Heart Magazine No.3

Page 1


FICHA TÉCNICA / TECHNICAL SPECIFICATIONS EDITORES / EDITORS Bernardo de Vasconcelos Luís de Vasconcelos Marco Câmara DESIGN / DESIGN Marco Câmara CAPA / COVER Marco Câmara COLABORADORES / COLLABORATORS Dina de Vasconcelos Fábio Neves Nelson Ferreira TRADUÇÃO E REVISÃO / TRANSLATION AND REVISION Bernardo de Vasconcelos HEART MAGAZINE é uma publicação trimestral da Heart Magazine / is a Heart Magazine quarterly publication Funchal - Madeira - Portugal www.issuu.com/heart.magazine Todos os artigos são da responsabilidade dos seus autores e, assim sendo, não refletem totalmente a opinião da revista. É expressamente proibida a reprodução parcial ou total de textos e imagens por qualquer meio, sem prévia autorização dos autores e do editor da revista. All articles are of the responsibility of the authors and, therefore, do not fully reflect the opinion of the magazine. It is forbidden to totally or partially reproduce text and images by any means without prior permission of the authors and the editor of the magazine. PARA COLABORAR / TO CONTRIBUTE: Consulte condições em / see how to at www.heartmagazine.pt https://www.facebook.com/pages/Heart-Magazine/417432924997242 e/ou / and/or Envie e-mail para / send an email to geral@heartmagazine.pt Os textos em PT da estrita responsabilidade da Heart Magazine apresentam-se segundo o novo acordo ortográfico. A escolha ortográfica de cada participante é da sua responsabilidade pessoal. Heart Magazine © Registo Nº / Registration No. 5790/2012 junto da Inspeção-Geral das Atividades Culturais (IGAC) – Portugal / with the Inspectorate-General for Cultural Activities (IGAC) – Portugal ISSN 2182-9667


ÍNDICE INDEX

EDITORIAL LOCUS ENTREVISTA

04 08

ADELINO TIMÓTEO ALEX DA SILVA ALEXANDRE BAPTISTA ANTÓNIO BARROSO CRUZ BRUNO SIMÃO CARLA CABRAL CARLA GONÇALVES CARLOS COSTA CÉLIA DO CARMO CLÁUDIA LUCAS CHÉU CRISTINA ATAÍDE DIANNAMARCHETTI DILAR PEREIRA FLÁVIO CERQUEIRA FRANCISCO VELOSA HÉLDER MENDES JEAN-FRÉDÉRIC BOURDIER

14 16 20 22 24 28 30 32 34 38 40 44 48 50 52 54 56

JEAN-PAUL BOURDIER JOÃO GALRÃO JOÃO TABORDA JUAN ABREU LAURA MARCOS LUIS MELO LUIS PLÁCIDO COSTA MARI DA CÂMARA MARTINHO COSTA MAURÍCIO DE PÃO MIGUEL ÂNGELO PAULA RUELLA RACHEL KORMAN RICARDO DE CARVALHO RICARDO VIDELA RICKY SENÚ RITA MELO RODRIGO ALVES RUY SILVA SÍLVIA MARIETA SOFIA LEITÃO SÓNIA CARVALHO T. ANGEL

60 66 68 70 72 74 76 78 80 84 86 88 92 94 96 100 102 106 108 112 114 116 118


Editorial Ars Erotica Muito antes da linguagem escrita, a arte visual foi, para a Humanidade, a primeira forma de comunicação assente naquilo que hoje designamos a linguagem universal do desenho, da pintura e da escultura acerca da nudez. Dos princípios da evolução da raça humana, o que predominantemente chegou até nós foram objetos de arte que celebravam a sexualidade, condição primeva da espécie enquanto animais sexuais que somos devido ao nosso primeiro cérebro, o complexo reptiliano que é principalmente responsável pelos instintos mais básicos de sobrevivência e pela função da reprodução. Esta ideia encontrase inerente nas formas rotundas das vénus de pedra e até nos falos vigorosamente eretos, menires ou não, que apontavam para o poder da semente, tudo envolto nas evocações e em celebrações da fertilidade. Sabendo que nada é estanque e linear na evolução do nosso cérebro, o complexo límbico, que foi surgindo sobreposto ao reptiliano, veio tornar mais complexa esta ideia de sexualidade, pois este novo cérebro coordena as nossas emoções e sentimentos, buscando o prazer. As manifestações artísticas da nudez assumem assim de forma gradual um caráter mais erótico. A humanidade, entretanto, foi desenvolvendo a sua sexualidade para além do mero ato reprodutor, transcendendo a biologia heterossexual enquanto veículo da disseminação da espécie. Depois consegue-se perceber que a terceira parte do cérebro, o neocórtex, começado a formar-se há cerca de 50 mil anos atrás, e agora claramente responsável pelo substancial desenvolvimento do raciocínio, das ideias e dos valores e pela perceção dos fenómenos de natureza mais abstrata e até metafísica, vem tornar tudo muito mais complexo. Esta sobreposição ao velho cérebro mamífero, associada com as emoções e a memória, está envolvida com habilidades evolutivas avançadas, como o intelecto, a imaginação e a criatividade. Recordemo-nos de civilizações longínquas e desaparecidas até aos amores homossexuais da antiguidade clássica e das orgias, das bacantes e dos sátiros mitológicos, até ao fim do império romano, momento em que, a nudez erótica é claramente conotada com o pecado devido ao movimento cristiânico. A nudez, entretanto, é amplamente escondida, mas volta à sua magnificência

