MEDIAÇÃO ESCOLAR-varios autores

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MEDIAÇÃO ESCOLAR – UMA FORMA DE EDUCAR Psic. Julieta Arsênio (Mediadora) VOLTAR imprimir

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Temos comentado em artigos anteriores o conceito e o procedimento da mediação, porém, temos nos perguntado também, quando se pode utilizar esse procedimento. Todavia, temos que apurar melhor o tema, já que devemos ter em mente, que a mediação não é um procedimento “ mágico ”, que pode ser aplicado em qualquer caso. Na Mediação escolar, consideramos que os mesmos princípios básicos de qualquer processo de mediação, se faz também em conformidade com os desejos das partes envolvidas em conflitos Em assim sendo, recomenda-se a mediação, quando : 1. tem relação que se perpetua no tempo, se quer terminar com o problema, mas não com a relação; 2. as partes querem conservar o controle sobre o resultado; 3. quando as partes compartilham algum grau de responsabilidade pelo estado do conflito; 4. quando existe uma variedade de soluções; 5. quando a disputa não convém a ninguém e nenhuma delas deseja estabelecer um juízo; 6. quando não existe grande desequilíbrio de poder; 7. quando se quer resolver o conflito rapidamente. Por outro lado, não se recomenda a mediação : 1. quando uma das partes quer provar a verdade dos seus feitos; 2. quando se tem princípios inegociáveis; 3. quando se tem interesse punitivo; 4. quando se quer estabelecer precedente legal; 5. quando não se tem interesse em chegar a um acordo, por nenhuma das partes; 6. quando a lentidão do procedimento formal favorecer a uma das partes; 7. quando o autor quer obter somas colossais, como um ganho na loteria; 8. quando existe delito de ação pública ou violência ou maus tratos; 9. quando está revestida por problemas de ordem pública. Nos casos de drogas e uso de armas, a mediação não é aconselhável, porem, as manifestações de violência, aparecem quando não se encontram canais adequados para gerenciar os conflitos. Contudo, a negociação e a mediação, seriam úteis para oferecer aos atores institucionais, ferramentas que permitam evitar chegar a episódios de violências. Acreditamos que, devemos avaliar a possibilidade de implementar a mediação, como uma etapa prévia ao desenvolvimento administrativo escolar, sempre que não está em jogo a ordem pública. Consideramos ainda que, os conflitos gerados por problemas de relacionamentos e de hierarquias num sistema educativo, os processos de negociação e mediação viabilizariam um espaço para recomposição dos vínculos quebrados. Um dos aspectos a considerar no gerenciamento de conflitos, é trabalhar sobre a consciência que as partes tem sobre o conflito, isto é, fazer ver a parte que objetivamente existe um conflito ( se o tem ) ou não existe ( se não o tem ), porque senão não avançamos, até porque uma das partes não o faz porque não sabe qual é o problema e possivelmente ali não tem problemas. Ocorre que muitas vezes as partes estão tão absorvidas pelo conflito que não podem realizar uma leitura objetiva, nesse caso será necessária a presença de um terceiro ( mediador, facilitador ) que ajude as partes a tomar consciência do mesmo e o poder que cada um tem no caso concreto. A negociação e a mediação têm como ferramentas essenciais o dialogo e a escuta que são justamente promovidos nos conflitos educativos. A Mediação Escolar, também considerada uma forma de educar, é também uma das formas em que os mediadores deverão atuar em diferentes áreas, quando estiverem participando do processo de Resolução Alternativa de Disputa – R. A. D.. Tais procedimentos, podem também ajudar na tarefa de formar cidadãos responsáveis, protagonistas críticos, criadores e transformadores da sociedade.


RECURSOS TERAPEUTICOS NO PROCESSO DE MEDIAÇÃO Psic. Julieta Arsênio - Mediadora VOLTAR imprimir

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Na minha vivência com alunos e profissionais que se interessam por mediação, tenho percebido o quanto se torna difícil exemplificar casos reais, sem com isso nos apegarmos em conceitos adquiridos em nossa experiência profissional. Apesar de não termos em nossos consultórios um freqüente atendimento utilizando a mediação, percebo que a cada atendimento que faço, procuro melhorar meu trabalho e dar respostas a uma serie de problemas que a prática me apresenta. Um desses problemas é o de entender, na sua real dimensão, quais são os conflitos propostos pelas partes e encontrar os que realmente são importantes para eles, desvencilhada dos procedimentos terapêuticos utilizados nos meus aconselhamentos, encontrando assim uma forma de construir acordos que satisfaçam as reais necessidades das partes e evitem o ressurgimento, ou o que é pior, o agravamento dos conflitos familiares. Contudo, o que mais tem chamado minha atenção, é o impacto que os possíveis acordos geram nas pessoas, muito mais que a solução para seus conflitos. Este impacto pessoal é transcendental para a aceitação de acordos e talvez esta visão possa nos ajudar em algum momento dos nossos trabalhos. Um mediador parte do principio de que as pessoas percebem o mundo através de diferentes modos, os quais influenciam na forma em que cada pessoa se coloca diante de um conflito. Este principio básico nos permite trabalhar com indivíduos de diferentes visões do mundo, principalmente quando estão em busca da autentica realidade, ou seja, a verdade, onde uma parte poderia estar equivocada e outra não. No entanto, numa mediação as partes procuram evitar uma experiência negativa e avançar na busca de uma experiência positiva. Nosso trabalho é assistir a ambas as partes para encontrarem uma solução aceita conjuntamente desde suas visões do mundo e suas necessidades basicamente diferentes, até alcançar um resultado positivo para ambos. Vejamos um caso por mim atendido ( nomes fictícios ) , onde “ a dignidade está acima de tudo ”. Maria, de 33 anos de idade, estava casada com Jose de 35 anos de idade. Dessa união nasceu um filho, hoje com 6 anos. Estiveram em meu consultório, buscando a mediação, para solucionar um problema em relação à pensão alimentícia do menor. Nesse momento, eles estavam separados consensualmente, há um ano. José estava desempregado, sendo impossível continuar pagando a pensão. Nossos encontros foram bastante tranqüilos, a relação entre eles era boa e nunca tiveram problemas com relação a visitas ao menor, apesar dele não cumprir com sua obrigação de pagar a pensão alimentícia. Na segunda sessão, Maria pede para que José faça um esforço para aumentar a pensão, sustentando que mesmo sendo boa à relação entre eles, ela não gostaria de ficar de braços cruzados vendo seu filho não ter um bem estar melhor ao desejado. Na terceira sessão, José, traz uma proposta a qual era superior àquela referendada por ocasião da separação. Maria, inicialmente, aceitou a proposta, mas fica indignada e duvidosa de como ele iria pagar essa quantia se o mesmo, encontrava-se ainda desempregado. José respondeu que sua mãe pagaria a pensão alimentícia durante os dois primeiros meses, e depois ele se responsabilizaria pela mesma. Nesse momento, Maria diz: “ não estou de acordo, a pensão deve ser paga por ele ”. Trabalhamos terapeuticamente, e em uma sessão privada com Maria descobrimos que: José era filho único e havia se casado com Maria há 9 anos ( ela tinha 24 e ele 26 anos de idade ). Maria em seus relatos sustentava que sua relação conjugal se fazia insustentável devido às inferências que a mãe de José fazia em suas vidas, tornando insuportável o relacionamento, já que ela ( mãe ) considerava Maria “ um ser inferior a seu filho ”.


