, de igual importância, que inibem a adoção tecnológica e os investimentos no setor. Visando identificar, elencar e estudar os problemas existentes, a Sociedade Brasileira de Informática em Saúde (SBIS) prepara pesquisa inédita que visa identificar os motivos para a baixa usabilidade das Tecnologias de Informação em ambientes assistenciais. Além de levantar dados de mercado e informações estatísticas com parâmetros comportamentais e culturais que prejudicam a adoção tecnológica, o iLupas deve também propor ideias, sugestões e ações que neutralizem tais obstáculos. Em entrevista exclusiva à HealthCare Brazil, Cláudio Giulliano – Presidente da SBIS – explica o projeto iLupas e fala das resistências e barreiras encontradas no mercado nacional.

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entrevista O iLupas será uma das primeiras pesquisas centrada nos investimentos em TI na área de saúde. Quais são os objetivos e resultados esperados com o projeto? O iLUPAs objetiva identificar cenários conceituais que inibem a baixa utilização das Tecnologias de Informação nos ambientes assistenciais da saúde. Que tipo de informações a SBIS busca coletar no mercado com o projeto? Visa levantar dados de mercado e informações estatísticas voltadas a revelar parâmetros comportamentais e culturais que prejudicam a adoção tecnológica de informática no setor saúde Na prática, qual será a contribuição para a indústria e aos prestadores de serviços do setor? O baixo grau de investimento em Tecnologia das empresas do mercado de Saúde (público e privado) denota que além dos problemas conhecidos (investimento, desconhecimento das vantagens, etc.) existem outros, de igual importância, que bloqueiam os investimentos no setor. O projeto deverá identificar, elencar e estudar os problemas existentes, de modo a propor ideias, sugestões e ações que neutralizem os obstáculos e incentivemos os investimentos em Tecnologia no setor de Saúde. Quais são os inibidores que impedem ou atrasam os investimentos brasileiros em TICs na área de saúde?

Alguns são mais conhecidos, tais como a barreira cultural dos profissionais de saúde na utilização da TI. Outros não estão definidos nem estudados. Então, é exatamente para responder a essa pergunta que o iLupas nasceu. Qual o papel da SBIS diante deste cenário? A SBIS tem realizado ações e projetos que possuem forte e importante impacto no cenário nacional de informática em Saúde. Especialmente, com a capacitação de profissionais de saúde, através dos nossos cursos e congressos, bem como através de projetos em parceria com diversas instituições, tais como a Certificação SBIS-CFM (www.sbis.org.br/certificacao), já tem contribuído para a melhoria da qualidade dos sistemas de Registro Eletrônico em Saúde. Como avalia o investimento (público e privado) feito no Brasil em TI no setor da saúde, comparado ao aporte realizado por países da Europa e Estados Unidos? Há números do volume do investimento nacional? Não há números precisos sobre o investimento nacional na área de TI em Saúde. Sabe-se que em linhas gerais o setor saúde é o que menos investe em TI. Se compararmos com o cenário internacional, o investimento nacional realmente é muito baixo. Especialmente agora nos EUA, através do HITECH act, o governo Obama está investindo US$ 20 bilhões só para incentivo, promoção e fomento da área de TI em Saúde. Quanto à oferta de Tecnologia de Informação para o mercado de Saúde, o país está up to date? Podemos dizer que os serviços (sistemas de informação em especial) estão melhorando a cada dia. Por outro lado, ainda estamos longe de ter serviços de alta qualidade. Falta ainda o reconhecimento do mercado de Saúde da importância que a TI tem para a Saúde como um todo.

Cláudio Giulliano da Costa Presidente da SBIS: “Tenho certeza que com o passar dos anos e inclusão digital cada vez maior dos profissionais de saúde, a TI se tornará indispensável e, mais do que isso, instrumento fundamental para garantir a sustentabilidade da saúde, tanto nos aspectos clínicos quanto econômicos” 18

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Como a SBIS enxerga a participação das empresas internacionais de TI em nosso mercado de Saúde? As grandes empresas de TI, como Microsoft, Oracle e Cisco, possuem uma ação na Saúde muito tímida. E isso não é só no Brasil. Em geral, elas não possuem a especialização necessária para atuar nesse mercado. No Brasil, temos apenas duas empresas internacionais que são e atuam especificamente no setor de TI em saúde. Você vê o interesse da comunidade médica com a tecnologia? O interesse é muito baixo! Como já ouvi: “é coisa para técnicos”. Por outro lado, cabe aos especialistas em Informática em Saúde mudar isso. Médicos que, como eu, acreditam e trabalham para tornar a Informática em Saúde cada vez mais importante e reconhecida como um meio, um mecanismo, uma forma de melhorar a qualidade do atendimento na Saúde. Tenho certeza que com o passar dos anos e inclusão digital cada vez maior dos profissionais de saúde, a TI se tornará indispensável e, mais do que isso, instrumento fundamental para garantir a sustentabilidade da saúde, tanto nos aspectos clínicos quanto econômicos. Por que os profissionais de saúde, sobretudo os mé-

dicos, resistem tanto ao prontuário eletrônico? Muitos dos argumentos, feitos há uma década, como a segurança da informação do paciente, ainda são justificados visto que a própria evolução tecnológica superou essas barreiras? A resistência é sobretudo cultural. O médico é acostumado a registrar livremente a informação no prontuário em papel. Quando é necessário então registrar o atendimento do paciente num sistema informatizado (prontuário eletrônico), no qual há a necessidade de organização da informação, aí temos a grande dificuldade. O médico precisa ser treinado, tornando-se capaz de utilizar com destreza o prontuário eletrônico, assim como faz um cirurgião com seu bisturi. Por outro lado, a resistência ao uso é muitas vezes provocada por um sistema de má qualidade, com péssima usabilidade, com uma implantação que só piora e dificulta a vida do médico. Nesse cenário, não há como enfrentar a oposição do médico. Temos que encontrar a medida certa para que a implantação de um Prontuário Eletrônico realmente traga benefícios ao paciente e aos profissionais que o utilizam. O Senado tem avançado na discussão no PLS 474/08, que prevê o uso obrigatório do prontuário eletrônico para pacientes do SUS e exige a criação 19

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entrevista agora é de toda a sociedade, as entidades médicas, hospitalares, operadoras, todo o mercado possam se unir e, através do COPISS da ANS, atuar para fortalecer, corrigir e contribuir para a evolução do TISS, da TUSS e demais iniciativas de padronização que são a base para viabilizar a interoperabilidade no sistema de saúde. Sobre o iLupas, quando estarão disponíveis os primeiros resultados? Os dados serão publicados para acesso geral? A nossa expectativa é que no final de 2010 tenhamos os primeiros dados compilados. Haverá uma publicação aberta ao público e outra privada para os patrocinadores da pesquisa. A SBIS pretende dar continuidade a outras pesquisas e/ou projetos nesta área? Quais? Em 2010, o nosso objetivo é fortalecer o iLupas. Aprender com ele, publicar os dados, intercambiar experiências. Enfim, é o momento de nos dedicarmos para o sucesso do projeto.

de um cadastro nacional de usuários, unidade e profissionais de saúde. Se aprovado, tanto pacientes como os profissionais poderão usar a internet para ter acesso a dados sobre exames, receitas médicas, etc. Como a SBIS vê esse projeto? Temos acompanhado a evolução desse projeto de lei. Em nossa opinião, ele possui a virtude de trazer o tema para uma discussão nacional, dando a importância devida para o assunto. Entretanto, há alguns pontos para melhoria, especialmente nos aspectos técnicos, principalmente por ignorar tudo o que já foi feito, tudo o que já existe e funciona. Por exemplo, fala em criar cadastros nacionais, quando já temos o Cartão Nacional de Saúde e o Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES). Estamos buscando os caminhos adequados para colaborar na sua melhoria. Ainda sobre as iniciativas governamentais, com as mudanças de direção da ANS, a TISS – que é um dos primeiros projetos nacionais a “caminhar” – estacionou e perdeu força. Como a SBIS vê o andamento da TISS, e, da TUSS, atualmente? A TISS teve um papel fundamental para iniciar e marcar uma padronização na troca de informação na saúde suplementar. Acreditamos que o momento 20

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COMPREENDENDO A SEGURANÇA DO PACIENTE O moderno movimento de segurança do paciente começou, em 1999, com a publicação de um relatório do Institute of Medicine sobre erros relacionados com a assistência à saúde. Uma década depois, a grande quantidade de pacientes afetados por erros incentivou Robert M. Wachter, Chefe da Divisão de Medicina Hospitalar da University of California, a publicar o livro “Compreendendo a segurança do paciente”, que acaba de ser lançado no Brasil pela Artmed Editora. A HealthCare Brazil traz, com exclusividade, o primeiro capítulo da obra que analisa casos vivenciados nos Estados Unidos, discute estratégias de prevenção, políticas de melhorias e o sistema de segurança do paciente vigente nos hospitais e clínicas de todo o mundo. 22

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resenha |segurança do paciente Por Robert M. Wachter

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pesar de Hipócrates ter dito “primeiro, não cause dano”, há mais de dois mil anos, e muitos hospitais realizarem atividades para discutir erros, até recentemente os erros associados à assistência eram considerados um “subproduto” inevitável da medicina moderna ou um infortúnio advindo de maus prestadores desses serviços. Isso começou a mudar em 1999, com a publicação pelo Institute of Medicine (IOM) do relatório Errar é Humano (To Err is Human: Building a Safer Health System), o qual estimou que entre 44.000 e 98.000 americanos morrem por ano devido a erros na assistência à saúde. Esse número gerou uma tre-

menda atenção da mídia e da população, criando um palco para esforços sem precedentes, no sentido de melhorar a segurança do paciente. Obviamente esse trabalho construiu uma diversidade de investigações e de lideranças no campo da segurança do paciente, até então conhecido por um pequeno e dedicado grupo de devotos, mas em geral desconhecido da maioria dos profissionais de saúde, administradores, governantes e pacientes. A estimativa de mortes feita pelo IOM, a qual foi obtida pela revisão de milhares de prontuários de pacientes nos Estados de Nova Iorque, Colorado e Utah, no final da década de 1980 e início da de 1990, foi seguida por estudos que mostraram grandes números de erros de prescrição de medicamentos, problemas de comunicação em unidades de terapia intensiva (UTI), falhas nos processos de alta, compressas esquecidas em sítios cirúrgicos. Resumindo, para qualquer lado que se olhasse, podia-se encontrar evidência de grandes problemas na segurança do paciente. Além disso, acompanhando as publicações na literatura especializada, havia as dramáticas reportagens da mídia leiga: erros envolvendo procedimentos no paciente errado, membros errados sendo operados, overdoses de quimioterapia, transplantes malfeitos, pacientes liberados das emergências que em seguida morriam por infarto do miocárdio ou dissecção de aorta, entre outras. A literatura sobre segurança do paciente contém muitos termos sobrepostos para descrever aspectos relacionados com a segurança. Apesar de al¬guns termos às vezes confundirem mais do que esclarecerem, duas distinções fundamentais são subjacentes à maioria da terminologia e nos permitem manter a ideia clara. Primeiro, porque os pacientes comumente experimentam desfechos adversos, é importante distinguir um desfecho adverso, que é consequência de um cuidado de saúde, da morbidade/mortalidade que o paciente sofre em função da sua doença de base. Os primeiros são conhecidos como eventos adversos, definidos como lesão ou dano resultante da assistência à saúde. Segundo, porque os pacientes podem experimentar danos em função dos cuidados de saúde mesmo que nenhum erro tenha sido cometido p. ex., complicações aceitáveis de procedimento cirúrgico ou efeitos colaterais de medicamentos), a literatura de segurança do paciente separa os eventos adversos evitáveis dos não evitáveis.

