Sarah Barreto Peixoto
Produção de histórias infantis: um recurso didático para Educação Ambiental
São Roque - SP 2016
Sarah Barreto Peixoto
Produção de histórias infantis: um recurso didático para Educação Ambiental
Trabalho de conclusão de curso, apresentado como requisito para obtenção do título de Tecnólogo em Gestão Ambiental.
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo – IFSP Campus São Roque Curso Superior em Tecnologia em Gestão Ambiental
Orientador: Clenio B. Gonçalves Junior
São Roque - SP 2016
P379 PEIXOTO, Sarah Bareto. Produção de histórias infantis: um recurso didático para Educação Ambiental/ Sarah Barreto Peixoto– São Roque - SP, 201660 p. : il. Orientador: Clenio B. Gonçalves Junior TCC (Graduação) apresentada ao curso Tecnólogo em Gestão Ambiental do Instituto Federal de Ciência e Tecnologia de São Paulo – Campus São Roque, 2016. 1. Educação ambiental. 2. Educação não-formal. 3. Lendas 4. Dragão 5. Saboó 6. São Roque I. PEIXOTO, Sarah Barreto. II. Título. CDD 550
Sarah Barreto Peixoto
Produção de histórias infantis: um recurso didático para Educação Ambiental
Trabalho de conclusão de curso, apresentado como requisito para obtenção do título de Tecnólogo em Gestão Ambiental.
Trabalho aprovado. São Roque - SP, 13 de dezembro de 2016:
Clenio B. Gonçalves Junior Orientador
Profa . Edsel Pamplona Diebe Convidado 1
Profa . Sonale D. Pastro de Oliveira Convidado 2
São Roque - SP 2016
Este trabalho é dedicado a todos os contadores de histórias e às crianças que os escutam, sejam pequeninos ou adultas que, assim como eu, apreciam e viajam com uma boa história.
Agradecimentos Meus agradecimentos são direcionados a todos aqueles que abraçaram a minha proposta lúdica para a Educação Ambiental, como professores e colegas que leram, opinaram e apoiaram minha história. Ao meu orientador, pelo entusiasmo com que recebeu a ideia e pelas "podadas poéticas", . E especialmente à minha amada mãe, grande incentivadora em tudo o que faço, inclusive nas minhas primeiras leituras, na tenra idade.
Resumo O trabalho desenvolvido com crianças do terceiro e quinto ano pretendeu trazer à tona temas relacionados com educação ambiental, como o que é meio ambiente, degradação, sustentabilidade, o consumo e a produção de lixo. Porém, tais temas foram trabalhados através do lúdico, com uma história com viés ambiental, criada a partir da lenda regional da cidade de São Roque, a do dragão do Morro do Saboó. Espera-se contribuir para a valorização do lúdico através da literatura e da cultura popular como fonte de conhecimento para a formação de cidadãos conscientes e ativos em relação ao seu meio. Através do diálogo com as crianças, uma avaliação qualitativa foi realizada para saber o que elas já compreendiam dos temas citados. Posteriormente, utilizando-se da história, os conceitos foram trabalhados com os pequeninos e, através do lúdico, procurou-se auxiliá-los a desenvolverem uma visão acerca do meio ambiente e a ajuda que este precisa não só em sua escola, mas no próprio morro do Saboó, no seu bairro etc. Também um avaliação quantitativa, através da aplicação de questionário sobre o projeto, foi aplicado com educadores para análise do impacto que tal metodologia pode inferir. Estes dados foram tabulados, corroborando para a validação da hipótese levantada pelo presente trabalho, a de que o lúdico, através da literatura, pode ser utilizada como método de Educação não-formal, trabalhado como ferramenta eficaz de ensino para educação ambiental Palavras-chaves: Educação Ambiental; Educação não-formal; lendas; dragão; Saboó; São Roque.
Abstract The work was developed with children for the third and fifth years, and was designed to address issues related to environmental education, such as the environment, degradation, sustainability, consumption and waste production. However, these themes were worked on the ludic, with a history with environmental bias, created from the regional legend of the city of São Roque, a dragon of the Saboó Hill. It is hoped to contribute to an appreciation of the playfulness through literature and popular culture as a source of knowledge for a formation of conscious and active citizens in relation to their environment. Through dialogue with children, a qualitative assessment was conducted to know what the compliments of the themes cited. Later, using the history, the concepts were worked with the little ones and, through the playful one, it was tried to help in the development of a vision about environment and aid that does not need in its school, but in the own Do Saboó hill, in the Your neighborhood etc. Also a quantitative evaluation, on the application of questionnaire on the project, was applied with educators to analyze the impact that such methodology can infer. These data were tabulated, corroborating to a validation of hypothesis raised by the current work, one of which the playful, through the literature, can be used as a method of non-formal education, worked as a teaching instrument for environmental education Key-words: Environmental education; Non-formal education; legends; Dragon; Saboó; São Roque.
Lista de ilustrações Figura Figura Figura Figura
1 2 3 4
– – – –
Chico Bento contra o desmatamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . O espanto que o chamado "progresso"traz para Papa-capim e Kava . . Capa do Cordel Plantação de Passarinhos, de Frederico Lencioni Neto . Escultura do Caboclo d’água, construída dentro do leito do rio São Francisco, em Juazeiro-BA. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Figura 5 – Morro do Saboó. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
30 31 32 34 35
Figura 6 – Dragão com uma expressão feliz . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39 Figura 7 – O menino Zeca, quando encontra o dragão em fúria . . . . . . . . . . 39 Figura 8 – Fantoche do Dragão Saboó . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40 Figura 9 – Apresentação da Lenda . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41 Figura 10 – Algumas das crianças após a apresentação . . . . . . . . . . . . . . . . 42 Figura 11 – Gráfico gerado a partir da questão sobre Cargo/função . . . . . . . . Figura 12 – Gráfico gerado a partir da questão "Trabalha com crianças/jovens de qual faixa etária?". . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Figura 13 – Em sua formação Acadêmica, a temática Educação Ambiental foi abordada em algum momento?. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Figura 14 – Como você adquiriu conhecimento para realizar atividades relacionadas com Meio Ambiente? (Assinale mais de uma se necessário). . . . . . Figura 15 – Em sua opinião e com base em suas experiências, as questões ambientais são tratadas com regularidade nas escolas? Ou limita-se apenas a datas específicas, como o dia do meio ambiente? . . . . . . . . . . . . . . . Figura 16 – Já pode desenvolver algum projeto de Educação Ambiental na(s) Unidade(s) em que trabalha? Quais? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Figura 17 – Existe um material didático adequado para ser trabalhado em cada faixa etária sobre Educação Ambiental?. . . . . . . . . . . . . . . . . Figura 18 – Sobre o projeto, as dinâmicas desenvolvidas com os alunos são aplicáveis em sala de aula no dia a dia? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Figura 19 – Conhecia o Morro do Saboó e a lenda do dragão?. . . . . . . . . . . . Figura 20 – Pode observar nos alunos atendidos pelo projeto uma reação positiva? O lúdico pode ser ferramenta de Ensino? . . . . . . . . . . . . . . . .
. 45 . 46 . 46 . 47
. 47 . 48 . 49 . 49 . 50 . 50
Sumário Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11 0.1 As pequenas esponjas e a grande responsabilidade. . . . . . . . . . . . . . . 11
I PREPARAÇÃO DA PESQUISA 1 METODOLOGIA . . . . . . . 1.1 Problemática . . . . . . . 1.2 Justificativa . . . . . . . . 1.3 Hipótese . . . . . . . . . . 1.4 Materiais e métodos . . . 1.4.1 Objetivo Gerais . . 1.4.2 Etapas da Pesquisa
. . . . . . .
. . . . . . .
. . . . . . .
. . . . . . .
13 . . . . . . .
. . . . . . .
. . . . . . .
. . . . . . .
. . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . .
. . . . . . .
. . . . . . .
. . . . . . .
II REVISÃO DA LITERATURA
14 14 14 14 15 15 15
17
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2.0.1 História da Educação Ambiental no mundo . . . . . . . . . . 2.0.2 O Brasil e a Educação Ambiental . . . . . . . . . . . . . . . 2.0.3 Educação Ambiental Regional . . . . . . . . . . . . . . . . . 2.0.4 São Roque e a Educação Ambiental. . . . . . . . . . . . . .
. . . . .
. . . . .
. . . . .
. . . . .
18 18 19 20 21
3
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . .
. . . . . .
. . . . . .
. . . . . .
22 22 23 24 24 26
4 O LÚDICO COMO FERRAMENTA PARA EA . . . . . . . . . . . . 4.0.1 Educação não-formal. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4.0.2 As HQ’S e a Educação Ambiental . . . . . . . . . . . . . . . 4.0.3 O cordel contra-ataca . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4.0.4 Atividades para EA: brincando e aprendendo. . . . . . . . . 4.0.5 O folclore e a EA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4.0.6 A nossa Lenda . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . .
. . . . . . .
. . . . . . .
. . . . . . .
28 28 29 31 33 33 34
EA E CONCEITUAÇÕES. . . . . . . . . . 3.0.1 O que é Meio ambiente? . . . . . 3.0.2 Mas o que é educação Ambiental? 3.0.3 Degradação . . . . . . . . . . . . 3.0.4 Sustentabilidade . . . . . . . . . 3.0.5 O consumo e a produção de lixo .
. . . . . .
III DESENVOLVIMENTO
36
5 Enlaçando o desejo de aprender . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37 5.1 No meio do caminho tinha um morro... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37 5.2 A produção . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38 6 Saboó vai à escola. . . . . . 6.1 Primeira Escola . . . . . 6.2 Segunda Escola . . . . . 6.3 Os professores . . . . . .
. . . .
. . . .
. . . .
. . . .
. . . .
IV RESULTADOS E DISCUSSÃO
. . . .
. . . .
. . . .
. . . .
. . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . .
. . . .
. . . .
. . . .
40 40 42 43
44
7 Observações e Coletas de dados. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45 7.1 Observações com os professores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45 7.2 Observações com as crianças . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48 8 Considerações finais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52 Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54 APÊNDICE A
A lenda do dragão Saboó . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57
11
INTRODUÇÃO Nestes tempos modernos, imersos na abundância tecnológica e em uma cultura multimidiática ("promíscua"e envolvente, "cortesã"do consumo), somos bombardeados, muitas vezes silenciosamente, pela propaganda incisiva, um consumo que penetra na alma de nossa cultura, arraigando-se como pilar social. O meio ambiente, que tudo nos dá em termos de matéria prima, sofre: nessas compras, não é apenas o consumidor que paga, mas o fornecedor também. E sai caro, quando feito sem planejamento e de forma insustentável. Analisando a falta de tempo moderna, o imediatismo e a superficialidade, surgem, dentre outras, a seguinte questões: como as crianças, transformadas em pequenos adultos e grandes consumidores, tem sua infância tratada. Como esponjas, absorvem o que lhes é ensinado. E o que está sendo ensinado? Está na hora de darmos mais atenção a estes cidadãos em formação, que constituirão o futuro, mais poluído ou mais verde, mais consumista ou mais consciente. E é a educação a chave para a transformação.
0.1 As pequenas esponjas e a grande responsabilidade. As interferências antrópicas1 vêm se intensificando principalmente após a revolução industrial (FRANCO; DRUCK, 1998), de tal forma que o meio ambiente vem sentindo cada vez mais os abusos na utilização dos recursos naturais e a degradação dos mesmos. Nós, adultos, sempre tão atarefados e preocupados com várias questões, levantamos inúmeras teses acerca dos assuntos socioambientais (dentre outros), e muitas vezes, com o dedo em riste, apontamos os culpados e as possíveis soluções, dando-nos por satisfeitos. Nesta turbulência de deveres mil em que estamos inseridos, por vezes não damos a devida atenção às crianças, pequenas esponjas que nos cercam ávidas por conhecimento, questionadoras e em formação, prontas para absorver. O que nossas esponjas estão absorvendo? Imersos no modelo de consumo, nas (des)informações midiáticas, no imediatismo e na superficialidade, o que elas estão aprendendo? Qual o legado ambiental que estamos deixando para elas? Quais as práticas ambientais que estamos ensinando? Ora, elas só fazem absorver... No futuro não muito distante, mais adultos imersos na turbulência dos deveres e sem nenhuma ou com pouca capacidade crítica e de intervenção estarão com o dedo em riste. Faz-se necessária a Educação Ambiental (EA) para que os cidadãos possam ser atuantes em relação ao seu meio ambiente, e de forma crítica poder interferir nas decisões 1
De origem grega, significa homem. Ação antrópica são as alterações realizadas pelo homem no Planeta Terra.