“ Não estou disposta a expor-me aos demais como mantida por essa senhora, tenho minha dignidade, e talvez essa foi à única coisa que essa senhora não me tirou, mesmo que tenha que morrer de fome com meu filho, não aceitarei esse dinheiro. Ser digna frente ao meu filho é o que realmente me importa, não quero ter de abaixar minha cabeça diante dele ”.

Esse é um dos casos atendido, onde situações como essa, acordados entre as partes, acabam não prosperando em sua aplicação. Pergunto-me: Por que algumas pessoas se mostram tão resistentes diante de propostas criadas por eles e de certa forma vantajosas? No meu entender, a resposta não está somente do lado relacional, ou seja, como é que as partes se visualizam entre si e qual é o estado da dita relação, senão também com o impacto que os acordos podem gerar em diversos âmbitos muito importantes para essas pessoas. Acreditam que mais importante que a solução do problema, é perceber que existem situações que condicionam o acordo ou não, situações que não são apenas a satisfação da necessidade manifesta formalmente. Nesse caso onde – “ minha dignidade é que importa ” – vemos que Maria, apesar de ter a possibilidade de aceitar a proposta vantajosa, preferiu não fazê-lo, procurando manter a sua imagem digna diante de sua família e na imagem que seu filho teria dela. Maria deixou de se preocupar com o acordo ( problema que os levaram a mediação ) e tem centrado sua atenção no impacto que este traria. Esse desfecho, me dá maior clareza que, diante de situações como essa, devo buscar e aplicar técnicas e procedimentos apropriados. Situações que pertencem à esfera dos aspectos pessoais dos mediados são muito importantes e tem que levar em conta aspectos até então desconhecidos para obtermos êxito em nossos procedimentos de mediação. Psic. Julieta Arsênio – CRP. 08/0271 Mediadora

Mediação Escolar Uma metodologia de aprendizado em administração de conflito∗

Maria dio Céu Lamarão Battaglia mediadora – orientadora vocacional psicoterapeuta – terapeuta de família mclb@pobox.com


A mediação é um processo não adversarial de resolução de conflitos. Em decorrência do aumento crescente de litigiosidade, que dia a dia vem sobrecarregando a justiça e da grande demora por parte da mesma em solucionar os casos, a mediação como alternativa aos processos judiciais, vem ganhando terreno como um recurso alternativo a resolução de disputas. Devido a este mesmo fato, com um objetivo profilático, amplia-se o campo de atuação da mediação para a educação. Considerando a escola como instituição que objetiva a educação cultural e social do homem, a mediação escolar se coloca como um convite à aprendizagem e ao aperfeiçoamento da habilidade de cada um na negociação e resolução de conflito, baseada no modelo "ganha-ganha", onde todas as partes envolvidas na questão saem vitoriosas e são contempladas nas resoluções tomadas. Por que os métodos utilizados anteriormente não satisfazem mais na atualidade? Algumas mudanças importantes ocorreram nas relações interpessoais e hierárquicas nos últimos 30 anos. Por um longo período de tempo, as relações se deram no sentido da força, submissão, medo e obediência. Os conflitos eram administrados tomando-se como referência pessoas critério que possuíam o comando ou o poder de decisão graças à sua posição hierárquica. Os fatos eram apresentados a elas para que fossem julgados e uma decisão determinada. Este lugar poderia ser ocupado por um chefe de família, uma pessoa mais velha, um professor ou assim por diante. Devido à maior rigidez moral e à clara dicotomia entre o bem e o mal, os norteadores evidenciavam o certo e o errado de tal forma que dificilmente podiam ser contestados. Desta forma, viemos de uma cultura de litígio, onde em qualquer disputa existia um ganhador e um perdedor. A tarefa do encarregado de "julgar" a causa era apenas a de, por meio do bom senso, da moral e dos bons costumes, determinar quem estaria com a razão. O cenário que se apresenta hoje em relação ao conflito sofreu fortes alterações. A verticalidade das hierarquias se estreitou. Os conceitos de certo e errado se relativizaram. A tendência ao individualismo e a ilusão da autonomia levaram o homem às disputas que objetivam defender apenas os próprios interesses. Se faz necessário hoje então a utilização de uma metodologia de resolução de conflito que convide cada parte envolvida a participar e a tomar para si sua cota de responsabilidade na decisão selada. Diferente da posição anterior, atualmente a busca remete ao consenso. O primeiro passo a ser dado diz respeito à redefinição de conflito. Tomando como exemplo a cultura oriental, podemos observar que o oriental não bloqueia a energia do outro, como ocorre em um julgamento onde cada um defende sua posição. Ele aproveita a energia do outro para conseguir o que quer. É exatamente esta inclusão do outro no projeto, esta consideração do outro, levando em conta suas necessidades para satisfazer as próprias, que denota a diferença primordial de postura frente à nossa cultura. Enquanto os orientais submergem na experiência para compreender e vivem o processo, nós nos distanciamos para melhor observar de fora. Para o oriental, passar do sim ao não, não representa nenhum problema. Para nós, significa retratação, contradição, fraqueza e insegurança. Talvez seja este o maior impasse que o mediador possa se defrontar no papel de facilitador do processo. Desta forma, ressaltamos que redefinir a noção de conflito implica no reconhecimento do mesmo como uma parte da vida que pode ser utilizada como oportunidade de