4

com o Renascimento, com a ideia do homem ser o centro do universo. A ciência evolui com a pesquisa anatómica através do desenho. Os nus greco romanos e o desenho da nudez são estudados nas artes. Na Capela Sistina, Miguel Ângelo pinta com naturalidade realista o corpo humano dizendo ao Papa, que havia encomendado a obra, que cuidasse das almas enquanto ele trataria dos corpos. Mais tarde são tapados os sexos. A arte erótica vai assumindo vários contornos conforme a época estilística, no entanto, nas suas diversas formas de expressão, adquire um cunho subversivo e subterraneamente consegue ir sobrevivendo a distintas atitudes de tipo inquisitório. Mas aceleremos para chegarmos aos últimos dois séculos, onde a sexualidade ganha um novo fulgor, com uma aceitação alicerçada sobre os estudos de diversos sexólogos como Kinsey, Master e Johnson, e outros intelectuais precedentes e prosseguintes, incidentes sobre o ser humano. A propósito disso, não posso deixar passar a oportunidade de referir que, hoje assiste-se vergonhosamente a um retrocesso mental, onde os direitos humanos LGBT estão a ser violados, como é o caso da Rússia e outros países vizinhos, e sendo a arte um veículo educacional e não discriminatório de sustância anti preconceito, a escolha desta temática de cariz sempre polémico é presentemente duplamente oportuna. Recentemente, e onde agora a pornografia se torna viral no mundo virtual, onde as sex-shops proliferam, procurase fazer a distinção sobre o que é erótico e pornográfico, mesmo para os dois sexos da espécie. O sociólogo Francesco Alberoni no seu livro O Erotismo aborda estas e outras questões. Também aconselho a perspetiva antropológica do inglês Desmond Morris nos livros Os Sexos Humanos e O Animal Humano. Neste número, como em outros, onde o valor da liberdade sempre impera, juntaram-se trabalhos extraordinários. Naturalmente que muitos dirão uns serem mais eróticos e outros mais pornográficos, mas que refletem a beleza através do prazer de uma sexualidade natural à condição humana, enquanto reflexo da mesma. O espectro artístico vai de um poema erótico abstrato docemente apimentado a uma imagem com um cunho mais sexualmente explícito e parafílico onde notoriamente têm de ficar fora de cogito quaisquer considerações do género religioso e legais do planeta Terra. Mais do que nunca, e independentemente da responsabilidade de cada interveniente, esta revista adverte que o seu conteúdo pode, eventualmente, ferir a suscetibilidade de várias pessoas que à mesma tenham acesso, particularmente nesta edição. E sendo a arte soberana na sua exposição finalizo com uma citação que nunca esqueci de Adolf Loos: “Toda a arte é erótica.”, 1908. Ainda que não seja sempre verdade, num primeiro pensar, questiono se a arte é erótica? Sim! Se erótico é sinónimo de prazer? Então... é com prazer erótico cósmico e artístico que este número divulga a produção criativa de seres com anima de artista onde o lema “O coração não deixará a arte morrer!” é para difundir sempre. Luís de Vasconcelos


Editorial Ars Erotica Long before written language, visual art was, for Humanity, the first form of communication based on what we now call the universal language of drawing, painting and sculpture about nakedness. From the beginning of the evolution of the human race, that which predominantly came down to us were objects of art that celebrated sexuality, primeval condition of the species as sexual animals that we are due to our first brain, the reptilian complex that is primarily responsible for the baser instincts of survival and the reproduction function. This idea is inherent in the rounded forms of the stone venuses and even in strongly erect phalluses, whether menhirs or not, pointing to the power of the seed, all inscribed in evocations and celebrations of fertility. Knowing that nothing is straightforward and linear in the evolution of our brain, the limbic complex, which emerged superimposed on the reptilian, further complicated this idea of ​​sexuality, because this new brain coordinates our emotions and feelings, when in search of pleasure. Artistic nudity thus gradually takes on a more erotic nature. Mankind, meanwhile, developed its sexuality beyond the mere reproductive act, transcending heterosexual biology while a vehicle for the spread of the species. Then, one can understand that the third part of the brain, the neocortex, started to form about 50 thousand years ago and now, clearly responsible for the substantial development of reasoning, ideas and values ​​and for the perception of the phenomena of a more abstract and even metaphysical nature, has made everything more complex. This overlap of the old mammalian brain, associated with emotions and memory, is involved in advanced evolutionary skills, such as the intellect, imagination and creativity. Let us recall distant disappeared civilizations all the way to homosexual love of classical antiquity and the orgies, the mythological maenads and satyrs, until the end of the Roman Empire, at which time, erotic nudity is clearly connoted with sin due to the Christian movement. Nudity, in the meantime, was largely hidden, but returns to its magnificence with the Renaissance, with the idea of man being the centre of the universe. Science evolves with anatomical research through drawing. The Greco Roman naked and the drawing of nudity are studied in the arts. In the Sistine Chapel, Michelangelo paints the human body with