SUMÁRIO
12
a serem tomadas (não só interferir, mas antes de tudo pensar na sua própria condição em relação ao meio), bem como na sua preservação. Temas como meio ambiente e a degradação deste, sustentabilidade, consumo e a produção de lixo aparecem nas mídias, mas vemos que de forma superficial. Nas escolas, encontramos certa dificuldade na prática da EA, seja pela falta de material adequado ou que trate dos temas regionais, das especificidades de cada local, ou mesmo pela repetição exaustiva de dinâmicas/atividades que não se mostram atrativas para essa geração. Apesar de algumas dificuldades, a EA apresenta um enorme potencial para a formação de cidadãos capazes de atuar de forma eficaz em seus espaços de vivência. É preciso acreditar nas pessoas, na capacidade da mudança através do conhecimento. Do contrário, não perca tempo com EA (VASAKI, 1998). É necessário que novas práticas possam ser trabalhadas, para que a atenção dos alunos (e por que não da sociedade) sejam alcançadas. A educação não-formal deve ser mais valorizada, e trabalhos já realizados mostram a força que o lúdico tem no processo de aprendizagem. Histórias em quadrinhos (HQ), lendas folclóricas, jogos bem como brincadeiras têm grande potencial para atrair e conscientizar sobre a temática ambiental. É neste sentido, de corroborar com a EA não-formal, que o trabalho visa apresentar uma lenda regional da cidade de São Roque, a do dragão do Morro do Saboó (Apêndice A, página 57), como material lúdico.
Parte I PREPARAÇÃO DA PESQUISA
14
1 METODOLOGIA 1.1 Problemática O meio ambiente vem sofrendo interferências antrópicas drásticas e já mostra sinais dessas agressões , como, por exemplo, as mudanças climáticas. Neste sentido, é necessário que haja a Educação Ambiental como forma de conscientizar e formar cidadãos capazes da crítica e da intervenção não só ambiental, mas ética, social e política. Esta educação, em grande parte, é dada pela escola, mas ainda nos moldes da Educação formal, com currículos e regras bem definidos. A questão levantada é se a educação não-formal, através do lúdico e da literatura, pode ser viável para ensinar EA.
1.2 Justificativa Com a crescente degradação sofrida pelo meio ambiente, faz-se necessário projetos que foquem na educação ambiental. Escolhemos trabalhar com o Morro do Saboó excelente local que podemos citar no município de São Roque-SP, pois além de vir sofrendo interferência antrópica de forma negativa, causando danos a este patrimônio, possui uma lenda que pode ser explorada trazendo um lado lúdico para a educação ambiental. E sendo que a temática ambiental deve ser trabalhada nas escolas por todas as disciplinas, de acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1997), torna-se mais interessante e enriquecedor o desenvolvimento deste projeto para crianças nas escolas. A lei 9.795 de 27 de abril de 1999 dispõe, no seu Art 2o , que a Educação Ambiental é um componente essencial e permanente da Educação Nacional, devendo estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em caráter formal e não-formal (ADAMS, 2013).Com uma boa base desenvolvida na Unidade Escolar, esse conhecimento pode e deve transpor as barreiras dos muros escolares, atingindo outros aspectos da vida das crianças, como o bairro e a comunidade.
1.3 Hipótese O presente trabalho levanta como hipótese que histórias podem ser utilizadas como método de Educação não-formal, podendo ser aplicadas como prática eficaz para Educação Ambiental. Pretende-se demonstrar que a literatura (que é a forma como o lúdico será apresentado, com a produção de uma história), utilizando-se do regionalismo, ou seja, da cultura local (lendas, mitos etc.), é excelente meio propagador também de conceitos sobre o meio ambiente, sendo ferramenta eficaz para a Educação.
Capítulo 1. METODOLOGIA
15
1.4 Materiais e métodos A presente pesquisa foi realizada na forma qualitativa, partindo de leituras e análises de bibliografia ampla para construção do referencial teórico que embasou todo o trabalho, partindo da premissa da importância da utilização do lúdico para a prática de Educação ambiental. Para isso, foram analisados o uso de HQs, de lendas folclóricas, do cordel e de brincadeiras. Com base em uma lenda da cidade de São Roque, a do dragão do Morro do Saboó, uma história com viés ambiental foi produzida. O público alvo para estas práticas foram crianças do terceiro e quarto ano, o que não impede que um número maior de crianças de outras idades possam ser atingidas bem como adultos, pois isto está muito ligado a questão da sensibilização que a história produzirá. Para a avaliação dos impactos do presente trabalho, o diálogo com as crianças foi de extrema importância como avaliação qualitativa. Para envolver também os docentes, um questionário foi elaborado através do Google Formulários, o que foi de grande relevância para a validação da hipótese, de que o lúdico, através da literatura, é forte ferramenta para a Educação Ambiental. Posteriormente, ocorreu a avaliação e a tabulação dos dados dos professores e, através dos gráficos produzidos, analisamos os resultados obtidos.
1.4.1 Objetivo Gerais Proporcionar a educação ambiental, de forma lúdica, às crianças do 3o e 5o ano, evidenciando a importância do lúdico. Parafraseando Paulo Freire (FREIRE, 1966), a educação não transforma o mundo, mas muda pessoas, e são as pessoas que transformam o mundo. É neste sentido, tendo em vista a problemática da degradação ambiental, da necessidade da educação para efetiva intervenção e tendo o lúdico e a literatura como excelente ferramenta para a EA, é que o presente trabalho desenvolve-se.
1.4.2 Etapas da Pesquisa ∙ O Levantamento bibliográfico se fez importante para que o trabalho pudesse ter embasamento. ∙ Primeira Avaliação - através do diálogo observar o conhecimento que essas crianças possuem sobre a temática ambiental, e sobre conceitos tais como: meio ambiente, degradação, consumo, o lixo, a lenda do morro do saboó etc, sendo uma avaliação qualitativa. ∙ História - Através da lenda do dragão do Saboó, envolvê-los e instigá-los para o assunto. A ideia é que eles se identifiquem, visto a proximidade com o local. É nesta
Capítulo 1. METODOLOGIA
16
fase que os primeiros questionamentos serão trabalhados, explicando a eles, caso tenham dúvidas ou não saibam sobre o assunto. Essa história foi aplicada da forma convencional, sendo contada, mas também através do teatro de fantoche. A ideia foi trazer a personagem - o Dragão, como um protetor do meio ambiente, ensinando as crianças sobre meio ambiente. ∙ Segundo momento Avaliativo - Avaliar o que, de fato, foi aprendido, se os conceitos trabalhados foram compreendidos e se a abordagem foi instigante a ponto de leválos a outros questionamentos. Observações e o próprio diálogo com as crianças serão analisados. ∙ Questionário para educadores sobre a importância do trabalho, através de perguntas produzidas no Google Formulário para contribuir para a validação da hipótese, verificando desta forma o impacto do trabalho através da coleta de dados e posterior tabulação.
Parte II REVISÃO DA LITERATURA
18
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 2.0.1 História da Educação Ambiental no mundo Conferências mundiais e Movimentos Sociais marcaram ao longo do tempo o que se convencionou chamar da construção da história da educação ambiental, que infelizmente está ligada à intensificação dos problemas ambientais desencadeados devido ao uso excessivo dos recursos, poluição e degradação. Em 1962, Rachel Carson (JUNQUEIRA; MAIOR; PINHEIRO, 2011) lançou o Livro "Primavera Silenciosa", alertando sobre os efeitos danosos de inúmeras ações humanas sobre o ambiente, levantando questionamentos sobre os uso de pesticidas e agrotóxicos, tornando-se um clássico do movimento de defesa do meio ambiente. Na década de 1970 temos em Estocolmo, na Suécia, a primeira conferência Mundial de Meio Ambiente Humano, sendo o tema principal a poluição ocasionada principalmente pelas indústrias. Essa conferência foi um marco histórico internacional de emergência de políticas ambientais em muitos países, inclusive no Brasil (LISBÔA; JUNQUEIRA; PINO, 2008). Países subdesenvolvidos, como Brasil e Índia, não aprovaram as decisões de reduzir as atividades industriais, pois na época viviam o crescimento econômico que seria barrado caso fossem fechadas as portas para as indústrias multinacionais. Surgia, então, o "desenvolvimento a qualquer custo", defendido por estas nações. É desta conferência que, de acordo com Reigota (REIGOTA, 2001), surge a resolução que se deve educar os cidadãos para a solução dos problemas ambientais, podendo ser considerada como o que se convencionou chamar de Educação Ambiental. O Clube de Roma, surgido em 1972, também é considerado uma marco ao produzir o relatório "Os Limites do Crescimento Econômico", que estudou ações para se obter no mundo um equilíbrio global, levando em consideração a utilização dos recursos naturais indiscriminadamente e salientando que este sistema tende a entrar em colapso sem uma modificação nas atitudes do ser humano. Em 1977, a UNESCO e o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) promovem em Tbilisi, Geórgia, ex-URSS, a primeira Conferência Intergovernamental sobre Educação Ambiental, que ficou conhecida como Conferência de Tbilisi. Nesta Conferência, considerada hoje um dos grandes marcos em EA, foram elaborados os objetivos, princípios, estratégias e recomendações para a EA. Postulou-se que a educação ambiental é um elemento essencial para uma educação global, orientada para a resolução dos problemas através do mecanismo coletivo da participação ativa dos educandos na educação formal e não-formal, em favor do bem-estar da comunidade humana. (LISBÔA;
Capítulo 2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
19
JUNQUEIRA; PINO, 2008). Nessa linha histórica, podemos ainda citar em 1992, no Rio de Janeiro, a Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente, que ficou conhecida como Rio-92, e a Conferência das Nações Unidas para o desenvolvimento Sustentável, realizada em 2002 em Joanesburgo, África do Sul. Destas conferências temos documentos como a Agenda 21 (Rio-92), que é um instrumento de planejamento para a construção de sociedades sustentáveis, conciliando métodos de proteção ambiental, justiça social e eficiência econômica (BARBOSA, 2008). Mas o que, de fato, deve ser notado positivamente, é o destaque conseguido pelo meio ambiente na agenda planetária, bem como a crescente participação cidadã que passou a marcar estas reuniões a partir da Rio-92.
2.0.2 O Brasil e a Educação Ambiental A Educação Ambiental foi instituída no Brasil valendo-se de iniciativas externas provenientes dos resultados das discussões de eventos internacionais, como já citado. Apesar da posição tomada pelo Brasil em Estocolmo, para além da conferência realizada em 1992 no Rio de Janeiro, temos alguns marcos históricos em nosso país, como a criação da Secretaria Especial do Meio Ambiente (SEMA), no início dos anos 1970, que era responsável pelos projetos de educação ambiental. No contexto político econômico da época (ditatorial-tecnocrata entre 1964 e 1984), a SEMA enfrentou problemas devido às contradições entre os projetos de educação ambiental que tentava desenvolver e o modelo econômico adotado, que visava ao crescimento do país, promovendo um verdadeiro saque aos recursos naturais. É de 1982 o primeiro Encontro de Educação Ambiental que se tem notícia no Brasil, realizado em Porto Alegre, e em 1984 o Primeiro Encontro Paulista de Educação Ambiental, em Sorocaba. Segundo Reigota (REIGOTA, 2001), o boom da educação ambiental ocorreu devido ao assassinato de Chico Mendes 1 no final dos anos 1980, além disso a pressão internacional sobre o Brasil, devido ao desmatamento da Amazônia, e a Rio-92, que passou a ter muita visibilidade na mídia, infelizmente com poucos fundamentos políticos e pedagógicos. Após esse período, a educação ambiental continuou galgando novos espaços, tendo mais ou menos visibilidade midiática de acordo com os interesses, mas não deixando de existir e se solidificar nos Movimentos Sociais, escolas, ONG’S, simpósios etc. Em 1996, o Ministério da Educação define e divulga os Parâmetro Curriculares Nacionais (PCN’s), que trazem o tema meio ambiente como um tema transversal, perpassando as várias áreas ou disciplinas escolares. Os PCN’s atestam a prioridade em promover a construção coletiva de ideias e ações, que possam vir a diminuir a degradação ambien1
Nascido em 15 de dezembro de 1944, no seringal Porto Rico, próximo à fronteira do Acre com a Bolívia, em Xapuri, estado do Acre, Chico Mendes lutava pelos direitos dos seringueiros, pela defesa da floresta e pela luta política contra a ditadura e pelos direitos dos trabalhadores. Foi assassinado em 22 de dezembro de 1988.