aprendizagem e crescimento pessoal. Considerando-se que o conflito é inevitável, a aprendizagem da habilidade em resolvê-los torna-se tão educativa e essencial quanto a aprendizagem da matemática, história, geografia, etc., sendo que, na maioria das ocasiões, as próprias crianças podem resolver seus conflitos de maneira tão adequada quanto com o auxílio dos adultos. Isso nos direciona a construir um programa dirigido à área da educação que objetive implementar habilidades em gerenciamento de conflito. Estes programas tem por objetivo desenvolver alguns pontos chaves: a. Desenvolver uma comunidade na qual os alunos desejem e sejam capazes de uma comunicação aberta. b. Ajudar os alunos a desenvolverem uma compreensão melhor da natureza dos sentimentos, capacidades e possibilidades humanas. c. Ajudar os alunos a compartilharem seus sentimentos e serem conscientes de suas próprias qualidades e dificuldades. d. Ajudar cada aluno a desenvolver autoconfiança em suas próprias habilidades. e. Ajudar o aluno a pensar criativamente sobre os problemas e começar a prevenir e solucionar conflitos. Desta forma, o currículo voltado para resolução de conflito, já bastante utilizado em diferentes países, tem como objetivo, por um lado oferecer aos alunos uma compreensão teórica sobre conflito e sobre os procedimentos para resolvê-lo e por outro, a experiência prática necessária para converterem-se em adultos flexíveis, práticos e efetivos. Sobretudo, criar um clima escolar de não violência em sua totalidade cujo marco seja o ensino e o favorecimento de meios pacíficos na resolução de conflitos. Não podemos esquecer que um mau gerenciamento de conflito pode levar à incompreensão, ao ódio, à perda da amizade, à agressão e à violência. Currículo No currículo dedicado à capacitação em mediação são trabalhadas através de jogos de papéis e conflitos simulados, algumas habilidades como: reconhecimento, expressão e respeito às emoções, controle da impulsividade, manejo da raiva, escuta ativa, comunicação eficaz e técnicas de resolução de problemas. Durante as aulas curriculares exercita-se: • • • • •

Cooperação (confiar, ajudar e compartilhar com os demais em trabalhos conjuntos) Comunicação (observar cuidadosamente, comunicar-se com precisão e escutar sensivelmente) Apreço pela diversidade (apreciar e respeitar as diferenças, entender o preconceito e como ele funciona) Expressão positiva das emoções (expressar sentimentos de raiva e frustração de forma não agressiva e não destrutiva, autocontrole) Resolução de conflitos (aprimorar a habilidade em responder criativamente aos conflitos no contexto de uma comunidade humanitária e de apoio)


Numa situação cotidiana de sala de aula, que tenha como objetivo o aprendizado em gerenciamento de conflito, torna-se importante que a maioria das situações de aprendizagem se estruturem de forma cooperativa, onde os estudantes trabalhem em pequenos grupos, nos quais tenham a responsabilidade de aprender a matéria especificada. Além disso, compete a eles que o resto dos membros do grupo também aprenda. Os professores podem utilizar os conflitos nas lições acadêmicas para promover a motivação e um nível maior de racionalidade que conduza a melhores resultados acadêmicos. Esta experiência leva os estudantes a experimentarem as conseqüências positivas do conflito e aumentarem a atitude positiva em relação ao mesmo. As controvérsias se resolvem discutindo-se as vantagens e desvantagens de cada posição. O objetivo das discussões é o de sintetizar uma solução nova através do processo criativo de resolução de problemas. Desta forma e de muitas outras, podemos exercitar as habilidades necessárias à competência em solucionar conflitos de maneira produtiva e construtiva nos mais diferentes momentos da vida escolar. Esta abordagem fundamenta-se em um marco teórico Compreensivo Humanista Integrativo (CHI) que nos leva a formular questões como: "Por que ocorrem estas condutas?", "Qual a lógica da aparição destas atitudes?", "Seriam as fontes do conflito endógenas ou exógenas?", "Que faz a escola com estes fatores potencializadores de conflito?"... Hipóteses a serem exploradas Diversos fatores podem estar contribuindo para a existência do conflito, isoladamente ou de forma combinada. Examinaremos agora alguns dos fatores que ocorrem com maior freqüência. 1. Sinais de mal estar: Pode estar ocorrendo alguma forma de mal estar que afete diretamente o aluno. Sua origem pode se localizar no âmbito social, socioeconômico, cultural, familiar ou mesmo na própria escola. Além disso estes diferentes fatores podem potencializar-se entre si. 2. Multicausalidade: As causas do conflito se subdividem entre fatores exógenos, que se localizam fora da escola, ou fatores endógenos, que se localizam dentro da escola. Exógenos: a- ambiente socioeconômico b- necessidade básica insatisfeita c- ambiente sociocultural d- família


e- baixa autoestima Endógenos: a- clima institucional b- atitudes dominantes nas autoridades c- grupo de colegas 3. Grupo de colegas: Neste caso, a observação e o cuidado se voltam ao grau e à qualidade da vinculação. Num grupo pouco saudável, ocorre a presença de situações de discriminação, chantagem afetiva, elitismo, autoritarismo, agressão e competição. Já num grupo saudável, encontraremos uma maior facilidade de comunicação, maior aceitação entre as partes, reconhecimento mútuo e estímulo ao crescimento de seus membros. Atitudes estas que previnem situações de conflito ou oferecem uma maior fluidez na resolução dos mesmos. Conclusão Os avanços da atualidade trazem algumas conseqüências diretas em nossas vidas. Umas boas outras não tão benéficas. Entretanto é indubitável o fato de que não podemos parar o tempo nem o desenvolvimento da ciência. Devemos sim, construir em paralelo novas maneiras de lidar melhor com as situações inusitadas que se apresentam. Juntos certamente descobriremos e construiremos ferramentas mais completas e apropriadas, principalmente porque juntos poderemos exercitar o que há de mais essencial ao bem estar humano em nossas relações: as atitudes de empatia, congruência e aceitação positiva incondicional. Para cada nova descoberta científica, nova invenção tecnológica, nova transformação cultural, inventaremos uma nova maneira também de superação e aprimoramento pessoal. Desta forma, acreditamos que, a mediação é na verdade uma nova maneira de recriar um espaço de aprendizagem de antigos valores. Valores essenciais ao bem estar, felicidade e harmonia do Homem.

MEDIAÇÃO. QUAL A SUA IMPORTÂNCIA? Maria do Céu Lamarão Battaglia


O aprendizado que a Mediação oferece contribui em muito na formação do indivíduo como cidadão responsável por seus atos e conseqüências concomitantes.

