Robert Mapplethorpe

Page 1

CENTRO UNIVERSITÁRIO BELAS ARTES DE SÃO PAULO CURSO ARTES VISUAIS

CARLOS EDUARDO GONÇALVES DA SILVA, CAROLINA VIGNA MARÚ, DEBORAH DE LEMOS, FERNANDA HEITZMAN, ITZE GABRIELA GONZÁLEZ, MARINA CABRAL

ROBERT MAPPLETHORPE

Pesquisa

apresentada

para

a

disciplina

Linguagem

Fotografica II ministrada pelo Prof. Ms. Paulo Angerami pelos alunos da turma am2bav do Curso de Artes Visuais do Centro Universitário Belas Artes de São Paulo, em 21/09/2011.

São Paulo 2011


2

AGRADECIMENTOS

HECTOR GUIÑEZ e corpo técnico do Laboratório de Fotografia do Centro Universitário Belas Artes.


3

"Não é na resignação mas na rebeldia em face das injustiças que nos afirmamos. Uma das questões centrais com que temos de lidar é a promoção de posturas rebeldes em posturas revolucionárias que nos engajam no processo radical de transformação do mundo. A rebeldia é ponto de partida indispensável, é deflagração da justa ira, mas não é suficiente. A rebeldia enquanto denúncia precisa se alongar até uma posição mais radical e crítica, a revolucionária, fundamentalmente anunciadora. A mudança do mundo implica a dialetização entre a denúncia da situação desumanizante e o anúncio de superação, no fundo, o nosso sonho." (FREIRE, 1996: 87)


4

RESUMO Breve análise e releitura da obra de Robert Mapplethorpe, um fotógrafo norteamericano das décadas de 70 e 80, influenciado por precursores da arte contemporânea, que explorou tabus, retratou artistas, flores, entre outros. Mapplethorpe via a fotografia como um objeto artístico, sem ignorar o domínio técnico e formal, sendo assim aclamado como um dos artistas mais importantes do século XX.

PALAVRAS-CHAVE Robert Mapplethorpe, fotografia, erotismo, underground, Nova Iorque

ABSTRACT Brief analysis and reinterpretation of the photographic work of Robert Mapplethorpe, an important American photographer from the 70's and 80's, influenced by the precursors of contemporary art, who explored taboos, portraited artists, flowers, and others. Mapplethorpe saw his photography as an artistic objet, without lefting out a technical and formal domain, being acclaimed as one of the most important artist of the XX Century.

KEY WORDS Robert Mapplethorpe, photography, erotism, underground, New York


5

SUMÁRIO

página

1

2

AGRADECIMENTOS EPÍGRAFE RESUMO / ABSTRACT PALAVRAS-CHAVE / KEY WORDS INTRODUÇÃO

2 3 4 4 6

ROBERT MAPPLETHORPE 1.1 Biografia de Robert Mapplethorpe 1.2 Patti Smith

7 8

A FOTOGRAFIA DE MAPPLETHORPE 2.1 Erotismo e o underground nova-iorquino 2.2 Retratos e autorretratos 2.3 Obras selecionadas

10 11 12

RELEITURA 3.1 Conceito 3.2 Relato e objetivos

17 18

4

CONSIDERAÇÕES FINAIS

19

5

REFERÊNCIAS

20

6

ANEXOS 6.1 Fotografias da releitura 6.2 Relatório de participação

21 25

3


6

INTRODUÇÃO

Este trabalho é sobre o fotógrafo Robert Mapplethorpe, um norte-americano que viveu pela arte, e como consequência tornou-se um dos grandes nomes da fotografia e da arte do século XX. Objetiva apresentar Mapplethorpe além da estética de sua obra e entender sua arte pela sua biografia, paixões e ideias. Mapplethorpe foi estudante de arte, apaixonado pela mesma, e plenamente consciente do seu fazer artístico. O grupo estudou a estética e o clima de suas imagens, e, posteriormente, fez uma releitura fotográfica de algumas. Para este fim foram feitas diversas pesquisas para entender melhor a vida e o pensamento de Mapplethorpe. O estudo está dividido em duas partes: a primeira fala sobre sua vida, influências e o cenário em que viveu. A segunda apresenta sua obra e uma breve análise de 12 fotografias selecionadas pelo grupo que desenvolveu o trabalho, que exemplificam temas da obra do fotógrafo. A terceira parte diz respeito à releitura.


