Olho no Lance - O Observatório da Imprensa Esportiva - edição nº 4

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OLHO NO LANCE - N.° 4 - JULHO DE 2004

OPINIÃO Provocações

Mais checagem e conhecimento da língua ARTIGO ESCRITO POR ANDRÉ MALINOSKI, EDITOR DE ESPORTES DE O SUL

s páginas de jornal no ano de 2004 estão sendo pródigas em relação a denúncias, conspirações e maracutaias desvendadas. Sejam nas esferas política, econômica ou social, o país foi sacudido por revelações de esquemas deletérios e insidiosos, vide o caso Waldomiro Diniz, ou a lavagem de dinheiro por parte de Paulo Maluf e seus asseclas, Operações Vampiro e Gafanhoto, desencadeadas pela Polícia Federal provocando onda de prisões de funcionários públicos estelionatários de Roraima ao Rio Grande do Sul, entre tantos outros fatos. No campo esportivo, não podia ser diferente. A descoberta de transações obscuras no mercado de jogadores, mais investigações das falcatruas da Família Mamede no comando da Confederação Brasileira de Judô, a fraude na auditoria do Corinthians, apurada pela Folha de São Paulo no mês de junho, o desvio de verba do tênis de mesa para o bolso de dirigentes, são alguns dos exemplos de farsas descobertas e denunciadas pelos veículos de imprensa brasileiros nos últimos meses. A mídia esportiva nacional tem uma grande tradição na investigação de episódios tingidos pela suspeita da presença do crime organizado. De uma década para cá, os exemplos multiplicaram-se aos montes, ora pela omissão e ineficácia da

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Justiça, ora pela improbidade de pessoas que almejam um lucro maior e em menor tempo. Foram noticiadas averiguações na transação de atletas para o exterior, denúncia de favorecimento e apropriação indébita de recursos na parceria entre a CBF e a empresa de material esportivo Nike (fato que originou até a abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito). Os jornais desmascararam também estratagemas de atletas, técnicos e empresas de biogenética para maquiar resultados de doping e os mais variados escândalos em diferentes esportes. Tudo detalhado minuciosamente. Se as infrações não foram devidamente penalizadas pela Justiça, é outro caso. O jornalista é o instrumento para a descoberta dos casos ilícitos. Condenar os envolvidos é tarefa para instâncias de outro poder. Consciente desse papel fiscalizador fundamental da imprensa, a reportagem do Olho No Lance! relembra nesta edição uma das matérias mais sensacionais e com efeito mais devastador realizada no Brasil no meio esportivo em todos os tempos. No início da década de oitenta, o então editor-chefe da revista Placar, Juca Kfouri, teve a idéia de comprovar a existência da máfia da loteria esportiva. Não faltavam evidências apontando para o funcionamento de um cartel que manipulava os resultados dos jogos, mas nada havia sido, de fato,

observado. Após um ano de investigações, o repórter Sérgio Martins havia reunido provas suficientes para que, em outubro de 1982, a Placar anunciasse uma denúncia bombástica em sua capa: “Desvendamos a máfia da loteria esportiva”. A notícia teve efeito imediato nos bastidores do futebol e na imprensa esportiva do país, decretando o fim dessa popular prática de apostas por bastante tempo. Embora alguns tentassem ressuscitá-la na pele de uma bela mulher fantasiada de zebrinha anos mais tarde, a loteria esportiva nunca mais alcançou o mesmo sucesso. Reportagens desse quilate dão vida e reabilitam o combalido panorama do setor. São essas pautas que fomentam a vontade do estudante a se interessar pelo jornalismo esportivo e que sustentam os veículos de comunicação. Matérias sobre as briguinhas entre Milton Neves x Jorge Kajuru ou Juca Kfouri x Milton Neves e algumas outras que envolvem outros cânones da imprensa são aborrecidas e servem apenas para alimentar a vaidade de profissionais que, apesar do enorme talento, extravasam o limite do bom senso devido ao seu egocentrismo absurdo. Nessas horas, cabe a reflexão à palavra do entrevistado do mês, o veterano jornalista Antônio Augusto. “A informação hoje em dia cada vez mais se torna rara. Tudo é espetáculo. Tudo é show”.

Os repórteres Bob Woodward e Carl Bernstein, do Washington Post, deixaram uma lição de trabalho jornalístico. Em 1972, os dois revelaram o escândalo Watergate dentro do governo norte-americano de Richard Nixon, que acabaria renunciando ao cargo posteriormente. Suas matérias eram a essência da reportagem investigativa. Os tempos são outros, mas o jornalismo segue dando espaço para a investigação e um punhado de reportagens, apesar de muitos profissionais da imprensa se preocuparem apenas em polemizar. Quem sai perdendo é o leitor. Cada vez há menos matérias nos periódicos diários com reportagens de caráter investigativo. O normal é se encontrar inúmeras informações não apuradas da forma correta. Na Era da Internet, a checagem das notícias parece ter ficado para um segundo plano. O que é um perigo para a credibilidade do jornal. Outro problema é a leva de recém-formados que chega às redações sem o conhecimento mínimo da língua portuguesa. Os tes-

tes de aptidão para as redações têm revelado erros primários. O estudante de Comunicação Social passa pelo menos quatro anos se preparando para a vida profissional de muitas maneiras. Esquece da essência: ler, conhecer a língua e escrever. O livro “Os Elementos do Jornalismo – O que os jornalistas devem saber e o público exigir”, de Bill Kovach e Tom Rosenstiel, é uma boa dica de como todos jornalistas deveriam proceder na rotina da apuração dos fatos. Lá encontram-se nove pontos básicos da profissão. O primeiro talvez seja um dos mais esquecidos no fechamento das edições, devido ao seu caráter subjetivo – a verdade. Logo em seguida, aparece a lealdade para com os cidadãos, os leitores. Todo jornalista, seja de rádio, TV, jornal ou Internet, poderia descer do pedestal da arrogância, pelo menos de vez em quando, e lembrar o porquê de existir. O compromisso não é com o dono da empresa ou os anunciantes. É com o leitor e ponto final.

Expediente OLHO NO LANCE! Editor-Chefe Editor-Adjunto Redação Revisão Projeto Gráfico Edição Fotográfica Departamento Comercial Impressão Jornalista Responsável Colaboradores

Pedro Alencastro Fabio Severo Thomás Selistre, Carlinhos Caloghero Fabio Severo Hélder Rafael Zé Bala (in memorian) Thomás Selistre e Gustavo Dadalt Gazeta do Sul - Santa Cruz do Sul/RS Caroline Andreis Fernando Nique Costa, Rafael Kasper

Contato: (51) 9219-9216 - Depto. Comercial E-mail: olhonolance@olhonolance.com Distribuição gratuita nas universidades de Porto Alegre e Região Metropolitana, cursos pré-vestibulares e jogos de futebol.