O que é, e qual a importância da Mediação nos dias atuais? A Mediação como técnica, é um recurso de resolução de conflito alternativo ao judiciário. Nos dias atuais, onde nos deparamos diariamente com conflitos de todas as espécies e graus, este recurso nos oferece uma alternativa extremamente promissora de encontrar um meio de convivência mais harmonioso, que busca criar novas formas de integrar diferenças. Quais são os aspectos mais importantes da Mediação? Sua importância primordial deve-se ao aprendizado das partes em litígio em resguardar para si a autoria da construção das soluções dos conflitos, não a delegando a um terceiro. Além do que, propicia maior rapidez e efetividade da execução das decisões tomadas; redução de desgaste emocional e financeiro; privacidade e sigilo; redução da duração e reincidência de litígios; facilitação da comunicação entre as pessoas e promoção de ambientes cooperativos tendo como desdobramento a melhoria geral das relações. Qual é a aplicabilidade da Mediação na escola? A escola é um excelente espaço de introdução deste aprendizado. Além de auxiliar na forma de convivência diária entre as pessoas que lá estão, proporciona um aprendizado aos jovens alunos que possibilita um desdobramento futuro bastante interessante. Estes alunos, descobrindo uma nova maneira de lidar com conflitos na escola, irão indubitavelmente levar para além dos muros da instituição este aprendizado, passando eles mesmos a multiplicadores do recurso. As escolas brasileiras recorrem aos serviços de Mediação? Como a Mediação é um instrumento extremamente novo no Brasil, ela tem sido divulgada por pequenos grupos em todas as áreas de aplicação. Entretanto ainda não é um recurso conhecido popularmente. Inclusive, muitos profissionais de áreas afins não sabem exatamente o que é Mediação como uma técnica estruturada. Por vezes utilizam o termo e se dizem mediadores no senso comum. Tenho conhecimento apenas de atuações breves neste sentido em poucas escolas no Rio de Janeiro. Podemos afirmar que o Mediador é um administrador de conflitos, um facilitador das relações? Sem dúvida que sim, mas ele é muito mais que isso. Todos nós conhecemos pessoas que naturalmente possuem esta habilidade. Entretanto, a Mediação à qual me refiro, é uma técnica que requer um estudo profundo e horas de prática e dedicação para formar um profissional competente. É também o papel do Mediador promover debates e resoluções nos conflitos familiares, escolares, comunitários e organizacionais? O trabalho de Mediação não se realiza através de debates. Apenas a divulgação de sua existência. Porém a Mediação pode e deve ser utilizada em qualquer espaço de convivência onde aconteça qualquer tipo de conflito desde que as partes em discórdia se disponham a colaborar. Pode ser utilizada com excelentes resultados nas comunidades, instituições, famílias, empresas, questões trabalhistas e comerciais (nacionais e internacionais), impasses políticos, étnicos, etc. Este recurso já é amplamente utilizado em diversos países sendo que em alguns deles à mais de 30 anos. Existe um curso para tornar-se Mediador?


Sim. Existem cursos de formação em diferentes estados do Brasil. O CONIMA, Conselho Nacional das Instituições de Mediação e Arbitragem é o órgão que fiscaliza a qualidade dos cursos de formação e cuida das normas éticas da profissão. Qual a relação entre Mediação e cidadania? O aprendizado que a Mediação oferece contribui em muito na formação do indivíduo como cidadão responsável por seus atos e conseqüências concomitantes. Ele valoriza a responsabilidade de cada um, a apropriação das escolhas pessoais, o respeito a si e ao outro, a aceitação do diferente, a cooperação e a tolerância. Publicado em 22/06/2004 10:17

MEDIAÇÃO ESCOLAR - UMA METODOLOGIA DE APRENDIZADO EM ADMINISTRAÇÃO DE CONFLITO Maria do Céu Lamarão Battaglia

A mediação é um processo não adversarial de resolução de conflitos. Em decorrência do aumento crescente de litigiosidade, que dia a dia vem sobrecarregando a justiça e da grande demora por parte da mesma em solucionar os casos, a mediação como alternativa aos processos judiciais, vem ganhando terreno como um recurso alternativo a resolução de disputas. Devido a este mesmo fato, com um objetivo profilático, amplia-se o campo de atuação da mediação para a educação. Considerando a escola como instituição que objetiva a educação cultural e social do homem, a mediação escolar se coloca como um convite à aprendizagem e ao aperfeiçoamento da habilidade de cada um na negociação e resolução de conflito, baseada no modelo “ganha-ganha”, onde todas as partes envolvidas na questão saem vitoriosas e são contempladas nas resoluções tomadas. Por que os métodos utilizados anteriormente não satisfazem mais na atualidade? Algumas mudanças importantes ocorreram nas relações interpessoais e hierárquicas nos últimos 30 anos. Por um longo período de tempo, as relações se deram no sentido da força, submissão, medo e obediência. Os conflitos eram administrados tomando-se como referência pessoas critério que possuíam o comando ou o poder de decisão graças à sua posição hierárquica. Os fatos eram apresentados a elas para que fossem julgados e uma decisão determinada. Este lugar poderia ser ocupado por um chefe de família, uma pessoa mais velha, um professor ou assim por diante. Devido à maior rigidez moral e à clara dicotomia entre o bem e o mal, os norteadores evidenciavam o certo e o errado de tal forma que dificilmente podiam ser contestados. Desta forma, viemos de uma cultura de litígio, onde em qualquer disputa existia um ganhador e um perdedor. A tarefa do encarregado de “julgar” a causa era apenas a de, por meio do bom senso, da moral e dos bons costumes, determinar quem estaria com a razão. O cenário que se apresenta hoje em relação ao conflito sofreu fortes alterações. A verticalidade das hierarquias se estreitou. Os conceitos de certo e errado se relativizaram. A tendência ao individualismo e a ilusão da autonomia levaram o homem às disputas que objetivam defender apenas os próprios interesses. Se faz necessário hoje então a utilização de uma metodologia de resolução de conflito que convide cada parte envolvida a participar e a tomar para si sua cota de


responsabilidade na decisão selada. Diferente da posição anterior, atualmente a busca remete ao consenso. O primeiro passo a ser dado diz respeito à redefinição de conflito. Tomando como exemplo a cultura oriental, podemos observar que o oriental não bloqueia a energia do outro, como ocorre em um julgamento onde cada um defende sua posição. Ele aproveita a energia do outro para conseguir o que quer. É exatamente esta inclusão do outro no projeto, esta consideração do outro, levando em conta suas necessidades para satisfazer as próprias, que denota a diferença primordial de postura frente à nossa cultura. Enquanto os orientais submergem na experiência para compreender e vivem o processo, nós nos distanciamos para melhor observar de fora. Para o oriental, passar do sim ao não, não representa nenhum problema. Para nós, significa retratação, contradição, fraqueza e insegurança. Talvez seja este o maior impasse que o mediador possa se defrontar no papel de facilitador do processo. Desta forma, ressaltamos que redefinir a noção de conflito implica no reconhecimento do mesmo como uma parte da vida que pode ser utilizada como oportunidade de aprendizagem e crescimento pessoal. Considerando-se que o conflito é inevitável, a aprendizagem da habilidade em resolvê-los torna-se tão educativa e essencial quanto a aprendizagem da matemática, história, geografia, etc., sendo que, na maioria das ocasiões, as próprias crianças podem resolver seus conflitos de maneira tão adequada quanto com o auxílio dos adultos. Isso nos direciona a construir um programa dirigido à área da educação que objetive implementar habilidades em gerenciamento de conflito. Estes programas têm por objetivo desenvolver alguns pontos chaves: a)Desenvolver uma comunidade na qual os alunos desejem e sejam capazes de uma comunicação aberta. b)Ajudar os alunos a desenvolverem uma compreensão melhor da natureza dos sentimentos, capacidades e possibilidades humanas. c)Ajudar os alunos a compartilharem seus sentimentos e serem conscientes de suas próprias qualidades e dificuldades. d)Ajudar cada aluno a desenvolver autoconfiança em suas próprias habilidades e)Ajudar o aluno a pensar criativamente sobre os problemas e começar a prevenir e solucionar conflitos. Desta forma, o currículo voltado para resolução de conflito, já bastante utilizado em diferentes países, tem como objetivo, por um lado oferecer aos alunos uma compreensão teórica sobre conflito e sobre os procedimentos para resolvê-lo e por outro, a experiência prática necessária para converterem-se em adultos flexíveis, práticos e efetivos. Sobretudo, criar um clima escolar de não violência em sua totalidade cujo marco seja o ensino e o favorecimento de meios pacíficos na resolução de conflitos. Não podemos esquecer que um mau gerenciamento de conflito pode levar à incompreensão, ao ódio, à perda da amizade, à agressão e à violência. Currículo No currículo dedicado à capacitação em mediação são trabalhadas através de jogos de papéis e conflitos simulados, algumas habilidades como: reconhecimento, expressão e respeito às emoções, controle da impulsividade, manejo da raiva, escuta ativa, comunicação eficaz e técnicas de resolução de problemas. Durante as aulas curriculares exercita-se: -Cooperação (confiar, ajudar e compartilhar com os demais em trabalhos conjuntos) -Comunicação (observar cuidadosamente, comunicar-se com precisão e escutar sensivelmente)


