Na Praia da Saudade - Parte II

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PARTE II

OS

ESPOR TES: EV OL UÇÃO ESPORTES EVOL OLUÇÃO

NA PRAIA

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A AVIAÇÃO NA AV. PASTEUR

evolução da aviação em todo o mundo após a Primeira Grande Guerra (1914/ 1918) chegou ao Brasil com os núcleos criados na Marinha – a Aviação Naval, em 1916 – e no Exército, ambas as operações restritas aos meios militares, como instrumentos de adestramento de pilotos. Por seu turno os civis viam no avião uma Darke de Matos, com o seu PP-TAY, ícone da prática da oportunidade para praticar um esporte novo e aviação esportiva na escola do Fluminense Yacht Club em 1920 alguns companheiros de Arnaldo Guinle, integrantes do grupo fundador do Fluminende pouso e decolagem bem no “quintal” de suas se Yacht Club, já possuíam pequenas aeronaresidências que os preservaria das longas viagens ves com que compraziam seu espírito aventuaos Afonsos e a Manguinhos. Contando com a reiro, vinculando-se ao Aero Club Brasileiro ou apoio e o entusiasmo indispensáveis de Arnaldo ao Aero Clube do Campo dos Afonsos (Santa Guinle, eis que promovem em 1938 a alteração Cruz) e a outros. dos Estatutos e inDepois que o cluem a atividade clube recebeu os aviatória como um aforamentos e realidos propósitos do zou os aterros, careclube. cia de recursos para A aviação dar curso às edificaesportiva, além de ções planejadas. Soser agradável e exbrou aos olhos atencitante para os astos dos aviadores associados que a ela Marimbá, um poderoso hidro Rearwin de três motores, sociados, uma pista ancorado na enseada, defronte ao FYC se dedicavam, adju-

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dicou outro benefício para o FYC, sob a forma da conquista de novos sócios, incrementando a captação dos recursos de que tanto careciam os projetos desenvolvimentistas da administração do clube. Antes da escola do FYC, os nossos pilotos, para utilizarem os aviões de outros clubes especialistas, adquiriam 5 cupons equivalentes, cada um, a cinco minutos de vôo, custo que, adicionado às despesas de locomoção a longas distâncias, não deixava barato o esporte para os associados. Esse tipo de locação foi também adotado pelo clube, certamente com bom proveito. Na época praticava-se uma aviação esportiva, com raids entre cidades como Campos e Porto Seguro, com passagens pelo campo de

pouso que o clube utilizava em Saquarema, usando aviões de fabricação nacional, do tipo Bandeirante, em incursões conjuntas com grupos originários da Escola de Aviação do Calabouço, da Escola Brasil de Manguinhos, do Aero Club do Rio de Janeiro e do Aero Club de São Paulo. Grandes comemorações ocorreram nesses freqüentes eventos, consagrados pela presença de personalidades como Gago Coutinho e Assis Chateaubriand, este o imperador dos Diários Associados, co-patrocinador desses raids, o presidente Getúlio Vargas e o governador Adhemar de Barros, em apoio à campanha “Asas para o Brasil”, que tinha o propósito de angariar o suporte financeiro de empresários Brasil afora para equipar com pelo menos uma aeronave cada aeroclube criado no país. O FYC foi contemplado com duas unidades, uma de prefixo PP-TLL, doada pelos irmãos Jorge e Darke Bhering de Mattos e batizada com o nome Darke David Bhering de Mattos, pai dos doadores. Mario Rebello d’Oliveira doou o PP-TJK, com o nome Marquês do Herval. Assim cresceu a aviJoel Klapp, sentado ao centro, uniformizado, brevetado pela Escola de Aviação do FYC, despede-se do grupo para incorporar-se à esquadrilha de Ligação ação civil no País e, no seu e Observação, das forças expedicionárias brasileiras na Itália (julho de 1944)

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Brevetado em 10.7.1944, Paulo Machado Lomba nos cedeu seu documento de licenciamento como piloto

quinhão, no FYC que passou a atrair alunos até do exterior. A fatalidade alcançou algumas vezes esse grupo solidário, sacrificados que foram em acidentes três dos nossos pilotos. O primeiro foi Bento Oswaldo Cruz, em fevereiro de 1941, desaparecido quando em vôo num Aeronca, de propriedade de Armando Level, jamais encontrado, não obstante as buscas lideradas por Petrônio de Almeida Magalhães, vice-comodoro e diretor do Departamento de Aviação, a bordo do seu Santa Ignez, um Rearwin prefixo PP-TEE. Também no mesmo ano pereceu René Taccola numa exibição de acrobacia aérea em que perdeu as asas da aeronave HL-4, denominada Henrique Lage, mergulhando na enseada, nas proximidades da rampa de hidros do clube. A terceira vítima fatal foi Darke Bhering de Oliveira Mattos, um dos mais ilustres associados do clube, acidentado em 4 de setembro

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de 1942, enquanto pilotava o seu Culver Cadet, prefixo PP-THX, e que, embora socorrido no local pelos companheiros e pelo irmão Jorge de Mattos, não superou os ferimentos recebidos. Ainda que lamentando essas perdas, a experiência da Escola de Aviação do Fluminense Yacht Club foi altamente relevante, brevetando 230 alunos até o ano de 1945, segundo relatório apresentado por Martinho Segreto à Diretoria em 16 de janeiro de 1946, destacando-se: Agesilao Dutra Alexandre Delamare Garcia Aloizio Fontelle da Silva Antonieta Rangel Bento Osvaldo Cruz da Costa Charles Herba Clito Barbosa Bokel Diva Carneiro da Cunha Edgard Rocha Souza Fábio de Andrada Hugo Hamman Ignácio Jorge Nogueira Jayme Leal Costa Filho Jayme Leivas Bastião Pinto João Donato de Oliveira Filho João Gentil Filho Joel Klapp Leopoldo Antunes Maciel Lindalva Milhomem Campos Madelaine Breau Roincé Orlando Meringolo Oswaldo Pinto


Othon Dias Paulo Machado Lomba Petrônio de Almeida Magalhães Roberto Mario Monerat Vasco Sotto Mayor Vito Dumas* O comodoro Arnaldo Guinle, diante do sucesso do Departamento de Aviação, chegou a extrapolar o seu entusiasmo, sugerindo ao Conselho Deliberativo a criação da Seção de Aviação em conjugação com o Ministério da Marinha para formar um Corpo de Aviadores Civis “em condições de ser úteis ao País”, legando-nos a crença de que os nossos pilotos constituíam uma reserva das forças militares, a exemplo do que ocorreu com Joel Klapp, mas por sua iniciativa pessoal. A pista utilizada pelos nossos pilotos, de pouco mais de 400 m de extensão, sempre representou riscos e, por sua posição entre o mar e a Av. Pasteur, acabou por levar as autoridades aeronáticas a direcionar os pousos e decolagens sempre a partir da orla e em direção ao mar e, ainda assim, acidentes ocorreram. Mas, descaracterizada a sonhada força reserva e ante a pressão do poder público representada pela interdição da nossa pista pela Prefeitura em iniciativa começada em 1930, nem mesmo a criação da hidroaviação, que perseverou até

1947, impediu que o Departamento de Aviação Civil, em outubro de 1945, decretasse o fim da prática da aviação no FYC. Nossos pilotos, não obstante, continuaram a efetuar seus vôos, levando o clube a plantar coqueiros ao longo da pista, para coibir o desrespeito à proibição. Criado pela Força Aérea o CPOR do Ar e incrementada a oferta de bolsas para formação de pilotos na América do Norte, a Escola de Aviação do clube pousou em definitivo, com o Conselho Deliberativo decretando o encerramento de suas atividades em 26 de setembro de 1946. Hoje, testemunham materialmente essa fase épica a rampa dos hidros e o hangar 3, ou Hangar Darke de Mattos, que agora acolhe veleiros em substituição aos muitos aviões que ali eram abrigados.

A pista da aviação, quando já concluídos os hangares 1, 2 e 3.

* Vito Dumas foi um navegador solitário argentino que arribou por aqui, integrou-se ao clube e à prática da aviação, retomando mais tarde seu caminho, já então como aviador brevetado.

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Bela visão de um avião da Marinha

O primitivo barracão tornou-se o Hangar Darke de Mattos de uso privativo da aviação, o hangar 3 dos dias de hoje

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O auto-giro, pousado no clube, depois de acidentado em vôo pilotado pelo major Francisco Correa de Mello, mais parece uma geringonça O PP-TEW direcionado para a rampa de hidros para alcançar os céus

Amerissagem do PP-TEE

Em fevereiro de 1942, ao lado do Piper Club Marquês de Herval, doado por Mário d´Oliveira ao FYC, aparecem alguns pilotos, como Eduardo Souto de Oliveira, o Coruja (1), José Pinto de Almeida (Zezé) (2), cônsul Haníbal Graça (6), instrutor Rubens Abrunhosa (7), Martinho Segreto (8) e, sentados, instrutor Mac (2) e Hugo Hammam (3)

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Os instrutores de aviação do clube Iniciando com o americano Mc Manning, contribuíram para o aperfeiçoamento dos nos-

sos pilotos instrutores como Armando Level, Rubem Abrunhosa (Bimba), Amarilio Rocha Souza Filho e Homero Bezerra, alguns dos quais estão identificados em fotos que integram este capítulo.

Major Francisco Correa de Mello, aviador arrojado, com um dos objetos do seu prazer, um estranho hidro Aeronca

Amarilio Rocha Souza Filho, brevetado no FYC, em 1942, tornou-se instrutor no próprio clube e, posteriormente, piloto comercial da Panair do Brasil

Quadros de brevetados das turmas de 1938 e 1939 da Escola de Aviação do FYC, originários, no primeiro caso, de diversos estados e no segundo de países diferentes, como EUA, Alemanha, Argentina, tendo como patrono Petrônio de Almeida Magalhães, como diretor de Aviação o major Francisco Correa de Mello e como paraninfo e instrutor, Armando Level

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À direita, o jovem piloto Roberto Monerat e os companheiros Aquilino Morato, J. Almeida Pinto, Milton P. Magalhães e o instrutor Rubens Abrunhosa (Bimba) Hidro repousa na areia da Praia da Saudade

Um “perna-dura” inicia procedimento de decolagem diante do prédio do hospício, hoje Universidade Federal do RJ

Hidro em preparativos para decolagem

O hidro PP-TEE no pátio fronteiro ao antigo barracão da aviação, local do atual hangar 3

A rampa de acesso dos hidroaviões

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PETRÔNIO

DE

ALMEIDA MAGALHÃES ascido em Belo Horizonte, em 14 de março de 1901, engenheiro pela Escola de Minas e Metalurgia de Minas Gerais, de Ouro Preto, Petrônio de Almeida Magalhães praticou a engenharia no seu estado de nascimento e em 1934 veio para o Rio de Janeiro dedicar-se à sua profissão de origem, que aqui exercitou até o seu falecimento, em 1990. Admitido como sócio do Fluminense Yacht Club em janeiro de 1934, foi por duas vezes vice-comodoro de Aviação, atividade a que se devotou profundamente, tudo cedendo em favor do seu ideal esportivo, o seu tempo, o seu avião e o seu indiscutível prestígio junto a governos, no benefício desse esporte. Responsabilizou-se pela realização de diversas obras no clube, desde o Hangar da Aviação (Darke de Mattos), o primeiro abrigo dos aviões utilizados pelos esportistas -aviadores, até a reformas na sede social. Fotógrafo amador, enriqueceu o nosso patrimônio cultural com numerosas fotos de atividades do clube.

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DO IATE

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O vice Petrônio Magalhães e outros pilotos discutem planos nas proximidades do Hangar da Aviação

O vice Petrônio Magalhães apronta-se para um vôo sem descuidar-se dos contatos políticos que na foto acima fez com o presidente Getúlio Vargas, em 1940

O interventor de São Paulo, dr. Adhemar de Barros, também piloto, é recebido pelo vice Petrônio Magalhães

Em 1940, concorrida visita de Gago Coutinho ao clube, recebido pelo vice Petrônio Magalhães e pelo brigadeiro Armando Trompovsky

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NA DÉCADA DE 1930, O FYC VAI AO MAR a década de 1930, os esportes praticados na água eram a pesca, o remo e as muito apreciadas corridas de lanchas movidas a gasolina. Da pesca, naquele princípio, não se localizou memória fotográfica e o que restou nos foi legado por Manoel de Azevedo Leão em uma carta abordada no capítulo Pesca a partir da sede em que o missivista nos conta que a prática do velho esporte se circunscrevia aos limites da Baía de Guanabara e, mais tarde, ocorrendo nos costões das ilhas do entorno do Rio de Janeiro quando acampamentos eram montados para usufruto de dias de pesca e contato com a natureza. O remo foi, substancialmente, uma atividade de lazer pessoal, ainda que tenha participado de algumas disputas, como a que ocorreu sob

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Jorge de Mattos rema um single skif na enseada de Botafogo

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ISTÓRIA DO DO IATE ATE CLUBE LUBE DO DO RIO IO DE DE JANEIRO ANEIRO A HISTÓRIA

Roberto Marinho na sua Chris-Craft

a coordenação da Liga de Esportes da Marinha, em 1931, na enseada de Botafogo. As primeiras competições náuticas promovidas pelo FYC ocorreram entre 1930 e 1932, de certa forma como precursoras da prática da vela. Mas, as velozes embarcações, antes utilizadas no lazer puro, não carregavam bujas, balões ou qualquer tipo de velame e eram

Darke de Mattos, Manoel Jorge Lopes e Jorge de Mattos


Os associados, protegidos do sol, apreciam as regatas de lanchas, instalados sobre o cais fronteiro à Piscina de Barcos

impulsionadas por motores possantes a gasolina, na disputa do que se convencionou chamar de “regatas de lanchas rápidas”, praticadas diante do quebra-mar, à frente da Piscina de Barcos, cujo cais fora recentemente inaugurado pelo benfeitor prefeito Prado Júnior, eventos cuja memória fotográfica disponível se deve à diligência e dedicação de Petrônio da Almeida Magalhães. Seleta assistência e juízes apreciavam as Chris Craft e outras modernas lanchas da flotilha

que se abrigava no FYC disputarem os páreos que se sucediam, pilotadas pela nobreza do quadro social. Tem-se notícia, por exemplo, de que o comodoro Arnaldo Guinle acatou as sugestões de uma comissão por ele nomeada e composta pelos consócios Raymundo Castro Maya, Roberto Marinho, Antenor Mayrink Veiga e Darke de Mattos, para a organização de uma regata marcada para ocorrer em 28 de fevereiro de 1932. Ao evento, informa um ofício lido

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na ocasião, desejou incorporar-se o Yacht Club Paulista enviando alguns concorrentes, fato que foi bem recebido pela Diretoria. Mais adiante, uma regata ocorrida em 3 de março do mesmo ano teve apoio do Gouthan Yacht Club, que se declarou disposto a dedicar uma festa do seu programa social especialmente para reunir os concorrentes na sua sede da Ilha do Governador em comemoração ao evento, instituindo ainda uma taça dedicada ao respectivo vencedor. Foram realizados cinco páreos, com os resultados seguintes: • 1º páreo – Francisco Aboim Inglês, pilotando a lancha Marola; • 2º páreo – Ignácio Veiga, com a Vera; • 3º páreo – Antonio Gonçalves Carneiro Jr., com a Nilza; • 4º páreo – Raymundo de Castro Maya, pilotando a Ygara. O 5º páreo foi cancelado, mas posteriormente restabelecido por solicitação do dr. Roberto Marinho, sendo incluído na programação da regata a ocorrer em 29 de maio de 1932, que teve a seguinte organização, sem que fossem encontrados registros dos respectivos resultados: • 1º páreo – Confederação Brasileira de Desportos, para out boards classe C; • 2º páreo – Mario Rebelo de Oliveira, para out boards classe C, 25 a 5 HP;

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A HISTÓRIA ISTÓRIA DO DO IATE ATE CLUBE LUBE DO DO RIO IO DE DE JANEIRO ANEIRO

• 3º páreo – Fluminense Yacht Club, para out boards, força livre, motor de passeio; • 4º páreo – Associação Brasileira de Imprensa, para out boards, qualquer motor; • 5º páreo – Comodoro Arnaldo Guinle, para lanchas até 225 HP; • 6º páreo – Yacht Club Paulista, para lanchas até 80 HP; • 7º páreo – Darke D. B. de Oliveira Mattos, para lanchas de qualquer dimensão ou força; • 8º páreo – Dr. Octavio da Rocha Miranda, para lanchas de até 106 HP. Outro evento, ocorrido em junho de 1932, apresentou os seguintes resultados: • 1º páreo – Maurice Vender, com Tição; • 2º páreo – Benjamin Braga, pilotando Irerê; • 3º páreo – Dr. José A. Barros, com Chris Craft; • 4º páreo – Dr. Arnaldo Guinle, com Umá; • 5º páreo – Dr. Roberto Marinho, pilotando Caiçara; • 6º páreo – Jorge Lage, com Pingüim. Em 1933, o clube começou a incentivar a aviação e a vela se organizou eficientemente, perdendo espaço as regatas de lanchas rápidas, restando apenas registros de competições até 1934.


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ESQUI AQUÁTICO

família Bhering de Mattos, sempre presente em múltiplas atividades no nosso clube, não faltou, aí pelos anos 40, à prática do esqui aquático na enseada de Botafogo, a que se dedicaram com destaque os irmãos Darke, Jorge e Astrea, não obstante os padrões dos equipamentos da época, pesados e longos, muito exigindo dos praticantes do novo esporte, chegado da Flórida ao Brasil. Quem, da velha-guarda, não se lembra daqueles filmes lindos que a todos encantavam, em que os americanos exibiam a prática individual e coletiva desse esporte nas águas de Cypress Garden? A importação de novos e modernos equipamentos usados naquela região ampliou a disposição de praticantes como o grupo formado por Jorge Bouças, os irmãos Rocha Souza, Jorge Moura

A

Na enseada de Botafogo, como em Cypress Garden...

de Castro, Fred Chateaubriand, os irmãos Simões e outros, que passaram a exibir belas performances, inclusive no trampolim que fizeram montar em frente ao clube, motivando a fundação,

Três momentos do esquiador Mucio Lodi

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em abril de 1954, do Grupo de Skiadores do

de Brito, Álvaro Luiz Graça, Billy Blanco, a fa-

ICRJ, subscrito por numerosos associados, des-

mília Ajuz, Zezé Lodi e Liliam Lobo, além de

tacando-se como praticantes permanentes os

João Soares de Lima, o Meganha, que perma-

seguintes nomes: Sergio Costa Carneiro, Mucio

neceu no clube, por longos anos, como instru-

Euvaldo Lodi, Jorge Bouças, Jorge Moura de

tor do esporte.

Castro, Alberto Pestana Filho, Carlos Alberto

A chegada da poluição e a evolução do próprio esporte para o radicalismo de atividades assemelhadas que hoje se praticam, além, natural-

Sra. Lilia Carneiro

mente, do peso dos anos, acabaram por esvaziar o esporte no clube por volta de 1960. Ficou a lembrança do tempo, embora efêmero, em que os nossos esquiadores usufruí-

O esquiador Nissan

ram grande prazer deslizando sobre as águas cariocas e exibindo sua destreza para admiração dos associados e do público do entorno da enseada de Botafogo.

Yul Brinner, um visitante ilustre

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A HISTÓRIA

DO IATE

CLUBE

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RIO

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Sérgio Carneiro Sérgio Franco


Mucio e Yul, a caminho do “trabalho”, observam o desempenho do grupo abaixo...

Na foto acima, Zezé Lodi exibe o seu estilo e, embaixo, faz dupla com Lilia Carneiro

... lamentavelmente não identificados individualmente

Nissan e Lilia passaram ao largo do trampolim...

... enquanto Mucio descansa entre os esquis

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PESCA

A PARTIR DA SEDE E HISTÓRICO DA CAÇA SUBMARINA A pesca oceânica ma das atividades preconizadas pelos velhos estatutos do Fluminense Yacht Club, não obstante o nome, foi, desde logo, a pesca, aquela original, que se praticava de bordo de pequenas embarcações a remo dentro da Baía de Guanabara, e, um pouco mais tarde, nos costões das muitas ilhas do entorno do Rio de Janeiro, alcançadas quando os pioneiros começaram a ultrapassar os limites da boca da barra fazendo acampamento ou pescando com varões da Redonda e da Comprida, por exemplo. A vela ainda não havia chegado ou chegava timidamente, cedendo primazia para as corridas de lanchas. Sobre esse momento, as pesquisas que alimentaram este trabalho pouco ou nada conseguiram, de sorte que nada melhor do que invocar o testemunho sereno e verdadeiramente histórico contido em uma carta que o dr. Manoel de Azevedo Leão, notável pioneiro da pesca oceânica e ex-comodoro, dirigiu em janeiro de 1975 ao também pescador e ex-comodoro Helio Barroso, para agradecer homenagem que lhe havia sido justamente deferida

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ISTÓRIA DO DO IATE ATE CLUBE LUBE DO DO RIO IO DE DE JANEIRO ANEIRO A HISTÓRIA

Manoel Leão e o marlim de 108 kg

ao ensejo da realização do primeiro torneio organizado em Vitória, Espírito Santo, por nossa iniciativa, na busca do marlim-branco abundante naquelas águas. Deixemos que fale a saudosa personalidade:


Rio de Janeiro, 14 de janeiro de 1975

Matávamos alguns dourados, uns atuns pequenos e era só. Até que uma vez, abrindo um pouco

Meu caro Helio Barroso,

mais para leste, em águas azuis, ao largo da Ponta

Profundamente emocionado, recebi a pla-

Negra, Aristides matou um marlim-azul de 56 quilos

ca de prata que os companheiros do Primeiro Tor-

e eu dois sails, sendo que um escapou na hora de ser

neio Brasileiro Aberto de Pesca Oceânica tiveram a

embicheirado. Nessa mesma semana, o Raymundo

gentileza de presentear-me, com dizeres que não

de Castro Maya, em Cabo Frio, pescava também o

sei como agradecer.

primeiro peixe de bico.

Da velha-guarda, conheci os tempos em que

A nossa captura não causou emoção no Clu-

as pescarias se faziam aqui na baía – os robalos de

be, o que de certo modo nos decepcionou. No ano se-

Mocangê, de Santa Cruz, do Boqueirão, os badejetes

guinte, porém pesquei um marlim de 108 kg e então a

e garoupas da ponta do Cara de Cão, as enchovas da

turma da pesca ficou interessada. Tínhamos um com-

Lage. Mais tarde animaram-se e começaram a ir às

panheiro, bom pescador, o John Kitchman, gerente da

Cagarras; à Rasa, às Tijucas. Eu já era homem feito

Atlantic e nós dois fizemos uma palestra no Clube so-

quando as saídas estenderam-se até às Maricás, onde

bre tipos de isca, modos de ferrar os sails, uso de

o clube fez construir uma barraca para os pescadores

outriggers, etc. Aí então começou a animação. Nunca

que desejavam pernoitar.

nos passou pela cabeça, entretanto, que o interesse

Em 1937 o Raymundo de Castro Maya trou-

pela pesca oceânica crescesse tanto e em tão pouco

xe o Nemesis da Inglaterra e da casa que possuía no

tempo. E hoje sinto-me enormemente satisfeito por ver

Arraial do Cabo, começamos a pescar pelas ilhas até

tantos companheiros abraçando um sport que, além

a Ancora, mas de modo geral eram sempre pescarias

de toda a sua beleza e excitamento, está levando a

costeiras.

nossa rapaziada a um contacto mais íntimo com o mar.

Quando em 1958 adquiri em Buenos Aires a primeira Titânia (que se chamava Enca), começamos, o meu irmão mais moço Aristides, atual Presidente da

A todos o meu muito obrigado e para você um abraço do Amigo certo

Academia de Ciências, e eu a fazer explorações ao largo, mas de começo sem grande sucesso. Saíamos do Clube às 10 horas da noite e no rumo sul navegávamos a noite inteira arreando as linhas n’água ao clarear do dia e começávamos a regressar em marcha de corrico.

No tocante ao peixe de Raymundo de Castro Maya, a memória traiu o eminente missivista, já que essa captura, a primeira do Brasil, ocorreu, de fato, em 1955.

NA PRAIA

DA

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Crescia o entusiasmo

maram impulso e, em janeiro

pela pesca e, na medida em

de 1961, o Jornal do Brasil, com

que o clube conquistava espa-

o apoio entusiasta de sua pre-

ços e ampliava sua dominação

sidente, Condessa Pereira

ao longo da orla, chegou ao

Carneiro, patrocinou o primei-

Conselho Deliberativo, em

ro torneio de pesca oceânica

5.4.1951, proposta de construção de um prédio ambicio-

Aristides e Manoel Leão e os primeiros bicos trazidos à doca do Iate

realizado no Brasil e a partir do nosso Clube. Foi ganho pela

so para abrigar um Clube de Pesca idealizado

lancha Sayonara, de Bruno Hermanny, tendo

por um expressivo grupo de ilustres pescadores

com tripulantes os também mergulhadores Luiz

associados, sob a liderança do fundador Castro

Correira de Araujo e Luiz Leopoldo Noronha

Maya. Pretendiam tomar em locação, por perío-

(Bijú), evento de que participaram 7 lanchas,

do inicial de 10 anos, espaço dos terrenos

entre as quais as de Luiz Nolasco, Manoel Leão,

aforados e conquistados ao mar, localizados na

OctavioReis, Luiz Carlos Laport e John Kitchman.

altura do atual hangar 8, na presunção, que se

Foi a inspiração para o primeiro Torneio Anual

mostrou verdadeira, de que os planos de desen-

de Peixes de Bico do ICRJ, ocorrido no verão

volvimento do próprio clube demandariam mui-

de 1962/1963 e cuja edição XLII teve lugar na

to tempo até lá chegar. Embora produzidos os

temporada 2004/2005.

projetos arquitetônicos, o

Na época, o diretor de

Conselho reviu sua própria

Pesca era o dr. Alberto Car-

decisão e idéia não properou.

valho (Carvalhinho) que, na

Vencidos os temores

foto ao lado, discute com José

ao oceano aberto e incentiva-

Carlos Laporte os arranjos

dos pelos exemplos dos ir-

para a abertura da primeira

mãos Leão e de Castro Maya,

etapa do torneio. As embarcações dis-

os pescadores que se restringiam à Baía de Guanabara to-

Carvalhinho e Laporte planejam a saída do dia

poníveis no clube, de posse

A perspectiva do ambicioso e por isto frustrado Clube de Pesca

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A HISTÓRIA

DO IATE

CLUBE

DO

RIO

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particular, não eram preparadas para os embates do oceano, construídas em madeira e de porte não superior a 27 pés, tão lentas que impunham a partida do clube no horário da meia-noite para começar a pescar ao raiar do dia. Se houve um momento em que Deus foi brasileiro e protetor dos pescadores do Iate, foi sem dúvida nessa época, porque lhes faltava a aparelhagem hoje disponível e a segurança que as embarcações da atualidade oferecem

A Erna de Herbert Renaux, uma Carbrasmar 27” de madeira, aproxima-se do ancoradouro do Iate com Homero no leme

aos praticantes do belo esporte. Quebrar um pára-brisa com o embate da onda não

IGFA, respeitável instituição fundada em1939 e

era raro, mas, felizmente, todos os aventureiros

que tem sede em Dania Beach, na Flórida, man-

desse período sobreviveram aos riscos que as-

tendo representantes em diversos estados do

sumiram. Era tal o entusiasmo, que a inaugura-

Brasil. O primeiro dos quais foi Raymundo Cas-

ção de uma temporada se fazia com a presença

tro Maya, de quem partiam na época todas as

de uma banda da Marinha que estendia ao mar

iniciativas em favor da evolução da pesca no

o seu apoio suprindo de uma embarcação mili-

nosso Clube.

tar a segurança dos inexperientes navegadores.

O torneio desenvolveu-se vertiginosa-

Exemplo da fragilidade das embarcações

mente e houve temporada em que até 90 lan-

da época é a Erna, lancha com a qual o veterano

chas demandavam o oceano na busca dos

Herbert Renaux e seu tripulante e amigo

bicudos, todos repentinamente convertidos em

Homero Mendes ganharam os três primeiros

pescadores das águas roxas, a maioria sem ne-

torneios realizados.

nhuma experiência na atividade que muito exi-

O mais tradicional evento promovido pelo

ge de seus participantes.

Iate acolhe pescadores de clubes congêneres vin-

Os primeiros torneios continuaram a re-

dos de Santos, Ilhabela, Vitória e Bahia e se de-

ceber o apoio e foram muito divulgados pelo Jor-

senvolve com estrito respeito às regras de com-

nal do Brasil, que chegou a enviar aviões para

portamento esportivo e conservacionista ditadas

fotografar as lanchas em alto-mar e colocá-las em

pela The International Game Fish Association –

destaque em suas edições.

NA PRAIA DA SAUDADE

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Herbert Renaux, assistido por Victor Wellisch, recebe das mãos de Bernard Campos, diretor do JB, o prêmio de vencedor do III Torneio do ICRJ

Manoel Leão, a sra. e o sr. Alberto Faria e Alberto Jr. comemoram com Herbert Renaux a vitória deste, no III Torneio

Três mergulhadores improvisados como pescadores de oceano, Luiz (Lulu) Correa de Araujo, Luiz Leopoldo Noronha (Biju) e Bruno Hermanny, premiados em 1961 no Torneio JB, antecessor do Torneio Tradicional, iniciado em 1962/1963

Numa cerimônia dirigida por Murilo Nery discursa o diretor de Pesca Carvalhinho atentamente ouvido pela Condessa Pereira Carneiro, pelo comodoro Cecil Davis e por pessoas gradas, na premiação do Torneio JB, em janeiro de 1961

reste-se homenagem ao antigo marinho Homero Mendes (na foto, ao lado de Herbert Renaux, comandante da Erna), hoje associado do clube, que se converteu não apenas no mais habilidoso fabricante de caniços como também se tornou o grande “quebra-galho” na recuperação dos molinetes precários da época e também fabricante de paradas, linhas especiais e o que mais dele fosse exigido em termos da habilitação dos equipamentos de pesca que foram pouco a pouco sendo aperfeiçoados em nível internacional.

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A HISTÓRIA ISTÓRIA DO DO IATE ATE CLUBE LUBE DO DO RIO IO DE DE JANEIRO ANEIRO


Homero Mendes e Hebert Renaux com dois marlins-azuis e um sailfish

Antônio Pinhão, do Iate Clube Brasileiro, participante habitual, com a sua lancha Bandida, dos nossos torneios, capturou, em 11.1995, um dos primeiros marlins-azuis de peso representativo chegado ao clube: 380,6 kg

A graciosa sra. Sylvia e seu marido Octávio Reis e um marlim de 134,8 kg que não resistiu à sua técnica, em 20.12.1969 Uma boa seqüência de excelentes conquistas nos idos de 1964-1965

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SAUDADE

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Em 26 de janeiro de 1963, foram ao mar as seguintes embarcações, na primeiríssima etapa do torneio que se tornaria tradicional: Lancha Três Marias Can-can Dom Quixote Dorian II Cinderela Titânia Xaveco Tiesa Anabel

Comandante Octávio Reis Alberto Rodrigues Costa Luiz Nolasco (Lulu) Paulo Reis Alison Manoel Azevedo Leão Celson Lima Antonio Ferrer Pedro Gomes

Além de alguns caçadores submarinos de nomeada como Bruno Hermmany, Luiz Correa de Araujo e Luiz Leopoldo Noronha, o Biju, cer-

Bruno Hermmany e Herbert Richers com um marlin-azul e dois sails na temporada de 1965 em que foi utilizada a lancha Zazá

94 94

A HISTÓRIA DO IATE CLUBE DO RIO DE JANEIRO

Lancha Sayonara Ranger Two Sete Mares Amizade Rosinha Nemesis Taiti Céu Azul Batuta

Comandante Bruno Hermany John Kitchman Armando Cavalcante Eugenio Vilarinho João Cardoso Raymundo C. Maya Antônio Carlos Araujo J. B. Pinheiro J. C. Laport

tamente muitos “paneleiros” que davam os primeiros passos na pesca oceânica embarcaram nessa empreitada.