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Onde seria então que os erros ou enganos se encaixam? A literatura de segurança normalmente define erro como “ato voluntário (fazer algo errado) ou de omissão (deixar de fazer o que é certo), levando a um desfecho indesejável ou com um potencial significativo para esse desfecho.” Note que alguns erros não resultam em eventos adversos – em geral os caracterizamos como “quase erros”. Observe também que alguns envolvem cuidados que ficam aquém dos padrões mínimos; estes são casos caracterizados como de negligência e podem gerar ações legais contra a instituição. Por fim, embora a maioria dos eventos adversos evitáveis envolva erros, nem todos o são. Por essa e outras razões, alguns autores preferem destacar eventos adversos evitáveis (em vez de erros) como o alvo principal do tema da segurança, já que essa terminologia não implica necessariamente que um determinado profissional de saúde foi responsável por algum dano, uma implicação que pode gerar atitude defensiva pelos profissionais de saúde ou foco excessivo da organização no indivíduo, em vez de dar foco aos sistemas. Outros, entretanto, pensam que os termos “erros” ou “enganos” englobam a força visceral necessária para catalisar mudança, enquanto “eventos adversos evitáveis” parece um termo muito cuidadoso, talvez até politicamente correto. Seja qual for a terminologia, essas distinções são importantes de entender quando alguém tenta interpretar a literatura de segurança ou os casos individuais. Por exemplo, um paciente que receba adequadamente varfarina (anticoagulante) para fibrilação atrial crônica e desenvolva sangramento gastrintestinal, enquanto seu va-

lor de INR (International Normalized Ratio) está em nível terapêutico, é vítima de um evento adverso, mas não de um evento adverso evitável ou de um erro. Se o paciente sangrou em uma condição de INR elevado, mas não houve erro evidente por parte do médico, pode-se dizer que o paciente sofreu um evento adverso evitável (mas não um erro). Por fim, poderia ter sido um evento adverso evitável e um erro se o valor de INR estivesse supraterapêutico, pois o médico prescreveu uma nova medicação sem checar as possíveis interações entre os fármacos. Antes de deixar a (reconhecidamente obscura) área da terminologia da segurança do paciente, devo acrescentar que alguns especialistas em segurança mostram-se indignados com a distinção entre eventos adversos evitáveis e não evitáveis, argumentando que alguns episódios de danos previamente ditos como não evitáveis são atualmente entendidos como evitáveis com sistemas melhores. Alguns até argumentam que rotular esses eventos de “não evitáveis” seja derrotista e autoindulgente. Provavelmente os melhores exemplos conhecidos sustentando este argumento sejam os das infecções relacionadas com cateteres vasculares e as pneumonias associadas à ventilação mecânica, ambas anteriormente entendidas como consequências inevitáveis da medicina moderna, mas agora sabidamente evitáveis com a aplicação consistente de uma variedade de práticas de segurança. Embora esse ponto de vista tenha um mérito considerável, a distinção entre o que é ou não evitável permeia a literatura, e desfocá-la traz um risco de uma percepção pública de que todos os eventos adversos resultam de erros, o que não é real.

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Os desafios de mensurar erros e segurança No hospital XYZ, o encarregado da segurança do paciente estava preocupado com a frequência dos erros de prescrição de medicamentos. Um paciente recebeu 10 vezes a dose de insulina prescrita quando a orientação “por favor, dê 10U* de insulina regular” foi interpretada como “100 unidades de insulina regular”. Outro paciente recebeu o antibiótico cefalosporina para pneumonia, apesar de ser alérgico a esse tipo de medicamento. Um terceiro sofreu um sangramento gastrintestinal quando uma overdose de varfarina o levou a um excesso de anticoagulação. Em resposta a esses incidentes, o hospital está considerando investir em um sistema informatizado de prescrição (CPOE – computerized provider order entry system) a um custo de 20 milhões de dólares. O diretor financeiro, sabendo que esse investimento significará que o hospital terá de adiar a aquisição planejada de um aparelho de tomografia computadorizada de 64 canais e a construção de duas novas salas de cirurgia (investimentos com retorno positivo quase que garantido), pergunta ao encarregado da segurança do paciente: “Como vamos saber que fizemos a diferença?”. A pergunta do diretor financeiro parece relativamente direta, mas é muito mais difícil de responder do que se pode imaginar. Vamos considerar as diversas maneiras de mensurar erros. O método mais comum é o da autonotificação pelos profissionais de saúde, geralmente referido como relatórios de incidentes. Esses relatórios têm sido tradicionalmente feitos a lápis e papel e vêm sendo cada vez mais lançados em programas de computador. Relatórios de incidentes podem parecer uma forma confiável de acompanhar os erros, mas há alguns problemas em usá-los para medir a frequência deles. Primeiro, enquanto os enfermeiros tendem a notificar erros por meio dos sistemas de notificação de incidentes, poucos médicos o fazem, ou não fazem notificação alguma ou preferem usar canais informais (como, em treinamentos, comunicando as chefias de serviço). Segundo, como a maioria dos sistemas de notificação é voluntária, a frequência das notificações será influenciada por muitos outros fatores além do número de erros. Digamos que a instituição tenha melhorado sua cultura de segurança recentemente, de forma que a notificação de erros é muito encorajada pelos líderes setoriais, e os relatórios de incidentes resultam em

ações tangíveis. Além disso, um novo e mais amigável sistema informatizado de notificação de incidentes tem sido desenvolvido. Sob estas circunstâncias, um aumento na notificação de incidentes pode refletir números de eventos mais fidedignos, ou maior assiduidade em relatar erros. Essa complicada questão distingue a mensuração da segurança do paciente da de qualidade da assistência, que é menos dependente de notificação voluntária e, assim, pode ser mais confiável. Dado que usar os relatórios de incidentes para mensurar a frequência de erros é problemático, existem outros caminhos? Podem-se revisar prontuários de pacientes procurando evidências de erros, o que foi feito pelos investigadores do Estudo de Harvard sobre a Prática Médica (Harvard Medical Practice Study*), enquanto procuravam “eventos adversos evitáveis.” Infelizmente, a revisão de prontuários é cara e trabalhosa (esse custo pode ser diminuído em certa medida por sistemas eletrônicos de prontuários de pacientes, em especial se estes conseguem capturar informações de forma padronizada em vez de texto livre), e a informação nos prontuários pode estar na mesma gênese da propensão a cometer erros (assim penalizando as instituições e os prestadores que registram bem o seu cuidado no prontuário). Além disso, o clima médico-legal certamente induz a algum “polimento do prontuário”, quando um erro tenha ocorrido, e a revisão do prontuário não é uma fonte muito confiável para definir se um erro ocorreu ou não.8 O último problema, em parte, deve-se ao inevitável viés retrospectivo, em que o conhecimento do desfecho final influencia a definição do revisor a respeito de uma determinada ação ter sido ou não um erro, problema que também acompanha as investigações sobre negligência. Muitas instituições estão usando ferramentas-gatilho (trigger tools) para procurar por erros. A premissa por trás delas é a de que alguns erros na assistência vão levar à resposta que pode ser rastreada. Por exemplo, um paciente que recebeu dose excessiva de varfarina pode ter recebido dose de vitamina K ou plasma fresco congelado, como antídoto, para o excesso de anticoagulante. Uma ferramenta-gatilho serviria para identificar este caso a partir da administração destes antídotos. Outro caso seria um paciente inadequadamente observado na unidade de internação que poderia ter uma necessidade inesperada de transferência urgente para a UTI. Embora

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Diagrama de Venn mostrando a terminologia da seguranรงa do paciente

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resenha|segurança do paciente

estas ferramentas-gatilho não sejam perfeitamente sensíveis ou específicos, podem com frequência identificar casos de erros assistenciais que os sistemas de notificação de incidentes deixam de detectar. Pelo fato de que muitos gatilhos realmente não representam erros, são mais usados efetivamente como rastreadores, para serem investigados em detalhes, por meio de uma acurada revisão do prontuário e de discussão com os envolvidos. A pesquisa recente tem se concentrado substancialmente na identificação de indicadores da segurança do

O livro, ilustrado com análises de casos vivenciados nos Estados Unidos e com tabelas, quadros e referências, discute estratégias de prevenção, políticas de melhorias e o sistema de segurança do paciente vigente nos hospitais e clínicas de todo o mundo.

paciente compilados de grandes bancos de dados administrativos dos hospitais. O conjunto de indicadores mais utilizados são os Patient Safety Indicators – PSI’s (Indicadores de Segurança do Paciente) da Agency for Health Care Research and Quality – AHRQ, os quais atualmente medem 27 desfechos ou processos que estão plausivelmente relacionados com a segurança. Apesar de a AHRQ avisar que esses indicadores devam ser apenas usados como pistas potenciais para problemas (pois sua fonte é geralmente um banco de dados administrativos que pode ser não confiável, e como os gatilhos, alguns indicadores não são específicos para erros), alguns vendedores comerciais fazem exatamente isso, e a mídia dissemina esses achados, com frequência sensacionalistas, de forma exagerada. Vários outros métodos podem ser usados para estudar erros e eventos adversos, e cada um tem vantagens e desvantagens13. O ponto-chave é que a frequência de erros e eventos adversos variará marcadamente dependendo do método usado. Por exemplo, Leape constatou que, enquanto notificações voluntárias encontram um em cada 500 eventos adversos, uma combinação de revisão de prontuários e varredura computadorizada capturou um em cada 10.