7

1. ROBERT MAPPLETHORPE 1.1 Biografia de Robert Mapplethorpe Robert Mapplethorpe nasceu em 1946 no Queens, subúrbio de Nova Iorque. Em 1970 terminou seus estudos no Pratt Institute, Brooklyn, onde produziu desenhos, pinturas e esculturas e iniciava seus experimentos em outras áreas. Influenciado por artistas como Joseph Cornell e Marcel Duchamp, fez experimentos com vários materiais em mixedmedia colagens, incluindo cortes de livros e revistas. Explorava a ideia de encontrar um objeto e questionar as noções tradicionais de autoria e originalidade, fazendo arte com imagens conseguidas em meios de comunicação de massa. Tais conceitos foram anteriormente produzidos por Man Ray, Duchamp e por Warhol, que era admirado por Mapplethorpe. No mesmo ano passou a usar uma Polaroid e produzir suas próprias fotografias, incorporando-as em suas colagens. Não se considerava um fotógrafo e seu desejo não era tornar-se um, apenas incluí-las em suas colagens. Em 1973 realizou sua primeira exibição solo, Polaroids, na galeria Light em Nova Iorque. Dois anos depois adquiriu uma câmera de médio formato Hasselblad e começou a fotografar seu círculo de amizades: artistas, músicos, socialites, estrelas de filmes pornográficos e membros do S&M (sadomasoquismo) underground. Também trabalhou em projetos comerciais, criando a capa de um álbum de Patti Smith e uma série de retratos e fotos de festas para a revista Interview. Ao final dos anos 70, o interesse de Mapplethorpe em documentar a cena S&M de Nova Iorque estava ainda maior. As fotografias eram notáveis por sua mestria formal, porém chocavam por seu conteúdo. Estava consciente da reação do público, porém o choque não era intencional. Mapplethorpe dizia que não gostava da palavra “chocar” 1, procurava pelo inesperado, por coisas que ainda não havia visto, e se sentia obrigado a retratar o que via. Sua carreira continuava crescendo. Em 1977 participou do Documenta 6 em Kassel, Oeste da Alemanha e em 1978 a galeria Robert Miller em Nova Iorque tornou-se seu exclusivo mecenas. Em 1980 Mapplethorpe conheceu Lisa Lyon, a primeira World Women´s Bodybuilding Champion e passaram a realizar uma série de retratos e fotos de estúdio. Durante os anos 80, produziu um grande número de imagens que, ao mesmo tempo que 1

Informação obtida no site da Fundação Mapplethorpe, seção Biography. Vide referências.


8

desafiava, aderia aos padrões estéticos clássicos: composições estilizadas de nus femininos e masculinos, de delicadas flores e retratos de artistas e celebridades que davam nome a seus gêneros preferidos. Introduziu e refinou diferentes técnicas e formatos, incluindo Polaroids coloridas 20x24”, fotogravuras, platinótipos em papel e linho, cibachromes e impressões coloridas dye transfer. Em 1986, produziu o cenário do espetáculo de dança, Portraits in Reflection, de Lucinda Childs; criou uma série de fotogravuras para o livro A Season in Hell de Arthur Rimbaud, e foi encarregado pelo curador Richard Marshall de retratar os artistas de Nova Iorque para o livro 50 New York Artists. No mesmo ano, 1986, descobriu ser portador do vírus HIV. Em 1988, ano anterior à sua morte, o Whitney Museum of American realizou uma de suas maiores retrospectivas. Em 1988 criou a Fundação Robert Mapplethorpe, sem fins lucrativos, para proteger seu trabalho, avançar sua visão criativa e promover as causas em que acreditava. Além de incentivar a fotografia e projetos artísticos, a fundação financia pesquisas médicas na luta contra o HIV. Devido ao grande número de poderosos e provocativos trabalhos foi consagrado como um dos mais importantes artistas do século XX. Hoje o trabalho de Mapplethorpe está presente em galerias do norte ao sul da América e Europa e seu trabalho pode ser encontrado nas coleções dos maiores museus ao redor do mundo.

