SONIA MARIA RAIMUNDO DA SILVA

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INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DE SÃO PAULO - CAMPUS SÃO ROQUE.

SONIA MARIA RAIMUNDO DA SILVA

Reciclagem de Lixo Eletrônico (Placas de Circuito Impresso)

São Roque 2018


INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DE SÃO PAULO - CAMPUS SÃO ROQUE.

Sonia Maria Raimundo da Silva

Reciclagem de Lixo Eletrônico (Placas de Circuito Impresso)

Trabalho elaborado como requisito exigido pelo Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia de São Paulo Campus- São Roque para conclusão e obtenção do título de Tecnólogo em Gestão Ambiental, sob orientação do Prof. Fabio Patrik Pereira de Freitas.

São Roque 2018


S586 SILVA, Sonia Maria Raimundo da. Reciclagem de lixo eletrônico (placas de circuito impresso). / Sonia Maria Raimundo da Silva. – 2018. 23 p. Orientador: Prof. Me. Fabio Patrik Pereira de Freitas. TCC (Graduação) apresentada ao curso Tecnólogo em Gestão Ambiental – Campus São Roque, 2018. 1. Reciclagem 2. Lixo eletrônico 3. Placas de circuito impresso. I. SILVA, Sonia Maria Raimundo da. II. Tìtulo CDD: 363.7282


AGRADECIMENTOS

Inicio agradecendo a Deus por tudo o que aconteceu, pois sem ele nada disto teria dado certo. Aos Docentes do IFSP São Roque o meu muito obrigado pelo ensinamento no qual vou levar para a vida toda, pois foi um aprendizado maravilhoso no qual me enriqueceu muito. Desejo agradecer também ao meu orientador Prof. Fabio Patrik Pereira de Freita que com muita paciência e carinho me ajudou a terminar este trabalho. Pois sem esta ajuda eu não teria conseguido o meu muito obrigado. Agradeço também a minha família que me deu muita força para não desistir e poder realizar este projeto no qual sempre sonhei que é ter uma formação superior este incentivo foi muito importante e nas horas mais difíceis pude contar com as orações de vocês. E a todos que de algum modo me ajudou nesta jornada o meu muito obrigado.


RESUMO

O presente trabalho teve como objetivos investigar, por meio de revisão bibliográfica, o que são e do que são compostas as placas de circuito impresso (PCI), em que tipo de equipamento eletrônico as mesmas são utilizadas, e se esses materiais são reaproveitados ou reciclados quando apresentam defeito ou se tornam obsoletos. Verificou-se também se existe e como é feita a reciclagem de placas eletrônicas do tipo PCI no Brasil, o que está previsto na legislação correlata, e o procedimento que se utiliza para a disposição final desses produtos eletrônicos, que na maioria das vezes são descartadas em lixo comum ou são mandados para depósitos de reciclagem, onde ficam em contato direto com o solo, apresentando risco potencial de contaminação do solo e águas superficiais e subterrâneas. Concluiu-se que não há no Brasil não há legislação específica nem empresa que realiza a reciclagem desses resíduos. Há apenas empresas que separam as placas dos demais componentes dos aparelhos eletrônicos, e vendem essas placas a empresas que exportam esses resíduos a países que realizam a reciclagem via recuperação de alguns componentes de alto valor comercial que constituem essas placas, mais especificamente elementos químicos de grande valor comercial.

Palavras-chave: Reciclagem; lixo eletrônico; placas de circuito impresso.


ABSTRACT

The objective of the present work was to investigate, through a bibliographic review, what are printed circuit boards (PCI) cards, in which type of electronic equipment they are used, and if these materials are reused or recycled when they are defective or obsolete. It was also verified if there is and how the recycling of electronic boards of the PCI type Brazil is done, what is foreseen in the related legislation, and the procedure that is used for the final disposal of these electronic products, that most of the times are discarded in common trash or are sent to recycling depots, where they are in direct contact with the soil, presenting potential contamination risk of the soil and surface and groundwater. It was concluded that there is no specific legislation in Brazil nor does the company carry out the recycling of such waste. There are only companies that separate the plates from the other components of the electronics, and sell those plates to companies that export these wastes to countries that carry out the recycling by recovering some of the high commercial value components that make up these plates, more specifically large chemical elements with commercial value.