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A FREQUÊNCIA E O IMPACTO DOS ERROS Em parte por causa das diferentes definições e métodos de abordagem, vários estudos têm mostrado diferentes taxas de eventos adversos de hospital para hospital. No geral, a melhor estimativa é a de que aproximadamente uma em cada 10 admissões resultará em um evento adverso, com metade destes sendo evitáveis. Apesar de cerca de dois terços dos eventos adversos causarem pouco ou nenhum dano aos pacientes, em torno de um terço deles o fazem – variando de um dano menor (como uma hospitalização prolongada) até uma lesão permanente. Esse risco não é distribuído igualmente – alguns pacientes têm muito mais chance de sofrer um evento adverso significativo, e estes podem sofrer múltiplos eventos. Por exemplo, tem sido estimado que, na média, pacientes de UTI sofrem 1,7 erro relacionado com a assistência por dia na UTI, e o paciente internado em unidades abertas sofre em média um erro de prescrição de medicamentos por dia. Pacientes em uso de múltiplos medicamentos ou em uso de medicamentos de alto risco (p. ex., anticoagulantes, opioides, insulina e sedativos) são mais propensos a sofrerem danos, assim como pacientes idosos. O impacto financeiro dos erros e eventos adversos associados à assistência ao paciente é imenso. O relatório do IOM estimou que o custo global nos Estados Unidos por eventos adversos evitáveis (no final da década de 1990) foi entre 17 e 29 bilhões de dólares. Incluindo os eventos “não evitáveis” os números deveriam dobrar. Já que estes valores são derivados apenas de estudos com base em hospitais, adicionando-se o impacto de eventos adver¬sos em clínicas ambulatoriais, clínicas geriátricas e outros locais, teríamos números ainda maiores. Quando visto desta forma, torna-se difícil argumentar que não possamos pagar para consertar o problema dos erros associados à assistência à saúde. Mas – em sistemas de pagamento fee-for-service* (como a maioria nos Estados Unidos) – parte do problema se deve ao fato de tanto os profissionais de saúde quanto as instituições de saúde serem em geral compensados (com frequência muito generosamente) por cuidados inseguros, havendo pouco incentivo financeiro para que sejam feitos os investimentos necessários em sistemas mais segu-

ros. Mesmo em países e estruturas organizacionais que realmente perdem dinheiro com erros e danos (p. ex., sistemas per capita, como o sistema do Veteran’s Affairs nos Estados Unidos, ou o sistema de saúde nacional do Reino Unido), fazer a conta para determinar o “retorno do investimento” feito em segurança é muito difícil. Depois de tudo o que foi dito não devemos colocar nosso foco nos números e no dinheiro. O maior impacto dos erros e eventos adversos relacionados com a assistência à saúde está nos pacientes e em seus entes queridos, e a extensão é mais bem aferida em ansiedade, dano e morte. Além do mais, em muitos casos, os provedores são “segundas vítimas” de sistemas inseguros que os desamparam quando eles mais precisam de apoio. Por todas essas razões, a questão moral e ética da segurança do paciente permanece sendo o maior motivador de todos.

Robert M. Wachter é professor e diretor associado do Departamento de Medicina Marc and Lynne Benioff Endowed. Chefe da Divisão de Medicina Hospitalar da University of California, São Francisco. Presidente do Comitê de Segurança do Paciente do UCSF Medical Center, São Francisco, Califórnia. 29

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gestão |segurança patrimonial

SEGURANÇA HOSPITALAR Hospital Oswaldo Cruz, de São Paulo, mantém gestão estratégica de segurança com avaliação de riscos, definição de metas e mensuração de eficácia do sistema por meio de indicadores 30

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omo em toda organização que pretende gerir os processos que resultam em um ambiente seguro e protegido, os hospitais também devem partir da definição da política de segurança e elaborar um plano de segurança que definirá as ações necessárias para construir o sistema de segurança. Para fazer a gestão da segurança de modo estratégico é necessária a avaliação dos riscos, a definição de metas e mensuração da eficácia do sistema de segurança através de indicadores. No Brasil, apesar das empresas já terem iniciado a gestão das atividades da área de segurança patrimonial por indicadores, ainda não há uma entidade que colete e tabule essas informações, servindo de fonte de dados e base de conhecimento para análise comparativa entre a situação de segurança do hospital e o setor hospitalar. No Hospital Alemão Oswaldo Cruz (HAOC), de São Paulo, dois grupos foram estabelecidos compreendendo metas distintas na área de Segurança Patrimonial e Pessoal. O primeiro visa redução de eventos contra o patrimônio que não envolvem violência nem ameaça a vítima, como por exemplo, o furto de um aparelho celular. Já o segundo, determina “meta zero” para eventos que possam gerar uma ameaça ou violência contra a vítima, como por exemplo, o roubo. Para alcançar as duas metas são utilizadas ações diferentes e complementares. De acordo com Rômulo Ponte, gerente de atendimento e segurança do HAOC, em todas as melhores instituições hospitalares no mundo, as ações têm como objetivo estratégico o Pacient Safety (Segurança do Paciente). “Quando desdobramos esse objetivo, perceberemos que muitas ações acontecem no campo de competência da Segurança Patrimonial e Pessoal”, explica. Para atuar nesse ambiente cada vez mais complexo e com um ciclo de mudanças rápido, há 14 anos, o Oswaldo Cruz optou pela terceirização do serviço

de segurança como um caminho para especialização. “Em 2007 contratamos a empresa Graber Segurança após conseguirmos evidenciar um programa de capacitação dos recursos humanos customizado para o setor hospitalar. O programa está estruturado em critérios rigorosos de admissão, na educação continuada in company, na capacitação à distância pela web e para o desenvolvimento do percurso profissional o colaborador é motivado à formação na Universidade Graber”, explica Rômulo Ponte. Aliada ao pilar educação, a inovação na prestação de serviços também pesou como fator de decisão na contratação. “Na área operacional é disponibilizado aos clientes um serviço adicional para segurança pessoal através do Clube da Segurança. Esse serviço utiliza a estrutura operacional e de inteligência e estende a proteção da esfera empresarial para a esfera pessoal com um custo que permite o acesso a um grande número de colaboradores da empresa onde acontece a prestação do serviço. Através da implantação do Clube da Segurança é possível educar os colaboradores do hospital para a segurança patrimonial e pessoal e conscientizar a todos quanto a sua participação imprescindível no sistema de segurança”, argumenta. Rômulo Ponte ressalta também que, na área de gestão, a inovação é oferecida por meio de um software customizado para mapeamento, registro e elaboração de relatórios gerenciais que permite a análise crítica da situação de segurança e a elaboração de planos de ação de melhorias. “Para a garantia da melhoria contínua da prestação do serviço por indicadores a Graber é a primeira empresa do setor segurança que pode ser contratada com um SLA / Service Level Agreement (Acordo de Nível de Serviço) que possibilita a remuneração do serviço proporcional ao serviço prestado”, disse.

Rômulo Ponte, gerente de atendimento e segurança do HAOC, explica que em todas as melhores instituições hospitalares no mundo as ações têm como objetivo estratégico o Pacient Safety

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gestão |segurança patrimonial

Expansão e análise de Riscos O Hospital Alemão Oswaldo Cruz, que tem sede no bairro do Paraíso, conta hoje em seu complexo hospitalar com 72 mil metros de área construída, distribuídos em 307 leitos, e um corpo clínico formado por cerca de 3500 médicos, além dos mais de 1500 profissionais que compõem o escopo de colaboradores do hospital. Com o forte crescimento, marcado por novas unidades em diferentes pontos da cidade e diferentes aspectos demográficos e sociais, foi incorporada à gestão estratégica de segurança uma intensa análise de riscos, onde são utilizadas a metodologia quantitativa (histórico) e a metodologia qualitativa que integra as diferentes variáveis de cada unidade de serviço. “Esse processo é um importante componente estratégico para definição dos recursos humanos, recursos eletrônicos, recursos materiais e dos processos de atuação para produzir uma ambiente seguro e protegido em todas as unidades”, explica Ponte. Um desses exemplos é a recente inauguração de

um prédio no bairro da Mooca, em São Paulo, para a operacionalização de dois projetos de sustentabilidade, que visa atendimento a paciente do SUS, frutos da parceria firmada com o Ministério da Saúde em novembro de 2008. A nova unidade atenderá a população por meio do Programa de Prevenção e Rastreamento

O Oswaldo Cruz conta hoje em seu complexo hospitalar com 72 mil metros de área construída, distribuídos em 307 leitos.

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gestão |hospital oswaldo cruz

Crescimento do hospital, marcado por novas unidades, impulsionou a gestão estratégica da segurança

do Câncer Colorretal e do Programa Integrado de Controle de Câncer Mamário. “A cada nova implantação podemos evidenciar o aspecto inovação refletido em uma proposta estruturada e enxuta com o compromisso de eliminar qualquer desperdício no sistema de segurança aplicado pela Graber no hospital”. A unidade é também a sede da Superintendência de Sustentabilidade Social do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, contemplando, ainda, um auditório que será utilizado para treinamentos relacionados aos demais projetos sociais do Hospital. Na assinatura do acordo com o Governo Federal, o Oswaldo Cruz estimou que o repasse da contribuição seria – no total, de 2009 a 2011 – de R$ 73.002.000,00. Em 2009 a isenção foi de R$ 30.000.000,00, valor integralmente revertido para os doze projetos filantrópicos. Ainda em 2010, o Hospital Alemão Oswaldo Cruz - em parceria com a Graber Segurança – promoverá, de acordo com Rômulo Ponte, um grande fórum para produção de conhecimentos voltados para a preparação dos hospitais para atendimento de emergências nas comunidades, baseado nos padrões internacionais de qualidade e segurança da Joint Comission International. “Como evidência de uma parceria que é referência na área de segurança hospitalar será apresentado um case de sucesso produzido no nosso hospital. Essa atividade de produzir conhecimento está alinhada com a visão compartilhada pelas duas instituições de ser referência nos seus setores de atuação”, conclui. 34

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PACIENTE FALECIDO O médico está ou não obrigado a fornecer o prontuário médico a familiares? Por Juliane Pitella