Capítulo 2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
20
tal, o conhecimento local e cotidiano e a construção de uma ética ecológica (LOUREIRO, 2004). A aprovação da Lei no 9.795, de 27/04/1999 e do seu regulamento, o Decreto no 4.281, de 25/06/2002, que estabeleceu a Política Nacional de Educação Ambiental (PNEA) (JAKUBOSKI; SANTOS; RAUBER, 2013), trouxe grandes expectativas para ambientalistas, educadores e professores. Porém, mesmo com o auxílio da lei, ainda esbarramos em problemas tais como falta de material didático adequado, que muitas vezes, quando fornecido, está distante da realidade em que são utilizados, apresentando caráter meramente informativo e notadamente ecológico, não incluindo temas sociais, econômicos e culturais, o que reforça visões reducionistas e não garante a visão holística que deveria proporcionar (VESTENA, 2011). A esse fato podemos associar a falta de pesquisa na área de EA, que inviabiliza a produção de metodologias didáticas pedagógicas para fundamentar a EA formal, bem como resgatar valores culturais étnicos e históricos das diversas regiões. Podemos, ainda, somar o fato de que a EA geralmente apresenta-se nos ensinos fundamental e médio em atividades extraclasse escolares, o que dificulta a real inserção no currículo e nos planos anuais de Educação. Ainda neste sentido, é associado o fato de que o sistema de ensino é fragmentado em disciplinas, respondendo às posturas derivadas do paradigma positivista e da pedagogia tecnicista, constituindo empecilho para a implementação de modelos de EA integrados e interdisciplinares (VESTENA, 2011). Tal análise pode ser endossada pelo fato de que, geralmente, a EA é tratada apenas por disciplinas que, de alguma forma, envolvem o tema, como ecologia, biologia, ciências e até geografia, mantendo-se apenas nestas disciplinas, não constituindo o caráter transversal e interdisciplinar. Mas o real problema não é a fragmentação em disciplinas, pois isso por si só não inviabilizaria todos os professores de tratar o tema. O que falta são instrumentos realmente eficazes, e que os conhecimentos científico-escolares e os saberes tanto dos alunos como o de professores sejam aprimorados para as questões ambientais. Os currículos escolares devem abrir mais espaço para a temática ambiental, e os educadores devem tê-la também em sua formação para que seja maior a possibilidade de trabalhá-la. Dessa forma, um maior número de pessoas poderá ser sensibilizada para os problemas do meio ambiente, sendo capazes de articular soluções e fomentar o senso de responsabilidade pessoal.
2.0.3 Educação Ambiental Regional O regional enfatiza aquilo que pertence ou é próprio de uma região.Devemos ter consciência de que "somos sujeitos da história", o que evidencia que além das grandes conferências temos a atuação, mesmo que desconhecida do grande público, de anônimos
Capítulo 2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
21
que lutam no cotidiano pelas causas sociais e ambientais. A história não é apenas um conjunto linear de datas, heróis e eventos (REIGOTA, 2001). E não poderia ser, visto que é necessário que práticas ambientais sustentáveis sejam realizadas todos os dias, até mesmo para que as propostas surgidas nestas conferências, bem como as leis existentes, possam sair do papel e tomar forma concreta. A necessária intervenção social nos assuntos relacionados ao meio ambiente é de suma importância na formação de um cidadão capaz de atuar diante dos problemas e desafios ambientais. É nesta atuação que podemos desmistificar alguns conceitos errôneos, (como a ideia de que o crescimento populacional é a causa do crescente consumo dos recursos), bem como ensinar o que é a educação ambiental, não apenas de forma conceitual, mas inserindo-a no cotidiano social, tornando-a parte de nossa cultura. É nesta linha de pesquisa, no "eu"atuante, que o presente trabalho busca desenvolver projetos em Unidades Escolares no município de São Roque-SP. Desenvolvendo a educação ambiental de forma lúdica, pretende-se tornar mais acessível e interessante o tema para o público alvo – crianças do 3o e 5o ano.
2.0.4 São Roque e a Educação Ambiental. Em relação à EA, a cidade de São Roque possui a Lei 3.434, de 8 de março de 2010, que institui a Política Municipal de Educação Ambiental. Podemos destacar, entre outros, o artigo 3o da referida lei onde fica instituído que todas as Unidades Escolares do Município deverão estabelecer, em seu plano anual de trabalho, número de horas suficientes para a discussão e a programação de atividades de Educação Ambiental. Em seu artigo 4o destaca que, além dos conteúdos teóricos em sala de aula, deve-se também enfatizar pesquisas de campo, atividades práticas, observação direta da natureza e dos problemas ambientais (ROQUE, 2010). Essa Política Municipal vem dar maior embasamento e relevância para a prática de EA nas Unidades de Ensino. Neste sentido podemos ainda citar a entrega de Cartilhas de Educação Ambiental para as escolas ao longo do ano de 2015. As cartilhas foram elaboradas pela Equipe Técnica da Prefeitura, tratando de temas como arborização urbana, queimadas; 5 R’s da sustentabilidade; coleta seletiva, destinação correta de pilhas, óleos e pneus; água; animais da fauna da cidade e lixo orgânico (ROQUE, 2015).
22
3 EA E CONCEITUAÇÕES. 3.0.1 O que é Meio ambiente? Existem várias definições para meio ambiente, o que depende muito das fontes de pesquisa. Provavelmente, cada um terá a sua própria definição, que varia das mais abrangentes, como sendo "tudo o que nos cerca", até a definição de que meio ambiente "são as relações entre o biótico e o abiótico” 1 Entre uma das primeiras definições, (anos 1970 e 1980), temos a de Pierre Jorge (Pierre cit. in Lisboa 2008), geógrafo francês que define: ao mesmo tempo o meio é um sistema de relações onde a existência e a conservação de uma espécie são subordinadas aos equilíbrios entre processos destrutores e regeneradores e seu meio- o meio ambiente é o conjunto de dados fixos e de equilíbrios de forças concorrentes que condicionam a vida de um grupo biológico. O artigo 3o , parágrafo I da Política Nacional do Meio Ambiente (Lei 6.938, de 31 de agosto de 1981) define como "conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas". Mundialmente a definição mais conhecida da EA é da Conferência de Tbilisi, segundo Sato (SATO, 1997): "A Educação Ambiental é um processo de reconhecimento de valores e clarificação de conceitos, objetivando o desenvolvimento das habilidades e modificando as atitudes em relação ao meio, para entender e apreciar as inter-relações entre os seres humanos, suas culturas e seus meios biofísicos. A educação ambiental também está relacionada com a prática das tomadas de decisões e a ética que conduzem para a melhoria da qualidade de vida" . Marcos Reigota define como "um lugar determinado e/ou percebido onde estão em relação dinâmica e em constante interação os aspectos naturais e sociais. Essas relações acarretam processos de criação cultural e tecnológica e processos históricos e políticos de transformações da natureza e da sociedade"(REIGOTA, 2001). 1
Os componentes bióticos são todos os seres vivos que atuam num determinado ecossistema como, por exemplo, os animais e vegetais. Os componentes abióticos são os fatores físicos e químicos de um ecossistema, como luz solar, água e os nutrientes no solo.
Capítulo 3.
EA E CONCEITUAÇÕES.
23
Na realização da Educação Ambiental, é necessário conhecermos as definições de meio ambiente das pessoas, que podem se muito variadas. Imaginemos que, em uma escola, cada criança e jovem, com suas vivências sociais, poderão defini-lo de uma forma. Dar a eles uma noção conceitual, contudo sem deixar o social e o cultural de lado, será de grande contribuição para todos. Ladislau Dowbor, em uma entrevista (MAGALHAES, 2009) nos dá um interessante ponto de vista acerca da evolução do conceito de educação, ao tratá-la como gestão do conhecimento, visto que, com as novas tecnologias, o modelo antigo de "estudar, trabalhar e se aposentar"acabou, no sentido de termos que estar sempre nos atualizando. A forma de transmissão dos conhecimentos também mudou. Dialogar com as mais diversas definições existentes sobre meio ambiente nos ajuda nessa nova proposta de educação, que deixa de ser apenas conteudista e técnica e passa a ser participativa, na busca de soluções e alternativas para os problemas cotidianos, para a construção de uma consciência ambiental. É dessa forma que criamos uma educação ambiental política, dando ao cidadão a oportunidade de obter conhecimento e fazer uso dele. "Quanto mais o conhecimento circula, mais ele enriquece o mundo"(MAGALHAES, 2009, pg 9).
3.0.2 Mas o que é educação Ambiental? O termo foi usado pela primeira vez na Conferência de Educação da Universidade de Keele, realizada em 1965, em Londres (Inglaterra). Em seu cerne está a prevenção e a minimização dos impactos ambientais, que já eram expressivos na época. Nas definições mais comuns, observamos que a EA ainda está fortemente ligada à ecologia, podendo ser associada também à biologia. Embora muito próximos, são distintos. A ecologia é um ramo da biologia que estuda as relações entres os seres vivos e o meio ambiente que habitam. A educação ambiental tem outro enfoque, pois não se atem apenas aos aspectos biológicos da vida, à preservação de espécies e recursos, embora essas questões biológicas sejam importantes e façam parte, também sendo abordadas. A educação ambiental se faz com a análise das relações políticas, econômicas, sociais e culturais entre a humanidade e a natureza e a relação entre os seres humanos (REIGOTA, 2001). Seria ingênuo acreditar no uso completamente sustentável do meio, sem levar em consideração o sistema capitalista vigente, real interventor no meio ambiente, sendo forte barreira para implementação de muitas políticas ambientais. Temos também que levar em conta os aspectos sociais e culturais porque cada região possui realidades diferentes, tradições e costumes que interferem na forma como as sociedades lidam com o meio, pois, mesmo em outros sistemas que não o capitalista, vemos que ainda assim existem tais problemas.
Capítulo 3.
EA E CONCEITUAÇÕES.
24
Ora, enquanto houver desigualdades sociais, por exemplo, não poderemos falar em um meio ambiente sustentável, pois seu uso é feito mediante as necessidades e possibilidades das pessoas, ou seja, o seu padrão de consumo. Aqueles mais abastados, que caracterizam a minoria da população, podem viver em bairros arborizados, com capitalização de esgoto adequado e coleta seletiva, sendo aparentemente modelos de sustentabilidade. Porém, consomem mais produtos industrializados e utilizam mais automóveis, degradando mais o meio ambiente do que os menos abastados. Aliás, a definição de meio ambiente também merece enfoque, visto que ainda gera certa confusão conceitual, tendo as mais variadas definições.
3.0.3 Degradação Podemos entender degradação como a redução dos potenciais recursos renováveis provocados por uma combinação de agentes sobre o ambiente em questão. Qualquer processo que diminua a capacidade de um determinado ambiente em sustentar a vida pode ser entendido como degradação ambiental. Segundo Rios (RIOS; ARAÚJO, 2005), a Política Nacional do Meio Ambiente, lei 6.938/81, em seu artigo 3o parágrafo II, define degradação da qualidade ambiental como sendo a alteração adversa das características do meio. Segundo Dias (DIAS, 2013b): a degradação ambiental é produto do analfabetismo ambiental acoplado ao egoísmo e a ganância, regada a imediatismo e emoldurada pela ignorância. Alimenta-se de um modelo econômico que percebe o ambiente apenas como recurso a serem transformados em negócios e lucros. A degradação ambiental não é restrita apenas aos países em desenvolvimento, mas também ocorre nos países desenvolvidos, seja no meio rural ou urbano . É proveniente da pressão que a produção e a população exercem sobre os bens e serviços, e que são provenientes dos recursos naturais (FINCO; WAQUIL; MATTOS, 2004). Práticas inadequadas na agropecuária, construção de complexos industriais e as intervenções humanas no meio podem ser destacadas como causas, além do crescimento populacional. A degradação deve ser combatida com medidas mais sustentáveis, que levem em consideração não só aspectos econômicos do lucro, mas também os aspectos socioeconômicos e culturais, tendo em vista que os recursos são finitos, e esta escassez causa grandes problemas para a população, até mesmo de saúde pública.
3.0.4 Sustentabilidade Muito difundido atualmente, os termos sustentabilidade e desenvolvimento sustentável vem sendo utilizados de forma constante e, muitas vezes, não correspondendo
Capítulo 3.
EA E CONCEITUAÇÕES.