Luiz Correa de Araujo, da lancha Sayonara, com um belo sail de 27 kg


Equipes vencedoras do Torneio Tradicional do ICRJ Torneio

Ano/verão

Lancha

Comandante

I II III IV V VI VII VIII IX X XI XII XIII XIV XV XVI XVII XVIII XIX XX XXI XXII XXIII XXIV XXV XXVI XXVII XXVIII XXIX XXX XXXI XXXII XXXIII XXXIV XXXV XXXVI XXXVII XXXVIII XXXIX XL XLI XLII

1963/1964 1964/1965 1965/1966 1966/1967 1967/1968 1968/1969 1969/1970 1970/1971 1971/1972 1972/1973 1973/1974 1974/1975 1975/1976 1976/1977 1977/1978 1978/1979 1979/1980 1980/1981 1981/1982 1982/1983 1983/1984 1984/1985 1985/1986 1986/1987 1987/1988 1988/1989 1989/1990 1990/1991 1991/1992 1992/1993 1993/1994 1994/1995 1995/1996 1996/1997 1997/1998 1998/1999 1999/2000 2000/2001 2001/2002 2002/2003 2003/2004 2004/2005

Erna Erna Erna Zazá BB Luamar Maira Miss Flamengo Miss Flamengo Maíra (ICB) Aquarius Arataca Wikaka II Bandida (ICB) Andréa-Rio Ricamar Striker Macunaíma Ponta Negra Ponta Negra Binoca Patty Binoca Miss Flamengo Emilia Maria Ricamar Trapac Patty Dang Miss Flamengo Baccarat Baccarat Mala Mala Flying Fish Ximbica Ximbica Baccarat Baccarat Baccarat Binoca Kabira

Herbert Renaux Herbert Renaux Herbert Renaux Herbert Richers Sergio Pinheiro Mario Veiga de Almeida Ivan Brigs Helio Barroso Helio Barroso Ivan Brigs Antonio Monarcha Sergio Kastrup Arthur B. Redig Antonio Pinhão Adolpho A. Mayer Raul S. Francisco Antonio Bali Raymundo de Brito José Vasco T. Costa José Vasco T. Costa Leonardo Bochner Sergio Tristão Leonardo Bochner Helio Barroso Antonio E.Corrêa Raul S. Francisco Antonio Carlos Lobato Sergio Tristão Denison Duque Silva Helio Barroso Carloman M. Oliveira Carloman M. Oliveira Arnaldo Mattos Filho Arnaldo Mattos Filho Fernando C. Garcia Luiz Americo da Costa Luiz Américo da Costa Carloman M. Oliveira Carloman M. Oliveira Carloman M. Oliveira Leonardo Bochner Erich Baumaier Filho

NA PRAIA

DA

SAUDADE

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No verão de 2003, Fernando Pedrosa com um dourado macho, recorde potencial

Antônio Soares, da Miss Flamengo, com um marlim-branco de 69 kg, que foi recorde mundial, em 1977, na linha de 30 lb de teste

Na foto inferior, Eduardo Baumaier com o recorde brasileiro de swordfish, linha 50, pesando 50,800 kg, e acima com um bonito marlim-azul, ambos colhidos ao sul do Rio de Janeiro

96 96

A HISTÓRIA DO IATE CLUBE DO RIO DE JANEIRO

João Paulo Costa e um magnífico atum-amarelo


Fernando de Noronha, 1976: marlim-azul de 279 kg capturado com linha de mão por três pescadores que se sucederam na batalha, durante cerca de duas horas. Um deles, Helio Barroso, e dois profissionais locais, aparecendo ainda o governador da ilha e Omar Fontana, presidente da Transbrasil Renato Costa, o “Caca”, pesando a captura do dia de sailfishes que então eram embarcados e hoje são liberados. Ao fundo, Luis Alfredo Gama, Nilson Carvalho, encarregado da pesagem, e Adeilton Barbosa, gerente do Departamento de Pesca

Tobias Rotier, hoje veterano pescador, com o seu primeiro sailfish de muitos anos passados

O veterano Eliseu Soares Filho com uma “penca” de sailfishes

NA PRAIA DA SAUDADE

9797


Foto oportuna de um cardume de peixes de bico na base da Plataforma P-36, na Bacia de Campos

Marlim-azul capturado na costa da Bahia, na lancha Bom de Bico, de Carlos Alberto Ribeiro. Na cadeira, Helio Barroso, cercado por Sérgio Pedra e Luiz Leopoldo Noronha, o “Biju” Paulo Pantaleão, na década de 1970, com marlim-azul trabalhado com uma carritilha Penn Senator 50, da época

98 98

A HISTÓRIA DO IATE CLUBE

DO

RIO

DE JANEIRO


Fotos tiradas de bordo da Flying Fish

A luta de um sailfish e a liberdade concedida

NA PRAIA

DA

SAUDADE

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INFORMATIVOS

DA PESCA

Pesca do sailfish – estatísticas LANCHA x DIAS DE PESCA 53/6 42/6 40/5 44/7 47/8 38/9 68/7 62/8 53/8 63/7 53/6 56/6 51/6 45/6 68/10 72/22 69/10 64/11 60/11 54/8 62/10 42/8 42/10 42/12 55/13 60/12 32/6 35/5 33/5

TEMPORADAS 1975/1976 1976/1977 1977/1978 1978/1979 1979/1980 1980/1981 1981/1982 1982/1983 1983/1984 1984/1985 1985/1986 1986/1987 1987/1988 1988/1989 1989/1990 1990/1991 1991/1992 1992/1993 1993/1994 1994/1995 1995/1996 1996/1997 1997/1998 1998/1999 1999/2000 2000/2001 2001/2002 2003/2003 2003/2004

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A HISTÓRIA

DO IATE

CLUBE

DO

RIO

DE JANEIRO

SAILFISHES

MÉDIA sails/lancha/dia

1.241 453 1.034 935 1.081 1.383 809 805 1.336 819 1.464 1.422 921 627 626 560 775 1.025 537 684 517 744 605 843 444 589 304 384 288

3,90 1,80 5,17 3,04 2,88 4,04 1,70 1,62 3,15 1,86 4,60 4,23 3,01 2,32 0,92 0,71 1,12 1,46 0,81 1,58 0,83 2,21 1,44 1,67 0,62 0,82 1,58 2,19 1,75


Capturas / lancha / dia: 1975/2004 ((sailfishes sailfishes sailfishes))

Calendário da pesca As atividades do Departamento de Pesca na temporada 2003/2004 são o exemplo da intensa movimentação que os pescadores vêm usufruindo como resultante da boa organização TORNEIOS DO 83º ANIVERSÁRIO DO I.C.R.J. Pesca de Cais Pesca Costeira Caça Submarina

PESCA COSTEIRA XXXV Torneio de Pesca Costeira X Torneio Open 25´

do setor e da atenção que os seus dirigentes dipensam a essa interessante modalidade esportiva, seguramente a mais antiga que se pratica desde a fundação do clube.

CAÇA SUBMARINA Campeonatos Estaduais Campeonato Nacional Torneio Bruno Hermanny PESCA DE CAIS Infantil Infanto-juvenil Marmanjos Feminino Masculino Sênior Ele & Ela Tradição

PESCA OCEÂNICA VII Torneio de Marlim-azul ICRJ Torneio de Abertura VIII Torneio Juvenil XLI Torneio Anual de Peixes de Bico Torneio de Encerramento XI Cabo Frio Marlin Invitational III Torneio Aberto de Pesca Oceânica 27,5´ Torneio Marinheiro João da Original XI Toneio Elas & Elas

NA PRAIA DA SAUDADE

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Principais vencedores do T orneio T radicional (pesca oceânica) Torneio Tradicional Por lanchas Baccarat – Carloman Maia de Oliveira Miss Flamengo – Helio Barroso Binoca – Leonardo Bochner Erna – Herbert Carlos Renaux Ponta Negra – José Vasco T. da Costa Patty – Sérgio Giesta Tristão Mala – Arnaldo Araújo de Mattos Filho Ricamar – Raul de Souza Franco

5 vezes (até 2003) 4 vezes (até 2000) 3 vezes 3 vezes 2 vezes 2 vezes 2 vezes 2 vezes

Participação vencedora individual em uma ou mais equipes Evandro Soares 7 vezes (em 3 equipes) Renato Ludovice Costa (o Caca) 5 vezes (em 3 equipes) Carloman Maia de Oliveira 5 vezes Rogério Capanema Filho 5 vezes Luis Roberto Teixeira Soares 5 vezes Helio Barroso 4 vezes Eliseu Soares Filho 4 vezes Eliseu Soares Neto 4 vezes Leonardo Bochner 3 vezes Paulo Fabiano Ferreira 3 vezes Ernani Figueiredo 3 vezes Herbert Carlos Renaux 3 vezes Arthur Bittencourt Redig 3 vezes John Kitcheman 2 vezes Eurico Soares 2 vezes José Vasco Teixeira da Costa 2 vezes Fernando Gomes Pedrosa 2 vezes Paulo Martins 2 vezes Afranio Darrique de Faro 2 vezes Antônio Balli 2 vezes Sergio Giesta Tristão 2 vezes Arnaldo Araújo de Mattos Filho 2 vezes

Principais equipes vencedoras do T orneio de PPesca esca Costeira Torneio Miss Flamengo – Helio Barroso Flying Fish – Fernando Garcia Emília Maria – José Augusto E. Corrêa Laurocriwa – Jamil Da Silva Lessa Binoca – Leonardo Bochner Quebec – Antônio Sabbato Annechino

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A HISTÓRIA

DO IATE

CLUBE

DO

RIO

DE JANEIRO

5 vezes 5 vezes 4 vezes 3 vezes 2 vezes 2 vezes


Os números mostram que a devastação das espécies marinhas é evidente, inclusive no nosso campo de ação, como conseqüência da pesca predatória profissional que, no Brasil, “cerca” os grandes peixes oceânicos em sua entrada nas nossas águas junto com a Corrente Brasil e prossegue espalhando espinhéis por toda a cos-

ta, instrumento que mata indiscriminadamente, além de criar dificuldades à navegação de embarcações menores, tal a quantidade e extensão em que são encontrados. Cabe um alerta, e é o que nos faz o reverendo Thomas Bastard, desde 1492, em lição que aparentemente a ninguém aproveitou.

Fishing (P escar) * (Pescar) Fishing is, if I, a fisher, may protest (Pescar é, se eu, um pescador, posso afirmar,) Of pleasures is the sweet’st, of sports the best, (Dos prazeres o mais doce, dentre os esportes, o melhor,) Of exercises the most excellent, (Entre os exercícios, o mais excelente,) Of recreations the most innocent. (Das recreações, a mais inocente,) But now the sport is marred, and wot ye why? (Mas, agora, o esporte está definhando, por que será?) Fishes decrease, and fishers multiply. (Diminuem os peixes e multiplicam-se os pescadores.) Reverendo Thomas Bastard (1492) O pescador, de Juliana Berners

*

Tradução livre.

NA PRAIA

DA

SAUDADE

103


OS TORNEIOS NO ICRJ

INTERNACIONAIS

O 1º T orneio Internacional de PPesca esca Oceânica Torneio ara quem apenas começava a comunicarse com o mundo pescador, atrair praticantes competentes para o torneio certamente não foi uma tarefa fácil, e a conseqüência foi que erros de avaliação trouxeram para essa experiência algumas equipes de países sem nenhuma tradição no ramo, como a Itália, de cujas águas os bicudos há muito estão ausentes ou sequer jamais estiveram presentes. A equipe das Bahamas era um grupo fanfarrão que veio fazer jus à “boca livre” e certamente brilhou no copo e na garrafa. Os sulafricanos, também presentes com uma equipe, igualmente não tinham experiência na modalidade, mas foram importantes porque nos levaram posteriormente a participar dos seus próprios torneios em Cape Town. Equador e Venezuela trouxeram equipes capazes e experimentadas que certamente contribuíram para o aprimoramento da nossa cultura técnica, especialmente no trato com

P

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A HISTÓRIA ISTÓRIA DO DO IATE ATE CLUBE LUBE DO DO RIO IO DE DE JANEIRO ANEIRO

equipamento leve e balanceado, além de também abrirem espaço para um longo intercâmbio que consolidou amizades que duram até hoje ou são de saudosa memória. Como representantes do Brasil, foram designadas as equipes das lanchas Miss Flamengo, de Helio Barroso, e a Luamar, de Mario Veiga de Almeida, respectivamente primeira e segunda colocadas no torneio tradicional do ICRJ, pouco antes terminado.

A lancha Pasargada, do comandante Alberto Emilio Dumortout, em pleno oceano revolto, tendo a bordo a equipe equatoriana, vencedora do 1 o Torneio Internacional realizado no Brasil, em jan./fev. de 1972


lo x 100, dividindo-se o resultado pela categoria da linha”, atribuídas outras bonificações por tipo de pescado. Podia ser mais simples. Apenas dez peixes entre sete equipes disputantes, com 21 pescadores envolvidos, é, sem dúvida, um fraco resultado, mesmo para os padrões daquele tempo, e deveu-se a uma quadra desfavorável com águas A equipe equatoriana, diante dos juízes de pesagem Raul M. Jordão e Caetano Prado de Oliveira, exibe um marlim-branco pescado por muito quentes, mar liso e monótoLuiz Flores, utilizando linha de 12 lb de teste, impensável para nós brasileiros na época, hoje de uso generalizado. Sempre atento, o no, absolutamente sem atividade e comandante Alberto Dumortout e seus tripulantes Fidalgo e Canário sem vida. Mas a receita esportiva de As equipes convidadas foram colocadas comunicação internacional foi exuberante, em embarcações cedidas por sócios do clube: abrindo portas no exterior para os pescadores Equador – lancha Pasargada, de Alberto Dubrasileiros que hoje dominam todas as melhomortout; Itália – lancha Fugitiva, de G. Merbaun; res técnicas da pesca oceânica por decorrência Venezuela – lancha Bole Bole, de Sica Kelson; de sua habilidade, dos equipamentos moderBahamas – lancha Vida Mansa, de Chafik Saad; e nos e dos ensinamentos que recolheram nesÁfrica do Sul – lancha Aventura, de José Carlos sas experiências. Lopes da Costa. O torneio foi disputado em três etapas, utilizando-se obrigatoriamente material leve à base de 20 lb e a classificação final dos participantes indicou: 1ª – Equador; 2ª – Itália; 3ª – Venezuela; 4ª – Brasil “B”; 5ª – Brasil “A”; 6ª – Bahamas; e 7ª – África do Sul. O regime foi de embarque do peixe e a Helio Barroso, presidente do torneio, entrega apuração de resultados baseou-se na fórmula o prêmio aos vencedores, a equipe equatoriana, assistido pelo comandante da Pasargada, “peso do peixe + bonificação + pontos por quiAlberto Dumortout e Mário Fidalgo

NA PRAIA DA SAUDADE

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Torneios da IL TT A no Brasil ILTT TTA (International Light TTakle akle TTournament ournament Association Association)) A International Light Takle Tournament Association (Associação Internacional de Pesca com Equipamento Leve) é uma entidade particular, na época com sede em New Port Beach, no Estado da Califórnia, nos Estados Unidos, que se dedica à promoção de torneios de pesca oceânica em diversos países, principalmente no seu próprio território, no México, na Venezuela, em Porto Rico e, posteriormente, em outros pesqueiros da América do Sul, como o Brasil. Adota, ainda que respeitando os postulados básicos da IGFA, regras próprias de prática aperfeiçoada para atender ao uso de equipamentos leves, em geral nos padrões balanceados de 12 e 20 lb de teste, sem buscar, portanto, a captura de grandes presas, especializando-se nos sails, marlinsbrancos e listrados e nos “babies” marlins-azuis de Porto Rico. Incentivados pelo sucesso, mais político do que esportivo, dos torneios anteriormente realizados no Brasil e também pelos nossos amigos venezuelanos já filiados aos quadros da IGFA e da própria ILTTA, logo ambicionamos promover um desses eventos no País, contando com a estrutura e capacidade organizacional do Iate Clube do Rio de Janeiro, o que acabamos por conseguir, em dose dupla. Ao segundo evento de Vitória, trouxemos o sr. Gene McCoy, presidente da International Light Tackle Tournament Asso-

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A HISTÓRIA DO IATE CLUBE

DO

RIO

DE JANEIRO

Na madrugada da abertura do torneio, hasteamento de bandeiras pelo comodoro Chafik Saad, pelo presidente da ILTTA, Robert Herder, e pelo presidente do torneio, Helio Barroso, com execução do Hino Nacional pela Banda dos Fuzileiros Navais

Os vencedores do 35º ILTTA, representantes do Búzios Beach Club, Raymundo de Brito, Paul Matheson e Roberto Pereira de Almeida (vencedor individual), recebem os prêmios das mãos dos presidentes da IGFA e da ILTTA


diversos clubes náuticos do Rio de Janeiro, contamos com os de Niterói e São Paulo, naturais participantes, e chegamos aos números necessários. Diga-se que nenhum clube dentre os que cederam bandeira era praticante da pesca oceânica, resultando em que todos os custos de inscrição ficaram a nosso cargo. Eram válidos apenas os peixes de bico. A liberação foi obrigatória, atribuindo-se a cada uma Noite de premiação: aos que apresentavam mau desempenho era oferecido um pacote de anzóis velhos e enferrujados, com muita alegria

ciation (ILTTA), também comparecendo o sr. Elwood Harry, presidente da International Game Fish Association (IGFA). Com tal apoiamento, alcançamos o nosso propósito, marcando-se para o período de 8 a 14 de janeiro de 1977 o 35º Torneio da ILTTA a realizar-se no Rio de Janeiro, tendo como sede o ICRJ. A satisfação foi intensa e motivou uma programação social e esportiva do mais alto nível, planejada e executada com meticulosidade que só falhou no principal fator, a presença de peixes, que foi extremamente modesta para tanta pompa e circunstância. A primeira questão a resolver dizia respeito à formação de equipes, representativas de clubes, cada uma com três integrantes. Pescadores sobravam e o que faltava eram “bandeiras”, já que os poucos clubes que praticavam a pesca oceânica não seriam suficientes em número para fechar o programa. Recorremos aos

Acima, Raymundo, Roberto e Paul comemoram a sua vitória, enquanto, abaixo, Alberto Dumortout é lançado ao mar, festejando o evento

NA PRAIA DA SAUDADE

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países, a saber: Estados Unidos – 17 equipes; Venezuela – 3 equipes; Curaçau – 1 equipe; Brasil – 14 equipes; e Taiti – 1 equipe. Resultados gerais Por equipe: 1º - Búzios Beach Club (cedendo bandeira): • Raymundo Pacheco de Brito – lancha A alegria pela vitória no 1º ILTTA contagiou todo o grupo de pesca do ICRJ

Macunaíma; • Richard Paul Matheson – lancha Toa Toa;

que ocorresse 100 pontos para o pescador indi-

• Roberto Pereira de Almeida – lancha Merak.

vidual, para a equipe e para a lancha, valendo dizer que as três hipóteses foram computadas para efeito de premiação. A lancha acumulava os pontos produzidos pelo pescador fixo e pelos seus tripulantes rotativos, pelo que conseguiam nos barcos em que atuavam. Na parte social, como é de praxe na organização dos torneios da ILTTA, foram realizados três eventos de grande sucesso: o coquetel de abertura ou encontro de comandantes, o Jantar do Presidente ou Chairman’s Dinner, prestigiado por convidados especiais e todos os participantes, um sucesso em grande estilo, e, finalmente, a Festa de Entrega dos Prêmios, em que também foi oferecido um “show de mulatas” cuja beleza e ginga deixaram deslumbrados os “gringos”, tudo seguido de um generalizado banho de piscina, com roupa e tudo. Participaram do evento 35 equipes, representando, cada uma, um clube, de diversos

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A HISTÓRIA DO IATE CLUBE DO RIO DE JANEIRO

José Prioli, vencedor individual do 39º ILTTA, recebe seu prêmio das mãos de J. L. “Mace” Mason, da equipe do Tuna Club, diretor da entidade


A equipe do ICRJ recebe sua premiação como vencedora do 39º ILTTA

2º - Clube dos Marimbas (cedendo bandeira):

A equipe feminina do Iate Clube composta por Léa Nobre, Luamar Veiga de Almeida e Kátia Redig comemora sua vitória na 39º ILTTA, em companhia do prof. Mário Veiga de Almeida

Houve, pois, absoluto domínio dos bra-

• Helio Barroso – lancha Miss Flamengo;

sileiros, provando sua habilidade na pesca do

• Alberto E. Dumortout – lancha Pasargada;

sailfish e, por mais essa razão, ocorreram gran-

• Arthur B. Redig – lancha Wikaka.

des comemorações e eventos sociais no encer-

3º - Imperial Valley Anglers, EUA.

ramento do torneio, deixando nos estrangeiros

Por lancha: 1ª - lancha São Lucas, de Herbert Renaux; 2ª - lancha Pasargada, de Alberto E. Dumortout.

forte impressão da capacidade de organização social e esportiva do ICRJ. Com a credibilidade adquirida no primeiro torneio, nossa candidatura para promo-

Individual:

ver, novamente no Rio e a partir do Iate Clube

1º - Roberto Pereira de Almeida (Búzios Beach

do Rio de Janeiro, a realização do 39º Torneio,

Club);

entre 9 e 16 de dezembro de 1979, foi logo

2º - José Simas (completando equipe america-

acolhida pelos americanos, dominantes na ad-

na, Light Tackle Marlin Club);

ministração da Associação, que no 40º Torneio

3º - José Assumpção Brito (idem, Club San

da Venezuela haviam eleito Helio Barroso di-

Diego).

retor e o fizeram, sucessivamente, vice-presidente e presidente da ILTTA, além de chairman

Disputado paralelamente, o torneio fe-

dos dois torneios brasileiros.

minino teve a equipe do Iate Clube como vice-

Dessa vez, participaram 27 clubes, dos

campeã, formada por Lea Nobre, Katia Redig e

quais 12 eram brasileiros, dez americanos, qua-

Luamar Veiga de Almeida.

tro venezuelanos e um taitiano, basicamente os

NA PRAIA DA SAUDADE

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mesmos que estiveram antes no Rio, com composições individuais semelhantes. Quem provou, gostou...

Feminino: Foi vencido pela equipe do Iate Clube do Rio de Janeiro, composta por Lea Nobre (Cabaret), Kátia e Carla Redig (Wikaka).

Resultados gerais

Em segundo e terceiro lugares chegaram as equipes do Pacific Anglers (EUA) e Ocean City

Por equipe:

Light Tackle Club (EUA).

1º – Iate Clube do Rio de Janeiro: Chafik Elias

Os torneios internacionais acima referi-

Saad – lancha Vida Mansa; José Vasco T. Costa –

dos constituíram, juntamente com o maior im-

lancha Ponta Negra e Augusto Nobre – lancha

pulso das disputas locais, um momento relevan-

Cabaret;

te para a pesca oceânica no Brasil, induzido pela

2º – Iate Clube Icaraí: José Prioli, Celso Pereira

forte disposição dos pescadores do ICRJ, cuja

e Paulo Roberto Lins;

liderança foi exercida por alguns nomes que de-

3º – Laguna Beach Club (Venezuela): Gildo Belini,

vem ser colocados em relevo pela contribuição

Jorge Morrison e Jesus Castillo.

que ofereceram ao nosso esporte, entre os quais se destacaram Raymundo da Costa Canário,

Individual:

James Amazonas Fernandes, Helio Barroso,

1º – José Priolli;

Richard Paul Matheson, Arthur Bittencourt Redig,

2º – José Vasco T. Costa (Ponta Negra);

Alberto Emilio Dumourtout, Sergio Kastrup e

3º – Renato Costa (Miss Flamengo).

outros esportistas de quilate.

A descoberta de Vitória e Guarapari Certo domingo de 1974, visitaram o nosso clube e foram recebidos por Helio Barroso dois associados do Iate Clube do Espírito Santo, entre eles o sr. Antenor Tavares, veterano praticante da pesca oceânica. Referiram-se à pesca abundante, a partir de Vitória, de marlins-azuis pequenos, em quantidades que despertaram dúvida em nossos espíritos, sabido que esses

110 110

A HISTÓRIA DO IATE CLUBE DO RIO DE JANEIRO

peixes não se movem em grandes cardumes e que não são pescados na opulenta quantidade que indicavam. Posto em xeque, o bom Antenor convidou-nos a comprovar de bordo da sua Marituba a veracidade de suas afirmações e, aceito o desfio, enviamos a Vitória os pescadores Ranato “Caca” Costa e Homero Mendes, que compro-


varam a abundância dos bicudos capixabas que eram, de fato, nada mais do que belos marlinsbrancos, tão raros em nossas águas, um belo peixe, espetacular na batalha que oferece. A notícia incendiou o nosso entusiasmo e, atraídos pela magnífica perspectiva que nos foi colocada, decidimos logo promover, em cooperação com o Iate Clube do Espírito Santo, o 1º Torneio Brasileiro Aberto de Pesca Oceânica em Vitória, que acabou por ocorrer entre os dias 8 e 14 de janeiro de 1975 e que pelo sucesso alcançado motivou a realização do 2º Torneio Aberto de Pesca Oceânica entre os dias 9 e 11 de janeiro de 1976, ambos acolhendo equipes estaduais e estrangeiras. Os dois eventos, envolvendo enormes responsabilidades, só foram viabilizados pela dedicação de seus promotores e pelo suporte recebido da sempre eficiente estrutura do ICRJ e ampla abertura do Iate Clube do Espírito Santo, destacando-se mais o patrocínio, no primeiro, do dr. Antonio Carlos de Almeida Braga e do Banco

do Estado do Espírito Santo, com a presença e o prestígio do dr. João Havelange. A administração das demandas envolveu operações de aumento das instalações do clube hospedeiro e o apoio em terra foi multiplicado para alojar, onde muito poucas cabiam, mais de 30 lanchas cariocas (a grande maioria), fluminenses e paulistas. Sem experiência em grandes jornadas marítimas, foram heróicas e acidentadas as viagens de cerca de 250 milhas até o destino, com passagem obrigatória pelos Baixios de São Tomé, em ambas as oportunidades. Todas as dificuldades superadas, a compensação foi prodigiosa, com resultados esportivos e políticos da maior relevância. Ao primeiro torneio compareceram equipes da Bahia, do Rio de Janeiro (Niterói), de São Paulo, do Espírito Santo e do Estado da Guanabara, além de representantes do Equador, México, Venezuela, EUA e África do Sul. A primeira disputa de Vitória foi amplamente vencida por equipe e idividualmente pe-

Mesa de honra do 1º Torneio, presentes os governadores Elcio Alvares, eleito, e Arthur Gerhardt, além do dr. João Havelange, presidente da Fifa, sra. Luiza Almeida Braga e sr. José de Almeida, presidente do Banco do Estado do Espírito Santo, e, ao microfone, o presidente do torneio, Helio Barroso

Equipe Wikaka, vencedora do 1º Torneio, vendo-se Fernando Costa, Eduardo Brennan, Gildo Belini (venezuelano, vencedor individual), José Simas e o comandante Athur Redig

NA PRAIA

DA

SAUDADE

111111


los venezuelanos em cujas águas o marlim-branco era tão abundante quanto nas águas capixabas, entre os quais se destacaram Gildo Belini, Aquiles Garcia e Ronald Morrison. Observe-se que nessa oportunidade, a presença do pescado foi simplemente extraordinária, revelando grandes cardumes do marlimbranco, numerosos atuns e marlins-azuis e até sword-fishes. No segundo torneio, as grandes vencedoras foram as lanchas Pasargada, de Alberto Emílio Dumortout, Algo Mais, de Perter Landsberg, ambas sob a bandeira do ICRJ, respectivamente primeira e segunda colocadas, ficando em terceiro a Maira de Ivan Briggs, do Iate Clube Brasileiro. Os vencedores individuais foram Alberto Ivan Briggs, da lancha Maira, Aquiles Garcia, da lancha Passárgada da Venezuela, e Michael Brandt, dos EUA, com a lancha Quebec. As capturas foram significativas, nesse segundo evento, com 348 marlins-brancos e 5 marlins-azuis, além de outras espécies, estatística que não foi preservada em relação ao primeiro torneio. Durante os doze anos seguintes, equipes do ICRJ voltaram regularmente a Vitória e organizaram muitos eventos em Guarapari, fazendo do Hotel Porto do Sol o quartel-general, talvez, dos mais excepcionais tempos de pesca de toda a nossa experiência comum.

112 112

A HISTÓRIA ISTÓRIA DO DO IATE ATE CLUBE LUBE DO DO RIO IO DE DE JANEIRO ANEIRO

A Pasargada, de Alberto Dumortout, ainda com outriggers de bambu, ganhou por mérito o segundo torneio de Vitória, tendo a bordo Aquiles /Garcia, da Venezuela, e Elwood Harry, presidente da IGFA

Nenhum texto seria mais eloqüente do que a foto acima para referir-se aos prazeres que colhemos nos muitos torneios internos que as lanchas do ICRJ promoveram durante muitos anos no “território carioca” do Hotel Porto do Sol, em Guarapari. Como homenagem e a um grupo excepcional, desfilamos os nomes dos companheiros que aparecem na foto. De pé, da esquerda para a direita: Fernando Gomes Pedrosa, Eliseu Soares Neto, José Ernani de Figueiredo, José Esteves Corrêa, Richard Paul Matheson, Patrick Josquin, Rogério Cabral de Menezes, Roberto Pereira de Almeida, Luiz Carlos Nolasco, Paulo Fabiano Ferreira, Celso Rocha Miranda, José Vasco Teixeira da Costa; agachados, na mesmo ordem: Evandro Soares, Eliseu Soares Filho, Renato Costa, o Cáca, Mario Picosi, Helio Barroso, Paulo Abram e Leonardo Bochner


O OPEN 25’

Torneio Open 25' nasceu a partir da

também a mencionada inexistência de um tor-

idéia de criar-se uma alternativa para

neio específico destinado às embarcações de

as embarcações de pequeno porte.

menor porte.

O

Sempre esquecidas pelos organizadores de com-

Inicialmente, Fernando apresentou sua

petições de pesca esportiva, as lanchas de até

idéia ao proprietário do estaleiro Riostar e tam-

25 pés foram as grandes inspiradoras desse even-

bém pescador Roberto Martins, que imediata-

to permanente.

mente endossou a iniciativa oferecendo co-

Em 1994, Fernando Álvaro Martins Sales

patrocínio. O outro patrocinador do torneio foi

(um dos representantes da IGFA no Rio de Ja-

a loja de artigos de pesca Fisherman’s Paradise,

neiro na época), veterano pescador, idealizou

de Otto Vergueiro.

uma competição de pesca que buscava preen-

Confirmando o seu sucesso, o torneio

cher duas lacunas então existentes no que dizia

completa, agora, em 2005, sua 12ª edição. O

respeito à pesca esportiva: o período de inativi-

número médio de participantes, que foi de 12

dade existente entre o término da pesca costei-

equipes em 1994, atingiu 23 em 2003, com um

ra e o início da temporada de pesca oceânica, e

total de 29 equipes inscritas.

As lanchas-padrão utilizadas no Open 25´

Regressam os participantes do Open 25´ da temporada 2003/2004

NA PRAIA DA SAUDADE

113 113


O regulamento da disputa foi elaborado a partir da fixação de alguns conceitos básicos para este tipo de competição: Tamanho das embarcações – Limitado a 25 pés de comprimento, de modo a permitir maior número de participantes, levando em consideração o comprimento na linha d’água. Área de pesca – Inicialmente limitada por linhas imaginárias, teve seus limites alterados para coordenadas geográficas, facilitando o trabalho das equipes. Número de tripulantes a bordo – A limitação do número de pescadores em três,

Pedro Bertrand, da lancha Original, com uma piraúna

com a possibilidade da participação de um ajudante, ou seja, quatro tripulantes a bordo, equilibrou o potencial das equipes. Peso mínimo e quantidades máximas para pesagem – Os critérios de peso para as capturas, com tamanhos mínimos para as espécies mais nobres, atenderam também às exigências regulatórias do Ibama, e a estipulação de bag limits para todas as espécies em até 20 exemplares aumentou o dinamismo da competição, pois as equipes precisam planejar seu procedimento se candidatas a vencedoras. Confirmando o sucesso desta fórmula, o torneio contou desde o início com a participa-

Rafael Magalhães Ferreira, da lancha Dagarana, com uma pescada amarela

ção de tarimbados pescadores, acostumados

114 114

com a participação em torneios de pesca em-

O torneio já teve como campeões pes-

barcada nas modalidades costeira e oceânica, de-

cadores consagrados até mesmo no Torneio

cididos a experimentar uma nova opção.

Anual de Peixes de Bico do ICRJ, o mais tradi-

A HISTÓRIA DO IATE CLUBE DO RIO DE JANEIRO


cional de pesca oceânica no Brasil: Denison

• 1998: Binoca – Leonardo Bochner,

Duque Silva, Claus Buckmann, Vicente Arruda

Eliseu Soares Neto, Johnny Spievak, Aílson da

Filho, Evandro Soares, Leonardo Bochner,

Silva; • 1999: Kahala – Cid Gonçalves Nunes

Eliseu Soares Neto, Fernando Garcia e Jayme Garcia. Equipes campeãs em cada edição do tor-

da Costa, Loris Lupetina, Eduardo Elias Jorge Filho; • 2000: Binoca – Leonardo Bochner,

neio: • 1994: Joker – Marcelo Saade Rodrigues, Luiz André Saad Rodrigues, Alberto de Fa-

Eliseu Soares Neto, Johnny Spievak, Aílson da Silva; • 2001: Binoca – Leonardo Bochner,

ria, Manoel Martins; • 1995: Melly Black – Claus Buck-

Eliseu Soares Neto, Johnny Spievak; • 2002: Binoca – Leonardo Bochner,

mann Cardoso de Melo, Evandro Soares, Vicente Arruda Filho, Eduardo Elias Jorge Filho;

Eliseu Soares Neto, Johnny Spievak;

• 1996: Magui – Denison Floret Du-

• 2003: Flying Fish – Fernando da Cos-

que Silva, Marcelo Duque Silva, Guilherme Du-

ta Garcia, Jayme da Costa Garcia, Marco Auré-

que Silva;

lio Vahia de Abreu, Denison Duque Silva, Fran-

• 1997: Kahala – Cid Gonçalves Nunes

cisco Aldi Carlos da Silva; • 2004: Aquila Blanka – Eliseu Soa-

da Costa, Loris Lupetina, Roberto Silva, Marco Antônio Alves Peçanha, Isadora Lupetina;

res Filho, Eduardo Elias Jorge, João Victor Dias.

O retorno das equipes concorrentes proporciona belíssimos e fartos resultados

NA PRAIA DA SAUDADE

115 115


Alguma capturas foram registradas como recordes mundiais absolutos da IGFA (all-tackle), e outras, igualmente destacadas, não o foram, como, por exemplo:

Bagre Corvina Espada Marimbá Tainha

5.695 3.800 3.715 1.440 2.745

16.9.2000 3.8.2002 24.7.1999 14.9.2002 20.7.2002

Fernando Garcia e Denison Duque com o resultado do dia

Julio Stevan de Brito Luis Carlos B. de Carvalho Eduardo Elias Jorge Filho Eliseu Soares Filho Alexandre Antunes

Gamecock Kakareko Kahala Aquila Blanca Blue Runner

O Open 25´ abastece a geladeira dos pescadores

Mas as regras são rígidas quando toca à conservação e a captura que não fica nos limites de tamanho permitido penaliza o pescador embora não lhe prejudique o estômago O Open 25´ gera acentuada confraternização e cria amigos

116 116

A HISTÓRIA DO IATE CLUBE DO RIO DE JANEIRO


A

PESCA COSTEIRA

atividade costeira separava em torneios diferentes a prática do corrico e a chamada pesca de linha de fundo, que antes não utilizava caniço e hoje o faz em função das regras internacionais da IGFA. Atualmente, os torneios anuais compreendem as duas atividades e cada equipe pratica ambas ou a que lhe convier.