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liberação ou não de prontuários médicos de pacientes falecidos e familiares, pauta recente nas avaliações do Conselho Federal de Medicina, recebeu novo parecer do órgão (CFM nº 06/10), reafirmando que o direito ao sigilo garantido por lei ao paciente vivo tem efeitos projetados para além da morte. Segundo o parecer, “o prontuário médico de paciente falecido não deve ser liberado diretamente aos parentes do de cujus, sucessores ou não. O direito ao sigilo, garantido por lei ao paciente vivo, tem efeitos projetados para além da morte. A liberação do prontuário só deve ocorrer ante decisão judicial ou requisição do CFM ou de CRM”. Desde os primórdios da medicina, o acesso ao prontuário médico é uma questão polêmica e desgastante entre pacientes, médicos e familiares, pois, envolve os direitos e deveres que, por vezes, são pouco esclarecidos, gerando confusões de quem efetivamente pode ou não ter acesso a ele. De acordo com Renato Fonseca, Conselheiro Relator do CFM, o prontuário é um documento que pertence ao paciente. Portanto, deve ser protegido por regras éticas e legais que impedem sua divulgação por qualquer outra pessoa, incluindo o médico. “Muitas vezes os familiares são as pessoas que o paciente menos quer que tenham acesso ao prontuário. O documento também possui dados pessoais e sobre a sexualidade”, destacou o conselheiro. A nova regra evidencia que a liberação do prontuário a outras pessoas que não o próprio paciente envolve a delicada questão do segredo profissional, tratada no Código de Ética Médica e no Código Penal. Entre os trechos importantes, o parecer nº 06/10, conclui que só existe respaldo para a quebra do sigilo médico em três casos: “(1) quando houver “justa causa”, (2) quando houver dever legal ou (3) por autorização expressa do paciente”. E salienta: “Salvo as exceções descritas, existe outra que decorre do ordenamento jurídico: os representantes legais de pessoas que não têm aptidão para praticar pessoalmente os atos da vida civil, como, por exemplo, os pais de um menor”. Desta forma, o Código Civil não prevê a figura do “re-

presentante legal do falecido”, o que torna intransmissível os direitos da personalidade, não cabendo a transmissão sucessória. Vale esclarecer que, o paciente vivo tem direito a acessar ou requisitar cópia do seu prontuário, mas, não de levá-lo para casa ou guardá-lo. Quando solicitado pelo paciente, o médico deverá fornecer a cópia. E, como sempre recomendamos em nossa Consultoria Jurídica Especializada, a cópia do prontuário deve ser fornecida mediante solicitação por escrito do paciente, juntamente com um relatório médico explicativo e interpretativo das anotações constantes do prontuário, além da assinatura do paciente e recibo de entrega da cópia do prontuário. Se o paciente for falecido, a cópia de prontuário só poderá ser efetivada se: (1) houver determinação judicial para a entrega das cópias e (2) se houver pedido do CFM ou CRM local. Lembrando que o delegado e/ ou perito judicial não possuem poderes de livre acesso ao prontuário, sem que esse acesso seja mediante determinação judicial, proferida por um juiz. O parecer do CFM conclui que “em hipótese alguma deve o hospital ou o médico liberar o prontuário do paciente falecido a quem quer que seja somente pelo fato do requerente ser um parente do de cujus. O parentesco, por si só, não configura a “justa causa” a que se refere o Código de Ética Médica”. Na dúvida, vale consultar o CRM local para não incorrer em sanções éticas, e tão pouco, em implicações criminais por quebra de sigilo médico.

Juliane Pitella diretora da ELP - Rede Nacional de Advogados Especializados na Área de Saúde. E-mail: advsaude@uol.com.br. Site: www.advsaude.com.br. Fones: (11) 3142-8828/3142-8826. 37

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HOSPITAL E MATERNIDADE

Sテグ LUIZ Investimento de R$ 800 milhテオes para formar rede nacional

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Por Kelly de Souza

Um dos mais avançados hospitais do país, o São Luiz se prepara para atuar em rede nacional. Operando atualmente com três unidades na capital Paulista, a instituição pesquisa e analisa a viabilidade de atuação em oito praças – três delas no Estado de São Paulo. A meta é investir entre R$ 600 e 800 milhões para a aquisição ou construção de novos hospitais nos próximos cinco anos.

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GOVERNANÇA CORPORATIVA E EXPANSÃO

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governança corporativa tem contribuído para o desenvolvimento sustentável do Hospital São Luiz. A adoção das boas práticas de governança trouxe equilíbrio e fortalecimento para o relacionamento de acionistas e administradores, além de promover maior transparência nas relações dentro da empresa. Como resultado, em 2009, a rede alcançou um aumento de 20% na Receita Bruta Operacional, em relação ao ano anterior, atingindo a marca de R$ 680 milhões. Além de melhorar a gestão da empresa, o investimento feito pelo São Luiz em governança corporativa tem outro objetivo bem mais ambicioso: o de tornar-se uma rede nacional de hospitais e maternidades, reconhecida em todo o país como centro de alta qualidade e excelência. De acordo com Denise dos Santos, Presidente do São Luiz, a companhia está pesquisando oito praças, três delas no Estado de São Paulo. “Estamos analisando as mais viáveis, por isso, podemos investir em

oito hospitais ou menos, conforme a viabilidade dessas praças. Em alguns locais, já estamos negociando a compra do terreno. A ideia é investirmos entre R$ 600 e 800 milhões para a aquisição ou construção de novos hospitais nos próximos cinco anos”, explica. Na presidência desde março de 2009, Denise – que é formada em engenharia elétrica pela FEI – presidiu também a divisão de celulares da Siemens do Brasil, onde fez carreira. Em 2010, o São Luiz investirá R$ 75,8 milhões, dos quais R$ 40 serão destinados à reforma da unidade Itaim, que ganhará 40 leitos novos. Também haverá melhorias nas demais unidades da rede (Anália Franco e Morumbi), além de benfeitorias na área de Tecnologia da Informação. Pelo artigo 199, a Constituição Federal proíbe que hospitais privados recebam dinheiro estrangeiro para a formação de seus capitais – limitação que as operadoras de planos de saúde, as seguradoras e os laboratórios não têm. Para Denise, isso tem causado um desequilíbrio no mercado, favorecendo a ver-

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ticalização na saúde suplementar. “Precisamos que essas diretrizes sejam revistas, pois estamos praticamente condenados à verticalização. Os planos, principalmente, têm adotado essa prática ao investir em hospitais próprios. Não os condeno, pois há o amparo legal. Mas lutamos pela igualdade. Estamos competindo de forma desequilibrada e não conseguimos acompanhar a movimentação que existe dentro do setor”, ressalta. Desde 2005, o projeto de Lei no Legislativo Federal (PL nº 6482), que permite o ingresso de capital estrangeiro em serviços de saúde de alta complexidade, está parado. Se o fortalecimento dos negócios para os prestadores de serviços está ligado aos planos de saúde, que cada vez mais verticalizam suas atividades, por outro lado, os hospitais também têm adotado a estratégia. Política que desagrada o São Luiz, que não pretende investir em Plano de Saúde, e, sim, na rede hospitalar. “O governo, por meio da Agência Nacional de Saúde (ANS), regulamenta as operadoras e, consequentemente, somos atingidos e também temos de nos adequar às novas exigências, por exemplo, a Troca de Informações em Saúde Suplementar (TISS), o Contrato Resolução Normativa 42 e a Terminologia Unificada da Saúde Suplementar (TUSS). Com relação às operadoras, tínhamos

Denise dos Santos, Presidente do São Luiz algumas dificuldades operacionais que melhoraram muito nos últimos tempos. Recebemos mais informações, fato que facilita nossas tratativas”, conta a executiva do São Luiz. O São Luiz também tem investido em comunicação corporativa para consolidar a imagem da marca no mercado nacional. De acordo com a presidente da rede, investir em marketing e publicidade é fundamental para quem quer crescer e se posicionar no mercado de saúde, que é altamente competitivo. “Queremos conquistar nosso cliente, trazê-lo para próximo da nossa marca, e para isso só mesmo mostrando quem somos, ressaltando nossas qualidades e nossa excelência, valorizando nossos parceiros. Esse crescimento da área demonstra que o marketing é, sim, um dos nossos pilares de trabalho. Tanto que investimos forte em comunicação, somos um dos maiores anunciantes da categoria e a imagem da nossa marca é uma das nossas maiores fortalezas. Acreditamos no mercado hospitalar brasileiro, queremos crescer e levar a marca São Luiz para outras praças”, conclui Denise. 41

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Números do Hospital 803 leitos 14 mil médicos credenciados 4,5 mil funcionários 4,4 mil internações/mês 3,4 mil cirurgias/mês 50 mil atendimentos/mês no Pronto-socorro 69 mil atendimentos/mês no Centro de Diagnósticos 13 mil partos/ano Planos de Saúde e empresas atendidas: 60 Unidades de Atendimento: 3 (Itaim, Anália Franco, Morumbi)

POLÍTICA DE GOVERNANÇA CORPORATIVA Desde a profissionalização da rede São Luiz, a presidente tem como função conduzir a empresa no dia-a-dia, alinhando a equipe corporativa e implantando diretrizes estratégicas delineadas com o Conselho de Administração. No Conselho de Administração, a função do presidente é, junto com os demais integrantes, estabelecer a estratégia que norteará os planos futuros de crescimento, zelar pela transparência administrativa e pela consolidação das boas práticas de governança. Criados pelo Conselho de Administração, os Comitês têm a competência de estudar com profundidade os temas de suas respectivas áreas de atuação, a fim de orientar o Conselho em suas decisões. Não é uma instância deliberativa, ou seja, os Comitês não tomam decisões, apenas propõem novas ações ou desaconselham outras. Atualmente, há cinco comitês, compostos por membros do conselho que presidem esses comitês e membros da diretoria executiva: Comitê de Auditoria e Finanças, Comitê de Estratégia, Comitê de Riscos Jurídicos, Comitê de Recursos Humanos, Comitê Operacional. 42

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TOP MARKETING ADVB

Claudio Tonello, Diretor Comercial e de Marketing do Hospital e Maternidade São Luiz

O São Luizl recebeu, em maio, o prêmio TOP Marketing da Associação dos Dirigentes de Vendas e Marketing do Brasil (ADVB), na categoria Saúde. A premiação contempla as grandes sacadas de marketing de empresas em diversos setores e elege: as melhores práticas, as teses mais inovadoras e as estratégias de sucesso elaboradas para a oitava edição do Fórum “As Grandes Sacadas do Top de Marketing”. As ações receberam destaque pelo impacto gerado, resultados positivos e crescimento no market share. Durante o evento, os cases que colocaram a Rede São Luiz entre os 10 melhores de marketing em 2009 foram apresentados. “Fomos reconhecidos não por uma, mas por duas sacadas de marketing, o que nos enche de orgulho, pois este é um prêmio que valoriza os melhores cases, os melhores profissionais e anunciantes. Os cases vencedores foram a série Quadrigêmeos (Fantástico) e a nova estratégia de comunicação da Fórmula 1, onde deixamos de focar apenas tecnologia, para valorizar os talentos e valores humanos do Hospital São Luiz: os médicos. Nessa campanha comunicamos que os grandes médicos que atendem os melhores pilotos e dirigentes da Fórmula 1 são os mesmos que atendem você nos 365 dias do ano”, explica Claudio Tonello, Diretor Comercial e de Marketing do Hospital e Maternidade São Luiz. Os premiados foram escolhidos pela avaliação técnica e metodológica das entidades que realizam o evento, a ADVB e o Centro Nacional de Modernização (Cenan).