25
ao seu real significado. Comercialmente, ser sustentável gera lucro, e o marketing verde 2 não deixa dúvidas quanto a isso. Faz diferença hoje uma empresa alardear que é “economicamente sustentável”, e que contribui para um meio ambiente saudável e equilibrado para todos. O que seria ótimo se não fosse o fato de que em muitos casos não o é, não procedendo conforme alega. Capra (CAPRA; EICHEMBERG, 2006) define o conceito de sustentabilidade como "a capacidade de o homem satisfazer suas necessidades sem reduzir as oportunidades das gerações futuras". Jara (JARA, 1998, pg 35) define o desenvolvimento sustentável como: Tem dimensões ambientais, econômicas, políticas e culturais, o que necessariamente traduz várias preocupações: com o presente e o futuro as pessoas; com a produção e o consumo de bens e serviços; com as necessidades básicas de subsistência; com os recursos naturais e o equilíbrio ecossistêmico; com as práticas decisórias e a distribuição do poder e com os valores pessoais e a cultura. . A sustentabilidade está centrada no respeito à vida, visto que visa satisfazer as necessidades do presente, sem comprometer as habilidades das futuras gerações de satisfazerem suas necessidades. É interessante abordarmos o consumo de bens de serviço, bem como da distribuição do poder e dos valores pessoais e culturais. Existe uma interdependência entre o meio natural, social, econômico e cultural, que interfere na forma como se dará, ou não, um desenvolvimento sustentável. Desenvolver, compreende retirar do estado natural, envolve mudança, o que contraria a ideia de meio ambiente intocado, pois precisamos dele para obter recursos. A questão é: como utilizá-lo impactando o menos possível? Entre as medidas que podem ser tomadas estão o uso de energias limpas e renováveis e a exploração de forma planejada e controlada - sustentável. Mas mais do que isso, estão envolvidas questões políticas e sociais, tais como as relações de poder (quem toma as decisões para quem e a favor de quem), e como o ambiente está neste jogo de poder. Vivemos em uma sociedade capitalista, com um modelo econômico de consumo, em que o poder de aquisição define identidade, status social; uma modernidade que não pensa a longo prazo, não conseguindo traduzir seus desejos em um projeto de longa duração e trabalho (BAUMAN, 2003) Nem todos tem acesso ao padrão de consumo, gerando frustração e, mais do que isso, uma grande desigualdade social, em que uma pequena parcela consome mais do que a grande maioria, o que nos leva a questionar colocações feitas sobre degradação 2
um movimento das empresas para criarem e colocarem no mercado produtos ambientalmente responsáveis em relação ao meio ambiente.
Capítulo 3.
EA E CONCEITUAÇÕES.
26
ambiental onde o crescimento populacional é colocado como grande fator causador. Ora, mas se nem todos consomem da mesma forma, muitos não conseguindo satisfazer as necessidades de consumo básicas, como a teoria de uma superpopulação como causa dos problemas ambientais pode se sustentar? O consumo exacerbado, o aumento do uso de produtos industrializados (portanto mais embalagens) e a obsolescência programada 3 explicam melhor a degradação ambiental, o que nos leva a debater sobre este consumo e a produção de lixo gerada.
3.0.5 O consumo e a produção de lixo A sociedade de consumo teve seu marco inicial com a Revolução Industrial, na Inglaterra no século XVIII. Com o passar dos anos e os avanços tecnológicos, o consumo vem alcançando níveis cada vez maiores, e muito desse crescimento se deve à mídia, que propaga e difunde necessidades às quais, muitas vezes, não temos, mas que são vendidas como necessárias. A mídia, principalmente a televisiva, é utilizada como instrumento para o consumo, muitas vezes desnecessário e desenfreado, e que vem atingindo cada vez mais crianças e jovens em todo o mundo. Estudos recentes apontam que a mídia vem investindo no público infantil como excelente mercado de consumidores (GROSSI; SANTOS, 2007). O consumo é apresentado como o remédio do século XXI para todas as mazelas do cotidiano, desde as frustrações até a solidão, todas as soluções podem ser compradas, bem como o status social, a própria identidade – você sendo aquilo que consome. Segundo Pietracolla (GROSSI; SANTOS, 2007), Insatisfação, compulsão, criação de novas necessidades, desejo de obtenção de lucro são os pilares para a construção e desenvolvimento da sociedade de consumo. Quanto maior for a posse de bens de um indivíduo, maior será seu prestígio social. Deste modo, a sociedade de consumo tem como lógica a criação de novas necessidades que se traduzem na criação de novos bens de consumo. Devemos pensar em como as crianças e jovens, que estão em um processo de formação de valores, estão expostas à influência desta sociedade de consumo, tão sedutora e invasiva. São suscetíveis às imposições de padrões, do que é belo ou feio, bom ou ruim, as marcas e o estilo de vida colocados como ideais pelas propagandas, podendo sentir-se inferiorizadas caso não tenham acesso a esses padrão pré-estabelecido - puro marketing consumista. Segundo Strasburguer (STRASBURGER, 1999), a televisão pode afetar o comportamento das crianças, através da excitação causada na exposição. Por exemplo, as experiências televisivas são capazes de encorajar ou inibir comportamentos, como o uso 3
Trata-se de uma estratégia de empresas que programam o tempo de vida útil de seus produtos para que durem menos do que a tecnologia permite e, dessa forma, tornem-se ultrapassados, levando à troca. A troca regular de produtos aumenta a produção de lixo
Capítulo 3.
EA E CONCEITUAÇÕES.
27
abusivo de álcool. Não se trata de atacar a mídia, que também presta um grande trabalho à sociedade, mas sim da educação da mídia, voltada para o resgate de seu potencial criativo e mobilizador. O consumo exacerbado nos leva à outra problemática: o lixo gerado. O principal aspecto da sociedade moderna em relação ao lixo está voltado para uma cultura comportamental a favor do desperdício e do descartável (MENDONCA, 2004). As embalagens, neste contexto, assumem papel de extrema importância, constituindo a maior parte do volume do lixo das sociedades modernas e industriais. Porém, como já citado, há também a obsolescência programada, em que muitos aparelhos tem um tempo de vida útil programado, além do descarte devido às inovações tecnológicas, em que o "mais moderno"é o atrativo para a troca e o descarte. A cada dia, são desenvolvidos produtos com novas qualidades, funções, cores e formatos, disseminados por meio da propaganda e o produto anterior é ultrapassado, velho, precisando ser trocado. O consumo de produtos e, portanto de embalagens, só vem aumentando nos últimos anos. Em São Paulo, estima-se que cada habitante produz, em média, 1,2 quilos de lixo por dia. Em 1970, cada habitante produzia cerca de 0,4 quilo. (MENDONCA, 2004). Vemos, com isso, que, para resolver a problemática, temos que ir além da reciclagem, mas buscar disseminar um consumo consciente, fundamentado na preocupação com um ambiente saudável para todos, presente e futuras gerações. As temáticas apresentadas são complexas, mas devem ser disseminadas de forma a chegar aos mais diferentes níveis de (in) formação. Neste trabalho, o grande desafio está em tratar esses temas (Meio ambiente, degradação, consumo, lixo e sustentabilidade), que estão atualmente sendo muito discutidos, de forma leve e acessível para crianças.
28
4 O LÚDICO COMO FERRAMENTA PARA EA 4.0.1
Educação não-formal.
As práticas relacionadas à EA não se restringem apenas à sala de aula, elas podem e devem extrapolar os muros da escola. O artigo 2o da lei da Política Nacional do Meio Ambiente (PNEA) afirma que "a educação ambiental é um componente essencial e permanente da educação nacional, devendo estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em caráter formal e não-formal". Esta educação não formal pode ser pensada como aquela que se realiza fora das paredes da sala de aula, podendo também utilizar-se dos meios de comunicação. O artigo 3o desta lei discorre sobre o direito de todos à educação ambiental, incumbindo ao poder público definir políticas públicas que incorporem a dimensão ambiental, promovendo a EA em todos os níveis de ensino e o engajamento da sociedade na conservação, recuperação e melhoria do meio ambiente. Além do poder público, cabe aos meios de comunicação de massa colaborar de maneira ativa e permanente na disseminação de informações e práticas educativas sobre meio ambiente e incorporar a dimensão ambiental em sua programação. Giesta (GIESTA, 2002, pg 161) sugere que: Em paralelo às iniciativas de educação formal via currículo escolar, iniciativas de educação informal vão ganhando corpo. Textos propagando mensagens de atenção ao meio ambiente, no que se refere à proteção, preservação, conservação e recuperação ambiental são cada vez mais presentes em propagandas, letras de músicas, embalagens de produtos industrializados, histórias em quadrinhos e tantos outros "portadores de textos". Através dos meios de comunicação, os problemas ambientais podem chegar às mais diversas camadas sociais, atingindo pessoas de todas as idades e níveis de (in) formação. Mais do que entretenimento, deveriam transmitir também entendimento. Podemos perceber que a quantidade e a qualidade do "produto"oferecido pelos meios de comunicação (a notícia) não passa, em muitos casos, da superficialidade, de informações fragmentadas, de um discurso de indignação ou do sensacionalismo noticioso (ACIOLI, 2010). Podemos utilizar de vários meios para a educação não formal, como as histórias em quadrinhos, literatura de cordel, o folclore e brincadeiras, dentre outros mecanismos que mostram-se muito proveitosos para a EA. O presente trabalho visa utilizar a lenda local do dragão do Morro do Saboó, da cidade de São Roque-SP, através de uma história
Capítulo 4. O LÚDICO COMO FERRAMENTA PARA EA
29
criada com viés ambiental, incluindo também a questão gráfica, através de ilustrações da lenda e teatro de fantoches. Estes recursos podem ser usados para enlaçar o educando para aprendizagem. Atrair a atenção do aluno e o seu interesse constituem-se aspectos diferentes. A atenção muitas vezes é conquistada com a repreensão, os pedidos de "silêncio"por parte do professor, bem como outros métodos que podem ser aplicados dentro da sala de aula. Mas o interesse, o real desejo de aprender e participar vai além, e é esse, muitas vezes, o ponto chave no desenvolvimento pedagógico – ativar o desejo de aprender. Várias pesquisas são desenvolvidas neste sentido, ressaltando que o processo de aprendizado precisa de mais significado, pois quando se é compreendido, e a importância do que é ensinado vem à luz, é mais fácil de lembrar e até mesmo de relacionar ideias, o que aprendeu ao que já sabia. Isso é possibilitado com a motivação e com novas formas de se passar o conhecimento – através da prática, contexto, histórias, brincadeiras e da emoção (HANSEN et al., 2007). Assim, o lúdico, que é algo ligado à jogos e brincadeiras, tem suma importância no processo de aprendizagem. Os jogos constituíram sempre uma forma de atividade inerente ao ser humano, e já na Grécia antiga Platão afirmava que os primeiros anos da criança deveriam ser ocupados com jogos educativos (ALMEIDA, 1998, pg 19,22). Deste modo, pretendemos utilizar o lúdico para ensinar Educação Ambiental, e, nesse trabalho, além do enfoque principal que são as lendas como forma de prática da EA, destacaremos as possibilidades que as histórias em quadrinhos e brincadeiras também possuem.
4.0.2 As HQ’S e a Educação Ambiental Podemos levar em conta o grande potencial que as histórias em quadrinhos possuem, sendo possível até mesmo juntá-las – o folclore através de um HQ, ou mesmo de um livro ilustrado. São inúmeras as possibilidades de utilização conjugada do texto e da imagem, e grande a popularidade e a penetração deste tipo de mídia. As HQs podem trazer consigo temas de relevante interesse como, por exemplo, a dimensão ambiental (LISBÔA; JUNQUEIRA; PINO, 2008) Segundo Kaufman e Rodriguez (KAUFMAN; RODRIGUEZ, 1995, pg 215), "as histórias em quadrinhos combinam imagem e texto escrito, constituindo um código específico, procurando a participação ativa do leitor por via emocional, anedótica, assistemática, concreta". Por ser de leitura fácil, divertida e agradável, as histórias em quadrinhos constituem um veículo importante de transmissão de informações, produção de significados e sensibilização, não só de crianças, mas de jovens e adultos. Os HQ’s vão além ao proporcionar a interpretação não só do texto, mas também dos desenhos, sons, cores e imagens.