ASSESSORIA DE IMPRENSA

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Ruim com eles, pior sem eles? Grêmio.net

Atividade controversa, as assessorias de imprensa nos clubes de futebol do país proliferaram-se nos últimos anos e mudam a rotina dos profissionais que cobrem o cotidiano esportivo. POR FABIO SEVERO (SEVEROFABIO@TERRA.COM.BR)

efúgio de profissionais desqualificados ou inter mediário competente en tre jornalistas, atletas e di rigentes? Órgão de censura que mais parece uma empresa de segurança pessoal ou canal que facilita o trabalho do jornalista? O trabalho da assessoria de imprensa nos clubes de futebol, recente no Brasil, é controverso e vem à tona sempre que os veículos de comunicação sentem-se tolhidos à apuração dos fatos dentro das agremiações. A decisão do ex-técnico do Grêmio Adílson Batista em abril de proibir a entrada da imprensa esportiva em um treino de sua equipe desencadeou uma violenta reação por parte dos setoristas que cobrem o tricolor. Acusaram-no de prejudicar o trabalho dos profissionais com uma atitude considerada anacrônica e revanchista. Mesmo com a decisão ter sido tomada pelo treinador, as críticas vieram com força para cima do assessor de imprensa do Grêmio, Sérgio Schueler, que se defende: “Selecionamos, em consenso com os setoristas, três jogadores e mais o técnico para a entrevista diária. Não impusemos os escolhidos para a coletiva”. Luciano Silveira, repórter da Rádio Pampa, critica a postura gremista ante a imprensa. “No passado, a gente tinha uma liberdade maior. Não tínhamos a certeza de, por exemplo, num dia x, na hora x, ter o jogador à disposição, mas, podíamos fazer matérias diferentes, pegar lances inusitados, de surpresa, ou, até mesmo, jogadores comprometidos com a torcida, ou alguma coisa parecida. Agora não, tudo é regrado, tudo tem hora, data marcada, o que dificulta fazer uma coisa inédita, instantânea. Fica mais complicado porque tem o assessor de imprensa para isso”. A organização e a comodidade são alguns dos quesitos mais lembrados pelos assessores para enfatizar a qualidade do serviço prestado. Fora isso, os atletas se queixavam que certos repórteres extravasavam sua liberdade de questioná-los, invadindo suas privacidades. A repórter Eduarda Streb, da RBS TV, concorda que há um fluxo de informação mais ágil, mas afirma que muitas vezes isso não adianta, pois os horários para as coletivas às vezes colidem com o horário que o repórter deve entrar no ar. “Eles devem pensar mais nos horários que a rádio e a TV têm, que são diferentes do deadline de um jornal, por exemplo. O que acontece com isso é que muitas vezes a gente tem de especular, embora a TV não vá muito

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nessa onda, porque não tem um caminho, e ainda não é possível dar aquela informação oficial”, sugere.

O caso colorado A implantação de normas como a escolha de atletas para a coletiva foi experimentada pela Assessoria de Imprensa do Internacional no começo deste ano, sem muito êxito. “Os repórteres reclamaram e a medida estava gerando um certo desconforto com os jogadores que sempre eram selecionados para a conversa com a imprensa”, informa o assessor colorado José Evaristo Villa Lobos, o Nobrinho. Atualmente, os jornalistas têm acesso a qualquer atleta que quiser dar um depoimento. “Nesta questão das restrições impostas quem sai perdendo, na verdade, é só o torcedor, o ouvinte”, opina o repórter André Silva, da Rádio Guaíba. “O repórter não está aqui para falar com o Christian, no Grêmio, ou o Nilmar, no Internacional, enfim, por querer conversar. Está aqui na função de levar informação para quem está assistindo, ouvindo ou quem vai ler os jornais”. A privação de fatos cotidianos dos clubes da capital para o fã do futebol também é a argumentação de Wanderley Nogueira, da Rádio Jovem Pan de São Paulo, para declarar que a relação entre assessoria e jornalistas está distante do ideal. “Até a entrada aos vestiários é dificultada. Tudo bem, desde que possamos entrevistar os personagens da partida depois, mas não é toda vez que (isso) acontece”. Sérgio Schueler coaduna com as reclamações, mas acredita “que as deficiências sejam fruto do pouco tempo que a atividade é exercida no país”. Há jornalistas que são mais veementes em sua posição concernente à assessoria em clubes de futebol. “O assessor é um mero marcador de coletiva. Quando a notícia vaza para alguém é porque, geralmente, o dirigente é amigo do repórter ou do patrocinador”, assegura o comentarista da Rádio Guaíba João Garcia. Nobrinho diz que não cabe responder às acusações de Garcia. “Isso é fofoca, reclamação de “A” e de “B”, não é o pensamento da maioria”. De fato, alguns pensamentos pré-concebidos dos setoristas em relação ao trabalho das assessorias de imprensa, como a preferência para algum veículo em detrimento de outros, se dirimiu com o passar do tempo. “Nunca levei em consideração, pois tenho a consciência tranqüila e

Coletiva organizada pelo Grêmio para anunciar a queda de Adílson e de todo o Departamento de Futebol, após a eliminação no Gauchão

acredito que isso servia muito mais como instrumento de pressão com o intuito de conseguir privilégios em questões futuras”, esclarece Schueler. Além disso, continua o assessor gremista, não haveria razão para esconder nada de ninguém. “As notícias que chegam até a assessoria de imprensa através dos dirigentes são as que podem e devem ser divulgadas. Por exemplo, a contratação de um atleta só é repassada à assessoria quando consumada, e aí sim é divulgada”.

Assessor de clube e do jogador Em um campo com oportunidades cada vez mais ralas, direcionar-se para a assessoria de imprensa de equipes esportivas é um rumo interessante para o jornalista. Porém, a ambição de aumentar a remuneração no final do mês (esquálida, na maior parte da categoria) está causando um transtorno que infringe a ética profissional: há assessores de imprensa que estão acumulando funções. Além de trabalhar no clube, está auxiliando jogadores, técnicos e até torcidas organizadas. É o caso de Fábio Bolla, assessor do Palmeiras e de sete atletas do atual elenco e da Mancha Alviverde, e de repórter da Rádio Nove de Julho, de São Paulo. Em entrevista à Folha de São Paulo, ele confessa que há um conflito de interesses. “Acho até um pouco de falta de ética. Se o Lúcio (seu assessorado) vai mal, o que vou dizer? Não posso falar mal de quem me paga”. Ele promete romper logo com algum contrato para livrar-se desse dilema. O caso de Bolla não é o único. De Rodrigo Paiva, assessor da Seleção Brasileira e do astro Ronaldo Nazário, a assessores de Corinthians, Santos e Vitória, muita gente está dividindo cargos inconciliáveis. Esse fenômeno está

crescendo em escala infinitesimal: Bolla substituiu Acaz Fellegger na assessoria de imprensa do Palmeiras. Fellegger hoje é assistente de gente como Felipão e Alex, ex-Cruzeiro.