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RECURSOS HUMANOS E A POLÍTICA DE INTEGRAÇÃO Se o projeto de expansão do Hospital São Luiz é ambicioso, com a meta de abrir várias unidades, outro desafio é treinar os colaboradores que ocuparão os diversos postos de trabalho, diretos e indiretos, que serão criados no futuro. Nos últimos anos, a própria ampliação (de leitos e unidades) que gerou centenas de contratações, impulsionou a empresa a criar uma política específica para integrar os novos funcionários. De acordo com Maria Alice Rocha, diretora de RH do São Luiz, o principal desafio é responder ao crescimento do setor com profissionais alinhados às crescentes demandas por excelência em serviços. “Ou seja, prestar serviços assistenciais e de caráter geral com excelência e custos compatíveis com a dinâmica de mercado”, ressalta. Para atingir esse objetivo, o São Luiz implantou no final de 2009 uma nova versão de integração institucional, destinada a colaboradores e terceiros. O

Programa de Integração Institucional (veja a seguir) destina-se a todos os novos colaboradores até o nível de gerência. Atualmente, o quadro funcional da rede – que conta com 4,5 mil funcionários e 14 mil médicos credenciados – está dividido em áreas assistenciais (60%), áreas operacionais e de serviços (34%) e áreas corporativas (6%). “Profissionais qualificados e alinhados com a organização não surgem por acaso. Temos clareza de que a busca de bons profissionais faz parte da pauta das empresas que querem excelência, seja na capacidade de captação, formação interna ou retenção. Conosco não é diferente, também trabalhamos nessa direção”. Uma das políticas de destaque do São Luiz é o Programa de Remuneração Variável que é baseado em performance, desde a dimensão empresa até a dimensão individual. O programa abrange os profissionais

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O Programa de Recursos Humanos do São Luiz foca em formação de líderes que mantenham suas equipes fortalecidas, eficientes e capazes de decidir, falar e fazer que atuam como gestores, sejam médicos ou não, considerando indicadores de performance ligados aos aspectos de gestão. “Nosso próximo passo será expandir para toda a população”, conta Maria Alice. Entre as ações de Recursos Humanos, a diretora explica que o hospital trabalha com ações orientadas à mobilização das equipes, engajamento dos profissionais e capacitação permanente (Jeito São Luiz de Servir); Também com programas de desenvolvimento gerencial e de competências para o trabalho (Educação Corporativa), bem como, foco na comunicação ativa (via gestores) e na proximidade entre a base e a cúpula da empresa. Outro ponto importante são as ações que valorizam o engajamento dos colaboradores, tais como participação em resultados e outras ações de reconhecimento (Reciprocidade). A comunicação também tem seu espaço dentro da política de RH, além da manutenção de veículos institucionais de comunicação (revista, e-mails, murais), a instituição mantém uma Rede de Correspondentes, composta por pessoas de posições não gerenciais que atuam como facilitadores da comunicação nos diversos setores da empresa. Maria Alice Rocha ressalta que a gestão de pessoas e de liderança são temas críticos em todas as empresas, e não só nas redes hospitalares. “É o desafio das corporações, especialmente aquelas que se situam na prestação de serviços. Assim, colocamos esforços no desenvolvimento de nossos gestores. Além disso, compartilhamos com os médicos parceiros todas as iniciativas do São Luiz através do Fórum com Médicos. Dentre elas, as iniciativas ligadas à gestão de pessoas, ou seja, compartilhamos nossa estratégia com pessoas e ouvimos a visão de nossos parceiros em relação aos nossos colaboradores. Entendemos que essa é a forma de evoluir em parceria e alcançar objetivos comuns”, explica. 47

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reportagem de capa |Hospital e Maternidade São Luiz Essa preocupação em envolver os médicos parceiros não é injustificada. Grande parte do resultado de negócios de um hospital depende, de certa maneira, do envolvimento do corpo clínico junto à gestão. “Prestamos serviços e toda a equipe assistencial tem relação direta com isso. Assim, a manutenção de fóruns de debate com os parceiros médicos, a realização de pesquisas anuais e o programa de desenvolvimento das equipes permitem evoluir na busca de relacionamentos internos adequados e positivos para a geração de resultados e satisfação de nossos clientes da saúde. É assim que conduzimos o tema em nossa empresa, com muito diálogo e genuíno propósito de crescer juntos”.

POLÍTICA DE INTEGRAÇÃO INSTITUCIONAL O Programa de Integração Institucional, focado nos novos colaboradores até o nível de gerência, ocorre em dois dias, antes que o funcionário inicie na área, com carga horária total de 10 horas. Conduzido por um membro do RH (condução do programa e promoção do Jeito São Luiz de Servir), a Integração conta, também, com a participação dos diretores corporativos (abertura e acolhimento) e de representantes de diversas áreas como, por exemplo, Hotelaria, Nutrição, Enfermagem, TI e MKT. A partir de vídeos e apresentações, o colaborador conhece: a história da organização; aspectos fundamentais da cultura organizacional; estrutura; políticas, normas e procedimentos; principais projetos em andamento; informações relevantes para o bom desempenho do novo colaborador; principais atividades das áreas e suas interfaces. Posteriormente, cada área é responsável, também, pela recepção e integração do novo colega. Por meio de treinamentos ou acompanhamento de outros colaboradores mais “antigos de casa”, o novo funcionário conhece mais detalhadamente sua atividade e área. Os cargos de liderança, a partir do nível gerencial, participam de integrações “personalizadas” em reuniões com alguns gestores. De forma estratégica e sucinta, o novo líder conhece a organização e as principais áreas com as quais se relacionará. Essas reuniões são agendadas pelo RH, parceiro e suporte do processo. O projeto, ainda em construção, também prevê o “reencontro” dos colaboradores com 6 a 15 meses de casa. Nesse momento, o RH apoiará um gestor na con-

dução do programa que visa entender como os colaboradores têm sido “integrados” em suas áreas, a participação em treinamentos, o apoio e papel das lideranças e a percepção que os novos funcionários têm da empresa. Uma oportunidade para alinhar informações e aperfeiçoar processos.

Maria Alice Rocha, diretora de RH do São Luiz

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GESTÃO DE QUALIDADE O São Luiz mantém, desde 1992, o Processo de Melhoria para a Qualidade, modelo próprio de gestão que possibilita incorporar e implantar de maneira facilitada qualquer tipo de certificação, acreditação e ferramenta de qualidade. Para João Maia, Gerente Corporativo da Qualidade, conquistar novos modelos de acreditações e certificações traz melhorias para a gestão, aumentando a visibilidade e credibilidade do hospital para o público interno e externo. “O São Luiz possui atualmente a certificação ISO 9001 e Acreditação ONA – nível excelência nas unidades Itaim e Morumbi e nossa meta é estender estas certificações ainda este ano para a unidade Anália Franco”, explica. Atualmente, a rede investe cerca de R$ 2 milhões, por ano, em processos de qualidade que abrangem estrutura,

treinamentos e capacitação de profissionais. Os resultados são mensurados através de indicadores de desempenho, perfomance, satisfação de clientes e resultados das conformidades de processos e de gestão de riscos. Um desses resultados pode ser observado, por exemplo, no baixo índice geral de infecção hospitalar da rede de 2,5%, considerado baixo tanto para os padrões nacionais como os internacionais. O norteamericano CDC (Center Disease Control), um dos órgãos mais exigentes do mundo, trabalha com índice de 5%, semelhante ao padrão nacional. “A partir do momento que melhoramos nossos processos sistemicamente, o impacto é imediato nos indicadores e principalmente nos de infecções hospitalares, que são excelentes em com-

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João Maia, Gerente Corporativo da Qualidade parações com referenciais externos e inclusive com os internacionais”, ressalta Maia. Já para a prevenção de eventos adversos e erros médicos, o São Luiz conta com forte atuação na Gestão de Riscos e Segurança do Paciente. “Temos um Programa de Gestão de Riscos Institucional com comissões multidisciplinares atuantes e, principalmente, a Comissão de Segurança de Pacientes em cada unidade. Mapeamos

todos os riscos inerentes às atividades e aos setores, definindo protocolos e medidas preventivas, bem como monitoramento das ocorrências e/ou eventos, através de indicadores nas reuniões das respectivas comissões, setores e alta direção”. Para João Maia, as maiores dificuldades para a implantação de novos processos de qualidade, padronização do atendimento, protocolos, etc, estão em tirar os profissionais dos locais de trabalho para treinamentos, devido às demandas. “Diante disto, investimos em capacitar os gestores como líder educador, e estes treinam suas equipes em todos os tipos de treinamentos, nos locais de trabalho, quando não conseguem levá-los para salas de treinamentos”, conta. Os fornecedores do hospital também são envolvidos na gestão de qualidade. “Temos um Programa de Avaliação e Qualificação de todos os tipos de fornecedores de produtos e serviços, através de questionários de Qualificação, análise de documentações exigidas, auditorias in loco por auditores internos e profissionais técnicos, monitoramento dos serviços prestados e nos recebimentos de produtos, tudo com indicadores”, conclui.

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NA VANGUARDA DA EXCELÊNCIA MÉDICA

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A atualização profissional por meio de pesquisas, estudos e eventos científicos é fundamental para profissionais que queiram fazer parte do corpo clínico de qualquer instituição que visa a excelência médica. Para Ruy Bevilacqua, Diretor Médico Corporativo da rede de hospitais e maternidades São Luiz, essa é a maneira de manter a qualidade assistencial. “Embora o sistema de residência consiga que tenhamos médicos de excelência, ele não atende todos os egressos de nossas escolas. Muitas delas têm sérias deficiências nesse sentido. O Conselho Federal de Medicina e o Ministério da Educação têm se envolvido para resolver essa questão. O grande desafio tem sido nessa área”, explica. Além da formação e atualização profissional, a adoção de protocolos clínicos e da medicina baseada em evidência tem que estar em pauta constantemente. “Essa é uma grande realidade dentro da rede São Luiz. Temos todos os nossos protocolos documentados, eles são baseados em evidências e representam as nossas condutas. Inclusive, publicamos um manual de Protocolos em Obstetrícia e agora será lançado um novo, sobre os Protocolos em Neonatologia”, conta. A adoção da “segunda opinião” e de intercâmbios internacionais também integram o leque das estratégias.