A

Os chernes da Pedra de Itaúna perderam estas batalhas para a equipe Miss Flamengo, composta por Renato “Caca” Costa, Helio Barroso, Toufik Saad e Antônio Soares

O Comandante Machado Vieira, da lancha Hobby, com dois belos meros capturados em 1964 nas proximidades da Laje da Marambaia

Lancha Wikaka II: da esquerda para a direita, José Roberto, Amauri Silva, marinheiro Joaquim Tavares e Arthur Redig

NA PRAIA

DA

SAUDADE

117 117


Eduardo Baumaier, descobridor do lírio, peixe típico de águas profundas e recorde mundial potencial da espécie com 10,120 kg

118 118

Joisete Del Vecchio ferrou um belo cherne de bordo da lancha Ema de Harry Adler, contumaz na pesca de linha de fundo, como se vê na foto acima

Fernando Meira, líder da equipe Flying Fish, que registra cinco campeonatos de fundo, mostra um belo namorado

A bela garoupa exibida por Philip Greenman

Binoca e Ponta Negra, em 3.7.1999, e chernes, muitos chernes

O mergulhador Edmundo Souto de Oliveira não perde oportunidade para ir buscar, com o uso de linha, o cherne do dia

A HISTÓRIA DO IATE CLUBE DO RIO DE JANEIRO


Equipes campeãs dos torneios de pesca costeira 1995 – Splendore • Comandante: Armando Santone • Pescadores: Marco Pessanha, Sérgio Moreira, Eduardo Aranha e Eliseu Soares Filho

1969 a 1973 – Miss Flamengo • Comandante: Helio Barroso • Pescadores: Antônio Soares, Belmiro Tibau e Renato Costa (Caca)

1984 – Jenny • Comandante: Victor Adler • Pescadores: Loris Lupetina e Cid Costa

1974 – Vida Mansa • Comandante: Chaffic Saade • Pescadores: Evaristo Sá, Manoel Martins e Albino Martins da Costa

1985 – Emilia Maria • Comandante: José A. Esteves Corrêa • Pescadores: Victor Pestana, Marcelo Soares, Evandro Soares e Eliseu Soares Filho

1996 – Flying Fish • Comandante: Fernando Garcia • Pescadores: Jayme Garcia, João Vaz, Eliseu Soares Filho e Jamil Abrão

1986 – Jo Anne • Comandante: Walter Gainsbury • Pescadores: Mauricio de Souza Paixão, Femando Almeida e Júlio Almeida

1997 – Flying Fish • Comandante: Fernando Garcia • Pescadores: Jayme Garcia, João Vaz, Eliseu Soares Filho e Evandro Soares

1976 – Maira • Comandante: Ivan Briggs • Pescadores: Alberto Ivan Briggs, Mário Vignal e José Américo Costa

1987 – Angélica • Comandante: Luiz Oswaldo N. Aranha • Pescadores: Joilson dos Santos, Johnny Spievak, Evandro Soares e Eliseu Soares Fi1ho

1998 – Flying Fish • Comandante: Fernando Garcia • Pescadores: Jayme Garcia, Evandro Soares, Eliseu Soares Filho e Eurico Soares

1977 – Cabaret • Comandante: Augusto Nobre • Pescadores: Luiz Ozório Werneck, Léa Nobre e Eduardo Ozório

1988 – Emilia Maria • Comandante: José A. Esteves Corrêa • Pescadores: Johnny Spievak, Evandro Soares e Eliseu Soares Filho

1978 – Stravaganza • Comandante: Evangelista Pereira • Pescadores: Antônio Wakigawa, Joilson dos Santos, Rodrigo Costa Pereira e Eliseu Soares Filho

1989 – Khayyam • Comandante: Renato Quintaes • Pescadores: Alberto Quintaes, Cid Costa e Eduardo Baumeier

1975 – Quebec • Comandante: Antônio Sabato Annechino • Pescadores: Carlos F. Annechino, Wilson Nogueira, Rodrigo Costa Pereira e Moacir Santos

1979 – Quebec • Comandante: Antônio Sabato Annechino • Pescadores: Carlos F. Annechino, Wilson Nogueira, Rodrigo Costa Pereira e Moacir Santos 1980 – Cambarra • Comandante: Rocha Pinto • Pescadores: Oscar Mattos e Luis Bley 1981 – Wikaka • Comandante: Arthur B. Redig • Pescadores: Joaquim Tavares, Amauri Silva, Cid Costa e Eliseu Soares Neto 1982 – Emilia Maria • Comandante: José A. Esteves Corrêa • Pescadores: Eliseu Soares Neto, Eliseu Soares Filho e Evandro Soares 1983 – Emilia Maria • Comandante: José A. Esteves Corrêa • Pescadores: Otto Vergueiro, Eliseu Soares Filho e Evandro Soares

1990 – Laurocriwa Comandante: Jamil Lessa Pescadores: Miguel Abdala, Eurico Soares, Johnny Spievak e Eliseu Soares Filho 1991 – Erythreus • Comandante: Adilson M. Xavier • Pescadores: Femando Almeida, Otto Vergueiro e Alberto Quintaes 1992 – Miami Vice • Comandante: Armando Santone • Pescadores: Eduardo Aranha e Sérgio Moreira

1999 – Flying Fish • Comandante: Fernando Garcia • Pescadores: Jayme Garcia, Evandro Soares e Eliseu Soares Filho 2000 – Flying Fish • Comandante: Fernando Garcia • Pescadores: Jayme Garcia, Evandro Soares, Eliseu Soares Filho e Cristiano Merheb 2001 – Alhambra • Comandante: Gui1hermino Lima • Pescadores: Wilson Pontes, Femando Pedrosa e Sérgio L. Vieira 2002 – Catalan • Comandante: Manoel Camero • Pescadores: Bertolino Lowen, Paulo Checchetti e Carlos B. Barbosa 2003 – Binoca • Comandante: Leonardo Bochner • Pescadores: João Paulos Costa, Johnny Speviak, Eliseu Soares Neto e Vicente Arruda Filho

1993 – Laurocriwa • Comandante: Jamil Lessa • Pescadores: Roberto Oliveira, Jayme Silva e Johnny Spievak

2004 – Binoca • Comandante: Leonardo Bochner • Pescadores: Eduardo Baumeier, Jhonny Speviak, Vicente Arruda Filho e Willamar V. Pinto

1994 – Binoca • Comandante: Leonardo Bocbner • Pescadores: João Paulo Costa, Eduardo Baumeier e Eliseu Soares Neto

2005 – Flying Fish • Comandante: Fernando Garcia • Pescadores: Jayme Garcia, Luís R. Carvalho, Marco Aurélio Vaia de Abreu, Marcelo de Agostini e Eliseu Soares Neto

NA PRAIA DA SAUDADE

119 119


Pesca costeira – recordistas individuais (maiores exemplares por espécie) Peixe Badejo-saltão Badejo -quadrado Bagre Baiacu -arara Batata-da-pedra Bonito-cachorro Brota Caçonete Cangulo Castanha Cherne Cioba Congro-rosa Corvina Dourado Enchova Espada Garoupa Lirio Mangangá Mixole Namorado Olhete Olho-de-boi Olho-de-cão Palombeta Pampo Pargo Pescada-amarela Pescada maria-mole Piranjica Polveiro Queimado Raia Rêmora Sabre Serra Swordfish Tira-e-vira Tubarão-mako Tubarão-martelo Vermelho-caranho Xaréu

120 120

Ano

Pescador

Kg

Lancha

1998 1990 1985 1998 1991 1986 1991 2004 1994 1997 2004 1991 1997 2003 2001 1997 1998 1980 2004 1997 1997 2003 1989 1983 1994 2004 1998 1995 2003 1998 1997 2004 1995 1992 1990 2002 1998 2002 1991 1985 1985 1988 1995

Eduardo Baumeier Antonio Sabbato Annechino Julio Giesteira Almeida Evandro Soares Eliseu Soares Filho Rodrigo Costa Pereira Eliseu Soares Filho Denison Duque Silva Guilherme Duque Silva Roberto Garcez Coelho Jayme da Costa Garcia Lotário Vecchio Roberto Garcez Coelho Eurico Soares Guilhermino Lima Eduardo Baumeier Eduardo Elias Jorge Filho Cláudio Souza Eduardo Baumeier Luiz Tomás Carlos Alberto Ribeiro Fernando Lacroy Neir Gonçalves Armando Serra Eduardo Baumeier Guilhermino Lima Gerson Barreto Fernando Rocha Gustavo Machado Vieira Marcelo Jácomo Frey Gerson Barreto João Paulo Teixeira da Costa Sergio Tunhas Moreira Fernando Almeida José Osvaldo Aranha Eduardo Baumeier Ricardo da Costa G.Pedrosa Eduardo Baumeier Eurico Soares Victor Pestana Luiz Oswaldo Norris Aranha Rodrigo da Costa Pereira Alberto Quintaes

2,380 4,000 4,600 3,005 3,000 2,400 3,800 2,560 0,930 1,175 27,200 1,000 3,175 2,715 29,800 6,500 3,960 19,200 10,080 1,430 1,040 18,600 16,800 15,600 4,000 11,000 3,055 5,200 4,900 1,710 1,670 20,400 121,000 83,800 2,050 3,895 2,125 15,800 1,600 66,800 43,000 5,200 9,200

Posso ir? Quebec Jo Anne Flying Fish Laurocriwa Quebec Laurocriwa Flying Fish Damg Distac Flying Fish Parma Distac Vida Mansa 25 Alhambra Quarentona Kabira Banzai Binoca King Marine Quarentona Maui Binoca Jenny Binoca Alhambra Posso Ir? Mariotti Vida Mansa 25 Melly Black Quarentona Binoca Splendore Erytrheus Milena Old Lady Makaxa Old Lady Laurocriwa Emilia Maria Angélica Quebec Kayyan

A HISTÓRIA DO IATE CLUBE DO RIO DE JANEIRO


HISTÓRICO

DA CAÇA SUBMARINA

J

ames O’Connell, integrante da tripulação do Vendaval, foi o responsável, no limiar da década de 1950, pela introdução da caça submarina no ICRJ como atividade esportiva. A nova prática, logo difundida por inúmeros clubes da época, gerou a criação da Associação Brasileira de Caça Submarina (ABCS) que organizou, no período áureo, entre 1952 e 1962, cerca de 23 campeonatos brasileiros em Angra dos Reis, no Rio de Janeiro e em diversos estados da Federação, segundo relato deixado por Victor Wellisch, o grande incentivador do esporte que, ademais, era um especialista em tubarões, sobre os quais produziu muitos escritos. Em maio de 1952, foi realizado o 1º Campeonato Brasileiro de Pesca de Mergulho no entorno da Ilha Grande, em Angra dos Reis, vencido pela equipe Praia Vermelha, de que eram integrantes Abel Gazio, José Carlos Audiface de Brito, Antonio Guterrez, Renato Costa (Caca), Luiz (Lulu) Corrêa de Araújo, os melhores de seu tempo. Participaram também as equipes Sea Rider, Roberto Marinho, Casa Marlin e Mesbla S.A., entre outras. Em janeiro de 1957 realizou-se, ainda em Angra, o VI Campeonato de Caça Submarina, vencido pela equi-

Victor Wellisch

pe Estrela de Prata, do ICRJ, capitaneada por Victor Wellisch, tendo como ganhador individual José Carlos Audiface de Brito. Animando a atividade no Rio, o ICRJ e o Clube dos Marimbás, que abrigavam as melhores equipes locais, organizaram o 1º Campeonato Carioca, com disputa em três modalida-

NAA PRAIA RAIA DA SAUDADE N

121121


des, de arrasto, de fundo e de arpão. Na caça submarina venceram Paulo G. Lefevre e Toufic Saad, representantes do clube, o primeiro, um Toufic Saad piloto comercial de plano internacional, situação que animava sua permanente preocupação em suprir-se e a seus companheiros com o mais moderno equipamento disponível, prática de que participavam outro piloto, Enzo Telles, assim como mergulhadores, como Eduardo Souto de Oliveira (Coruja) e Apio. Em 1952 já havia muitas equipes em ação, entre as quais se destacavam a Praia Vermelha, a

João Borges

122 122

A HISTÓRIA DO IATE CLUBE DO RIO DE JANEIRO

Armando Serra e Victor Wellisch

Marimbás, as Arpoador A e B, além daquelas do ICRJ, como a Sea Rider e Iate Clube, integradas por Toufic Saad, Victor Wellisch, Roberto Finnenberg, João José Bracony, Péricles Memória, George Aveliano, Bruno Hermanny, José Carlos Audiface de Brito, os irmãos Simões, Carlos Niemeyer e Ney Gregory, A. C. Ourivio, Israel Klabin e outros. Em 1958, o ICRJ participa do Campeonato Mundial de Caça Submarina em Sessimbra, Portugal, e fica com a 3ª colocação geral. Logo depois do VII Campeonato Brasileiro de Caça Submarina, vencido em Angra dos Reis pela equipe Coruja, composta por Wellisch, Bruno, Lulu Corrêa de Araújo, Henrique Soledade, Péricles Memória e Abel Gazio, a equipe brasileira alcança seu melhor feito até então, vencendo o Torneio Internacional de Caça Submarina, também ocorrido em Angra dos Reis, brilhando a equipe formada por João e Arnaldo Borges, Abel Gazio e Bruno Hermanny.


Americo Santarelli e Lucio Lenz, membros da equipe brasileira vencedora do Campeonado Sul-americano de Caça Submarina, na Venezuela, em 1966

Equipe oficial ICRJ de Caça Submarina de 1961: Henrique Soledade, Pericles Memória, Bruno Hermanny, Gustavo Silva, Victor Wellisch, Luiz Correia de Araújo e Abel Gazio

Lucio Lenz com incrível volume de capturas

NA PRAIA DA SAUDADE

123 123


dores, que por muitos anos inspirou a passagem pelo clube da tradicional Procissão de São Pedro. Em seu período áureo, contando com mergulhadores excepcionais, a caça submarina brasileira acumulou, por equipe e individualmente, os seguintes títulos: 1958 – A equipe brasileira alcança o 3º lugar no Mundial de Sessimbra, Portugal, integrada por Abel Gazio, João e Arnaldo Borges, Oscar Sjosted, José Carlos A. Brito e Bruno Hermanny, que, pela primeira vez, vestia a obriÁlvaro Varanda, Américo Santareli e Lúcio Lenz, uma gatória roupa de neoprene. equipe de grande competência, representante da CBD 1959 – 4ª colocada no Mundial de Caça Também em 1958, o grupo de merguSubmarina, realizado em Malta; com Bruno lhadores, com o apoio do jornalista João Carlos Hermanny, Abel Gazio e Arnaldo Borges. Vogt, instala sob as águas em frente e próximo à Vencedora do Torneio Internacional de Igreja de Nossa Senhora do Brasil, na Urca, a Caça Submarina, realizado em Angra dos Reis, exemplo do Cristo Submerso, de Rapalo, Itália, com João e Arnaldo Borges, Oscar Sjosdet, Bruuma estátua de São Pedro, padroeiro dos pescano Hermanny, Abel Gazio e José Carlos Audiface de Brito, pela primeira vez vestidos com roupas de neoprene. 1963 – A equipe brasileira é bicampeã Mundial com Américo Santarelli, Lucio Lenz e Bruno Hermanny, no Rio de Janeiro. Bruno Hermanny, destacou-se, individualmente, como um dos mais notáveis mergulhadores brasileiros, alcançou os seguintes títulos na atividade: 1958 – 6º colocado no Mundial de Portugal; Os saudosos Luiz Leopoldo Noronha (Biju), Raul Miranda Jordão 1959 – 5º colocado no Mundial e Américo Santareli com Titus Bertrand e uma diversificada colheita de peixes bons de mesa da Itália;

124 124

A HISTÓRIA DO IATE CLUBE DO RIO DE JANEIRO


1960 – Campeão Mundial na Itália; 1963 – Bi-campeão Mundial no Rio de Janeiro. As armas daquele tempo eram as italianas Cressi, que foram reproduzidas por um torneiro português, apelidado Tripa, e amplamente usadas na época, embora sem as melhores características da original. No período 1965/1975, o clube foi pentacampeão carioca e os principais atletas dessa época foram Atílio Somaglino, Américo Santarelli, Lúcio Lenz, Armando Serra, Marcelo Rabello, Marcílio Mureb e João Cristovão. Carente de melhores registros, essa bela época da caça submarina entrou em processo de renovação de seus praticantes com o surgimento, na década de 1980, de mergulhadores do porte de Edmundo e Eduardo Souto e Rubens Tinoco, cujo sucesso atraiu muitos jovens para o esporte e motivou a criação da Fe-

Edmundo Souto de Oliveira e Paulo Pacheco, mergulhadores eméritos e muitas garoupas

deração de Caça Submarina do Estado do Rio de Janeiro (FCSERJ). Depois dessa “recessão”, as primeiras conquistas desse período foram surgindo em

runo Otero Hermanny foi, talvez, o mais destacado dos caçadores submarinos brasileiros, ostentando numerosos títulos nacionais e do clube, tornando-se, nos anos 1962 e 1963, bicampeão Mundial na especialidade. O fato teve grande repercussão e justificou a concessão pelo Conselho Deliberativo do ICRJ, em seção de 24.4.1964, por proposta do então comodoro Edgard Souto de Oliveira, do título de benemérito certamente merecido pelo atleta notável que ele foi.

B

NA PRAIA DA SAUDADE

125 125


Yan Solberg e Carlos Alberto Heluey, implacáveis caçadores de grandes meros

1984, com a equipe do Iate Clube do Rio de Janeiro vencendo o Campeonato Estadual e Edmundo Souto de Oliveira tornando-se o ganhador individual do evento, além dos 1º e 2º Torneios Américo Santarelli, respectivamente em

126

A HISTÓRIA DO IATE CLUBE DO RIO DE JANEIRO

1991 e 1993, com Edmundo Souto de Oliveira e Paulo Sérgio Pacheco. Relevante foi a conquista do Campeonato Nacional por Equipes, com Paulo Sérgio Pacheco, Edmundo e Eduardo Souto de Oliveira, represen-


de participar dos campeonatos mundiais organizados pela Confederação Mundial de Atividades Subaquáticas (CMAS). O fato não os inibiu, porém, de atuar nos Campeonatos Mundiais de Águas Azuis, uma nova modalidade, cujas capturas são especializadas, limitando-se aos peixes de oceano (pelágicos) e a apenas uma unidade por espécie, por pescador. Os nossos representantes Edmundo e Eduardo conquistaram o campeonato da especialidade em 1998, na Ilha de Santa Maria, nos Açores, Portugal, tanto por equipe como individualmente, com Edmundo liderando. O próprio Edmundo conquistou também a terceira posição individual no Mundial de Águas Azuis de 2000,

Yan Solberg e Carlos Alberto Heluey e uma belíssima garoupa

tante do ICRJ, os três ocupando as primeiras colocações, um fato inédito até hoje. Seriam ainda mais profícuos os resultados dos atletas do clube se motivações políticas dentro da atividade não os houvesse impedido

em La Paz, México, e seu irmão Eduardo ocupou a segunda colocação em Hatteras, Carolina do Norte, Estados Unidos, em 2002. Fotos desses eventos podem ser vistas no capítulo O ICRJ no exterior. O Iate Clube do Rio de Janeiro mantémse ativo na modalidade e é filiado à Confederação Brasileira de Caça Submarina e à Federação de Caça Submarina do Estado.

NA PRAIA DA SAUDADE

127 127


O Mundial de Caça Submarina de 1963 rimorosamente organizado pelo ICRJ, o Mundial de 1963 contou com o apoio do Conselho Nacional do Desportos, da Confederação Brasileira de Desportos e da Marinha do Brasil, resultando ter Bruno Hermanny como campeão individual, ficando a equipe brasileira no 2º posto, cedendo o 1º aos franceses, por mínima diferença em quilos. O torneio teve a presença, além da equipe brasileira, de representantes da Inglaterra, Portugal, Argélia, Mônaco, Itália, Espanha, França, Uruguai, EUA, Argentina, Malta e Chile. A área da disputa dividiu-se entre o Arquipélago das Cagarras e as Ilhas Tijuca. A locomoção dos caiques foi feita por lanchas rápidas sob vigilância de uma embarcação e um helicóptero da Marinha.

P

Área de pesca com apoio da Marinha e lanchas de traslados

Bruno Hermanny, grande vencedor individual

Resultados por equipes

128 128

A HISTÓRIA DO IATE CLUBE DO RIO DE JANEIRO

Equipe brasileira, vicecampeã, formada por Bruno Hermanny, Lúcio Lenz e Américo Santareli com o representante do CND, Durval Vianna.


A ESCOLA DE DESPORTOS NÁUTICOS –EDN esde os primórdios, foi propósito dos fundadores, particularmente do comodoro Arnaldo Guinle, criar no Fluminense Yacht Club uma seção náutica eclética. Visava a prática de vela, “regatas” de lanchas de velocidade, esqui aquático e remo, assim como ficou expresso no primeiro estatuto editado em 1926 e na própria ata de fundação. Ao criar, em 1934, departamentos especializados para administrar suas diversas atividades, o FYC dá início àquele projeto, entregando o comando dos diversos órgãos a associados dispostos a cumprir suas responsabilidades setoriais, entre as quais estava a seção de Barcos a Vela. As competições começaram com os Snipes adquiridos na Mestre Blage e referidos

D

no capítulo A Vela, tendo como primeiro mestre um profissional da Marinha para transmitir aos associados interessados as artes do velejar, as-

NA PRAIA DA SAUDADE

129 129


sim iniciados os processos de aprendizado que acabaram por inspirar a criação da EDN. Roberto Müller Bueno, um starista de envergadura, é um nome a ser relembrado e reverenciado por todas as gerações que passaram e vierem a transitar pela EDN, à qual se devotou desde o seu ingresso no Iate Clube do Rio de Janeiro em 1943, no momento mesmo em que o clube adquiriu sua nova personalidade. Dele partiu a iniciativa da consolidação, na década de 1950, de uma escola para ensinar vela aos jovens, até aos bem jovens, que, de início, foi denominada Escola de Esportes Náuticos (EEN), tendo-o como

130

A HISTÓRIA DO IATE CLUBE DO RIO DE JANEIRO

seu diretor. Assim se desenvolveu até os anos 70, quando, ampliando o seu currículo, passou à atual denominação, reestruturada por iniciativa do comodoro Carlos de Brito, com a profissionalização de velejadores capacitados, incorporados a um quadro de instrutores. Surgiu, então, o Pingüim, um barco pequeno, maneiro, medindo apenas 3,50 m de comprimento, pesando apenas 70 kg, como um apropriado substituto do Snipe, exigindo habilidade e destreza dos seus ocupantes, assim preparando de forma plena os jovens alunos para as disputas acirradas entre os numerosos concorrentes que passaram a


comendas de mais 30 unifreqüentar as raias com a dades, feitas pelos sócios. disposição que o barquiHoje, a EDN pronho inspirava. move cursos de iniciação Consciente das na classe Optmist e de qualidades do barquinho, e aperfeiçoamento nas clasà semelhança do Iate Cluses Laser e Oceano, com be de Santo Amaro que o aulas teóricas e práticas de adotava desde 1954, Buemarinharia, navegação a no resolveu constituir uma vela e outras matérias do flotilha igual para o ICRJ, currículo de veleiro amapara o que promoveu a dor. Desenvolve, adeimportação das plantas resmais, cursos como os de pectivas dos Estados Uni- O mestre Bueno e o aluno Alan Adler, que se tornou mestre Arrais, Mestre, Capitão dos, entregando a construAmador, Canoagem, Natação, Ginástica Especíção dos Pingüins aos estaleiros de Pierre fica, Meteorologia, Reciclagem Tática de RegaBouscayral de Mattos e Pedro Penna Franca. tas, Iniciação à Pesca e cursos práticos para maSeguro dos resultados, “financiou” as 50 rinheiros. primeiras unidades de forma peculiar pela constituição de um consórcio compulsório formado por associados selecionados por ele próprio, a cada um impondo a aquisição de uma unidade, sob o forte argumento de que, além de bom negócio, a aquisição beneficiaria os filhos dos adquirentes. Mediante sorteio, entregava um barco por semana aos compradores, entre os quais estavam Anchyses Carneiro Lopes, Joaquim Belém, Stélio Bastos Belchior, Pedro Ajuz, Gil de Souza Ramos, Antonio Rudge, Domício Barreto, Victor Demaison e Jorge Frank Geyer. Assim, a Escola passou a contar com uma eficiente e moderna flotilha da classe Pingüim cujo crescimento continuou célere, graças às en-

Comandante Arnaldo Guedes, atual e por muitos anos devotado dirigente da EDN

NA PRAIA DA SAUDADE

131131


Os efeitos desse projeto muito se fizeram

quando chegados à juventude, integram-se às

sentir ao longo dos anos em dois seguimentos dis-

tripulações das nossas bem equipadas lanchas

tintos, o primeiro, criando nos jovens o sentido do

que demandam o oceano largo na disputa dos

mar, da disputa ética e da formação cívica. O se-

torneios de captura e liberação dos grandes

gundo se desenvolveu naqueles que deram segmento à sua devoção ao mar e à vela, conquistando vitórias que os distinguem como indivíduos expcionais, cujos feitos orgulham a EDN e o Iate

bicudos que freqüentam as nossas águas oceâ-

Clube do Rio de Janeiro.

seu nascimento, foi designado como o dia em

nicas a cada verão. Hoje a EDN tem como patrono o almirante Tamandaré e o 13 de dezembro, data do

Outros nomes deram seguimento à obra

que, a cada ano, serão comemorados os traba-

de Roberto Müller Bueno, como Ângela Brun e

lhos dos mestres, o aprendizado dos jovens e

Arnaldo Guedes Barreiro, que, ao dedicar-se ao

as conquistas da Escola.

ensino de seus próprios filhos, adotaram centenas de outros jovens a quem também transmitiram o muito que tiveram a oferecer, pela disposição de ensinar com dedicação e afeto, servindo à Vela e ao clube, tanto quanto aos seus filhos-alunos. Na pesca, à beira do cais e com a cooperação da Diretoria de Pesca, as nossas crianças tomam os primeiros contatos com o caniço, com as linhas, os anzóis e as iscas e muitos,

O mar não é a única sala de aulas

A imagem do Patrono Tamandaré protege a EDN; ao lado, a fachada da Secretaria da Escola

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A HISTÓRIA DO IATE CLUBE DO RIO DE JANEIRO


54º Curso de Vela – 1º semestre de 2000

60º Curso de Vela – 2003

Optimists em desfile

Comodoro Janot e seus pupilos

O vice-comodoro Ibaté Jost entrega mais um bote inflável à Flotilha Zé Carioca, daqueles que fazem a segurança da garotada em água

Secando as velas dentro do hangar 1

Guarda cuidadosa dos barcos no hangar 1

Formandos da EDN, década de 1960, com Carlos de Brito, Antonio Ferrer e outros

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Os alunos da EDN ensinam

esde 1973 até o presente, a EDN formou mais de 3.000 velejadores nas duas categorias de primeiro e segundo graus numa média de 60 alunos por semestre, muitos dos quais ainda se devotam ao nobre esporte da vela, destacando-se em sua prática competitiva, honrando-se e horando-nos com a conquista de Medalhas Olímpicas, Pan-americanas e Mundiais, além das muitas vitórias em nossas próprias águas. Extrapolando a prática do velejar, mesmo os alunos que seguiram outros ca-

D

Alan Adler e o seu notável parceiro, Nelson Falcão

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A HISTÓRIA DO IATE CLUBE DO RIO DE JANEIRO

Os medalhistas Alan Adler, Daniel Santiago, Maurício Santacruz e João Carlos Jordão, no Pan-americano de 2003

minhos esportivos receberam o bônus da benéfica influência da EDN na sua formação esportiva e moral.

Os olímpicos Alan Adler e Aurélio Miguel, felizmente em boa paz


PESCA

O

DE CAIS

Departamento de Pesca inclui no seu calendário anual diversos eventos de pesca de cais originalmente dedicados aos petizes. Mas, como se vê abaixo, os marmanjos “securas” também invadem a atividade e às vezes até competem diretamente com os pescadores mirins. Agora, os peixinhos são devolvidos ao mar na expec-

tativa de que se possa pescá-los novamente, ensinando preservação aos iniciantes.

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... onde o oceano encontra o céu eu estarei velejando.

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JOSÉ CÂNDIDO PIMENTEL DUARTE E O SEU VENDAVAL Símbolos da Vela no ICRJ

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A VELA

atrativo do mar e a fértil imaginação de espíritos criativos ensejaram a projeção de muitos e variados tipos de utilitários movidos a vela que se foram refinando com o tempo para, afinal, gerar o esporte que hoje tem extraordinária repercussão mundial. Apoiando sempre e até hoje a criação e o desenvolvimento de cada projeto no avanço da tecnologia de produtos, promoveu-se a troca gradual da madeira, do pano e dos cabos de outrora por materiais cuja leveza, resistência,

O

deslize e mágicas áreas vélicas otimizam persistentemente a capacidade de competição das embarcações que vão surgindo, assegurandolhes maior velocidade e navegabilidade. A técnica dos usuários acompanhou esse progresso, tornando a condução dos velozes equipamentos um desafio que tem como objeto a vitória pela superação dos ventos e das superfícies marítimas, uma imposição que demanda dos velejadores cada vez mais coragem, competência e espírito esportivo ao mesmo tempo

Em 1935, o FYC produziu o primeiro calendário de regatas a vela, ainda dentro da Baía de Guanabara, em que até o traçado do percurso foi incluído, demonstrando caprichosa organização

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que lhes oferece mais prazer e harmonia com a natureza. O ICRJ, ao longo do tempo, participou intensamente do processo evolutivo do esporte da vela no Brasil. A cidade do Rio de Janeiro, abraçada pelo oceano e pela grande enseada que hoje se chama Baía de Guanabara, rica em praias e recantos, sempre representou um atrativo para os navegadores, inclusive para os de antigamente, portugueses e invasores. Assim, haveria de ser – como realmente é – um ambiente propício aos praticantes da vela esportiva, sugerindo, como ocorreu, a criação de alguns notáveis clubes náuticos ao abrigo de suas águas calmas, apesar das ressacas extemporâneas com que o mar adverte aqueles que o usufruem. Fundado em 1906 no bairro de Botafogo, no Rio de Janeiro, o Yacht Club Brasileiro representou um marco no iatismo organizado no Brasil. Em 1910, transferiu-se para o Saco de São Francisco, na enseada de Jurujuba, em Niterói, onde ainda hoje se encontra. O Rio Sailing Club foi outro clube de vela a se instalar em Jurujuba, em 1914, a partir de uma dissidência dos europeus que compunham o quadro social do YCB. Com o advento da Segunda Grande Guerra, os clubes de estrangeiros foram nacionalizados, e o centro da prática da vela na região, deslocado para o Rio de Janeiro, firmou-se no Fluminense Yacht Club, cuja ata de fundação confessava sua inequívoca vocação para o mar:

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O Costinha

A Jamanta

O Alecrim

O Dirceu Fontoura


Ayres da Fonseca Costa no Sharpie defronte à antiga sede

[...] a fim de sugerir-lhes a idéia da fundação do Fluminense Yacht Club, sociedade cujos fins principais são: a) proporcionar a seus sócios a prática do exercício do Remo; b) incrementar a prática e o gosto pela navegação a vela e em barcos de motores de explosão; e, conseguintemente, c) pugnar pelo desenvolvimento da indústria nacional de construção de embarcações dessas naturezas; d) promover festas náuticas anuais, estabelecendo prêmios que serão disputados em corridas organizadas pelo club [...]. Em 1934, o Fluminense Yacht Club já contava com diversos departamentos, inclusive o de Barcos a Vela, sob a orientação do dedicado comandante Ayres da Fonseca Costa, que promoveu a aquisição à firma Mestre & Blagé (depois Mesbla) de quatro barcos do tipo Sharpie, para uso dos associados em disputas com outros clubes da Baía de Guanabara.

Esses eventos, se não tinham a conformação de regatas propriamente ditas, representaram o embasamento no clube do ensino da arte de velejar, os primórdios da Escola de Esportes Náuticos (depois EDN). Como elemento auxiliar à prática da vela de competição, o clube também demarcou, à frente da sua sede, que aos poucos se desenvolvia, a milha náutica (1.609 m), em conformidade com as regras internacionais do esporte da vela. Em 21 de outubro de 1934, como parte do seu projeto de incrementar o esporte, o clube realizou a primeira regata de barcos a vela, o que motivou o comodoro Arnaldo Guinle a criar a Liga Carioca de Vela e Motor, a ela vinculando o FYC, também filiado, ao final do mesmo ano, à Federação Aquática do Rio de Janeiro. Em 1935 foi produzido o primeiro e histórico calendário de regatas a vela (vide pág. 139),

Darke de Mattos velejando de Snipe, 50 anos atrás

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envolvendo atividades para algumas classes ao longo do ano, com premiações oferecidas por diretores. Fato marcante foi a primeira incursão de velejadores do FYC fora de nossas águas, em 1936, em regata realizada na Represa Santo Amaro, em São Paulo, que teve a participação de Costa Pereira, Castelo Branco e Arthuro Vecchio. Em 30 de setembro de 1937, o FYC aprovou seu primeiro regulamento da atividade veleira. A influência de José Candido Pimentel Duarte traçou rumos definitivos para a prática da vela no clube. Com visão ampla, característica de um autêntico dominador dos esportes náuticos – que ele almejava ver alcançar nível nacional –, Pimentel Duarte, de forte personalidade, criou em 19 de agosto de 1944, já sob a bandeira do Iate Clube do Rio de Janeiro, a flotilha de Snipes, inscrevendo-a na Snipe Class International Racing Association. Em 1946, foi lançado ao mar o primeiro “monotipo” de oceano, Classe Rio de Janeiro, um sloop de 33,5 pés, projetado por Lindsey Lambert, arquiteto naval inglês radicado no Brasil. Vislumbrando um barco de oceano mais adequado a regatas e cruzeiros longos, Pimentel Duarte encomendou à firma Sparkman & Stephens o projeto do Classe Brasil, um sloop Ondina, de Joaquim

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de 42 pés cujo primeiro modelo navegou em 1948 com o nome Ondina, de propriedade e sob o comando de Joaquim Belém, vencedor das duas primeiras regatas Santos-Rio. Outro Brasil, o Cayru III, de Jorge Frank Geyer, foi Fita Azul em 1964 e vencedor pleno da mesma regata, em 1965, confirmando as qualidades do projeto e a capacidade das oficinas do clube, onde foram construídos. Mas, não parou por aí o dedicado esportista, promovendo também a criação de flotilha de Lightning, vinculada ao vizinho Clube de Regatas Guanabara. Em 16 de maio de 1944, ao assumir a Comodoria, Jorge Bhering de Oliveira Mattos trouxe Carlos Pires de Mello para dirigir o Departamento de Barcos a Vela e, posteriormente, a Vice-comodoria. O entusiasmo da dupla

Belém, vencedor da primeira Regata Santos-Rio


proporcionou ao esporte mocom entidades congêneres, inmentos inesquecíveis de evoluclusive de outros estados, fação técnica e administrativa, pascultaram hospedagem às suas sando – à semelhança do que delegações partícipes de regaocorreu com outros setores – por tas na própria sede, onde acaprocessos de reorganização que bou por instalar-se um verdacomeçaram pela institucionadeiro fórum de debates em lização do Código de Etiqueta Nátorno do nobre esporte. utica e pela geração de um boleNesse contexto, aflotim informativo denominado A rou o nome de Anchyses CarOnda, embora de efêmera neiro Lopes, um starista a cuja Jorge Geyer, comandante do Cayru existencia. dedicação fica-se a dever, enA organização física das raias, com a distre outros tantos e relevantes serviços, a escotribuição de bóias e equipamentos assemelhalha da classe Star como a primeira de categoria dos, era feita de bordo do Costinha, um flutuanolímpica a desenvolver-se no clube. te motorizado que ganhou o sobrenome dimiPor volta de 1944, em choque ideológinutivo do funcionário Augusto Costa, integrante co com alguns associados quanto à condução dos da juria. O equipamento desgarrou e naufragou numa madrugada de ventos fortes. Foi substituído pelo Jamanta, também um flutuante de apoio que, por ser extremamente útil em múltiplas tarefas na organização das regatas, foi reconhecido como a melhor embarcação da espécie, muito requisitada por outros clubes da Baía de Guanabara para também apoiar-lhes os eventos. O comodoro Jorge de Mattos e o seu vice, Carlos Pires de Melo, agiam de forma substantivamente ambiciosa pondo em prática medidas relevantes – como, por exemplo, a construção de hangares e oficinas – e promovendo a modernização de conceitos visando a tornar o clube um verdadeiro ícone da cultura esportiva. Ampliando o seu relacionamento O Cairu II, de Jorge Geyer

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por desportistas menos favorecidos. Dando continuidade às contribuições de Pimentel Duarte, o comodoro Jorge Bhering de Oliveira Mattos, muito contribuiu para o fortalecimento da classe Star no ICRJ e, igualmente, com um forte impulso à Carioca

O Procelaria III

destinos do Iate, Pimentel Duarte dedicou-se inteiramente ao Clube de Regatas Guanabara. Deixou-nos, além da lacuna de sua ausência, representativas contribuições para o progresso da atividade veleira em nosso clube, dentre as quais se destacam a construção de novos barcos da classe Brasil e do Vendaval, sem esquecer a promoção de diversos outros tipos como o Lightning, o Snipe, o Guanabara e os juvenis, e em alguns casos viabilizou o financiamento da aquisição desses monotipos

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Promoveu, além do mais, a construção, nas carpintarias que instalou no clube, dos primeiros stars, além de ter importado um dos maiores veleiros do mundo à época, o antigo Wild Fire, batizado aqui com o sugestivo nome de Atrevida, verdadeira consagração das tradições veleiras do clube e do País, em cujas águas navegou por 50 anos. Embora o Iate Clube do Rio de Janeiro possuísse instalações inicialmente simples, foi avaliado pela imprensa estrangeira, por ocasião do Campeonato Mundial de Star de 1960, como o melhor clube do mundo para a prática do iatismo, como na medida do futuro, comprovou com a realização de outros 8 eventos mundiais de sucesso. A começar nos anos 70, a presença de barcos estrangeiros nas regatas co-promovidas


moramento técnico dos nossos velejadores. Nesse momento, era visível o esforço interno de desenvolvimento da nossa atividade veleira, talvez como reação ante dificuldades temporais na economia do País que motivaram a indústria naval especializada, de excelente padrão, a produzir novos barcos

Elegante, o Atrevida chegou ao Brasil em 1946

pelo Iate Clube do Rio de Janeiro cresceu consideravelmente, como, em 1971, na I Cape TownRio e em edições subseqüentes, induzindo, em ação reversa, o aumento da participação de barcos e velejadores do clube em eventos internacionais, com o que muito se ganhou em apri-

inteiramente nacionais que, bem tripulados, passaram a substituir os importados, com eles competindo em igualdade de condições e, sensivelmente, a menor custo. Na década de 1980, um período de incertezas não impediu que a prática da vela continuasse a desenvolver-se satisfatoriamente.No período, os investimentos foram cercados de cautelas que chegaram a reprimir a renovação das flotilhas de oceano, principalmente no Brasil. O fato não chegou, como aspecto positivo, a causar a suspensão do calendário dos eventos internacionais de sorte que a década de 1990 não entrou para a história como um período negativo de queda do desenvolmento das atividades veleiras, tanto no plano internacional quanto no nacional.