Capítulo 4. O LÚDICO COMO FERRAMENTA PARA EA
30
Muitas vezes, problemas socioambientais trazem consigo determinada complexidade que os torna de difícil compreensão para grande parte da população, salientando também o fato de que, em nosso país, o hábito da leitura não é tão difundido, como revelou a terceira edição da Pesquisa Retratos da Leitura No Brasil, promovida pelo Instituto Pró-Livro, que,ao estudar o comportamento do brasileiro em relação à leitura, mostrou que a média de livros lidos por habitante no Brasil é de duas obras completas por ano, além de outras duas lidas parcialmente, incluindo os livros obrigatórios requisitados em sala de aula. A pesquisa ainda revela que embora o consumo de livros tenha aumentado, metade da população brasileira não tem o hábito da leitura. Ainda revela que o maior número de leitores dá-se entre as mulheres, e que os professores são indicados como os maiores incentivadores da leitura, seguido pelas mães (FAILLA, 2012). Um HQ tem mais chances de atender uma parcela maior da população, despertando o interesse pela leitura por ser mais fácil e agradável, podendo ser instrumento para a formação de cidadãos conscientes da sua inserção nos ambientes naturais e culturais. Neste contexto, podemos citar Maurício de Souza e sua famosa turma da Mônica, que além de divertir, também ensina através de suas tirinhas. Além da poderosa força que os meios de comunicação detém, podendo ser utilizados para a divulgação e conscientização da Educação Ambiental. A grande popularidade que a Turma da Mônica possui, atraindo jovens e crianças, justifica a utilização deste meio midiático para EA. Além do mais, os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), instituídos em 1997, pelo MEC (Ministério da Educação e Cultura), recomenda usar os quadrinhos nas escolas, constando no volume dos PCNs dedicado ao ensino da Língua Portuguesa (CORDEIRO, 2006). Os professores podem enriquecer suas práticas educativas se lançarem mão deste e de outros materiais lúdicos, que mesmo de forma rápida e concisa podem transmitir conhecimento, a exemplo das tirinhas nas figuras um e dois, a seguir:
Figura 1 – Chico Bento contra o desmatamento
Esta tirinha torna-se perfeita para exemplificar como, de forma simples, apenas coma ilustração, é possível passar uma mensagem. Faz valer a expressão que "uma imagem vale mais que mil palavras". Na tirinha, única, não há falas. Mas quer transmitir pelas emoções e por uma placa que contém tudo o que está escrito na tirinha. As árvores são humanizadas, apresentando expressões de medo ao verem o lenhador, chegando a
Capítulo 4. O LÚDICO COMO FERRAMENTA PARA EA
31
aglomerarem-se, como que buscando proteção. Chico Bento, por sua vez, mostra um semblante de desaprovação e raiva, apontando, com ênfase, a placa que diz "Proibido caçar", como se, de fato, as árvores pudessem ser caçadas pelo ser humano, o que intensifica a personificação destas e aumenta a desaprovação pela atitude do "caçador".
Figura 2 – O espanto que o chamado "progresso"traz para Papa-capim e Kava
Maurício de Souza, em seu vasto universo de personagens, possui um elenco que traz indígenas, dentre eles Papa-capim e Kava. Na tirinha mostram-se os ensinamentos sobre a natureza, passado do mais velho para o mais jovem. Há entusiasmo nestes ensinamentos, observados pela expressão das personagens. O mesmo não ocorre no segundo quadro da tira, onde há tristeza nos semblantes, e o questionamento de Kava diante da imagem observada no último quadro, o desmatamento da floresta. Através da última fala, o autor destaca a causa deste progresso como o desmatamento das ditas sociedades civilizadas, que apenas retiram recursos sem se preocupar com a reposição destes. Podemos concluir que, mesmo não apresentando uma mensagem escrita (linguagem verbal), podemos extrair muito das histórias em quadrinhos, explorando os desenhos e as atitudes das personagens, bem como suas expressões, relacionando com diversos conteúdos no Ensino, podendo estimular a leitura, a criatividade e também a criticidade, visto que ao procurar interpretá-las, os leitores podem levantar discussões e ideias.
4.0.3 O cordel contra-ataca Outro meio que pode orientar e informar as massas, e que é de grande popularidade principalmente na região nordeste do nosso país, é a literatura de cordel, considerado jornalismo popular, uma forma de produção de notícia impressa que atinge um grande universo de pessoas no Nordeste brasileiro (BENJAMIN, 1976). É a expressão através dos saberes da cultura popular. A literatura de cordel é uma das tradições populares mais antigas do Brasil, tendo a sua origem no período colonial, quando a trova portuguesa uniu-se à poética do caboclo. Em meados de 1750, surgiram os primeiros poetas do cordel que, no Brasil, foi batizada como sinônimo de poesia popular oral, firmando-se no país no final do século XIX, com o aparecimento das primeiras tipografias, com o registro das produções em folhetos. Na
Capítulo 4. O LÚDICO COMO FERRAMENTA PARA EA
32
atualidade, a literatura de cordel afasta-se do tradicional, das histórias fantásticas e da mitologia, fazendo incursões por temas mais complexos como as artes, a ciência e as questões ambientais, assuntos que interessam diretamente à sociedade e que fazem parte do dia a dia das pessoas (ACIOLI, 2010). Barja (BARJA, 2010) relaciona o cordel como mídia alternativa em programas não só de educação ambiental, mas também de saúde. Salienta que a eficácia da comunicação depende da linguagem utilizada, que deve ser de fácil compreensão, despertando a atenção e suscitando o envolvimento das pessoas. O formato da literatura de cordel pode ser explorado neste sentido, pois a métrica, o ritmo e as rimas próprios desta literatura contribuem para este fim, atraindo a atenção e fixando o que está sendo abordado, além do baixo custo e do amplo alcance deste tipo de iniciativa. Vários cordelistas trabalham a temática ambiental. Podemos destacar, a exemplo, o folheto "A Seca Devoradora e o pranto dos Sertanejos", de Joaquim Batista de Sena. O autor comenta que a seca no Ceará parecia ter afetado mais as pessoas do que os animais. Desta forma, notamos que os cordéis podem servir de ponto de partida para discussão de diversos problemas ambientais, conscientizando a população, dentre outros temas e fontes que podem ser tratados. Basta criar! Com um pouco de imaginação, não fica difícil rimar; pode ser curto e simples, o importante é informar; pode ter ilustrações e, se tiver, melhor vai ficar! Para crianças e adultos, o cordel pode conscientizar. Imagine uma dinâmica em que o desafio proposto aos alunos seja a criação de um cordel: o tema é dado, ficando por conta da imaginação e da criatividade! À exemplo de criação podemos citar o folheto “Plantação de Passarinhos”, em que o cordel foi elaborado a partir de pesquisa sobre diversos pássaros e seus respectivos hábitos alimentares. Através do cordel a proposta era a de se plantar árvores frutíferas para atrair pássaros (BARJA, 2010).
Figura 3 – Capa do Cordel Plantação de Passarinhos, de Frederico Lencioni Neto
Capítulo 4. O LÚDICO COMO FERRAMENTA PARA EA
33
4.0.4 Atividades para EA: brincando e aprendendo. As práticas de Educação Ambiental, de acordo com Dias (DIAS, 2013b), estão estacionadas em um repertório repetido à exaustão, como as hortas, coleta seletiva, economia de água e energia elétrica e à muitas desgraças ambientais, como a poluição. Ou ainda ligadas aos elementos - água, terra, fogo e ar. É necessária a promoção de práticas inovadoras, que ampliem a percepção sobre a complexidade das principais questões socioambientais, desenvolvendo os temas de forma analítica e crítica, sustentando-se na experimentação. É fato, porém, a dificuldade em encontrar referências com essas características, que levem à prática, de fato, da Educação Ambiental. Neste ponto, Freire Dias (DIAS, 2013b) é referência em atividades/dinâmicas para a EA, de forma a quebrar os velhos moldes que ainda a enrijecem. Suas publicações dão excelente base para quem vai aplicá-las, norteando os trabalhos a serem desenvolvidos nos mais diferentes temas sobre educação ambiental e dos problemas socioambientais, desde bioindicadores à aprender a votar certo. É possível, por exemplo, através de uma dinâmica demonstrar as interdependências entre os diversos sistemas naturais (os seres vivos, solo, clima, água, entre outros fatores bióticos e abióticos), e culturais, em seus aspectos sociais, econômicos, políticos, éticos e outros. Ou ainda, através da “brincadeira séria das charges”, estimular a reflexão crítica e síntese de situações. (DIAS, 2013a).
4.0.5 O folclore e a EA As lendas folclóricas brasileiras, as quais possuímos em abundância, como o Sacipererê, Caipora, Iara, Boitatá, Curupira, Lobisomem, Caboclo d’água, Boto, entre outras, possuem grande potencial para serem utilizados para a Educação Ambiental, constituindo excelente meio de se chegar às crianças, isso quando bem contextualizadas e trabalhadas. O universo da fantasia, do mítico, do surreal, pode atraí-los de forma mais intensa, emocionante, podendo conduzi-los, através da personagem, ao desenvolvimento de uma consciência ambiental. Alguns trabalhos foram realizados neste campo, utilizando-se das lendas para a EA. Entre eles, podemos destacar o trabalho sobre a utilização da lenda folclórica do caboclo d’água como estratégia para a educação ambiental, onde uma cartilha foi elaborada para os alunos do Ensino Fundamental II, relacionando o Rio São Francisco e os peixes ameaçados de extinção, abordando a problemática das mudanças climáticas, como essas mudanças afetam os ecossistemas e qual é o papel do homem neste contexto. (BRANDÃO et al., 2015). Com a produção deste material, contendo a lenda, os peixes ameaçados e algumas atividades, pretendia-se que os professores de Ciências e Biologia pudessem utilizá-lo,
Capítulo 4. O LÚDICO COMO FERRAMENTA PARA EA
34
aproximando as lendas folclóricas brasileiras da Educação Ambiental de uma maneira lúdica para seus alunos, conscientizando-os sobre a importância da conservação, e que também tais atividades fossem adotadas com mais frequência em suas práticas pedagógicas (BRANDÃO et al., 2015).
Figura 4 – Escultura do Caboclo d’água, construída dentro do leito do rio São Francisco, em Juazeiro-BA.
4.0.6 A nossa Lenda Entusiasmada com as inúmeras possibilidades oferecidas pela educação não-formal, e acreditando no regionalismo, no "eu atuante"já mencionado, ocorreu o desenvolvimento da nossa lenda do dragão adormecido, inspirada no formato do Morro do Saboó, na cidade de São Roque-SP. Com aproximadamente 1000 metros de altitude, o morro é considerado o ponto mais elevado da cidade de São Roque-SP. Infelizmente, a lenda não é tão difundida e arraigada como as outras já mencionadas, mas possui grande potencial para ser trabalhado. Para isso, nos utilizamos da lenda já existente, a de um dragão que, segundo o poema de Ratib Buchala(1978) 1 , séculos atrás despertava e saía de uma enorme fenda aberta após os abalos provocados por um terremoto, causando pânico e horror. Porém, longe do berço onde viveu, não sobrevive por muito tempo, buscando repouso e sendo vencido pela morte, transformando-se no morro do Saboó. Para a prática da EA, no entanto, a lenda foi remodelada para o devido fim. A personagem que originalmente trás destruição e desespero vem agora como defensor do meio ambiente.
1
Ratib é natural de Presidente Prudente, interior de São Paulo, mas há muitos anos vive na Cidade de São Roque-SP, onde leciona. Além de professor, é advogado, escritor e poeta.
Capítulo 4. O LÚDICO COMO FERRAMENTA PARA EA
Figura 5 – Morro do Saboó.
35
Parte III DESENVOLVIMENTO
37
5 Enlaçando o desejo de aprender A riqueza que as lendas folclóricas, histórias em quadrinhos e brincadeiras possuem as tornam de grande potencial para a prática de EA, visto que as possibilidades para aplicação são inúmeras. É possível ensinar de forma lúdica, sendo esta mais atrativa para crianças. Tendo em vista isto, parti para a busca de formas de transmitir às crianças um pouco da Educação Ambiental, mas que pudesse ultrapassar os muros escolares, fazendo parte do seu cotidiano, do seu bairro, etc.; algo que permeasse a imaginação e as conduzisse a outros mundos. A ideia inicial era a produção de uma história, para que a educação não-formal como prática de EA pudesse ser aplicada. Mas qual o tema para esta história? Como atingir este público? Engana-se quem acredita que EA para crianças é de fácil aplicabilidade. Trata-se de um público exigente e sincero, e obter sua atenção muitas vezes é um processo complexo. Mas para que, de fato, se aprenda é necessário obtê-la, conquistar essa atenção. Prender o aluno em um laço que ao mesmo tempo é frouxo: enlaça pelo desejo de aprender, e não pela punição/exigência. Como um abraço, aconchegante e estimulante que conduz à jornada do conhecimento. E que falta uma mão estendida pode fazer na vida de uma criança/jovem! Quantos são perdidos por não terem tido este aconchego que só a Educação pode fornecer! Nesta viagem na busca de um mote, um laço tão suave e, ao mesmo tempo, estimulante, em meio aos caminhos das pesquisas e da imaginação, deparei-me com um morro...
5.1 No meio do caminho tinha um morro... Um morro com nome de Saboó, de origem tupi, povo que mais uma vez mostra sua sabedoria ao definir tão bem, com uma palavra, uma característica do local, que é a pouca vegetação. Um morro pelado, ótimo. Mas e o mote para a história? Ele estava lá o tempo todo. Os caminhos me levaram à lenda, e, a principio um belo morro de pouca vegetação (e que está sendo degradado devido à ação antrópica) cria escamas, chifres e alça vôo na minha imaginação. Um dragão! Pouco encontramos sobre a lenda, mas o poema de Ratib Buchala nos deu os elementos chaves que foram a base para a escrita da história: um dragão que sai de uma fenda, após um terremoto. A princípio, a lenda não parece muito atrativa para se contar a uma criança (a não ser que queira se criar um pouco de medo), muito menos com viés ambiental. Mas a imaginação é algo surpreendente, e a oportunidade de utilizar algo regional, próprio da
Capítulo 5. Enlaçando o desejo de aprender
38
terra de São Roque, foi dada. Não me pergunte como, não saberei explicar como se dá o processo criativo, ora tão generoso, mas por vezes perverso. Só sei que no meio da pesquisa tinha um morro, e que eu nunca me esquecerei que no meio do caminho encontrei esse morro.
