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CENTRO UNIVERSITÁRIO BELAS ARTES DE SÃO PAULO

ARQUITETURA E URBANISMO

nem toda casa

é abrigo cultura e acolhida lgbtia+

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO | 2020.2

HEITOR FERREIRA


nem toda casa ĂŠ abrigo


nem toda casa é abrigo

cultura e acolhimento LGBTIA+

autor HEITOR ANTONIO FERREIRA orientador PROF. ME. IVANIR REIS NEVES ABREU CENTRO UNIVERSITÁRIO BELAS ARTES DE SÃO PAULO CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO TFG 2020


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Depois de 5 longos anos no curso de arquitetura e urbanismo, é difícil traduzir em algumas palavras todos os sentimentos vividos nessa trajetória. E pensar no desenvolvimento deste trabalho sem olhar para a minha evolução pessoal seria uma incongruência.

Como disse, meus pais seguem preceitos bíblicos e de certa forma isso criou barreiras nas nossas relações, mas o título de “evangélicos” não é suficiente para resumi-los, eu preciso dizer que me orgulho muito de tê-los como referência na vida. Inclusive, Vera Lucia Lopes da Silva Ferreira e Horacy Antonio Ferreira, é a vocês e aos meus avós, que vieram tentar a vida em São Paulo nos anos 1960, que eu dedico a imensa parte deste trabalho, por todo o carinho, todo o amor e todo o suor empenhados para que esse momento chegasse. Desde cedo, mesmo antes de ser capaz de compreender a ideia, eu me lembro de ouvi-los dizer: “você precisa estudar pra se tornar alguém na vida”. Estudar sempre foi uma prioridade dentro de casa e acordar às 4h da manhã ou gastar 2h no ônibus para chegar à faculdade, não eram motivos para deixar de lado esse objetivo. Agora olho para trás e percebo que todo o esforço valeu a pena. Longe de mim parecer ter um discurso meritocrático, mas tudo que passou pelo meu caminho faz parte, em alguma medida, da pessoa que sou hoje. E me orgulho disso.

assim encerro este ciclo

A minha adolescência, assim como a de grande parte dos jovens LGBTIA+, foi bastante nebulosa. Nasci na metade dos anos 1990 e cresci sem referências identitárias além do binarismo heterossexual que dominava os meios de comunicação. Internet ainda era uma mera ficção. A infância vivida dentro dos dogmas cristãos não auxiliou muito nos meus processos de auto compreensão. Minhas descobertas como gay foram levemente tardias, mas felizmente eu pude conhecer novas formas de enxergar o mundo ainda antes dos 20 anos e ter o privilégio de ser acolhido dentro de casa.

Meus amigos também têm um espaço fundamental nessa caminhada, foi com eles – mas também nas sessões de terapia – que desabafei a maioria das minhas angústias e incertezas e também tive o prazer de celebrar muitos momentos importantíssimos da minha vida. Eu poderia deixar de citar também o apoio que tive de colegas de faculdade, que com o passar do tempo foram se tornando grandessíssimos amigos e amigas. Foram muitos os surtos – ainda mais em 2020 – muita gritaria e várias noites sem dormir, na casa de um e de outro, para conseguir dar conta das entregas dos projetos. Em muitos momentos nos questionamos “será que estamos no caminho certo?” e na verdade, essa é uma pergunta que não tem resposta. Só nos resta seguir tentando encontrar formas de achar algum sentido na vida. E por falar em sentido, é inevitável agradecer ao Ivanir Reis, meu orientador nesse trabalho, que me acalmou e acendeu a luz do farol em muitos momentos que eu estava sem saber pra onde ir. Um excelente professor que eu tive a sorte de conhecer já no 9º semestre e rapidamente passei a admirar pela sua paixão em dividir o conhecimento e abrir espaço para novas discussões. Por fim, dedico este trabalho a todas as pessoas que se encaixam ou não nessa sigla tão diversa e que já se sentiram estranhas, alheias ou não condizentes com a sociedade ou o espaço onde vivem. Às vezes pode parecer que sim, mas na verdade, nós nunca estivemos sós. Sigamos!

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introdução

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HOMOFOBIA DESDE CEDO

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VULNERABILIDADE NAS RUAS

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IMPACTOS DA PANDEMIA DE COVID-19

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conceituação

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DIREITO À CIDADE / ESPAÇO DEMOCRÁTICO / ESPAÇO QUEER

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contexto

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HISTÓRICO E CONFORMAÇÃO DOS TERRITÓRIOS LGBTIA+

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O LOCAL

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DEMOGRAFIA, USOS E OCUPAÇÕES DO SOLO

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MOBILIDADE

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EQUIPAMENTOS EXISTENTES

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ESPAÇOS PÚBLICOS E ÁREAS VERDES

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LEGISLAÇÃO URBANÍSTICA E FUTURO DA ÁREA

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proposta

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PROGRAMA DE NECESSIDADES

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SETORIZAÇÃO

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VOLUMETRIA E CIRCULAÇÕES

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ESTRUTURA

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PLANTAS, CORTES E PERSPECTIVAS

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referências

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sumรกrio


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introdução


O presente trabalho tem como objetivo o estudo das territorialidades LGBTIA+ na região central da cidade de São Paulo, mais especificamente no entorno do bairro da República para a decorrente proposta de uma edificação pautada nas demandas dessa população. Ao pensarmos que a sociedade brasileira, de modo geral, herdou do cristianismo muitas de suas crenças com relação ao comportamento do indivíduo e à forma como este se inter-relaciona socialmente — sendo mais específico, no que diz respeito às normativas afetivas e sexuais — podemos inferir que as populações LGBTIA+ (lésbica, gay, bissexual, transgênero, travesti, intersexo, assexual) historicamente se encontram às margens da sociedade, sendo vítimas de preconceitos, perseguições, violências física e psicológica e, em último caso, o homicídio ou mesmo o suicídio.

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A casa é o primeiro espaço onde o indivíduo percebe sua sexualidade, mas ao perceber-se fora dos padrões socialmente esperados, não encontra respaldos na arquitetura para praticá-la, uma vez que a dinâmica da casa não corresponde à individualidade e à privacidade necessárias (CONTARIM, 2018). Assim, tudo é visto, tudo é vigiado, e o espaço que deveria abrigar descobertas transformadoras, torna-se intimidador. Da mesma forma, o espaço público também não dá suporte à vivência das sexualidades que fogem à normatividade heterossexual. Desde os processos coloniais de catequização indígena, passando pelos longos anos de ditadura militar até chegar aos dias de hoje, pessoas LGBTIA+ veem no espaço público um perigo iminente às suas existências. Desta forma, se pensarmos que em muitas situações tanto o ambiente familiar, quanto os espaços públicos não oferecem respaldo para as variadas expressões LGBTIA+, onde esses grupos vão conseguir se unir para desenvolver e expressar suas identidades?

Figura 1 Mapa da homofobia em SP, 2017 Destaque para a região central da ciadade de Sâo Paulo que apresentou o maior número casos registrados na Decradi Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância. Fonte: G1

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Figuras 2 e 3 "Travesti da Lambada e Deusa das Águas" e “Adriano Bafônica e Luiz França de She-há”, da série “Criança Viada” de Bia Leite. Fonte: Revista Claudia e Hypeness “A linguagem da pintura também nos insere na História com orgulho e força, diante de uma sociedade que nos quer invisíveis. Nós, LGBT, já fomos crianças. Esse assunto incomoda porque nós nunca viramos LGBT, nós sempre fomos. Todos nós devemos cuidar das crianças, não reprimir a identidade delas nem seu modo de ser no mundo, isso é muito grave.”

HOMOFOBIA DESDE CEDO As vivências da juventude LGBTIA+ são, em grande parte, diretamente relacionadas ao preconceito e à discriminação. Desde a infância jovens LGBTIA+ passam por situações em que suas identidades são questionadas e inferiorizadas, até mesmo em locais que deveriam fornecer suporte ao seu desenvolvimento.

introdução

Trecho de entrevista cedida pela artista ao portal Uol, depois a exposição Queermuseu ser fechada sob a justificativa de algumas obras fzerem apologia à pedofilia.