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As classes históricas No início do século XX, mesmo nos países mais desenvolvidos, com a criação e utilização das primeiras classes de barcos monotipos, a prática da vela submetia seus aficionados a consideráveis sacrifícios. Destacavam-se a dificuldade no transporte, o próprio padrão tosco das embarcações e a falta de equipamentos de suporte e manipulação, quase inviabilizando as disputas entre clubes. Mas a paixão pelo esporte e a férrea disposição de seus praticantes só indicavam o rumo de vante.

A classe 6 metros Longe de se relacionar com seu tamanho, o nome 6 metros tem a ver com o resultado de uma fórmula complicada (comprimento do casco somado duas vezes à diferença do contorno, mais a raiz quadrada da área vélica, sendo o resultado dividido por 2,37). Em época remota, esses elegantes barcos constituíam a classe mais rápida do Brasil e eram tratados como verdadeiras jóias, objeto do desejo de muitos velejadores.

Construção do Oba, uma obra de arte

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A HISTÓRIA ISTÓRIA DO DO IATE ATE CLUBE LUBE DO DO RIO IO DE DE JANEIRO ANEIRO

Na década de 1930, chegaram ao Brasil os primeiros barcos da classe, o Aileen, o Banshee e o Gonda, adquiridos com o apoio do rei da Noruega. Decorridos alguns anos, sócios do Iate Clube do Rio de Janeiro importaram duas unidades mais modernas – denominadas Oba e Stella II, de Henrique Vitor Lage e de Ayres da Fonseca Costa, respectivamente –, que receberam a designação de 6 metros internacional, cabendo às três embarcações anteriores a classificação de 6 metros antigos.


Sergio Mirsky correndo pela Fita Azul em Regata da Escola Naval

Após a Segunda Guerra Mundial, com a importação de mais duas unidades – o Bárbara, por Sérgio Mirsky, e o Marga, pelo comandante John Scheel –, houve a evolução dessa classe no Brasil, todavia logo pedendo força internacionalmente, em face de sua retirada dos Jogos Olímpicos. No entanto, nos anos dourados dos 6 metros, as disputas eram acirradas. Havia uma intensa renovação da flotilha, cuja obsolescência ocorria em apenas três temporadas, fato que levou a Federação Internacional de Vela a substituir o barco pelo 5,5 metros, com o fim de evitar prejuízos à popularização do esporte. Atualmente, somente os irmãos Grael continuam velejando nos 6 metros, Torben com o Aileen e Lars com o Marga.

popularização no Estado do Rio de Janeiro, onde, em apenas cinco anos, foram construídas cerca de 50 embarcações. Por suas características, acabaram convertidas no primeiro degrau para os tripulantes que vislumbravam integrar as tripulações da classe Oceano, porque nela aprendiam os procedimentos de equipe como táticas de posicionamento em flotilha e trimagem de velas. A associação da classe Guanabara foi fundada em 1946 e, durante décadas, a categoria se mostrou forte, inclusive no Iate Clube do Rio de Janeiro, representada por sócios como Paulo Monteiro Lima, com o seu conhecido Araucan, e mais Peter Reeves, Antonio Ferrer e Fernando Pimentel Duarte.

A classe Guanabara Os barcos da classe Guanabara foram desenhados para as condições típicas da baía que lhe empresta o nome. O projeto era ideal para ventos médios e mar abrigado, facilitando sua

Meu e Teu, de Aníbal Petersen Junior, nos primórdios da vela competitiva

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Essa classe fez história, mas, lamentavelmente, foi extinta e os poucos barcos que ainda navegam estão obsoletos e raramente participam de competições.

A classe Carioca Em 1941, chegou às nossas águas o primeiro modelo Carioca. Adaptado de um iole alemão de 1938, apresentou-se como uma pequena máquina de regaRápido em condições de vento folgado, tas. Cerca de cinco anos depois, em 13 o Carioca entusiasmava seus adeptos de novembro de 1946, foi fundada a clas1952, Tacarijú Thomé de Paula, além dos intese Carioca, que marcou forte presença no Iate grantes da Diretoria no período de 1965 a 1972, Clube do Rio de Janeiro, hoje ainda lembrados Harry Adler, Mario Barrozo, Manoel Simões e os barcos Sudoeste, de Eduardo de Carvalho, Evaldo Carneiro Cunha. Coral, de Roberto Pereira, e Caimbé, de Carlos Abenseth. Ao longo de sua atividade, representou o papel de verdadeiro celeiro de novos tripulantes para a classe Oceano, proporcionando aos praticantes oportunidade de aprender como trimar um spinnaker, regular a genoa e manter o equilíbrio do barco, operações determinantes para um barco de bolina. A classe, abrigada no hangar 3 do clube, antes privativo da aviação, usufruiu então acentuado desenvolvimento, destacando-se entre seus praticantes o expressivo nome de Gerard Wagner, atraindo também alguns dos grandes velejadores de outras categorias, como Paolo Pirani e o representante olímpico da Star em

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A HISTÓRIA DO IATE CLUBE DO RIO DE JANEIRO

A classe Brasil Em 1943, um grupo de velejadores desejosos de formar a classe de oceano no País, liderados por Pimentel Duarte, encomendou à firma Sparkman & Stephens, de Nova Iorque, um projeto para um veleiro de 40 pés Ondina, o primeiro Brasil, em 1952


O glorioso Procelária, de Fernando Pimentel Duarte

capaz de realizar viagens mais prolongadas, com segurança e em boa velocidade. Em janeiro de 1945 foram entregues os desenhos definitivos, firmando-se como interessados imediatos os associados Mariano Marcondes Ferraz, Eduardo de Carvalho, Fernando Pimentel Duarte e Leopoldo Geyer. O Ondina, de Joaquima Belém, foi o primeiro barco da classe Brasil a navegar nas nos-

sas águas, com o mérito de ter sido fabricado nas próprias oficinas do ICRJ, tendo sido lançado ao mar em dezembro de 1948. Veloz até mesmo com pouco vento, o barco apresentou-se com leme suave e de fácil manobra, características que o transformaram em um sucesso para a categoria. O Iate Clube do Rio de Janeiro icentivou, ainda, a construção de mais duas unidades da classe, uma de João Manderback, que nunca participou de regatas, e outra de Ivo Strada, que, lamentavelmente, foi destruída num incêndio no Estaleiro do Caju, quando já estava próxima a sua conclusão. Na década de 1950, a classe Brasil formou a base dos barcos de oceano, quando acumulou um número significativo de vitórias, destacando-se, na Santos-Rio, o Ondina, em 1951, 1952 e 1953, o Cangaceiro, em 1955, o Mistral, em 1962, e o Procelária, sagrando-se vencedor em 1953, 1957, 1961 e 1964, além do 5º lugar na Buenos Aires-Rio em 1956, sob o comando de Fernando Pimentel Duarte. Com a chegada dos barcos de fibra de vidro e o desenvolvimento dessa técnica nos estaleiros brasileiros, os de madeira, com 4 toneladas de lastro e peso total de 10 toneladas, entraram em decadência e, por volta de 1966, a classe parou de vencer regatas, levando seus proprietários à opção de transformar seus veleiros em barcos de cruzeiro, dos quais apenas algumas unidades guardam condições de navegabilidade.

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A classe Lightning O Lightning é um veleiro de 19 pés, fácil de ser içado da água, com uma prática bolina central que podia ser escamoteada, possibilitando encostar a embarcação diretamente na praia, versatilidade que contribuiu para o êxito do barco porque permitia os prazeres do social sem prejuízo da atividade fim. Graças a essas qualidades, espalhou-se pelo mundo e alcançou o status de classe oficial dos Jogos Pan-americanos, tornando-se muito popular nas Américas. Outras virtudes do Lightning, justificando o grande sucesso que alcançou, concentravamse no fato de que sua vida útil mostrava-se acima da média de barcos de competição e nas emoções que o seu casco de fundo chato produzia na velejada com ventos folgados, proporcionando bom treinamento às tripulações em manobras de gibe e cambada. Em janeiro de 1947, foi lançado no Rio de Janeiro pelos irmãos Senft o primeiro Lightning brasileiro, depois espalhando-se a clas-

Lightinings em reboque para o ponto de largada

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A HISTÓRIA DO IATE CLUBE DO RIO DE JANEIRO

Em 1960 o Macushla e o Osprey travaram emocionantes disputas

se com sucesso por diversos outros estados e, no mesmo momento, chegavam as certificações de outros barcos também aqui construídos, tais como o Terral, de J. C. Pimentel Duarte, Nem II, de Mario Borges, Xamego, de João Pinho, Argos, de Fernando Pimentel Duarte, Siroco, de Roberto Pompeu, Gibi, de George Avelino, Pororóca, de Alberto Capper, Ariel, de Albert Maligo, Binzuca, de Filippo Scalini, e Orino, de Rudolf Pohl. Essa classe converteu-se numa força no clube e também no vizinho Guanabara, proporcionando a realização de muitas regatas integradas ao calendário carioca oficial, tais como a Taça Temporal, a Regata ao Posto IV, dentre outras, em que se destacaram velejadores de primeira linha, como Fernando Pimentel Duarte, Sérgio Vayssière, José Gorgulho, Manuel Campos, Harry Adler, Alexandre Levi e Euclides Borba, em diferentes épocas.


O Vendaval, famoso representante do Iate Clube do Rio de Janeiro em regatas de oceano, tinha em sua tripulação alguns lightinistas, o que lhe garantiu memoráveis manobras, graças ao preparo e ao entrosamento daqueles que estavam acostumados a manejar o nervoso spinnaker do Lightning.

A classe Pingüim O Pingüim, um tipo de barco para dois tripulantes, teve sua produção iniciada no Brasil em 1959, originalmente concebido como barco de introdução à vela, depois convertido em veleiro de aperfeiçoamento com as melhorias mais tarde concebidas por Günther Müller e pelo bicampeão mundial Cristiano Pontes. A flotilha de Pingüins fixou-se inicialmente nas águas da Represa de Guarapiranga, em São

Paulo, e na Baía de Guanabara. A de número 1 mastreava a bandeira do ICRJ e, em 1959, foi acrescida de novas unidades, cuja construção foi financiada por 50 associados em comemoração ao aniversário do clube, estreadas em regata comemorativa reaizada em 25 de março daquele ano, sob a direção de Roberto Bueno e Carlos Cairo, respectivamente diretor e capitão da flotilha. Desenvolvendo-se firmemente, essa classe logo representaria o ICRJ no Rio Guaíba, no Uruguai e em outras áreas da América do Sul. Continuou progredindo em todo o País, inclusive com flotilhas em Brasília e em Florianópolis. No ICRJ, a classe Pingüim foi uma das que mais títulos trouxe, com velejadores como George Eduardo Machado e seu muitas vezes vitorioso Rajada, Roberta Beltrão, Deborah Wollner e Christiane Kramer; Marcos Soares e

Início dos anos 60, um grande momento da classe Pingüim

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dores da classe em campeonatos nacionais, alcançando muitos títulos para o clube.

A classe Sharpie 12 m2

Lauro Wollner e Carlos Dohnert, em 1978, treinando nas águas da Praia do Flamengo

John King, Lauro Wollner e Carlos Dohnert, Mário Simões e Nelson Alencastro Guimarães. Em 1960, o grande campeão na categoria foi Carlos Henrique Belchior que, com seu proeiro Roberto Nunes, conquistou nos Estados Unidos o troféu Lamport de iatistas juniores. Um ano depois, a classe brasileira foi reconhecida pela associação internacional, possibilitando ao ICRJ sediar o Campeonato Internacional Juvenil, quando, mais uma vez, Belchior sagrou-se campeão, cabendo a Gastão Brun e Arthur Falk o título de vice-campeões. O Iate Clube do Rio de Janeiro mostrava, assim, sua força na classe Pingüim, sediando inclusive um Mundial e outro Campeonato Juvenil. Aos poucos, porém, a Pingüim foi sendo deixada de lado, não sem a reação do ICRJ que, a partir de 1986, decidiu promover a recuperação da categoria, valendo-se dos esforços conjuntos da então diretora da EDN, Thereza Sodré, do contracomodoro Paulo Monteiro Lima e do conselheiro Sérgio Kastrup, que reabilitaram barcos inativos e colocaram nas raias 31 competi-

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Criado na Alemanha em 1931, por J. Croger, o Sharpie 12 m2 apresentava-se como uma embarcação de rara velocidade, cujos atributos não se circunscreviam à imponência estética, mas também o distinguiam por sua capacidade de orça e estabilidade na água. Sua área vélica era de 12 m2, justificando o nome da classe, mas passou a 16 m2 por conveniência técnica. Pela natureza de sua construção, que o sujeitava a desgastes, o Sharpie exigia constante, minuciosa e paciente manutenção. Muito rápido, tinha uma inconfundível vela qua-

Harry Adler e Ramiro Muniz na Lagoa Rodrigo de Freitas, nos anos 40


O Comandante Ayres da Fonseca, precursor do desenvolvimento da vela no ICRJ, velejando seu Sharpie na Enseada de Botafogo

drangular, casco de bordas baixas, roda de proa afinada, sendo pouco propenso a planar graças ao peso de sua bolina central em ferro, com uma grande genoa, que lhe conferia um estilo particular e extraordinária sensibilidade de leme. Assim se explica a paixão que o barco despertou entre os velejadores da classe. Em 1935, das oficinas situadas na Ilha do Viana, saíram seis Sharpies diretamente para o Iate Clube Brasileiro, em Niterói, assim como no próprio ICRJ, algumas unidades também começavam a surgir e logo passaram a competir na enseada de Botafogo.

Em 1944, com o desenvolvimento da vela, a classe Sharpie 12 m2 já era a mais numerosa do País, com cerca de 200 barcos espalhados da Baía de Guanabara ao Rio Grande do Sul e muitos outros em fase de construção. Na época, possuíam um Sharpie 12 m2 consagrados velejadores do ICRJ como João José Bracony, Harry Adler, Jorge Pontual, Antonio Ferrer, João Pinho, José Luiz Pimentel Duarte, Victor Demaison e Gastão de Souza. O Sharpie perdeu o status de barco olímpico em 1960, substituído pelo moderníssimo Flying Dutchman.

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A classe Flying Dutchman

Ilustração do navio fantasma Flying Dutchman

O primeiro Flying Dutchman foi testado em 1952 e logo se tornou muito popular nos lagos europeus. Seu projeto teve como base o veloz Tornado, que ainda pode ser considerado um

verdadeiro puro-sangue. O barco recebeu esse nome buscado em uma lenda que atravessou os séculos, sobre um navio da Companhia Holandesa de Exploração da Indonésia afundado, com o sacrifício de toda sua tripulação, por ação de seu satânico capitão, que, ignorando as súplicas, enfrentou dura tormenta, até renegando o Espírito Santo e o próprio Senhor, terminando, ele e o navio, amaldiçoados e condenados a navegar por toda a eternidade sem jamais atracar em qualquer porto. Tornou-se uma entidade fantasma cuja aparição era prenúncio de tormentas e sofrimentos na credulidade dos navegantes antigos que o chamavam o Holandês Voador. Ao arrepio de todo esse histórico, o FD, leve e esportivo por excelência, não poderia ser um barco comum. É o mais veloz dos monoti- Alan Adler

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A HISTÓRIA DO IATE CLUBE DO RIO DE JANEIRO

pos e exige dos seus dois condutores preparo físico, planejamento tático e técnica apurada, apresentando um trapézio para o proeiro e um grande velame que inclui o uso de um spinnaker, propiciando maior velocidade em condições de vento folgado. Em 1956, com a fabricação de três FDs – o primeiro sob a responsabilidade de Ernesto Haag –, a classe iniciou sua performance no Brasil. Na década de 1980, grandes nomes do ICRJ velejavam o FD, entre eles Christoph Bergmann, Alan Adler, Sergio Mirsky, Lauro Wöllner, Daniel Wilcox e Marcus Temke. Em 1986, o ICRJ realizou em nossas águas o campeonato mundial da classe, graças à desenvoltura de Harry Adler, secretário da FD no Brasil, disputa em que os nossos representantes olímpicos, Alan Adler e Marcus Temke, obtiveram o 6º lugar geral.

e Marcos Tempke, Itália, 1983


As classes atuais Algumas classes antigas, para manter o interesse dos velejadores, passaram por a alterações provindas de projetos inovadores que aproveitaram a disponibilidade de novos materiais tais como a fibra de vidro e de carbono, com os quais novas benfeitorias foram incorporadas, inclusive em relação ao peso, facilitando o transporte e a produção em série com a conseqüente difusão do esporte.

A classe Star No inverno americano de 1910, foram traçadas as primeiras linhas do projeto de um Star a partir de algumas características do Bug, um Sloop de 18 pés. De lá para cá, o Star passou por alterações que o tornaram ainda mais elegante, contribuindo várias inovações técnicas para o aumento da performance desse barco, que já era superior à dos demais, e cuja constante evolução explica a sua longevidade. Em 1923, o primeiro campeonato mundial teve apenas uma equipe não americana, a canadense de Vancouver, e a partir de 1927 as regatas passaram a ser organizadas por um comitê sem vínculos com clubes, obedecendo estritamente às regras estabelecidas pela própria classe Star. Em 1932, em Los Angeles, iniciou-se a participação do barco em Jogos Olímpicos, só interrompida em 1976, quando foi substituído pelo Tempest. Três décadas após a sua criação, a classe foi trazida para o Brasil e diretamente para o ICRJ, fruto da iniciativa de Anchyses Carneiro Lopes, que supervisionou a construção de 40

O inesquecível von Hutschler e seu proeiro Jorge Carneiro navegam o Pimm, em New Port Harbour, EUA

unidades e convidou regatistas interessados para compor seu quadro de competidores. Entre os precursores, incluem-se nomes como dos saudosos Roberto Müller Bueno, Jorge Bhering de Mattos e Carlos Pires de Mello, com os barcos Henning, Aie e Os Três Camaradas. Walter von Hüstschler, de São Paulo, a convite de seu irmão Hans – que já era associa-

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O comodoro Jorge de Mattos, no lançamento dos primeiros Stars produzidos nas carpintarias do clube, batizados como Chuvisco, Toró e Dureza

do do ICRJ –, veio ao Rio de Janeiro chamado a orientar a construção dos primeiros Stars nas nossas oficinas próximas ao hangar 1, missão que estava a cargo de João José Braconi, com base nas plantas originais encomendadas nos

O Toró em 1946

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A HISTÓRIA DO IATE CLUBE DO RIO DE JANEIRO

Estados Unidos pela Federação Metropolitana de Vela e Motor. Em 18 de março de 1945, contando com uma flotilha de 17 unidades, teve lugar a primeira edição da regata Darke de Mattos, hoje a prova mais tradicional e antiga de monotipos da América do Sul. Em outra iniciativa absolutamente original, foi criada no Brasil, pela direção da flotilha local, por inspiração de Anchyses Lopes, a tabela de categorias dividindo os timoneiros em três níveis (A, B e C), conforme a respectiva capacidade técnica e dos seus equipamentos. Em agosto de 1946, no Mundial de Star em Havana, o clube se fez representar por Ernani e Antonio Simões, assessorados pelo bicampeão mundial Walter von Hütschler. O Star Toró,

Gastão Brun obteve ótimo resultado no Norte-americano em Indianápolis, 1987


Confraternização entre pescadores e velejadores na Regata da Amizade, que por muitos anos aproximou as duas categorias esportivas mais importantes do ICRJ. Um evento que nunca primou pela técnica dos “proeiros” mais afeitos ao caniço e ao molinete

construído no ICRJ, ficou com a 22ª colocação geral e, desde então, o clube sempre esteve presente nos eventos mundiais da classe, com pelo menos uma equipe. Em agosto de 1950, no Mundial de Star de Chicago, Tacarijú Thomé de Paula e Othon Dias classificaram-se em 22º lugar e, em março do ano seguinte, Roberto Müller Bueno e Gastão Pereira de Souza trouxeram o primeiro prêmio, alcançado nos Jogos Pan-americanos de Buenos Aires com a brilhante performance que levou o Xodó III a vencer cinco das sete provas do evento.

Em abril de 1952, no Rio de Janeiro, ocorreu o primeiro Campeonato Sul-americano da classe Star. Com extraordinário desempenho, quatro dos velejadores do ICRJ estiveram entre os seis primeiros colocados. Ainda naquele ano, o clube enviou à Olimpíada de Helsinque dois destacados staristas: Tacarijú Thomé de Paula e Cid Nascimento, que, entre 21 concorrentes, ficaram com o 12º lugar. Do Mundial de Star de Havana, em novembro de 1955, participaram duas equipes do clube, uma com o veterano Walter von

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7770, Luiz Carlos Simão e 7517, Laerte Brito

Hütschler, tendo como proeiro Peter Dirk Siemsen, e a outra formada por Jorge Franke Geyer e o proeiro Harry Adler. O Pimm, de Walter, já muito usado, não rendeu bons frutos, mas o jovem e experiente Geyer obteve sucesso e reconhecimento incomuns. Na ocasião da disputa do Campeonato Mundial de Star de 1960, todas as dúvidas que eventualmente existiam sobre o nível alcançado pela vela brasileira se dissiparam, principalmente as referentes à infra-estrutura e à capacidade de organização. O Iate Clube – hospedeiro do evento – foi apontado por alguns participantes como o mais bem estruturado iate

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A HISTÓRIA DO IATE CLUBE DO RIO DE JANEIRO

clube do mundo. Ao final de um dos melhores campeonatos da classe Star de todos os tempos, Harry Adler, havia obtido de forma brilhante, dois 3os lugares. Na década de 1980, após a realização do Mundial do Rio de Janeiro, surgiram novos nomes e grandes campeões no âmbito sul-americano, tais como John King e Eduardo Souza Ramos. Mas a glória brasileira ainda estava por vir. Em 1989, diretamente da Sardenha, na raia de Porto Cervo, Alan Adler e Nelson Falcão trouxeram a Estrela Dourada para a Praia Vermelha. Era o primeiro título mundial da classe Star conquistado por uma dupla brasileira. Na época, a


classe se mostrava muito forte no país, garantindo altíssimo nível em regatas domésticas, com reflexos no exterior com a conquista do Campeonato Norte-americano de 1990 por Gastão Brun, em Boston. Em 1996, novamente o ICRJ sediou e organizou o Mundial de Star, com a presença de sete campeões mundiais: Alan Adler (1989), Torben Grael (1990), Paul Cayard (1988), Joe Londrigan (1993), Ross MacDonald (1994), Mark Reynolds (1995) e Vince Brun (1986). A participação brasileira foi a melhor nos Mundiais do Rio, com Torben em 3º e Alan em 5º lugares.

Entre os masters, Peter Siemsen, que chegou a presidente mundial da classe, levou o título máximo da categoria, tendo como proeiro o jovem André Mirsky. O Star, uma máquina de regatas que resiste ao tempo, prima por muitas qualidades que exigem de seus tripulantes técnica apuradíssima dentro e fora d’água e asseguram suas perspectivas futuras, inclusive a manutenção do status olímpico que chegou a perder e teve potencial político e técnico para recuperar. Que brilhe sempre a estrela, o símbolo fixado no alto de sua vela.

Alan Adler e Rodrigo Meirelles no Mundial de 1996, no Rio

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ANCHYSES CAR NEIR O LOPES, ARNEIR NEIRO UM ST ARIST A STARIST ARISTA Fundador da RDJ; 1° capitão da flotilha RDJ; 1° secretário do 7° Distrito; 1° Rear Commodore Sul-americano e 1° vice-presidente continental da ISCYRA

alar da classe Star no Brasil é invocar a memória de Anchyses “Star” Lopes, como carinhosamente o chamavam amigos e companheiros de lida na vela, por sua relevante participação no estabelecimento e desenvolvimento da flotilha do ICRJ. Admitido no Iate em 6 de junho de 1944, logo o engenheiro dinâmico e observador percebeu que era impositivo organizar a atividade veleira no clube, então praticada de forma incipiente, com regatas realizadas sem planejamento ou regulamentação, mais como passeios do que propriamente como disputas. Ocorreu-lhe suprir essas deficiências com a criação de uma flotilha de um monotipo mais avançado do que os pequenos Snipes, os Sharpies e assemelhados então usados mais como instrumentos de aprendizado. Queria uma classe olímpica, e que fosse a primeira a ser implantada no Brasil, e o Star foi sua escolha, acreditando que essa seria a forma de desenvolver a vela no clube.

F

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A DO IIATE ATE C CLUBE LUBEDO DORR DEJANEIRO JANEIRO A HISTÓRIA DO IOIODE

Suas disposições encontraram oitiva no comodoro Jorge Bhering de Mattos e no vice Carlos Pires de Mello, não demorando que


fosse dada a partida na construção dos barcos almejados no próprio ICRJ. Em 1945, o comodoro Jorge de Mattos promoveu a inscrição da Flotilha Star do Iate Clube do Rio de Janeiro – RDJ, na International Star Class Yacht Racing Association – ISCYRA, integrada ao Sétimo Distrito da classe, em âmbito mundial. Contou com a colaboração do campeoníssimo Walter von Hüstschler, classificando os integrantes da flotilha no formato a que já nos referimos, procedimento, aliás, adotado pela própria ISCYRA em amplitude mundial. Começou a desenvolver a técnica individual nas categorias, porém limitado pela insuficiência de sócios velejadores que pudessem tripular os barcos disponíveis, já que o quadro social do clube evoluía lentamente. A imaginação de engenheiro e planejador resolveu a questão com a sugestão de criar-se uma classe especial de associado, os sócios-veleiros, nomenclatura mais tarde substituída, por conveniência de ordem legal, pela denominação tripulantes que, entre si e com muito humor, ganharam o apodo de “sócios-cachorros”, porque intitulados a mais obrigações do que direitos. Nessa leva, muitos e notáveis nomes tornaram-se sócios proprietários e mais tarde passaram a integrar os quadros dirigentes do clube, tais como Carlos de Brito, Harry Adler e Peter Dirk Siemsen. Anchyses continuou liderando a RDJ durante muitos anos, inscrevendo nos anais

da flotilha conquistas como as dos Sul-americanos de 1953, 1956, 1957 e 1958 e os campeonatos do 7º Distrito de 1956, 1957 e 1958 e, melhor ainda, o Pan-americano de 1951, levado a efeito na Argentina. Conduziu, com o brilho de sempre, sua última missão como diregente da classe, o Mundial de Cascais, em Portugal, no ano de 1962. O Mundial de 1960, realizado com brilhantismo pelo Iate Clube do Rio de Janeiro, revelou a sobeja competência e a dedicação da RDJ e do seu líder, inspiradoras do “espírito da classe Star”.

Em sua dedicação à vela, nem só de Star viveu Anchyses Lopes

N NAAPPRAIA RAIA DA DA S SAUDADE AUDADE

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A classe Oceano

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Os veleiros da classe Oceano sempre foram considerados os mais imponentes e belos barcos a vela, gerados na livre criatividade dos projetistas e com apoio nas melhores opções, a cada criatura, em matéria de design e tecnologia. Diferentemente dos monotipos, podem ter tamanhos diversificados que vão desde os de 16 e 20 pés aos de 150 pés, chegam a comportar até três mastros e inúmeras velas e podem acomodar equipes de até trinta tripulantes. Os primeiros barcos da categoria chegaram ao Brasil no início do século passado e, imponentes e luxuosos, serviam aos comandantes de maior poder aquisitivo. A indústria naval

nacional logo aceitaria o desafio de construir sucedâneos desse porte, tarefa em que foi bemsucedida, ampliando as flotilhas dos clubes da Baía de Guanabara e dando início a competições locais entre as quais vem à memória a da ida à Ilha de Paquetá. Em 1940, o almirante Lemos Bastos idealizou a primeira regata fora da Baía de Guanabara, a volta da Ilha Rasa, cujo sucesso induziu a realização em 1941 da denominada volta da Ilha Grande, contornando o farol da Laje do Pau a Pino, num total de 120 milhas náuticas e que acabou associada à Santos-Rio. Com o intercâmbio de informações e novas técnicas de vela identificadas em regatas

O Singoala com o spinnaker no alto

Cairu II velejando em orça folgada

A HISTÓRIA DO IATE CLUBE DO RIO DE JANEIRO


Fernando Pimentel Duarte e sua tripulação a bordo do grande Procelária

Os Cal 40 e alguns outros swans iniciariam a fase da busca incessante de otimização de barcos e ratings, de que são exemplos o Saga II, o Tuna, o Pluft, o Cangaceiro, os sucessivos Neptunus, o Tigre, o Carro Chefe, o Alucinante, o Suzy Dear, o Super Tension, o Madrugada, o Orion, o Wawatoo, o Krishna e o Cisne Branco, que dominaram as disputas oceânicas. No início da década de 1990, com o enfraquecimento da regra IOR, foram criadas normas mais rigorosas para estabelecer a equiparação dos barcos impondo a otimização dos equipamentos, medida que produziu o encarecimento das unidades, destarte resultando na redução dos participantes ativos. Reagindo ao fato, o conselheiro do ICRJ Paulo Monteiro Lima, então comodoro da ABVO, resolveu iniciar a transição da regra IOR para IMS – International Measurement System, abrindo novos caminhos.

internacionais, os velejadores brasileiros aceleraram o passo para a finalização do projeto ambicioso de criar uma classe nacional de veleiros oceânicos. Assim surgiu o Brasil, o mais famoso e vitorioso produto da classe Oceano em nossas águas, cuja fabricação teve início no Sul do País e nas oficinas do ICRJ para sem demora desfilar nas raias, disputando as regatas Buenos Aires-Rio e Santos-Rio. O domínio desses barcos foi absoluto até a chegada, no final da década de 1960, dos famosos Cal 40, rapidíssimos nos ventos folgados, os primeiros veleiros especialmente destinados a regatas, construídos totalmente em fibra de vidro, com cascos planantes e mastros em alumínio e performance que abafou e tirou de cena a classe Brasil. O Brainer caça o Maximus no Circuito Rio de 2003

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O Sorsa disputando a liderança em uma Regata da Escola Naval

Em 1995, despertado por Sergio Mirsky para o fato de que os barcos de oceano devem ser mantidos em seco para evitar o respectivo aumento de peso e a conseqüente perda de competitividade, o clube, já agora dispondo de potente travel-lift, autorizou a subida para o patamar do hangar 1 dos grandes veleiros exclusivamente voltados para competições. Essa medida resultou no crescimento da nossa flotilha de Oceano cuja eficiência fica demonstrada nos bons resultados alcançados recentemente. Bem cuidados e sob comando inspirado, os veleiros da flotilha ICRJ trouxeram para a Av. Pasteur, 333, pelo menos uma vez e em diferentes momentos, cada um dos troféus em disputa, com o Klimax vencendo o Circuito Salvador, o Circuito Rio e a Búzios Sailing Week,

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A HISTÓRIA DO IATE CLUBE DO RIO DE JANEIRO

o Maximus vencedor da Rota do Aço, o Neptunus campeão brasileiro, Fita Azul da Santos-Rio, vencedor do Circuito Rio e da SantosRio, e o Sorsa vencedor das regatas Santos-Rio, Búzios Sailing Week, Vitória-Trindade e da Semana de Vela de Ilhabela.

Dante Bianchi e Lucas Brun trabalhando na proa de um First 40


A classe Laser Em 1969, o canadense Ian Bruce desenvolveu um barco que ele próprio idealizara e fora desenhado por um amigo, Bruce Kirby. Nascia o Laser, um sucesso mundial, com 6 mil barcos construídos em apenas dois anos. A conseqüência foi a multiplicação das competições em lagos, represas e baías, verdadeira febre no mundo náutico, pois o Laser representava a democratização do esporte, incitando principiantes e veteranos e tornando-se até a segunda opção de proprietários de barcos maiores. No Brasil, sua história teve início em 1974, no ICRJ. O novo barco atraiu muitos admiradores e, dentro de três anos, o País viria a sediar o Campeonato Mundial em Cabo Frio, em que o destaque foi Ivan Pimentel. Em 1978, Gastão Brun e Pedro Bulhões ficaram em 2º e 5º lugares, respectivamente, no Campeonato Norte-americano e, em 1980, com o excelente desempenho de José Paulo Barcellos em águas

Primeiro Campeonato Mundial da classe Laser no Brasil, Cabo Frio, 1977

A Copa Master reúne os veteranos uma vez por ano

canadenses, o Brasil ganhou o vice-campeonato mundial de Laser. Um ano mais tarde, Pedro Bulhões viria a vencer o US Nationals. Em 1986, a classe Laser brasileira atingiu seu apogeu ao reunir em Búzios, na disputa do Campeonato Brasileiro, mais de 200 barcos. Como reflexo dessa boa fase, no Mundial da Austrália de 1987 Peter Tancheit alcançou o 3º lugar, com Nelson Alencastro Guimarães em 4º. No ano seguinte, Tancheit ficou com o

O Laser 4.7 é a opção para aqueles que gostam de velejar sozinhos

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8º lugar, em 1989 foi 5° e em 1990 coube-lhe o 3º lugar para, finalmente, alcançar em 1991 o tão almejado título, ano em que ainda recebeu a medalha de ouro Pan-americana ao vencer todas as regatas. Os velejadores do ICRJ vêm conquistando inúmeras vitórias pelo mundo, como o vicecampeonato de Peter Tancheit na Pré-olímpica de Savana, Estados Unidos, e o Campeonato Sul-americano de 2000, conquistado por João

O veterano bicampeão sul-americano da classe Laser, Nelson Alencastro Guimarães, sempre muito rápido nos ventos de través

José Paulo Paulo Barcellos, de forma brilhante, obteve o 2º lugar no Mundial de 1980

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A HISTÓRIA ISTÓRIA DO DO IATE ATE CLUBE LUBE DO DO RIO IO DE DE JANEIRO ANEIRO

Signorini, pentacampeão Estadual cinco vezes, José Paulo Barcelos com seis títulos, Pedro Bulhões com três Brasileiros e o próprio Peter Tancheit com vários nacionais. Atualmente, Robert Sheidt, de São Paulo, é um dos grandes nomes – se não o maior – que a classe Laser internacional já conheceu.

