CENTRO UNIVERSITÁRIO BELAS ARTES DE SÃO PAULO Bacharelado em Artes Visuais, Pintura, Gravura e Escultura
FERNANDA HEITZMAN BM8BAV
Fotografia e o acaso: a expressão pelos encontros e acidentes
Agosto 2014 São Paulo
ENTLER, Ronaldo. Fotografia e acaso: a expressão pelos encontros e acidentes in O fotográfico, organização ETIENNE, Samian. – São Paulo: Hucitec, 1998. Ronaldo Entler nasceu em São Paulo em 1968. É formado em jornalismo pela PUC-SP e trabalhou como repórter fotográfico. Entre 1988 e 1996 realizou trabalhos independentes de fotografia. Obteve título de mestre pelo departamento de Multimeios da Unicamp e título de doutor pelo departamento de artes plásticas da ECA-USP. Parte de sua tese do Doutorado contou com diversas pesquisas em museus da Europa e do Canadá, concluiu no departamento de cinema do Instituto de Artes da Unicamp. Atualmente é professor da FAAP ministrando cursos de Fotografia e Multimeios. Em Fotografia e acaso, Ronaldo Entler diz que o fotógrafo lida com situações que ele não controla plenamente e muitas vezes seu trabalho depende mais de encontrar do que construir a imagem. Para isso repensou os meios fotográficos e conceitos da própria arte. Se um artista deve usar seu gênio absoluto para criar uma obra, ainda assim, ele operará seu repertório ou matéria-prima através de um meio que já define muitas das qualidades de seu produto. (ENTLER, p-283,1998)
Segundo Entler, a fotografia quando inaugurada representava a era da reprodutibilidade tecnológica, caracterizada pela substituição da mão do homem por operações programadas gerando alguns constrangimentos, no sentido de questionar sua validade em confronto com as artes tradicionais, antes mesmo de poder se justificar. O que restava era ver o que ela realmente trazia de novo: a fotografia trabalha a partir da luz, e com frequência isso é colocado como um obstáculo, “toda criação se daria não por meio da técnica fotográfica, mas apesar dela” (ENTLER, p-283,1998). O acaso aparece na vanguarda se firmando como base conceitual para os procedimentos da arte como uma ação que vem de fora para dentro da criação. Os ready-mades de Marcel Duchamp leva ao limite o questionamento da habilidade de execução no dadaísmo. No surrealismo André Breton propõe um relaxamento de todo controle racional. E por último, no expressionismo, Pollock trabalha diretamento com o acaso em sua action painting. As
vanguardas correspondem a um questionamento particular dos valores da arte. Ou seja, mesmo que haja uma intenção prévia, o artista pode se submeter a uma nova coerência imposta pela obra que já foi iniciada, definindo sua estrutura a partir dos acasos. Os caminhos da arte são ilimitados, e contudo, o acaso pode propor outra forma de mecanismo. “Mas qualquer ideia que aproxime conceitos como acaso e eficiência é forte candidata ao contra-senso, já que o acaso nunca está dotado de objetivo e não se submete a nenhuma lógica.” (ENTLER, p-285,1998). Fala-se de eficiência quando se sabe desprezar os acasos inócuos. O problema da obra de arte acidental corresponde, ao observá-lo de perto, ao do valor estético do objeto encontrado [...]. Qual a diferença entre executar uma obra de arte e encontrar alguma coisa que pareça – que possa ser – uma obra de arte? [...] Entendamos que ajudar o acaso e encontrar intenções artísticas no que não é intencional, não é somente dotar a natureza de antropomorfismo, mas também lhe conferir um
caráter
cultural,
atribuir-lhe
tendências
estilísticas
determinantes, vê-la como constantes formativas dadas. (ECO, Humberto. p-286,1998)
Nesse sentido, o fotógrafo recupera fragmentos de visualidade que não tem atenção e análise de observadores e os apresenta em outro contexto. Nesse caso, o acaso aparece como um cruzamento que permite o reaproveitamento. As ocasiões informais foi o caminho que a fotografia encontrou para se livrar do peso do realismo que lhe é constante atribuído, ressaltando a mudança de contexto e o recorte. Além disso, o acaso pode não ser previamente esperado, como em alguns casos, é também todos os momentos que o fotografo não discerniu no recorte que elegeu para sua foto. “O momento captado pela fotografia é sempre esse tempo impensado e aleatório, esse centésimo de segundo destituído de controle, em que o acaso não pode ser abolido por uma intenção” (MACHADO, Arlindo. A ilusão especular. Introdução à fotografia. São Paulo: Brasiliense, 1984, p-43-4). Bavcar e William Klein são exemplos de fotógrafos que souberam reconhecer o acaso como um potencial da fotografia. Bavcar é um fotógrafo que ficou cego e ofereceu um repertório de imaginações e memórias com o
qual trabalha atualmente. William Klein tem certa preferência por situações caóticas e muitas vezes, fotografa sem olhar pelo visor da câmera, valorizando as possibilidades de um “contato sinestésico com seu universo caótico”. Já não é adequado para a arte o desejo de controle absoluto. O universo está em movimento e longe de se esgotar nesse princípio de controle e virtuosismo.