Daniliauskas (2016) afirma que a internet tem tido um papel importante para o reconhecimento e aceitação da sexualidade, assim como a formação de identidade, dos grupos mais jovens, quando em comparação com as gerações anteriores. Ferrari (2004) aponta para a fusão entre sexualidade e identidade, onde os dois termos se tornam sinônimos e não se restringem apenas ao âmbito privado, mas passam a assumir um caráter social. Desta forma, ao “sair do armário” e assumir uma identidade não correspondendo aos papéis impostos pela heteronormatividade, muitas pessoas passam a viver num ambiente doméstico hostil, que quando a expulsão não é a primeira reação da família, se torna um espaço de convivência insuportável, que pode desencadear violências e traumas. Schullman (2009) denomina este fenômeno como “homofobia familiar”, que pode se estender ao ambiente escolar e ao mercado de trabalho, levando, além da perda do vínculo familiar, à evasão escolar e à pauperização desses jovens. Neste contexto, quando o jovem não pode contar com uma rede de familiares ou amigos próximos que consigam lhe dar apoio, a última alternativa acaba sendo viver nas ruas ou então ingressar no mercado da prostituição, que para muitas mulheres trans e travestis, se torna a única forma de sobrevivência. Vale salientar que ao analisar um recorte interseccional de gênero, raça e classe, encontramos majoritariamente pessoas pobres, negras, travestis e transgênero em condições de maior vulnerabilidade dentro da comunidade. 11


No censo de pessoas em situação de rua, realizado pela Prefeitura de São Paulo em 2015, constatou-se que a parcela LGBTIA+, se comparada com o restante da amostragem, tende a ser mais jovem e com situação mais precária de vida (exercendo a mendicância ou atividades marginalizadas como prostituição, venda de drogas e roubos) e de saúde (com maior proporção de portadores de HIV e tuberculose), além de sofrerem mais agressões (PMSP, 2015).

VULNERABILIDADE NAS RUAS

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De acordo com o Censo 2019, 24.344 pessoas vivem em situação de rua na cidade de São Paulo e menos da metade delas são acolhidas por equipamentos de assistência social. O distrito da Sé é o que apresenta o maior número de pessoas em situação de rua, com crescimento de 7,34% em comparação com 2015. (CENSO 2019).

Salgado (2011) relata a dificuldade dos equipamentos e espaços de acolhida, principalmente os voltados ao público masculino, de lidarem com as expressões de gênero e receberem pessoas LGBTIA+, “principalmente os mais efeminados, bem como as travestis e transexuais, obrigando-os muitas vezes a se destituir desde adereços até sendo cerceados em relação a atitudes e comportamentos supostamente femininos”. (SALGADO, 2011, p. 70)

Segundo pesquisa da Secretaria de Assistência e Desenvolvimento Social realizada em 2015, entre 5,3% e 8,9% da população em situação de rua é LGBTIA+. Porém a própria pesquisa afirma que estes números são subnotificados. Em entrevista ao portal UOL, Bruna Benevides, secretária de articulação política da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA) afirma: Não há dados e talvez esse seja o principal dado. Existe uma política de invisibilidade. A subnotificação é uma política de Estado. Quando você não mapeia, você não tem problema e, sem problema, não há o que resolver. (UOL, 2020)

Garcia (2013), em sua pesquisa sobre a vulnerabilidade ao HIV/AIDS entre a população LGBTIA+ em situação de rua no centro de São Paulo, aponta que se repetem no Brasil algumas características dessa população registradas na bibliografia internacional: histórico de violência física e sexual nas famílias de origem e posteriormente, quando estão nas ruas, sujeição ao abuso de álcool e outras substâncias, discriminação por parte de seus próprios colegas de rua e da polícia, maior propensão à troca de atividade sexual por subsistência financeira, maior vulnerabilidade à infecção pelo HIV. Na mesma pesquisa, o autor ainda ressalta a existência de uma sociabilidade nômade, associada ao afastamento de vínculos, à vivência nas ruas e ao uso de substâncias psicoativas, assim como à resistência aos ideais de fixação presentes nas instituições.

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Figura 4

Aproximadamente, 24.344 pessoas encontram-se em situação de rua na cidade de São Paulo. Destaque para o maior volume na região central. Fonte: SMADS, 2019.


TABELA 1 - COMPARATIVO ENTRE LGBT E HETEROSSEXUAIS, ENTRE PESSOAS EM SITUAÇÃO DE RUA LGBT

HETERO

Média

34,8

42,8

PERFIL GERAL

LGBT

HETERO

Homens

84%

88%

Não Brancos

70%

71%

Vive só

59%

77%

SAÚDE

LGBT

HETERO

Número declarado de doenças

3,4

2,2

Procurou serviço de saúde nos últimos 3 meses

86%

71%

TRABALHO E EMPREGO

LGBT

HETERO

Tem emprego formal ou informal

15%

13%

Exerce atividade com contratantes

44%

52%

Exerce atividades marginalizadas

27%

5%

Mendicância

26%

16%

Prostituição/programa

20%

1%

Venda de drogas

7%

2%

Roubo/assalto

7%

3%

CONSUMO DE DROGAS

LGBT

HETERO

Usa álcool

58%

55%

Consome drogas

53%

38%

Usa crack

29%

21%

Usa maconha

35%

24%

Usa cocaína

21%

15%

VIOLÊNCIA SOFRIDA

LGBT

HETERO

Foi barrado em lugares públicos

46%

30%

Sofreu agressão verbal

77%

60%

Sofreu agressão física

61%

42%

Sofreu tentativa de homicídio

28%

19%

Sofreu violência sexual

25%

3%

Roubo/furto

75%

62%

Remoção forçada

36%

30%

INSTITUCIONALIZAÇÃO

LGBT

HETERO

Passou por alguma instituição

66%

57%

Passou pelo sistema prisional

34%

33%

Fonte: SMADS, 2019

IMPACTOS DA PANDEMIA DE COVID-19 A pandemia do novo coronavírus agravou uma série de questões nas vidas de muitas pessoas LGBTIA+. Uma pesquisa realizada por doutorandos da UFMG e da Unicamp em parceria com o coletivo #VoteLGBT aponta que a população LGBTIA+ está mais vulnerável ao desemprego e à depressão devido à pandemia. (G1, 2020) O pesquisador e demógrafo da UFMG, Samuel Silva, afirma que: Por causa do preconceito, do medo da violência, muitas pessoas que fazem parte da comunidade LGBT vivem em alerta, com cautela, o que já as deixam vulneráveis à depressão, à ansiedade. Uma outra situação é que com o isolamento social, pessoas que vivem em casas onde há relações conflituosas sofrem muito mais. (G1, 2020)

introdução

IDADE

Homofobia familiar, desemprego e falta de uma rede de apoio, são alguns dos fatores que levaram ao aumento da demanda por espaços de acolhida em muitas cidades no Brasil. Para Iran Giusti, idealizador da Casa 1, república de acolhida no bairro da Bela Vista em São Paulo, além das necessidades de remanejo para atender às demandas do isolamento social dentro da casa, uma das maiores questões agora tem sido a dificuldade que pessoas transgênero e travestis estão enfrentando para ter acesso ao auxílio emergencial, oferecido pelo governo federal. Isso se dá, na maioria das vezes, ao lento processo de atualização das informações pessoais do indivíduo após a retificação do nome de registro, o que gera inconsistências com relação ao CPF. (VASCONCELOS, 2020)

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conceituação


DIREITO À CIDADE

ESPAÇO DEMOCRÁTICO nem toda casa é abrigo

ESPAÇO QUEER

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Para LEFEBVRE (1968) é o direito de não restrição da sociedade urbana aos benefícios e qualidades da vida urbana, principalmente aos grupos marginalizados e que vivem nas periferias da cidade. Segundo HARVEY (2008) é um direito de mudar a nós mesmos, mudando a cidade. Além disso, é um direito coletivo, e não individual, já que essa transformação depende do exercício de um poder coletivo para remodelar os processos de urbanização.