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jornalismo investigativo

Outubro de 1982. Chegava às bancas de todo o país, a edição número 648 da revista Placar. Estampada sobre um fundo negro, a manchete: “DESVENDAMOS A MÁFIA DA LOTERIA ESPORTIVA. Tudo sobre uma terrível história de corrupção no futebol brasileiro, envolvendo 125 nomes de jogadores, dirigentes, árbitros, técnicos e personalidades”.

repercussão alcançada por essa que é, talvez, a mais importante reportagem da história da imprensa esportiva no país, começou a ganhar força antes mesmo do fechamento da publicação. Ao ser anunciada, a denúncia se tornou o assunto do momento, gerando inquietação e pânico para alguns dos possíveis suspeitos. “Se meu nome estiver nessa matéria, vou te visitar no necrotério”, ameaçou uma voz anônima do outro lado da linha. A ligação havia sido recebida dentro da redação da Placar pelo repórter Sérgio Augusto Carvalho. Por sorte, a intimidação não foi levada a cabo, mas com o lançamento da revista, seguiram-se novos ataques, dessa vez, com autoria de alguns dos mais de cem nomes citados na reportagem. “Quero ver as provas” protestava Toinho, goleiro do São Paulo e um dos que encabeçavam a lista entregue pelo radialista Flávio Moreira. Em um texto divulgado uma semana depois, Sérgio Martins fez a seguinte alegação “Provar é tarefa que cabe à polícia”. A sua obrigação como repórter já havia sido cumprida. E com sucesso. Depois do baque causado pela publicação da polêmica matéria, a imprensa ficou dividida. Uns tinham dúvidas quanto à veracidade da denúncia, e outros seguiram no embalo, partindo para novas investigações. Mas em um ponto todos concordaram: o futebol brasileiro jamais seria o mesmo. Segue na página 5

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Os placares suspeitos nas partidas que constavam nas apostas da loteria esportiva e a facilidade com que alguns apostadores marcavam 13 pontos, não poderiam ser mera coincidência. Havia uma forte possibilidade de manipulação de resultados. Apesar da enorme desconfiança sobre a existência da máfia da loteria e, inclusive, o andamento de um inquérito na Polícia Federal do Rio de Janeiro, ainda não havia nada que tivesse sido concretamente provado. Depois de um escândalo envolvendo o radialista Flávio Moreira e o presidente do Botafogo, Charles Borer, Juca Kfouri, então diretor de redação da Placar, decidiu que havia chegado o momento de desmascarar o cartel. Mesmo que boa parte da imprensa tenha enxergado nas acusações de Borer mais uma manobra política para ganhar a eleição à presidência do clube, era o que a Placar precisava. Estava aberta a temporada de caça aos zebrões da loteria esportiva. O destino da primeira viagem de Sérgio Martins, o encarregado de tocar a investigação, não poderia ter sido outro se não Brasília. Lá, o repórter acreditava conseguir novas evidências com a colaboração da Caixa Econômica Federal. O objetivo era encontrar os nomes de sortudos que misteriosamente adivinhavam resultados inesperados. Sob o pretexto de que havia necessidade de ordem judicial, funcionários do Setor de Loterias negaram acesso à lista de vencedores. O então superintendente do Setor de Loterias da CEF, Aloísio Arykoerner de Oliveira, explicou que tinha conhecimento de que havia alguma coisa errada. “Mas como provar?”, indagou. A resposta era ao mesmo tempo simples e complicada. Continuar a busca por evidências. Na viagem para Salvador, Sérgio Martins obteve algumas informações importantes e descobriu documentos que indicavam segundas intenções em supostas viagens de negócios. Aziz Domingos, diretor de futebol do Colorado/PR, já havia ficado hospedado por conta de Antônio Visco, presidente do Vitória e um dos freqüentes ganhadores da loteria. Já Flávio Moreira, que dizia ir à Bahia para promover o carnê do rubro-negro, recebia dinheiro do médico Fernando Rosanah, que jamais teve qualquer ligação com o clube. Alguns nomes e endereços começaram a aparecer. Janos Tatrai, José Aldo Pereira, Lélio Borges, Salomão Saadi e um tal de Leon, que trouxe informações sobre um provável grupo do Paraná que manipu-

lava resultados de jogos da Loteria Esportiva. Em Curitiba, Leon ganhou o sobrenome Barg. Tratava-se do proprietário da Casa Sartori, famosa loja de instrumentos musicais e ponto de encontro de alguns suspeitos. Os depoimentos começaram a se repetir, apontando os mesmos nomes de sempre, sendo que dois desses, mereceriam maior destaque: Aziz Domingos, novamente, e José Calazans. Descobriu-se que o primeiro era o líder de uma organização que atuava em diversos estados do país e responsável por montar um esquema que garantiam resultados para os "zebrões" em jogos da Taça de Ouro; já o segundo era peça fundamental dentro desse esquema. As idas e vindas de Sérgio Martins para Santos confirmaram mais algumas suspeitas, e, aos poucos, a máfia da loteria estava sendo desmascarada. Mas ainda havia um porém. Como todos aqueles que davam informações exigiam anonimato, não existia uma fonte que pudesse ser identificada. A solução para esse problema residia em um nome bastante conhecido pela equipe da Placar: Flávio Moreira. Na maior parte de seu longo e arrependido depoimento ele nada mais fez do que confirmar o que repórter já sabia. A conversa durou 9 horas e, numa certa altura, Moreira, que já empilhava uma monstruosa relação de nomes, foi questionado se havia também o envolvimento do centroavante Tadeu Macrini. A resposta veio em forma de suplício, “Ixe! Chega!”. Duas semanas depois do lançamento, Macrini seria acusado publicamente pelo presidente da Francana de ter aceitado suborno do São Paulo. Nesse meio tempo, a edição de número 648 da Placar circulava por todo o país, revelando uma página negra na história do futebol e se tornando referência para futuras investigações no jornalismo esportivo. Uma prática que hoje, infelizmente, se encontra quase extinta.


jornalismo investigativo escândalo da máfia da loteria esportiva foi a grande vitória de uma empreitada da revista Placar, que tinha como objetivo denunciar as mazelas do futebol nacional no início da década de oitenta. Na época, nomes consagrados como Celso Kinjô, Sérgio Martins e Marcelo Rezende reuniram-se ao editor-chefe Juca Kfouri e organizaram uma verdadeira cruzada pela moralização do esporte número um dos brasileiros. Diferente de outras publicações, mais preocupadas com o que acontecia em campo, a equipe pretendia revelar os bastidores do mundo da bola e esmiuçar todos os podres que não chegavam ao conhecimento público. Com o passar dos anos, as denúncias começaram a gerar discussões cada vez mais intensas e a proposta acabou desagradando a direção da revista. Não vendo outra alternativa, Juca Kfouri pediu demissão, pois, segundo ele “A Placar havia deixado de ser um veículo independente” Quando Juca Kfouri fala em veículo independente, ele menciona um dos maiores obstáculos para a prática do jornalismo investigativo na imprensa de um modo geral e, principalmente, na imprensa esportiva. “O que acontece é que no Brasil, o profissional se torna sócio do empresário que comprou o evento e preserva o vendedor” dispara. Antonio Carlos Teixeira, que escreve para o Observatório da Imprensa, defende que mesmo os veículos sem vínculo com o evento em questão também têm suas falhas “Isso pode ser visto no Brasil, quando uma emissora não detém os direitos de certa competição e praticamente a ignora. Não mostra nem os gols”. Ele também confirma o fato de que a empresa que transmite um