-Apreço pela diversidade (apreciar e respeitar as diferenças, entender o preconceito e como ele funciona) -Expressão positiva das emoções (expressar sentimentos de raiva e frustração de forma não agressiva e não destrutiva, autocontrole) -Resolução de conflitos (aprimorar a habilidade em responder criativamente aos conflitos no contexto de uma comunidade humanitária e de apoio) Numa situação cotidiana de sala de aula, que tenha como objetivo o aprendizado em gerenciamento de conflito, torna-se importante que a maioria das situações de aprendizagem se estruturem de forma cooperativa, onde os estudantes trabalhem em pequenos grupos, nos quais tenham a responsabilidade de aprender a matéria especificada. Além disso, compete a eles que o resto dos membros do grupo também aprenda. Os professores podem utilizar os conflitos nas lições acadêmicas para promover a motivação e um nível maior de racionalidade que conduza a melhores resultados acadêmicos. Esta experiência leva os estudantes a experimentarem as conseqüências positivas do conflito e aumentarem a atitude positiva em relação ao mesmo. As controvérsias se resolvem discutindo-se as vantagens e desvantagens de cada posição. O objetivo das discussões é o de sintetizar uma solução nova através do processo criativo de resolução de problemas. Desta forma e de muitas outras, podemos exercitar as habilidades necessárias à competência em solucionar conflitos de maneira produtiva e construtiva nos mais diferentes momentos da vida escolar. Esta abordagem fundamenta-se em um marco teórico Compreensivo Humanista Integrativo (CHI) que nos leva a formular questões como: “Por que ocorrem estas condutas?”, “Qual a lógica da aparição destas atitudes?”, “Seriam as fontes do conflito endógenas ou exógenas?”, “Que faz a escola com estes fatores potencializadores de conflito?”... Hipóteses a serem exploradas Diversos fatores podem estar contribuindo para a existência do conflito, isoladamente ou de forma combinada. Examinaremos agora alguns dos fatores que ocorrem com maior freqüência. 1-Sinais de mal estar: Pode estar ocorrendo alguma forma de mal estar que afete diretamente o aluno. Sua origem pode se localizar no âmbito social, socioeconômico, cultural, familiar ou mesmo na própria escola. Além disso estes diferentes fatores podem potencializarse entre si. 2-Multicausalidade: As causas do conflito se subdividem entre fatores exógenos, que se localizam fora da escola, ou fatores endógenos, que se localizam dentro da escola. Exógenos: a- ambiente socioeconômico b- necessidade básica insatisfeita c- ambiente sociocultural d- família e- baixa autoestima Endógenos: a- clima institucional b- atitudes dominantes nas autoridades c- grupo de colegas 3-Grupo de colegas: Neste caso, a observação e o cuidado se voltam ao grau e à qualidade da vinculação. Num grupo pouco saudável, ocorre a presença de situações de discriminação, chantagem afetiva, elitismo, autoritarismo, agressão e competição. Já num grupo saudável, encontraremos uma maior facilidade de comunicação, maior aceitação entre as partes, reconhecimento mútuo e estímulo ao crescimento de seus


membros. Atitudes estas que previnem situações de conflito ou oferecem uma maior fluidez na resolução dos mesmos. Conclusão Os avanços da atualidade trazem algumas conseqüências diretas em nossas vidas. Umas boas outras não tão benéficas. Entretanto é indubitável o fato de que não podemos parar o tempo nem o desenvolvimento da ciência. Devemos sim, construir em paralelo novas maneiras de lidar melhor com as situações inusitadas que se apresentam. Juntos certamente descobriremos e construiremos ferramentas mais completas e apropriadas, principalmente porque juntos poderemos exercitar o que há de mais essencial ao bem estar humano em nossas relações: as atitudes de empatia, congruência e aceitação positiva incondicional. Para cada nova descoberta científica, nova invenção tecnológica, nova transformação cultural, inventaremos uma nova maneira também de superação e aprimoramento pessoal. Desta forma, acreditamos que, a mediação é na verdade uma nova maneira de recriar um espaço de aprendizagem de antigos valores. Valores essenciais ao bem estar, felicidade e harmonia do Homem. Publicado em 01/06/2004 15:06:00

Maria do Céu Lamarão Battaglia - Psicóloga pela USU. Mestre em terapia de família pela UFRJ. Pós

graduada em: terapia de família sistêmica construtivista, facilitação de grupos e psicoterapia no CPP, mediação pelo mediare fazendo parte também de seu corpo de mediadores. Professora. Supervisora. Orientadora vocacional desde 1985.

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PRÁTICAS INCLUSIVAS NO AMBIENTE ESCOLAR.

Elizabeth

POLITY.

A instituição escolar vem mudando ao longo das mudanças sociais e do mundo. É uma transformação em cadeia, em rede. E para fazer frente a elas, os profissionais de Educação precisam constantemente buscar respaldo no exercício diário e no processo recursivo do seu fazer para estar em constante movimento de adaptação. Na tentativa de fazer frente às diversas demandas que sur-gem e de melhor atender a população de alunos com os quais trabalhamos, surgiram duas propostas que operam como co-adjuvantes do trabalho escolar: A mediação escolar e o trabalho de Acompanhamento Individual Diferenciado.