Para MONTANER e MUXÍ (2015), pode ser definido como o espçao que apresenta essas quatro características: · igualdade - dentro da ideia de direitos humanos universais e não discriminação; · diversidade - através da afirmação da multiculturalidade;

conceituação

Direito à cidade quer dizer direito à vida urbana, à habitação, à dignidade. É pensar a cidade como um espaço de usufruto do cotidiano, como um lugar de encontro e não de desencontro. [...] O direito à cidade representa, acima de tudo, pensar uma cidade democrática, uma cidade que rompa as suas amarras com o passado. (JACOB, 1986 apud TAVOLARI, p. 99)

· participação - inserção da opinião pública nas etapas de projetos para que as demandas sejam ouvidas e se desenvolva um reconhecimento coletivo; · sustentabilidade - uma relação harmônica entre os âmbitos cultural, social, econômico e natural, para além da consciência ecológica.

CAMPOS (2014) pensa em espaços que permitam a liberdade de escolha e amparem as múltiplas performatividades identitárias dos seus usuários. Não tendo como base as necessidades dos usuários a partir de uma identidade pré-definida dos mesmos e nem da sua fixação em um determinado momento no tempo COTTRILL (2006) intitula como queer os espaços que criticam as divisões de sexualidade, gênero, classe social e raça, e aponta as heterotopias como expressões que mais se aproximam desse conceito. REED (1996) aponta para a concretude desses espaços, através da reivindicação de territorialidades, deixando de lado o caráter temporário e restrito.

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Tendo em vista as problemáticas das populações LGBTIA+ descritas anteriormente, propõe-se uma breve discussão a respeito de como as cidades e os espaços coletivos podem desencadear dinâmicas mais diversas e inclusivas. Partindo desse ponto, o sociólogo francês Lefebvre (1968) conceitua direito à cidade como um direito de não restrição da sociedade urbana aos benefícios e qualidades da vida urbana, principalmente aos grupos marginalizados e que vivem nas periferias da cidade. Já o geógrafo britânico David Harvey disserta sobre um olhar mais inclinado ao marxismo:

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O direito à cidade é muito mais que a liberdade individual de ter acesso aos recursos urbanos: é um direito de mudar a nós mesmos, mudando a cidade. Além disso, é um direito coletivo, e não individual, já que essa transformação depende do exercício de um poder coletivo para remodelar os processos de urbanização. (HARVEY, 2008)

Pedro Jacobi faz uma leitura do conceito de uma forma semelhante à originária de Lefebvre porém de uma forma mais humanitária: Todas as pessoas que vivem na cidade são cidadãos? Não é bem assim. Na verdade, todos têm direito à cidade e têm direito de se assumirem como cidadãos. Mas, na prática, da maneira como as modernas cidades crescem e se desenvolvem, o que ocorre é uma urbanização desurbanizada. […] Direito à cidade quer dizer direito à vida urbana, à habitação, à dignidade. É pensar a cidade como um espaço de usufruto do cotidiano, como um lugar de encontro e não de desencontro. [...] O direito à cidade representa, acima de tudo, pensar uma cidade democrática, uma cidade que rompa as suas amarras com o passado. (JACOB, 1986 apud TAVOLARI, p. 99)

A partir desses pensamentos, é necessário reduzir a escala de observação e olhar mais de perto para como espaços coletivos podem ser considerados democráticos. Partindo dos estudos de Josep Maria Montaner e Zaida Muxí, os espaços democráticos são [...] pensados para reforçar os laços dento da comunidade, com projetos que favorecem a inter-relação, potencializam a igualdade e a justiça, baseiam-se na participação e na intervenção dos usuários e são mais sustentáveis por tentarem levar em consideração as condições do lugar e a cultura e os imaginários, as necessidades e os movimentos de seus habitantes. (MONTANER e MUXÍ, 2015)

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Dessa forma estes autores estabelecem quatro eixos a serem seguidos para se alcançar um espaço realmente democrático: [...] pensados para reforçar os laços dento da comunidade, com projetos que favorecem a inter-relação, potencializam a igualdade e a justiça, baseiam-se na participação e na intervenção dos usuários e são mais sustentáveis por tentarem levar em consideração as condições do lugar e a cultura e os imaginários, as necessidades e os movimentos de seus habitantes. (MONTANER e MUXÍ, 2015)

Dessa forma estes autores estabelecem quatro eixos a serem seguidos para se alcançar um espaço realmente democrático: · igualdade - dentro da ideia de direitos humanos universais e não discriminação; · diversidade - através da afirmação da multiculturalidade alcançada pelos intensos fluxos de pessoas pós globalização;

· sustentabilidade - para além da consciência ecológica, uma relação harmônica entre os âmbitos cultural, social, econômico e natural. De forma mais certeira, em direção à temática a qual este trabalho se propõe, o espaço democrático se torna pouco figurativo, sendo necessário pensar espaços que permitam a liberdade de escolha e amparem as múltiplas performatividades identitárias dos seus usuários. Não tendo como base as necessidades dos usuários a partir de uma identidade pré-definida dos mesmos e nem da sua fixação em um determinado momento no tempo (CAMPOS, 2014). Desta forma pode-se denominar um espaço queer, onde o espaço possa ser um suporte à identidade do sujeito, criando uma inter-relação mais profunda entre o espaço e a autoexpressão.

conceituação

· participação - introdução da opinião pública em todas as etapas de projetos para que as demandas sejam ouvidas e se desenvolva um reconhecimento coletivo; e

Figura 5 Bairro de Castro, em São Francisco, conhecido internacionalmente por ser um território LGBT consolidado, onde inclusive as faixas de pedestres são marcadas com as cores do arco-íris. Fonte: Shutterstock.

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COTTRILL (2006) intitula como queer os espaços que criticam as divisões de sexualidade, gênero, classe social e raça dentro de contextos políticos, culturais, sociais, geográficos e históricos. Para o autor, as expressões que mais se aproximam de um espaço queer são as heterotopias, pois conseguem unir espaços não compatíveis entre si. Para exemplificar, temos as paradas do orgulho LGBTIA+ pelo mundo, que são uma forma de subverter a normativa que impera nos espaços públicos, mas que acontece de forma pontual e isolada. REED (1996) diz que os espaços queer devem ir além das heterotopias, não mais temporários e restritos, mas concretos, através da reivindicação de territorialidades. Deve-se deixar de lado o caráter efêmero e invisível para se mostrar real e visivelmente aparente. COTTRILL (2006) também se aproxima nesse discurso ao afirmar que espaços queer devem ser perenes, uma vez que a efemeridade nega a possibilidade de uma vida e de espaços legítimos, sujeitando o indivíduo à vulnerabilidade. Devido ao ativismo LGBTIA+, no fim do século XX, para além dos eventos temporários, começaram a surgir propostas de consolidação de territorialidades não-normativas que posteriormente foram efetivadas, como é o caso do Castro, em São Francisco (figura xx). nem toda casa é abrigo 20

É importante salientar que os espaços queer não são sinônimos do que se costumava denominar de gueto gay, pois essa ideia foge à definição de espaço democrático, que está diretamente ligada à diversidade. Dessa forma, espaços queer são pensados não mais para a perpetuação de padrões convencionais – heteronormativos – de sexo, gênero e família, mas sim para garantir a pluralidade das existências e das vivências de cada ser.


conceituação

Figura 6 e 7 O Centro Cultural São Paulo e as diversas possibilidades de ocupação dos espaços. Fotos: Karime Xavier/Folhapress

Figura 8 (acima) Vista do deck da piscina em meio aos prédios da antiga fábrica, no Sesc Pompeia Foto: Bujedo Aguirre Figura 9 (à esq.) Vista da área de convivência no topo do Sesc 24 de Maio Foto: Nelson Kon

Atentando-se à cidade de São Paulo, é possível elencar espaços que apresentam as características citadas pelos autores e que no cotidiano têm a capacidade de reunir diversos perfis sociais. Dentre eles, pode-se o Centro Cultural São Paulo (figuras 4 e 5), projeto de Eurico Prado Lopes e Luiz Telles, localizado no Paraíso, o Sesc Pompéia (figura 6), no bairro homônimo, desenhado por Lina Bo Bardi, e o Sesc 24 de Maio (figura 7), de Paulo Mendes da Rocha em conjunto com MMBB Arquitetos, situado na região central da cidade. Os três projetos têm em comum a conexão que desenvolvem com o espaço público e com as pessoas, convidando-as a apropriações sem predefinições. A implantação e a generosidade das circulações e espaços livres, convida as pessoas a adentrar e experienciar o programa da edificação da forma que lhe for interessante, e certamente a arte, a cultura e o lazer têm um papel determinante nessas relações.