natural realism telling the Pope, who had commissioned the work, to take care of the souls while he would deal with the bodies. Later, sexes are covered. Erotic art takes on various stylistic contours depending on the stylistic period. However, in its various forms of expression, it acquires a subversive nature and, by going underground, manages to survive distinct inquisitorial attitudes. But let us fast-forward to reach the last two centuries, where sexuality takes on a new life, with an acceptance founded upon studies of many sexologists like Kinsey, Master and Johnson, along with other intellectuals before and after them, focusing on the human being. In this regard, I cannot miss the opportunity to mention that today we are shamefully witnessing a mental setback where LGBT human rights are being violated, as is the case in Russia and other neighbouring countries and, because art is an educational and nondiscriminatory vehicle of anti-prejudice sustenance, the choice of this always controversial theme for this issue is twofold timely. More recently, and now where pornography becomes viral in the virtual world, where sex-shops proliferate, there is an effort to make a distinction about what is erotic and pornographic, even for the two sexes of the species. The sociologist Francesco Alberoni in his work Eroticism addresses these and other issues. I also advise the anthropological perspective of Desmond Morris in the works The Human Sexes and The Human Animal. In this issue, as in others, where the value of freedom always prevails, extraordinary works have been brought together. Of course many will say some are more erotic and others more pornographic, but will acknowledge that they reflect beauty through the pleasure of a natural sexuality to the human condition, as its reflection. The artistic spectrum goes from an abstract erotic poem sweetly spicy to an image of a more sexually explicit and paraphiliac nature, which notoriously imply leaving out of cogito any considerations of legal and religious nature of planet Earth. More than ever before, and independently of the responsibility of each contributor, this magazine warns that its content may hurt the susceptibility of many people who have access to it, particularly in the case of this issue. And because art is sovereign in its exposure, I finalize with a quote I never forgot by Adolf Loos: “All art is erotic.” (1908). While not always true, at first thought, I wonder if art is erotic? Yes! If erotic, is it synonymous with pleasure? So... it is with erotic cosmic and artistic pleasure that this issue promotes the production of creative beings with anima of artists where the motto “Heart will not let the art die!” is always to be disseminated. Luís de Vasconcelos



SĂ­lvia Marieta, Pintora / Painter


Locus Entre_ Vista Änders Rostad HM – Com que idade decidiu se tornar um realizador de cinema? ÄR – Aos doze anos, trabalhei todos os dias fazendo paisagismo durante um ano para poder comprar o meu primeiro computador e camara. Tive a sorte de ter um mentor na indústria do entretenimento que me apadrinhou e me deu a oportunidade de construir uma base na área do filme. HM – Parece ser a sua grande paixão. Como se tornou tão versátil? ÄR – Gosto de criar, e minha paixão levou-me a explorar muitas possibilidades diferentes – da fotografia, redação, edição, ao design e animação. Tem sido muito útil ter um conhecimento profundo de todas estas áreas, especialmente quando se precisa comunicar a nossa visão a alguém com esse papel. Mas sinto que onde aprendo mais é para além dos meandros do filme; encontro inspiração na arquitetura, filosofia, escultura ou moda; tento incorporar todas as áreas artísticas no meu trabalho. HM – Ciente de que, ainda hoje, os postos de trabalho relacionados com as artes são discriminados e difíceis de obter por causa das crises económicas, qual é o seu conselho para aqueles que gostam das artes visuais? ÄR – A indústria está definitivamente mais saturada do que nunca, principalmente porque a tecnologia é mais barata e acessível. Os orçamentos são muito mais baixos do que costumavam ser porque há um milhão de outras pessoas com um computador e uma camara a competir contigo pelo teu trabalho. Mas as pessoas irão sempre pagar pela qualidade. Eu sou um firme crente de que o verdadeiro talento terá sempre valor, mesmo numa crise económica – a nata acaba sempre por subir à superfície. Eu acho que é importante para qualquer artista que dispense qualquer medo que tenha de falhar e se permita a rejeição. Muitas pessoas têm um sonho, lá nos recôn-

8

ditos do seu cérebro, que gostariam de concretizar, mas têm medo de persegui-lo. É importante estar-se confiante nas nossas próprias capacidades, permanecendo persistentes e constantemente melhorando as nossas competências profissionais, mesmo que as coisas possam não parecer sempre famosas. Abracem as vossas imperfeições – porque a arte não é perfeita. HM – Qual foi o seu trabalho mais interessante até agora? ÄR – Se pudesse trabalhar em qualquer tipo de projeto, qual seria? O que gosta mais de fazer? Cada projeto é tão dramaticamente diferente do outro e acho que essa é a parte mais estimulante deste trabalho. Numa semana poderá ser uma sessão fotográfica de alta-costura da Vogue, na próxima, um vídeo de música heavy-metal. Os melhores projetos são aqueles que nos permitem um controlo total e liberdade criativa – qualquer meio que me permita ficar entusiasmado com ele. É nessas situações que podemos realmente criar arte na sua forma mais pura. HM – Não parece ser um problema para si ser um nómada. Como é que isso contribuiu para o seu estilo de vida atual e para a sua evolução como pessoa? ÄR – É necessário estar-se apaixonado por aquilo que se faz – não há qualquer segurança nem garantias, mas isso faz com que cada sucesso tenha um sabor ainda mais gratificante. Eu olho sempre em frente e procuro oportunidades onde elas possam existir. Exige um foco constante no cenário mais lato – e perceber de que forma cada nova experiência faz com que nos aproximemos cada vez mais dos nossos objetivos. Eu não o quereria de qualquer outra forma. http://andersrostad.com


Inter_ View Locus Änders Rostad HM – At what age did you decide to become a film director? ÄR – When I was twelve years old, I worked every day doing landscaping for a year to buy my first computer and camera. I was fortunate enough to have a mentor in the entertainment industry that took me under his wing and gave me an opportunity to build a foundation in film. HM – It seems to be a huge passion for you. How did you become so versatile? ÄR – I love to create, and my passion has led me to explore many different outlets – from photography, writing, editing, to design and animation. It’s been very helpful having a deep understanding in all of these areas, especially when you need to communicate your vision to someone else with that role. But I find that I learn the most beyond the realms of film; finding inspiration in architecture, philosophy, sculpture or fashion; I try to incorporate all areas of art into my work. HM – Aware that, even nowadays, jobs related to the arts are discriminated and hard to get because of the economic crises, what is your advice to those who like the visual arts? ÄR – The industry is definitely more saturated than it has ever been, mainly because technology is more affordable and accessible. Budgets much lower than what they used to be because there are a million other people with a computer and camera competing for your job. But people will always pay for quality. I am a firm believer that true talent will always be valuable even through an economic crisis – the cream will always rise to the top. I think that it’s important for any artist to let go of any fear of failure and allow rejection. A lot of people have a dream in the back of their heads that they would like to create but are afraid of pursuing it. It’s important to be confident in your skills, staying resilient and constantly improving your craft even though it may not look pretty all the time. Embrace your imperfections – because art is not perfect.

