SESSÃO PARA DOIS SEIOS Sentir
ternura
pelos
próprios
seios
–
preservando seu calor -, tocando-os com o cuidado mais delicado. A
construção
deste
instrumento
é
a
redescoberta de um chifre curvo que é revestido com um acolchoado macio e curvado na direção errada. Os seios são separados do restante do corpo. A comunicação é mantida constantemente por meio do isolamento mútuo. O instrumento estabelece um diálogo sensorial. A cavidade interna entre a boca e os seios dá ao sujeito o desejo de falar para dentro de si, como os dois seios estão isolado do que os rodeira e um do outro, de perceber cada seio individualmente. O sentido da percepção do sujeito expande-se em uma forma triangular, oferecendo individualidade a cada seio como dois seres distintos.1 A obra intitulada “Cornucopia” tem uma construção poética que referencia-se na figura mitológica, na representação da fertilidade, da riqueza e abundância. Sua composição é feita pelo chifre representando o símbolo fálico, sagrado masculino, seu interior simbolizando o útero, sagrado feminino que por sua vez tem a generosidade da terra, onde estão as frutas, grãos, moedas, entre outros, que fazem alusão à fartura. Para Rebecca Horn, tem a função de nutrir o corpo, esta perspectiva se dá pelo uso da ligadura entre os seios e a boca, assumindo então significação vital de auto alimentação. Cornucopia foi feita a partir de uma experiência de isolamento, por conta de sua doença pulmonar por inalar fibra de vidro enquanto executava suas esculturas. Mantendo-se afastada dos familiares e amigos no hospital, 1 HORN, Rebecca. Rebelião em Silêncio. Disponível em http://www.bb.com.br/docs/pub/inst/dwn/CatalogoRebeccaHorn.pdf ACESSO 11 OUT 2012. P20
começou a costurar e desenhar exemplos do corpo feminino – uma continuação de seu trabalho anterior, como Extensões do corpo, onde as garras lhe davam maior alcance etc – porém, desta vez com significado mais metafórico e simbólico, pois era através deste método que se alimentava e respirava. Diferente de outros artistas que utilizavam o corpo na década de 70, Horn consegue traduzir esta vertente de forma mais expressiva e gestual de uma forma ampliada e contida. Em cornucópia, Rebecca Horn exterioriza as vísceras do corpo, seu funcionamento interno.
REFERÊNCIAS DEZEUZE, Anna; KENT, Sara; RAWES, Peg; SLEEMAN, Joy. Drawling the line: a Round Table on Rebecca Horn. Paper of Surrealism Issue 5 Spring, 2007. Disponível em http://www.surrealismcentre.ac.uk/papersofsurrealism/journal5/acrobat %20files/interviews/Horn.pdf ACESSO 11 OUT 2012