A classe Snipe O Snipe é um barco monotipo para dois tripulantes cuja origem remonta ao começo da década de 1930. Desenhado por William F. Crosby, primava pela simplicidade, o que resultou em competitividade a baixos custos, meio caminho para o sucesso que viria a obter. Obtendo o diploma internacional Snipe Class International Racing Association, em 01 de 1943, a Flotilha 159 foi formalmente fundada no hangar 2 do ICRJ, no boxe do então presidente da Confederação Brasileira de Vela e Motor (CBVM), Gastão Antônio Fontenelle Pereira de Souza, local onde durante algum tempo funcionou a sede da flotilha. Participaram dessa reunião Fernando Pimentel Duarte, Darke de Mattos, Luís F. Cardoso, Alexandre P. de Souza, Jacky Kurrels, Jorge Mayer, Ernesto Borges, Samuel R. Israel, Carlos L. Lacerda e Mário Simões, além do incansável Fernando Avellar, que mais tarde seria secretário-geral da classe para a América do Sul. As primeiras regatas da classe foram realizadas na enseada de Botafogo, sem ultrapassar a faixa de segurança fixada no alinhamento do Morro da Viúva com a Praia da Urca.


Primeiras regatas de Snipe, restritas à enseada de Botafogo

Dois meses após a reunião realizada no hangar 2 do ICRJ, aconteceu o primeiro Campeonato Brasileiro da classe Snipe, que teve como vencedor Orlando Coelho. Após quatro edições, todas no Rio, o Campeonato Brasileiro deu lugar ao Troféu Pimentel Duarte, em homenagem ao grande desportista. Com outros desempenhos brilhantes, os irmãos Schmidt tornaram a vencer na classe em 1963 e 1965, conquistando o tricampeonato

mundial. Em 1967, nas Bahamas, o vencedor foi Nélson Piccolo e, dez anos mais tarde, Bóris Ostergren, na Dinamarca. Finalmente, em 1990, a dupla do Iate Clube do Rio de Janeiro, Maurício Santa Cruz e Eduardo Neves, foi a grande vencedora em San Diego, nos Estados Unidos. O Campeonato Mundial da classe é disputado a cada dois anos e, no intervalo, ocorre o importante Campeonato do Hemisfério. Em duas dessas edições, iatistas do ICRJ brilharam: uma, com Maurício Santa Cruz, e outra por mérito do veterano e grande campeão da classe Ivan Pimentel. Com excelente nível desde a época de Pierre de Mattos, Augusto Barrozo e dos irmãos Barcellos, a flotilha do ICRJ mantém-se no topo. Em 2003, nosso clube sediou um belo Campeonato Brasileiro em que Bruno Bethlen e Dante Bianchi sagraram-se campeões. O feito foi repetido pela dupla, só que de forma ain-

Bruno Bethlen e Dante Bianchi, dupla campeã brasileira e medalha Bibi Juetz, tetracampeã Mundial de masters, de ouro nos Jogos Pan de Santo Domingo, 2003 um exemplo de dedicação à classe Snipe

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Ivan Pimentel e Luiz Pjanovick, uma dupla que deu certo

da mais expressiva ao vencer os velozes cubanos nos Jogos Pan-americanos de Santo Domingo de 2003, garantindo a medalha de ouro para o Brasil. A Snipe, reputada como uma das classes de mais elevado nível técnico, utiliza barcos de preço acessível e baixo custo de manutenção, além de valentes e apropriados não apenas para competições como para o lazer, por não exigirem dos seus usuários preparo físico mais aperfeiçoado.

ção do americano Clark Mills, no barco que se chama Optimist e é um pequeno instrumento de aprendizado e disputa, forte, leve e fácil de transportar, fatores que inspiram o seu uso acentuado em todo o mundo. Demandando poucas regulagens de vela, o barco é atraente para a garotada que nele se identifica com o mar e os ventos e se integra às regras das disputas. Meninos e meninas competem de igual para igual, a fim de manter homogeneidade na raia, assim como se inicia a formação de campeões, educados segundo as

A garotada sempre presente nos campeonatos realizados pelo ICRJ

A classe Optimist Consagrada desde 1970, três anos depois a classe Optimist foi reconhecida pela Associação Internacional de Vela e, passados 50 anos desde que foi criado, o barquinho ainda faz um enorme sucesso em todo o mundo e ganha volume a cada temporada a serviço da criança. Em 1947, na Flórida, as caixas de madeira com bilhas com que os meninos brincavam em terra foram transformadas, por inspira-

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A HISTÓRIA DO IATE CLUBE DO RIO DE JANEIRO

A volta ao clube, sinal de brincadeira terminada


Campeão da Semana de Kiel, John King treina na Baía de Guanabara

regras que disciplinam e equilibram as características individuais dos participantes, identificando valores como lealdade na disputa, honestidade no comportamento esportivo e respeito à natureza. Objeto de polêmica, alguns acreditam que o Optimist não deveria ser um barco de competição, enquanto outros estão certos de que, graças à presença do pequeno barco nas raias, muitos dos nossos atuais campeões encontraram suas rotas no esporte porque na prática do Optimist experimentaram os primeiros e indeléveis prazeres das velejadas e das vitórias precisamente no momento da formação de sua individualidade. Esta é a maior de tantas contribuições que o Iate Clube do Rio de Janeiro ofereceu à vela, fazendo-se escola do primeiro grau e universi-

dade do esporte com a sua EDN e sua genial Flotilha Zé Carioca, conduzidas por nomes que serão sempre honrados em nossa história. Criaturas dessa obra são, entre outros grandes vencedores, Alan Adler, John King, Nelson Alencastro, Alan Adler, Bruno Bethlen, Maurício Santa Cruz, Eduardo Penido, Kiko Pellicano, Dante Bianchi, Marcus Temke e Gastão Brun. Atualmente, inscrevem-se no Campeonato Brasileiro cerca de 140 jovens velejadores, alocados segundo suas categorias, portadores eloqüentes da mensagem de que o Optimist haverá de povoar as raias por muitos anos porque é difícil inventar, para substituí-lo, mais simplicidade e eficiência do que o heróico barquinho oferece.

A classe Ranger 22 No início dos anos 80, surgiu um pequeno veleiro cabinado, fabricado em série, que gerou uma classe muito numerosa em apenas quatro anos integrada por cerca de 150 unidades nas águas brasileiras. O sucesso desse barco se

Carmen Ballot no leme do Axokidá, representando o ICRJ

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deve, em parte, à sua relação custo-benefício. Os fiéis proprietários dos Rangers 22 não escondem a paixão por seus pequenos veleiros de sorte que as regatas da classe em estados como Rio Grande do Sul, São Paulo e a capital Brasília são sempre concorridas, acolhendo, inclusive, iniciantes na vela oceânica. Hoje, lamentavelmente, o Iate Clube do Rio de Janeiro abriga uma flotilha menor do que a existente nos anos 80, época em que brilharam velejadores como Jorge Strada, Tacarijú Thomé de Paula, George Fodor, Heitor Pereira Braga Junior, Ricardo de Queiroz Lobato e Lourenço Ravazzano.

Bela velejada do Ranger 22 em vento em popa

Linhas típicas da época de sua concepção, proa e popa lançadas, vela grande menor e um generoso spinnaker

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A classe 470 Em 1963, o francês André Cornu desenhou um moderno monotipo de fibra de vidro, de linhas planantes, com 4,70 m de comprimento, que justifica o nome aplicado. O 470, por sua concepção, tornou-se capaz de seduzir qualquer tipo de velejador, alastrando-se pelo mundo impulsionado pelo êxito que alcançou. Homologado pela Federação Internacional de Vela em 1969, o 470 é um monotipo completo, que exige de seus tripulantes muita agilidade e técnica na regulagem do mastro e das velas, resultando no alcance de grande velocidade. Em 1980, foi realizado um Campeonato Mundial da classe no Rio Grande do Sul, quando um dos grandes nomes do 470, David Ullman, sagrou-se tricampeão Mundial. Esse evento trouxe muitas novidades para os veleja-


Bruno Bethlen e Fernando Sesto, campeões brasileiros em 2004

dores brasileiros, como, por exemplo, o aumento de pressão nos estaiamentos, tendência que até hoje é seguida. Por seu elevado nível técnico, o barco evoluiu sensivelmente no Brasil, culminando com a conquista da medalha de ouro dos nossos velejadores Marcos Soares e Eduardo Penido nas Olimpíadas de Moscou de 1980. O 470, no entanto, é um veleiro de difícil construção, que exige materiais especiais, o que eleva seu custo e limita sua produção pelos brasileiros, não obstante os esforços de Mario Buckup, integrante de uma comissão especialmente devotada ao incentivo de sua fabricação no País. No Sul-americano de 1983, realizado na Argentina, o Brasil compareceu com dez equipes, sendo duas do Rio de Janeiro, seis de Porto Alegre e duas de São Paulo. Na década de 1990, porém, o 470 perdeu força e o Brasil deixou de apresentar resultados representativos no cenário mundial. Neste novo milênio, a classe revigorou-se e em 2003 e 2004, novos barcos foram importados, crescendo a disputa em campeonatos regionais e nacionais.

Muito veloz, o 470 garante belas disputas na raia

O ICRJ tem sido um dos grandes incentivadores da classe, sediando campeonatos e organizando clínicas com especialistas internacionais, resultando, por exemplo, no aperfeiçoamento da refinada técnica de Bruno Bethlem e Fernando Sesto, vencedores do Brasileiro de 2004, realizado no Rio. No ICRJ destacaram-se na classe, além dos olímpicos Marcos Soares e Eduardo Penido, velejadores do quilate de John King, Pedro Bulhões de Carvalho, Rodrigo Amado, Cintia Knoth, Helena Ballot e Márcia Pellicano.

Os medalhistas olímpicos de 1980 da classe 470, Marcos Soares e Eduardo Penido, treinando na Baía de Guanabara

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A classe Finn

Bruder correu 993 regatas ao longo de O Finn é o barco ideal para quem deseja sua carreira. Além de conquistar diversos títulos refinar sua técnica de velejador porque seu mabrasileiros e sul-americanos, ele também recenejo demanda todos os fundamentos da prática beu a Cruz do Mérito Desportivo, maior insígda vela, como técnica apurada, desempenho tánia concedida a desportistas no Brasil. tico e força, porque velejar um Finn pode ser O notável velejador disputou dois Jogos sacrificante em certas condições de vento. Olímpicos, terminando em 7º lugar em Tóquio, O tripulante deve pesar em torem1964, e em 9º, na Cidade do Méno de 95 kg, o que influencia negativaxico, em1968. Também conquistou mente o desenvolvimento da classe no duas medalhas de ouro nos Jogos PanPaís, pois o peso médio dos brasileiros americanos na Finn: em Winnipeg, em está abaixo desse padrão. 1967, e em Cali, em 1971. Na história da Finn no Brasil, meNa década de 1980, o iatista rece destaque a carreira de Jörg Bruder, Cristoph Bergmann defendeu as cores paulista, nascido em 1937, um dos mais do ICRJ em inúmeros campeonatos destacados nomes da classe. Bruder dismundiais e Jogos Olímpicos, inclusive O brasileiro putou seu primeiro Mundial em 1964, na Jöerg Bruder, o maior ganhando regatas. Nessa época, tamnome da classe Finn Inglaterra, chegando em 5º lugar. Até a até hoje bém integraram a classe Finn grandes edição do Campeonato Mundial realizanomes, como Peter Tanscheit, Alan do no ICRJ em 2004, Bruder manteve-se Adler, Jorge Zarif e Pedro Paulo isolado como o único velejador a conquistar conPetersen, este na década de 1970. secutivamente três mundiais (1970, 1971 e 1972). Após as Olimpíadas de 2000, em Sidney, Hoje, a memória de Jörg divide essa honAustrália, surgiram no ICRJ novos velejadores, ra com o inglês Ben Ainslie, também medalha de ouro da classe Laser em Sidney e ouro em Atenas, cujo tricampeonato mundial na Finn foi obtido em águas cariocas. Em 1973, quando Bruder estava a caminho de Brest (França), sofreu um acidente aéreo fatal perto de Paris. A original Gold Cup – taça de ouro de posse transitória do campeão do Mundial – perdeu-se no desastre, substituída agora por uma réplica. Andre Mirsky liderando o Brasileiro de 2001

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como André Mirsky e João Signorini, este vindo a conquistar duas vezes os campeonatos Brasileiro e Sul-americano. Vale ressaltar que a renovação da classe só foi possível graças aos incansáveis esforços do capitão da flotilha, Marco Aurélio de Sá Ribeiro, que, além de velejador, sempre se dedicou à classe, organizando e se fazendo presente em todos os campeonatos, desde a infância. Premiando a dedicação de Sá Ribeiro, todos os participantes da classe Finn elogiaram vivamente a impecável organização do Campeonato Mundial realizado pelo Iate Clube do Rio de Janeiro em 2004.

O Finn é um barco resistente e capaz de enfrentar condições difíceis de mar e vento

João Signorini montando a bóia de contravento no Mundial do Rio, em 2004

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A classe Soling A classe Soling surgiu em meados dos anos 50, congregando barcos capazes de enfrentar mar aberto e cujo custo de fabricação era um pouco mais acessível do que o do 5,5. Em 1961, concluído seu desenho definitivo, a Irtenational Yatching Race Union (IYRU) reconheceu no Soling uma das opções para a substituição de classes olímpicas obsoletas. Em 1968 e em 1969, 600 novos Solings foram construídos no mundo. Velejar um Soling é realmente uma atividade muito prazerosa. O barco proporciona boas doses de emoção à tripulação, principalmente quando o vento é forte, de popa. Levando um spinnaker relativamente grande, exige dos três integrantes da tripulação muita concentração e força. Os primeiros Solings chegaram ao País em abril de 1970 e em dezembro daquele mesmo ano já havia 11 veleiros competindo na Baía de Guanabara e na Represa de Guarapiranga, continuando a flotilha a crescer, até que em

Gastão Brun liderando a perna de popa

1975 já eram 34 os barcos em águas nacionais. No final da década de 1970, todavia, não havia tantos Solings no Rio de Janeiro, a maioria deles estava migrando para outros estados. Não obstante, foi nessa mesma época que a classe obteve no Rio de Janeiro seus melhores resul-

Como é bela a Vela! Tripulação brasileira, com Daniel Adler, do ICRJ, liderando o Mundial de Soling

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tados por intermédio de notáveis velejadores do ICRJ, tais como Augusto Barrozo, com o Feitiço V que se tornou campeão Sul-americano em 1977, enquanto Gastão Brun sagrou-se campeão da mesma prova em 1972, 1974 e 1976, tornando-se também o representante brasileiro da classe em Kingston, em 1976, e ainda mais sagrou-se campeão Mundial de 1978 no Rio de Janeiro e, como proeiro, foi vice-campeão no Augusto Barrozo, vencedor do Sul-americano em 1977 Mundial de 1981, na Itália. Em 1978, o destaque da classe ficou com A partir de 1997, Alan Adler montou uma a equipe formada por Gastão Brun, Roberto equipe visando à tão cobiçada medalha olímpiMartins e Vicente Brun, que conquistou o Munca, participando, assim, das maiores competidial realizado pelo ICRJ. Os irmãos Gastão e ções da classe no mundo e ainda conquistando Vicente repetiram a façanha em 1981. três títulos brasileiros. Em 1982, os irmãos José Paulo e Augusto O ICRJ mostrou força na classe Soling, Barcellos começaram a dedicar-se com êxito na qual inúmeros representanao Soling. tes brasileiros tiveram desemNa seletiva para as penho brilhante nas maiores e Olimpíadas de 1984, a tripulamais importantes regatas do iação vitoriosa foi comandada por tismo internacional, de que é Torben Grael e composta com exemplo Gastão Brun. Ronald Senft e Daniel Adler, Em 2004, no Camequipe que voltou a represenpeonato Mundial de Porto tar o Brasil nos Jogos Olímpicos Alegre, o Iate Clube do Rio de de Los Angeles, em que foi preJaneiro foi representado pelo miada com a primeira medalha bicampeão brasileiro Renato de prata do iatismo nacional. Cunha Faria, que ficou com a Um pouco mais tarde, surgiu 5ª colocação. uma nova tripulação formada Atualmente, pouquíspelos irmãos Barcellos e Daniel simos Solings velejam na Baía de Adler, um time de sucesso quaEm 1975 a classe Soling Guanabara. tro vezes campeão nacional. atingiu seu apíce no Brasil

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A classe Tornado O Tornado foi desenhado no outono de 1967 por Rodney March, inglês, com a ajuda de Terry Pierce e Reg White, especificamente com o propósito de tornar-se o Catamarã Olímpico tripulado por dois velejadores. Em 1974 o Tornado se espalhou pelo globo já com o status de classe olímpica, e em 1976 foi realizado no Canadá o primeiro grande evento de catamarãs, no qual mais uma vez o Tornado foi o barco escolhido, por afirmar nesse evento suas características agressivas ao atingir, em condições de contravento e vento em popa, velocidades de até 18 nós, e com vento pelo través, a incrível marca de 33 nós. A classe protegeu o projeto de grandes mudanças até a década de 1990, quando outras opções vieram ameaçar sua hegemonia, levando a Federação Internacional de Vela a sugerir mudanças visando a alcançar a modernidade que, afinal, conferiu ao barco plasticidade e aumento

Maurício Santa Cruz velejando nas águas geladas do dique holandês

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de velocidade, levando seu desempenho maior emoção aos tripulantes e espectadores, garantindo-lhe a condição de grande preferido. O Tornado pode ser mais rápido do que uma lancha motorizada, principalmente em lagos e represas onde houver muito vento e pouca agitação das águas, e não é refratário ao mar aberto, mostrando-se valente e capaz de enfrentar grandes vagas e ventos de mais de 30 nós. O Brasil é detentor de três medalhas olímpicas na classe: ouro com Lars Bjorkstrom e Alex Welter em Moscou, em 1980, bronze com Lars Grael e Clínio de Freitas em Seul, em 1988, e bronze com Lars Grael e Kiko Pellicano em Atlanta, em 1996, quando esta dupla representava o ICRJ, destaques que não fazem esquecer outras duplas de sucesso na classe como Alexandre Levi e Ibaté Jost, e Maurício Santa Cruz e João Carlos Jordão. Até hoje, mais de 4.800 barcos já foram construídos, o que representa uma quantidade relativamente pequena, levando em conta o grande número daqueles que sonham velejar nesse foguete. O Tornado – barco inesquecível que demanda técnica e força física – promete resistir nas águas por muitos anos, para delírio de seus admiradores.


A classe 420

Carlos Jordão, o Peninha, muito treino e suor, em preparação para participar em Olimpíadas

A medida de comprimento de 4,20 m deu origem ao nome 420 da classe reconhecida pela Federação Internacional de Vela, que cedo se tornou, além de muito popular entre os jovens, a alavanca dos que buscavam uma opção mais complexa. No Brasil, de início concentra-se em grande escala na Represa Guarapiranga, local da realização de alguns campeonatos oficiais, como o Brasileiro e o Paulista. Aperfeiçoandose, a classe chegou ao ICRJ na década de 1970, já carregando, desde 1996, características técnicas mais apuradas com mudanças introduzidas no layout do convés, tornando o 420 mais rápido e fácil de ser velejado e, portanto, mais con-

Eduardo Penido quase voa num teste da vela que desenvolveu para a classe

Campeões brasileiros do ICRJ 1975 Alexandre Levi / Ibaté Jost 1977 Alexandre Levi / Ibaté Jost 1995 Lars Grael / Henrique Pellicano 1996 Lars Grael / Henrique Pellicano 2000 Mauricio S. Cruz / Henrique Pellicano 2002 Mauricio S. Cruz / João Carlos Jordão 2003 Mauricio S. Cruz / Bruno Di Bernardis

Deborah Wilcox, cerca de 20 anos atrás, foi campeã brasileira da classe, representando o ICRJ

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veniente para os iniciantes. No campeonato brasileiro de 1980, as duas duplas Deborah M. Wöllner- Elbe Faria e as irmãs Karla e Katia Redig ficaram com os 2º e 3º lugares. Logo, porém, a classe perdeu força e sumiu das nossas raias. Mas, no final da década de 1990, por iniciativa de Angela Brun, que buscava uma opção de classe para seu filho que estava prestes a sair da Optimist, três barcos foram comprados respectivamente por Lucas Brun, Breno Bianchi e Eduardo Adler, e mais adiante outros três foram adicionados ao grupo. Apesar de tudo, a classe mais uma vez decaiu, cabendo a Sylvia Adler Pimentel Duarte a reorganização da flotilha 420 em 2003, ensejando o surgimento de velejadores de alto nível, muitos que se tornaram campeões nas di-

Barcos integrantes da atual flotilha do ICRJ

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Meninas treinando sob a orientação de um técnico na raia da Escola Naval

versas classes do iatismo, principalmente na 470, sua evolução natural. Em 2003, em Portugal, o Brasil venceu o Campeonato Mundial feminino, com Isabel Ficker e Laura Zanni, demonstrando que o nível nacional na classe evoluía.


A classe J24 O J24 é o barco com quilha de maior sucesso entre os monotipos da atualidade, o preferido de grandes nomes entre os maiores praticantes da vela. Trata-se de um barco completo e econômico, que prescinde de manutenção especial, proporcionando grandes competições e boas velejadas, principalmente com o spinnaker ao alto, quando atinge maiores velocidades. Começou a ser produzido em 1975 pelo esforço conjunto da família do americano Rod Johnstone, praticamente no quintal de sua casa, na cidade de Stonington, Connecticut, nos Estados Unidos. Essa unidade foi, afinal, o protótipo de um monotipo que, apenas três anos após sua criação, já tinha classe constituída e teve seu début oficial em 1978, com vinte equipes competindo em Key West, na Flórida, sob o comando de notáveis velejadores internacionais – entre eles, o brasileiro Vicente (Vince) Brun – que aprovaram o barco com louvor, predizendo, com acerto, um futuro promissor para o pequeno veleiro de oceano. E, para seu regozijo, a família Johnstone montou um estaleiro, gerando um negócio mundial que atinge 5.200 unidades construídas a partir de sua criatura. No início da década de 1980, o J24 ganhou o reconhecimento das revistas especializadas e teve sua posição homologada pela IYRU como classe internacional. A partir daí, tornouse um verdadeiro atrativo, ainda que sob a predominância americana, registrando-se a presença no Campeonato Europeu de 1993 de incríveis

1º geração J24

Mauricio Santa Cruz, Santinha

103 unidades, numa prova vencida pelo americano Ken Read. Antes desvinculado de regras especiais e limitações técnicas, a alta qualidade do barco levou a Associação Internacional da classe J24 a elaborar, de forma muito rígida, um conjunto de medidas que uniformizaram o monotipo, tanto na construção quanto nos equipamentos de uso. Tudo equalizado, cabos, stays, itens de segurança, dimensões e material das velas são aferidos por competidores e conferidos por medidores antes de competições de alto nível. Tal rigidez, de início tida como incômoda pelos proprietários, terminou por tornar-se o elemento de equi-

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A beleza de uma disputa entre barcos da classe J24

líbrio da classe, trazendo longevidade para os pequenos Oceanos que continuam competindo em igualdade de condições, não obstante a idade de cada um, como é exemplo o Mundial ganho por Ken Read utilizando um J24 construído em 1981. No início da década de 1980, o J24 começou a navegar em nossas águas por iniciativa de Lauritz Von Lachmann, Jorge Pontual e José Laport, com três unidades importadas dos EUA. A classe foi crescendo, principalmente no Iate Clube do Rio de Janeiro, o mais importante promotor dessas regatas nos últimos vinte anos, de Sul-americanos, Brasileiros e Estaduais, incluindo a participação dos J24 por muitas vezes na classe Oceano, nas diversas subca-

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tegorias, como a IMS, RGS, IOR e RHC, sempre dando trabalho aos barcos maiores. No Minicircuito Rio, campeonato restrito a pequenos barcos de Oceano, o J24 aparecia como o grande favorito na disputa da Fita Azul. Ao ganharem a medalha de prata da classe no Pan-americano de Santo Domingo, em 2003, Maurício Santa Cruz, João Carlos Jordão, Daniel Santiago e Alan Adler não surpreenderam, pois já haviam demonstrado sua competência em campeonatos Norte-americanos e Mundiais, como também o fizeram velejadores do porte de Benjamin Sodré, Gilberto Barreto, Alessandro Gioia, Eduardo e Roberto Birkeland, Sergio e Sandra Goretkin, Mark e Clara Diniz, John King, Ivan Pimentel, José Paulo Barcellos, dentre tantos.


Regatas tradicionais Entre as competições locais do calendário do ICRJ constavam a Volta da Ilha Rasa, a Taça Pimentel Duarte, a Regata Darke de Mattos, a Taça Comodoro, a Taça Rei Olav e a Taça Eficiência, esta última representando a avaliação de toda a campanha para apontar a tripulação mais regular da temporada. A antiqüíssima Volta da Ilha Rasa tinha como curiosidade a participação de várias classes com uma largada única, tornando possível a comparação do desempenho dos diferentes veleiros, quase sempre liderados pelos Stars que se mostravam os mais velozes no percurso iniciado no Morro da Viúva, seguindo em direção à Ilha Rasa e retornando à enseada de Botafogo, naquela que era uma das mais interessantes e concorridas regatas do antigo calendário. Mais tarde recebeu o nome de Marcílio Dias, mantendo o tradicional percurso. Instituída em 1953 pelo então comodoro Raul Pinto de Carvalho, a Taça Comodoro do

Iate Clube do Rio de Janeiro representa uma série de regatas realizadas anualmente no mês de maio, envolvendo velejadores de diversas classes do clube, desde os novatos da Optimist até os veteranos da Oceano. A Taça Pimentel Duarte foi criada para, além de homenagear o grande desportista que lhe cede o nome, incentivar a flotilha de Snipes para cuja criação e desenvolvimento ele, como patrono, contribuiu decisivamente. Outras competições importantes foram realizadas ao longo dos anos, como a Regata Rei Olav, em homenagem ao rei da Noruega, entusiasta velejador, e a Taça da Amizade, sugerida por Harry Adler, Alberto Ravazzano e Helio Barroso como confraternização entre a vela e a pesca. Nessa regata, um pescador fazia-se proeiro de um Star, evento que unia fraternalmente aqueles associados que se devotam, em sentimento uníssono, ao amor pelo mar, embora em diferentes atividades. A Regata Pau a Pino, de 1940, tem o mérito do pioneirismo em termos de disputas oceâ-

Largada de uma regata de oceano, em que aparecem o Atrevida e diversos veleiros da classe Brasil

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nicas em uma época que havia mais interesse pela aeronáutica no clube. Por iniciativa do almirante Lemos Bastos e com a presença de José Cândido Pimentel Duarte, com o seu Procelária, a prova tinha verdadeiro sabor de aventura, contando com um duble proa vindo da Europa, o Vento Perso, um veleiro de ferro da Companhia de Aviação Condor (Cruzeiro do Sul) e alguns Guanabaras. Partindo da Baía de Guanabara, os participantes rumavam até a entrada da baía da Ilha Grande, contornavam o farol de Pau a Pino e retornavam até o través da Ilha de Villegagnon.

Buenos Aires-Rio Com o fim da Segunda Guerra Mundial e livre o Atlântico de ameaças, surgiu a idéia de se organizar uma regata oceânica entre as duas maiores capitais do continente, animada pelo veterano velejador Hipólito Gil Elizalde – então diretor da revista Yachting Argentina –, imediatamente acolhida pelo Yacht Club da Argentina e pelo ICRJ, este representado por José Cândido Pimentel Duarte, que se encontrava em Buenos Aires no comando do seu Vendaval. A partir de 1946, outras instituições civis e militares passaram a apoiar os preparativos para a realização da então maior regata em extensão do hemisfério sul e a segunda do mundo. Em 4 de janeiro de 1947, as velas foram içadas e a largada da primeira Buenos Aires-Rio foi dada em Darsena Norte, na capital portenha. Tão acirrada foi a disputa ao longo das 1.200 milhas até a Baía de Guanabara que,

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O Pluft, de Israel Klabin, campeão no tempo corrigido em 1971

inacreditavelmente, a poucos metros da linha de chegada, ainda travavam árdua disputa pela Fita Azul o argentino Alfard, de Felipe A. Justo, e o Vendaval, de José C. Pimentel Duarte, que alcançara a boca da barra com expressiva vantagem sobre o seu competidor. O frisson causado pelas notícias que chegavam sobre o andamento da disputa agitava a varanda do ICRJ. Nem mesmo a dramática calmaria que se abateu sobre a área e, finalmente, assegurou a vitória ao barco argentino, arrefeceu o entusiasmo da recepção a Pimentel Duarte e seus companhei-


ros. O próprio comandante do Vendaval saudou cavalheirescamente seu adversário triunfante subindo solenemente e em traje completo a bordo do Alfard, num gesto superior de nobreza que sensibilizou os tripulantes e a imprensa argentinos. Pimentel Duarte foi assim reO Cisne Branco da Marinha do Brasil, conhecido como responsável, ao lado recodista com o tempo de 4 dias, 9h52m57s de Elizalde, pela criação de uma nova era para o iatismo internacional, com o estabeOs países mais representados, além da Argenlecimento da regata que viria a ser, como eles tina (com 352 concorrentes) e o Brasil (81), são acreditavam, a mais tradicional do cone sul. os Estados Unidos (29), Uruguai (17), Chile (13), Nas vinte edições que até agora teve essa Alemanha (12), Inglaterra (6), Portugal (3), Ausregata, participaram 522 concorrentes de divertrália (3), Holanda (2), Itália, África do Sul, sas nacionalidades, vários deles mais de uma vez. Espanha e Peru (com um concorrente cada). Quatro foram as vitórias brasileiras, a primeira na terceira edição, em 1953, quando o Cayru II, capitaneado por Jorge Geyer, levou a taça no tempo corrigido, apesar de haver cruzado na 5ª colocação. Em 1968, o Iate Clube do Rio de Janeiro mandou para Buenos Aires o primeiro barco de fibra de vidro do Brasil, importado por Sergio Mirsky, o Neptunus II, que estreou na Buenos Aires-Rio vindo diretamente dos EUA e teve excelente desempenho, testemunhado pelos tripulantes Hamilcar Veiga da Silva e Roberto Monerat. O Cisne Branco, barco escola da Marinha Brasileira, antigo Ondine, detém, até hoje, o recorde da competição, com uma performance de 4 dias, 9h52m57s, alcançada em 1987, sob O Cayru II , de Jorge Geyer, vencedor da edição de 1953

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O Pajé, um dos últimos representantes do ICRJ na Buenos Aires-Rio, em 2002

o comando do capitão-de-corveta Francisco A. Rocha Coelho, contando com uma tripulação de 20 homens – 5 aspirantes, 3 praças e 12 oficiais –, tendo o tenente Alexandre Honaiser como responsável tático.

Embora muito afinado, o Saga não sobrepujou o Wawatoo, em 1977

As embarcações brasileiras vencedoras da grande regata foram quatro, sendo duas do ICRJ, e as Fitas Azuis também somaram quatro, igualmente duas do nosso clube, todas referidas na relação a seguir.

Buenos Aires-Rio – Resultados históricos Ano 1947 1950 1953 1956 1959 1962 1965 1968 1971 1974 1977 1979 1981 1985 1987 1990 1993 1996 1999 2002 2005

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Vencedores Fita Azul Alfard – Felipe Justo Alfard – Felipe Justo Fjord III – Gérman Frers Vendaval – Pimentel Duarte Cayru II – Jorge Geyer White Mist – B. White Fortuna – Luis Córdoba Fortuna – Luis Córdoba Tango – Raul Decker Argyll – W. T. Moore Carla – Jorge Ferrini Stormvogel – C. Bruynzeel Ondine – S. A. Long Ondine – S. A. Long Ondine – S. A. Long Ondine – S. A. Long Pluft – Israel Klabin Ondine – S. A. Long Recluta III – C. Corna Saga – Erling Lorentzen Wawatoo – Fernando N. Abreu Wawatoo – Fernando N. Abreu Madrugada – Pedro P. Couto Ondine – S. A. Long Fortuna II – M. Kelly Ondine – S. A. Long Congere – Bevin Koeppel Congere – Bevin Koeppel Daphne – Germán Frers Cisne Branco – F. A. Rocha Coelho Magic – Carlos Wainstein Fortuna II – Marcelo Goyenechea Uruguay Natural – Gustavo Vanzini Uruguay Natural – Gustavo Vanzini Maite – Ramón Igarreta Camba II – Jorge F. Viña Mandrake – Ricardo Umpierre Bonanza – Gustavo Musso Fanfarrón – Haedo Gonzalo Fortuna – Armada Argentina Nubium (classe IMS) e Sensation Kodak (classe ORC-Club)

A HISTÓRIA DO IATE CLUBE DO RIO DE JANEIRO


Santos-Rio Antes da Pau a Pino e até a criação da Santos-Rio, as regatas brasileiras limitavam-se às lagoas e baías, destacando-se os dois pólos mais importantes da Baía de Guanabara: de um lado, a enseada de Botafogo, com o ICRJ e o Clube de Regatas Guanabara; do outro, em Niterói, o Iate Clube Brasileiro e o Rio Sailing Club, disputando regatas entre si e com elas proporcionando experiência para os seus velejadores. O próximo passo, depois do advento da Buenos Aires-Rio, foi a criação da Santos-Rio, com um percurso de 200 milhas náuticas que muito empolgou os comandantes dos veleiros de oceano dos dois lados. A grande prova nacional exige muito dos mais experimentados velejadores que tanto a animam, especialmente dos comandantes e estrategistas que, não raro, são submetidos a esforços de repetição de turno e pernoite para não perder o controle estratégico da embarcação. A primeira regata teve início em outubro de 1951 e foi ganha pelo Ondina de Joaquim Belém, sucedendo-se numerosas vitórias de notáveis velejadores do ICRJ alcançadas com des-

Largada em Santos, iníco de uma regata de 200 milhas

Aprontam-se os barcos para a regata no pier do Iate Clube de Santos

taque por Fernando Pimentel Duarte, com os seus Procelária e Tigre, e Erling Sven Lorentzen, com os Sagas, além de outros velejadores do clube, como mostra a tabela da página seguinte. Até hoje o velejador com mais participações na prova é o veterano Sérgio Mirsky, sempre com os seus Neptunus, tendo conquistado a Fita Azul em 1990 e 2003, e a vitória consagradora com a Fita Azul e 1ª colocação geral em 2001. Apesar de o percurso ser uma dura prova para as tripulações, com a travessia de calmarias e áreas fortemente conturbadas – como a antiga linha de chegada do Arpoador ou o temido contorno da Ponta do Boi –, a regata conserva a sua tradição, mesmo nos momentos em que a curva da economia sofre grandes variações, afastando participantes, e a despeito do frio e das chuvas usuais. A 54ª versão de 2004, teve 33 barcos inscritos, e somente 7 completaram o percurso em face de desistências provocadas pelas condições de mar, vencendo o IMS Magia 4 / Vivo, sob o comando náuticas de Torben Grael.