1.2 Patti Smith A cantora, compositora, musicista e poetisa Patti Smith nasceu em 30 de dezembro de 1946, na cidade de Chicago, EEUU. Foi durante seu trabalho em uma livraria que conheceu Robert Mapplethorpe, ambos jovens e passando por dificuldades financeiras. Smith, que tinha inicialmente o objetivo de ser professora de Artes, é responsável por relatar e imortalizar em seu livro Só Garotos (Companhia das Letras, 2010), não apenas seu romance com o fotógrafo, mas também os anseios dos dois jovens aspirantes artistas, as inquietações pessoais e o desenvolvimento do trabalho do jovem Mapplethorpe. Smith relata o início inocente de seu namoro com Mapplethorpe, as descobertas em relação à sexualidade do fotógrafo, o envolvimento do rapaz com o universo gay sadomasoquista nova-iorquino, e os problemas de saúde decorrentes do HIV contraído por Mapplethorpe.


9

―[...] Mesmo tendo dito que não havia com que se preocupar, ele parecia estar se aprofundando no submundo sexual, que passou a retratar em sua arte. Parecia atraído pelo imaginário sadomasoquista — 'não tenho certeza do que tudo isso significa — só sei que é bom', e me descreveu trabalhos intitulados Calças justas para trepar e desenhos em que ele havia dilacerado personagens sadomasoquistas com um estilete. 'Pus um gancho onde ficaria o pau, onde vou pendurar aquela corrente com dados e caveiras.' Ele falava em usar curativos sangrentos e pedaços de gaze estrelados. Não era mera masturbação. Ele estava filtrando aquele mundo através de sua própria estética, criticando um filme chamado Male Magazine como 'pura exploração usando um elenco masculino'. Quando foi ao Tool Box, um bar sadomasoquista, achou que era só 'um monte de correntes enormes e porcarias na parede, nada realmente excitante', e pensou em projetar um lugar como aquele.‖ (SMITH, 2010: 84) No decorrer de sua história junto ao fotógrafo, a cantora revela a paixão e conhecimento do companheiro sobre o universo das artes, a influência das obras de Michelangelo, do dadaísmo e do surrealismo em seus desenhos e gravuras, e a admiração de Mapplethorpe por artistas como William De Kooning e Andy Warhol. ―No começo de junho2, Valerie Solanas atirou em Andy Warhol. Embora tendesse a não ser romântico com relação aos artistas, Robert ficou muito abalado com o fato. Ele adorava Warhol e o considerava o artista vivo mais importante. Foi o mais próximo da idolatria de um herói que chegou na vida. Respeitava artistas como Cocteau e Pasolini, que misturavam vida e arte, mas, para Robert, o mais interessante de todos era Warhol, documentando a mise-enscène humana em sua Factory prateada.‖ (Ibid: 71) Smith e Mapplethorpe, apesar do fim do relacionamento, continuaram grandes amigos e confidentes. Mapplethorpe é o responsável pela capa do primeiro disco de Patti Smith, Horses, de 1975, que consagra a cantora como uma das mais influentes mulheres da cena inicial do punk rock norte-americano e o fotógrafo como um dos mestres da fotografia do século XX.