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contextualização


TERRITORIALIDADES E APROPRIAÇÕES A região central da cidade foi vetor de muitas mudanças comportamentais das populações LGBTIA+ paulistanas no decorrer das décadas. O espaço público, como explicitado no 1º capítulo, sempre teve um papel importante nas relações não-normativas. Por não encontrar apoio no núcleo familiar e nos espaços íntimos de convivência, se apropriar da cidade passa a ser uma alternativa para a união e o desenvolvimento da cultura homossexual.

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Aqui vale um recorte: o uso do espaço público para os contatos homoafetivos estava ligado diretamente à classe social dos indivíduos. Para os homens gays de classe média era possível viver uma vida mais discreta e resguardada nos quartos de hotéis e pensões da região central. Já os homens de classes mais baixas recorriam à espaços públicos como praças e parques da cidade. A Praça da República, o Largo do Paissandú, o Vale do Anhangabaú e a estação e o Parque da Luz eram alguns dos pontos mais frequentados por esse público. Nas ruas no entorno da Praça da República, do Largo do Arouche e da Avenida São João acontecia o footing, a prática de caminhar por um espaço urbano à procura de alguém para paquerar, conversar, trocar olhares, etc. Na década de 1930 começam a ser construídos os grandes cinemas da Avenida São João, que junto aos bares e bordéis conformavam o cenário da vida noturna na região da República. Por serem mais baratos, os cinemas foram por muitas décadas o local de encontro entre homens. “Os contatos sexuais em parques e banheiros públicos corriam o risco de terminar em prisão por ‘atentado ao pudor’. Por isso, os homens também se aproximam de um local público mais discreto para buscar potenciais parceiros. A escuridão das salas de cinema, a atenção do público focalizada na tela e os luxuosos e amplos saguões, salas de espera e banheiros, típicos dos modernos cinemas, ofereciam ambientes ideais para aventuras homoeróticas.” (GREEN, 2000).

Figura 12 Dzi Croquettes Fonte: Acervo CPDoc JB

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Figura 10 Vista do jardim interno da Galeria Metrópole Fonte: El País


Para os que podiam pagar por espaços reservados, os bordéis e pensões eram soluções para fugir do preconceito e da perseguição policial. Esses locais permitiam não só a prática sexual, mas também a socializar, encontrar amigos e conhecer outras pessoas, sem precisar se preocupar com interferências indesejadas.

Entre o fim da década de 1960 e a década de 1970, com a influência dos levantes populares no cenário internacional, principalmente após a Revolta de Stonewall (28 de junho de 1969) nos Estados Unidos, começaram a surgir no Brasil grupos de gays e lésbicas com discursos críticos ao machismo e à homofobia. O Grupo Somos e publicações como a revista Gente Gay (1976) e Lampião da Esquina (1978) tiveram um papel importante na difusão das novas discussões que se estabeleciam. Os movimentos de contracultura, pautados na liberdade individual, ampliavam as discussões sobre sexualidade e identidade ao trazer para o público performances artísticas que questionavam os papéis conservadores de gênero e sexualidade. Destaque para a Tropicália, Ney Matogrosso e Dzi Croquettes (figura 10) que concomitantemente ao retorno e explosão dos shows de travestis, criaram novas linguagens que se tornariam referências para o público homossexual na época.

Figura 11 Ferro's Bar Fonte: Music Non Stop

contextualização

Inaugurada nos anos 1960, a Galeria Metrópole (figura 8), anexa à Praça Dom José Gaspar, se tornou o ponto mais frequentado pela população homossexual de mais diversas classes na cidade. Nessa época se popularizavam os shows de travestis, que além do entretenimento abriam a discussão de debates sobre gênero. Porém em 1964, ao ser instaurado o golpe militar e posteriormente com o AI-5, a comunidade homossexual sofreu com a perseguição à breve liberdade conquistada até então. Nesse período, operações de “limpeza” foram implementadas, onde aconteciam desde dispersão de aglomerações e prisões arbitrárias contra pessoas ditas “desviantes”. A Operação Tarântula foi uma das mais violentas e tinha como alvo principal mulheres trans e travestis que circulavam pelo centro da cidade.

Em 10 anos a noite gay cresceu expressivamente e assim começaram a surgir os primeiros bares para o público lésbico, sendo o Ferro’s Bar, na rua Martinho Prado (figura 9) o expoente nesse segmento. Porém, a repressão da ditadura e as constantes batidas policiais tornaram a região da Galeria Metrópole pouco segura para os homossexuais, isso fez com que houvesse um fluxo dos encontros para a Rua Nestor Pestana, que também não perdurou muito devido ao tráfico de drogas na área, fazendo com essa população fosse expulsa e se passasse a se apropriar do Largo do Arouche e da Avenida Vieira de Carvalho. O Arouche desde os anos 50 já era ocupado por homossexuais e era palco de discrepâncias sociais, de um lado, próximo do largo e dos bares e restaurantes mais refinados encontravam-se os gays de classe média e alta, enquanto nas proximidades da Praça da República localizavam-se os estabelecimentos mais comuns frequentados por prostitutas, michês, homossexuais de classe baixa, negros e migrantes. Os termos “boca do luxo” e “boca do lixo” era usados pra denominar a divisão territorial existente ali.

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PÇ. REPÚBLICA / ANHANGABAÚ LG. PAISSANDÚ / PQ. LUZ afetos velados praças e banheiros públicos hotéis e pensões footing

1930 AV. SÃO JOÃO / REPÚBLICA cinemas de rua cena noturna

1960 GALERIA METRÓPOLE praça d. josé gaspar golpe militar repressão stonewall (eua) contracultura JARDINS E AV. PAULISTA novo eixo noturno

1970 nem toda casa é abrigo

revolução sexual FERRO’S BAR restrição dos lgbt nos espaços públicos AROUCHE X VIEIRA DE CARVALHO distinção de classes operação limpeza degradação da área central

1980 RUA AUGUSTA ápice da vida norturna aids reclusão

1990 AV. PAULISTA 1ª PARADA LGBT SP cena drag queen

2000 CENTRO festivais e feiras lgbt internet / apps MUSEU DA DIVERSIDADE festas de rua blocos de carnaval candidaturas lgbtia+

No fim dos anos 1960 surgiam as primeiras boates e discotecas na cidade, voltadas ao público de classe média e alta. Na década seguinte, com o processo de degradação da região central e o aumento das desigualdades econômicas, novas centralidades se estabeleciam na cidade em direção aos Jardins e à Avenida Paulista, e muitos estabelecimentos frequentados pelo público homossexual seguiram esse movimento, enquanto o público marginalizado passava a ocupar a Rua Marquês de Itu. A repressão às populações dissidentes nunca foi efetiva. Como se pôde observar, a consequência foi um espalhamento das territorialidades homossexuais pelo centro da cidade. Da mesma forma, a prostituição não teve fim com a repressão, já que devido ao esvaziamento do centro e à acentuação das desigualdades sociais, muitas travestis e homossexuais que trabalhavam na noite viram nesse mercado a única forma de sobrevivência. A vida noturna gay na cidade de São Paulo teve seu ápice nos anos 1980 com a abertura de bares e boates, principalmente na Rua Augusta que marcava o eixo Centro-Jardins. Nessa época, as portas dos eventos ficavam cheias de gente que, além de irem às festas, esperavam para ver as chegadas performáticas (figura 11) de travestis e homossexuais que vinham fabulosos para aproveitar a noite. Porém, no fim da década de 1980, a AIDS desestabilizou os avanços alcançados pela comunidade até então, desmontando o debate da liberação sexual e depositando ainda mais estigmas sobre esses corpos. Após muita luta do ativismo LGBTIA+ e de aliados à causa, a comunidade conseguiu alcançar visibilidade e trazer à sociedade um pouco mais de clareza sobre a doença. Isso fez com que as pautas se tornassem mais unificadas e a partir desse alinhamento começaram a ser organizados eventos e manifestações públicas, como a primeira Parada LGBT de São Paulo – na época denominada Parada do Orgulho GLBT – em 1996, partindo da Avenida Paulista em direção à Praça Roosevelt, conectando simbolicamente as novas e velhas territorialidades. Atualmente a Parada do Orgulho LGBT de São Paulo figura entre as maiores do mundo, atraindo, além de turistas, também empresas interessadas nas questões de diversidade, promovendo a amplificação das vozes dos debates atuais. Pensando além dessa heterotopia, as eleições dos últimos anos se mostraram decisivas no que diz respeito à representatividade política através de pessoas LGBTIA+. Nos últimos processos eleitorais têm sido crescente o número candidaturas e de pessoas eleitas que se declaram abertamente LGBTIA+. No ano de 2018, 160 parlamentares foram eleitos e agora em 2020, ao menos 75 pessoas LGBTIA+ alcançaram a candidatura nas eleições municipais por todo o Brasil.