I- MEDIAÇÃO ESCOLAR: UMA ESPERANÇA PARA A CULTURA DA PAZ


Estendendo as fronteiras das intervenções sistêmicas para alem do âmbito clínico, passamos a observar, alem das pessoas e do ambiente, a interação entre eles. Nesse contexto, a mediação escolar - processo que procura focar as relações e os conflitos que surgem entre os sujeitos - é hoje a grande esperança de diminuir a violência na sociedade e desenvolver uma cultura de paz. Através de colegas da área, tem-se notícia de que estão sendo criados espaços dentro das comunidades, seja nos conselhos de classe, seja nas escolas, seja nos centro de vizinhos, para discutir e resolver os conflitos da convivência , entre eles, as diferenças culturais, de religião, de idade, de idéias e pensamentos. Pois, a Mediação, especialmente em casos de delinqüência juvenil, é imprescindível para poder reintegrar esses jovens a sua família , e ambos na comunidade. Na Instituição Escolar, este procedimento tem-se mostrado especialmente válido no que tange a aprender a trabalhar com diferentes formas de pensar/sentir/agir sem sentir-se desrespeitado ou ameaçado pelo novo ou pelo que é diferente, ao mesmo tempo que mostra outras possibilidade de trabalhar com as desavenças. Perceber o outro e perceber-se em contexto, podendo entender que diferenças não são o mesmo que desigualdades. Estes são alguns princípios norteadores do trabalho do mediador, que busca uma solução construída em conjunto para resolver os impasses que surgem no dia a dia. Entendemos que é necessário criar, dentro das escolas, onde convivem e trabalham seres humanos, com toda sua complexidade, formas para que as pessoas resolvam entre si os conflitos que naturalmente surgem na disputa sobre idéias, objetos ou pessoas. Porque um sistema vivo é um sistema em permanente conflito, em luta para resolver suas diferenças, que tanto podem ajudá-lo a crescer, como a paralisá-lo. Em diversas situações do dia a dia, os alunos são chamados a examinar suas diferenças e tentar construir soluções que sejam funcionais para todos os envolvidos. Nestas ocasiões, eles são acompanhados por um de nossos profissionais que os ajudam a perceber o outro, a ter empatia, a relativizar seus pontos de vista e assim poder encontrar meios não violentos para resolverem seus conflitos. O diálogo e a convicção que todos merecem ser ouvidos e têm direito a uma opinião - ainda que diferente - é assegurado pelo mediador. Aprende-se assim, a mudar a perspectiva que existe uma só resposta para cada questão ou um só ponto de vista correto. O mediador pode dar as técnicas necessárias para desenvolver acordos que tirem o sistema da disputa, porém, é muito mais importante criar uma mudança de mentalidade nos alunos, onde eles próprios aprendam a retomar para si a responsabilidade de resolver seus próprios conflitos. E como mudar é desaprender, buscam-se, que soluções violentas sejam desaprendidas e paulatinamente substituídas por outras mais respeitosas no repertório relacional de nossos alunos.

II- ACOMPANHAMENTO INDIVIDUAL DIFERENCIADO Incluir o aluno com necessidades especiais demanda, muitas vezes, a continua presença de algum profissional que o acompanhe em todas as atividades pedagógico/educacionais, dentro do ambiente Institucional. O sistema de Acompanhamento Individual Diferenciado, por nós adotado e também conhecido como tutoria, coloca o professor como aquele que vai ajudando a resignificar histórias de vulnerabilidade e a desenvolver a capacidade de criar


contextos de confiança, entre ele e o seu aluno. Este acompanhamento visa, alem do atendimento da área pedagógica, dar suporte emocional ao aluno, formando com ele um vínculo inicial que muito se assemelha ao trabalho de maternagem. Conforme citei anteriormente (Polity,1997), este trabalho deve ser feito pelo professor suficientemente bom, aquele que vai aceitar o aluno como ele é, oferecendo o holding e a continência tão necessários para seu desenvolvimento. É quem vai validar seus desejos, suas crenças e valores, ao mesmo tempo que possibilita trabalhar com suas dificuldades e assim poder (re)conhecê-lo como sujeito aprendente e individual. São qualidades desse acompanhante: o interesse pelo desenvolvimento do sujeito, o respeito pela suas competências, a disponibilidade para a orientação e o incentivo ao seu trabalho. Alem, da "atenção plena", definida como a percepção das próprias reações, sentimentos e pensamentos do professor e das de seu aluno, no registro de expressões verbais e não verbais, que permeiam este encontro e dão subsídios tão importantes para este relacionamento, quanto são as questões objetivas de conteúdo e de conceitos intelectuais. É encantador perceber que podemos viver em diferentes níveis de realidade. No lugar do julgamento ou da interpretação, perguntas e estímulos ajudam a construir o complexo e estimulante processo de caminhar juntos. A curiosidade e a crença no potencial do outro levam-nos a perguntar para compreender: O que o aluno fala? De onde ele fala? Com quem? Como? Para quem? Quem são seus interlocutores? Pois as perguntas mostram-se muito úteis e ampliadoras, neste processo de dar continência às necessidades de cada aluno, criando projetos específicos para seu desenvolvimento global.

A Mediação em Acção na EB2 FAB - Benedita Elsa Dulce Ferreira Portugal

9-2-02

Lugar de la experiencia: Escola Básoca 2 Frei António Brandão, Alcobaça, Portugal A presente comunicação, tem como objectivo descrever as actividades programadas (já realizadas, ou a realizar, num futuro próximo), tendo em vista a consecução dos objectivos do Clube de Mediação Escolar, uma das actividades extracurriculares constan-tes do Plano de Actividades da Escola Básica 2 Frei António Brandão, sede do Agru-pamento Vertical de Escolas da Benedita, concelho de Alcobaça. O referido Clube surgiu na sequência da participação deste estabelecimento de ensi-no, como escola piloto, no Projecto Internacional GESPOSIT, entre Setembro de 2000 e Agosto de 2001, período em que vigorou um protocolo com a Universidade Aberta, Coordenadora do Projecto, a nível nacional e internacional. O GESPOSIT é um Projecto de investigação /formação/ inovação / intervenção /intercâmbio / mediação, cujo objectivo mais amplo é


a gestão de conflitos e da violência pela mediação social, escolar e familiar. Nesse sentido e no âmbito do Clube de Mediação Escolar, foram projectadas e estão a ser desenvolvidas diversas actividades, abrangendo cinco grandes áreas, nomeadamente: 1ª - Sensibilização da Comunidade Educativa. 2ª - Formação / Informação. 3ª- Selecção, formação e apoio de alunos(as) Mediadores (as). 4ª - Divulgação das actividades, dentro e fora da Escola. 5ª - Avaliação das actividades. Abordaremos, com algum desenvolvimento, as quatro primeiras, que se encontram concluídas, ou em fase de conclusão e, por fim, serão referidas, brevemente, as estratégias programadas para proceder à avaliação das actividades, o que ocorrerá em dois momentos: Fevereiro/Março e Junho de 2002. Correo electrónico: edf@vizzavi.pt