2

1968


10

2. A FOTOGRAFIA DE MAPPLETHORPE 2.1 Erotismo e o underground nova-iorquino A elétrica e emotiva potência do amor e Eros, que influenciou muitos maneiristas, aparece no trabalho de Mapplethorpe, cujo trabalho, muitas vezes chocante, transmite completa força. Apaixonado pelo corpo humano em sua questão criativa e sensual, Mapplethorpe compunha sua fotografia como sendo uma maneira escultórica. Buscava a perfeição formal clássica em cada assunto abordado. Suas fotos possuem uma tensão escultural dotada de ambiguidade erótica. No final da década de 60 e começo da 70, justapôs imagens de monumentos neoclássicos, algumas de seu próprio corpo nu, onde a posição da figura humana imitava exatamente a de uma estátua clássica. Ele combina a excelência escultural com a precisão fotográfica. Contracultura é um termo usado para descrever uma política de oposição ou um grupo que não segue as normas de uma determinada sociedade. No século XIX, a contracultura incluiu o Romantismo, a Boemia e os Dandy. Já no século XX, o movimento apareceu de uma forma mais fragmentada, incluindo a Geração Beat seguida pelos hippies e manifestantes antiguerra do Vietnã. Influenciou os movimentos sociais, a arte e a sociedade em geral. Aparência não convencional, músicas, drogas, experiências comunitárias e liberdade sexual foram as suas marcas a partir do século XX. O objetivo era buscar a liberdade sexual e de expressão, a igualdade e a felicidade. A Pop Art chegou ao seu ápice nos anos 50, com o intuito de propor a admissão da crise da arte no século XX e demonstrar com suas obras a massificação da cultura popular capitalista. Um de seus precursores foi Lawrence Alloway e seus principais representantes foram Andy Warhol, Roy Lichtenstein, Claes Oldenburg, James Rosenquist e Tom Wesselmann. Deslumbrado e muito influenciado pelas características do underground em Nova Iorque, Mapplethorpe conviveu com Andy Warhol, um de seus maiores ídolos. Apesar de já ter-se iniciado na fotografia, foi neste momento que Mapplethorpe ganhou maior reconhecimento e produziu mais. Dentro de suas séries estão incluídos os Nus, que geraram grande polêmica por conta de seu conteúdo chocante carregado de erotismo e cenas de casais homossexuais, bondage, entre outros. Retratou também uma série de estudo de flores, que


11

certamente faziam alusão à sexualidade; retratos de artistas e membros da nobreza que intitulou de Self Portraits.

2.2 Retratos e Autorretratos Os primeiros retratos do artista foram feitos com uma câmera Polaroid, com predomínio do preto e branco, sendo autorretratos e uma série de retratos realizados com Patti Smith, musa do artista ao longo da sua vida. Nos anos 80, a obra de Mapplethorpe evoluiu para temas mais formais e de beleza clássica. Foi nesta época que seus trabalhos começaram a tratar a temática de flores e esculturas. Lisa Lyon, que era também praticante do sadomasoquismo, posou diversas vezes para a câmera do artista e com ela o fotógrafo experimentou uma ampliação visual do seu repertório. Mapplethorpe registrou mais de 100 fotografias de retratos de mulheres que combinam a força masculina com a graça feminina. Nelas podemos ver a diferença entre a cultura e a natureza, característica da engenhosa criatividade e personalidade do artista. Em seus retratos define as características dos seus modelos em termos do seu conhecimento do corpo humano. Sua manifestação artística baseava-se mais em uma espontaneidade fundamental do que na expressão do rosto. Nos seus retratos ele relaciona o momento expressivo e sua relação com a composição da imagem. ―(...) Robert Mapplethorpe (1946-1989) oferece implacáveis retratos ou composições que suscitam o interesse ou rejeição dos temas tratados e até a reprovação oficial por parte das autoridades puritanas nos Estados Unidos. Seus nus masculinos, a junção dos modelos brancos e negros são os mais representativos da sua obra.‖ (SOUGEZ, 2001: 342) A partir do diagnóstico do vírus HIV, Mapplethorpe acelerou seus processos criativos. Neste período a maioria dos seus trabalhos foram autorretratos, pois queria mostrar como a doença deteriorava o seu corpo.