Keywords: Recycling; electronic waste, printed circuit boards.


LISTA DE ILUSTRAÇÕES

FIGURA 1 - Placa de circuito impresso (PCI) com diversos componentes e pontos prateados que representam soldas a base de chumbo........................... 14 FIGURA 2 - Placa de Circuito Impresso, destacando as pistas ou trilhas das placas..................................................................................................................

15

FIGURA 3 - Resíduos eletrônicos descartados sob a placa de trânsito nas ruas do município de Itapevi................................................................................ 18 FIGURA 4 - Placa PCI descartada nas ruas do município de Itapevi.................

18

FIGURA 5 - Televisor de tubo descartado nas ruas do município de Itapevi...... 18 FIGURA 6 - Placa de identificação do Centro de Descarte e Reuso de Resíduos de Informática da Universidade de São Paulo (CEDIR/USP)............. 20 FIGURA

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-

Equipamentos

eletrônicos

aguardando

realização

de

desmontagem no CEDIR/USP............................................................................

20

FIGURA 8 - Caixas de separação de componentes de microcomputadores no CEDIR/USP.........................................................................................................

20


SUMÁRIO

1. Introdução................................................................................................................9 2. Desenvolvimento……………………….....................................................................9 2.1 Resíduos eletrônicos.............................................................................................9 2.2 Placas de circuito impresso (PCI) .......................................................................14 2.3 Legislações sobre resíduos eletrônicos...............................................................15 3. Materiais e Métodos...............................................................................................16 4. Resultados e Discussão.........................................................................................17 5. Referências bibliográficas......................................................................................21


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1 Introdução

Define-se como lixo eletrônico todo aquele material produzido pelo descarte de eletrônicos, sejam computadores, celulares, televisores, entre outros. Segundo a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS, 2010), o termo é aplicado aos equipamentos eletrônicos de consumo que estão pertos ou no final de sua vida útil. Os eletrônicos descartados de forma incorreta representam o tipo de resíduo sólido de maior crescimento no mundo, mesmo em países em desenvolvimento. Um dos problemas dessa diversidade de resíduos está nas substâncias tóxicas não biodegradáveis em sua composição, o que aumenta a preocupação com sua destinação final (SILVA, 2010). Devido à grande produção e demanda de equipamentos eletrônicos e sua constante renovação e curta vida útil, surgem preocupações relacionadas aos potenciais impactos decorrentes do descarte incorreto dos volumes crescentes desses materiais. Todos somos usuários de equipamentos eletrônicos, e sabemos que, mesmo com a vigência da Política Nacional de Resíduos Sólidos, grande parte dos resíduos eletrônicos produzidos não recebe a destinação final adequada. Considera-se a questão mais complexa do que a lei prevê. Os componentes de equipamentos eletrônicos, por exemplo, ao serem substituídos quando apresentam defeito, recebem que tipo de destinação? Quem se responsabilizará por esses materiais, considerando que a maioria é importada? A recuperação/reciclagem é possível e viável? Quais são os potenciais riscos do descarte desses materiais no lixo comum? Nessa perspectiva, optou-se por investigar a situação das placas PCI descartadas no Brasil, e avaliar a existência de reciclagem, reaproveitamento, destinação final e legislação específica para esse tipo de resíduo eletrônico.