5.2 A produção Como já dito, o poema original de Ratib Buchala, embora belo, a princípio não estimula muito para ser contado para crianças, ainda mais levando em conta a mensagem a ser transmitida: o meio ambiente precisa de auxilio, e que cabe a cada um de nós sua conservação. Mas a personagem, o dragão, teria grandes possibilidades de ser usada e enlaçar a atenção dos pequenos, se utilizada de uma outra forma, podendo transmitir a mensagem. Talvez, se acrescentada uma dose de heroísmo e bondade, poderia funcionar. Por que não um bondoso coração? Um dragão não precisa ser malvado. podemos lembrar-nos de alguns famosos, como "A Trilogia da Esperança - Eragon", ou ainda "Como treinar o seu dragão", que geralmente são bem aceitos pelo público infantil. E o que mais foi estimulante foi a proximidade, a oportunidade de ver este dragão adormecido: todos podem ter acesso a ele, pois apesar de ter dono, é um patrimônio que possibilita visitação pública. Uma grande oportunidade para o regionalismo. Um dragão herói, que se sacrifica pelos moradores. Mas que também reivindica e sai à desforra na defesa do meio ambiente, podendo, além do conhecimento, transmitir emoções. Com este fim, o de ser uma ferramenta de ensino, foi produzido uma história que está disponível no apêndice A (página 55). Neste ponto, a parte visual se faz de suma importância, pois através do visual podemos passar muitos sentimentos da personagem: quando triste, alegre ou furioso. Neste sentido,foram produzidos alguns esboços que são apresentados nas figuras 6 e 7, além dessas imagens, um fantoche, que se encontra na figura 8 .Tudo com o propósito de estimular mais ainda a criatividade das crianças Os sinceros sentimentos voltaram-se para que, de fato, algo pudesse ser transmitido para as crianças que terão acesso ao trabalho desenvolvido. Que muito além de agradar, a lenda possa ensinar algo, e que seja levado adiante. Que um dia, da mesma forma como me deparei com este morro, eles possam se lembrar do bondoso e corajoso dragão que os ensinou a cuidar do meio ambiente.
Capítulo 5. Enlaçando o desejo de aprender
Figura 6 – Dragão com uma expressão feliz
Figura 7 – O menino Zeca, quando encontra o dragão em fúria
39
40
6 Saboó vai à escola. 6.1 Primeira Escola E é chegado o grande momento. Com uma história em mente e um dragão nas mãos, fomos à Escola Municipal de Educação Infantil (EMEI) Níssia de Oliveira Bastos1 , primeira escola onde o projeto foi aplicado. Esta Unidade atende crianças até o terceiro ano, e por se tratar deste público, pequeninas esponjas nos anos iniciais de estudo, a proposta foi adequada para atendê-los, e dessa forma, lancei mão de outro artifício do lúdico: o teatro de fantoches. De forma muito simples, um pequeno cenário foi montado para dar visualização tanto ao enredo quanto a estrela principal: o dragão do Morro do Saboó. Tudo foi montado com materiais reciclados como papelão, caixa de leite e garrafa plástica. A principal avaliação foi a qualitativa: das reações (as mais diversas possíveis), e respostas e questionamentos muitas vezes surpreendentes, podemos fazer importantes observações e grandes aprendizados.
Figura 8 – Fantoche do Dragão Saboó
Todas as crianças foram reunidas em uma sala para assistirem ao teatro, desde o maternal até a terceiro ano, contabilizando 30 crianças ao todo, mais os educadores que acompanharam o projeto. A dinâmica foi iniciada com algumas perguntas simples, 1
Rua Colibris, 20 Jardim Carambei, São Roque - SP
Capítulo 6. Saboó vai à escola.
41
Figura 9 – Apresentação da Lenda
sobre o que seria o meio ambiente, de onde surgem as coisas que compramos. Depois de ouvi-las, foi iniciada a apresentação da história. As interferências por parte das crianças mostraram interesse e sagacidade em vários pontos da apresentação. Em dado momento, quando falado que "o chamado progresso começou a acontecer: várias empresas foram construídas, carros chegaram...", um dos alunos, ao notar a ausência dos carros no cenário questionou sobre a localização dos mesmos: -"Tia, onde estão os carros?". No momento, a saída foi dizer que estavam "guardados", nas garagens das casas. Foi um dos momentos de muitas risadas e bom humor. Mas talvez um de maior satisfação foi uma simples frase, mas que me deu ânimo e a certeza de que de fato estavam absorvendo a mensagem. Nos momentos finais da história, em que o dragão confiava às crianças a tarefa de cuidar do Meio Ambiente e que este não se restringia apenas às florestas e animais, mas também o local onde nós moramos, uma das crianças questionou: -"Mas então a gente também é meio ambiente?" Com prazer pude explicar que sim, que nós também fazemos parte do meio ambiente, que estamos conectados a ele e que temos o dever de cuidar. Em geral, as crianças foram muito acolhedoras. No intervalo das crianças, em que todas saem para lanchar e brincar, já despedindo-nos delas e da equipe gestora que nos acolheu (a mim e ao Saboó), vimos várias das crianças brincando de "procurar o dragão Saboó", ou dizendo a outros o que "não pode fazer com o ambiente".
Capítulo 6. Saboó vai à escola.
42
Figura 10 – Algumas das crianças após a apresentação
6.2 Segunda Escola Na segunda escola visitada pelo Saboó, o Sítio Alabama 2 , a história foi contada para duas turmas de 5o ano, que foram reunidas no teatro da Instituição, contabilizando 15 crianças mais os dois professores que acompanharam a dinâmica. A escola possui muito verde e um espaço amplo e propício para abordar questões ambientais, isto pelo contato que as crianças têm diariamente com este meio, realmente privilegiado. O ambiente para a apresentação dispunha de um palco, local escolhido para contar a história, e as crianças ficaram sentadas no chão. A abordagem iniciou-se com as questões previstas, como o que era meio ambiente, o consumo muitos vezes exagerado que nós fazemos e como isso pode afetar o meio. Após a apresentação e a introdução do que realizaríamos naquela tarde, iniciei a contação da história, que ocorreu sem interrupções e de forma tranquila. Pude notar a atenção delas pela história, e as reações conforme o enredo se desenvolvia, como, por exemplo, as risadas ao saberem que a televisão noticiava que o godzilla tinha vindo do Japão para São Roque-SP. Mas, para nossa surpresa (minha e do Saboó) o envolvimento das crianças não foi o esperado. Elas participaram, mas não de forma ativa, como se a lenda não as tivesse enlaçado, o que levou a questionamentos sobre o amadurecimento das crianças e em como ele está se dando. Após a história, retomei as questões previstas, como o que era meio ambiente na visão deles e formas de preservação dos recursos. Porém, a participação foi pouca, visto que não foram feitas perguntas por parte das crianças. Eu as direcionei e elas foram respondidas, porém de forma "tímida". Um dos professores que nos acompanhava subiu ao palco e também fez alguns questionamentos, que foram respondidos. Foi muito destacado o local onde eles estudam e o privilégio de usufruírem deste, com um belo contato com o natural. Também sobre o cuidado com o desperdício de água, relatado pelo professor, bem 2
Rodovia Raposo Tavares, km 52,7 São Roque, SP
Capítulo 6. Saboó vai à escola.
43
como o jogar papéis no chão, por exemplo. De forma geral, compreenderam que o meio ambiente vai além dos recursos naturais, flora e fauna, mas que nos envolve e engloba tudo. Uma frase interessante veio do professor, que reforçou o pedido do dragão: -"Assim como o dragão deu uma segunda chance para aquelas crianças, vocês estão tendo uma segunda chance. Vocês são estas crianças com quem o dragão conta!".
6.3 Os professores O professor, figura ímpar quando se fala em Educação, também foi alvo de avaliação. Através de um questionário, trinta educadores responderam questões sobre a temática. Desta forma recolheu-se a visão destes mestres que, apesar de muitas vezes enfrentarem aulas, alunos e controle administrativo demais, ainda assim têm curiosidades a respeito de alternativas, buscando saber como usá-las em classe e se o método de diálogo pode ser importante em sala de aula (FREIRE, 2014). Através deste questionário, procurei ouvir estes professores que, mesmo podendo estar sobrecarregados e com toda um cronograma a ser cumprido, abrem as portas de suas salas e dão acesso a dinâmicas como essa desenvolvida. O questionário, composto por 10 questões, entregue tanto pessoalmente nas visitas às escolas como digitalmente por e-mail, trouxe os seguintes resultados, presentes nas considerações finais.
Parte IV RESULTADOS E DISCUSSÃO
45
7 Observações e Coletas de dados. 7.1 Observações com os professores A primeira questão abordou sobre o Cargo ou função ocupado pelo mesmo na Instituição, PEB I ou PEB II 1 , coordenador, diretor e outros. Todos são PEB II, sendo que quatro fizeram também o magistério.
Figura 11 – Gráfico gerado a partir da questão sobre Cargo/função
A segunda pergunta do questionário aborda com qual faixa etária o professor atua, e a maioria leciona para os anos iniciais até o 5o ano (figura 12). Sobre a terceira questão, se a temática ambiental foi abordada em algum momento da formação do professor, a grande maioria respondeu que não ou de forma parcial (figura 13), o que nos leva a questionar na quarta pergunta de onde os professores estão retirando conhecimentos sobre Educação Ambiental para prática em sala. Alguns professores marcaram mais de uma alternativa, como Internet e livros, mas a esmagadora maioria acessa sites e blogs para obtenção de conhecimento, dinâmicas e desenhos que possam aplicar sobre a temática. A opção outros 1
PEB(Professor de Educação Básica)I refere-se aos que tenham cursado o Magistério, que exigia a escolarização de ensino médio na grade obrigatória mais a parte diversificada que atendia as exigências para o cargo de professor, como por exemplo,didática. Estes professores estavam habilitados para ministrar aulas na Educação Infantil e Ensino Básico de primeira à quarta série. Com a aprovação da LDB 2 - Lei no 9.394 - de 20/12/1996, ficou estipulado que após dez anos da publicação desta Lei, nenhum professor poderia ministrar aulas sem ter cursado uma universidade. Este período prescreveu. Portanto, deixou de existir o professor PEB I e todos agora são PEB II, que são todos os profissionais formados por uma universidade.
Capítulo 7. Observações e Coletas de dados.
46
corresponde a projetos ensinados pelos próprios professores, numa troca de informações entre eles, e até mesmo portfólios com projetos de anos anteriores (figura 14).
Figura 12 – Gráfico gerado a partir da questão "Trabalha com crianças/jovens de qual faixa etária?".
Figura 13 – Em sua formação Acadêmica, a temática Educação Ambiental foi abordada em algum momento?.
A quinta questão aborda sobre qual a regularidade que as questões ambientais são tratadas nas Unidades. Através das respostas podemos notar que na maioria dos casos apenas em datas específicas, com o o dia da árvore ou do meio ambiente (figura 15). A sexta questão faz referência ao tipo de projetos desenvolvidos sobre Educação Ambiental na(s) Unidade(s) em que os professores trabalham. Como respostas, a grande maioria desenvolve hortas, seguida pelas oficinas de reciclagem. No item outros correspondem a
Capítulo 7. Observações e Coletas de dados.
47
painéis sobre o meio ambiente, com produção de desenhos e cartazes informativos (figura 16).
Figura 14 – Como você adquiriu conhecimento para realizar atividades relacionadas com Meio Ambiente? (Assinale mais de uma se necessário).
Figura 15 – Em sua opinião e com base em suas experiências, as questões ambientais são tratadas com regularidade nas escolas? Ou limita-se apenas a datas específicas, como o dia do meio ambiente?
Na sétima questão (figura 17), sobre a existência de um material didático adequado para ser trabalhado em cada faixa etária sobre Educação Ambiental, através das respostas notamos que até existe um material, porém nem sempre entregue, e quando chega nas mãos dos Educadores está distante da realidade vivida, pois trata o tema de forma generalizada, para todo o país. Um trabalho regional, ressaltando as riquezas folclóricas da terra foi algo novo para a maioria.
Capítulo 7. Observações e Coletas de dados.
48
Figura 16 – Já pode desenvolver algum projeto de Educação Ambiental na(s) Unidade(s) em que trabalha? Quais?