contextualização

Figura 13 A atriz Wilza Carla descendo a Rua Augusta montada em um elefante para chegar uma festa da Boate Medieval. Fonte: Folha de São Paulo e São Paulo em Hi-Fi

Figura 14 A Parada do Orgulho LGBT de São Paulo toma a Av. Paulista e atrai mais de 2,5 milhoês de pessoas. Fonte: Folha de São Paulo.

27


terreno proposto territórios consolidados

A República compreende uma série de locais de convivência da população LGBTIA+, como o Largo do Arouche e Avenida Vieira de Carvalho que desde os anos 1950 conformam territorialidades LGBTIA+. Mais recentemente, novos pontos de encontro têm se conformado entre a juventude LGBTIA+ que ocupa, principalmente, as baladas, bares e calçadas nos entornos das ruas Dr. Cesário Mota Jr e Major Sertório e da Praça Roosevelt, esta última se tornou um dos principais espaços públicos de encontro no centro depois da reforma realizada em 2012.

CIDADE DE SP

3

pça. da república

4

av. são luís

5

galeria metrópole/ pça. d. josé gaspar

6

r. augusta

7

r. frei caneca

8

r. rêgo freitas / r. general jardim novos territórios

9

pça. roosevelt

10

r. dr. cesário mota jr / r. maria borba

11

r. major sertório / r. araújo

12

r. álvaro de carvalho centro de referência da diversidade equipamento de saúde DST/AIDS equipamento de saúde mental estação de metrô terminal de ônibus vias principais ciclofaixas

SUBPREFEIRURA DA SÉ

Figuras 15 e 16 (acima) Mapas de localização na cidade de São Paulo. Fonte: Elaborado pelo autor. Figura 17 (pág. seguinte) Mapa das territorialidades LGBTIA+. Fonte: Elaborado pelo autor com base em dados do Geosampa e da pesquisa Pisa Mais! (CONTARIM, 2018)

28

av. vieira de carvalho

av. an

nem toda casa é abrigo

O terreno selecionado para a implantação da proposta localiza-se na Rua Amaral Gurgel, esquina com a Rua Marquês de Itu, de frente para o Elevado João Goulart – o Minhocão. Com 60 metros de largura e 35 metros de profundidade, o terreno irregular de 1530m² é composto pela união de cinco lotes, onde inicialmente existiam um estacionamento na esquina, um edifício residencial de quatro pavimentos e dois galpões, na Rua Marquês de Itu, e dois estabelecimentos comerciais com sobreloja, na Rua Amaral Gurgel.

2

ica

Região central de São Paulo, subprefeitura da Sé, à leste do distrito da Consolação, localiza-se o distrito da República. Devido ao entrelaçamento histórico com a população LGBTIA+ citado anteriormente e às efervescentes cenas cultural e noturna da região, a República é o distrito escolhido para a implantação deste projeto. O polígono compreendido entre o Largo do Arouche, a Praça da República, o Largo do Paissandu, a Praça Dom José Gaspar e a Praça Roosevelt é o espaço que marca a maior parte dos fluxos LGBTIA+ desde os anos 30 no centro de São Paulo, por isso, parece extremamente pertinente pensar a proposta de uma edificação voltada à esse público dentro deste perímetro.

lgo. do arouche

gél

O LOCAL

1

da io o tér laçã i m ce onso c


1,5km

TERRITORIALIDADES LGBTIA+

1km

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LARGO DO AROUCHE

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1

o LARGO DO PAISSANDÚ

PRAÇA DA REPÚBLICA

2

minhocão

santa casa

contextualização

0,5km

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PRAÇA ROOSEVELT

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PRAÇA DOM JOSÉ GASPAR

va le

11

an

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8


R. MARQUÊS DE ITU

MINHOCÃO


contextualização

VISTA DO MINHOCÃO

R. AMARAL X R. MARQUÊS DE ITU

Figuras 18 e 19 (pág. anterior) Vistas de satélite. Fonte: Google Earth. Figuras 20 e 21 (acima) Vistas do terreno. Fonte: Google Earth.

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LOCAL DE INTERVENÇÃO

nem toda casa é abrigo

DEMOGRAFIA, USOS E OCUPAÇÕES DO SOLO O entorno é marcado pela presença de edifícios verticais residenciais e comerciais de médio e alto padrão, sendo majoritariamente residenciais à oeste, nos bairros de Santa Cecília e Higienópolis. Uso misto e fachada ativa são características presentes em grande parte das edificações do entorno imediato, isso traz às ruas mais vitalidade e maior sensação de segurança, já que muitos estabelecimentos como bares e restaurantes permanecem abertos após o horário comercial. Mesmo se tratando de uma área verticalizada, o entorno conta com um considerável número de lotes ocupados por estacionamentos e edifícios de até 3 pavimentos. Segundo Censo 2010, a densidade demográfica média do distrito da República é de 24,774 hab./km², um índice relativamente baixo. As áreas de maior densidade se concentram à noroeste do recorte em questão, enquanto à sudeste encontra-se densidades mais baixas, atrelado à maior presença de áreas comerciais. A região também apresenta índices de vulnerabilidade social que variam de baixíssimo para baixo, no sentido sudoeste para nordeste. Em contraponto, dados da Pesquisa Censitária da População em Situação de Rua realizada na cidade de São Paulo em 2019 mostram que cerca de 1800 pessoas vivem em situação de rua no distrito da República e estima-se que durante o ano de 2020, devido à pandemia, esse índice tenha crescido consideravelmente.

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Figura 22 Vista do Minhocão no cruzamento com a Rua Marquês de Itu (na parte inferior). Fonte: Estadão


MOBILIDADE Por estar situado na região central, o lote conta com grande oferta de modais de transporte e grandes vias que permitem a conexão com as diversas regiões da cidade. Encontram-se no raio de 1km as estações de metrô: República, Santa Cecília, Higienópolis-Mackenzie e Anhangabaú; os terminais de ônibus: Amaral Gurgel, Princesa Isabel e Bandeira; os eixos viários: Elevado João Goulart (Minhocão), Rua da Consolação, Av. São João, Av. 9 de Julho e a Av. 23 de Maio (Corredor Norte-Sul); além de ciclovias e pontos de aluguel de bicicletas.

contextualização

Diante de tamanha diversidade de acessos, a opção por veículos particulares se faz pouco relevante, consequentemente a demanda por áreas de estacionamento inclusas no projeto não se justificaria.