HM – Which was your most interesting work so far? ÄR – If you could work on any type of project what would it be? What do you enjoy the most? Each project is so dramatically different from the next, and I think that’s the most stimulating part about this job. One week it will be a high-fashion Vogue shoot, the next a heavy-metal music video. The best projects are the ones that allow you total control and creative freedom – any medium that allows that I’m excited about. That’s when you are truly allowed to create the most pure form of art. HM – It doesn´t seem a problem for you to be a nomad. How did this contribute towards your current lifestyle and to your evolution as a person? ÄR – You need to be in love with what you do – there is no safety and no guarantees, but it makes each success that much more rewarding. I’m always looking ahead and finding opportunity in every aspect. It takes a steady focus on the big picture – and realizing how every new experience is moving you closer to your goals. I wouldn’t have it any other way. http://andersrostad.com

9


Gunslinger Breaking Through (Uncensored Version) Directed by Andrew Baird // andrewbairddirector.com Produced by Andrew Baird and Joe Reckley for BAIRDfilm Executive Producer / Rep: Randi Wilens @ RW Media Director of Photography: Tobia Sempi // tobiasempi.com Editor / 2nd Unit Director: Ă„nders Rostad // andersrostad.com Production Designer: Joe Reckley // joereckley.net Lead Actor: Joe Reckley Props Master: Niko Harvatos Make Up / Hair / Styling: Sara Wolf Colorist : Trevor Durtschi @ Ntropic // trevordurtschi.com Music by Gunslinger (Chris Anthem & Blare Vidal) // thelastgunslinger.com

VER VĂ?DEO | WATCH VIDEO

10


11




Adelino Timóteo Dos Frutos do Amor e Desamores até à Partida

1. Tudo que sei dizer-te é que és nua: E lenta a flor, como o Sol, eis que de múltiplas formas te desabrochas em mim: as tuas mãos de vidro, lentas, os teus lábios húmidos, quentes, à forma como me beijam. Caída chegas-me pelo corpo, pela alma. És lenta, e nua explodes, como uma mina aberta à memória. És alta como o pólen, a doce lentidão como me chegas, vagarosa pela boca, a vocação com que o fazes: lenta no beijo, até ao tutano, lenta às carícias, até às trompas de falópio. Tua a lentidão uma fonte de água, sem rumor, incessante. Tua a vertigem, repetitiva como me chegas, quente, suave, febril. 2. Posso escrever-te a tua húmida flor, a rosa côncava, carnosa, em seu fundo negro sem fim: A tua flor é a língua do fogo, a borda alongada das pétalas, o fio volátil em meus lábios. Chega-me lenta pelo pavio, no mar sem fim dos meus lábios, na água sem fim das palavras, onde cada gesto teu se repete como um refrão, com graça. Posso escrever-te a tua flor: aberta como uma asa és lenta, lenta que me fazes vibrar. E tu és feita de silêncios, de telegramas que se me chegam pelos teus beijos, cartas e telexes que me chegam pela ponta da tua língua, às digitais, es-

merada no que te encarregas pela tua boca. Posso escrever-te a tua flor: trazes-me aos lábios os fios de uma aranha tecedeira, a lentidão da abelha e o mel num cântico com que transcendes à lua, a Marte venial, divinal. 3. Nua, és serena entre os lábios e a língua, entre o calado e o casco. És os frutos do amor, oscilas entre o caroço da pêra e o rio, o que te aflui por dentro. As ondas se agigantam em ti. A música do silêncio é alta em ti. Solidária. Antiga, um barco a prumo das falésias. És o fruto do abacateiro. Como gosto de ler-te os lábios, esse néctar entre os estames e os carpelos, pelos lábios devotados. Nua, sabes a suco de pêssego do teu corpo esguio. Teu peito hirto, pela fibra lisa, rugosa e pilosa, uma maçã a flutuar-me entre os dedos, e que os assisto, enquanto os lubrifico pela língua sedenta, entre os vales emersos e as ervas, entre as torres e a funda onde se colhe os frutos do amor a beijá-los. Mas deixa-me estar entre o vento leste e a monção, tranquilo para o Sol em que te pões delicada. Deixa-te estar terna, atravessada dos sentidos. Deixa-te estar misteriosa, para que os toque pelos olhos. Adelino Timóteo, Poeta www.adelinotimoteo.blogspot.com Imagem: António Rodrigues, Escultor

14


Of the Fruits of Love and Unrequited Love until Departure

1. All I can tell you is that you are naked: The flower is slow, as is the sun, behold the multitude of ways in which you unfold upon me: your glass hands, slow, your lips moist, hot, to how they kiss me. Fallen, you reach my body, my soul. You are slow, and naked you explode, like a mine open to memory. You are high as pollen, the sweet slowness with which you reach me, slowly through the mouth, the vocation with which you do it: slow in the kiss, to the marrow, slow in caresses, to the fallopian tubes. Yours the slowness, a water spring, without rumour, incessant. Yours the vertigo, repetitive as you reach me, hot, mild, febrile. 2. ��I can write you your wet flower, the concave rose, fleshy, in its endlessly dark backdrop: Your flower is the fire flame, the edge of the elongated petals, the volatile thread on my lips. It reaches me slowly through the wick, in the endless sea of my lips, in the endless water of words, where your every gesture repeats itself as a refrain, with grace. I can write you your wet flower: open like a wing you are slow, slow you make me vibrate. And you are made ​​of silences, of telegrams that reach me through your kisses, letters