2. Desenvolvimento

2.1 Resíduos eletrônicos

A partir da industrialização tecnológica capitalista, surgiram, com objetivo de facilitar e agilizar as atividades humanas, os aparelhos eletroeletrônicos. De acordo com Quintanilha (2009), aparelhos eletroeletrônicos são produtos tecnologicamente desenvolvidos para atender à demanda de um novo mundo, como televisores,


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rádios, telefones celulares, eletrodomésticos portáteis, equipamentos de informática, mp3s, i-pods, filmadoras, ferramentas elétricas, dvds, lâmpadas fluorescentes, brinquedos eletrônicos, etc. Os lixos eletroeletrônicos são considerados como aqueles aparelhos que são dados por inúteis, supérfluos, e que quando descartados são chamados de Resíduos de Equipamentos Elétricos e Eletrônicos (Reee’s), ou ainda, sucata eletrônica, lixo eletrônico ou e-lixo (QUINTANILHA, 2009). Com a popularização de novos tipos de produtos e a introdução acelerada de modernas gerações de equipamentos eletrônicos, novidades que antes demoravam anos para alcançarem todos os níveis de classes sociais, atualmente são conhecidas em tempo real, fator que alimenta o consumismo. Os lançamentos são modalizados e cada vez mais, há novos produtos oferecidos no mercado. O usuário médio de computadores, por exemplo, troca seus equipamentos eletrônicos em tempo mais célere. Os da geração anterior, considerados obsoletos, ganham destino inadequado, acarretando assim graves problemas ao meio ambiente (SILVA, 2010). Com o avanço da tecnologia, houve um considerável aumento no consumo de produtos eletrônicos e, mesmo que não tenham chegado ao fim da sua vida útil, são substituídos. No Brasil, graças ao crescimento do mercado interno, incentivo ao crédito e até isenções pontuais tributárias, os produtos eletrônicos se tornam cada vez mais acessíveis. O consumo crescente faz com que haja a geração de grande volume de resíduos eletrônicos, e consequentemente o descarte indevido. Muitas indústrias e cidades ainda não desenvolveram programas de conscientização da população, coleta e nem destinação adequada para tais produtos. Sendo assim, grande parte da população faz o descarte junto com resíduos domiciliares. A estimativa de resíduos eletrônicos produzidos em 2011 foi de aproximadamente 670 mil toneladas, e entre 2001 e 2030 será de 22,4 milhões de toneladas (FERNANDES, 2014). O resíduo eletrônico descartado é composto basicamente por aparelhos eletrônicos, dentre os quais computadores e telefones celulares estão em abundância. Isso ocorre infelizmente por causa de sua vida útil ser muito curta. Em 2006, a produção mundial de resíduos eletrônicos foi estimada entre 20 a 50 milhões de toneladas por ano, considerando que a Europa e Estados Unidos são os países que mais produzem. A China, Europa Oriental e América Latina vão se tornar também grandes produtores de resíduos eletrônicos nos próximos dez anos (BRETT, 2009). Brett, (2009) calculou que computadores, telefones celulares e


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aparelhos de televisão contribuíram com 5,5 milhões de toneladas para o resíduo eletrônico em operação em 2010, subindo para 9,8 milhões de toneladas em 2015. Segundo ele, o resíduo eletrônico pode constituir cerca de 8% em volume dos resíduos urbanos. O acúmulo de lixo eletrônico não foi previsto pelas indústrias produtoras ou pela sociedade. Mattos (2008) reforça essa afirmação dizendo que a área de informática não era vista tradicionalmente como uma indústria poluidora. Porém, o avanço tecnológico acelerado encurtou o ciclo de vida desses equipamentos, gerando lixo eletrônico. O relatório “Global E-Waste Monitor 2017”, lançado por UIT, Universidade da ONU e Associação Internacional de Resíduos Sólidos (ISWA, na sigla em inglês), enfatiza os crescentes volumes de lixo eletrônico e seu descarte e tratamento impróprios por meio de queimadas ou lançamento em lixões. Em 2016, foram gerados 44,7 milhões de toneladas métricas de resíduos eletrônicos, um aumento de 8% na comparação com 2014, sendo que apenas 20%, ou 8,9 milhões de toneladas métricas,

de

todo

o

lixo

eletrônico

foram

reciclados

(ONUBR,

2018).