Na oitava questão, sobre a possibilidade de aplicabilidade das dinâmicas em sala de aula no dia a dia (figura 18), a maioria relatou que sim, é viável, mesmo que parcialmente. A contação de história até já faz parte das atividades propostas, e trazer a temática Ambiental para este momento é possível. Mesmo para aqueles que não acompanharam a dinâmica, afinal nem todos os Educadores que responderam aos questionários a observaram, com uma simples descrição do projeto puderam concordar com a possibilidade de prática. A nona questão aborda o conhecimento sobre o Morro do Saboó e existência de uma lenda sobre o mesmo (figura 18). A maioria até sabia da existência do Morro, porém a lenda era desconhecida, algo similar ao que aconteceu com as crianças, pois a lenda entre elas também não é difundida; o que nos leva a salientar a importância da divulgação do folclore popular bem como a valorização do regional. Na décima questão, se o lúdico pode ser ferramenta de Ensino (figura 20), todos concordaram com esta possibilidade, mesmo que de forma parcial, pode-se usar no dia a dia o lúdico como ferramenta de ensino.
7.2 Observações com as crianças Analisando as reações na primeira escola, pude notar quão estimulante e proveitosa uma história pode ser. Com tão pouco pode se produzir tanto com os pequenos! Claro que temos que levar em conta questões como comportamento, já que tendem a ser muito agitados e isto pode dificultar uma boa compreensão. Mas também são extremamente produtivos, ainda mais se o assunto instiga, como a história de um dragão.
Capítulo 7. Observações e Coletas de dados.
49
Figura 17 – Existe um material didático adequado para ser trabalhado em cada faixa etária sobre Educação Ambiental?.
Figura 18 – Sobre o projeto, as dinâmicas desenvolvidas com os alunos são aplicáveis em sala de aula no dia a dia?
Os questionamentos realizados pelas crianças bem como as respostas das perguntas dirigidas à elas, mesmo que não estivessem corretas, foram de grande proveito. Em geral, a maioria tinha uma ideia distante de meio ambiente, como sendo as árvores, os animais, mas não o que nos cerca. Também não faziam ainda a ligação de que a natureza nos fornece as matérias primas para tudo. A ideia do mercado, shopping, e da "mamãe, ou papai compram"ainda é muito forte. Ao final do diálogo foi percebido que o meio ambiente já ficou mais próximo deles, principalmente no que diz respeito ao que não se pode fazer, como exemplo não desperdiçar os alimentos, a água, nem "machucar"as plantinhas.
Capítulo 7. Observações e Coletas de dados.
50
Figura 19 – Conhecia o Morro do Saboó e a lenda do dragão?.
Figura 20 – Pode observar nos alunos atendidos pelo projeto uma reação positiva? O lúdico pode ser ferramenta de Ensino?
Talvez, por uma questão curricular e de tempo disponível estas propostas lúdicas com temática Ambiental não possam ser mais trabalhadas nas Unidades, mas seriam de grande aprendizado caso fossem mais disponibilizadas aos pequenos. Já na segunda Unidade visitada,terminada a apresentação com as crianças do 5 ano comecei a pensar o que tinha dado errado. Todas responderam que gostaram da lenda, mas faltou aquele "algo a mais". Talvez a vivência anterior com as crianças até o terceiro ano tivesse me tomado de entusiasmo, e envolvida desta forma me deparei com outra realidade: apesar da diferença de idade não ser tão grande assim, eles estão como que em "outra fase do jogo", onde apenas a história contada não surtiu o mesmo efeito. o
Capítulo 7. Observações e Coletas de dados.
51
Na verdade, houve um sentimento de "falta"dos questionamentos e do brilho nos olhos daqueles que realmente são enlaçados, como ocorreu na primeira escola. Claro que, com o amadurecimento, a postura das crianças muda e as lendas podem não ser mais tão atrativas. A infância de certa forma está sendo reinventada, pois, como artefato social ela sofre as mencionadas mudanças que estão ocorrendo no mundo, cada vez mais tecnológicos. Ocorre também a aproximação precoce da criança com o universo adulto, muitas vezes em função do incentivo ao consumismo acelerado (FLESCH, 2016). Estas observações levaram a pensar em novos métodos para atingir este público cada vez mais maduro e tecnológico. Talvez um jogo tipo eletrônico (game), envolvendo a lenda ou mesmo a produção de uma história em quadrinhos pudessem atingi-los, assim como o uso do teatro com fantoche surtiu maior efeito na primeira escola. Da mesma forma que realizei uma adaptação para aquele grupo com idade inferior, para este segundo grupo uma adaptação poderá surtir maior aceitação. É Seu Saboó, o jeito é modernizar!. Mas é importante destacar que o incentivo à literatura e o reconhecimento da importância da cultura popular através de lendas deve ocorrer, mesmo que com adaptações para um mundo tecnológico, mas tendo o incentivo da leitura e da contação de história, algo tão antigo e rico que não pode se perder.
52
8 Considerações finais Através das experiências vividas com os professores e as crianças, podemos observar a atuação do lúdico como ferramente de ensino. De fato, mostrou-se muito proveitosa, e as reações e respostas ao que foi apresentado é que dão esse retorno positivo. A interação por parte das crianças do terceiro ano foi realmente instigante e que se estendeu às outras crianças menores que também acompanharam a apresentação do teatro. Com relação ao quinto ano, mesmo a receptividade sendo menor, ainda há possibilidades do lúdico ser ferramenta importante de ensino, mesmo que com algumas adaptações, como já explanado, visto que houve aceitação por parte das crianças, mas que poderia ser mais interativa caso o enlace fosse maior. As pequenas esponjas mostraram não só absorver o que lhes foi transmitido mas, através das perguntas aparentemente simples que fizeram, mostraram de fato estar aprendendo um pouco mais sobre o meio ambiente, consumo, degradação e ações sustentáveis; claro que da forma deles, de um jeito simples, característico desta faixa etária que está descobrindo o mundo. As questões ambientais foram tratadas de forma simples e leve, visto não ser o objetivo ensinar apenas os conceitos, mas que eles pudessem identificar, no seu dia a dia, as formas como encontramos o meio ambiente, não só no verde das matas, mas em todo o nosso consumo, ou no que "a mamãe/papai compram", na linguagem deles. Mesmo com uma menor interatividade do quinto ano (sem perguntas por parte dos alunos), as respostas apresentadas por eles para as perguntas feitas foram respondidas mostrando compreensão sobre a atividade apresentada. Com os professores entrevistados, notamos um real interesse em tratar dos temas ambientais, como fica evidente nas questão de número três e quatro onde, mesmo a maioria afirmando não ter tido a temática ambiental abordada em algum momento da formação, ou de forma parcial, eles buscam esse conhecimento seja em sites, livros, palestras entre outros. Na sexta questão, sobre os projetos ambientais desenvolvidos por eles, a grande maioria já desenvolveu algo como hortas, oficinas de reciclagem, painéis e cartazes.Todos mostraram interesse em conhecer o projeto e viram possibilidades de aplicá-lo em sala de aula, mesmo que de forma parcial, concordando com a hipótese de que o lúdico é forte ferramenta de ensino. Houve uma resposta muito positiva sobre a utilização de uma lenda regional, tratando do meio ambiente através da literatura. Atualmente é muito discutido que o professor deve ser alguém que domina as novas tecnologias e que está apto a tocar em assuntos como meio ambiente (entre outros como saúde, política, economia etc.), e a ajudar os estudantes a formarem um olhar crítico sobre o mundo. Mas para isso é importante que se dê mais foco na formação do professor
Capítulo 8. Considerações finais
53
nas questões ambientais para que estes possam ter uma maior gama de possibilidades para ensinar aos pequeninos sobre o meio ambiente. Também que as questões ambientais tenham maior relevância no dia a dia escolar, onde o professor tenha espaço para tratar destes temas tão importantes quanto equações e concordâncias, pois dizem respeito ao rumo que as novas gerações darão sobre a utilização dos recursos e sua preservação. Diz respeito à vida. Ademais, é possível trabalho interdisciplinar, como mostrado pelo presente trabalho que ressalta o lúdico através de uma lenda, por meio da literatura. Nas asas dessa lenda, conhecemos muitas pessoas que ajudaram a trilhar este caminho, como as equipes gestoras e professores que nos acolheram (a mim e ao Saboó), bem como as pequenas esponjas em fases bem diferentes, apesar da pouca idade que as separam. A base foi lançada e o dragão despertado. As lendas pedem passagem e um pouco mais de visibilidade. Podem ser tão proveitosas! E adaptadas das mais diferentes formas, para gostos e idades. A expectativa é que projetos com esta temática possam ser levantados e adaptados, e que o nosso riquíssimo folclore não seja perdido. Que a Educação Ambiental possa ser tratada das mais diferentes formas, porém nunca esquecida, e que o Senhor Saboó possa alçar novos voos, seja numa roda de leitura, nas páginas de um gibi, nas rimas de um cordel ou na tela de um computador.
54
Referências ACIOLI, A. de S. Literatura popular como ferramenta para a educação ambiental. Revista Brasileira de Educação Ambiental (RevBEA), v. 5, n. 1, p. 76–83, 2010. Citado 2 vezes nas páginas 28 e 32. ADAMS, B. G. A importância da lei 9.795/99 e das diretrizes curriculares nacionais da educação ambiental para docentes. Revista Monografias Ambientais, v. 10, n. 10, p. 2148–2157, 2013. Citado na página 14. ALMEIDA, P. N. de. Educação lúdica. [S.l.]: Edições Loyola, 1998. 19,22 p. Citado na página 29. BARBOSA, G. S. O desafio do desenvolvimento sustentável. Revista Visões, v. 4, n. 1, p. 1–11, 2008. Citado na página 19. BARJA, P. R. O cordel como mídia alternativa em programas de saúde e educação ambiental. Revista Extraprensa, v. 3, n. 3, p. 680–689, 2010. Citado na página 32. BAUMAN, Z. A sociedade líquida. Folha de S. Paulo, p. 4–9, 2003. Citado na página 25. BENJAMIN, R. Folkcomunicação: os veículos de manifestação da cultura popular. MELO, j. marques de.(coord.) Comunicação/incomunicação no Brasil. São Paulo: Loyola, 1976. Citado na página 31. BRANDÃO, L. d. E. D. et al. A utilização da lenda folclórica do caboclo d’água como estratégia para a educação ambiental. 2015. Citado 2 vezes nas páginas 33 e 34. BRASIL. Lei de diretrizes e bases da educação nacional. [S.l.]: Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras, 1997. Citado na página 14. CAPRA, F.; EICHEMBERG, N. R. A teia da vida: uma nova compreensão científica dos sistemas vivos. [S.l.]: Cultrix São Paulo, 2006. v. 6. Citado na página 25. CORDEIRO, L. R. Limites e possibilidades das histórias em quadrinhos como mediadora da educação ambiental. Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), 2006. Citado na página 30. DIAS, G. F. Atividades Interdiciplinares de Educação Ambiental. [S.l.]: Global Editora e Distribuidora Ltda, 2013. Citado na página 33. DIAS, G. F. Dinâmicas e instrumentação para Educação Ambiental. [S.l.]: Global Editora e Distribuidora Ltda, 2013. Citado 2 vezes nas páginas 24 e 33. FAILLA, Z. Leituras dos “retratos” o comportamento leitor do brasileiro. da leitura no brasil 3, p. 19, 2012. Citado na página 30. FINCO, M. V. A.; WAQUIL, P. D.; MATTOS, E. d. Evidências da relação entre pobreza e degradação ambiental no espaço rural do rio grande do sul. Revista Ensaios FEE, Porto Alegre, v. 25, n. 1, p. 249–276, 2004. Citado na página 24.