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Santos-Rio – Resultados históricos Vencedores 1951 Ondina* 1952 Ondina* 1953 Procelária* 1954 Cangaceiro* 1955 Mistral* 1956 Sirocco 1957 Procelária* 1958 Angica III* 1959 Singoalla* 1960 Vendaval II* 1961 Procelária* 1962 Turuna 1963 Bermuda 1964 Procelária* 1965 Cayru III* 1966 Saga* 1967 Sargaço II* 1968 Pluft* 1969 Saga* 1970 Seven* 1971 Buscapé* 1972 Atrevido 1973 Mirage 1974 Wa Wa Too III 1975 Liho Liho 1976 Wa Wa Too III 1977 Liho Liho 1978 Krishna* 1979 Barco* 1980 Five Stars* 1981 Madrugada* 1982 Carro Chefe* 1983 Madrugada* 1984 Ressaca 1985 Osprey XXV 1986 Alucinante* 1987 Bicho Papão Jr. 1988 Daniel Hechter 1989 Saga IV* 1990 Blaupunkt 1991 Souzaramos / Ricci 1992 Saga* 1993 Magia / Polibrasil 1994 Magia / Polibrasil 1995 H3+ / Reebok 1996 Magia / Polibrasil 1997 Gosto D’água 1998 Transbrasa 1999 Scirocco 2000 Scirocco 2001 Neptunos X* 2002 Sorsa / Oi* 2003 Sorsa / Nokia* 2004 Magia IV / Vivo

Joaquim Belém Joaquim Belém F. Pimentel Duarte Domício Barreto Leon Joullié Bruno Hollnagel F. Pimentel Duarte Marcos Merhy Ragnar Janér J. L. Pimentel Duarte F. Pimental Duarte Caio Penteado Domingos Giobbi Manoel S. Campos Jorge Geyer Erling Lorentzen Ebert Chamoun Israel Klabin Erling Lorentzen Parker Gilbert Paulo Monteiro Lima Armando Grandi Gerry Moog Fernando Nabuco Ernesto Breda Fernando Nabuco Milton Ferreira Roberto Pellicano Mario Rocco Simões Roberto Pellicano Pedro Paulo Couto Laurits von Lachmann Pedro Paulo Couto Glerio Farias Passos Axel Schmidt Luiz Carlos Simão Eduardo S. Ramos João C. Caio Jr Erling Lorentzen Eduardo S. Ramos Eduardo S. Ramos Erling Lorentzen Torben Grael Torben Grael Lars Grael Torben Grael Ildefonso Witoslavski Jr. Mark Essle Inácio Jadreses Inácio Jadreses Sérgio Mirsky Celso Quintela Celso Quintela Torben Grael

* 30 vitórias e 34 Fitas Azuis do ICRJ.

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A HISTÓRIA DO IATE CLUBE DO RIO DE JANEIRO

Fita Azul Vendaval Ondina* Procelária* Cangaceiro* Mistral* Sirocco Procelária* Angica III* Singoalla* Sirocco Procelária* Turuna Vendaval III* Cairu III* Cairu III* Saga* Pluft* Pluft* Saga* Seven* Seven* Sorcery Wa Wa Too III Saga III* Bumblebee III Wa Wa Too III Tigre* Tigre* Saga* Índigo* Madrugada* Saga* Matrero II Curyman* Carro Chefe* Carro Chefe* Cisne Branco Daniel Hechter Saga IV* Neptunus V* Souzaramos/Ricci Saga* Magia/Polibrasil Magia/Polibrasil Magia/Polibrasil Magia/Polibrasil Miss Bonzão Mitsubishi Mitsubishi Mitsubishi Neptunos X* Kimax* Neptunus Express* Phoenix/PajeroTR4*

F. Pimentel Duarte Joaquim Belém F.Pimentel Duarte Domício Barreto Leon Joullié Bruno Hollnagel F. Pimentel Duarte Marcos Mehry Ragnar Janér Bruno Hollnagel F. Pimentel Duarte Caio de Barros Penteado J.L. Pimentel Duarte Jorge Geyer Jorge Geyer Erling Lorentzen Israel Klabin Israel Klabin Erling Lorentzen Parker Gilbert Parker Gilbert J. B. Bauldwin Fernando Nabuco Roberto Pellicano John Kahlbetzer Fernando Nabuco F. Pimentel Duarte F. Pimentel Duarte Erling Lorentzen Ivan Botelho Pedro Paulo Couto Roberto Pellicano Toríbio de Achaval William Maclaren Laurits Lachmann Laurits Lachmann Érico de Albuquerque João C. Caio Junior Erling Lorentzen Sérgio Mirsky Eduardo S. Ramos Erling Lorentzen Torben Grael Torben Grael Torben Grael Torben Grael Sérgio Goretkin Eduardo S. Ramos Eduardo S. Ramos Eduardo S. Ramos Sérgio Mirsky Marcos P. Andrade Sergio Mirsky E. S. Ramos/Gastão Brun


Circuito Rio Na ocasião da disputa da 19ª Santos-Rio, surgiu a idéia da organização de um conjunto de regatas complementares, iniciadas anualmente pela mais tradicional competição de oceano do Brasil e aproveitando a presença de seus participantes em nossas águas, muitos deles estrangeiros. Batizado como Circuito Rio, esse evento tornou-se verdadeiramente a festa da vela de oceano e hoje ostenta brilho próprio, a tal ponto que já se cogita na sua independência da Santos-Rio. Composto em geral por 5 regatas, de longo, médio e menores percursos – que foram sucessivamente alterados –, tinha inicialmente como médio roteiro a cansativa ida e

Eduardo Souza Ramos com uma tripulação de peso: Paulo Cesar Pimentel Duarte, Mario Buckup e Robert Sheidt

O Circuito Rio de 1996 marcou o início de grandes diputas entre os novos IMS de 40 pés

volta a Cabo Frio, seguida por mais três eventos triangulares, normalmente em águas exteriores. Atualmente a regata média do Circuito Rio é a Victor Demaison, que faz a volta das Ilhas de Maricás, a que se segue um conjunto de disputas do tipo barla-sota com aproximadamente 10 milhas de extensão, provas extremamente técnicas que exigem muito trabalho e sintonia da equipe de tripulantes. Até a década de 1980, a vela de ocenano guardava padrões de manutenção e qualidade dos barcos e seleção das tripulações inspirados nos padrões de homens como Erling Sven Lorentzen e Lauritz von Lachmann, profundamente dedicados ao esporte e capazes de impor, no todo, seus conceitos de excelência., Em certo momento, surgiu também um novo tipo de velejador iniciante, com perfil distanciado de regatas de longo curso, gerando o encurtamento das disputas oceânicas, com seus barcos espartanos que não absorveriam as dificuldades e os desgastes das grandes jornadas. Essa realidade provocou preferência pelo Circuito Rio, cujo formato serve a muitos, mesclando vários tipos de provas, às portas de casa. O 35o Circuito Rio de 2004 contou com 47 barcos participantes e ocorreu em excelentes condições de ventos, resultando em regatas de alto nível técnico, quatro com destaque para a classe IMS, a mais numerosa, com 20 veleiros operados pelos principais velejadores brasileiros da atualidade, como Torben Grael, Robert Scheidt e Marcelo Ferreira. O vencendor foi o IMS Phoenix / Pajero TR 4, de Eduardo Souza Ramos.

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Circuito Rio – Resultados históricos Data 1970 1971 1972 1973 1974 1975 1976 1977 1978 1979 1980 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004

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Classes (?) IOR IOR IOR IOR IOR IOR IOR IOR IOR IOR IOR IOR IOR IOR IOR IOR IOR IOR IOR IOR IOR IOR IMS IMS IMS IMS IMS IMS IMS IMS Cat.1 IMS IMS IMS IMS

Vencedores Seven Wa Wa Too II Atrevido Procelaria Wa Wa Too II Liho Liho Saga Peanut Britle Krishna Five Star Carro Chefe Madrugada Mano’s Too Sufer II Osprey XXV Carro Chefe Fugitivo Bicho Papão Jr. Black Jack Saga Blaupunkt Souza Ramos Ricci Magia/Polibrasil Magia/Polibrasil Unimed/H3+ Magia/Polibrasil Sorsa II Polibrasil Polibrasil Telemar Scirocco Neptunus X Klimax Phoenix /Pajero Tr4 Phoenix/Pajero Tr4

A HISTÓRIA DO IATE CLUBE DO RIO DE JANEIRO

Comandantes Parker Gilbert Fernando Nabuco de Abreu Armando Grandi Fernando José Pimentel Duarte Fernando Nabuco de Abreu Ernesto Breda Erling Sven Lorentzen Lauritz Anton Von Lachmann Roberto Pellicano Lauritz Anton Von Lachmann Lauritz Anton Von Lachmann Pedro Paulo F. Couto Neto Horácio Carabelli Aloisio La Torre Christiansen Axel Frederick Preben Schmidt Lauritz Anton Von Lachmann Aloisio La Torre Christiansen Eduardo Souza Ramos Lauritz Anton Von Lachmann Erling Sven Lorentzen Eduardo de Souza Ramos Eduardo de Souza Ramos Torben Grael Torben Grael Lars Grael Torben Grael Celso Quintella Torben Grael Torben Grael Lars Grael Inácio Vandresen Sérgio Mirsky Marcos Pinheiro De Andrade Eduardo Souza Ramos Eduardo Souza Ramos

Clubes ICRJ ICS ICS ICRJ ICS ICS ICRJ ICRJ ICRJ ICRJ ICRJ ICRJ ICSC ICS RYC ICRJ ICS ICS ICRJ ICRJ ICS ICS RYC RYC RYC RYC ICRJ RYC RYC RYC/ICRJ ICSC ICRJ ICRJ ICS ICS

Barcos (?) 18 23 18 15 17 13 11 15 23 24 44 36 33 34 24 16 17 9 9 14 7 6 11 11 20 33 33 29 23 19 21 20 20 20


Cidade do Cabo-Rio (Cape to Rio Race) A regata Cidade do Cabo-Rio é uma das mais importantes provas de longa duração do mundo para veleiros de oceano e a maior em extensão do Atlântico Sul. Realizada sem escalas desde a cidade africana, a regata segue até a Ilha de Trindade, no paralelo de Vitória, passando por bombordo e rumando a sudoeste, até o Rio, onde se completam as quase 3.500 milhas, distância percorrida até hoje em não menos de doze dias, mesmo por barcos mais velozes, ou em vinte dias, na média histórica. Organizada pela Cruising Association of South Africa, em conjunto com o Royal Cape Yacht Clube e o ICRJ, sempre contou com o apoio da ABVO – Associação Brasileira de Veleiros de Oceano, da Confederação Brasileira de Vela e Motor, contribuindo eficientemente a Marinha Brasileira com as medidas de proteção aos barcos em percurso, quando em nossas águas. Sua primeira edição ocorreu em 16 de janeiro de 1971 e dela participaram 60 barcos, cabendo o 1º lugar geral – e a posse transitória do Troféu Atlântico Sul (South Atlantic Trophy) – ao sul-africano John Goodwin, com o Albatroz II. O 2º lugar coube ao barco francês Striana, e o 3º ao holandês Stormy. O barco vencedor também ostentou a Fita Azul (Lint Honours), havendo cumprido o percurso em 22 dias, 1h58m29s. A segunda regata foi realizada em 1973 com a participação de 39 barcos, cabendo ao

holandês Stormy a vitória no tempo corrigido e também a Fita Azul, em 19 dias, 18h20m18s. Em 1976, já em sua terceira versão, o evento havia assumido no país africano um caráter de festa nacional, como relatou o diretor de comunicações do ICRJ à época, Mucio Lodi. A 6ª Regata Cidade do Cabo-Rio, realizada em 2000, coincidiu com as celebrações dos 500 anos de descobrimento do Brasil e teve como característica inovadora a adoção de duas partidas, a primeira dos menores veleiros, seguidos, seis dias após, pelos barcos maiores e naturalLargada em Capetown, mente mais velozes, de com bons ventos e água fria sorte a diminuir o distanciamento de chegada dos dois grupos. Ao fim, o americano Zephyrus conquistou o 1º lugar, no tempo corrigido e na classificação geral, tendo o barco, sob o comando de Robert McNeil, estabelecido nessa edição o recorde da regata, com o tempo de 12 dias, 16h49m41s. Nesse momento, registrou-se a introdução de nova modalidade, denomina rally, para participantes da classe Cruzeiro, utilizando propulsão mista de vela e motor. A sétima regata, realizada em 2003, talvez por questões de ordem econômica, registrou a menor participação, com apenas 32 veleiros, originários de oito países, entre os quais

NA PRAIA DA SAUDADE

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se destacou o catamarã brasileiro Adrenalina Pura em sua disputa com o trimarã sueco Nicator, que acabou por conquistar a Fita Azul para multicascos, enquanto o alemão Morning Glory II Regata I II III IV V VI VII Total

Ano 1971 1973 1976 1993 1996 2000 2003

Países 17 12 17 10 11 11 8

Nº de veleiros 65 39 128 98 56 84 32 502

A Darke de Mattos, a mais antiga regata da América do Sul Em 18 de março de 1945 foi realizada a primeira regata da classe Star, denominada “Darke de Mattos” em homenagem ao notá-

Harry Adler comemorando com champanhe na própria taça Darke de Mattos

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repetiu sua conquista de 1996, ganhando a Fita Azul, porém para monocascos. A competição deixou de ser realizada durante 17 anos por motivo de ordem política. Vencedores Albatroz II Stormy Chica Tica Morning Glory Renfreight Zephyrus IV Baleka

vel piloto e desportista, dirigente do clube que pereceu em acidente aviatório na enseada de Botafogo. A flotilha já contava com 17 Stars que percorreram naquela data rota inédita, com largada na enseada de Botafogo, contornando o

Staristas comemoram 45 anos da Darke de Mattos

A HISTÓRIA DO IATE CLUBE DO RIO DE JANEIRO

Fita Azul British Ocean Spirit Stormy Ondine Broomstick Morning Glory Zephyrus IV Morning Glory


Após a largada, disputa acirrada na Darke de Mattos

Morro da Urca e rumando para Copacabana, com chegada na altura do Posto 6, em águas fronteiriças ao Clube Marimbás, em cuja sede os participantes eram aguardados com uma peixada festiva. O troféu foi ganho por Sérgio G. Antônio de Paula Simões, com Toró.

Na 51ª regata, o 1º lugar B foi de André Mirsky e Felipe Caire, em março de 1995

Carlos Sansoldo, um dos organizadores do evento, entendendo, por suas próprias razões, que o último colocado deveria também ser premiado como incentivo à competição, descalçou seus sapatos de regata que, caprichosamente, mandou dourar, instituindo a “Chulipa de Ouro”, como ficou conhecido esse troféu, até hoje outorgado juntamente com a taça Darke de Mattos, premiando os vencedores, “nas duas pontas”, da prova de monotipos mais tradicional e antiga da América do Sul.

Para o vencedor, a Taça Darke de Mattos, com direito ao nome na peanha; e para o último colocado, com o bom humor de Sansoldo, a Chulipa de Ouro

NA PRAIA

DA

SAUDADE

191191


Regata Darke de Mattos – Resultados históricos (classe Star) Ano

Barco

Vencedores

Ano

Barco

Vencedores

1945

Toró

Sérgio Simões/Antonio Simões

1976

Ninotchka

Peter Siemsen/Nina Siemsen

1946

Toró

Ernani Simões/Antonio Simões

1977

San Luca

Alessandro Pascolato/Paulo Kunze

1947

Toró

Ernani Simões/Antonio Simões

1978

Don Corceone

Leandro Sansoldo/André Sansoldo

1948

Buscapé II

J. J. Bracony/C. Bittencourt Filho

1979

Osprey XX

Axel Schmidt/Luiz Amaro

1949

Xodó III

Roberto Bueno/J. Bittencourt

1980

Clementine III

Valentin Martin/Daniel Adler

1950

Pimm

Walter V. Hutschler/Jorge Carneiro

1981

Ninotchka

John King/Sérgio Nascimento

1951

Gem II

Carlos Sansoldo/Victor Demaison

1982

Clementine

Harry Adler/Francisco Caneppa

1952

Toró I

Ernani Simões/Mário Simões

1983

Ninotchka

Peter Siemsen/Maria T. Siemsen

1953

Bú III

Othon Dias/Manoel Campos

1984

Nathalia

John King/Wellington de Barros

1954

Rio II

M. Neida/Victor Demaison

1985

Nathalia

John King/Claus Buchmann

1955

Xodó IV

Roberto Bueno/G. Pullen

1986

Nathalia

John Kinh/Camilo Carvalho

1956

Malabar

Jorge Pontual/Genevive Pontual

1987

Nathalia

John King/Claus Buchmann

1957

Capucho

Hamilcar Veiga Silva/Hans Meyer

1988

Nathalia

John King/Camilo Carvalho

1958

Pimm

Walter V. Hutschler/Jorge Carneiro

1989

Nathalia

John King/Peter King

1959

Bú IV

Tacarijú T. de Paula/Tacarijú Filho

1990

Vida Danada

Torben Grael/Nelson Falcão

1960

Clementine

Harry Adler/Luiz Carlos Peixoto

1991

Lella

Alessandro Pascolato/Mikhail Zelenoy

1961

Pimm

Walter V. Hutschler/Jorge Carneiro

1992

Rato Veloz

Gastão Brun/Paulo Schovenstuhl

1962

Pimm

Walter V. Hutschler/Jorge Carneiro

1993

Nathalia

John King/Wellington de Barros

1963

Ninotchka

Peter Siemsen/Henrique Hall

1994

Lella

Alessandro Pascolato/Nelson Falcão

1964

Pimm

Walter V. Hutschler/Jorge Carneiro

1995

Rato Veloz

Gastão Brun/Paulo Fabriani

1965

Teimoso

Augusto Santos Jr./Argemiro Cunha

1996

Nathalia

John King/Wellington de Barros

1966

Pimm

Walter V. Hutschler/Jorge Carneiro

1997

Nathalia

John King/Wellington de Barros

1967

Osprey IX

Erik Schmidt/Axel Schmidt

1998

Sweet Ilusion

Daniel Wilcox/Silvio de Luca

1968

Ninotchka

Peter Siemsen

1999

Phil

John King/Vanessa King

1969

Ameaça

Jorge Geyer/Suzana Geyer

2000

Feitiço

Augusto Barroso/Ricardo Ermel

1970

Bounty

Renato Matta/Mário Borges Jr.

2001

Blau Blau

Gastão Brun/Mário Garcia

1971

Ninotchka

Peter Siemsen/Gastão Brun

2002

Nathalia

John King/Daniel Santiago

1972

Ninotchka

Peter Siemsen

2003

Vida Bandida

Torben Grael/Marcelo Ferreira

1973

Bounty

Mário Innecco/Renato Matta

2004

Vida Bandida

Torben Grael/Marcelo Ferreira

1974

Ninotchka

Peter Siemsen

2005

Vida Bandida

Torben Grael/Walter Bodnner

1975

192 192

Bounty

Mário Innecco

A HISTÓRIA DO IATE CLUBE DO RIO DE JANEIRO


Regatas de volta ao mundo

sua duração em face do percurso de aproximadamente 30.000 milhas marítimas, venA partir da década de cidas ao longo de 9 a 10 meses, 1990, com a evolução de tecestá no fato de os barcos nologias de construção e de rumarem no sentido leste-oesapoio à navegação, como o GPS te, oposto, portanto, ao movi(Global Positioning System), tormento de rotação da Terra, de nou-se mais fácil a realização modo que navegam, em grandas regatas de volta ao mundo, de parte do percurso, contra os como a Boc Challenge, com naventos e correntes marítimas, o vegadores solitários, a Withem pleno cruzeiro que exige excepcional preparo bread Race, com apoio do ICRJ Participante em mar não muito calmo físico, competência técnica e esem duas edições, e a regata pírito marinheiro, tanto de comandantes quanto oceânica de volta ao mundo, a primeira versão de tripulantes experientes. denominada British Steel Challenge, e a segunA primeira versão do evento foi vencida da, British Global Challenge, ambas com escala pelo comandante do Nuclear Eletric, John no clube. Chittender, em 151 dias, 11h49m. Na ocasião Inspirado por sua “viagem impossível” de da chegada ao destino, as manchetes dos frios 1971, quando se tornou o primeiro navegante jornais ingleses destacavam o evento, estampansolitário a velejar, sem paradas e no sentido indo fotos dos veleiros em suas primeiras páginas, verso, ao redor do mundo, Sir Chay Blyth lanfato sem precedentes que demonstrou haverçou o desafio global, incitando qualquer velejase atingido um marco da mais alta significação dor suficientemente corajoso a participar de um para a vela internacional. novo evento semelhante. Apesar do ceticismo Para a segunda versão, dessa vez denoinicial, a estratégia de abrir a disputa a tripulantes minada British Telecom Global Challenge, também amadores se mostrou um sucesso, atraindo a atenção da comunidade empresarial pelo valor promocional do empreendimento. Até hoje, pessoas inexperientes participam do evento, financeiramente asseguradas por conta própria ou pelo patrocínio e apoio organizacional de mais de 400 empresas de grande porte. O grande desafio dessa regata, além de

Tripulantes do Group 4 comemoram sua chegada ao Rio

NAA PPRAIA RAIA DA DA SSAUDADE AUDADE N

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com passagem pelo Rio de Janeiro e com apoio do ICRJ, foram construídos outros barcos e reformados os existentes para totalizar 14 participantes a percorrer uma nova rota, estabelecida a fim de melhor satisfazer conveniências comerciais, ainda assim preservando o rumo “errado”. A vitória coube ao Group 4 Securitas, do comandante Nike Golding, perfazendo o percurso em 161 dias, 5h25m.

Admiral’s Cup

A Fastnet Race, realizada desde 1851, também é aberta a outras equipes que apenas devem comprovar o pré-requisito de haver participado de regatas de pelo menos 200 milhas de percurso. Somente os que completam uma Fastnet Race tornam-se elegíveis para integrar o seleto grupo de sócios do RORC – Royal Ocean Racing Club, um prestigioso clube londrino que reúne a nata dos velejadores de todo o mundo. Foi na primeira Fastnet, vencida pela escuna América há mais de um século e meio, que se iniciou a tradição da America’s Cup. Na competição de 1979 foi registrada a maior tragédia da história do iatismo esportivo, quando um furacão cruzou o caminho das 302 embarcações, fazendo a maioria afundar e arrastando 22 tripulantes para o fundo do oceano. Somente 92 veleiros completaram a prova, vencida por Ted Turner com o Tenacious.

A Admiral’s Cup foi realizada primeiramente em 1957 e, desde então, é disputada de dois em dois anos, a partir de Cowes, na ilha de Wight, Inglaterra. Trata-se de uma competição entre equipes, com a duração de aproximadamente duas semanas, em que cada país inscrito leva uma flotilha de três barcos. Barcos brasileiros já participaram seis vezes desse evento e o nosso melhor momento foi em 1973, quando o veleiro Saga se destacou ao vencer a Fastnet Race, a última e mais difícil etapa da Admiral’s Cup, protagonizando um dos maiores feitos da vela oceânica naOs padrões técnicos de um barco excepcional, conduzido por uma tripulação competente, cional. marcaram uma vitória brasileira no braço mais difícil – a Fastnet Race – da Admiral’s Cup

194 194

A HISTÓRIA DO IATE CLUBE DO RIO DE JANEIRO


Veleiros famosos do ICRJ O universo dos velejadores é repleto de simbolismos. Quando se trata de dar nome a um veleiro, seu proprietário quer levar para o oceano a proteção de crenças que lhe pareçam oferecer segurança e velocidade, -se conduzir deixando-se conduzir,, às vezes, por superstições e por deixando referências a fatos benfazejos, apegando-se a tradições, pessoas ou lugares que lhe povoem a mente, por saudade ou amor amor.. Estabelece-se aqui uma relação que torna difícil a separação quando chega o momento da venda, cuja realização se define, quase sempre, pela reserva do nome porque nele estão apegadas as tradições do comandante, de seus tripulantes e acumulada a memória de suas aventuras. Visitemos a história de alguns nobres veleiros que soltaram suas amarras nos píeres do ICRJ e hoje povoam o imaginário dos amantes da vela, mesmo daqueles que jamais os viram ou tripularam.

NA PRAIA

DA

SAUDADE

195


“No Iate Clube é que começa a vida / Qualquer semblante a alegria estampa / Velas ao vento, sai o Atrevida / Já vai na barra bem distante, é samba...” (Billy Blanco, conviva permanente, canta em música o Atrevida na era Dirceu Fontoura)

O Atrevida

viagem começada em Camdem, A partir de 1924, quando no Maine, costa leste dos Estaseu elegante casco de aço foi modos Unidos, e terminada em feslhado com o nome Wildfire, encota 90 dias depois, quando lançou menda do presidente do New York ferro nas águas fronteiras ao ICRJ. Yacht Club, Charles L. Harding, ao A fase de cerca de quatro renomado engenheiro naval anos durante os quais esteve sob Nathanael Green Herreshoff, o gio comando de Jorge de Matos foi gantesco veleiro de 30 toneladas, considera impecável. Porém, a ad98 pés (32 m) e 6,70 m, na largura ministração de semelhante veleimáxima, disputou regatas nos EUA, ro representou considerável esforO elegante Atrevida vencendo, por exemplo, a Astor chegou ao Brasil em 1946 ço para o seu proprietário, dadas Cup. Sendo uma embarcação noas condições da infra-estrutura distavelmente equipada com instrumental moderno, ponível na época para o atendimento de um barserviu à guarda costeira na guerra como observaco que calava 5,58 m e cuja conservação carecia dor silencioso, fora da escuta dos rastreadores inide uma “carreira” ou um dique seco, ainda mais migos, mas capaz de captar seus sinais e denunconcorrendo com outras embarcações, o que imciar-lhes a presença para expô-los à ação defensiva americana. Em 1946, o industrial Jorge Bhering de Oliveira Mattos adquiriu esse bravo veleiro trazendo-o para o Brasil e tornando-o o primeiro barco sob bandeira brasileira a cruzar a linha do equador, singrando 10.000 milhas náuticas, numa aventura em que não faltou o açoite de um furacão à velocidade de 120 km por hora, nem uma exasperadora calmaria na sua longa O Atrevida velejando a todo o pano

196

A HISTÓRIA DO IATE CLUBE DO RIO DE JANEIRO


punha longa espera e custos elevados contra os quais se opunha o temperamento organizado mas demandante do proprietário. Este acabou por ceder às instâncias de Dirceu Fontoura, um simpático e bem-humorado industrial de São Paulo associado ao nosso clube, em cujas mãos o galante Atrevida passou por um período socialite, inclusive como nau capitânia do ICRJ, depois de ser objeto de uma reforma expressiva, recebendo nova mastreação de mais de 30 m, estaiamento em cabos de aço e nova roupagem. Amante da boa convivência, Dirceu viveu intensamente o veleiro, equipando-o à feição do seu novo status, como uma bem montada cozinha, um belo salão, três cabines decoradas e uma requintada suíte reservada ao comandante que tratou de revigorar a antiga inscrição numa placa de bronze anunciando que “casamentos ministrados pelo capitão desta embarcação são válidos apenas pela duração desta viagem”. Abriu então seus salões para receber e conduzir em suas velejadas reis e personalidades da maior representatividade, como os soberanos da Noruega e da Suécia, artistas famosos

Salão principal de muito bom gosto

Dirceu Fontoura assistido por Fernando Pimentel Duarte, à sua direita, assume o leme do Atrevida como se o recebesse, naquele momento, de Jorge de Mattos, à sua esquerda.

como a bela Rita Hayworth, Tony Savallas, o Kojak, o cientista Alexandre Fleming, o político Henry Kissinger e numerosos outros, além de amigos constantes. Dirceu Fontoura empunhou o timão do magnífico veleiro até morrer e deixou disposições de que o barco deveria desaparecer com ele, mas a família entendeu por bem, como uma homenagem ao patrono, deixá-lo ativo, assumindo o timão seu genro Auro de Moura Andrade Filho, o oitavo comandante, que o equipou com velas de material sintético, instalou novos motores mais potentes e substituiu os antigos mastros por outros de alumínio. Transferido para o Iate Clube de Santos, no Guarujá, o Atrevida nunca mais voltou ao Rio de Janeiro, limitando suas velejadas às mais tranqüilas de suas rotas, as visitas a Ilhabela e Angra dos Reis, para afinal, e depois de mais de 50 anos de permanência, deixar o Brasil nos anos 90, adquirido pela Nissan do Brasil para incorporar-se, ao completar 80 anos de existência, à Marobeni Corp., do Japão.

NA PRAIA

DA

SAUDADE

197 197


O Carro Chefe Projetado na Itália por Antônio José Ferrer, o Tuzé, para o armador Lauritz Von Lachmann, o barco, de construção audaciosa e até exótica, se mostrou uma verdadeira máquina de regatas, inclusive quando foi repassado à Marinha, recebendo, por sua atuação, o reconhecimento de projetistas estrangeiros. Ainda no Estaleiro Fibramar, onde foi construído, o barco já dava mostras de que nascia sob o signo da velocidade, pois foi concluído em dois meses, tempo considerado recorde e que assegurou o objetivo de seu proprietário, que era sua inclusão na One Ton Cup, em que se colocou em 12º lugar, disputando com os mais modernos e velozes barcos de sua classe. De volta ao Brasil, acumulou bons resultados em diversos campeonatos e conquistou o 11º Circuito Rio, válido pelo Campeonato Brasileiro de Vela de Oceano. Novamente nas raias da One Ton Cup, dessa vez realizada na Irlanda, o Carro Chefe ofuscou outros barcos, tendo sido a vedete da competição do ponto de vista dos projetistas. Suas principais qualidades se situavam na robustez do casco, feito em fibra de vidro com sanduíche de balsa, solução inteligente que aprimorou a resistência a impactos, sem ocasionar aumento de peso. Na verdade, o Carro Chefe foi a evolução natural de outro modelo projetado por Tuzé, o Five Star, também encomendado por Lachmann. A principal diferença estrutural em relação ao Five Star estava na popa, pior em termos

198

A HISTÓRIA DO IATE CLUBE

DO

RIO

DE JANEIRO

Desenhado por Tuzé e fabricado no Brasil, o Carro Chefe fez história

de medição, porém mais hidrodinâmica. Como resultado desse processo de construção, além do benefício no rating, o Carro Chefe mostrouse um fenômeno nos ventos fortes, obtendo a 5ª colocação na One Ton Cup de 1981, aquela realizada na Irlanda. De volta às raias brasileiras, o Carro Chefe obteve a vitória na Classe III e o vice-campeonato geral no Circuito Rio de 1981. No ano seguinte, conquistou a Santos-Rio, sendo então vendido à Marinha Brasileira, a exemplo do Cisne Branco, ex-Ondine, compra feita com o propósito, da parte das autoridades navais, de proporcionar treinamento de alto nível aos aspirantes, com apoio em barcos modernos. Um novo Carro Chefe foi encomendado aos escritórios do famoso desenhista Bruce Farr, e


assim o Brasil, de forma simultânea, recebia duas O empresário e armador de sucesso foi novas máquinas de regata, uma vermelha denotambém dirigente esportivo, atividade que o leminada Saga e outra preta, grande orgulho daquevou, com outros companheiros, a fundar e adles que velejavam com Lachmann, tendo como ministrar o Iate Clube de Búzios. Lachmann era timoneiro Marcos Soares. Esses também solidário com os veledois barcos, irmãos gêmeos, trajadores que partiam para as disvaram incríveis batalhas dentro putas internacionais, concedene fora d’água. A rivalidade evido-lhes espaço no transporte dente na varanda do ICRJ fazia marítimo de suas embarcações. com que os respectivos tripuJunto com José Carlos lantes alimentassem ainda mais Laporte e mais sete amigos, ensede de vitórias sobre o advertre eles o “rival” Erling Lorentzen, sário, inclusive quando ambos comandante do Saga, Lachmann representaram o Brasil na trouxe para o Brasil, em 1985, Lauritz Von Lachmann, Admiral’s Cup, na Inglaterra. o Mundial da One Ton Cup, criou o comandante do Carro Chefe Em 2 de outubro de a Laport Match Cup, regata para 1989, porém, sobrevém a tragédia. Lauritz a classe J24, nos moldes da America’s Cup, e criou Anton von Lachmann, de 61 anos, descendeno Búzios Sailing Week. Sua última participação em te de dinamarqueses, e sua mulher, Maria Heregatas foi na One Ton Cup, realizada na Baía de lena, perdem a vida, vítimas de um acidente de São Francisco, Estados Unidos, que disputou coavião quando voltavam de Búzios para o Rio, mandando o recém-adquirido Black Jack, cujo abreviando uma das trajetórias mais marcantes mastro se partiu durante o evento, prejudicanentre as lideranças da vela brasileira, que ele do o desempenho de Lachmann em sua derraviveu intensamente. deira competição.

NA PRAIA DA SAUDADE

199 199


Os Neptunus Sócio do ICRJ a partir de 1962, o médico Sergio Mirsky dedicou-se ao mar desde a infância vivida na Praia de Icaraí, em Niterói, onde, menino ainda, se encantava com o desfile de belos veleiros que o despertaram para o caminho esportivo que haveria de seguir por mais de 50 anos de ininterrupta dedicação aos Neptunus de sua vida. Esse nome acabou convertido em tradição de assiduidade e velocidade, transmitido a uma sucessão de barcos que conduziu com a competência que haveria de levá-lo a uma condição ímpar de líder nas raias e comandante de tantas tripulações dedicadas que, vivendo sua experiência, tornaram-se capazes de contribuir para as vitórias que abrilhantaram sua trajetória no mar. O Neptunus Temerarius foi o primeiro dessa refinada estirpe de veleiros de competição, ad-

O Neptunus X perdeu o título de campeão da Semana de Ilha Bela

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A HISTÓRIA ISTÓRIA DO DO IATE ATE CLUBE LUBE DO DO RIO IO DE DE JANEIRO ANEIRO

quirido por apenas 50 contos de réis, uma ninharia na época, vultosa quantia, porém, para o bolso minguado de um jovem que foi, na empreitada, suprido pela ajuda de bons colegas esportistas que nele acreditaram e não se decepcionaram. Com um Hagen-Sharpie batizado como Black Neptunus, Sergio conheceu a dureza e as decepções das competições. Na classe Star, em que competiu timoneando o Pimm Neptunus, que fizera história nas mãos do lendário Walter von Hüstschler, o velejador pôde dar um passo além em termos de velocidade. Naquele mesmo ano de 1965, teve uma experiência densa com um Flying Dutchman na Finlândia, logo após mandando construir um deles para seu uso, no momento mesmo em que a classe se extinguia no Rio de Janeiro. O primeiro Neptunus de oceano teve história. Com o nome Magellan, veio da Alemanha com tripulantes que, sob o pretexto de participar da Buenos Aires-Rio, tornaram-se refugiados e jamais voltaram à Europa. Depois foi comprado por Joaquim Belém, que o rebatizou com o nome Ondina B, sendo em seguida revendido e usado até ser abandonado com o nome Lorelei. Era um Yawl de 43 pés, dois mastros de madeira, velas de dacron e desenho assinado por Abekin Rasmussen. O Neptunus II, um Cal 40 feito na Califórnia em fibra de vidro, era leve, ágil e versátil e sua importação teve a ajuda e compreensão do almirante Dantas Torres, reconhecendo-lhe a finalidade de utilização em atividades esportivas. Alimentando um novo sonho, para cuja realização sacrificou muitos dos seus bens e o pró-


prio e amado Neptunus, Sergio Mirsky partiu para os Estados Unidos onde adquiriu o Doubloon, que pertencera ao famoso velejador americano Joe Byars. A identificação da tripulação com o barco ocorreu durante a Buenos Aires-Rio de 1968, em que fortes ventos o afastaram da vitória a bem poucos metros da chegada. Adquirindo o Tigre – lindo barco de alumínio de 43 pés que pertencera a Fernando Pimentel Duarte –, Sergio lhe deu o nome Neptunus IV e partiu para outro Frers, dessa vez Sergio Mirsky um 46 pés de madeira que foi batizado Neptunus V, este considerado o mais prazeroso de quantos teve em mãos, de fácil comando e uma carreira irrepreensível. O Neptunus VI era um J24 usado para pequenas regatas no fundo da baía enquanto não ficava pronto o Neptunus VII, posto para com-

O Neptunus V, de 46 pés, deu muitas alegrias a Sergio Mirsky

petir na Regata da Escola Naval em 1994, em que foi Fita Azul e o 1º lugar IMS. Sergio também obteve o recorde brasileiro em milhas percorridas, com certificação da ABVO – Associação Brasileira de Veleiros de Oceano, por disputar cerca de incríveis 1.200 regatas. Sua próxima aquisição foi o Mitsubishi de Eduardo Souza Ramos, que ele batizou como Neptunus X, barco muito leve e com a vantagem de andar bem, mesmo com ventos fraquíssimos. O mais recente dos veleiros dessa família é o Neptunus Express, belo barco, considerado o veleiro mais rápido da América do Sul, o que provou logo no ano de estréia, ao sagrar-se campeão brasileiro de Vela, vencedor da Taça Comodoro e Fita Azul na Regata Santos-Rio, quando chegou com folgadas duas horas e meia à frente do segundo colocado.