Atualmente, 66% da população mundial, vivendo em 67 países, está coberta por leis nacionais de gestão do lixo eletrônico, um aumento significativo frente aos 44% de 2014. As baixas taxas de reciclagem podem ter impactos econômicos negativos. Em 2016, foi estimado que o lixo eletrônico continha depósitos de ouro, prata, cobre, paládio e outros materiais recuperáveis, cujo valor total era estimado em 55 bilhões de dólares (ONUBR, 2018). O que se observa é que o uso de equipamentos eletroeletrônicos – portáteis ou não – tem crescido de forma exponencial, porém, a medida que novos e modernos produtos são lançados, os quase recentes produtos tornam-se obsoletos, antes mesmo dos mesmos envelhecerem, quebrarem ou perderem sua utilidade. Assim, graças a uma onda de evolução tecnológica sem precedentes, os equipamentos eletrônicos descartados se constituem no tipo de resíduo sólido que mais cresce no planeta (CARVALHO, 2009). Considerando que este tipo de lixo possui características específicas, criou-se uma categoria especial de resíduos que vem recebendo grande atenção: o e-lixo. Silva (2010) destaca que a preocupação ambiental em relação à disposição inadequada do e-lixo ocorre devido à liberação de substâncias tóxicas que podem causar sérios impactos à natureza. Quando despejados no lixo comum, as


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substâncias químicas presentes nos componentes eletrônicos, como mercúrio, cádmio, arsênio, cobre, chumbo e alumínio, entre outras, penetram no solo e nos lençóis freáticos. Materiais eletrônicos como placas de computador e monitores CRT, não liberam seus componentes quando estão em ambiente seco e fechado. Mas dispostos em aterros, onde a temperatura é mais alta e há contato com a chuva, que pode ser ácida, principalmente nas grandes cidades, faz com que os metais pesados sejam liberados diretamente no solo e águas pluviais. Esse processo também pode contaminar as águas de lençóis freáticos, dependendo da localização do aterro ou lixão. Em um computador, 68% do produto são feito com ferro, enquanto 31% da composição de um notebook é plástico. No geral, 98% de um computador é reciclável. Mas na prática esse número se reduz para cerca de 80%, pois a mistura de componentes plásticos e metálicos com os metais pesados torna difícil a separação (CERRI, 2013). Em todo o mundo, a reciclagem de eletroeletrônicos é um mercado em franco crescimento. No Brasil, o mercado conta com uma grande informalidade. Infelizmente,

grande

parte

das

empresas

que

atuam

na

reciclagem

de

eletroeletrônicos não observam normas de segurança do trabalho e de descarte de resíduos químicos. Algumas utilizam mão de obra de adolescentes, sem proteção contra os elementos tóxicos, e ainda por cima se limitam a triturar o lixo e enviar para a China, onde ele vai ser reciclado por mão de obra precária e também sem levar em conta os impactos ambientais e sociais dessa atividade (RIBEIRO e SILVA, 2012). Não só os computadores são descartados, mas todos produtos eletrônicos de modo geral (geladeiras, maquinas de lavar, televisão, etc.). Todo contém componentes eletrônicos que liberam algum resíduo químico e, em contato com o meio

ambiente,

acabam

por

contaminá-lo.

Para

a

fabricação

de

um

microcomputador, a indústria emprega o uso de diversos elementos como alumínio, chumbo, germânio, gálio, ferro, níquel e polímeros plásticos de diversas origens. Os computadores descartados de forma inadequada perdem esses materiais, que poderiam ser reciclados ou reutilizados, amenizando, com isso, seu impacto ambiental. (SILVA 2010) Eventos como o I Encontro Nacional de Reciclagem, realizado em Curitiba em junho de 2008, e o Seminário Internacional de Resíduos Eletroeletrônicos, realizado