12

2.3 Obras selecionadas

figura 1: Patti Smith, 1978

Retrato de Patti Smith, em uma situação doméstica, o que demonstra a relação íntima com Mapplethorpe. A imagem reflete um pouco da personalidade da cantora, com as roupas rasgadas e o desapego à estética padrão, inclusive pelo ato de cortar o cabelo com despreocupação, semelhante a um momento de rebeldia. O olhar de Smith e do gato ao seu lado estão na mesma direção. A cor do gato assemelha-se aos outros componentes da imagem. Mapplethorpe, sempre conectado com as transformações sociais à sua volta, retrata Smith com simbolismo da luta feminista, usando tanto a imagem da mulher cortando um símbolo de feminilidade, quanto com a metáfora do corte das amarras à sociedade mainstream. Mapplethorpe fez uma série de retratos de celebridades e Warhol, em especial, era um artista que ele admirava e que inspirou a produção de alguns de seus trabalhos. Warhol fazia parte da cena underground de Nova Iorque.

figura 2: Andy Warhol, 1986


13

A série White gauze, de 1984, pode ser interpretada como uma crítica à sociedade norte-americana que, especialmente nesta época, formava guetos com as suas subculturas. A gaze demonstra tanto o fechamento e a união quanto o isolamento dos grupos.

figura 3: White Gauze, 1984

Nesta imagem há o contraste visual entre o homem negro e o branco. Referência aos temas homossexuais abordados por Mapplethorpe: posição, olhos fechados (Ken Moody).

figura 4: Ken Moody and Robert Sherman, 1984

A valorização dos padrões estéticos clássicos está perfeitamente representada nesta imagem, onde o físico do homem nu é considerado perfeito, belo, e a pose é semelhante à de uma escultura clássica.

figura 5: Derrick Cross, 1982


14

A textura no corpo de Lisa Lyon faz alusão ao craquelado de uma escultura, e novamente remete aos padrões estéticos clássicos.

figura 6: Lisa Lyon, 1981

Assim como as fotografias de Patti Smith e Lisa Lyon, esta imagem também questiona o gênero e suas aceitações na sociedade.

figura 7: Self-Portrait, 1980

Das imagens realizadas por Mapplethorpe sobre a cena sadomasoquista, essa é a mais utilizada como referência. Mostra tanto o sadomasoquismo como o homossexualismo, representando a cena do underground novaiorquino vivida pelo fotógrafo. O cenário de uma casa tradicional se contrasta com a figura dos dois homens praticantes de sadomasoquismo, que não era bem visto pela sociedade.

figura 8: Brian Ridley and Lyle Heeter, 1979


15

Como a figura 8, representa a cena sadomasoquista que foi bastante explorada por Mapplethorpe. O tecido ao fundo da imagem e a roupa de látex se relacionam: há semelhança de textura e brilho e oposição tonal.

figura 9: Joe, 1978

A série Flores é caracterizada pela mistura da delicadeza com a tensão sexual. Neste arranjo há também uma alusão ao homossexualismo (as duas flores são idênticas).

figura 10: Tulip, 1985

Retratos de Lady Lisa Lyon. Com esta série, Mapplethorpe captura a relação entre a graça feminina e a força masculina.

figura 11: Lisa Lyon, 1982


16

A série de autorretratos do final da vida de Mapplethorpe é uma vanitas. Sem o objetivo catequisante das medievais, a brevidade da vida se torna ainda mais aparente. A série retrata a deteriorização do fotógrafo pela HIV, que por sua vez mostra uma bengala com uma caveira, símbolo das vanitas medievais. Esta série é composta de várias camadas significantes e a sua mensagem é clara. Ars longa, vita brevis.

figura 12: Self Portrait, 1988 figuras 2, 4, 5, 6, 7, 10 e 113: MAPPLETHORPE, Robert figuras 1, 3, 8, 9 e 12: MAPPLETHORPE, Robert

3

fonte: MAPPLETHORPE FOUNDATION, 2011 fonte: PRODIGIOSO, 2011

A figura 11 estava no portfólio principal do site da Fundação Mapplethorpe na data mencionada nas referências, mas durante a revisão do trabalho, percebemos que foi movida para a seção da exposição no Onassis Cultural Centre (Atenas, Grécia). Em 20 SET 2011, a imagem estava disponível em http://www.mapplethorpe.org/exhibitions/2011-11-01_onassis-cultural-centre/


17

3. RELEITURA 3.1 Conceito A releitura de uma obra de arte é mais uma reflexão do que uma atitude. A leitura de uma obra consiste não apenas dos elementos formais e contextuais mas também da interpretação do fruidor. Naturalmente, se a qualidade desta interpretação depende da compreensão da obra, a releitura é também uma análise que inclui o conhecimento prévio sobre o artista, contexto histórico, tema, técnica e sintaxe visual. Reler uma obra não é algo restrito ao universo acadêmico e a História da Arte está repleta de bons exemplos desta prática. Talvez o mais conhecido seja a série de 44 pinturas de Pablo Picasso baseada no Las Meninas de Diego Velázquez.