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Capa da histórica edição número 648 de Placar que revelava o esquema da máfia da Loteria Esportiva. CianMagentaAmareloPreto

campeonato evita desvalorizá-lo “Na Globo, parece que os profissionais são obrigados a seguir uma cartilha para não atingir o produto que está sendo exibido. Quando uma partida está horrível tecnicamente, percebe-se que o comentarista faz um enorme esforço para dizer o contrário”. Toda essa cautela em cativar o torcedor vai ainda mais além. A imprensa esportiva, acima de qualquer outra, lida com a paixão. Logo, é iminente que, em alguns casos, o jornalista que atua nessa área fique dividido entre informar aquilo que agrada ao público, ou aquilo que ele, na sua função, julga ter maior relevância. Afinal, o torcedor vai preferir acompanhar a repercussão do título do seu time do coração, ou descobrir que o juiz da final foi comprado? “Acho que nem uma coisa nem outra. Devese observar o que é notícia, independentemente se acabará virando alvo de investigação pelo poder judiciário. Nem sempre as denúncias acabam caindo sobre uma mesa de juiz. Ao dar um fato relevante, você já está atendendo ao público” responde Antonio Carlos. Mas mesmo que se faça a acusação de fato, existe ainda outro problema. CARTOLAS E SUAS LIMINARES

“Liminar não prova inocência. Eles são da elite, e a elite brasileira sempre fica impune” - J K UCA

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Analisando-se a saída de Juca Kfouri da Placar, percebe-se que um dos possíveis motivos para que houvesse um desentendimento entre as partes envolvidas foi o significativo aumento da pilha de processos que a revista respondia. Qualquer jornalista que pretenda publicar uma denúncia deve estar preparado para uma situação que funciona de forma lógica. Sempre que alguém recebe uma acusação, alguém se declara inocente. Em alguns casos, de fato, o sujeito pode estar sendo injustamente acusado. Mas a verdade é que, na grande maioria das vezes, nada se pode provar contra ele. E assim, a velha máxima se perpetua: No fim, tudo acaba em pizza. Recorrendo a resposta dada

por Sérgio Martins, em que ele justificou que “Provar é tarefa que cabe á polícia”, voltamos à essência do jornalismo, ou seja, o compromisso com a denúncia. O caso Watergate, por exemplo, foi resultado de exaustivas investigações de dois jornalistas do Washington Post, que revelaram a instalação de aparelhos de escuta eletrônica na sede do Partido Democrata, o que culminou na renuncia de Richard Nixon. Se dois repórteres americanos conseguiram fazer com que Nixon tivesse renunciado, porque o mesmo não acontece com os inúmeros acusados de corrupções e falcatruas no futebol brasileiro? Para Juca Kfouri, a resposta é simples “Nossa Justiça não funciona”. O problema judiciário no país é de conhecimento geral, mas há quem aponte outros problemas para o insucesso de investigações levantadas pela imprensa esportiva. Um deles é o fato de que, muitas vezes, essas denúncias são movidas por rixas de ordem pessoal. Sobre essa questão, Juca Kfouri é enfático “No que me diz respeito, certamente não. Isso é argumento deles, dos cartolas, para desqualificar as acusações. Não teria cabimento ter algo de pessoal contra uma pessoa que eu nem conheço” argumenta. Mas ao contrário do que ele pensa, não são apenas os dirigentes de futebol que defendem essa tese. Segundo Antonio Carlos, a responsabilidade não é apenas do Poder Judiciário. “O problema é que as denúncias nessa área são malfeitas, com apurações medí-

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ocres e motivadas apenas por disputas pessoais. Quando o jornalista enxergar Eurico Miranda, Ricardo Teixeira e Cia. com olhos de profissionais da mídia, acho que esses caras vão ser pegos. Enquanto as investigações forem motivadas apenas por rixas pessoais, nada acontecerá”, diz. Ele ainda acrescenta que as denúncias devem ter embasamento, justamente para que, em suas palavras, “o suposto dirigente canalha não use uma liminar para provar sua inocência”. Juca Kfouri rebate a questão levantada por Antonio Carlos “Liminar não prova inocência. Eles se valem da falta de controle externo do Judiciário. São da elite, e a elite brasileira sempre fica impune. Ou você quer acusações mais bem fundamentadas que as da CPI do Futebol?”. Ele garante que, mesmo depois dos tempos áureos da Placar, ainda são feitas denúncias na imprensa esportiva. “Depois disso, por exemplo, denunciei o esquema entre a CBF e a Nike. A diferença é que antes comandava uma equipe, agora trabalho sozinho”. ÊXODO DE JORNALISTAS ESPORTIVOS PARA OUTROS RAMOS DA IMPRENSA

“As denúncias feitas pela mídia esportiva parecem não ser coisa de polícia ou Ministério Público. Por isso os profissionais migram para outras áreas” - ANTONIO CARLOS TEIXEIRA

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Salvo exceções, a geração da Placar do início da década de oitenta parece não ter deixado herdeiros. Alguns dos integrantes da antiga equipe abandonaram a área de esportes. Marcelo Resende, que foi para a Rede Globo e se destacou por diversas reportagens, com destaque para o caso Ives Mendes, hoje trabalha na Rede Record apresentando o Cidade Alerta. “As denúncias feitas pela mídia esportiva parecem não ser coisa de polícia ou Ministério Público. Por isso, os profissionais migram para outras áreas” explica Antonio Carlos. Outros não querem mais saber de futebol. Sérgio Martins, que se negou a comentar o episódio da loteria esportiva, atualmente trabalha em uma revista de esportes náuticos. Interesses comerciais e políticos, problemas de ordem jurídica, desinteresse e alienação da torcida. Os mesmos obstáculos que deram fim à cruzada da Placar, também são os responsáveis pela atual escassez de denúncias na imprensa esportiva. Além disso, Antonio Carlos insiste em outro fator decisivo, ou seja “a ausência de profissionais comprometidos com essa questão”. Mas admite que existe o ingresso de novos jornalistas dispostos a delatar as mazelas do futebol. “Principalmente na Folha de São Paulo” ressalta. Nesse ponto, ele e Juca estão de acordo, o que nos faz crer que, apesar de todas as adversidades, a cruzada pela moralização do futebol ainda não chegou ao fim.