O Neptunus Express, em sua época, o barco mais rápido da América do Sul

NAA PPRAIA RAIA DA DA S SAUDADE AUDADE N

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O Madrugada A participação na I Two Ton Cup já demonstrou que o barco encomendado por Pedro Paulo Couto ao escritório Frers, batizado como Madrugada, fora bem-nascido, tanto que, apesar de ter perdido o 1º lugar para o excepcional Iorana – projeto de Ron Holland, tripulado por profissionais –, garantiu-se no 2º e honroso posto na prova. Na semana da Buenos Aires-Rio de 1979, tudo esteve contra o Madrugada. Uma pane elétrica logo no início da regata, que fez com que o barco corresse no escuro até o Rio, quase o retira da competição. Ao fim da prova, o argentino Sur II cruzou intempestivamente à frente, garantindo o 1º lugar. Mas, como havia recebido ajuda externa para reparar avarias no mastro e no casco, sofreu uma punição de 10% do tempo corrigido, caindo então para a 10ª colocação geral, fato que assegurou o 1º posto para o Madrugada, cuja tripulação, já em terra, comemorou vivamente a inesperada mas bem merecida vitória. A participação na II Two Ton Cup de 1979, na Inglaterra, foi marcada por várias dificuldades e o Madrugada completou o percurso em 10º lugar. Na Admiral´s Cup que se seguiu, o Madrugada foi levado a abandoná-la por ter sido seriamente abalroado pelo rival gêmeo Sur, logo na largada da primeira regata da série. O que parecia ser um novo golpe de má sorte foi, na realidade, o prêmio maior da equipe, porque a

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A HISTÓRIA DO IATE CLUBE DO RIO DE JANEIRO

Pedro Paulo Couto, o comandante

Fastnet Race, última regata da Admiral’s Cup, foi atingida por uma catastrófica tempestade no mar da Irlanda que deixou o saldo de 17 mortos, dezenas de feridos, 16 barcos abandonados, 32 afundados e 172 danificados, na pior tragédia da história da vela até então, da qual a tripulação do Madrugada incidentalmente escapou. De volta às competições domésticas, o Madrugada dominou o Circuito Oceânico da Ilha de Santa Catarina, disputado em seis regatas. Na 35º Regata da Escola Naval, conquistou o 2º lugar geral e o 1º em sua classe, perdendo apenas para o Tiki. Na seguinte SantosRio, os bons ventos não estavam de volta às suas velas e o Madrugada teve que desistir cedo da regata. Na 36ª Escola Naval, venceu sem contestações. Com as reformas realizadas no mesmo estaleiro onde fora construído, resolveram-se certos problemas estruturais do Madrugada e a sua atuação na Buenos Aires-Rio


O Madrugada, um barco rápido em todas as condições de vento

de 1981, em que obteve o 3º lugar geral, decepcionou apenas pela chegada atrás do Sur, já que o Fortuna II se mostrou imbatível nas condições de vento forte. Comandante e tripulação, porém, se mostravam satisfeitos com o desempenho do barco em sua primeira de muitas regatas tranqüilas. A partir daí, o Madrugada só fez brilhar. Com o seu atual veleiro, o Vivo, Pedro Paulo Couto integrou, no ano 2000, a histórica regata comemorativa dos 500 anos do Descobrimento do Brasil, entre Lisboa, Portugal, e o Rio de Janeiro.

Seu desempenho internacional não tardou a decolar e, já em 1972, o Saga tornou-se conhecido após a série de regatas da Onion Patch, EUA, com a 1ª colocação individual, que surpreendeu os especialistas. Suas atuações no ano de 1973 provariam que a vitória não fora obra do acaso, haja vista o seu desempenho na Admiral’s Cup, Inglaterra, quando foi Fita Azul na Channel Race, e também na Britannia Cup, em que obteve o 2º lugar no tempo corrigido. Foi o primeiro a cruzar a linha de chegada, obtendo a vitória total na Fastnet Race, na época, a mais famosa regata oceância do mundo. Em 1974, na Buenos Aires-Rio, o Saga obteve nova Fita Azul, cumprindo o percurso em 7 dias, 3h28m35s, superando o recorde do poderoso Ondine e afirmando-se como um vencedor. Nos preparativos para a seguinte Admiral’s Cup, o Saga passou por melhorias técnicas e ven-

O Saga Após sua chegada ao Brasil, em outubro de 1971, velejando diretamente da Holanda, onde foi construído, sob projeto de Sparkman & Stephens, o Saga, de Erling Sven Lorentzen, venceu três regatas do Circuito Rio e foi 3º lugar na Salvador-Rio.

O comandante do Saga, Erling Lorentzen

NA PRAIA DA SAUDADE

203 203


O Saga na Buenos Aires-Rio de 1968

ceu a Hanko Race e a Skaw Race, na Escandinávia, ficando em 2º lugar na Channel Race. Com excelente performance, sagrou-se campeão nas regatas do ORC (Ocean Racing Club) durante os anos de 1973 a 1975, válidas para o Campeonato Mundial da classe. Na Admiral’s Cup de 1977, mais uma vez o Saga se sobressaiu, mesmo correndo como outsider, tendo obtido as primeiras colocações no tempo corrigido entre barcos da Classe O, na Channel e na Fastnet Race, esta última disputada por 239 participantes, dentre os quais superou muitos barcos mais modernos. Ao fim da Buenos Aires-Rio de 1979, encerrava-se o ciclo de ouro do barco, quando

204 204

A HISTÓRIA DO IATE CLUBE DO RIO DE JANEIRO

seu comandante, Erling Lorentzen, resolveu reformar o guerreiro que já completara oito anos. Era desfeita assim uma das mais vitoriosas tripulações de que se tem notícia em terras brasileiras, tendo entre os mais constantes integrantes José Roberto Braile (Pré), Antonio Carvalho (Tuneca), Zeca Penido, Paulo Bracy, Edy Frei, Pedro Paulo Couto, Romulo Müller, Manuel Souza Campos, Luis Evangelista e Roberto Pellicano, este o imediato do barco. Peli foi o condutor permanente do Saga, inclusive na inesquecível passagem pelas 50 milhas do canal de Kiel. Na década de 1980, Lorentzen encomendou novo projeto a Bruce Farr, um One Tonner de 42 pés, utilizando o extremo da modernidade, inclusive o casco em kevlar. O novo barco, o Saga IV, competiu na última participação brasileira na prova Admiral’s Cup de 1985, além de ter disputado com sucesso inúmeras regatas no Brasil, como Santos-Rio, Circuito Rio, Escola Naval e outras.

Na Semana de Vela de Antigua, Caribe, o Saga não deixou de brilhar


O Sorsa

do os irmãos Erik e Axel Schmidt. O belo Sorsa está entre os A Semana da Vela de Ilhabela foi mais recentes veleiros de oceano vencida em 2001, contando com integrante da flotilha do ICRJ. Esa participação dos irmãos Grael e treou em 26 de março de 1996 de Allan Adler, um ano após hana regata Rio-Porto Galo e guarver obtido a 3ª colocação geral, da o melhor retrospecto, dentre com Lars Grael e Kiko Pellicano, todos, na média das competições posição repetida em 2003 com a de que participou desde então. presença de Felipe Furquim. O Importado dos EUA por Sorsa foi protagonista da mais bela Celso Quintella comanda o Sorsa Celso Fernandez Quintella, o disputa por Fita Azul aqui ocorriSorsa (pato selvagem, em finlandês) é um veleiro da e, por muitas vezes, ganhou e perdeu por dicruiser-racer de 43 pés de comprimento, pesanferenças milimétricas do seu rival Neptunus X – do aproximadamente 7.000 kg, e associando à por cinco anos, os dois barcos travaram uma disexcelência técnica do projeto outros fatores que puta particular que deleitou os amantes da vela. contribuíram para o permanente sucesso do barQuintella, pretendendo substituir o Sorsa, co na regra IMS para veleiros de oceano. foi sempre demovido pelo desempenho do veO Sorsa sempre teve o privilégio de disleiro bicampeão da Santos-Rio e vencedor da por de tripulações constituídas de experientes Búzios Sailing Week (1º e 2º colocado em 2002/ velejadores do ICRJ, como aquela composta por 2003), Eldorado-Trindade e Recife-Fernando de José Roberto Braile, o Pré, Antônio Ferreira de Noronha, em 2004, entre muitas outras. Carvalho, o Tuneca, Luis Antonio Mattos, o Tony, e Paloca, o Paulo Antônio Rudge, todos contemporâneos de Celso Quintella. Chamados por seus padrões de dinossauros, aos tripulantes ainda somavam-se Eduardo Penido e Marcos Soares, além de Pedro Quintella, filho do comandante. Tripulações experientes, manutenção competente pelo marinheiro e proeiro Valdir foram fatores determinante nas conquistas do Sorsa, como o 27º Circuito Rio, triunfando sobre conjuntos campeões. Algumas de suas campanhas vitoriosas, como a conquista da Taça Comodoro e o Circuito Oceânico de Niterói, tiveram a borNo Circuito Rio de 2003, o Sorsa desce o spinnaker

RAIA DA DA SAUDADE AUDADE NAA PRAIA

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O V endaval Vendaval José Cândido Pimentel Duarte, depois de adquirir seu primeiro veleiro de oceano, o Procelária, idealizou o Vendaval, com a disposição de fazê-lo igual ou melhor do que os mais eficientes barcos da categoria que navegavam nos Estados Unidos e na Europa. Construído nos estaleiros da Brazilian Coal, na Ilha dos Ferreiros, no bairro do Caju, sob o desenho e a orientação direta de Olin e Roderick Stephens – os mais afamados arquitetos navais norte-americanos da época, da firma Sparkman & Stephens Inc. –, o Vendaval, lançado ao mar em janeiro de 1942, representou, de fato, o início da prática da vela de oceano no Brasil. Monopolizando as atenções com seus cruzeiros e participações em grandes regatas, especialmente as Buenos Aires-Rio e Buenos Aires-Mar del PlataPunta del Leste, no Rio da Prata. Sem dúvida, o Vendaval era um grande race, o melhor barco da América do Sul e um

Lançamento do Vendaval, recordista da Santos-Rio, galardão que ostentou por 4 décadas

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A HISTÓRIA DO IATE CLUBE DO RIO DE JANEIRO

dos mais perfeitos do mundo. Veterano de muitas pugnas, vencedor de várias regatas de oceano e conduzido pela melhor equipa- José Cândido Pimentel Duarte no comando do Albatroz gem nacional, infundia a maior confiança, tornando-se o preferido dos aficionados. Durante a década de 1940, Pimentel Duarte realizou cruzeiros com o Vendaval a Santos, Santa Catarina, Porto Alegre, Ilha da Trindade, Salvador, Vitória e outras localidades do nosso litoral, promovendo o iatismo e o espírito marinheiro, o que fomentou de imediato a construção de inúmeros outros veleiros de oceano, que se destacaram também como bons races, tais como o Ondina, o Aracati, o Maijoy, o Albatroz, o Cairu, o Simbad, e o Procelária. O Vendaval, como barco de regatas e cruzeiros oceânicos, era uma maravilha. Deslocava 30 toneladas, tinha cerca de 20 m de comprimento e um velame de quase 300 m2 de pano, o que lhe proporcionava boa velocidade. Possuía instalações confortáveis e a casa de navegação era completa. A quilha tinha 14 toneladas de


J. C. Pimentel Duarte e a eficiente tripulação do Vendaval

chumbo, o que lhe garantia absoluta estabilidade em qualquer tempo. Jogava pouquíssimo e, por isso, as viagens a seu bordo eram um verdadeiro prazer. A tripulação, cujo núcleo principal naqueles saudosos dias era sempre o mesmo, era formada por Victor Demaison, Flavio Porto Barroso, Alcides Lopes, Pedro Avelino e os filhos de Pimentel Duarte, José Luiz e Fernando, que se tornaram ótimos velejadores e campeões de diversas regatas da classe Oceano, no Brasil e no exterior. Na ocasião da 2ª Regata Buenos Aires-Rio, o dr. José Cândido Pimentel Duarte estava enfermo, internado no Memorial Hospital, em NY, e do leito, acompanhou atentamente a regata, telefonando diariamente para o seu escritório no Rio. Determinou todos os detalhes para a participação do Vendaval, mandou que os filhos seguissem para Buenos Aires e nomeou como coman- O Vendaval tendo

dante do barco e seu substituto o capitão-de-corveta Hélio Leôncio Martins, seu grande amigo e um magnífico velejador. Com a presença de José Luiz Pimentel Duarte na tripulação, o comandante Leôncio entregoulhe o comando do barco por entendêlo perfeitamente capacitado para conduzir o Vendaval com a mesma proficiência do pai. O gesto do ilustre oficial calou profundamente no espírito da tripulação, que nele identificou uma homenagem a Pimentel Duarte e uma verdadeira demonstração de sensibilizante confiança na equipe tradicional, que não desmentiu suas tradições de integrantes da nata dos praticantes da vela da época, conquistando a Fita Azul da prova de 1950 e persistindo nesses padrões de atuação por muitos anos após.

ao fundo os rochedos de Trindade

NAA PPRAIA RAIA DA SAUDADE N

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O Pluft Israel Klabin, industrial da área de papel e celulose e prefeito da cidade do Rio de Janeiro em sua curta mas eficiente participação na política carioca, dedicou trinta anos à vida no mar e teve, como momento marcante dessa profícua experiência, a vitória do seu Pluft na Regata Buenos Aires-Rio de 1971, depois de haver participado do mesmo evento em duas outras oportunidades, que, seIsrael Klabin em gundo seus próprios termos, constituíram um aprendizado do que “não fazer”. O Pluft foi concebido e desenhado por Sparkman & Stephen com ingerência do próprio Israel e construído na Finlândia. Chegou ao Rio 2 meses antes da regata, tempo apenas suficiente para a tripulação conhecê-lo e encontrar a melhor maneira de navegá-lo com a desejada eficiência. A tripulação foi composta com índices de excelência por Axel Schmidt, Pedro Paulo Couto, Manuel Campos, Antônio Ferreira de Carvalho, Paulo Frederico Barroso, Paulo Antônio Rudge, Mário Sales, Klaus Von Hofen e o comandante Afonso. Atento e estudioso, Israel tratou de identificar e analisar os roteiros seguidos pelos vencedores de regatas anteriores e os escolhidos pelos veleiros do século XIX, mister em que conquistou a importante contribuição do almirante Moreira da Silva, um dos mais ilustrados pesquisadores dos oceanos brasileiros que, en-

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A HISTÓRIA ISTÓRIA DO DO IATE ATE CLUBE LUBE DO DO RIO IO DE DE JANEIRO ANEIRO

tre outros ensinamentos preciosos, indicou-lhe o ponto de convergência dos ventos alísios e contra-alísios a cerca de 200 milhas ao largo da ilha de Florianópolis. O momento mais importante da regata, que Israel reconhece como o fator preponderante da vitória do Pluft, foi a tomada de um bordo negativo afastando-se da costa até encontrar aquele referencial indicado pelo almirante Moreira da Silva. Em seguida, o Pluft cambou no rumo comando de Cabo Frio, bordo que o conduziu até a linha final, com a vitória proclamada após a chegada dos demais concorrentes, ansiosamente aguardada pela tripulação, já em terra. Foi o momento de consagração do grupo que conduziu o Pluft nesse desempenho vitorioso e que acompanhou o comandante durante toda sua experiência nas disputas no mar, até hoje amigos e solidários. Esse e outros Plufts preencheram a vida de navegador de Israel Klabin, com os quais participou praticamente de todas as regatas realizadas em seu tempo no Atlântico Sul e na costa brasileira. Um belo momento de um Pluft


Os velejadores do ICRJ nos Jogos Olímpicos e Pan-americanos As primeiras medalhas de velejadores do ICRJ foram obtidas no Pan-americano de Buenos Aires em 1951, quando Roberto Bueno e Gastão de Souza trouxeram o ouro na Star, enquanto Geraldo Matoso e Jean Maligo, a prata na Snipe. Em 1963, Harry Adler conquistou o bronze também na Star, a primeira de quatro medalhas pan-americanas da família, que, com Daniel, o filho mais velho, obteria o ouro em 1983 e o Marcos Soares e Eduardo Penido comemoram sua bronze em 1987 na Soling, e com Alan, o mais medalha de ouro obtida na classe 470, em 1980, nos Jogos da Rússia jovem, a prata na J24, em 2003, ambos fazendo plano a forte delegação americana que contava honra à formação recebida no ICRJ. com sua força máxima. Daniel Adler e Pedro Os primeiros medalhistas olímpicos do Bulhões da Fonseca honraram o ICRJ contribuinICRJ surgiram somente em 1980, em Tallin, local do com ouros, como vencedores na Soling e na das disputas do iatismo dos Jogos Olímpicos de Laser, respectivamente. Moscou, em que nem mesmo os ventos fracos Nos Jogos Olímpicos de Los Angeles, atrapalharam a dupla formada por Marcos Soadois membros da família Adler (ICRJ) alcançares e Eduardo Penido, mais afeitos aos ventos forram bom desempenho na Flying Dutchman, com tes, e que, não obstante, ganharam o ouro na Alan em 6º geral, e Daniel, li470, contribuindo para o mederando a equipe formada por lhor desempenho da vela braTorben Grael e Ronaldo Senf, sileira no exterior, até então. trazendo, na Soling, inédita No Pan-americano de medalha de prata. Caracas, em 1983, a vela braNos Jogos Olímpicos sileira alcançou sua mais destade Seul, de 1988, terminada a cada performance nesses jogos, fase dos boicotes, as disputas com quatro medalhas de ouro em todos os esportes refinaram – na Soling, na Laser, na Lightning e, ainda assim, os irmãos José e na 470 –, uma de prata na os Paulo Barcellos e José Augusto Star, e dois 4 lugares em oito No Pan de Caracas, em 1983, Werner Soenksen (Star), Peter Ficker (Star), classes, deixando em segundo Daniel Adler (Soling) e Pedro Bulhões (Laser) Barcellos e Daniel Adler obti-

NA PRAIA DA SAUDADE

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Bruno Bethlen e Dante Bianchi, ouro na classe Snipe, no Pan-americano de Santo Domingo, em 2003

veram a 5ª colocação na Soling, Alan Adler e Marcus Temke a 7ª colocação na Flying Dutchman e Cinthia Knoth e Márcia Pelicano a 16ª na 470 feminino. O Pan de Havana viu o fantástico desempenho de dois atletas do ICRJ, com Peter Tansheit na Laser e Márcia Pellicano na Europa. Peter chegou ao título antecipadamente, prenunciando a hegemonia que o Brasil teria na classe. Esse foi o único ouro obtido pela vela nesse evento. Quatro anos mais tarde, a delegação brasileira marcaria forte presença nos Jogos Panamericanos de Mar del Plata, conquistando quatro medalhas, sendo duas de ouro, uma na classe Laser, dessa vez com Robert Scheidt. Márcia, por seu turno, conseguiu na Europa a primeira dourada feminina brasileira nesse tipo de competição. Seu desempenho foi marcado por um começo cauteloso, com apenas uma vitória, dois 3ºs e três 2ºs lugares nas seis primeiras regatas. O título chegou, afinal, com quatro brilhantes vitórias nas quatro últimas regatas.

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A HISTÓRIA DO IATE CLUBE DO RIO DE JANEIRO

Nos Jogos Olímpicos de Atlanta, na raia de Savannah, a vela brasileira teve notável desempenho, conquistando dois ouros, um na classe Star com Torben Grael e Marcelo Ferreira e outro na Laser com Robert Scheidt, nas duas provas beneficiados pela desclassificação dos oponentes diretos. Outra medalha, esta de conquista verdadeiramente dramática, foi a de bronze, da dupla Lars Grael e Kiko Pellicano, na classe Torna-

Nas Olimpíadas de Barcelona, em 1992, José Paulo Barcellos (Soling), Alan Adler (Flying Duchtman), José Augusto Barcellos (Soling) e Daniel Adler (Soling)


do, que teve que superar um início complicado, em que logo na primeira largada bateram na bóia no último contravento, e com a punição, terminaram essa jornada em 12º. Na prova seguinte, a buja rasgou, e a dupla ficou apenas na 16ª posição. Vencer a 3ª regata resgatou-lhes o ânimo, mas outra vitória tida como certa na 5ª etaJorge Zarif (Finn), Alan Adler (Flying Dutchman), Bernardo Arndt (470), Marcus Temke (Flying Dutchman), pa foi arruinada por uma colisão provocada por Chritopher Bergemann, reserva, Leão, técnico da Seleção Feminina de Vôlei, Nelson Falcão (Star), Clinio de Freitas um enrosco no cabo do barco da comissão de (Tornado) e Pedro Bulhões, técnico regatas deixando-os em desalentador 6º lugar, o que parecia ter destruído suas chances. Discionalmente, dá alegrias ao Brasil. Com uma cretamente, porém, a dupla foi conquistando campanha consistente, o Snipe brasileiro duelou boas posições e, ao chegar à escala decisiva, ainda durante toda a competição com o barco cubabrigava pela prata ou bronze. Na largada, os no, chegando ao final da 12ª regata empatados brasileiros se posicionaram atrás de toda a flotilha, em número de pontos; mas, como a dupla bramas a escolha acertada do bordo os levou à 5ª sileira vencera quatro regatas contra três cubaposição. No segundo contravento, ganharam nas, a vitória pendeu para o nosso lado. mais duas posições, e, ao cruzarem a linha de Entretanto, um protesto canadense conchegada, nem ao certo sabiam o resultado, só tra os competidores americanos, vencedores da revelado após intricadas combinações nas ponúltima regata, quase entregou aos cubanos a vituações dos concorrentes. tória, não fosse a reclamação denegada, consaOutras medalhas foram conquistadas em grando os brasileiros com a medalha de ouro. Pan-americanos por atletas integrantes do ICRJ. Em Winnipeg, Canadá, e Santo Domingo, Ricardo Winicki, o Bimba, conquistou a prata e o ouro, respectivamente, na Prancha a Vela, ou Mistral. Já a dupla Bruno Bethlen de Amorim e Dante Bianchi, também do clube, foi responsável pela mais recente conquista pan-ame- Ronaldo Senfft, Torben Grael e Daniel Adler exibem a medalha de prata ganha nos Jogos Olímpicos de 1984, em Los Angeles, acompanhados das ricana em uma classe que, tradi- sras. Gisele Adler e Tereza Siemsen e de Peter Siemsen e Harry Adler

NA PRAIA DA SAUDADE

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Velejadores do ICRJ nos Jogos Pan-americanos Ouro

Prata

Bronze

1951

Buenos Aires

Star

1983 1983 1991 1995 2003

Caracas Caracas Havana Mar del Plata Santo Domingo

Soling Laser

1951

Buenos Aires

Snipe

1999 2003

Winnipeg Santo Domingo

Mistral J24

1963

São Paulo

Star

1987 1987 1987

Indianápolis Indianápolis Indianápolis

Star Soling Snipe

Roberto Bueno Gastão de Souza Daniel Adler Pedro Bulhões da Fonseca Laser Peter Tansheid Marcia Pelicano Bruno Betlen Dante Bianchi Geraldo Matoso Jean Maligo Ricardo Winicki (Bimba) Alan Adler Daniel Santiago João Carlos Jordão Mauricio Santa Cruz Harry Adler Luiz Peixoto Ramos Gastão Brun Daniel Adler Ivan Pimentel Marcos Viana

Europa Snipe

Velejadores do ICRJ em Olimpíadas

212 212

Prova 470

Ano 1980

País Moscou

Posição Ouro

Soling Tornado Soling

1984 1996 1988

Los Angeles Atlanta Seul

Prata Bronze 5º

Flying Dutchman

1984

Los Angeles

Soling

1980

Moscou

Flying Dutchman

1988

Seul

Tornado

2004

Atenas

17º

Mistral Finn

2004 2004

Atenas Atenas

4º 10º

A HISTÓRIA DO IATE CLUBE DO RIO DE JANEIRO

Atleta Marcos Rizzo Soares Eduardo Penido Daniel Adler Kiko Pellicano José Paulo Dias José Augusto Dias Daniel Adler Alan Adler Marcus Tempke Vicente d’Avila Brun, Gastão d’Avila Brun, Roberto Luiz Souza Alan Adler Marcus Tempke Maurício Santa Cruz João Carlos Jordão Ricardo Santos (Bimba) João Signorini


Os Mundiais de vela no ICRJ Confiantes na estrutura cada vez mais evoluída que o ICRJ veio desenvolvendo ao longo do tempo e acumulando experiências com a participação dos nossos velejadores em regatas no exterior, os administradores da vela, com inteiro apoio da Comodoria, resolveram ousar e, em 1960, organizaram e realizaram o primeiro Campeonato Mundial sediado no clube, cujo sucesso granjeou-nos confiabilidade suficiente para que outros sete eventos da espécie viessem, até 2004, a ser realizados sob nossa bandeira, a saber: 1960 1971 1978 1980

Star Snipe Soling Star

1983 1986 1996 2004

Optimist Flying Dutchman Star Finn

A comunidade internacional de staristas recebeu com reserva a realização no Rio de Janeiro do Mundial da classe. Temia o esvaziamento do evento por julgar que a distância da América do Sul poderia implicar condições desfavorá-

O Soling

No Mundial de Star de 1996, realizado pelo clube, a visão da disputa após a bóia de contravento, em mar agitado

veis ao transporte das embarcações que, eventualmente, não encontrariam, ainda, os meios adequados em que se apoiar nas complexas operações de suporte, hangaragem e preparação dos sofisticados monotipos no clube hospedeiro. Surpreenderam-se todos com o nível de excelência que a vela brasileira havia atingido e, ainda mais, com a capacidade e competência do ICRJ, cuja localização e refinadas instalações constituíram inesperada revelação. Como corolário, os administradores locais deram à regata organização e condução perfeitas, ensejando a reversão das expectativas com o reconhecimento do clube pelos participantes como a melhor associação da espécie no mundo. A dupla campeã foi constituída pelos americanos Loweel North e Thomas Skahill. O conjunto formado por Jorge Carneiro na proa de Walter von Hüstschler foi o melhor colocado entre os brasileiros na disputa, ocorrida no fundo da Baía de Guanabara. Em 1978 hospedamos o Mundial de Soling, consagrando-se no evento o barco brasi-

NA PRAIA DA SAUDADE

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O Finn

leiro Revolution, do ICRJ, comandado por Gastão Brun e tripulado por Vicente Brun e Roberto Martins, vencedor não obstante fosse a embarcação mais antiquada e pesada do que as que se apresentaram na raia. Com atuações excelentes e grande regularidade, a equipe obteve o título de forma incontestável. Os aficionados presenciaram ainda a vitória, na última regata, do barco brasileiro conduzido pela equipe formada por Axel Schimidt, ex-tricampeão mundial da classe Snipe, e seus sobrinhos Axel e Torben Schimidt Grael. Passados vinte anos, o ICRJ recebe, com a credibilidade conquistada em 1960, o Mundial de Star de 1980 num momento relevante para a classe que retornava ao cenário olímpico após haver sido excluída dos Jogos de 1976. O fato impunha aos staristas, sob todos os ângulos – esportivo, social e promocional –, o absoluto sucesso do evento, apoiando-se na modernização dos barcos, com a introdução de novos equipamentos, sobretudo quando estavam presentes grandes nomes da vela mundial. Evento bem-sucedido, foi vencido pelos americanos, Thomas Blackholler e David Shaw no comando do Chewbacca que já ostentava a Es-

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A HISTÓRIA DO IATE CLUBE DO RIO DE JANEIRO

trela Dourada pelo Campeonato de 1974. Outro destaque da competição foi a equipe italiana com Albino Fravezzi e Oscar Dalvit que terminou em 2º lugar. Entre os brasileiros, Gastão Brun e Fernando Nabuco destacaram-se, terminando na 9ª posição geral. Já em 1983, foram aqui realizadas duas regatas de status internacional: o Mundial de Optimist, vencido pelo espanhol Jorge Calafat, seguido de Edson Araújo como o brasileiro melhor colocado. E, mais, a regata One Ton Cup, em que desfilaram os mais refinados veleiros de oceano, projetados por renomados designers da época, como German Frers, Ron Holland, Tony Castro e o brasileiro Tuzé, entre outros. Venceu o Linda, veleiro italiano comandado por Mauro Pelashier. O melhor brasileiro na competição foi o Sargaço (ex-Carro Chefe), conduzido pelo capitão-tenente Bernardo Gamboa que conquistou a 5ª colocação. 1986 foi o ano em que o ICRJ sediou o Mundial da classe Flying Dutchman num campeonato revestido do maior sucesso, sob o comando, entre outros, do conselheiro Harry Adler.

O Snipe


O Flyng Dutchman

Vencido pelos alemães Jorg e Eckert Diesch, teve a dupla brasileira formada por Alan Adler e Marcus Temke na 6ª colocação final, com bom desempenho. O evento movimentou o ICRJ, atraindo leigos e entendidos para apreciar os lindos barcos dispostos nos patamares dos hangares 1 e 3. A emoção que nunca falta quando está presente o FD foi a passagem de um “caju” com rajada de mais de 40 nós obrigando os velejadores a virarem propositadamente seus barcos a fim de evitar maiores danos aos seus equipamentos. Em 1996 o ICRJ sediou pela terceira vez o Campeonato Mundial da classe Star, repetindo o sucesso dos anos anteriores, com a participação de 61 barcos de 16 países, incluindo 7 campeões mundiais que promoveram disputas equilibradas até apontar os novos campeões, a dupla

italiana Enrico Chieffi e Roberto Sinibaldi. Na 2ª colocação terminou a dupla americana formada por Mark Reinolds (campeão mundial e campeão sul-americano no evento de 1985 que fora realizado no ICRJ) e Hal Haenel (campeão mundial e olímpico), cabendo aos velejadores de Niterói Torben Grael e Marcelo Ferreira a 3ª colocação. A dupla originária do ICRJ, formada por Alan Adler e Rodrigo, ficou com o 5º lugar geral. Oito anos se passaram até que, por iniciativa e competência do capitão da flotilha e maior entusiasta da classe Finn, Marco Aurélio de Sá Ribeiro, o ICRJ voltou, em 2004, a ser palco de um outro Campeonato Mundial. Realizado às vésperas do carnaval, reuniu os maiores velejadores da classe que se preparavam para as Olimpíadas de Atenas. João Signorini, bicampeão sul-americano, em 9º, foi o brasileiro melhor colocado, deixando para trás o campeão da America’s Cup, o neozelandês Dean Barker. Mais uma vez o Iate Clube do Rio de Janeiro mostrou que suas instalações e sua estrutura esportiva e administrativa são ideais para grandes eventos de monotipos.

O Optimist

NA PRAIA DA SAUDADE

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Homenagem aos dirigentes veleiros que realiza ram 8 Campeonatos Mundiais realizaram undiais,, engrandece ndo a prática do nobre esporte no ICRJ engrandecendo O que faz andar o barco não é a vela enfunada, mas o vento que não se vê. Platão

O Soling, 1978

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A HISTÓRIA

DO IATE

O Optmist, 1983

O Flying Dutchman, 1986

CLUBE

DO

RIO

DE JANEIRO

O Finn, 2004


Não há vento que semeie sempre a tempestade. Eurípedes (480-406 a.C.), teatrólogo grego

O Star, 1960

O Star, 1980

O Star, 1996

O Snipe, 1971

NA PRAIA

DA

SAUDADE

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A beleza da V ela do Iate Clube do Rio de Janeiro Vela

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A HISTÓRIA

DO IATE

CLUBE

DO

RIO

DE JANEIRO


NA PRAIA

DA

SAUDADE

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A HISTÓRIA

DO IATE

CLUBE

DO

RIO

DE JANEIRO


E

xistem três espécies de homens, os que vivem, os que morreram e os que vão para o mar... Victor Hugo (1802 -1885)

NA PRAIA

DA

SAUDADE

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Os detentores da Medalha do Mérito Esportivo do ICRJ No texto do estatuto social reformado em 1995, o então presidente do Conselho Deliberativo, Helio Barroso, houve por bem propor a instituição da Medalha do Mérito Esportivo do Iate Clube do Rio de Janeiro, incumbindo-se da respectiva regulamentação o conselheiro Euclides Janot. O colegiado aprovou a moção em 30 de novembro do mesmo ano, honraria que logo passou a ser deferida “aos praticantes dos desportos incentivados pelo clube que se distinguirem excepcionalmente entre seus pares” e “aos que prestarem serviços relevantes à causa desses esportes”.

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A HISTÓRIA

DO IATE

CLUBE

DO

RIO

DE JANEIRO

Determinou o estatuto que essa outorga seria precedida, em face de sugestões recebidas, de proposta de uma comissão especial nomeada anualmente pelo presidente do Conselho Deliberativo, composta por oito membros originários dos setores representativos da Vela, da Pesca e Caça Submarina, das Lanchas e do Social, dois de cada um, fazendo-se a sua entrega em sessão solene, a cada dois anos. A diversos e destacados veleiros e caçadores submarinos foi concedida a medalha. Nas páginas seguintes, damos a conhecer as respectivas biografias.