and telexes that reach me through the tip of your tongue, of digital versions, with the care you take through your mouth. I can write you your wet flower: you bring to my lips the strands of a weaver spider, the slowness of the bee and honey in a song with which you transcend the Moon, venial, divine Mars. 3. Naked, you are serene between the lips and the tongue, between the draught and the hull. You are the fruits of love, you sway between the seed of the pear and the river, which flows inside of you. Waves are magnified in you. The music of silence is loud on you. Solidarity. Ancient, a boat upright of the cliffs. You are the fruit of the avocado tree. How I like to read your lips, that nectar between the stamens and carpels, by the lips devoted. Naked, you taste of the peach juice of your slender body. Your breast stiff, by its smooth fibre, rough and hairy, an apple floating between my fingers, and I watch them, while l lubricate them with a thirsty tongue, between the emerged valleys and weeds, between the towers and the sling where the fruits of love are reaped to kiss them. But let me remain between the east wind and the monsoon, tranquil to the Sun in which you delicately set yourself. Let yourself be tender, crossed by the senses. Let yourself be mysterious, so that I may touch them through the eyes. Adelino Timóteo, Poet www.adelinotimoteo.blogspot.com Image: António Rodrigues, Sculptor


Alex da Silva

16


17


18


Alex da Silva, Pintor / Painter | www.xakuka.com | www.zeropointart.org

19


Alexandre Baptista


Alexandre Baptista, Pintor / Painter


António Barroso Cruz Se eu escrevesse um poema sobre ti…

…teria que convocar as madrugadas em que acordámos abraçados, de peles húmidas e orvalhadas, em beijos (des)compassados em que os silêncios eram palavras Se eu escrevesse um poema sobre ti… …agarraria nos sorrisos que me deste e em tantos momentos apenas nossos, nos abraços com que me preencheste, e nos pensamentos mais devassos que nos percorreram o norte, o sul, o leste Se eu escrevesse um poema sobre ti… …escreveria sobre o mar e as nuvens que disputam o céu, desse verbo que gostamos de conjugar, dos nossos corpos nus, sem véu, e que rima(m) com loucura, com paixão, com amar Se eu escrevesse um poema sobre ti… …desenharia um vulcão incandescente um raio caído sem destino, ou uma tarde calada e entorpecente, um orgasmo inequívoco em puro desatino, um amanhã sem letras, (in)consciente Se eu escrevesse um poema sobre ti… …invocaria os deuses desconhecidos, para cantarem em coro o nosso requiem em celebração dos gestos decididos, nas auroras, e nos ocasos também, inscritos nos devaneios preteritamente iludidos ai…se eu escrevesse um poema sobre ti... António Barroso Cruz, Escritor [inédito] Image: © stock.xchng

22


If I wrote a poem about you...

… I would have to summon the dawns in which we awoke embraced, our skin moist and dewy, kissing (un)rhythmically where the silences were words If I wrote a poem about you... ... I would grasp the smiles you gave me so many times ours alone, the hugs with which you filled me, and the most lecherous thoughts that roamed our north, south, east If I wrote a poem about you... … I would write about the sea and the clouds that dispute heaven, about that verb we like to conjugate, of our naked bodies, unveiled, that rhyme with madness, passion, with love If I wrote a poem about you... … I would draw a glowing volcano a randomly fallen light bolt, or a quiet and numbing afternoon an unequivocal orgasm in pure hallucination, a tomorrow without lyrics, (un)conscious If I wrote a poem about you... … I would invoke unknown gods, to sing in choir our requiem in celebration of the resolute gestures, during the auroras, and sunsets too, inscribed in the previously deluded reverie Oh… if I wrote a poem about you... António Barroso Cruz, Writer [unpublished poem] Image: © stock.xchng

23


Bruno Sim達o




Bruno Sim茫o, Fot贸grafo / Photographer | http://www.brunosimao.com


Carla Cabral

28


Carla Cabral, Pintora / Painter

29


Carla Gonรงalves

30


Duplo VER Vテ好EO | WATCH VIDEO Carla Gonテァalves, Artista Plテ。stica / Artist | https://www.facebook.com/carlamariapgoncalves

31


Carlos Costa


Carlos Costa, Pintor / Painter


CĂŠlia do Carmo

34


35


Penso em Sala Vip, de Jorge Silva Melo, ‘o que fica depois da récita, do amor, do teatro?’ Ocorre-me pensar: talvez uma fotografia! Seja física ou não. Neste caso, é uma foto de Célia do Carmo (tanto teatro e vida de teatro e poses e gestos eróticos tem vindo a captar nos últimos anos!) que me acompanha nesta pequena, espero que sensual, reflexão (como se a estivesse, e preferia-o neste contexto, a descrever com todo o meu corpinho quase quarentão). Até a Célia, quando nos fotografa, é erótica, talvez mais erótica que todos nós. Nisto de erótico não sei se podemos ter consciência de tal para produzir ‘algo artístico’ assim. É sempre o outro que nos apanha a jeito e ‘aieito’, deprevenidos, secretamente, só aí a coisa se erotiza e talvez seja arte (e não estou a falar do, às vezes bom de ver - eu gosto - fazer boquinha de pato para a objectiva). Nada mais há de tão mais fácil caricaturização que o que imaginamos por erótico. Em brincadeiras com amigos, nas fotos que tiramos a nós mesmos e por aí fora. Porque será? Estou convencido que quando encenei Greve de Sexo, de Aristófanes, os figurinos de André Correia bem como a integração da instalação Sagrado – Santíssima TRINDADE, pelo artista plástico Paulo Sérgio BEJu, muito fizeram no toque e grão de erotismo que habitava, então, aquele palco. Porém, não hesito em considerar imprescindível, no apalpado de volúpia sempre presente em cena, o tal fogo - para não falar de hormonas em voo - com que os actores incendeiam tudo à sua volta fazendo com que os espectadores se esqueçam da coisa plástica como protagonista ou integrem-na num todo da sua ‘fruição’. Não pensei, de todo, na parte ou carga erótica, na peça escrita tão presente, que se fez espectáculo no TEF. Talvez com aquela cautela que se deve ter ao fazer comédia: nunca tentar ser engraçado para não se perder o tempo certo ou a graça precisa. Não será necessário citar a já tão suada parte de Poemacto, de Helder, no tocante aos actores, para lembrar como tudo o que em cena fazem (expelem) é um acender duma rajada de vida e desejo, provocador desejo... Uma quase certeza: não é habilidade o erotismo. E não foi num

