A fotografia e a representação do tempo

Page 1

CENTRO UNIVERSITÁRIO BELAS ARTES DE SÃO PAULO Bacharelado em Artes Visuais, Pintura, Gravura e Escultura

FERNANDA HEITZMAN AM7BAV

Resenha apresentada à disciplina de Poéticas contemporâneas: Linguagem fotográfica ministrada pela Professora Celina Yamauchi para obtenção parcial da nota bimestral.

Fevereiro 2014 São Paulo


ENTLER, Ronaldo. A fotografia e as representações do tempo. Revista Galáxia, n 14. P. 29-46, dez 2007. Revista Convergência. Ronaldo Entler. Disponível em http://convergencias.esart.ipcb.pt/autor/39. ACESSO 13 FEV 2014 Ronaldo Entler nasceu em São Paulo em 1968. É formado em jornalismo pela PUCSP e trabalhou como repórter fotográfico. Entre 1988 e 1996 realizou trabalhos independentes de fotografia. Obteve título de mestre pelo departamento de Multimeios da Unicamp e título de doutor pelo departamento de artes plásticas da ECA-USP. Parte de sua tese do Doutorado contou com diversas pesquisas em museus da Europa e do Canadá, concluiu no departamento de cinema do Instituto de Artes da Unicamp. Atualmente é professor da FAAP ministrando cursos de Fotografia e Multimeios. O texto trata da fotografia bem como um registro do tempo e do espaço. Embora não seja percebida como tal, Ronaldo Entler mostra-nos questões sobre como ver o espaço da fotografia, não só o contexto, mas também onde está inserida e a relação entre eles. O tempo, não só o instante em que foi tirada, mas o antes e o depois do relato. Segundo Ronaldo Entler, a fotografia é um recorte do tempo e do espaço. O momento capturado é uma apreensão de detalhes que não são percebidos no momento em que são vividos, onde é capaz de suscitar e oferecer “contemplação do estático para lembrar daquilo que não está presente”. O instante é uma fração do tempo que o olho percorre no espaço. A relação do espaço se dá quando um é transportado para outro, o tempo então é eternizado, o pretérito se torna presente, dando a fotografia o caráter de documento, diferente do cinema, que possui narrativa. A fotografia está aberta para a interpretação, enquanto que o cinema, muitas vezes, pode ter a leitura fechada. Entretanto, há uma certa dificuldade em compreender o tempo, pois segundo Jacques Aumont, as fotografias são imagens não-temporalizadas, porque, ao contrário do que ocorre no cinema, permanecem idênticas a si próprias no tempo. Porém em seu histórico de criação, a fotografia só poder considerada como inventada quando se tornou controlada e interrompida, pois antes disso, as químicas usadas para sua composição


continuavam a reagir durante o tempo. Então, “a fotografia está ligada a sucessivas tentativas de anulação dos efeitos do tempo”. Portanto, o conhecimento do tempo deve ser resgatado pelo processo de leitura da imagem. O tempo pode ser descrito de várias formas na imagem. Em termos técnicos, combina-se a abertura do diafragma e a velocidade do obturador. Deste modo, é possível registrar o movimento através do borrão em medida de deslocamento, podendo dizer então, que se faz representar pelo acréscimo de uma dimensão espacial. Este borrão foi chamado por Alindo Machado de anamorfose cronotópica e que poderia ser uma ameaça ao realismo, por conta de sua herança pictórica. O borrão demorou para ser assimilado, teve como precursor Jacques-Henri Lartigue, que iniciou sua carreira com sete anos de idade e começou a explorar sua câmera com bastante flexibilidade e se encantou por um mundo que nem sempre podia ser congelado. Já de forma estática, temos o exemplo de Robert Capa, Guerra civil espanhol, 1936 – o impacto que a imagem causa por prolongar o olhar do doloroso momento da morte é também o instante exemplar, o instante-síntese do momento que continua. O que posteriormente, Cartier-Bresson foi chamar de “momento decisivo”. O corte da imagem é considerado um flagrante, enquanto que um pintor constrói uma imagem no decorrer do tempo, o fotógrafo capta tudo de uma vez. Segundo Dubois, um compõe e o outro corta. Porém, a pintura renascentista força a imagem a tornar-se imóvel, pois sua representação perfeita faz com que haja uma imobilização tanto do olho quanto da cena – “uma ordem geométrica simples, equilibrada e bem acabada não exige de nosso olho a consideração de qualquer tipo de deslocamento”. Já o barroco, sem descartar as conquistas do renascimento, resgata da arte grega o movimento interrompido, com composições diagonais e sinuosas. Até chegar ao ponto que obras como de Caravaggio são consideradas fotográficas. Sobretudo, nem a fotografia nem a pintura tem duração, é um fluxo temporal da realidade. Neste contexto, quando é possível decifrar o movimento – um salto, por exemplo – é chamado de denegação, onde a ação acaba por constituir aquilo que foi ocultado. Há também, uma certa gratuidade na fotografia, que não é encontrada na pintura barroca, por exemplo – o registro de momentos e gestos que não se explicam. A fotografia herdou também da pintura um universo autônomo. Mesmo que a imagem faça parte de uma série, cada uma recebe uma atenção especial. A precisão é uma


origem da técnica. Porém sabe-se que o fotógrafo não possui apenas um registro do momento e com isso, o ensaio ganha uma força que pode ser entendida como revelação do processo, por exemplo Galope de Eadweard Muybridge, 1887, que é uma disparidade com uma pequena defasagem de tempo - “a decomposição do tempo em sequencias”. A preocupação com o desajuste desaparece dando lugar a foto-romance – uma forma de exploração tradicional, como de um livro. As cenas são metralhadas e propõe uma narrativa. Por fim, numa outra perspectiva, por que não considerar a relação entre o tempo e a fotografia, a partir da duração do olhar que é dedicado à imagem? Certamente vale para a fotografia aquilo que Hockney observa com relação à pintura: “o filme e o vídeo trazem seu tempo a nós; nós levamos nosso tempo à pintura – é uma profunda diferença que não se perderá” (Hockney, 1991:198). Como um discurso que não impõe sua própria duração, a fotografia se abre para um tempo que será ditado pelo olhar, condensando a superfície imóvel toda sua duração. (ENTLER, p-12)


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.