POR PEDRO ALENCASTRO (OAS@TERRA.COM.BR)


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camisa 8

Scolari

A mesma novela Em face à aterradora estréia de sua seleção na Eurocopa, jornais de Portugal não economizam críticas a Felipão e criam um clima de instabilidade muito similar ao que o treinador enfrentou no início de sua trajetória ao penta POR RAFAEL KASPER (RAFAELKASPER@HOTMAIL.COM) ortugal se encheu de bandeiras, pintou suas cidades, reformou e construiu estádios, e, sobretudo, apostou todas as fichas no sucesso de sua seleção. Mais do que anfitriões esforçados em recepcionar seus visitantes, os portugueses, ao planejarem o campeonato europeu, nunca deixaram de se postular como grandes favoritos ao troféu. A contratação do treinador campeão do mundo, a peso de ouro maciço, foi o primeiro passo do ambicioso projeto. A boa safra de jogadores das quinas oferecia ao selecionador talentos testados, como Figo, e frutos recém brotados, como o promissor Cristiano Ronaldo. A tríade plantel recheado, treinador vencedor e fator local parecia consubstanciar um conjunto infalível. Nessa mesma direção, a vitória do título europeu de clubes pelo FC Porto apenas reforçou o sentimento de otimismo transpirado em todos os cantos do país ibérico. Toda essa preparação espiritual, por assim dizer, faz mais sentido se cogitarmos a existência de um inconsciente coletivo português, complexado com a eterna condição de força coadjuvante no cenário do velho continente – e isso não se aplica ao futebol tão somente. Desenhado o cenário, mais fácil fica a intelecção do sobressalto português após a derrota na partida inaugural, contra a Grécia. Nada mais natural do que a preocupação de uma torcida antes eufórica ao ver seu time perder para o azarão do grupo. O que chamou a atenção foi o discurso de “terra arrasada” adotado pela imprensa e a seqüência de críticas e acusações a Scolari - como eles preferem chamar o treinador. "Queridos leitores, a boa notícia é que o time não tem como piorar. A má é que melhorar talvez não seja suficiente”. O alerta pessimista do jornal A Bola é generoso se comparado à manchete preferida pelo Correio da Manhã, o mais impiedoso de todos. “A vergonha que estava anunciada” alude às modestas atuações de seleção portuguesa nos jogos preparatórios. O fraco rendimento da seleção nas vésperas da

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copa, esquecido por ora em função do pacto nacional pelo objetivo maior, foi de pronto relembrado pela publicação lisboeta: “A exibição portuguesa foi vulgar, na linha do que tem sido o último ano e meio de Luiz Felipe Scolari”. Recordando os precedentes da conquista do treinador com a seleção canarinho, veremos que as semelhanças não param na inconsistência das apresentações classificatórias. Vitor Baía, versão atualizada do “Romário” na vida de Felipão, ao não ser convocado, levantou uma extensa polêmica em torno de seu nome, muito semelhante à que quase levou o técnico a pedir a renúncia à CBF, em 2002. Todas essas fagulhas depreciativas acumuladas durante esse ano e meio, despencaram sob forma de bomba nas contundentes acusações dos jornais portugueses, após o jogo introdutório.

essa leitura, gritando em textos de comentários no site do Correio da Manhã, após a derrota, “brasileiros, vão para casa!”. Mas dos jornalistas se esperava mais comedimento. “O brasileiro que manda na Selecção andou sempre à larga e contou com uma opinião pública e publicada excessivamente amestrada. O resultado vê-se!”. O bombardeio não pára: “Scolari vai, com toda a certeza, levar a sua teimosia até ao fim (...) A verborragia do diário português não poupou nem a própria imprensa, e o “jornalismo dito esportivo” foi tachado de “servil” e interesseiro, supostamente benevolente com as insatisfatórias atuações da seleção no pré-copa.

Em um pulo, da piada para a xenofobia: brasileiros, vão para casa!

As reclamações do corpo jornalístico português em função da teimosia excessiva de Felipão cederam lugar aos discursos epopéicos para mobilizar os portugueses para os confrontos subseqüentes, de vida ou morte. Pela recuperação da seleção portuguesa, os méritos foram divididos entre todos, e de forma desigual. O poder de mobilização da equipe e a união do grupo foram sentidos, mas pouco se escreveu em relação ao papel do técnico. O “Fantástico” estampado no Correio da Manhã, após o jogo contra a Espanha, parece esquecer que as coisas estavam à beira do abismo dias antes e dá contornos de milagre ao que, na verdade, foi resultado de um trabalho de recuperação moral dos jogadores pelo técnico. Mourinho, extreinador do Porto e comentarista do jornal O Jogo, não esconde: “Scolari teve sorte, mas a mereceu”. Em uma tentativa de reconciliação, os jornalistas portugueses entregaram a Felipão uma camisa com assinaturas de todos, antes da dramática vitória contra a Inglaterra, pelas quartasde-final. O treinador aceitou, mas lembrou que “ em um ano e meio é difícil se montar um time”. Todos concordaram. Enquanto Portugal continuar vencendo, todos concordam.

Nos largos espaços dedicados pelos jornais portugueses à Eurocopa liam-se críticas às convicções táticas do treinador, à sua forte personalidade e comentários nitidamente xenófobos de leitores que acabaram mirando não só no técnico, mas em todos os seus compatriotas! Figo, meses antes, já havia reprovado publicamente o chamamento de Deco, um brasileiro naturalizado português. Segundo o jogador do Real Madrid, o caso abria um precedente. Ele ainda arrebatou: “Na seleção do Brasil jamais deixariam jogar um português, nem que fosse o melhor do mundo”. Mesmo com grande parte da torcida e da imprensa ficando ao lado de Deco – ídolo no FC Porto, as declarações de Figo não passaram sem polêmicas. Será que aos olhos de nossos colonizadores a necessidade de vir buscar aqui um treinador para tornar possível o sonho da conquista lá não seria uma demonstração explícita de baixa auto-estima? Os treinadores portugueses sentiram-se desprestigiados. Alguns torcedores corroboraram

“Fantástico”, o enredo muda de cores, de uma hora para outra

Euro 2004 Excelente iniciativa da Rede Record, que tem como afiliada no Estado a Rede Pampa, de transmitir os jogos da Eurocopa 2004. A Rede Pampa foi a única rede que transmitiu os jogos por canal aberto, dando assim oportunidade a todos assistirem a copa do velho mundo. O Mito Luis Felipe Scolari em uma semana passou de BESTA a BESTIAL (a saber, nas terras do Além-Mar, bestial traz uma conotação de gênio) para a imprensa lusitana. O gaúcho é reverenciado agora por seu brilhantismo e pelas suas opções que antes eram chamadas simplesmente de teimosia. Pelo jeito, a imprensa esportiva lusitana não tem apenas o idioma em comum com a nossa, não é? Narração 1 Na partida de volta entre Flamengo e Vitória, válida pelas semifinais da Copa do Brasil, o locutor da Rede Globo, Luis Roberto, narrou a marcação de um lance capital da partida com o entusiasmo de quem anunciava uma cobrança de lateral. Era pênalti para o Vitória... Narração 2 Já na primeira partida das finais da Copa do Brasil, após o gol da equipe do ABC paulista, Galvão Bueno, bem mais entusiasmado que seu colega nas semifinais, narrou “- GOL DO SÃO CAETANO” (a partida era entre Santo André e Flamengo) e continuou – um BELO GOL DE RAMALHO (o gol foi feito por Romerito). E seguiu perguntando ao “Arnaldo” (Arnaldo César Coelho) se o árbitro se comportava bem diante da importante partida. A resposta veio seca: “Wright, Galvão...” O analista de arbitragem daquele jogo era o ex-árbitro da FIFA, José Roberto Wright. Geladeira? Os que pensaram que Jorge Kajuru ficaria muito tempo na geladeira se enganaram. Kajuru no momento passa seu afastamento do trabalho nas gélidas praias do Nordeste... Pobre Kajuru, pobre... Site Em uma devida apropriação, faço minhas as palavras do colega Fabio Severo. “Obino que se cuide, pois esse ano o grêmio.net terá um grande concorrente”. Brincadeiras à parte, esse mês entra no ar o www.olhonolance.com. Aguardem. Pudor? “No Estado, 90% da crônica é vermelha”. Isso foi o que disseram Antonio Augusto (“O Plantão das Multidões”), e João Garcia (nosso colaborador do mês de maio). Partindo dessa premissa, qual será o motivo que a imprensa do Estado tenha tanto pudor em apontar o Colorado como um dos favoritos do Brasileirão. Quando o Grêmio foi eliminado da Copa do Brasil este ano, dizia-se que a equipe da Azenha tinha um time razoável, comparável à equipe do Flamengo, na época muito elogiada pelo seu toque de bola e marcação forte. Ora, quem do time do Grêmio entraria com certeza na equipe colorada? Christian e... o Christian. Sim, somente ele. Temos na Avenida Beira-Rio dez jogadores de maior nível que no Largo dos Campeões, e se o Grêmio é razoável, o Inter é franco favorito, com talvez mais duas ou três equipes... E tenho dito.