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em agosto de 2009 em Belo Horizontes pela Fundação Estadual do Meio Ambiente do Estado de Minas Gerais, mostram que o assunto movimenta as esferas acadêmica, produtiva e setor público no país. O Brasil ainda parece possuir poucos grupos de pesquisa voltados à problemática do lixo eletroeletrônico, e são ainda raros os trabalhos científicos publicados. Muitas das informações que nos chegam principalmente dados estatísticos de consumo e produção provêm de revistas, jornais e reportagens de televisão ou rádio (OLIVEIRA et al., 2010). O processo de coleta de lixo eletrônico consiste em recolher todo e qualquer tipo de lixo eletrônico descartado em um espaço particular ou público. Essa coleta pode ser feita por empresas especializadas, revendedores de produtos eletrônicos ou até mesmo por estabelecimentos que se especializam nessa ação. Conhecidos como Resíduos de Equipamentos Elétricos e Eletrônicos (REEE), esse material é submetido a um processo de descarte específico para que não haja liberação de partículas de substâncias nocivas ao ser humano e ao meio ambiente. Assim como o processo de descarte de lixo eletrônico, o processo de reciclagem de lixo eletrônico também é composto pelas etapas de triagem, desmonte e destruição. Na fase da triagem, é feita a separação dos componentes que podem ser reutilizados dos que não tem mais utilidade. O material a ser reaproveitado passa por outro tipo de triagem, para que os resíduos sejam direcionados a empresas que aproveitam os polímeros desses materiais. Baterias de celulares, vidros de tela e outros componentes são moídos, tratados e utilizados como matéria-prima para produção de outros materiais (FRAGMAC, 2018). Algumas instituições, como a Associação Comercial de São Roque, recebem alguns

resíduos

eletrônicos,

e

destinam

esses

resíduos

para

empresas

especializadas em reciclagem de eletrônicos, com as quais tem parceria. É possível também destinar lixo eletrônico ou solicitar retirada diretamente a cooperativas e empresas especializadas em descarte/reciclagem e comercialização de resíduos eletrônicos. Dependendo da quantidade e do tipo de material, é cobrada uma taxa para poder retirar e destinar adequadamente estes materiais. Também existem pontos de coletas de resíduos eletrônicos em locais específicos, principalmente para baterias de celular e pilhas. A grande indústria de eletrônicos tem em suas páginas eletrônicas orientações de como se deve proceder a devolução de resíduos eletrônicos gerados a partir de seus produtos, conforme conceito de logística


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preconizado na Lei Federal 12305/2010 (Política Nacional dos Resíduos Sólidos PNRS).

2.2 Placas de circuito impresso (PCI)

As placas PCI são formadas por material plástico e fibroso (fenolite, fibra de vidro, filme de poliéster, teflon, duroid, poliamida, cerâmica), e também por finas camadas de substância metálicas (cobre, prata, ouro, chumbo, níquel, mercúrio e cádmio). As placas PCI são exemplos de resíduos dos produtos eletrônicos, compostos por vários componentes eletrônicos que podem ser reciclados ou reutilizados por empresas de assistências técnicas de produtos eletrônicos de um modo geral, como chips e capacitores (FIGURA 1). Mas se esses materiais forem jogados no meio ambiente, podem causar contaminação do solo, água e seres vivos.

FIGURA 1: Placa PCI com diversos componentes e pontos prateados que representam soldas a base de chumbo (fonte: gazzell.com.br).

As placas mais antigas, usadas em televisores de tubo e computadores, acabam sendo descartadas no lixo comum. Tudo isto acontece porque quando o material se torna obsoleto, não se procura uma forma de reaproveitá-lo. As placas PCIs, geralmente não estão à vista, mas elas fazem parte de tudo o que envolve tecnologia. Computadores, cadeiras automatizadas (como as de dentistas), sistemas de segurança, smartphones, brinquedos, carros e chuveiros são apenas alguns exemplos de dispositivos que usufruem dessas placas repletas de


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componentes eletrônicos para desempenhar suas respectivas funcionalidades. Um circuito impresso consiste em finas películas de substâncias metálicas (cobre, prata, ouro ou níquel) sobre a parte fibrosa das placas. Essas películas formam as “trilhas” ou “pistas” que serão responsáveis pela condução da corrente elétrica pelos componentes eletrônicos (FIGURA 2). Esses impulsos elétricos são transmitidos para

os

componentes,

viabilizando

o

funcionamento

de

cada

peça

e,

consequentemente, do sistema completo formado pela PCI. As placas de circuito impresso tiveram sua origem em 1936 pelas mãos do engenheiro austríaco Paul Eisler, embora a técnica fundamental para o desenvolvimento das PCIs tenha surgido no ano de 1903 com as pesquisas do inventor alemão Albert Hanson (DAQUINO, 2012).