“Essas opções já existem em vários níveis. Temos um intercâmbio bastante extenso, com a realização de Congressos Médicos, Seminários ou cursos feitos no Brasil, que contam com convidados médicos de outros países. Dadas as facilidades de viagem, há um contingente grande de médicos brasileiros que frequentam centros médicos de excelência no exterior e um número grande que complementa sua formação fora, além de escolas e centros médicos que mantém convênios com instituições de outros países. O São Luiz tem colaborado com médicos para facilitar a participação em Congressos Internacionais e Nacionais. Uma parcela significativa de nosso corpo clínico participa de eventos fora do Brasil, inclusive, alguns contam com a colaboração do São Luiz para participar desses eventos”, explica. Tais ações passaram a ser fundamentais dentro do conceito de excelência uma vez que o próprio perfil de paciente, que passou a gerir sua saúde, tem mudado nos últimos anos. Ruy Bevilacqua explica que hoje um grande porcentual de pacientes chega ao médico com um número significativo de informações, corretas ou não, sobre o seu problema de saúde e métodos terapêuticos. “Fato que gera uma necessidade do médico saber lidar com essa situação. Isso exige uma competência de comunicação maior que no passado. O que diminuiu é a assimetria de informação, o que exige mais do médico. Todo jornal diário traz cadernos de saúde, as revistas têm seções de saúde, sem contar os veículos que são de saúde. Todos têm mais informações”, ressalta. Resta ao médico, segundo Bevilacqua, melhorar a capacidade de se comunicar com o paciente.

Ruy Bevilacqua, Diretor Médico Corporativo da rede 53

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FOCO DO CLIENTE Um atendimento moderno é estar conectado às necessidades do cliente, podendo a cada instante inovar e gerar novas experiências no atendimento. É com essa visão que Márcia Caselato, Gerente de RH e Novos Negócios do São Luiz, define o conceito de assistência humanizada. A ideia é que o ambiente proporcione respeito e liberdade ao paciente, além de favorecer as relações e a comunicação entre as pessoas. Em outras palavras, o cliente passou de agente paciente para exigente. “Para nós, profissionais da saúde, esse conhecimento a mais do cliente, o fato dele ser ativo na busca e na troca de informações, estimula a ficar mais próximo, nos proporcionando o tempo todo momentos de relacionamento, que são mágicos”, explica. Márcia conta que a educação corporativa e a introdução de novas ferramentas de gestão vêm para fortalecer uma importante competência: foco do cliente. “Se o ambiente é harmonioso e aconchegante, se os colaboradores trabalham felizes, combinados entre si e sabem que estão ali para proporcionar o melhor para si e para o cliente, o resultado é sempre muito positivo. Isto é comprovado com o alto índice de satisfação dos

nossos clientes, desde o cuidado com o seu bebê à sua reabilitação”. Como ação de vanguarda, em 2009, o São Luiz iniciou implementação da metodologia Lean & Six Sigma com objetivo de melhorar seus processos, reduzir desperdícios e aumentar o índice de satisfação dos pacientes, médicos e demais partes interessadas em seu negócio. “O São Luiz é o 1º hospital a implantar esta metologia no processo porta a porta, ou seja, desde a entrada do paciente até a sua saída, reduzindo o tempo de sua permanência com melhores resultados e buscando sua satisfação e da equipe médica. O nosso grande desafio é implementar esta metodologia em todas as unidades e nos demais processos”, ressalta. Para ela, é preciso também trabalhar as influências externas. “Lá fora, o nosso colaborador recebe influências. O desafio é manter todo colaborador, cliente e parceiro, desde o momento de sua entrada até o momento em que deixa o hospital, com a percepção de conforto, carinho e segurança, além de um clima organizacional saudável”, conta. Apesar dos cursos de enfermagem e hotelaria

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reportagem de capa |Hospital e Maternidade São Luiz contarem com o módulo de atendimento humanizado, Márcia Caselato explica que na prática este atendimento vai muito além do que é ensinado em sala de aula. “O servir humanizado inspira alunos e professores a terem atitudes, serem resolutivos e ágeis, dedicados e únicos àquele cliente. Médicos já participam de workshops de hospitalidade. Querem entender como fazer parte desse grupo de relacionamento com o cliente com a visão sistêmica do cuidar”. Para manter o conceito de “foco do cliente”, o São Luiz também está ampliando e reformando o pronto-socorro da unidade do Itaim. “Esta reforma trará um novo conceito, de atendimento ao cliente, da saúde”, explica a gerente. Entre as mudanças estão ampliação de leitos (39), nova unidade semi-intensiva, fluxos especializados para as diferentes áreas de atendimento (Clínica Geral, Ginecologia e Obstetrícia e Traumatologia), e adequação de apartamentos na maternidade. Já no Morumbi, as adequações passam por adequações referentes à acessibilidade. A reforma deve terminar em agosto de 2011.

Pioneirismo - A Maternidade São Luiz foi pioneira ao desenvolver os berçários setoriais, como forma de manter o recém-nascido mais próximo à mãe e possibilitar a amamentação sempre que solicitada – o incentivo ao aleitamento materno é um dos aspectos do programa de humanização. Atualmente, no berçário setorial, a equipe desenvolve o programa maternidade ativa: os recém-nascidos permanecem com a família nos apartamentos e suítes durante todo o dia, exceto durante o período da manhã, quando por aproximadamente 4 horas o bebê fica no berçário para receber os cuidados da enfermagem e passar por exames médicos.

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HOSPITAL E MATERNIDADE CONECTADOS Com a implantação de um novo sistema integrado de gestão hospitalar, que abrange áreas operacionais, clínicas e estratégicas da instituição, o Hospital São Luiz pretende aprimorar ainda mais seus processos operacionais, automatizar tarefas, subsidiar as tomadas de decisões estratégicas e clínicas, tornando o prontuário eletrônico do paciente a chave mestra de todo o processo de prestação de serviços. Além da aquisição e implantação do sistema de gestão hospitalar e prontuário eletrônico, que deve ser concluída no início de 2011, os investimentos em TI se estenderão para infraestrutura (servidores, estações de trabalhos, ativos de rede, unidades de armazenamento e outros), readequação e redimensionamento do parque de computadores, Implantação de ferramenta integrada para gestão de recursos humanos e redefinição e implantação de um novo modelo de Service Desk. O São Luiz conta atualmente com equipe de 24 colaboradores responsáveis pelo desenvolvimento interno do sistema

de gestão hospitalar, infraestrutura e implantação e controle de softwares do mercado. E, possui aproximadamente 3300 usuários e 1230 estações de trabalho distribuídas nas três unidades. Segundo Lilian Neves Quintal, Gerente de Tecnologia da Informação Corporativo do São Luiz, as lideranças médicas tiveram ampla participação no processo decisório de escolha da ferramenta que será implantada, fato considerado como condição indispensável pela alta administração e pela área de tecnologia da informação. “Na verdade, não são os médicos que não aderem ao sistema, os sistemas é que não eram aderentes aos médicos. Sistemas que reúnam minimamente as características citadas abaixo (veja a seguir em TI em Saúde: Objetivos) não sofrem resistência para serem implantados. Os médicos e os profissionais de saúde têm sua eficiência aumentada com o uso do sistema e esta busca pela qualidade no atendimento é meta de todo bom profissional. Bons sistemas e bons profissionais só têm

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reportagem de capa |Hospital e Maternidade São Luiz a ganhar trabalhando juntos”, acredita. Para ela, a defasagem brasileira em termos de TI em saúde advém de várias outras razões, como baixos investimentos, carência de softwares, questões culturais, falta de visão estratégica de longo prazo, modelo de subsídio da saúde no país, entre outras. Entre os desafios para a área da saúde, destaca a diminuição dos custos envolvidos para a automação na área da saúde, padronização, maior integração entre sistemas

e equipamentos médicos, mobilidade e segurança. Já em termos de novas tendências, como as consultas via email, que muitos países têm adotado, ela não acredita que, neste momento, seja viável no Brasil. “A tecnologia não substitui o contato humano, ela pode facilitar, diminuir fronteiras e garantir o atendimento quando a barreira física impossibilita o acesso. O Brasil precisará investir muito em segurança para possibilitar de modo adequado este meio de atendimento”, argumenta.

TI EM SAÚDE: OBJETIVOS do Hospital São Luiz Aumentar o grau de segurança no atendimento, por exemplo, alertando o médico sobre uma interação medicamentosa; Agilizar o processo diagnóstico, por exemplo, concentrando todas as informações em um único sistema, dados laboratoriais, imagens médicas, dados pregressos de atendimentos, parâmetros vitais, entre outros; Criar bases de dados para investigação epidemiológica, detecção de perfis e outros; Possibilitar a implantação de regras de segurança para acesso ao prontuário, legibilidade, identificação segura dos profissionais envolvidos no atendimento do paciente e outros; Permitir a integração de todas as informações multiprofissionais referentes ao atendimento do paciente; Agilizar o processo de prescrição, através do uso de protocolos, formulários de preenchimento facilitado para descrições cirúrgicas e outros.

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ACESSO VIRTUAL AO PARTO Imagens da hora do parto, em tempo real, por meio de senha entregue aos pais. O serviço pioneiro, implantado em abril na Maternidade São Luiz, possibilita que famílias tenham acesso ao parto, normal ou cesárea, pela internet. O conteúdo das gravações é confidencial e o acesso às imagens é feito por meio de uma senha entregue no momento da internação à paciente, que fica responsável por distribuir o código aos familiares. A captação das cenas é feita de maneira que apareça apenas o rosto da mãe, de seu acompanhante, além do rosto do bebê, logo após o nascimento. O serviço é gratuito e opcional. “Adaptamos uma tecnologia acessível a uma situação específica e conseguimos desenvolver um produto disponível para 100% das pessoas atendidas aqui”, explica a coordenadora clínica da Maternidade da unidade Itaim, Márcia Maria da Costa. Para a transmissão do parto via web, utiliza-se a tecnologia streaming, que torna mais leve e rápido o arquivo, permitindo escutá-lo e visualizá-lo enquanto se faz o download. “Apesar de não ser um recurso novo, pesquisa-

mos por dois anos e com muita cautela a maneira como esta transmissão seria repassada aos pais, de maneira segura”, explica o engenheiro Paulo Gomes, da Publivídeo, desenvolvedora e parceira da rede São Luiz há 17 anos. Uma câmera instalada no centro obstétrico capta as imagens enquanto é controlada remotamente por um técnico, posicionado em uma cabine anexa à sala de parto. Toda a movimentação se dá por joystick e o equipamento só é ligado depois que a parturiente está posicionada.