fatos do mês

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Quem sabe amanhã? Diário Replay pretendia abocanhar nicho esportivo da capital, mas teve de suspender suas atividades. O Rio Grande que respira futebol é o mesmo que não tem nenhuma publicação diária direcionada para esse tão popular esporte. Aos leitores que se interessam por tudo que há sobre seus times, o único jeito é estar atento às equipes esportivas dos grandes jornais, no caso de Porto Alegre, Correio do Povo, O Sul e Zero Hora, além de algumas páginas na internet dedicadas ao assunto. Diagnosticando esta lacuna no mercado gaúcho, o jovem empresário e acadêmico de Educação Física Rodrigo da Silva decidiu preencher este espaço com um novo negócio, uma publicação que viria a ser o único diário esportivo do Rio Grande do Sul. Surgia o Replay. Com uma proposta audaciosa, 16 páginas e circulação diária, o jornal teve sua primeira

edição em 26 de abril. A equipe formada por quatro jornalistas formados e mais sete estagiários da área, mesmo sem grandes parceiros vinha para tentar mudar a cara do jornalismo esportivo local. O único grande nome presente no jornal era o de Leonardo Meneghetti, diretor de esportes da Band e integrante do diário televisivo Toque de Bola. Meneghetti, além de colunista, prestava também consultoria ao jornal. Com um inicio promissor, o jornal chegou às bancas de jornal da capital e região metropolitana amparada a uma ampla divulgação, feita pela Agência Tauris, responsável também pelo projeto gráfico e agenciamento. O Replay contou com uma grande visibilidade nos diversos programas de esportes da capital. Contudo, a falta de investimentos externos dificultou os trabalhos. “Um jornal diário tem um custo muito elevado, pois é necessário pagar funcionário, impressão, distribuição, estrutura, fotos. Na verdade, o principal investidor foi meu

“Com a consciência de que quem se curva diante dos opressores, mostra o traseiro aos oprimidos”. A célebre frase de Millôr Fernandes foi lembrada pelo jornalista Juca Kfouri, em um artigo ao jornal O Lance!, comentando a demissão do (agora ex) apresentador da Rede Bandeirantes de Televisão, Jorge Kajuru. No início do mês de junho, enquanto apresentava seu programa diretamente do “Mineirão”, onde aconteceu o jogo entre a seleção brasileira e a Argentina, Kajuru não se conteve ao ver deficientes físicos ficarem de fora do estádio, impossibilitados de utilizar um portão que lhes era destinado. Lá passavam, naquele momento, nada mais, nada menos, do que 10 mil convidados de honra do presidente da CBF, Ricardo Teixeira, e do governador de Minas, Aécio Neves. O jornalista não poupou palavras, muito menos nomes, para expressar a sua indignação. Ele falou que voltaria depois do intervalo, e não mais apareceu. O programa tornou a ser apresenta-

pai”, conta Rodrigo. O jornal, apesar de apresentar um material gráfico arrojado, inspirado nas grandes publicações esportivas mundiais como o sarcástico Olé de Buenos Aires e o imponente L'Equipe da França, não contava com muitos anunciantes, o que tornava o jornal insustentável como negócio. Embora a falta de verbas acabasse inviabilizando financeiramente o jornal, não foi esse o principal problema enfrentado. Segundo o responsável pelo projeto, o jornal já tinha negociações bem adiantadas com grandes empresas. A incompatibilidade de horário com a gráfica que fazia a impressão do diário foi o fator decisivo para o encerramento das atividades. “Enfrentamos, principalmente, problemas com a impressão feita pelo Grupo Sinos, devido à diferença de fechamento do nosso trabalho com o deles”, comenta João Paulo Fontoura, ex-repórter do diário. Havia também um sério problema de distribuição, “Os jornaleiros só acreditam em veí-

Rodrigo da Silva, fundador do Jornal Replay

culos lançados pela RBS, Pampa ou Caldas Júnior” complementa Rodrigo. Ele afirma ter sofrido de preconceito. “O problema é que as pessoas são acostumadas a ver os mesmos fazendo a mesma coisa, é preciso quebrar esse paradigma”. Toda essa atmosfera de dificuldades marcou o curto período de vida do Jornal Replay Diário de Esportes do Rio Grande do Sul, que durou um mês.

do diretamente dos estúdios da emissora em São Paulo por um substituto. Diante de uma proposta da emissora de se desculpar pelas duras críticas que fizera ao evento – escusas que deveriam ser dirigidas também ao governador Aécio Neves - Kajuru se negou e acabou demitido. “Você sai sabendo que as portas ainda estão abertas para o seu retorno”, disse o diretor de jornalismo da Bandeirantes, Fernando Mitre, deixando claro que o jornalista teve opção em ficar na Band, mas,

Rodrigo da Silva adverte que o encerramento do diário esportivo é apenas temporário e que embora não tenha nenhuma previsão de retomada dos trabalhos ela é dada como certa. Para isso, o dono do Replay está em busca de parceiros, e não descarta a vinculação do projeto aos grandes grupos midiáticos do Estado. POR CARLINHOS CALOGHERO (CARLINHOSCALOGHERO@HOTMAIL.COM)

por motivos maiores, optou por ir embora. Entre os fatores que desgastaram a sua relação com o canal paulista, pode-se citar a acusação durante o seu programa de lavagem de dinheiro pelo maior patrocinador da emissora. O apresentador disse estar agradecido pela liberdade dada até então, despedindo-se de seus telespectadores deste modo: ”Me dirijo a você, que me assistiu durante esses 14 meses na Band: Muito obrigado por tudo, e, principalmente, por me dar a certeza de que vale a pena ser digno! É isso aí, orgulhosamente volto a ser pobre, feio, mas pelo menos magro. Até a próxima demissão." Até o final desta edição, não se sabia se o apresentador iria para outra emissora. Por enquanto, ele serviu para elevar a audiência de outros canais, participando, inclusive, do Programa do Ratinho, em um quadro similar ao “Tira o Chapéu” do Raul Gil. POR THOMÁS SELISTRE (TOMSELISTRE@YAHOO.COM.BR)

Kajuru, até a próxima demissão!