Marcos Rizzo Soares e Eduardo PPenido, enido, a dupla de ouro do ICRJ “A atuação dos meninos no 470 foi uma grande e agradável surpresa.” Boris Ostergren (técnico da representação brasileira nos Jogos Olímpicos de Moscou)

Dispondo de competidores da categoria de Reinaldo Conrad e Manfred Kauffman, na Flying Dutchman, e de velejadores do padrão dos irmãos Gastão e Vincente Brun com Roberto Luiz Martins, na classe Soling, era otimista a expectativa da vela brasileira nos Jogos Olímpicos de Moscou, em 1980. Para surpreender, havia também uma tripulação, com três anos de convívio na classe 470, carregando apenas o trunfo de conhecer a raia de Tallin onde, um ano antes, havia disputado, sem resultados expressivos, a Semana Préolímpica e à qual a sorte haveria de favorecer, ainda que os dirigentes técnicos entendessem que não era chegado o momento da jovem dupla formada por Marcos Soares e Eduardo Penido aspirar ao sonho olímpico. Superando corajosamente cada obstáculo que se lhes antepunha, a começar pelos ventos fracos, de que Marcos não gostava, a dupla chegou à ultima regata precisando apenas de uma 5ª posição para apossar-se da medalha de ouro. Na primeira perna, Marcos saiu mal e passou a bóia em 9º lugar. Na segunda, superou quatro competidores, posicionando-se na desejada 5ª colocação, mas caindo novamente

Sempre amigos, incentivadores dos jovens

para a 6ª. Então, prevaleceu a sorte dos vencedores sob a forma da ajuda do barco finlandês que, num bordo de desespero conhecido entre os velejadores como “suicida”, surpreendeu a todos e ultrapassou o barco alemãooriental, fazendo convergir para os brasileiros a vitória final e as medalhas de ouro que ostentam com orgulho. Marcos Soares pode ser considerado um vencedor por natureza. Aos 12 anos, teve que enfrentar grave enfermidade cujas seqüelas só superou depois de anos de tratamento intensivo e com a disposição dos lutadores. Tentou a natação no Flamengo, mas somente em 1974 teve contato com o esporte que o consagraria,

NA PRAIA DA SAUDADE

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quando seu pai se tornou sócio do ICRJ e o incentivou a velejar. Apesar de estar ainda debilitado, obteve, com força de superação, sua primeira vitória numa regata da classe Pingüim, como proeiro de Bob Nick, passando a timoneiro na classe em 1975. Em 1976, tendo John King como proeiro, venceu o Campeonato Brasileiro. Iniciando-se na classe 470, foi o 8º colocado no Campeonato Brasileiro de 1977, o que lhe valeu o título de campeão júnior e a classificação na categoria júnior da classe 420. Eduardo Henrique Gomes Penido já na época podia ser considerado um veterano, tendo em seu currículo participações em

Admiral’s Cups, Two Ton Cups, nas tradicionais Santos-Rio e em campeonatos brasileiros de oceano. Filho do oficial da Marinha José Maria Penido, campeão em regatas de oceano, Edu seguiu os passos do pai, fazendo escola num Optimist na EDN que lhe abriu o mundo imenso da vela em que se tornou, até hoje, um dos melhores tripulantes brasileiros, completo em todos os fundamentos e, ademais, um verdadeiro marujo. A parceria da dupla teve início em 1977, sempre na 470, classe em que obtiveram vaga para o Pré-olímpico de Tallin, ao chegar em 3º no Campeonato Brasileiro de 1978, colocação que lhes deu o título de campeões juniores.

Marcos Soares e Edu Penido, liderando a quarta regata nas Olimpíadas de 1980

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A HISTÓRIA DO IATE CLUBE DO RIO DE JANEIRO


Alan Adler

e foi nesta que então alcançou seus melhores reDaniel e Alan hersultados, obtendo a vaga daram de Harry Adler o nos Jogos Olímpicos de mesmo e acentuado gosLos Angeles de 1984. to pela prática do esporApós a experiênte que o pai elegeu para cia olímpica e confirmansi próprio e para preendo sua capacidade de deAlan Adler sagrou-se campeoão brasileiro, classe Soling, cher-lhes o lazer e o es- ao lado de seu irmão Daniel e de Marcelo Ferreira sempenhar-se, e bem, pírito preparando-os para em diversas classes, Alan as disputas inevitáveis da vida. Dele receberam Adler começou a conquistar resultados expreso forte incentivo que os conduziria a desenvolver sivos. Na Flying Dutchman, com Marcos Temke, carreiras que os situam como velejadores ecléfoi 7º no Mundial, e na Star foi 9º no Mundial e ticos e vencedores em diferentes classes, num 4º no Norte-americano, campanha que lhe renseleto grupo de brasileiros de excepcional dedeu homenagem do Comitê Olímpico Brasileisempenho na especialidade. ro, como o melhor iatista do ano de 1985. Em seus primeiros passos na Escola de Em 1986, foi 6º no Mundial de Flying Desportos Náuticos do Clube, Alan, de certa Dutchman e 4º no Mundial de Star em 1987, e forma, cumpriu apenas um estágio no Optimist vice-campeão nas semanas pré-olímpicas de que durou de 1976 a 1978 e depois embarcou Hyères, França, e de Palma de Majorca, Espano 470, em que velejou com José Roberto nha. Nos Jogos Olímpicos de Seul de 1988, sem Bueno e com Marcus Temke, com este conquistempo para treinar, Alan e Temke ficaram com o tando seu primeiro título quando juntos vence7º lugar na Flying Dutchman. ram o Campeonato Brasileiro de Juniores e deA consagração veio no ano de 1989, na pois conquistaram o 3º lugar geral no Brasileiro. Sardenha, Itália, quando a dupla formada por Alan Ainda na 470, disputou o Campeonato Mundial e o proeiro Nelson Falcão, com apenas um ano de Juniores, a 1ª Pré-olímpica de Los Angeles, e de entrosamento, conquistou o título Mundial na o Campeonato Mundial ao lado de Peter King. Star ao final das seis regatas, com boa margem, Ressentindo-se, porém, da falta de resultados dominando velejadores de nomeada, como Mark nessa fase, entendeu de passar para outras clasReynolds, prata em Seul, Paul Cayard, campeão ses e o fez com acerto. mundial de 1988, e outros campeões mundiais e No inicio da década de 1980, velejou nas olímpicos. A campanha foi excelente, mas tensa. classes Laser, Snipe, 470, Finn e Flying Dutchman Logo na primeira das seis regatas, o barco colidiu

NA PRAIA

DA

SAUDADE

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com um competidor alemão, acidente que os excluiu da etapa. Mas, na seqüência do campeonato, com muita calma e nunca arriscando posições, obtiveram uma vitória, dois 3os lugares, um 5º e um 16º, totalizando a melhor média de pontos e conquistando o primeiro título mundial da tradicional classe para o Brasil. Após ter atingido o auge na carreira, Alan abriu espaço Alan e seu proeiro para dedicar-se aos negócios da família, sem prejuízo do desenvolvimento de seus projetos de popularizar a vela no País e inserir o Brasil em competições oceânicas de alto nível como a Volvo Ocean Race, cuja recepção no Brasil organizou, e a America’s Cup. Com esse propósito, tornou-se empresário do ramo, integrando uma empresa promo-

Alan e Christopher Bergemann, 4º de 1986, na classe Star, em que

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Nelson Falcão, campeões mundiais de Star

tora da 1ª Regata Match Race Brasil, estendendo-se em apoiar o programa Vila Social, uma continuidade do projeto assistencial de Lars Grael. Ao final da 1ª Match Race, deu sobeja demonstração do seu espírito competitivo, e, mesmo sem estar treinando, sobretudo em competições de dois barcos na raia, foi vencido apenas pelo notável Torben Grael. Suas conquistas mais recentes foram a medalha de prata da equipe J24, ganha no Pan-americano de Santo Domingo, com o barco Bruschetta, e o Brasileiro da classe Star, de 2003. Além da excelente participação como coordenador técnico da equipe brasileira nos Jogos Olímpicos de Atenas, em 2004, onde foram conquistadas as medalhas de ouro na Star, com Torben Grael e Marcelo Ferreira, e na Lalugar no Mundial de Capri concorreram contra 109 barcos ser, com Robert Scheidt.

A HISTÓRIA DO IATE CLUBE DO RIO DE JANEIRO


Gastão Brun “Gastão Brun é o Alain Proust da minha vida”, disse Troben Grael a O Globo, após as disputas da Pré-olímpica de 1989

que a proximidade da praia ao longo da qual costumavam remar, imaginativos, encontraram um meio mais confortável de voltar a terra sem fazer força, armando a barraca de praia à guisa de uma vela, com a qual usufruíram confortável retorno. No Natal daquele ano, a mãe cortou e costurou uma vela e o pai colocou no pequeno casco um mastro, bolina e um leme, dando partida assim, de forma peculiar, à carreira dos dois irmãos que, a partir daí e pelos seus próprios méritos de auto-aprendizagem e sensibilidade inata para o esporte, se converteram nos excepcionais velejadores que são até hoje. Passados alguns anos, chega-lhes às mãos um Snipe financiado pela Savel, uma iniciativa do notável Leopoldo Geyer. Mas o barco era gran-

Como na boa origem daqueles que encontraram seu caminho há sempre a figura do pai, o axioma também se aplica aos velejadores qualificados como Vicente (Vince) e Gastão Brun. Com efeito, os dois começaram a brincar no esporte de bordo de um Hagen Sharpie que o velho Gastão tinha no Iate Clube Brasileiro, do outro lado da baía, então utilizado apenas para o lazer domingueiro e familiar, aqui e ali, como em Jurujuba e Paquetá. Já então dispondo de um pequeno barco a remo, com características de um Optimist, os dois jovens, afastando-se um dia para distâncias mais ousadas do Gastão no Campeonato

Mundial de 1978, na Itália

NA PRAIA

DA

SAUDADE

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de demais e, de início, o que mais fizeram foi levar grandes cambalhotas, acabando, porém, por dominar e retirar do barco o prazer de numerosas competições de que passaram a participar, incentivados pela rígida disciplina doméstica que punia notas más na escola com a ausência em velejadas e regatas, de que ambos, inteiramente empolgados pelo esporte, já não podiam mais prescindir.

Gastão, muito treinado, vence o Mundial de Soling realizado no Rio de Janeiro, em 1973

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ISTÓRIA DO DO IATE ATE CLUBE LUBE DO DO RIO IO DE DE JANEIRO ANEIRO A HISTÓRIA

Mudando-se para o Rio, aos 14 anos Gastão Brun passou a freqüentar o ICRJ como sócio veleiro e, em 1960, com o advento das atividades da classe Pingüim, passou a competir séria e permanentemente sob a tutela, do notável e saudoso Roberto Bueno, momento em que começou a ser gerado o valioso cartel de conquistas em Jogos Olímpicos e Pan-americanos que hoje ostentam os nossos velejadores. Depois de vários anos dedicados ao Pingüim, Gastão procurou suas velejadas de oceano, primeiramente no Cayru de Jorge Geyer e depois ensaiando algumas regatas de Star, para reconhecer, afinal, sua verdadeira paixão esportiva no Soling, quando Erling Lorentzen trouxe a primeira leva desses maravilhosos barcos para o Brasil, dos quais ele irresistivelmente adquiriu um. Foi na classe Soling, um barco de três tripulantes, que Gastão, Vince e Roberto Martins alcançaram feitos notáveis – entre os quais se destaca a conquista do Campeonato Mundial de 1978, realizado no Rio de Janeiro – que com justiça os envaidecem e orgulham seus companheiros do Iate Clube do Rio de Janeiro.


Aderindo também ao Laser, Gastão dedicou anos de sua vida às duas classes e à vida familiar constituída com Ângela Barrozo, parceira da época do Pingüim que lhe proporcionou o apoio que a vida de um esportista de sua categoria demanda. Gastão aponta como sua melhor época a fase após os 28 anos, quando melhor admi-

nistrou seu espírito aguerrido e tenaz, base de suas grandes conquistas. Dos três filhos, uma moça e dois rapazes, apenas Lucas, o caçula, é dedicado à vela, seguindo os caminhos do pai. Considerados seus maiores destaques, Gastão ainda registrou inumeráveis participações em provas relevantes no País e no exterior:

Laser • Nike World Master Games – 1998 Medalha de Ouro – Oregon – Cascade Locks, EUA • Brasileiro – 1998/1997/1993/1988/1986/ 1981/1979/1978/1977

• Brasileiro – 1976/1974/1973/1971 Campeão

Master • Sul-americano – 1979 Campeão – Araruama, RJ Star • Norte-americano – 1990 Campeão – Boston – USA • Brasileiro – 1988/1986 Campeão • Sul-americano – 1987 Campeão

Oceano • Circuito Rio – 2003 Campeão • Semana de Vela de Ilhabela – 2003/ 2002/2001 Pajero Tr4 Campeão • Santos-Rio – 1969/1966/1963 Campeão Tripulante Barco Saga

Soling • Mundial – 1981/1978 Campeão – Itália

Classe J-24 • Brasileiro – 1996 Campeão

Pingüim • Brasileiro – 1960 Campeão – Porto Alegre, RS

NA PRAIA

DA

SAUDADE

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Maurício Santa Cruz e Eduardo Costa Neves Em setembro de 1997, Maurício Santa Cruz e Eduardo Costa Neves, cariocas do ICRJ,

San Diego, Califórnia, Estados Unidos, concorrendo com 19 países, num total de 52 barcos.

acrescentaram mais um título ao iatismo brasilei-

Na época, Santa Cruz, o Santinha, vivia

ro, ao conquistarem por antecipação o Campeo-

nos Estados Unidos havia um ano e testava velas

nato Mundial da classe Snipe disputado de 13 a 19

produzidas por uma famosa veleria da região,

de setembro na raia do clube Mission Bay, em

sob os auspícios de Vicente (Vince) Brun. Bem conhecendo a raia, dominou superiormente a prova com seu parceiro Eduardo Costa Neves. Formados na Escola de Desportos Náuticos do ICRJ, honraram suas origens demonstrando, na faixa de seus 20 anos, a excelência dos fundamentos que lhes foram então ministrados. Seguindo seus caminhos, Santinha se de-

Santinha e Eduardo liderando a regata de Snipe

dica exclusivamente à vela, devoção que lhe possibilitou a conquista de diversos títulos nacionais e internacionais, e a participação em duas Olimpíadas, de Sidney e de Atenas, na classe Tornado, e a medalha de prata na J24 nos Jogos Panamericanos de Santo Domingo, com Alan Adler, Carlos Jordão e Daniel Santiago. Eduardo é hoje um velejador de fim de semana na classe Oceano em que continua esbajando competência.

Maurício Santa Cruz, destaque na classe J24

Santinha e Joca, amizade dentro e fora d'água

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A HISTÓRIA DO IATE CLUBE DO RIO DE JANEIRO

Santinha


Peter T anscheit Tanscheit O gaúcho Peter Tanscheit cedo revelou inato talento para as práticas da vela. Em 1991,

mist, que era sempre tentar vencer com folga as provas em que se empenhava.

aos 25 anos, quebrou os padrões e obteve, em

Assim ocorreu no Sul-americano, no Eu-

Porto Carras, na Grécia, o título de campeão

ropeu e na primeira semana internacional de Op-

mundial na classe Laser,

timist, realizada, em Por-

inédito para um velejador

to Alegre, no Rio Guaíba

sul-americano.

e na raia do Clube dos

Sua passagem pela

Jangadeiros. Então, o jo-

classe Laser em águas bra-

vem de 13 anos superou

sileiras foi avassaladora e

com facilidade 72 concor-

se repetiu nas disputas na

rentes brasileiros e 11 ar-

América do Sul, com a

gentinos. Filosofando, diz

conquista de 5 Campeo-

que “antigamente, eu fica-

natos Brasileiros e 1 Sul-

va com medo do vento e

americano, surpreenden-

de todas essas coisas.

do a comunidade veleira

Hoje, enfrento tudo com

internacional com exce-

maturidade, sem ter ne-

lentes performances.

nhuma superstição”.

Em 1987, aos 17

Carente dos in-

anos, obteve a 3ª colocação no Campeonato Mun-

centivos devidos por um Peter segura a retranca e orça tudo para montar a boia à frente de Marcus Temke

dial da categoria e em

país que ainda não compreendeu o alcance de

1990 repetiria o feito, verdadeiros passos inici-

um esporte como a vela na formação da brasili-

ais para chegar à consagração com o título mun-

dade, Peter Tanscheit agora disputa nas raias

dial obtido em 1991, na Grécia, e a medalha de

da vida prática. Dá, assim, seqüência à sua car-

ouro nos Jogos Panamericanos de Havana. Em

reira de engenheiro, certamente com o suces-

1993 foi vice-campeão mundial na Nova

so que reveste a ação dos homens da sua es-

Zelândia.

tirpe. Assim privou os devotos da vela de as-

O seu desempenho ao longo de sua bri-

sistir ao duelo extraordinário, que infelizmente

lhante carreira revestiu-se de uma característica

jamais ocorrerá, entre ele e Roberto Scheidt,

excepcional, trazida dos tempos da classe Opti-

seu genial sucessor.

NA PRAIA DA SAUDADE

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Tacarijú Thomé de PPaula aula O atlético professor de História do Departamento de Estudos Sociais e titular de elementos de navegação do Departamento de Ciências Biológicas da UniTacarijú, grande incentivador da classe Ranger 22 versidade Santa Úrsula, Tacarijú Thomé de Paula, quase sempre bem-humorado e piadista emérito, um praieiro dos tempos românticos da ainda desértica Copacabana, mereceu, por sua história e devoção à vela e a outros esportes náuticos, a medalha com que a comunidade do ICRJ o homenageou. Em sua modéstia, rejeitando mesmo a notoriedade, Tacarijú deve orgulhar-se do seu passado esportivo, em que começou como vencedor no remo conquistando as taças Pereira Passos e Getúlio Vargas. Sucessivamente, foi colecionando títulos na vela, começando por vitórias na classe Guanabara, como ganhador das taças Força Aérea Brasileira e Escola Naval e do próprio campeonato da classe. Na classe Star, recebeu a Estrela Azul na Darke de Mattos e teve participações em Sulamericanos e no sesquicentenário da independência argentina, Campeonatos Mundiais e nos Jogos Olímpicos de Helsinque, de 1952. Na classe Carioca, colecionou vitórias na Volta à Ilha Rasa

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A HISTÓRIA ISTÓRIA DO DO IATE ATE CLUBE LUBE DO DO RIO IO DE DE JANEIRO ANEIRO

e nas regatas 25ª Escola Naval, Rei Olav, America’s Cup e no campeonato da classe Star. Como homenagem dos seus companheiros da classe Ranger 22, recebeu um sino simbólico e uma regata com o seu nome foi disputada. O seu passado conta, ainda, que velejou barcos de carangueja, de vela de pena, de algodão e de fibra, com cascos e mastros de madeira ou de alumínio. Remou dos barcos de casco trincado às agulhas lisas, com braçadeiras, com ou sem timoneiro, da parlamenta simples à dupla, do singular ao oito, sempre consciente de que ganhar ou perder são apenas incidentes e não a razão de ser de qualquer disputa em que prevaleçam a camaradagem e o prazer lúdico das rampas de antigamente.

Os dois Tacarijú, o pai e o filho, vencedores com o Bú IV da Regata Darke de Mattos de 1959


Tacarijú Thomé de Paula representou o Brasil no Mundial de Star, em Chicago, em 1950

Rememora com carinho a primeira regata num escaler, em 1932, não esquece sua velejada como timoneiro de um Haggen Sharpie de carangueja nem aquela num saveiro de vela de pena. Revê com saudade as imagens do Guanabara, do Star Bu, do Carioca Brisa, do Atol Brisa do Mar e do Ranger 11 do mesmo nome, com aquele sentimento comum aos possuidores de barcos, de que deles separar-se é um sacrifício que só tem consolo na lembrança. Sobre as regatas, faz questão de frisar que todas foram importantes, independentemente do prestígio da prova ou do resultado alcançado, secundário ante o acervo de recordações da camaradagem, dos amigos feitos, dos companheiros idos, enfim, do lado humano. Mas, ressalta sempre que, em sua vida esportiva, nada é comparável à velejada na Darke

de Mattos, em que participou como proeiro do filho, então com 15 anos! Além de toda essa ativa participação desportiva de mais de meio século, representando e defendendo a bandeira do ICRJ, Tacarijú foi conselheiro do clube por 10 mandatos consecutivos, diretor de Vela, da EEN e da EDN, em várias gestões, comodoro da classe Guanabara, capitão e secretário da Flotilha de Star, comodoro da classe Carioca, fundador e capitão da primeira flotilha de Ranger 22, sediada no ICRJ, e, posteriormente, presidente da Associação de Veleiros dessa classe. Após tão extensa vivência no universo da vela só lhe faltou, lamenta o veterano comandante, não haver participado de uma Buenos Aires-Rio, por simples mas imperdoável incompatibilidade de datas.

NA PRAIA DA SAUDADE

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Peter Dirk Siemsen Peter Dirk Siemsen, integrante de uma bancada de advocacia especializada em marcas e patentes no Rio de Janeiro, compete em regatas a vela desde 1948, esporte que empolgou também seus filhos. Participou de mais de 500 disputas e foi vencedor em muitas delas. Sua convivência com o esporte completa-se com eficiente intervenção na organização local, continental e mundial de campeonatos. Como juiz internacional da Federação Internacional de Vela, foi membro e presidente de comissões de protesto (Jury) em vários eventos internacionais, dentre os quais se destacam os Jogos Olímpicos, a Louis Vuitton Cup, a America’s Cup, a Regata Volta ao Mundo (Whitbread e Volvo Ocean Race), a Regata Cape Town-Rio de Janeiro e alguns Campeonatos Mundiais. Seu currículo registra ainda expressiva presença na cúpula de organismos devotados à vela, tais como: • Presidência do Painel de Arbitragem da Louis Vuitton Cup e da 30ª America’s Cup – 1999/ 2000. • Vice-presidência da Federação Internacional de Vela (IYRU), de 1986 a 1994. • Presidência da Associação Internacional da Classe Star (ISCYRA), de 1986 a 1990.

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A HISTÓRIA DO IATE CLUBE DO RIO DE JANEIRO

• Presidência da Comissão que redigiu os Códigos de Patrocínio e Propaganda e de Elegibilidade da IYRU. • Membro da Corte de Arbitragem do Comitê Olímpico Internacional a partir de 1995. Sua trajetória e liderança no esporte o conduziram a granjear o respeito e a admiração dos praticantes e dirigentes da vela mundial e local, intitulando-o ao recebimento de homenagens e comendas como as que lhe foram deferidas ao longo dos muitos anos de sua profícua atuação, destacandose: a medalha de ouro dada em 1994 pela IYRU por serviços prestados à vela mundial; a conquista do Troféu Harry G. Nye, em 1996, por serviços prestados à classe Star nacional e internacional; o Prêmio Beppe Croce concedido pela ISAF em 2001 pelas contribuições voluntárias ao esporte da vela mundial. Peter é conselheiro do Iate Clube do Rio de Janeiro, onde, jovem, foi admitido como sócio veleiro, tornando-se sócio proprietário desde 1953. É também membro proeminente do Iate Clube Armação de Búzios, do Clube dos Jangadeiros, do New York Yacht Club, Estados Unidos, do Norddeutscher Regatta Verein e do Royal Thames, os dois últimos europeus.


Dante V aldetaro Bianchi Valdetaro e Bruno Bethlem de Amorim

Dante Valdetaro Bianchi, filho do associado e conselheiro Washington Bianchi, deu seus primeiros passos na sempre presente Escola de Desportos Náuticos do ICRJ e começou a disputar regatas em Optimist, a partir do nível III, na categoria estreante, registrando sua primeira participação em um campeonato estadual em setembro de 1990, aos 10 anos de idade. No ano seguinte, participou de regatas entre clubes, que

contribuíram para o seu aperfeiçoamento técnico, levando-o à 12ª colocação no Campeonato Estadual de 1991. Sua passagem pela Optimist teve grande destaque, estando sempre entre os primeiros colocados nos principais eventos no Brasil, o que o credenciou a participar dos concorridos e difíceis campeonatos Sul-americanos de Mar del Plata, na Argentina, Algarrobo, no Chile, e Sali-

NA PRAIA

DA

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nas, no Equador, e de 3 Campeonatos Europeus, na Turquia, na Holanda e na Espanha. Após a Optimist, ingressou na classe Snipe, que o consagraria nos cenário nacional e internacional da vela, ambientes em que continua obtendo excelentes resultados. Nos últimos 8 anos, conquistou 2 Campeonatos Estaduais, 1 Campeonato Brasileiro (2003) e a medalha de ouro nos Jogos Pan-americanos de Santo Domingo, em 2003. Velejando com Bibi Juetz, a dupla conquistou 2 Campeonatos Mundiais Grand Masters e foi vice-campeã no Mundial Master. Em sua trajetória vitoriosa, também registra o Campeonato Sul-americano da classe J24. Hoje, com esforço, divide seu tempo entre a medicina e a vela.

Bruno Bethlem e Dante Bianchi, Snipe

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A HISTÓRIA DO IATE CLUBE DO RIO DE JANEIRO

Bruno Bethlem nasceu em 22 de outubro de 1975 e hoje é médico veterinário formado pela Universidde Federal Fluminense. Veleja desde os 11 anos, quando foi admito na EDN. Passou pelas classes Optimist e Europa e, nos últimos anos, divide-se entre as classes Snipe e 470, com algumas passagens pela Oceano. Na 470, vem tentado o 1º posto para tornar-se representante do Brasil em Jogos Olímpicos e, nessa faina, conquistou o Brasileiro de 2004 e os vice-campeonatos de 2001, 2002 e 2003. Na Snipe, seus resultados têm sido excelentes, inscrevendo-se entre suas conquistas o ouro nos Jogos Pan-americanos de Santo Domingo, em 2003, e os Brasileiros de 2003 e 2004. Tornouse técnico da equipe que integrou a delegação nacional nos Jogos Olímpicos de Atenas.


Ricardo Winicki Santos Ricardo, o “Bimba”, apelido que vem da infância, nasceu com talento especial para conduzir as pranchas a vela, ou Mistral. Sua trajetória vitoriosa não se apoiou, como é da tradição, nas escolas de vela, com a clássica passagem pela Optimist, como ocorreu com os melhores velejadores de sua geração. O seu começo foi na praia e na Lagoa de Marapendi, na Barra da Tijuca, onde, sob a tutela de José Fernando Ermel, o Boy, passou a adolescência e cresceu praticamente em cima de uma prancha a vela. Essa devoção trouxelhe logo bons resultados. Na categoria Júnior, conquistou 2 Campeonatos Mundiais da Juventude, no Japão e na África do Sul, e foi vice-campeão no Mundial Júnior da classe Mistral. Na maioridade, continuou a trilhar o caminho das grandes vitórias. No Brasil, não encontrou adversários à sua altura, dominando as disputas que lhe deram o Campeonato Brasileiro por 7 vezes. No exterior, a trajetória foi árdua e difícil, pois, sem adversários no Brasil, foi levado a passar grandes temporadas fora do País, premiando seu esforço com excelentes resultados: a medalha de prata nos Jogos Pan-americanos de Winnipeg, em 1999, no Canadá, a medalha de ouro em Santo Domingo, em 2003, na Re-

pública Dominicana, a 2ª colocação no Mundial de 2002, na Tailândia, e, finalmente, o 4º lugar nos Jogos Olímpicos de Atenas, em 2004. Seu desempenho assegurou-lhe o respeito internacional, tornando-o um ícone na atividade, assim atraindo um grande número de praticantes para treinar com ele no Brasil. Em maio de 2005, Bimba conquistou o Mundial da Classe Mistral, em Mondello, na Itália, expandindo suas perspectivas para os Jogos Olímpicos de Pequim, em 2008.

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Na caça submarina, Eduardo e Edmundo Souto de Oliveira Os dois irmãos, ambos conselheiros, são representantes da terceira geração da família Souto de Oliveira no nosso quadro social. São exímios mergulhadores que, desde muito jovens, equiparam-se em sucessos na atividade a que se devotaram, cada qual vencedor de mais de 40 torneios e eventos por aqui e em outros oceanos, estes já registrados no capítulo O Iate Clube no exterior. Sua atuação justifica amplamente a homenagem que o Conselho Deliberativo do clube lhes deferiu ao conferir-lhes a Medalha do Mérito. Eduardo é assessor do Departamento de

• Pentacampeão Estadual Individual – 1984/ 1987/1989/1990/1995 • Pentacampeão Estadual por Equipe – 1984/ 1989/1990/1992/1995

Pesca, além de ter sido conselheiro fiscal e pre-

• Octacampeão da Copa Rio (Campeonato Esta-

sidente da Federação de Caça Submarina do Es-

dual de Clubes) – 1986/1987/1989/1991/1992/

tado do Rio de Janeiro.

1994/1996/1997

Dentre tantas vitórias, desatacam-se, de cada um, as seguintes:

Eduardo Souto de Oliveira

Edmundo Souto de Oliveira

• Vice-campeão Mundial Individual de Águas Azuis

• Campeão Mundial Individual de Águas Azuis – Açores – Portugal – 1998 • Campeão Mundial por Equipe de Águas Azuis – Açores – Portugal – 1998 • Bicampeão do Torneio Internacional Américo Santarelli – Rio de Janeiro – 1991 e 1993 • 3º colocado no Campeonato Mundial de Águas Azuis – La Paz – México – 2000 • Vice-campeão Brasileiro Individual – Cabo Frio –1993 • Campeão Brasileiro por Clubes – Cabo Frio – 1993

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A HISTÓRIA DO IATE CLUBE DO RIO DE JANEIRO

– Hatteras – Estados Unidos – 2002 • 4ª colocado individual no Campeonato Mundial de Águas Azuis – Açores – Portugal – 1998 • Campeão Mundial por Equipes de Águas Azuis – Açores – Portugal – 1998 • Campeão Brasileiro por Clubes – Cabo Frio – 1993 • Pentacampeão Estadual por Equipe – 1984/ 1989/1990/1992/1995 • Octacampeão da Copa Rio (Campeonato Estadual de Clubes) – 1986/1987/1989/1991/1992/ 1994/1996/1997


Destaques Daniel Adler Daniel iniciou sua atividade veleira em 1969, nas classes Pingüim e Star, nesta fazendo várias regatas de percurso com seu pai e orientador Harry Adler. Disputou provas também na Laser, na 470, na Oceano e na J24, destacando-se em 3 Olimpíadas, 2 Jogos Pan-americanos e vários Campeonatos Mundiais. Especialmente na classe Soling, registrou ao longo de 30 anos de atividades as seguintes e principais vitórias em mais de 100 disputas no Brasil e no exterior: Vitórias no exterior: Soling • Jogos Olimpicos de Los Angeles – 1984 (prata) • Pan-americano de Caracas – 1983 (ouro) • Pan-americano de Indianápolis – 1987 (bronze) • Mediterrâneo San Remo – 1984 (campeão) • Norte-americano – 1981 (campeão) • Canadense – 1980 (campeão) • Semana de Cork – 1980 (campeão)

• Canadense – 1981 (campeão) • Sul-americano – 1990 (campeão) • Sul-americano – 1997 (campeão) • Mundial – 1985 (vicecampeão) • Sul-americano – 1979 (vice-campeão) • Sul-americano – 1977 (vice-campeão) Vitórias no Brasil: Soling • Brasileiro – 1997 e 1998 • Brasileiro – 1992 • Brasileiro – 1985 a 1990 • Brasileiro – 1980 a 1982 • Semana Pré-olímpica de Salvador – 1998 • Sul América Olympic Cup Búzios – 1990 a 1992 • Semana Pré-olímpica de Búzios – 1988 • Pré-olímpica Bradesco – 1984 • Pré-olímpica Atlântica Boa Vista – 1982 e 1983 • Estadual – 1981, 1984 e 1989 J24 – Brasileiro – 1994 Star – Estadual – 1975 e 1979

NA PRAIA DA SAUDADE

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Harry Adler Harry Adler, velejador ina-

3º lugar no Mundial de Nápoles,

to, identificou-se com a classe

tendo como proeiro Luís Carlos Pei-

Sharpie 12 m2 em 1942 e velejou

xoto.

Carioca, Lighting, J-24, Soling e Star,

É conselheiro da Federação

este objeto de sua mais acentuada

Internacional de Vela desde 1996,

devoção.

representando o Brasil e o Paraguai.

Pilotou o Tucano de Joa-

Juiz internacional de regatas, por

quim Belém e velejou o Star de 1952 até há

muitos anos exerceu também a vice-presidência

poucos anos, classe em que foi campeão do

para a América do Sul da Associação Internacio-

Rio de Janeiro, Brasileiro e Sul-americano; bron-

nal da Classe Star.

ze no Pan-americano de 1963, integrando a fi-

Se lhe é lícito orgulhar-se de sua pró-

nal dos Jogos Olímpicos de 1964; e vários Mun-

pria trajetória, certamente o destaque é o rumo

diais em Cuba, Dinamarca, Itália e Europeu de

que indicou a seus filhos no esporte e na vida

Portugal.

não olvidando a filha Liliane, vice-campeã bra-

Foi o primeiro brasileiro a ser elevado ao Hall of Fame da classe Star por haver alcançado o

sileira e concorrente em vários mundiais na categoria Laser.

O Clementine, 3910, seu timoneiro Harry Adler e Luiz Carlos Peixoto como proeiro, supera o 3376 do italiano Carlos de Cardenas, um campeão mundial, para ganhar o Sul-americano da classe Star de 1958, no Rio de Janeiro

240 240

A HISTÓRIA ISTÓRIA DO DO IATE ATE CLUBE LUBE DO DO RIO IO DE DE JANEIRO ANEIRO


Walter von Hüstschler O conselheiro Jorge C. Carneiro presta

Com Jorge Carneiro, disputou diversos

justo tributo a seu amigo, o paulista de Mococa,

campeonatos nacionais e internacionais, entre

Walter von Hüstschler, de quem, por 30 anos,

os quais, em 1959, a I Semana de Kiel, na Ale-

foi proeiro no Star Pimm, exaltando-o não ape-

manha, o Mundial da classe Star em Newport,

nas por seu profundo conhecimento

Califórnia, e os Jogos Pan-americanos

das artes da vela, como também pela

de Chicago.

importância que teve para a classe

Em 1965, ano do Centenário

Star em sua longa e profícua passa-

da Cidade do Rio de Janeiro, o

gem pelo ICRJ, de que se fez sócio

Pimm, o barco sob seu comando, foi

desde 1957.

líder absoluto do Campeonato Con-

Anchyses Carneiro Lopes,

tinental da classe Star.

pedestal da classe, foi responsável pela aproxi-

Aos 70 anos, venceu o Campeonato do

mação de Walter com o clube depois de seu

VII Distrito e esteve regularmente presente à

regresso da Alemanha, para onde acompanha-

Semana de Kiel, na Alemanha.

ra a família, quando faleceu seu pai.

Walter voltou, aos 80 anos, para a Ale-

Na Alemanha, Walter experimentou em

manha, onde faleceu, sendo sempre reverenci-

clubes locais sua primeira grande vitória em

ado por seus parceiros do clube Alster Piraten

1926, quando contava apenas 20 anos, nave-

e apegado às suas memórias brasileiras.

gando um Rennjalle que, em 1932, trocou pelo Star, do qual jamais se afastou. Em 1936, juntamente com o construtor de barcos Cãsar Fuhlendorff, Walter von Hütschler, criou a mastreação flexível, de modo a permitir a mudança da forma do pano, regulando a curvatura do mastro. Graças a esse engenho, usado pela primeira vez em seu Star Pimm, Walter venceu dois Campeonatos Mundiais, de 1937 e 1938, além de ser vice-campeão em 1939, já agora na liderança da classe e apelidado de “Pimm”, nome do seu próprio Star que trouxe para o Brasil após a guerra.

No Pimm, von Hüstschler e Jorge Carneiro

NA PRAIA DA SAUDADE

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Sede S22 057´08´´ W43010´24´´

Palmas S22 047´30´´ W 43 0 09´18´´

Angra dos Reis

Cabo Frio

S23053´05´´ W440 21´33´´

S22 053´20´´ W42 001´37´´

242

A HISTÓRIA

DO IATE

CLUBE

DO

RIO

DE JANEIRO


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