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reportagem de capa |Hospital e Maternidade São Luiz

São Luiz e a Fórmula 1 A relação do Hospital São Luiz com o automobilismo brasileiro é antiga. Desde 1998, a rede hospitalar coordena o atendimento médico nas etapas paulistas do campeonato nacional de Stock Car. Mas, é no GP Brasil de Fórmula 1 que a rede tem se destacado com sua presença há nove anos. Em pista, o São Luiz é reconhecido como referência internacional pela FIA desde 2001. A estrutura de pista, em Interlagos, e de retaguarda da rede hospitalar, apresenta o que há de mais avançado em tratamento emergencial, além de 18 veículos e dois helicópteros para rápida remoção. As três unidades do hospital apresentam excelência em algumas das áreas mais importantes para o atendimento a competições, como traumatologia, neurologia, tratamento de queimados e cirurgia geral, com equipes multidisciplinares de médicos renomados nacionalmente. O atendimento médico é utilizado como padrão internacional, tendo se consolidado como um dos melhores do circuito mundial. A estrutura conta com sala de emergência, unidade de terapia intensiva (UTI), atendimento ambulatorial e espaço para a realização de exames. Ao todo, são cerca de 150

profissionais envolvidos, dos quais 39 são médicos e 15, enfermeiros. A frota de socorro é composta por três veículos de intervenção rápida; dois carros de desencarceramento de pilotos e mais dois, de extração; dez ambulâncias em pista, estrategicamente posicionadas; um medical car e dois helicópteros para remoção aérea. “É importante salientar que todos os envolvidos nas operações, tanto em pista quanto nas unidades, integram o corpo médico e profissional permanente do São Luiz”, indica Ruy Bevilacqua, diretor médico corporativo da rede hospitalar. De acordo com o protocolo de socorro em pista definido pela FIA, a estrutura médica deve prestar atendimento emergencial no autódromo, deixando o paciente estabilizado até ser feita a transferência de helicóptero a uma das três unidades São Luiz, onde eventuais cirurgias podem ser realizadas. Além disso, o hospital é um dos poucos do circuito mundial a manter, dentro do Centro Médico, uma sala de controle, reproduzindo a Sala de Controle da Prova, tendo acesso a todas as imagens do circuito, importantes numa operação de resgate.

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panorama brasileiro

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Avaliação da Saúde Brasileira

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Ministério da Saúde e o IBGE divulgaram recentemente o Levantamento Suplementar de Saúde, que integra a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), e amplia conhecimento sobre as características de saúde da população brasileira. Os dados – referentes a 2008 - são os mais recentes oferecidos pelos órgãos. As informações captadas mostram que 77,3% da população avaliaram a própria saúde como “muito boa ou boa”, e que os postos de saúde continuam sendo os locais mais procurados para atendimento. A seguir, confira os principais resultados da pesquisa.

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panorama brasileiro também, 4,6% das pessoas consideravam seu estado de saúde “ruim ou muito ruim”, a taxa mais elevada entre as regiões. Quanto maior o rendimento mensal domiciliar per capita, maiores os percentuais dos que avaliavam seu estado de saúde como “muito bom ou bom”: 87,9% para rendimentos superiores a 5 salários mínimos e 76,2% para rendimentos de até ¼ do salário mínimo.

Doença Crônica

Avaliação da própria saúde Segundo a PNAD 2008, 77,3% da população residente no Brasil autoavaliaram seu estado de saúde como “muito bom ou bom”; 18,9% como “regular” e 3,8% como “ruim ou muito ruim”. Em 1998, 79,1% das pessoas residentes consideravam seu estado de saúde “muito bom ou bom”. Em 2003, foram 78,6% dos 175,9 milhões e, em 2008, foram 77,3% dos 186,9 milhões. Nesses três anos, o percentual de homens com estado de saúde “muito bom ou bom” foi superior ao das mulheres: em 2008, as taxas foram, respectivamente, 79,5% contra 75,2%. O Sudeste apresentou o maior percentual de pessoas que consideravam seu estado de saúde como “muito bom ou bom” (80,1%). No Sul e Centro-Oeste, respectivamente, 77,5% e 77,8% das pessoas fizeram a mesma avaliação. No Norte, 75,5%. No Nordeste estava o menor percentual (73,4%) e ali,

Cerca de 31,3% da população residente (ou 59,5 milhões de pessoas) afirmaram ter pelo menos uma doença crônica, e 5,9% declararam ter três ou mais. As regiões Sul (35,8%) e Sudeste (34,2%) tinham os maiores percentuais de pessoas com pelo menos uma doença crônica, com Centro-Oeste (30,8%), Nordeste (26,8%) e Norte (24,6%) a seguir. As doenças crônicas (identificadas por algum médico ou profissional de saúde) mais informadas foram: hipertensão (14,0%) e doença de coluna ou costas (13,5%), com artrite ou reumatismo (5,7%), bronquite ou asma (5,0%), depressão (4,1%), doença de coração (4,0%) e diabetes (3,6%) a seguir. Na população com 35 anos ou mais, 8,1% das pessoas tinham diabetes. A proporção da ocorrência de doenças crônicas não sofreu variação expressiva: em 1998, foi estimada em 31,6% a proporção de pessoas com pelo menos uma doença crônica; em 2003 foi 29,9% (ou 52,6 milhões de pessoas) e, em 2008, 31,5% (equivalente a 58,3 milhões). O percentual de mulheres com doenças crônicas (35,2%) era superior ao de homens (27,2%) em 2008 e a proporção de pessoas com doenças crônicas crescia conforme aumentava a faixa etária. Quanto maior o rendimento, maior foi o percentual de pessoas que afirmaram ter ao menos uma doença. Entre aqueles com rendimento de até ¼ do salário mínimo, 20,8% tinham ao menos uma doença, e entre aqueles com rendimento acima de 5 salários mínimos, o percentual alcançava 38,5%.

Afastamento A proporção de pessoas que tiveram suas atividades habituais restringidas por motivo de saúde, nas duas semanas anteriores à data da entrevista, foi de 8,3% por, em média, 5 dias de restrição. A região com o maior percentual foi a Norte (9,3%),

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com Sul (8,7%), Nordeste (8,6%), Centro-Oeste (8,3%) e Sudeste (7,9%) a seguir. O percentual de pessoas que informaram restrições em suas atividades habituais nas duas semanas anteriores à entrevista passou de 6,3% em

1998, para 6,9%, em 2003 e 8,3%, em 2008. O percentual de homens com atividades usuais restritas passou de 5,6%, em 1998, para 7,5%, em 2008, e para as mulheres, de 7,0% para 9,1%, no período.

Fonte: PNAD 2008 / IBGE e Ministério da Saúde

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panorama brasileiro

Adesão a Plano de Saúde O percentual de pessoas cobertas por pelo menos um plano de saúde cresceu entre 1998 (24,5%), 2003 (24,6%, ou 43,0 milhões de pessoas) e 2008 (26,3%, ou 49,1 milhões de pessoas). O aumento se deu principalmente na área rural: de 5,8% para 6,7% entre 1998 e 2008. Na área urbana, as taxas foram 29,2% e 29,7% nestes anos. No Sudeste (35,6%) e no Sul (30,0%) os percentuais eram quase três vezes maiores que no Norte (13,3%) e Nordeste (13,2%). Em 2008, 25,9% da população brasileira (49,2 milhões de pessoas) dispunham de pelo menos um plano de saúde. Entre estas, 77,5% estavam vinculadas a planos de empresas privadas, e 22,5% a planos de assistência ao servidor público. Apenas 2,3% das pessoas em domicílios com rendimento per capita de até ¼ do salário mínimo tinham plano de saúde, enquanto 82,5% dos que tinham rendimento acima de 5 salários mínimos tinham plano de saúde. O percentual de mulheres cobertas por plano de saúde (26,8%) era maior do que o dos homens (24,9%), mas 60,8% das mulheres cobertas eram associadas como dependentes. 42,5% dos homens cobertos eram dependentes. Considerando apenas os titulares dos planos de

saúde, observou-se que 20,5% deles tinham seus planos de saúde pagos integralmente pelo empregador, 43,2% o pagavam através do trabalho atual ou do trabalho anterior, 28,1% o pagavam diretamente à empresa do plano de saúde e 8,2% tinham seus planos pagos por outro morador do domicílio, ou não morador do domicílio. Na tabela abaixo, os percentuais de titulares de planos de saúde, com 10 anos ou mais de idade e ocupados, por categorias de ocupação.

Locais mais procurados para atendimento Em 2008, cerca de 139,9 milhões de pessoas (ou 73,6% da população) que, normalmente, procuravam o mesmo serviço de saúde quando necessitavam. O posto ou centro de saúde foi o local mais declarado como normalmente procurado (56,8%), seguido pelos consultórios particulares (19,2%) e pelo ambulatório de hospital (12,2%). As demais categorias (farmácia, ambulatório de clínica ou de empresa, pronto-socorro e agente comunitário entre outros), juntas, representavam 11,8% dos locais procurados. O posto de saúde foi normalmente procurado principalmente pelas pessoas com menor rendimento mensal domiciliar per capita.

Fonte: PNAD 2008 / IBGE e Ministério da Saúde 68

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Atendimento imediato Em 2008, entre as 27,5 milhões de pessoas que buscaram atendimento nas duas semanas anteriores à data da entrevista, 26,5 milhões (96,3%) foram atendidas logo na primeira vez. Considerando-se o rendimento mensal domiciliar per capita, a diferença nos percentuais de atendimento foi pequena: 95,4%, para aqueles com rendimento de até ¼ do salário mínimo e 99,4%, na faixa acima de cinco salários mínimos. O motivo mais assinalado para busca de atendimento foi “doença” (50,0%), sendo que 97,3% destas pessoas foram atendidas. O segundo motivo foi “puericultura, vacinação ou outros atendimentos de prevenção” (22,0%). Em seguida, vieram os problemas odontológicos (14,0%) e “acidentes e lesão” (6,0%).

Avaliação do atendimento O atendimento foi avaliado como “muito bom ou bom” para 86,4% das pessoas, regular para 10,4%

e “ruim ou muito ruim” para 3,1%. De todos os atendimentos, 58,6% foram realizados em instituições públicas. As pessoas atendidas por problemas odontológicos foram as que melhor avaliaram o serviço, 93,6% consideraram o atendimento “muito bom ou bom”, sendo que 68,8% dos atendimentos por este motivo foram realizados pela rede particular. As pessoas não atendidas no serviço de saúde, na primeira vez, nas duas semanas anteriores à entrevista (3,8%), informaram que o principal motivo foi a falta de vaga ou a não obtenção de senha (39,6%), ou porque não havia médico atendendo (34,6%). Entre os que não procuraram atendimento, 96,6% não o fizeram por considerar desnecessário. O percentual de pessoas que sofreram uma ou mais internações durante o ano que antecedeu a data da entrevista, passou de 6,9%, em 1998, para 7,0%, em 2003 e 7,1%, em 2008: foram 12,3 milhões de pessoas em 2003 e 13,3 milhões em 2008 que tiveram alguma internação no período. Veja outros dados no site do IBGE: www.ibge.gov.br

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estante

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As melhores práticas da enfermagem

Medicina psicossomática

A obra é uma indispensável ferramenta de consulta para a prática de enfermagem, proporcionando acesso rápido a mais de 200 procedimentos de enfermagem baseados em evidências. A edição revisada e atualizada faz uso de pesquisas e recursos atuais, oferecendo as informações mais recentes para a prestação de cuidados ao paciente. Além disso, possibilita ao profissional de enfermagem ultrapassar as barreiras para a atualização profissional.