espectáculo tão explícito como este (e o erotismo nunca o é, diz-se por aí) que tal aconteceu. Os poros dos actores são sempre, mas sempre, maiores que chaminés. E os seus vapores só constipam quem não tem nariz nos olhos e ouvidos e barriga. Uma certa santidade é fundamental para acontecer erotismo. Por alguma razão é que a almofadinha dos dedos dos pianistas é considerada a parte mais erótica dos mesmos. É preciso mais suavidade e beleza que isso? Tudo mais foi dito por Valère Novarina na sua “Lettre aux Acteurs”, no livro Le Théâtre des Paroles: «O teatro é um rico estrume. (...) É o actor que vai resolver tudo. Porque é sempre no mais impedido que isso se desenvolve. E o que ele estimula, que vai estimulá-lo, é a língua que se verá de novo sair do orifício. O actor tem o seu orifício como centro, ele sabe disso.» Nada é mais erótico do que, numa peça de teatro como esta, a bondade semântica nos permitiu. O resto são estas fotos que até suam e os actores com asinhas nos pés despidos, e eles sabem sempre, tão bem, como certas comidas nos dão prazer abaixo da cintura. E há uma certa renúncia da nossa intimidade. Exponhome. Élvio Camacho, Ator Imagens: Célia do Carmo, Fotógrafa

36


I think of Sala Vip (VIP Lounge), by Jorge Silva Melo, ‘what remains after recitation, love, theatre?’ It occurs to me: perhaps a photograph! Whether physical or not. In this case, it is a photo by Celia do Carmo (so much theatre and theatre life and erotic poses and gestures she has shot in recent years!) that will keep me company in this small, I hope sensual, reflection (as if I were, and I would prefer it to be, in this context, describing things with all of my body, almost in its forties). Even Celia, when she shoots, is erotic, perhaps even more erotic than the rest of us. When it comes to eroticism, I do not know if we can be aware of such in order to produce ‘something artistic’ of that nature. It is always the other who catches us ‘in the act’, secretly and completely unawares. Only then it becomes eroticized and is perhaps art (and I am not talking about the sometimes nice to see - I like it - duck lips for the lens). There is nothing else so much easier to caricaturize than that we imagine as being erotic. In games with friends, in the photos we take of ourselves, and so on. Why is it so? I am convinced that when I staged Aristophanes’ Sex Strike, the costumes by André Correia and the integration of the Sacred - Holy TRINITY art installation, by the artist Paulo Sérgio BEJu, did much in touch and grain for the eroticism that then dwelt on that stage. However, I do not hesitate to consider as essential, in the groping of voluptuousness always present on scene, such a fire - not to mention hormones in flight - with which the actors burn everything around them, making viewers forget the plastic thing as protagonist or integrate it in the whole of their ‘enjoyment’. I did not, at all, think of the part or erotic charge, in the so actual play, that became a TEF performance. Perhaps with that caution one should have when performing comedy: never try to be funny so as not to lose the right time or precise humour. It will not be necessary to quote from the ever so sweaty part of Helder’s Poemacto, in relation to the actors, to recall how everything they do (expel) on scene is the lighting of a burst of life and desire, provocative desire... An almost certainty: eroticism is not a skill. And it was not in a performance as explicit as

this (and eroticism never is, so it is said) that such a thing happened. The pores of the actors are always, but always, larger than chimneys. And their vapours only give a cold to those who do not have a nose in their eyes and ears and belly. A certain holiness is fundamental for eroticism to happen. For some reason, the finger pads of pianists are considered to be their most erotic body part. Is more softness and beauty than this necessary? Everything else was said by Valère Novarina in his “Lettre aux Acteurs” in the book Le Théâtre des Paroles: “Theater is a rich manure. (...) It is the actor who will solve everything. Because it is always in the most hindered that this develops. And that which he encourages, that will stimulate him, is the tongue that will be seen again coming out of the hole. The actor has his hole as a centre, he knows it.” Nothing is more erotic than, in a play as this one, what the semantic goodness allowed us. The rest are these photos, that even perspire, and the actors with little wings on naked feet, and they always know, so very well, how certain foods give us pleasure below the waistline. And there is a certain renunciation of our intimacy. I expose myself. Élvio Camacho, Actor Imagens: Célia do Carmo, Photographer