Referências
55
FLESCH, D. Luxury kids: educação, mídia e consumo nas páginas da vogue brasil kids1. 2016. Citado na página 51. FRANCO, T.; DRUCK, G. Padrões de industrialização, riscos e meio ambiente. Associação Brasileira de Pós-Graduação em Saúde Coletiva, 1998. Citado na página 11. FREIRE, P. Educação como prática da liberdade. Paz e Terra, 1966. Citado na página 15. FREIRE, P. Medo e ousadia: o cotidiano do professor. [S.l.]: Editora Paz e Terra, 2014. Citado na página 43. GIESTA, N. C. Histórias em quadrinhos: Recursos da educação ambiental. Educação Ambiental: Abordagens Múltiplas. Porto Alegre: ARTMED, p. 157–168, 2002. Citado na página 28. GROSSI, P. K.; SANTOS, A. M. dos. 14. infância comprada: hábitos de consumo na sociedade contemporânea. Textos & Contextos (Porto Alegre), v. 6, n. 2, p. 443–454, 2007. Citado na página 26. HANSEN, J. et al. O brincar e suas implicações para o desenvolvimento infantil a partir da psicologia evolucionista. Revista brasileira de crescimento e desenvolvimento humano, Centro de Estudos de Crescimento e Desenvolvimento do Ser Humano, v. 17, n. 2, p. 133–143, 2007. Citado na página 29. JAKUBOSKI, A. P.; SANTOS, I. J. P. dos; RAUBER, E. A. Política nacional de educação ambiental. 2013. Citado na página 20. JARA, C. J. A sustentabilidade do desenvolvimento local: desafios de um processo em construção. [S.l.]: IICA, 1998. Citado na página 25. JUNQUEIRA, L. A. P.; MAIOR, J. S.; PINHEIRO, F. P. Sustentabilidade: A produção científica brasileira entre os anos de 2000 e 2009. Environmental & Social Management Journal/Revista de Gestão Social e Ambiental, v. 5, n. 3, 2011. Citado na página 18. KAUFMAN, A. M.; RODRIGUEZ, M. E. Escola, leitura e produção de textos. Porto Alegre: Artmed, p. 13, 1995. Citado na página 29. LISBÔA, L. L.; JUNQUEIRA, H.; PINO, J. C. D. Histórias em quadrinhos como material didático alternativo para o trabalho de educação ambiental. Gaia Scientia, v. 2, n. 1, 2008. Citado 3 vezes nas páginas 18, 19 e 29. LOUREIRO, C. F. B. Educar, participar e transformar em educação ambiental. Revista Brasileira de Educação Ambiental, 0, p. 13–20, 2004. Citado na página 20. MAGALHAES, J. Criança e Consumo- Entrevistas - Sustentabilidade. [S.l.]: Instituto Alana, 2009. 6–19 p. Citado na página 23. MENDONCA, R. Como cuidar do seu meio ambiente. [S.l.]: BEI, 2004. Citado na página 27. REIGOTA, M. O que é educação ambiental. [S.l.]: Brasiliense, 2001. v. 292. Citado 5 vezes nas páginas 18, 19, 21, 22 e 23.
Referências
56
RIOS, A. V. V.; ARAÚJO, U. Política nacional do meio ambiente. O direito e o desenvolvimento sustentável, Editora Peirópolis, p. 149, 2005. Citado na página 24. ROQUE, S. Política Municipal de Educação Ambiental, no 3.434, de 08 de março de 2010. [S.l.]: Prefeitura da Estância Turística de São Roque, 2010. Citado na página 21. ROQUE, S. Cartilha de Educação Ambiental foi entregue pela Prefeitura para alunos das escolas municipais. [S.l.]: Prefeitura da Estância Turística de São Roque, 2015. Citado na página 21. SATO, M. Educação para o ambiente amazônico. 1997. 239 p. Tese (Doutorado) — Tese (Doutorado). Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Recursos Naturais. Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, São Paulo, 1997. Citado na página 22. STRASBURGER, V. C. Os adolescentes e a mídia: impacto psicológico. Porto Alegre: Artmed, 1999. Citado na página 26. VASAKI, B. N. G. Educando para a conservação da natureza sugestões de atividades em educação ambiental. [S.l.]: Univ Pontifica Comillas, 1998. Citado na página 12. VESTENA, C. L. B. Piaget e a questão ambiental: sujeito epistêmico, diagnóstico e considerações educacionais. Coleção PROPG Digital (UNESP), Cultura Acadêmica, 2011. Citado na página 20.
57
APÊNDICE A – A lenda do dragão Saboó
Era uma vez, há muito tempo, quando os homens habitavam a terra junto com criaturas fantásticas, uma pequena vila que existia próxima a um vulcão desativado. Os moradores tinham uma vida simples, porém muito feliz: cultivavam a terra, criavam animais e eram bem próximos da natureza. Havia muito verde e as crianças brincavam com liberdade pelos bosques. Porém, em um dia, os moradores acordaram, assustados, com o barulho e o estremecer do chão. - É o vulcão, é o vulcão! - Gritava a multidão. O desespero era geral, pois o vulcão que havia próximo à vila começou a entrar em erupção, soltando fumaça e ameaçando a vida naquele local. Muitos moradores decidiram sair dali, e logo um grupo se formou. -Vamos embora, antes que o vulcão jogue toda a sua lava para fora! - um deles gritou. Quando a solução parecia definitiva e um grande grupo seguia rumo à outra vila, o que já era ruim piorou. Todos, apavorados, sentiram os abalos no chão, mas dessa vez não era o vulcão. Pareciam passos, que se aproximavam, vindo naquela direção! -Meu Deus, o que é isso? - Diziam -É um gigante? É um ogro? Não, era um dragão! Todos começaram a correr, de um lado para o outro, sem direção. A confusão foi geral, e parecia entreter o dragão: -Ora, ora, mas o que temos aqui?- disse ele- eu nem comecei a soltar fogo e rugir bem alto e já estão todos apavorados? Devo ser realmente assustador! - Envaideceu-se o dragão. Mas, quando olhou melhor a situação, viu do que se tratava: os moradores já tinham um grande problema, o vulcão que os ameaçava. O aparecimento de um dragão só piorava a situação. Parecia o fim do mundo! O dragão, que tinha um bom coração, olhou todo aquele desespero, e viu muitas crianças chorando. Sentiu pena. Aquilo realmente o comoveu. Então ele disse: -Se acalmem! eu trarei a solução! eu mesmo enfrentarei o vulcão! Em um ato de bravura, o dragão se sacrificou, deitando em cima do vulcão, e ali no sono eterno descansou. Antes, porém, um pedido fez aos moradores: não se esqueçam de mim, cuidem
APÊNDICE A.
A lenda do dragão Saboó
58
da minha nova morada e do meio ambiente! Os moradores, emocionados, mil agradecimentos fizeram. Puderam voltar para suas casas e durante muito tempo contaram a história do bondoso e corajoso dragão. Tempos se passaram. No lugar onde o dragão deitou, uma floresta ao redor se criou. A vila cada vez crescia mais, e o chamado progresso começou a acontecer: várias empresas foram construídas, carros chegaram, rodovias, mais casas, mais pessoas...Até que a vila tornou-se a cidade de São Roque. A morada do dragão passou a se chamar Morro do Saboó. Infelizmente, a relação tão próxima com a natureza deixou de existir. Muitas árvores foram cortadas e a poluição e o desperdício só aumentavam em todo o mundo. Esqueceram-se do dragão, começando a destruir até a sua morada! Um dia, os moradores da cidade acordaram com o estremecer do chão. O pânico tomou conta de todos, e ninguém encontrava o motivo para os abalos, que eram sentidos em vários períodos do dia. Os jornais e a televisão noticiavam o que acontecia, e muitos cientistas foram chamados para encontrar o problema e uma possível solução. Tudo aquilo era muito estranho. A primeira explicação foi terremoto, mas os aparelhos usados não indicavam isso. Porém, apontavam para o morro do Saboó. Era de lá que os tremores vinham! Com a notícia, vários desses estudiosos correram para lá, para ver o que estava acontecendo com o morro. E também alguns curiosos, como Zeca, Ana, Pedro e Clarinha, crianças que moravam próximas ao Morro. Juntaram várias coisas em suas mochilas, como se fossem acampar. Chegando lá, começaram a subir o morro. -Olha lá, se abaixem - disse Ana - Tem vários adultos aqui! - Claro, são os cientistas que estão estudando o morro!- Falou Pedro - Eles não podem nos ver, se não vão nos mandar embora! - disse Clarinha. Zeca continuava calado. No fundo, ele sabia o que estava acontecendo, mas tinha vergonha de que rissem dele.Timidamente começou a falar: Olha pessoal, minha vó sempre me contava a história de um dragão que dormia aqui. . . Corta essa Zeca, essa história eu também já ouvi - disse Ana. Essa é boa, dragão! Todos riram. Mas, de repente, outro tremor, o mais forte até então, foi sentido, e as risadas foram substituídas pelos gritos de todos ali presentes. Não era possível o que viam! mas a história era real. O dragão, adormecido, finalmente se levantava! E dessa vez, o dragão tão bondoso estava furioso! - Mas que desrespeito, cansei disso ! - falou o dragão. Quando ficou em pé, depois de tantos anos adormecido, viu como tudo tinha mudado: a vila agora era uma imensa cidade, rodeada por muitas outras. Mas o que
APÊNDICE A.
A lenda do dragão Saboó
59
realmente o entristeceu foi o descaso com a natureza - muita poluição, desperdício, lixo e as florestas perdendo cada vez mais espaço. Como o mundo tinha mudado! Os humanos se esqueceram de como era bom a harmonia com o meio ambiente. Agora, só sabiam destruir. Entristecido, mas resolvido a dar um fim nisso, bradou: - Vou acabar com isso já! Agora verão com quantas pedras se faz um Saboó! O medo era geral. Confusão no trânsito, muita correria e gritaria. A televisão noticiava que o godzilla tinha vindo do Japão para São Roque. Outros, que o apocalipse tinha começado. Até o exército foi chamado! Mas os mais velhos e aqueles que conheciam a história, sabiam que o dragão adormecido tinha acordado para cobrar a parte do acordo que não tinha sido respeitada: que não se esquecem-se dele, que cuidassem da sua casa e do meio ambiente. Zeca, que estava escondido com os outros, tremendo de medo, sabia que alguma coisa tinha que ser feita. Na história o dragão tinha um bom coração. Será que, se falasse com ele, poderia resolver a situação? Mas como? Ele era imenso! E o que fazer com o medo? Tomado de coragem, ele saiu do esconderijo e foi atrás do dragão, que caminhava rumo a cidade. - Se...se..senhor dragão - gaguejou - Senhor dragão! - Quem me chama? - Virou-se o dragão, procurando de onde vinha aquela vozinha tremida. Sua cauda quase acertou Zeca, que teve que se abaixar para não ser atingido! - Me desculpe, não tinha visto você aí- disse o dragão Senhor dragão, por favor, não destrua minha cidade - disse o menino com os olhos cheios de lágrimas - o que podemos fazer para que não nos destrua? por que está tão bravo? Na história o senhor era tão bonzinho! -Ora, olha só como o mundo está, menino! É tanta poluição que não dá nem pra respirar direito! e a quantidade de lixo! existe tão pouco verde agora! Fizeram fogueira na minha casa, até isso! Não aguentei, tinha que fazer alguma coisa! Mas espera aí, você conhece minha história? -Sim, minha vó me contava. Ela tinha ouvido da mãe dela, que tinha ouvido do pai dela. . . -Eu também - disse Ana, que corria junto com os outros dois atrás do Zeca.Ficaram impressionados com o tamanho do dragão, e também com a coragem de Zeca. Todos tremiam diante da criatura. O dragão se lembrou das crianças que, séculos atrás, choravam na vila. Mais calmo,
APÊNDICE A.
A lenda do dragão Saboó
60
pensou que, talvez, alguma coisa poderia ser feita. Aquelas crianças tinham enchido seu coração de esperança. -Muito bem, então vocês estão dispostos a ajudar? - disse o dragão. As crianças prontamente disseram sim. - Pois bem, vocês irão me prometer que a partir de hoje, vão cuidar do meio ambiente! Nada de jogar lixo no chão, desperdiçar água e os alimentos. Evitarão a destruição da natureza, reciclando e diminuindo o consumo, combatendo também os maus-tratos aos animais. E o mais importante: espalhar essa mensagem para todos: na escola, para seus amigos e todos os adultos também, que têm muito a aprender com vocês. - Tudo bem, seu dragão - disse Clarinha - Fechou seu Saboó - Falou Pedro - Partiu educação ambiental! - disse Zeca As crianças viram que o dragão não era mau. Se despediram e viram-no voltar para sua morada, dormindo tranquilo com a promessa das crianças, que também voltaram pra casa. Aproximando-se da cidade, viram tantas pessoas como nunca antes - os pais, vizinhos, e até a polícia, todos desesperados, uns arrumando as malas, outros traçando planos para enfrentar a fera. Quando viram as crianças, uma chuva de perguntas caiu sobre elas: Onde vocês estavam? Ficaram loucos? Viram o dragão? Calma, calma, minha gente, já temos a solução! - falaram as crianças - o dragão já foi embora, acabou-se a confusão! Todos respiraram aliviados. Mas esperem, ainda não terminou! - disse Ana O dragão adormeceu,mas não o nosso compromisso! - disse Zeca - Há muito o que fazer! Contaram a história para todos e a mobilização foi geral. Juntos, cada um fazendo sua parte, construíram um ambiente muito mais legal. Sustentabilidade passou a ser a palavra central, junto com o respeito ao meio ambiente e ao mundo animal. De boca em boca, a história se espalhou. E agora, escrita, com você foi compartilhada! E aí, vamos juntos nessa? O dragão também conta com você!