Figura 13: Las Meninas de Diego Velázquez, 1656 fonte: Museu do Prado, 2011

Figura 14: Las Meninas de Pablo Picasso, 1957 fonte: Museu Picasso, 2011

Em entrevista concedida ao Boletim Informativo do MARGS, o artista plástico Iberê Camargo comenta sobre releituras: ―O artista sempre está fazendo uma releitura da própria vida, assim como cada geração relê as outras, porque a natureza e o mundo e as idéias não mudam substancialmente. São sempre as mesmas árvores, os mesmos homens e as mesmas coisas. O que acontece é que cada época enxerga com olhos diferentes e relê e repõe até o pensamento. (...) A arte, quando é verdadeira, ensina a ver.‖ (MARGS, 1998)


18

Reler uma obra de arte não é reproduzi-la. Não há qualquer objetivo de perfeição ou cópia. A releitura é uma interpretação, dentro do fazer artístico, embebida do pensamento e da estética da obra que a inspirou.

3.2 Relato e objetivos Fomos munidos de estudo prévio – que incluiu leituras realizadas sobre o período histórico, o artista e sua obra, além de uma longa análise das fotografias – para a nossa releitura de algumas fotografias selecionadas de Mapplethorpe, no estúdio de fotografia do Centro Universitário Belas Artes. O grupo não tem, ainda, prática de estúdio fotográfico e portanto este projeto não teria sido possível sem o auxílio do profissional Hector Guiñez. Escolhemos uma trilha sonora que sabíamos ter influenciado a Contra-cultura novaiorquina, confeccionamos e selecionamos os adereços mais marcantes presentes nas obras escolhidas e estudamos minunciosamente a iluminação e a composição das fotografias. Nosso objetivo era, ao mesmo tempo, subjetivo e ousado. Queríamos recriar não as obras de Mapplethorpe mas o “clima” deste artista. Ou seja, tentamos colocar em imagem o quanto este artista nos sensibilizou. Pensando em estética como oposto de anestesia, nosso objetivo era estético. Nosso objetivo era sentir o Mapplethorpe.


19

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS Observamos que a obra de Robert Mapplethorpe é predominantemente autobiográfica, figurativa e monocromática. Ele retratava pessoas de seu convívio e a si mesmo, em diversas fases da vida – até mesmo em seu estado de maior fragilidade, próximo à morte, em 1989. Mapplethorpe também fazia outros estilos de fotografia artística, mas com uma linguagem muito próxima a de seus retratos. Mapplethorpe, além de fotógrafo, foi estudante de artes e, portanto, seus experimentos e obra – tida muitas vezes como chocante – eram perfeitamente embasados. Ele sofreu influência do Maneirismo e buscava uma perfeição clássica, somada à precisão da fotografia. Mapplethorpe sabia que seu público era conservador, porém a sua intenção não era chocar. É importante que ressaltemos que Mapplethorpe foi um artista de destaque, entre outros motivos, por questionar valores morais e retratar a arte e o underground nova-iorquino. Robert Mapplethorpe não foi um fotógrafo ingênuo. Fez opções difíceis, fora do mainstream. É parte do grupo de fotógrafos que André ROUILLÉ (1998) denomina “fotógrafos-artista” e se mantém fiel à ética fotográfica.