37


Cláudia Lucas Chéu

Arte pós-erótica Somos uma plataforma de arte pós-erótica. Praticamos o hardcore. Mas também somos adeptos do soft e do mainstream. Somos pós-eróticos (e exóticos!). Só fazemos ‘o’ Amor nos epílogos. Os nossos trabalhos são éticos e estéticos, não concebemos a Arte de outra forma. Usamos a metalíngua, praticamos o french kiss, com o receptor. Somos artistas emancipados e exigimos o mesmo aos consumidores. Não somos uma religião, nem uma seita, nem queremos fazer crítica - nós tentamos tanto não ser burgueses! Criámos os nossos próprios mandamentos, secretos, e todos se regem pela mesma cartilha. A Bíblia fala de relacionamentos sexuais entre adultos como se fossem actividades lúdicas. A nossa Arte é lúdica, os nossos relacionamentos são sagrados. A jogar, a linguagem e o gesto afastam-se do existencial-histórico, concentrando-se em esgotar-se, sem necessidade de expressar algo. Eros não é um deus, não é belo, nem bom, nem é mortal, não é feio nem mau; nem imortal nem mortal. Eros é um demónio, intermediário entre deuses e os homens. Qual é a sua origem? (...) Eros é desejo: carência em busca de plenitude. Ama o bem, pois amar é desejar que o bem nos pertença para sempre; Eros cria nos corpos o desejo sexual e o desejo de procriação, que imortaliza os mortais.1 A nossa condição pós-moderna não nos permite interessar-nos 1 Cf CHAUÍ, Marilena. Introdução à história da filosofia. Dos pré-socráticos a Aristóteles. Vol. 1. SP: Brasiliense, 1994, p. 162.

38

plenamente por Eros, pois este estava desligado da pluralidade e concentrado na sua “descendência”. Eros é a síntese entre a vida e a morte: o progenitor morre, deixando os seus descendentes. A nossa arte não tem ascendência e a nossa descendência é o the end. Nós, pós-eróticos, somos o hardcore da Arte, menos focados nos corpos, mas mais interessados nas ideias dos corpos. Somos uma orgia de temáticas intelectualizada. Lyotard, refere numa crítica, a possibilidade de pretender pensar sem o corpo; o corpo como hardware (pensamento) e um software (linguagem humana: pensar sem corpo é a condição para poder pensar na morte dos corpos, solares e terrestres, e em pensamentos dissociáveis dos corpos. Mas, sem corpo nem sentido preciso: sem o complexo organismo vivo terrestre, conhecido como corpo humano. Não sem hardware, como é evidente.2). Somos uma plataforma de artistas de arte pós-erótica, o nosso nome é colectivo, temos um fluxo libidinal comum. Não procuramos um paradigma antigo, nem tentamos criar um novo. A nossa única ambição é que este corpo colectivo, ao expressar-se, seja lido, desejado. Somos simulação e simulacro. Somos a metanarrativa do Amor. Cláudia Lucas Chéu, Autora

2 LYOTARD, Jean-François. O inumano. Considerações sobre o tempo., Lisboa: Editorial Estampa, 1990, p. 21 e 22.


Post-erotic Art We are a platform of post-erotic art. We practice hardcore. But we are also fans of the soft and the mainstream types. We are post-erotic (and exotic!). We make ‘the’ Love during epilogues. Our works are ethical and aesthetic, we do not conceive Art otherwise. We use metatongue, we practice the French kiss, with the receiver. We are emancipated artists and we demand the same of consumers. We are not a religion, nor a sect, nor do we want to criticize - we try not to be that bourgeois! We have created our own commandments, secret ones, and we are all governed by the same book. The Bible speaks of sexual relationships between adults as if they were fun activities. Our Art is playful, our relationships are sacred. When playing, language and gesture distance themselves from the existential-historical, focusing on running themselves out, with no need to express something. Eros is not a god, nor is he beautiful, nor good, nor mortal, he is not ugly nor bad; neither immortal nor mortal. Eros is a demon, an intermediary between gods and men. What is his origin? (...) Eros is desire: need in search plenitude. He loves good, because to love is to wish that good belong to us forever; Eros creates sexual desire and the desire for procreation in bodies, which immortalizes mortals. 1 Our postmodern condition does not allow us to concern ourselves fully with Eros, as he was disconnected from 1 Cf CHAUÍ, Marilena. Introdução à história da filosofia. Dos présocráticos a Aristóteles. Vol. 1. SP: Brasiliense, 1994, p. 162.

plurality and focused on his “offspring”. Eros is the synthesis between life and death: the parent dies, leaving his descendants. Our art has no ancestry and our progeny is the end. We, the post-erotic, are the hardcore of Art, less focused on the bodies, but more interested in the ideas of bodies. We are an orgy of intellectualized thematic. Lyotard refers, in a critical essay, the possibility of wanting to think without the body; the body as hardware (thought) and software (human language: to think with no body is the condition to be able to think of dying bodies, solar and terrestrial, and of thoughts severable from bodies. Yet, without a body or precise meaning: without the complex living earthly organism, known as the human body. Not without hardware, naturally. 2). We are a platform of post-erotic art artists, our name is collective, we have a common libidinal flow. We do not seek an old paradigm, nor do we try to create a new one. Our only ambition is that this collective body, while expressing itself, be read, desired. We are simulation and simulacra. We are the metanarrative of Love. Cláudia Lucas Chéu, Autor

2 LYOTARD, Jean-François. O inumano. Considerações sobre o tempo., Lisboa: Editorial Estampa, 1990, p. 21 e 22.

39


Cristina AtaĂ­de




Cristina AtaĂ­de, Escultora / Sculptor | www.cristinataide.com


diannamarchetti



46


diannamarchetti, Fot贸grafa / Photographer | www.el-amor-del-sancocho.blogspot.pt

47


Dilar Pereira

48


Dilar Pereira, Artista Plรกstica / Artist | http://www.dilarp.com/

49


Flรกvio Cerqueira

50


Flรกvio Cerqueira, Escultor / Sculptor | http://www.flaviocerqueira.com

51


Francisco Velosa


Francisco Velosa, Pintor / Painter


HĂŠlder Mendes

54


HĂŠlder Mendes, Artista PlĂĄstico / Artist | http://www.heldermendes.com


Jean-Frédéric Bourdier

56


57


58


Jean-Frédéric Bourdier, Escultor / Sculptor | http://www.jeanfredericbourdier.com