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merchandising

Colchão, Cerveja, Ferramenta, Pneu, Peixe. Quinquilharias que certos programas esportivos nos enfiam goela abaixo. Slogan confunde-se com informação e jornalista vira garoto-propaganda POR FABIO SEVERO (SEVEROFABIO@TERRA.COM.BR)

m um auditório lotado, a risada histriônica mais conhecida do Brasil reverbera por todos os cantos. “Ra-raêe, quem quer dinheiro, raraêee”. Um senhor de óculos, corpulento, anima-se e começa a bater as pernas, pensando “tomara que o Sílvio pergunte qual a escalação do Mandrulhos de mil novecentos e vinte e seis”. Na fileira acima, um sujeito mirradinho fica se vangloriando para quem quiser ouvir. “Eu não me vendo por nada, nunca faria isso por grana”, mas assim que passa o aviãozinho de dinheiro lançado pelo apresentador discretamente o intercepta e coloca a nota em seu bolso. Bem ao fundo do cenário, longe dos principais holofotes, homens de bombacha e guaiaca torcem desesperadamente para que sejam convidados para estrelar um número ou que algum trocado sobre para eles. Nessa hora, o apresentador pergunta quem sabe imitar um vendedor de peixe, e o homem encorpado sai bufando de sua cadeira e, sem ética alguma, passa pelos adversários, chegando à frente do palco. “Eu sei, eu sei, aliás, imito vendedor de qualquer coisa, topo tudo por dinheiro”. Sua performance é magistral, convincente, porém, constrangedora. Aplausos e apupos misturam-se na platéia. Corta. Outro programa de gosto duvidoso. A situação descrita no primeiro parágrafo representa, alegoricamente, muito do que está acontecendo no panorama dos programas esportivos da televisão brasileira, principalmente os com formato mesa redonda. Os custos de transmissão, o salário as-

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tronômico pago ao âncora e os cachês dados aos convidados encareceram em demasia o orçamento das emissoras. Para continuar a exibição da atração, a saída escolhida foi a venda de espaços dentro do programa para anunciantes que, nem sempre, tem a ver com o mundo esportivo.

O Milton Neves ganha dinheiro de um jeito que eu não aceitaria ganhar. O debate acirrado entre os “puristas”, que almejariam expurgar toda forma de merchandising e os que acham ser um mal necessário o “jabá”, como é conhecido essa forma de propaganda, ganhou uma projeção maior no mês passado com a demissão do polêmico jornalista Jorge Kajuru da Rede Bandeirantes. Kajuru, uma das vozes que se insurgiam com mais freqüência e tonitruância contra os jabás, é desafeto de um dos jornalistas que mais faturam com o merchandising no meio esportivo: Milton Neves, apresentador do Terceiro Tempo, da Rede Record. “O Milton Neves ganha dinheiro de um jeito que eu não aceitaria ganhar. Para ele, tudo na vida é dinheiro. Eu não vejo o mundo assim”, declarou em recente entrevista à Rádio Pampa. Milton, que chama o concorrente de “contumaz predador da alma alheia”, replica. “Eu trabalho 24 horas por dia, ou ele tem inveja ou é o mau-hálito de sua alma”. As relações dos dois está estremecida há algum tempo,

desde a confusão nos estúdios da TV Record, durante a gravação do Programa Raul Gil. Na ocasião, Milton chutou o narrador Silvio Luis, amigo de Kajuru, por não aceitar as críticas recebidas no ar.

Perda de credibilidade A discussão sobre a abertura de espaço para os jabás se amplifica junto aos pesos pesados de nossa imprensa esportiva. Entre os detratores da venda de produtos nos programas, o argumento mais mencionado é a perda de isenção por parte do jornalista. “Jornalistas fazendo comerciais, testemunhais, tiram a credibilidade do programa e mascaram a publicidade, que acaba tomando o tempo do editorial”, alfineta Milton Leite, locutor e apresentador do canal fechado ESPN Brasil. Já o repórter Wanderley Nogueira, da Rádio Jovem Pan-SP e integrante do Mesa Redonda, da TV Gazeta, um dos programas mais antigos do gênero, acredita que deveria existir um número limite de inserções dos testemunhais. “É necessário ter cuidado para que os produtos anunciados não sejam de patrocinadores dos clubes. Não pega bem, é no mínimo desconfortável. E no que diz respeito a estar "atrelado" a uma marca especifica, há casos e casos. Estar ligado a um bingo, por exemplo, não engrandece a carreira de ninguém. Divulgar as vantagens de ser cliente do Banco de Boston, na minha visão, é prova de prestigio e credibilidade.

Crise nas emissoras A ingerência das marcas patrocinadoras dos programas é a

preocupação mais explícita nesses casos. A crise econômica que assola dez entre dez empresas do setor faz com que a dependência aos anunciantes se maximize cada vez mais. Antônio Augusto, da Rádio Pampa, conta que quando começou na Guaíba os programas tinham, no máximo, dois anunciantes. “Hoje em dia, os programas devem colocar uns dez anúncios para ter lucro. As cotas são cada vez menores, pois os anunciantes não têm muito dinheiro. As despesas com locomoção, linhas telefônicas, estadia e diárias encarecem muito as atrações”. A intervenção não ocorre somente na televisão. O vínculo

certos restaurantes. Ele comenta que uma conhecida churrascaria do Rio tem vários repórteres no bolso, que sugerem o local para fazerem algumas entrevistas. “Sendo a foto publicada, ao

Divulgar as vantagens de ser cliente do Banco de Boston, na minha visão, é prova de prestigio e credibilidade.

No programa Toque de Bola, da Rede Bandeirantes, vende-se de emagrecedores a colchões ortopédicos

mais estreito com os financiadores acaba, muitas vezes, impedindo a divulgação de certas notícias ou a deturpação leviana dos fatos no rádio e também nos jornais. Em resposta extraída de um artigo de Marcos Eduardo Neves, o jornalista Roberto Porto diz que cansou de ler reportagens em que, no pé da matéria, havia propagandas de

menos uma boa picanha eles faturam de graça”, zomba. Muitos jornais, inclusive, já perderam comerciais por críticas mais exacerbadas a dirigentes que, contrariados, ligam para seus amigos donos de empresas solicitando que parem de alimentar o jornal com anúncios.