20

5. REFERÊNCIAS FIGUEIREDO, Vanessa. Just Kids – Patti Smith. 27 AGO 2011. Disponível em http://www.emcartazcultura.com/estou-curtindo/just-kids-patti-smith/ Acesso em 09 SET 2011 FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 5. ed., Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1996. p. 87 MAPPLETHORPE FOUNDATION, The Robert. Biography. Disponível em http://www.mapplethorpe.org/biography/ Acesso em 7 SET 2011. MAPPLETHORPE FOUNDATION, The Robert. Portfolio. Disponível em http://www.mapplethorpe.org/portfolios/ Acesso em 7 SET 2011. MARGS. Leitura e releitura: o velho e o novo discurso. In: Boletim Informativo do MARGS. n. 28. ABR-JUN 1998. Disponível em http://www.margs.rs.gov.br/ndpa_sele_leituraereleitura.php Acesso em 31 AGO 2011. PICASSO, Museu. Las Meninas (série). Disponível em http://www.bcn.cat/museupicasso/ca/colleccio/mpb70-433.html Acesso em 31 AGO 2011. PRADO, Museu do. Las Meninas, de Diego Velázquez. Disponível em http://www.museodelprado.es/coleccion/galeria-on-line/galeria-on-line/obra/la-familia-defelipe-iv-o-las-meninas/ Acesso em 31 AGO 2011. PRODIGIOSO, O século. A arte no século XX. Mapplethorpe, Robert - Fotografia. Disponível em http://oseculoprodigioso.blogspot.com/2007/03/mapplethorpe-robertfotografia.html Acesso em 04 SET 2011 ROUILLÉ. André. Da arte dos fotógrafos à fotografia dos artistas. Trad. Patrice C.Willaume. In: Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, n. 27, 1998. pp. 302-311. SEEFF. Norman. Patti Smith and Robert Mapplethorpe in New York, 1970. Disponível em http://www.interviewmagazine.com/culture/patti-smith-and-robertmapplethorpe/2/#/slideshow_14897 Acesso em 06 SET 2011 SMITH, Patti. Só garotos. Trad. Alexandre Barbosa de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2010. 280 p. SOUGEZ, Marie-Loup. Historia de la fotografia. 5 ed. Madri, Espanha: Catedra, 2001. 569 p.


21

6. ANEXOS 6.1 Fotografias da releitura

Releitura de Self Portrait, 1980

(MAPPLETHORPE FOUNDATION, 2011)


22

Releitura de Self Portrait, 1975

Releitura de Patti Smith, 1976

(MAPPLETHORPE FOUNDATION, 2011)

(MAPPLETHORPE FOUNDATION, 2011)


23

Releitura de Self-Portrait, 1980

(MAPPLETHORPE FOUNDATION, 2011)

Releitura de capa do รกlbum Horses, de Patti Smith, 1975

(FIGUEIREIDO, 2011)


24

Releitura de Patti Smith and Robert Mapplethorpe in New York, 1970

(SEEFF, 2011)


25

6. ANEXOS 6.2 Relatório de participação Carlos Eduardo Gonçalves da Silva

Carolina Vigna Marú

Deborah de Lemos

Fernanda Heitzman

Texto:  Biografia da Patti Smith  Robert Mapplethorpe e a tradição clássica  Obras selecionadas Releitura:  Direção de arte  Modelo  Figurino Outros:  Levantamento de bibliografia  Levantamento de referências áudio-visuais Texto:  Releitura  Considerações finais Releitura:  Fotografia analógica  Ampliação no Lab Outros:  Revisão ortográfica  Copy-desk  Padrões ABNT Texto:  Introdução  Considerações finais Releitura:  Fotografia digital  Tratamento de imagens Outros:  Apresentação áudio-visual  Levantamento de bibliografia Texto: 

Resumo

Erotismo e o underground nova-iorquino

Releitura: 

Modelo

Figurino

Maquiagem

Outros: 

Trilha sonora da apresentação


26

Itze Gabriela González

Texto: 

Retratos e autorretratos

Tradução do espanhol

Versão para o inglês

Releitura: 

Embasamento histórico

Outros:

Marina Cabral

Seleção de obras para análise

Levantamento de bibliografia

Texto: 

Robert Mapplethorpe e a tradição clássica

Biografia de Robert Mapplethorpe

Obras selecionadas

Releitura: 

Modelo

Figurino

Maquiagem

Outros:  Todos, em conjunto

Seleção de obras para análise

Texto: 

Análise das fotografias selecionadas

Releitura: 

Seleção de obras

Embasamento biográfico


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.