Figura 23 Recibo com o valor pago pelo serviço de retirada de pessoas em situação de rua das proximidades de um edifício na Rua Amaral Gurgel. Fonte: UOL

Figura 24 Baixio do Minhocão com lambelambe da série "Giganto" da fotógrafa Raquel Brust,na esquina com a Rua Major Sertório. Foto: Danilo Verpa/ Folhapress

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EQUIPAMENTOS EXISTENTES Devido à alta consolidação do tecido urbano no Centro, o entorno da área de estudo é atendido por uma ampla oferta de equipamentos, principalmente culturais, mas também de saúde, assistência social e educação. Quanto aos equipamentos culturais, encontra-se majoritariamente teatros, espaços culturais e alguns museus, dentre estes, o Museu da Diversidade, situado num espaço bastante restrito, quase escondido, no subsolo da estação República do metrô. Na área da educação, existem poucos equipamentos e predomina a rede privada, com destaque para a Escola da Cidade, faculdade de arquitetura e urbanismo com enfoque nas questões urbanas da metrópole. Na mesma rua – General Jardim – localiza-se o IAB (Instituto de Arquitetos do Brasil) e o Instituto Pólis (Instituto de Estudos, Formação e Assessoria em Políticas Sociais). As três instituições têm o caráter difusor de discussões a respeito da cidade e da cidadania, interseccionando distintas áreas do conhecimento através de temas como o direito à cidade, a luta por moradia, os recortes de gênero, raça e classe dentro do espaço público, etc.

nem toda casa é abrigo

Na área da saúde, o principal equipamento é o Hospital Santa Casa de Misericórdia, um dos mais importantes da cidade. Mas considerando o recorte de atendimento ao público LGBTIA+ em situação de vulnerabilidade, alguns equipamentos relevantes podem ser apontados, como o Centro de Referência e Defesa da Diversidade (CRD) que conta com o Grupo pela Valorização, Integração e Dignidade do Doente de Aids de São Paulo, além de promover oficinas e cursos profissionalizantes para a população LGBTIA+ e em situação de rua. Além disso, o distrito da Sé conta com 5 unidades de saúde com atendimento psicossocial e 2 unidades voltadas às demandas de HIV/AIDS – CTA Henfil (Centro de Testagem e Aconselhamento) e o CTA/SAE Campos Elíseos (Serviço de Assistência Especializada). Algumas casas de acolhida voltadas ao público LGBTIA+ – e que serviram como referência e objeto de pequisa para o desenvolvimento de trabalho – também estão localizadas nos distritos vizinhos, como a Casa 1, na Bela Vista, a Casa Florescer, no Bom Retiro e a Casa Chama, na Sé.

Figura 25 Parada do Orgulho LGBT de São Paulo, 2018. Fonte: UOL.

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SERVIÇO

CTA HENFIL - CENTRO DE TESTAGEM E ACONSELHAMENTO Serviços disponíveis: Autoteste Rua Libero Badaró, 144, Centro - SP Tel: (11) 3241 2224 E-mail: ctahenfil@prefeitura.sp.gov.br CTA/SAE CAMPOS ELÍSEOS - CENTRO DE TESTAGEM E ACONSELHAMENTO E SERVIÇO DE ASSISTÊNCIA ESPECIALIZADA DST/AIDS Serviços disponíveis: - Autoteste; - Profilaxia Pré-Exposição (PrEP) - Testes laboratoriais de hepatites B e C, HIV e sífilis; - Teste rápido de HIV. Av. Cleveland, 374, Campos Elíseos - SP Tel: (11) 3331 1317 E-mai: saeceliseos@gmail.com

contextualização

CENTRO DE REFERÊNCIA DA DIVERSIDADE (CRD) Endereço: Rua Major Sertório, 292, República - SP Telefone: (11) 3151-5786 E-mail: crd@crd.org.br

CASA 1 Rua Adoniran Barbosa, 151, Bela Vista - SP Site: www.casaum.org E-mail: centrocasaum@gmail.com Instagram: @casa1 CASA FLORESCER Rua Prates, 1101 - Bom Retiro – SP Telefone: (11) 3228-0502 E-mail: cadiversidade@gmail.com Instagram: @casaflorescer_ CASA CHAMA Rua Caetés, 440, Perdizes – SP Telefone: (11) 2565 2074 / (11) 99448 2641 Site: www.casachama.org/ E-mail: casachama440@gmail.com Instagram: @casachama_org

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ESPAÇOS PÚBLICOS E ÁREAS VERDES A região central da cidade é repleta de espaços públicos, porém carece de áreas verdes de modo geral. Na contramão da regra, a Praça da República e o Largo do Arouche, conectados pela Avenida Vieira de Carvalho, conformam uma grande área arborizada na região central. Além destas, encontram-se no raio de 1km as praças Rotary, Júlio Mesquita, Roosevelt e Dom José Gaspar, além do Vale do Anhangabaú e do Parque Buenos Aires. O Minhocão (figura 16), que desde 2018 assume o caráter de espaço público ao ser apropriado pelos moradores e visitantes que encontraram no elevado uma nova possibilidade de lazer – abre de segunda à sexta das 20h às 07h e durante todo o fim de semana – atualmente segue com o futuro incerto, uma vez que a Câmara Municipal suspendeu em setembro de 2020 a decisão anterior de transformá-lo em um parque linear, sendo assim está previsto para 2021 um plebiscito municipal que deve decidir se a via expressa se tornará o Parque Minhocão ou se continuará conectando as zonas leste e oeste da cidade.

nem toda casa é abrigo Figura 26 Minhocão ocupado por pedestres no fim de semana. Fonte: Veja São Paulo.

Figura 27 Lago no interior da praça da República. Foto: José Cordeiro.

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LEGISLAÇÃO URBANÍSTICA E O FUTURO DA ÁREA As principais legislações incidentes sobre a área propõem o adensamento e a diversificação de usos na região central, além da promoção do aumento de áreas verdes e conexão com os modais de transporte coletivo, reduzindo a demanda por veículos automóveis individuais. A região já apresenta uma mudança significativa na paisagem decorrente das novas diretrizes urbanísticas e do processo de gentrificação, que vem alterando o perfil de muitos estabelecimentos comerciais acompanhado do surgimento de grandes empreendimentos imobiliários ao longo do eixo do Minhocão. ZONEAMENTO: ZEM - ZONA EIXO DE ESTRUTURAÇÃO DA TRANSFORMÇÃO METROPOLITANA

TABELA 2 - ÁREAS NÃO COMPUTÁVEIS Áreas cobertas de estacionamento

Residencial

Não residencial

1 vaga/unid. de habitação

1 vaga/70m² área computável

Fachada ativa (mínimo de 25% de cada testada e de 3m de ex-tensão)

50% da área do lote

Uso misto com fachada ativa

20% da área construída computável total

Usos não residenciais no EHIS

Limite de 20% da área construída computável total

HIS por cota solidariedade Vestiário de usuários de bicicletas Salões de Festas; Cinemas; Teatros e Anfiteatros; Salas de espetáculos; Auditórios para convenções, congressos e conferências, Museus; Creches; Educação e cultura em geral Cota adicional: empreendimentos formados pelo remembramento de 3 ou mais lotes já existentes, que atinjam o mínimo de 1.000m², terão direito a uma área construída adicional autorizada, livre de contrapartida, correspondente a 10% da área do terreno resultante por lote remembrado até o limite de 100% Áreas comuns de circulação (até 20% do pavimento) Áreas comuns de até 3 pavs. (térreo + 2 em edifícios de uso misto) Uso comercial no térreo + pavimentos em sobreloja até 20% da área computável total em empreendimentos de uso misto Elaborado pelo autor com base na legislações citadas

OPERAÇÃO URBANA CENTRO (OUC) - CA máximo = 6* - Cota adicional Adicional de 10% da área do terreno resultante do remembramento de lotes (área mínima de 1000m² formados por 3 ou mais lotes) PIU SETOR CENTRAL Para eixos de transformação:

contextualização

Prevê incentivos para: - uso misto - altas densidades demográfica e construtiva - qualificação paisagística e de espaços públicos - articulação com o sistema de transporte coletivo e com infraestrutura urbana

- passeio público: largura mínima de 8m - fachada ativa em 25% da testada - vedação com muros limitada a 25% da testada - fruição pública para lotes com frente para mais de um logradouro.- vedação com muros limitada a 25% da testada - fruição pública para lotes com frente para mais de um logradouro. TABELA 3 - PARÂMETROS DE OCUPAÇÃO Coeficiente de aproveitamento (CA)

OUC*

6

máximo

2

básico

1

mínimo

0,5

Taxa de ocupação (TO) Gabarito máximo Recuos** Cota parte máxima

0,7 Não se aplica* fundo

3m

lateral

3m 20

Elaborado pelo autor.