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merchandising Verbo ou verba? Os programas esportivos no formato mesa redonda se confundem com a história da televisão brasileira, e sempre necessitaram do apoio mercadológico dos parceiros privados. Entretanto, com a penúria atual, a situação se agravou. “Não é mais o verbo que manda, e sim a verba”, detona o jornalista Luiz Mendes, também no artigo de Eduardo Neves. “Os donos de empresa dizem que estão no vermelho, que faltam anunciantes, que não podem dar aumento”, explica. A televisão, por ser o único veículo que paga bem seus profissionais, exige mais receitas, sobrevivendo do anunciante, o que gera um círculo vicioso. Paulo Vinícius Coelho, componente do Loucos por Futebol, da ESPN Brasil, formula uma inquietante questão: “Se você vende anúncio,

Há colunistas descarados, que escrevem até sobre técnicos de categoria de base, ilustres desconhecidos como muitos vendem, como vai fazer se um dia se confirmar que a empresa que te paga está envolvida num esquema de corrupção no futebol? É só uma hipótese. Mas se a relação com a fonte já é delicada, se a fonte muitas vezes já pensa que pode receber alguma coisa em troca, o que dizer do anunciante, que paga bem para ter seu anúncio lido?” Roberto Assaf, também do Loucos por Futebol, lembra um episódio de um rapaz que ligou para a redação de um jornal em que trabalhava na época dizendo que certo jornalista era um safado, porque havia dado R$ 2 mil por uma boa nota e o colunista tinha lhe dado somente três linhas. “É normal no meio sabermos que fulano está na mão de dirigente tal. Há colunistas descarados, que escrevem até sobre técnicos de categoria de base, ilustres desconhecidos”, denuncia.

Salário A pergunta que fica é: dá para manter a reputação e a credibilidade ligando-se a uma marca? O jornalista Juca Kfouri, do

CianMagentaAmareloPreto

Lance! e do Cartão Verde (que, até por ser de um canal praticamente estatal, não divulga produtos), um dos símbolos da idoneidade no meio, alega que a característica básica que diferencia o verdadeiro profissional é a independência. "O que existe é uma confusão: não se sabe se o sujeito é jornalista, assessor de imprensa, agente de propaganda, empresário ou marqueteiro de cartola. Principalmente em rádio e TV, que alcançam grandes massas. Tudo por conta das oportunidades de negócio que esses ramos propiciam aos profissionais". Paulo Vinícius Coelho concorda com Juca. “Não vou dizer a um jornalista que está começando para não fazer merchandising. Se o cara precisa do emprego, fica complicado. Mas digo: jornalismo e merchandising são coisas antagônicas. Se o jornalista fala "O Grêmio tem um time fraco" e, em seguida, diz "Bombril tem mil e uma utilidades", o que é informação e o que é slogan? Ok, tem gente que tem bom senso, mas tem gente que não vai dissociar. Jornalista não existe para confundir, mas para informar”, sentencia. A naturalidade para misturar a informação com o jabá só seria válida se houvesse pertinência na mensagem do reclame. Quem afirma é o diretor de arte da Agência Competence, Bruno Boesche Neto. Para ele, o personagem deve se encaixar na comunicação, senão, o público refuta a tentativa de venda. Como explicar então o sucesso de Milton Neves? Garotopropaganda de diversas empresas, Milton recentemente abandonou a cervejaria Schincariol para ser estrela de anúncios da Brahma, uma concorrente. O carisma e a imagem vencedora tornam seu testemunhal um dos mais cobiçados no país. Milton aproveita essas qualidades para faturar alto. O Terceiro Tempo, programa dominical que apresenta todo domingo à noite, faz publicidade de produtos como furadeiras, giletes...A possível transferência dele da Rádio Jovem Pan para a Band-SP acarretaria a ida da Brahma para a outra emissora também.

Jornalismo versus “Showrnalismo” A qualidade do programa esportivo estaria condicionada à preferência ou, se quiser, à neces-

sidade, dos canais apelarem para o merchandising? Por mais que a relação seja, à primeira vista, estapafúrdia, percebe-se que os “programas com jabás” escolhem uma linha editorial que privilegia o humor escrachado dos seus articulistas, as polêmicas inúteis, ao invés da informação, da investigação. Quando o decano jornalista Alberto Helena Jr., hoje colunista do Diário de São Paulo, assumiu

OLHO NO LANCE - N.° 4 - JULHO DE 2004

o posto de Milton Neves no comando do extinto SuperTécnico, na Rede Bandeirantes, a atração naufragou. Mesmo tendo um dos melhores textos do segmento esportivo, Helena não possuía o carisma de Milton para manter os patrocinadores e o público. Será que o espectador prefere esse estilo mais irreverente e mais leniente com a cartolagem à fiscalização, à denúncia? A situação é tão crítica que Kajuru van-

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gloriava-se do Esporte Total não fazer nenhum jabá, enquanto os demais anunciavam produtos que iam de bebidas a furadeiras. Será que essa preocupação não deveria ser a de todos profissionais que zelam por sua imagem? Nesses tempos em que pessoas batem no peito e dizem “ah, eu sou honesto”, como se isso fosse algo sensacional e não uma obrigação, a resposta para a indagação não está nada clara...

Panorama no Rio Grande do Sul Com programas tradicionais no formato de mesa redonda, os órgãos de imprensa esportiva gaúchos também têm a imperiosidade de vender seu nobre espaço para potenciais investidores. O exemplo mais marcante é o Dois Toques, da TV Guaíba. A dificuldade de cobrar cotas caras, até pela baixa audiência, exige a urgência de vários anúncios, deixando o cenário do programa parecendo um balcão de uma mercearia. O Virando a Mesa, da Rede Pampa, apesar de não poluir tanto a bancada, segue o mesmo caminho. Até o diário Toque de Bola, da Rede Bandeirantes, capitaneado por Leonardo Meneghetti, abusa dos testemunhais e abre espaço para contratados das empresas darem o depoimento sobre as vantagens de emagrecedores, pílulas e outros artigos. Ribeiro Neto, integrante do Toque de Bola, esclarece que o fundamental é o equilíbrio, uma vez que o merchandising é uma realidade que não pode ser desprezada. “O que não pode é prejudicar a evolução ou o roteiro do programa e especialmente entrar de forma "agressiva" na casa do telespectador”, ressalta. Ribeiro assegura que avalia antes o produto que desejam que ele faça o testemunhal. Esta postura adequada, muitas vezes, não é posta em prática, principalmente em emissoras menores, devido à imposição do departamento comercial da empresa jornalística. Quem vencerá a batalha? O comercial ou a redação?

Terceiro Tempo – Rede Record Ancorado por Milton Neves, exibido pela Rede Record, é um claro exemplo de excesso de publicidade nesse segmento jornalístico. Criticado pela própria opinião pública, a atração dominical vem mantendo muitos comerciais nas duas horas em que é exibido. No programa do dia 13 de junho, a reportagem do jornal Olho No Lance! cronometrou os espaços comerciais. Na primeira hora, das 22:00min à 22:56min, o que se pode observar é um programa, de fato, com pouca inserção publicitária. Porém, a segunda hora do programa está permeada por intervalos longos e propaganda durante a exibição, em meio aos gols e debates. Comerciais estes, feitos pelo próprio apresentador. 22:00min - 22:56min: Um intervalo de 4’40min. Quatro inserções durante o programa, num total de 5 min.(9’40min) 22:56min- 00:00min: Quatro intervalos, num total de 18’45min. Sete inserções durante o programa, num total de 8’10min (26’55min) Em um total de 2 horas de programa, aproximadamente 37 minutos de publicidade.


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