59


Jean-Paul Bourdier

60


61


62


63


64


Jean-Paul Bourdier, Artista Plรกstico / Artist | http://www.jeanpaulbourdier.com

65


Jo達o Galr達o


Jo達o Galr達o, Escultor / Sculptor | http://www.joaogalrao.blogspot.pt


Jo達o Taborda

68


Jo達o Taborda, Designer de Interiores / Interior Designer | http://jotataborda.blogspot.pt

69


Juan Abreu

70


Juan Abreu, Pintor / Painter | http://juanabreu.deviantart.com

71


Laura Marcos

72


Laura Marcos, Escultora / Sculptress-Scenografical designer | http://www.lauramarcosarts.com.ar

73


Luis Melo


Luis Melo, Artista Plรกstico / Artist


Luis Plรกcido Costa

76


Luis Plรกcido Costa, Artista Plรกstico / Artist | http://facebook.com/luisplacidocosta

77


Mari Da Câmara Dança Do Ventre

Belly Dancing

A dança do ventre é uma dança ao culto à “Grande Deusa Natureza” em prol da fertilidade – do ventre e da terra. A dança é a representação da fertilidade e do nascimento, e a tudo o que for ligado a criação de uma nova vida. É uma dança tão feminina que foi criada por mulheres para mulheres, os movimentos de contracção, ondulação e vibração foram desenvolvidos para preparar os músculos para a sustentação da gestação. A música é a brisa que acorda a mulher que existe dentro de um corpo com formas femininas, e ela dança e dança e ela não se cansa, a sua dança inclui rolamentos dos músculos abdominais que começam lentos, e pouca a pouco vão se acelerando e acrescentando movimentos de pés, quadris, braços e ombros, é uma onda magnética que electriza todo corpo e essa energia envolve com toda a força sexual a quem assiste, aos bem-aventurados que têm o privilégio de assistir à beleza e ao poder da manifestação feminina no seu esplendor. Para quem dança é um autoenamoramento, é o controlo e o isolamento das partes do corpo, é uma onda que vibra dentro da corrente sanguínea e expulsa todas as amarras invisíveis, geradas por preconceitos sociais que tentam impedir a mulher de ser Mulher na sua magnitude feminina, sensual e sexual. É um transe que liberta a feminilidade e o corpo da mulher move-se com tanta leveza e mestria como uma folha dança ao vento, iluminada pela luz doirada do Outono. É energia plena nas formas femininas.

Belly dance is a dance to worship the “Great Goddess Nature” in favour of fertility – of the womb and earth. The dance is a representation of fertility and birth, and everything that is connected to the creation of a new life. It is a dance which is so feminine that it was created by women for women, the movements of contraction, ripple and vibration have been developed to prepare the muscles to endure pregnancy. Music is the breeze that awakens the woman who exists within a body with female forms, and she dances and dances and she does not tire, her dance including the rolling of the abdominal muscles, which starts slowly and, little by little, accelerates with the addition of movements of the feet, hips, arms and shoulders. It becomes a magnetic wave which electrifies the whole body and this energy sexually full force involves all those who attend, the blessed ones who have the privilege of witnessing the beauty and power of female manifestation in its splendour. For the dancer, it is a sort of falling in love with oneself, it is the control and isolation of body parts, it is a wave that vibrates within the bloodstream and expels all the invisible bonds, generated by social prejudices that try to prevent a woman from being a Woman in all her feminine, sensual and sexual magnitude. It is a trance that unleashes the femininity and the woman’s body moves as lightly and with such mastery as a leaf dancing in the wind, illuminated by gilded autumn light. It is full energy in the female form.

Mari Da Camara, Autora

Mari Da Camara, Autor

Imagem: @ Heart Magazine

Image: @ Heart Magazine

78


79


Martinho Costa




Martinho Costa, Artista Plรกstico / Artist | http://martinho-costa.blogspot.com


Maurício de pão


Maurício de Pão, Fotógrafo / Photographer | http://facebook.com/mauricio.pao


Miguel Ă‚ngelo

86


Miguel ร ngelo, Artista Plรกstico / Artist

87


Paula Ruella




Paula Ruella, Artista Plรกstica / Artist | http://www.ruella.com


rachel korman


rachel korman, Artista Visual / Visual Artist | www.rachelkorman.com


Ricardo de Carvalho


Ricardo de Carvalho, Arquiteto / Architect


Ricardo Videla

96


97


98


Ricardo Videla, Pintor / Painter

99


Ricky Senú


Ricky Senú, Psicólogo em Formação / Psychologist in the Making


Rita Melo

102


103



Rita Melo, Pintor / Painter | http://www.ritamelo.pt


Rodrigo Alves


Rodrigo Alves, Fot贸grafo / Photographer


Ruy Silva

108


109


110


Ruy Silva, Artista Plรกstico / Artist | https://www.facebook.com/ruy.silva.31about?ref=ts

111


SĂ­lvia Marieta


SĂ­lvia Marieta, Pintora / Painter


Sofia Leit達o

114


Sofia Leit達o, Pintora / Painter | http://www.sofialeitao.info

115


S贸nia Carvalho

116


S贸nia Carvalho, Artista Pl谩stica / Visual Artist | http://www.soniacarvalho.com

117


T. Angel

118


T. Angel, Performance Artist / Artista Performativo | http://www.tang3l.com



Alexandre Carvalho, Pintor / Painter | http://alexanderoak.blogspot.com


CONDIÇÕES | CONDITIONS: Clica aqui /Clik here


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.