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nem toda casa ĂŠ abrigo

4

38


proposta


programa de necessidade O centro de acolhida à jovens LGBTIA+ é a razão norteadora do projeto, como uma resposta às demandas decorrentes da violência cometida contra essa população. Através do abrigo temporário, do acompanhamento psicológico, do atendimento social, de capacitações e processos de formação é possível desenvolver o início de um novo caminho na vida dessas pessoas, mesmo que num curto espaço de tempo. O centro de acolhida tem capacidade para 72 pessoas, em quartos quádruplos com banheiro. nem toda casa é abrigo

Porém considerando o grau de vulnerabilidade em que essas pessoas se encontram se fez necessário pensar além do acolhimento e gerar experiências de reconexões com outras pessoas para o amadurecimento de novas perspectivas de vida. O hostel é um programa contemporâneo que responde bem aos anseios menos tradicionais de quem quer conhecer lugares e pessoas de uma forma mais dinâmica. Por isso, decidiu-se trazer para o projeto esse espaço que poderia proporcionar trocas e ampliar os horizontes de quem está passando por uma mudança tão intensa na vida. O núcleo cultural vem como uma amarração entre o espaço de acolhida, o hostel, os espaços públicos e a cidade, pois através dele – que começa na praça do térreo e vai permeando a fachada sul do edifício até a cobertura – é possível acessar espaços como o auditório, a biblioteca, as áreas de oficina e as recepções do hostel e da residência artística. O intuito de incluir uma residência artística é a de fomentar a cultura LGBTIA+ e a produção de jovens artistas na cidade, e assim como o hostel, proporcionar momentos de troca entre os diversos públicos do edifício. As áreas técnicas como o restaurante, o café, a horta e as salas de oficina são onde é possível desenvolver conhecimentos e habilidades. O restaurante conta com uma cozinha-escola onde os jovens abrigados poderão aprender as atividades realizadas dentro desse ambiente de trabalho, adquirindo experiência profissional durante o período de permanência. Cursos profissionalizantes e de formação também podem ser ministrados e contar com o apoio de materiais disponíveis na biblioteca. As áreas públicas e coletivas são os primeiros pontos de conexão entre a cidade e o que acontece na dentro do prédio, promovendo, mais uma vez, situações de troca entre os usuários.

40


SETOR cultural

serviços

acolhimento

residência artística

hostel

AMBIENTE recepção / lounge praça térreo auditório biblioteca informática espaços multiuso administração jardim praça elevada convivência sanitários depósito refeitório cozinha salas de aula (cozinha-escola) café terraço / mirante bicicletário sanitários depósito recepção / lounge convivência triagem atendimento psicossocial dormitórios cozinha lavanderia administração recepção ateliês pesquisa convivência dormitórios cozinha / lavanderia admnistração varanda recepção convivência (recepção) convivência cozinha / lavenderia dormitórios (8 pessoas) dormitórios (5 pessoas) administração

QUANT

ÁREA 125 350 370 180 60 600 150 380 400 1000 7 60 2 60 390 200 230 150 550 30 5 55 1 60 130 240 200 140 18 38 5 40 5 20 60 50 6 60 120 500 11 28 60 60 300 50 320 400 60 8 45 2 28 60 ÁREA TOTAL

ÁREA TOTAL 125 350 370 180 60 600 150 380 400 1000 420 120 390 200 230 150 550 30 275 60 130 240 200 140 684 200 100 50 360 120 500 308 60 60 300 50 320 400 60 360 56 60

proposta

e es

programa necessidades TABELA 4 -de QUADRO DE ÁREAS

10798

TABELA 5 - LOTAÇÃO MÁXIMA DO EDIFÍCIO lotação máxima do edifício SETOR cultura

serviços

acolhimento

resid. artística

hostel

TIPO auditório biblioteca/informática oficinas/multiuso praças cozinha/refeitório salas de aula café terraço hospedagem atendimento convivência hospedagem estúdios convivência hospedagem convivência

CLASSE (NBR 9077) F-2 F-1 E-2/3/4 F-8 E-2 F-8 B-1 D-1 B-1 F-1 B-1 -

PESSOAS/M² ÁREA (m²) 1/m² 370 1/3m² 260 1/1,5m² 600 9/m² 750 1/m² 750 1/1,5m² 230 1/m² 150 3/m² 550 1/15m² 1230 1/7m² 415 3/m² 400 1/15m² 680 1/3m² 725 3/m² 280 1/15m² 860 3/m² 340 POPULAÇÃO MÁXIMA

Q. PESSOAS 370 120 400 6750 750 150 150 1650 82 60 1200 45 240 840 58 1020 3545

41


setorização

APOIO

CAFEDECK MIRANTE

QUAR T O S QUARTOSQUARTOS QUARTOS QUARTOS

HORTA

AREAS LIVRES

nem toda casa é abrigo

CONVI VENCIA REECPCAO REECPCAO QUARTOS AT E L I E S

ESTUDOS BIBLIOTECA INTERNET RESTAURANTE-ESCLOLA COZINHA ATENDIMENTO ADMOFICINAS/MULTIUSO CONVIVENCIAMINHOCAO

RESTAURANTE AUDI T ORI O TRIAGEM

PRACA

RECEPCAO

42


º

10

9º 8º 7º 6º

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proposta

11º

fé Ca k c De nte a Mir ta r o H

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43


volumetria e circulações nem toda casa é abrigo

Devido à pouca profundidade do terreno e à necessidade de verticalização do programa, chegou-se à forma inicial de um edifício em lâmina, afastado dos fundos, de modo a garantir a ventilação cruzada e insolação nas fachadas leste e oeste. As circulações internas estão voltadas para os fundos do lote de modo a permitir maior liberdade das plantas. Manter um espaço mais reservado é uma necessidade do núcleo de acolhimento, por isso optou-se por dividir o edifício verticalmente, mantendo um eixo único que atendesse à essa parte do programa, mas mantendo os fluxos com as áreas públicas. Devido à complexidade do programa e às diferentes necessidades de acesso, as circulações foram divididas em três momentos: - público: livre acesso entre vias e praças através das escadas fixas e rolantes e do elevador público; - semi-público: controlado pela recepção principal do edifício e pelas recepções secundárias do hostel e da residência artística, esse conjunto vertical conforma a circulação pelo eixo cultural; - privado: toda a circulação interna do núcleo de acolhimento, do hostel e da residência artística. Para tanto, foi necessário pensar em controles de acesso em pontos estratégicos onde ocorre a transição para áreas privativas. Os bloqueis representados no diagramas são paredes que dividem os corredores entre a área do abrigo e a de outros usos. Permitindo a possibilidade de se ocupar o edifício de outras formas no futuro.

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blo

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proposta

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viga vierendeel

nem toda casa é abrigo

viga vierendeel

A estrutura do edifício foi pensada com o intuito de permitir grandes vãos sem a interferência de muitos pilares de forma a garantir maior flexibilidade na forma de ocupar os espaços. Uma boa solução encontrada foi a adoção de uma viga vierendeel metálica, no pavimento da biblioteca, que suporta os três pavimentos inferiores pendurados, com o apoio de 4 pilares principais, e de onde nascem pilares secundários para os pavimentos superiores. Essa viga também define a modulação de todo edifício com vãos de 7,5 metros de largura que se desmembram em módulos menores de 1,25 metro. Para vencer essas grandes áreas foram utilizadas lajes alveolares pré-fabricadas de concreto protendido que garante esbeltez e resistência com um consumo reduzido de material. Na lateral do auditório foi usada outra viga vierendeel, com módulos de 5 metros, que sustenta toda a face sul do edifício.

5,0

46

m


viga vierendeel

proposta

FACE SUL

FACE OESTE

47

viga vierendeel


relação com

nem toda casa é abrigo

48


proposta

o entorno

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térreo 5

nem toda casa é abrigo

A presença do Minhocão cria ambientes desconfortáveis no nível térreo, devido ao sombreamento causado pela estrutura. Por isso, foram pensadas formas de alargar o ambiente da calçada, tanto horizontal, quanto verticalmente. A conformação do térreo, com as fachadas diagonais em relação ao alinhamento da via, cria áreas recuadas que convidam os pedestres aos acessos e à praça que se estende aos fundos do lote. Grandes portas deslizantes permitem que o térreo seja mais aberto ou mais restrito, de acordo com as atividades desenvolvidas no espaço.