FIGURA 2: Circuitos impressos (pistas ou trilhas) das placas PCI.

2.3 Legislação sobre resíduos eletrônicos

A lei federal n° 12.305/2010 (BRASIL, 2010), chamada de Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), responsabiliza e obriga empresas, importadores, consumidores, prefeituras e órgãos públicos, a recolher e mandar para aterros sanitários os resíduos por eles criados ou utilizados. Segundo o Ministério do Meio Ambiente - MMA (BRASIL, 2010), a PNRS é a lei mais atual e contém instrumentos importantes para permitir o avanço necessário ao País no enfrentamento dos principais problemas ambientais, sociais e econômicos decorrentes do manejo inadequado dos resíduos sólidos, porém, em relação aos resíduos eletrônicos, ela não tem nada específico que diga como tratar este lixo.


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A lei dá diretrizes relativas à gestão integrada e ao gerenciamento de resíduos sólidos como um todo, incluídos os perigosos, às responsabilidades dos geradores e do poder público, e às sanções econômicas aplicáveis. Estão sujeitas à observância desta Lei as pessoas físicas ou jurídicas, de direito público ou privado, responsáveis, direta ou indiretamente, pela geração de resíduos sólidos, e as que desenvolvam ações relacionadas à gestão integrada ou ao gerenciamento de resíduos sólidos. A referida lei também propõe a prevenção e a redução na geração de resíduos, sugerindo a prática de hábitos de consumo sustentável, e um conjunto de instrumentos para propiciar o aumento da reciclagem e da reutilização dos resíduos sólidos (aquilo que tem valor econômico e pode ser reciclado ou reaproveitado), e a destinação ambientalmente adequada dos rejeitos (aquilo que não pode ser reciclado ou reutilizado). Esta lei cria a responsabilidade e a obrigação de que todas as empresas, importadores,

consumidores,

prefeituras

e

todo

órgão

público

tenham

a

responsabilidade de recolher ou mandar para aterros sanitários os lixos por eles criados ou utilizados. Empresas que produzem materiais perigosos ao meio ambiente têm a obrigação de realizar a logística reserva. Além disso, essas empresas devem declarar dados periodicamente tanto para prefeituras como para a defesa civil e órgãos responsáveis de fiscalizar esse lixo a respeito do que estão fazendo com o lixo que não pode ser reciclado. A logística reversa define que as empresas devem coletar os seus produtos após serem descartados pelos consumidores. Por exemplo: uma empresa que fabrica celular deve se responsabilizar pelo recolhimento dos aparelhos descartados pelos consumidores. As empresas também devem divulgar aos consumidores onde descartar o lixo eletrônico para ser devolvido à empresa através da logística reversa.

3. Materiais e métodos

A metodologia adotada no presente trabalho consistiu na realização de revisão bibliográfica associada à leitura e interpretação da legislação relacionada ao descarte e reciclagem/recuperação dos resíduos eletrônicos no Brasil. Realizou-se também visita a um serviço realizado pela Universidade de São Paulo - campus


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Cidade Universitária denominado Centro de Descarte e Reuso de Resíduos de Informática - CEDIR, visando buscar informações adicionais quanto às metodologias e alternativas adotadas por essa instituição quanto ao aproveitamento e destinação final desses resíduos.