Informações essenciais e diretrizes para os profissionais da saúde mental que trabalham na interface entre a psiquiatria e as demais especialidades apresentadas em um formato prático. É abordada a interconsulta psiquiátrica junto a profissionais e pacientes envolvidos com condições clínicas como doenças cardíacas e renais; oncologia, queimaduras e traumatismos; autoimunes e neurológicos; HIV/AIDS. Indicada para Residentes e profissionais de psiquiatria que trabalham com interconsulta psiquiátrica.

Autor: Springhouse

Autores: Michael Blumenfield & Maria Tiamson-Kassab

Páginas: 640

Páginas: 292

Editora: Artmed Editora

Editora: Artmed Editora

A tristeza perdida

Saúde auditiva

Partindo de uma análise profunda, estudiosos fazem um resgate da tristeza ao longo da história da humanidade, mostrando como pesquisas feitas com doentes mentais acabaram balizando a prática nos consultórios, em que a maioria dos pacientes não tem distúrbios. Eles explicam o forte lobby da indústria farmacêutica, que patrocina quase todas as pesquisas na área, alertam para o crescimento de propagandas e falam dos perigos de prescrever antidepressivos para crianças e adolescentes.

A perda ou deficiência auditiva afeta cerca de 10% da população mundial. Apresentando os efeitos do ruído e de outros agentes otoagressivos ambientais e ocupacionais, além de alternativas de prevenção, as fonoaudiólogas Thais Catalani Morata e Fernanda Zucki organizaram o Saúde auditiva – Avaliação de riscos e prevenção. A obra, coletânea de dissertações de mestrado, resumidas e adaptadas, reflete o grau de amadurecimento da área no Brasil e expressa as demandas dos profissionais de saúde.

Autores: Allan V. Horwitz e Jerome C. Wakefield

Autores: Thais C. Morata e Fernanda Zucki

Páginas: 288

Páginas: 176

Editora: Summus Editorial

Editora: Plexus Editora

Pediatria – Consulta Rápida

Medicina Integrativa

Atendendo à necessidade médica de esclarecimentos em atendimentos pediátricos, o livro aborda conteúdo de todas as subespecialidades do ramo. A obra é um guia repleto de gráficos, tabelas e referências a outros livros mais específicos de cada campo da pediatria. Inclui informações dos principais medicamentos e exames. Para a elaboração do livro, os autores contaram com a participação de médicos renomados e de iniciantes, que ajudaram tanto com experiências profissionais quanto com entusiasmo.

Praticada em grandes hospitais e universidades, a medicina integrativa está em ascensão no mundo ocidental. Trata-se de uma abordagem médica orientada para a cura do paciente como um todo, visando saúde, qualidade de vida e autocuidado. O objetivo não é apenas curar o paciente, mas estimulá-lo a melhorar seus hábitos e a ter papel ativo em sua recuperação. Partindo da história de vida e da análise meticulosa da saúde do indivíduo, o médico adota abordagem integrativa e propõe plano mais adequado, sempre tendo por base uma visão ampla de saúde e cura.

Autores: Paula X. Picon, Paulo José C. Marostica, Elvino Barros e colaboradores

Autor: Paulo de Tarso Lima

Páginas: 1.096

Páginas: 144

Editora: Artmed Editora

Editora: MG Editores

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GUIA DE EMPRESAS

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Atmosfera www.atmosfera.com.br BD Medical www.bd.com/brasil Center Park www.centerparkestacionamentos.com.br Clinivac www.clinivac.com.br Deltronix www.deltronix.com.br Edlo www.edlo.com.br EME Equipamentos www.emeequipment.com.br Engelux www.niccioli.eng.br Estapar Estacionamentos www.estapar.com.br For Medical www.formedical.com.br Graber www.graber.com.br Grupo Publivídeo www.publivideo.com.br H Center www.hcenterhospitalar.com.br Help Med www.helpmed.com.br Hospitalar www.hospitalar.com.br Hospital Business www.hospitalbusiness.com.br ISS Serviços www.iss.com.br Mercur www.seucorpopede.com.br MHA Engenharia www.mha.com.br MM Serviços www.multimaxservicos.com.br Moore Stephens Prisma www.msbrasil.com.br MultiPark Estacione NOAH Gastronomia e Eventos www.noah.com.br OAK Serviços www.oakservicos.com.br Orcimed Paineiras Higiene e Serviços www.paineiras.com.br Serasa Experian www.serasaexperian.com.br Somar Engenharia www.somar.com.br Sodexo www.sodexo.com.br Sony www.sonypro.com.br/medical Super Lanche www.superlanche.com.br Teresa Gouveia Arquitetura www.teresagouveia.com.br Thermec Engenharia Tilelli Advogados www.tilleli.com.br TTS Brasil www.ttsbrasil.com.br Xiko Karpa www.xikokarpa.com.br Zanettini Arquitetura www.zanettini.com.br

Pág. 67 Pág. 45 Pág.34 Pág.27 3ª Capa Pág.21 Pág.43 Pág.78 Pág.71 Pág.49 Pág.33 Pág.69 Pág.79 Pág.76 Pág.74 Pág.73 Pág.33 Pág. 77 Pág.71 Pág.55 Pág.79 Pág.51 Pág.59 Pág.75 Pág.61 Pág.79 Pág.81 Pág.78 Pág.77 2ªCapa Pág.75 Pág.35 Pág.63 4ª Capa Pág.76 Pág.72 Pág.57

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INSIDE

Ano 2 - 2009 - Edição nº 7 - www.healthcarebrazil.com.br

Ano 2 - 2009 - Edição nº 8 - www.healthcarebrazil.com.br

ESPECIAL: REDE SÃO CAMILO As instituições de saúde de sucesso se utilizam de importantes ferramentas de gestão para ampliar, aprimorar e revitalizar seus negócios. Acompanhe como o São Camilo investiu no plano estratégico de longo prazo, se articulou em rede, criou novas diretorias e apostou em educação e processos de qualidade operacionais e assistenciais. Mais do que isso: colocou o paciente no centro de sua atuação.

ESPECIAL: Hospital São Francisco de Ribeirão Preto Proporcionar o melhor atendimento médico-hospitalar com qualidade e conforto, incorporando os últimos avanços tecnológicos em medicina. É com este conceito de gestão que o HSF, um dos mais respeitados do interior de São Paulo, completará 65 anos de atuação em 2010.

ESTRATÉGIA: Philip Kotler ensina como aplicar o marketing estratégico para a área de saúde

Ano 1 - 2007 - Edição nº 3 - www.healthcarebrazil.com.br

Maio 2007 - N° 2 - www.healthcarebrazil.com.br

PANORAMA: Artigo do consultor Guilherme S.Hummel mostra como a Índia avança em alta

Ano 1 - 2008 - Edição nº 4 - www.healthcarebrazil.com.br

DOUTORES!

Saúde Integral

Chega de tanto contorcionismo

UTIs em estado crítico

Michael Porter

O brasileiro Hércules Pereira Neves, principal cientista do IMEC, maior centro europeu de pesquisas em micro e nanoeletrônica, conta como a nanotecnologia vai impactar a assistência em curto prazo

Indústria Patient Empowerment

Hora de flexibilizar

A área de Saúde possui uma das maiores concentrações de entidades, públicas e privadas, que negam o Poder ao cliente. Veja no artigo de Guilherme Hummel porque e como o “Patient Empowerment” deve mudar essa realidade.

André Médici e Bernardo Weaver Barros, do BID, explicam por que a ANS deveria flexibililizar os reajustes dos planos de saúde

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Empresas Importadoras devem movimentar US$ 2.13 bi em 2007

Entrevista Médico há quarenta e dois anos, Luiz Roberto Londres, diretor da Clínica São Vicente, explica porque a medicina foi reduzida a um mero comércio

E MAIS: Distrito Federal integra rede pública e lança cartão saúde do cidadão

E MAIS: Para a ANS, TISS deve aperfeiçoar mecanismos de concorrência no setor

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Brasil ainda conta com iniciativas rudimentares em medicina preventiva e manutenção da saúde. Doenças consideradas erradicadas voltam a assustar enquanto cresce o número de pacientes crônico-degenerativos, situação que escancara as falhas do modelo assistencial baseado na doença. Saiba como os programas promoção à saúde podem mudar esta realidade.

Uma das maiores autoridades em estratégia competitiva no mundo, Michael Porter, professor da Harvard Business School, lança no Brasil o livro Repensando a Saúde, que tem co-autoria de Elizabeth Olmsted Teisberg. Leia nesta edição a primeira parte da obra

Entrevista

Abril 2007

Um em cada dez médicos no Brasil responde ou respondeu a processos judiciais por erro médico. As principais causas são imperícia, imprudência e até mesmo negligência. Para a Organização Mundial da Saúde, se estima que um em cada dez pacientes hospitalizados sofra danos originados da atenção recebida

Bradesco e Itaú colocam no mercado os primeiros planos de previdência com cobertura para a saúde. Produto deve se tornar a principal forma de custeio para a terceira idade e grande promessa de vendas, a exemplo do Health Saving Account (HSA) dos EUA

Baixa remuneração, ausência de leitos no setor público, ociosidade no setor privado e má gestão. Como tirar as UTI’s desse estado crítico?

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OPS! ERREI!

Previdência e Saúde

Pay for Performance promete acabar com a cansativa e pouco produtiva maratona do pagamento por serviços e avança nos Estados Unidos e Reino Unido. Para especialistas, modelo se tornará rapidamente obrigatório e médicos que ainda resistem são os que temem responsabilidade por seus resultados

MAIO 2007

Ano 2 - 2008 - Edição nº 5 - www.healthcarebrazil.com.br

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Tecnologia O Consultor Guilherme S. Hummel mostra como o “Medical Call Center” se tornará o núcleo das empresas prestadoras de serviços clínicos

Entrevista Brasil no centro das atenções da saúde mundial. O médico José Carlos de Souza Abrahão, atual presidente da CNS, presidirá a International Hospital Federation (IHF)

E MAIS: Marcelo Pio de Almeida Fleck fala do conceito de qualidade de vida e o Projeto WHOQOL

E MAIS: SUS 20 anos • Eleição dos EUA e saúde • Parcerias Público-Privadas • Tendências do Setor

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Solução de comunicação e relacionamento da sua empresa com o mercado de saúde A HealthhCare Brazil é hoje a mais influente revista de negócios do setor saúde no País. Especializada em economia, se concentra nas principais tendências nacionais e mundiais em gestão empresarial do setor médico-hospitalar. Com alta qualidade gráfica, circula bimestralmente e é distribuída para todo o Brasil para cerca de 12 mil assinantes, que recebem gratuitamente a publicação.

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REDAÇÃO: www.healthcarebrasil.com

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