4

2

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1. recepção geral 2. recepção núcleo de acolhimento 3. praça / área expositiva 4. deck 5. jardim 6. bicicletário

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nem toda casa ĂŠ abrigo

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proposta

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proposta

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tĂŠrreo

nem toda casa ĂŠ abrigo

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proposta


praça/auditór Próximo à calçada nasce uma escadaria em direção ao 1º pavimento. Este mantém o caráter público da rua através de uma praça aberta, no mesmo nível do Minhocão, e se conecta a ele por uma passarela que permite o fluxo contínua entre de pessoas entre o elevado e o edifício. Na praça elevada também se encontra o acesso ao auditório para 255 pessoas. A porta atrás do palco transforma o público do Minhocão em plateia, seja com projeções sobre a porta fechada ou assistindo à espetáculos no palco, quando aberta. Criando uma conexão mais íntima com a cidade através da arte, assim como já fazem coletivos de artistas como o grupo Esparrama pela janela, que realiza espetáculos da janela de um apartamento.

nem toda casa é abrigo

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proposta

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1. praça 2. espaço de convivência 3.auditório

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20

59


praça minhoc

nem toda casa ĂŠ abrigo

60


proposta

cĂŁo

61


atendimento/ adm/oficinas auditĂłrio I

H

E

G

nem toda casa ĂŠ abrigo

1 2 corte aa

I

62

H

G

E


/ s/

E

E

A

2

proposta

corte bb

C

3 corte aa

1

corte bb

4

A

C

0

5

10

1. atendi. psicossocial 2. admnistrção 3. oficinas/multiuso 4. auditório

15

20

63


restaurante I

H

E

G

nem toda casa ĂŠ abrigo

4

3

1

2

corte aa

I

64

H

G

5

E


E

A corte bb

C

2

proposta

6

corte aa

1 7

corte bb

E

A

C

0

5

10

1. preparo 2. lavagem 3. utensílios 4. estocagem e câmara fria 5. restaurante 6. convivência 7. deck / mirante

15

20

65


restaurante-e I

H

nem toda casa ĂŠ abrigo

2 corte aa

F

G

E

3

1

4

5

I

66

H

G

E


E

D

C

B

A corte bb

escola 6

proposta

2

corte aa

1

corte bb

E

A

C

0

5

10

1. cozinha pedagĂłgica 2. convicĂŞncia 3. sala de aula 4. estoque de equipamentos 5. sala dos professores 6. depĂłsito

15

20

67


biblioteca I

H

G

nem toda casa ĂŠ abrigo

F

E

F

E

4 5

corte aa

6

I

68

H

G


E

D

B

C

A

corte bb

E

4

7

3

4

2 4

proposta

1

3 corte aa

2

corte bb

1

D

B

C

A

1. recepção/informações 2. internet livre 3. acervo 4. área de estudos 5. depósito 6. deck 7. área livre

0

5

10

15

20

69


residĂŞncia art

nem toda casa ĂŠ abrigo 1

corte aa

1

1

1

5

I

70

H

G

F

E


E

corte bb

tística 4

4

6 2

3

1

2

1

proposta

3

corte aa

corte bb

1

D

B

C

A

1. ateliê 2. pesquisa 3. convivência 4. administração 5. deck 6. área livre

0

5

10

15

20

71


abrigo/residê artística nem toda casa é abrigo

3

2

corte aa

1

I

72

H

1

G

1

4

F

4

E


E

corte bb

ência 6

4 5

2

proposta

3

7 4

4

4

corte aa

4

1

corte bb

4

D

B

C

A

abrigo 1. dormitório 2. cozinha 3. lavanderia resid. artística 4. dormitório 5. convivência 6. cozinha 7. área livre

0

5

10

15

20

73


abrigo/residê artística nem toda casa é abrigo

3

2

corte aa

1

I

74

H

1

G

1

4

F

4

E


E

corte bb

ência 8

4 6

2 5

proposta

3

7 corte aa

4

1 corte bb

4

D

B

C

A

abrigo 1. dormitório 2. cozinha 3. lavanderia resid. artística 4. dormitório 5. recepção 6. área expositiva 7. convivência 8. área livre

0

5

10

15

20

75


abrigo/hostel

nem toda casa ĂŠ abrigo

3

2

corte aa

1

I

76

H

1

G

1

1

F

E


E

corte bb

l

4 6

2 5

4

7

corte aa

6

1 corte bb

4

proposta

3

D

B

C

A

abrigo 1. dormitório 2. cozinha 3. lavanderia hostel 4. dormitório 5. recepção 6. convivência 7. arquibancada

0

5

10

15

20

77


abrigo/hostel

nem toda casa ĂŠ abrigo

3

2

corte aa

1

I

78

H

1

G

1

1

F

E


E

corte bb

l 6

4 5

2

4

4

5

corte aa

1 corte bb

4

proposta

3

D

B

C

A

abrigo 1. dormitório 2. cozinha 3. lavanderia hostel 4. dormitório 5. convivência 6. administração

0

5

10

15

20

79


abrigo/hostel

nem toda casa ĂŠ abrigo

3

2

corte aa

1

I

80

H

1

G

1

1

F

E


E

corte bb

l 6

4 6 5

2

4

4

corte aa

5

1 corte bb

4

proposta

3

D

B

C

A

abrigo 1. dormitório 2. cozinha 3. lavanderia hostel 4. dormitório 5. convivência 6. cozinha 7. área livre

0

5

10

15

20

81


horta/cafĂŠ/m

nem toda casa ĂŠ abrigo

2 1 corte aa

82

3


proposta

corte bb

mirante

4

corte bb

corte aa

1. horta 2. cozinha 3. cafĂŠ 4. deck/mirante

0

5

10

15

20

83


nem toda casa ĂŠ abrigo

84


proposta

elevação oeste rua amaral gurgel

85


nem toda casa ĂŠ abrigo

86


proposta

elevação sul rua mrquês de itu

87


nem toda casa ĂŠ abrigo

5

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referĂŞncias


LIVROS, TESES, REVISTAS E JORNAIS CAMPOS, Marissa Renee. Queering Architecture: Appropriating Space and Process. 2014, 136 p. Tese de mestrado (Arquitetura) – University of Cincinnati, Cincinnati, Ohio, 2014. CARVALHO, Claudio Oliveira e MACEDO, Gilson Santiago Jr. Isto é um lugar de respeito!: a construção heteronormativa da cidade-armário através da invisibilidade e violência no cotidiano urbano. Revista de Direito da Cidade, Rio de Janeiro, 2017 vol. 09, nº 1, p. 103-116, janeiro, 2017. Disponível em: https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/rdc/ article/view/26356/19535. Acesso em 01 abr. 2020. CONTARIM, Fernando Abdo. Pisa mais!: Marcando o Arouche como território de memória queer. 2018. 244 p. Trabalho Final de Graduação (Arquitetura e Urbanismo) – Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2018. COTTRILL, J. Matthew. Queering Architecture: Possibilities of Space(s). Oxford (Ohio) Miami University, 2006 DANILIAUSKAS, Marcelo. Não se nasce militante, torna-se: processo de engajamento de jovens LGBT - panorama histórico na cidade de São Paulo e cenário atual em Paris. 2016. 322 p. Tese (Doutorado em Educação) - Faculdade de Educação, Universidade de São Paulo. São Paulo, 2016.

nem toda casa é abrigo

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referências

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DOCUMENTÁRIOS CARTA Para Além dos Muros. Direção de André Canto. São Paulo, 2019. HOMENS Pink. Direção de Renato Turnes. Florianópolis e São Paulo, 2020. PARIS is Burning. Direção de Jennie Livingston. Nova Iorque, 1990. DISCLOSURE: Trans Lives on Screen (Revelação). Direção de Sam Feder. Los Angeles, 2020. SÃO Paulo em Hi-Fi. Direção de Lufe Steffen. São Paulo, 2013.

91


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