4. Resultados e discussão

O Brasil tem avançado na área de reciclagem de eletroeletrônicos, mas uma parte dos materiais ainda não pode ser recuperada no país, como é o caso de muitos tipos de placas de circuito impresso. Placas mãe e placas de vídeo, no caso dos computadores, assim como componentes que controlam televisões, monitores e impressoras têm uma série de metais em sua estrutura, e a reciclagem desses itens exige, pois, a separação de cada um, para posterior reaproveitamento. Após a realização da pesquisa, concluiu-se que não existe no Brasil empresas que dispõe de tecnologia para recuperação dos materiais constituintes de placas PCI, o que faz com que esses materiais, que possuem valor relativo devido a sua composição química, sejam comprados por empresas nacionais como a Lorene reciclagem (http://www.lorene.com.br) e revendido para países com empresas como a ECR2 (https://ecr2recycle.ca), que dispõem de tecnologia para o seu aproveitamento, como é o caso de países como China, Canadá e Bélgica. Mesmo com a possibilidade de venda, muitos destes materiais são descartados no meio ambiente. Aliás, é comum encontrar estes materiais jogados nas ruas. Muitas pequenas assistências técnicas de aparelhos eletrônicos e consumidores também descartam este material em lixo comum, quando deveriam ter o cuidado de encaminhá-los para a reciclagem. É verdade que os pontos de coleta de resíduos eletrônicos são escassos. Em São Roque, por exemplo, a Associação Comercial recebe descarte de materiais eletrônicos, mas ao serem questionados quanto ao encaminhamento que dão a esse material, os mesmos não se pronunciaram.


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FIGURA 3 - Resíduos eletrônicos descartados sob a placa de trânsito nas ruas do município de Itapevi (fonte: acervo pessoal)

FIGURA 4 - Placa PCI descartada nas ruas do município de Itapevi (fonte: acervo pessoal)

FIGURA 5 - Televisor de tubo descartado nas ruas do município de Itapevi (fonte: acervo pessoal)


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Segundo o site ecycle (ECYCLE, 2018), no processo de reciclagem de placa de circuito impresso (PCI), são usados três tipos de processos: mecânico, químico e térmico. Na reciclagem mecânica, ocorre a diminuição do tamanho do material (processo também chamado de cominuição) e a fragmentação do objeto, que passa pela fase de britagem e moagem. Em seguida, os resíduos passam por peneiras, classificadores mecânicos e ciclones, que classificam os materiais por granulometria. Por fim, passam por uma separação por densidade magnética. Esse processo separa os fragmentos magnéticos (Fe, Ni) dos não magnéticos. Os não magnéticos passam por uma separação eletrostática, separando condutores (Pb, Cu, Sn) dos não condutores de corrente elétrica (polímero e cerâmico). A reciclagem química se dá pelo processo de hidrometalurgia, ou seja, é a extração dos metais com o uso da lixiviação, usando-se soluções ácidas como a água-régia (75% de ácido clorídrico e 25% de ácido nítrico) ou ácido sulfúrico, obtendo-se frações pesadas (metais) e frações leves (plásticos e cerâmicos). Por fim, a reciclagem térmica ocorre pelo processo de pirometalurgia, que consiste em converter os metais em diferentes estados de pureza, ao passarem por altas temperaturas. O processo exige grande energia para incinerar as placas e obter um metal concentrado, que segue para outro processo de separação: a eletrostática. Quanto ao trabalho realizado pelo Centro de Descarte e Reuso de Resíduos de Informática (CEDIR), verificou-se em visita e entrevista que o centro, fundado em 2009, recebe todos resíduos de equipamentos eletrônicos da própria USP, sendo que aquilo que pode ser consertado, é reutilizado pela própria universidade, ou doado para outras instituições do governo. O resto, que não tem conserto, é reciclado, mas não pelo CEDIR/USP, que somente separa e vende aquilo que não tem aproveitamento para empresas de reciclagem, e o dinheiro recebido na venda é aplicado na própria CEDIR.


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FIGURA 6 - Placa de identificação do CEDIR/USP (fonte: acervo pessoal).

FIGURA 7 - Equipamentos eletrônicos aguardando realização de desmontagem no CEDIR/USP (fonte: acervo pessoal)

FIGURA 8 - Caixas de separação de componentes de microcomputadores no CEDIR/USP (fonte: acervo pessoal)


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5. Referências bibliográficas

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