A Mediação em Acção, na Escola Básica 2 Frei António Brandão Prof. Elsa Dulce Ferreira Benedita

10-4-02

País de la experiencia: Portugal Título de la experiencia: A Mediação em Acção, na Escola Básica 2 Frei António Brandão A Lei de Bases salienta que «... o sistema educativo responde às necessidades resultantes da realidade social, contribuindo para o desenvolvimento pleno e harmonioso da personalidade dos indivíduos, incentivando a formação de cidadãos livres e responsáveis, autónomos e solidários e valorizando a dimensão humana do trabalho », promovendo «... o desenvolvimento do espírito democrático e pluralista, respeitador dos outros e das suas ideias, aberto ao diálogo e à livre troca de opiniões ... ». Assim, o que se espera da Escola, é que ela « contribua (em colaboração com “outros meios formativos “ ) para o desenvolvimento da personalidade, para o progresso social e para a participação democrática na vida colectiva ». A nossa vivência quotidiana (na escola e fora dela) é, no entanto, muito diferente. Directa, ou indirectamente, vamos tomando conhecimento do número crescente de situações de desrespeito, intolerância, agressão e vandalismo, algumas de extrema violência, exercidas indiscriminadamente, sobre homens, mulheres, crianças, velhos, minorias étnicas, animais e bens públicos, ou privados. Estes actos, muitas vezes, protagonizados por adolescentes e mesmo por crianças em idade escolar, conduziram à


necessidade de repensar o papel da Escola, no contexto actual. Apesar de não ser o único meio formativo, a Escola continua, na nossa opinião, a desempenhar um papel relevante no processo educativo, competindo-lhe assegurar o prolongamento da estrutura familiar, na formação pessoal e social dos alunos. É, igualmente, reconhecida a necessidade de intervenção precoce, na prevenção e resolução de problemas, potencialmente geradores de conflitos, entre alunos, que podem conduzir (e, frequentemente, conduzem) a situações de agressão e de violência verbal e/ou física. Um dos processo de intervenção precoce consiste em ajudar as crianças e os jovens a gerirem os seus conflitos, de forma eficaz, de modo a obter uma resposta criativa, extraindo de cada situação, o que ela tem de positivo. Podemos consegui-lo, através da Mediação, um processo que prevê, exactamente, uma alteração profunda nos nossos hábitos de abordagem dos conflitos. A presente comunicação tem como objectivo descrever as actividades programadas já realizadas, ou a realizar, num futuro próximo, no âmbito do Clube de Mediação Escolar, uma das actividades extracurriculares, constantes do Plano de Actividades da Escola Básica 2 Frei António Brandão, sede do Agrupamento Vertical de Escolas da Benedita, concelho de Alcobaça. O Clube de Mediação Escolar surgiu na sequência da participação da Escola Básica 2 Frei António Brandão, como escola piloto, no Projecto Internacional GESPOSIT, entre Setembro de 2000 e Agosto de 2001, período em que vigorou um protocolo com a Universidade Aberta, Coordenadora do Projecto, a nível nacional e internacional. O GESPOSIT é um Projecto de: • • • • • •

Investigação; Formação; Inovação; Intervenção; Intercâmbio; Mediação, cujo objectivo mais amplo é a gestão de conflitos e da violência, pela Mediação Social, Familiar e Escolar.

Abordaremos, apenas, a Mediação Escolar, um processo para resolver os conflitos, entre os alunos, que se desenvolve entre pares, isto é, sem a intervenção dos adultos (professores, funcionários, encarregados de educação), com a ajuda de dois mediadores, sempre que possível, um rapaz e uma rapariga. Os mediadores e as mediadoras são alunos e alunas, imparciais e neutrais que, após terem recebido formação nesse sentido, são capazes de ajudar


outros alunos e alunas, seus pares, a resolverem os problemas, que os dividem, sem o recurso a soluções de violência verbal, ou física. A função dos mediadores e das mediadoras é ajudar os alunos em conflito, que os procuram voluntariamente, a restabelecerem o diálogo e a encontrarem uma solução, que agrade a ambas as partes. No final de um processo de mediação, bem conduzido, não há vencedores, nem vencidos, porque ambas as partes ganham com a solução encontrada em conjunto. Os mediadores e as mediadoras não são, portanto : • • • •

Juizes (não tomam decisões, não aplicam castigos); Advogados (não defendem, não acusam, não dão conselhos); Polícias (não procuram saber quem é o culpado); Médicos (não ”passam” receitas).

O seu papel é variável, conforme a natureza do conflito, a capacidade e/ou disponibilidade das partes para resolverem o conflito e a personalidade dos próprios mediadores e mediadoras. Assim, podem ter: • •

Um papel passivo, limitando-se a facilitar a comunicação entre as partes; Um papel mais activo, ajudando, se necessário, na negociação e na resolução do conflito, isto é, na busca de soluções alternativas.

Com a formação, os mediadores e das mediadoras têm oportunidade de adquirir conhecimento das técnicas, alguma experiência de mediação e alguma experiência de negociação. Aprendem a avaliar as situações de conflito, identificando o objecto do conflito, caracterizando os actores e avaliando os contextos. Com a prática de Mediação Escolar, os mediadores e as mediadoras desenvolvem várias qualidades pessoais, nomeadamente: • • • • • •

Capacidade de ouvir. Capacidade de comunicar. Responsabilidade. Distanciamento. Paciência. Criatividade.

A deontologia da Mediação implica: • • • •

Neutralidade; Confidencialidade; Imparcialidade; Responsabilidade, assegurando a igualdade de tratamento, a justiça e o equilíbrio nas


negociações, suspendendo a mediação, quando necessário.

A participação da Escola Básica 2 Frei António Brandão no Projecto GESPOSIT, durante o ano lectivo de 2000/2001, implicou a realização de várias actividades de sensibilização da comunidade educativa, formação de professores e de dezasseis alunos voluntários, de ambos os sexos, com o apoio científico e pedagógico da Universidade Aberta. Os referidos alunos exerceram funções como mediadores e mediadoras, entre Outubro de 2000 e Junho de 2001. Ao longo do ano lectivo, os mediadores e as mediadoras receberam apoio por parte da coordenadora do Projecto, na Escola Básica 2 Frei António Brandão. Simultaneamente, quinze docentes do Agrupamento de Escolas da Benedita participaram num Círculo de Estudos, no âmbito de Formação Contínua de Professores, intitulado “A Mediação na Gestão de Conflitos”, com a duração de 50 horas, onde foram experimentadas técnicas de mediação, em situações concretas de conflito (role play). Este trabalho destinou-se, essencialmente, à formação de futuros formadores de alunos mediadores. Ao longo de todo o processo de implementação da Mediação Escolar, ocorreram dois momentos de avaliação, com base nas respostas dos alunos a dois questionários. Através dos questionários, foi possível constatar que, em geral, os alunos e as alunas da Escola Básica 2 Frei António Brandão se encontram bem informados no que respeita à Mediação e que têm a noção exacta do que significa ser mediador ou mediadora. Muitos dos inquiridos manifestaram o desejo de virem ser mediadores; outros, embora gostassem, manifestavam receio de não serem capazes de desempenhar uma função, que todos consideram “de grande responsabilidade”. Dado o interesse revelado pelos alunos e alunas, por alguns elementos do corpo docente e por alguns encarregados de educação, embora o protocolo com a Universidade Aberta tivesse terminado em Agosto de 2001, foi apresentada e aceite pelo conselho pedagógico uma proposta de continuação das actividades, no âmbito de Clube de Mediação Escolar. Nesse sentido, foram projectadas e estão a ser desenvolvidas várias actividades, abrangendo cinco grandes áreas, nomeadamente: 1 - Sensibilização da Comunidade Educativa. 2 - Formação / Informação. 3 - Selecção, formação e apoio de alunos(as) Mediadores (as). 4 - Divulgação do Projecto, dentro e fora da Escola.


5 - Avaliação do Projecto. As actividades de sensibilização, informação e divulgação, iniciadas a partir da segunda quinzena de Setembro de 2201, dirigem-se, essencialmente, aos alunos do 5º ano e respectivos encarregados de educação. Nesse sentido, estão a decorrer diversas iniciativas, nomeadamente; • • • • • • •

Afixação de cartazes sobre a Mediação Escolar, em locais visíveis, frequentados pelos alunos. ( a partir de 19 de Setembro) Visitas de seis alunas mediadoras às salas de aula dos seus colegas do 5º ano, com o objectivo de explicarem o que é a Mediação Escolar e esclarecerem eventuais dúvidas. (entre 24 e 29 de Setembro) Sensibilização dos alunos pelos directores de turma, ou professores do conselho de turma, que receberam formação em Mediação Escolar. Carta aberta aos pais e encarregados de educação, entregue aos destinatários pelos directores de turma. Abertura das candidaturas para mediadores e mediadoras. Passagem de um Questionário aos alunos do 5º ano, com a finalidade de avaliar as suas percepções sobre o conflito e a violência. (Dezembro) Publicação de artigos sobre Mediação Escolar, na Imprensa regional e, eventualmente, no jornal escolar. (ao longo do ano lectivo)

As actividades de formação de novos mediadores e mediadoras estão a decorrer, em duas modalidades, nomeadamente: • •

Formação inicial, em Outubro e Dezembro de 2001; Formação contínua, ao longo do ano lectivo, em reuniões periódicas com a coordenadora do Clube.

A formação inicial, destinada a dois grupos de alunos e alunas do 6º ano, decorreu entre 9 e 12 de Outubro de 2001. Candidataram-se quarenta e sete alunos, vinte e três do sexo masculino e vinte e quatro do sexo feminino e concluíram a sua formação, com sucesso, trinta alunos, treze rapazes e dezassete raparigas. A formação teve a duração de dezasseis horas, distribuídas por quatro sessões de quatro horas, com uma componente teórica de seis horas e uma componente prática de oito horas. As restantes duas horas foram ocupadas com a discussão das condições necessárias ao bom funcionamento da Mediação, eleição dos coordenadores e sub-coordenadores dos grupos e distribuição de tarefas. A actividade terminou com uma pequena cerimónia de entrega de distintivos e certificados aos mediadores e mediadoras, cerimónia em que participaram as directoras de turma, a vice-presidente do conselho executivo e a presidente do conselho de escola. A formação dos dez alunos seleccionados, do 5º ano, decorrerá de forma idêntica. Os mediadores e as mediadoras, após um período de reflexão, reuniram com a coordenadora do Clube, em 18,19 e 25 de Outubro, para constituir as equipas de mediadores/mediadoras e elaborar os horários semanais de


atendimento aos colegas, na Sala de Mediação. O elevado número de mediadores e mediadoras permite uma cobertura de quinze horas que, previsivelmente, será alargada para vinte, após a formação dos alunos do 5º ano. Cada uma das equipas de mediadores e mediadoras permanece uma hora por semana, na Sala de Mediação, disponível para receber os colegas, que desejem recorrer à sua ajuda para resolver conflitos. As actividades do Clube serão avaliadas, durante os meses de Maio e de Junho, por meio de dois questionários: um dirigido a todos os alunos da escola e o outro, apenas aos mediadores e às mediadoras. Em ambos os casos, os dados obtidos receberão tratamento estatístico, sendo posteriormente divulgados à comunidade educativa, através de um relatório. Em resumo: a prática da Mediação Escolar, como processo de resolução de conflitos e de prevenção da violência, é demasiado recente e pouco divulgada em Portugal, pelo que não é possível tirar conclusões definitivas acerca do seu contributo para o processo educativo das crianças, dos adolescentes e dos jovens, que frequentam as nossas escolas. No entanto, pelo menos na Escola Básica 2 Frei António Brandão, conta com um número crescente de adeptos, entre professores, alunos, funcionários e encarregados de educação. É particularmente significativa a boa aceitação do processo pelos alunos, a quem, afinal se destina, uma vez que é desenvolvido apenas com alunos, entre alunos e para alunos. É, além disso, um processo bastante económico, que não necessita de muitos recursos, para funcionar. Quanto aos recursos humanos são necessários: • • •

No mínimo, 20 mediadores e mediadoras. Um, ou dois, professores, com formação em Mediação Escolar, responsáveis pela formação inicial e contínua dos alunos e pelo acompanhamento do processo. Um funcionário que garanta a abertura da Sala de Mediação, nas horas afixadas no Horário da Mediação.

No que se refere aos recursos materiais são necessários: • • • • • • • •

Sala de Mediação (compartimento de pequenas dimensões, se possível, utilizado só para esse fim); Mesa redonda; Cadeiras (quatro, pelo menos); Armário; Quadro preto; Giz; Dossier, papel, fotocópias. Horas necessárias ao desenvolvimento do Projecto:

2 / 3 horas semanais, para os/as professores / professoras responsáveis. Pensamos, portanto, que esta experiência, tão do agrado dos alunos e alunas da Escola Básica 2 Frei António Brandão, deveria ser alargada, a outras escolas do País... Só assim, poderemos concluir da adequação do processo


aos objectivos que se propõe atingir. Correo electrónico: edf@vizzavi.ptva68852a@vizzavi.pt


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