editorial Aqui na Hell Divine há sempre uma surpresa, inclusive para mim! Na edição passada, anunciamos o desligamento do designer Ricardo Thomaz e, em seu lugar, entrava o Douglas Veiga. Nessa edição, estamos dando adeus ao Douglas (diga-se fez um excelente trabalho e salvou nossa pele) e damos as boas vindas, novamente, ao Ricardo, que retorna com forças e técnicas renovadas! Estamos renovando também a equipe, com novos e experientes colaboradores, que ajudarão com conteúdo de qualidade. Mesmo levando porrada de todos os lados, continuamos nessa luta e não abandonaremos a guerra! Não vou mentir, conseguir entrevistas está cada vez mais difícil. As gringas só querem responder por telefone e com hora marcada – como se todo mundo vivesse disso e ganhasse dinheiro no “Baú da Felicidade” todo mês para pagar a conta de telefone para o exterior. Já as nacionais, muitas não respondem os e-mails ou demoram um século para devolver o material completo, achando que só porque somos uma revista digital e gratuita, a coisa é bagunçada. Já adianto: não é. Pelo contrário, somos muito sérios, comprometidos e profissionais. Chegamos à metade do ano e tem muita coisa (mas muita mesmo) legal já lançada, fortes candidatos ao topo da lista de melhores do ano. Procuramos ouvir a maioria dos discos lançados, resenhá-los e entrevistar as bandas que se destacam dentre as demais. Trouxemos, então, para essa edição os demolidores do Aborted como grande destaque da capa, por meio de um bate papo bem descontraído. Além deles, temos entrevistas com o Fueled By Fire (que passou recentemente pelo Brasil), o Hatriot (banda do ex-vocalista do Exodus), Andralls, Woslom, Flesh Grinder, Patria e o retorno da seção “Covering Sickness”, com Carlos Fides da Artside. Quero aproveitar o espaço para agradecer aos leitores que nos acompanham nas redes sociais, sempre comentando e espalhando a revista pela Internet! Como sempre afirmei, a Hell é feita para vocês! Agora, sem piedade, devorem essa edição! Nos vemos em setembro! Go To Hell!!
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Pedro Humangous.
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Nota do Editor Chefe.
Conheça quem faz a Hell Divine.
ENTREVISTas Aborted, Fueled By Fire, Hatriot, Woslom, Andralls, Flesh Grinder, Kalmah e Patria.
RESENHAS Diversas avaliações da revista pra você acompanhar.
divine deathmatch Veja a análise da revista sobre os útimos laçamentos para PC, PS3 e XBOX360.
COVERING SICKNESS Entrevista com Fernando Laruccia, um mostro das artes.
LIVE SHIT Resenhas dos últimos shows no Brasil.
UPCOMING STORM Conheça as bandas que estão surgindo.
MOMENTO WTF Bizarrices do mundo do rock.
RASCUNHO DO INFERNO
Espaço reservado aos leitores para divulgarem sua arte.
equipe Editor Chefe: Pedro Humangous Redatores: Augusto Hunter e Yuri Azaghal Designer: Ricardo Thomaz Publicidade: Maicon Leite Revisão: Fernanda Cunha Web Designer: William Vilela Colaboradores: Christiano K.O.D.A, Marcos Garcia, Júnior Frascá. Participaram nessa edição: Luiz Ribeiro e João Messias Jr. Envio de Material: Rua Alecrim, Lote 4, Ap. 1301 - Ed. Mirante das Águas - Águas Claras Brasília/DF - CEP: 71.909-360 3
entrevista
A Aborted passou pelo Brasil, em 2012, e agradou muito aos fãs de música extrema. Na ocasião, estavam promovendo o último disco, o excelente “Global Flatline”, lançado no país via Shinigami Records. E foi por intermédio da gravadora que a Hell Divine entrevistou o simpático e bem humorado vocalista Sven De Caluwé, que falou da passagem por aqui, sobre o disco e fez um breve balanço dos quase vinte anos de banda. HELL DIVINE: Você considera “Global Flatline” o melhor álbum da carreira? Por quê? Como você o descreveria? SVEN DE CALUWÉ: Melhor é uma estranha escolha de palavras para descrever seus próprios álbuns. Eu, definitivamente, diria que é um dos meus favoritos do Aborted. Ele tem a intensidade e a brutalidade dos outros discos, sem ter que fazer nenhuma concessão na hora de cantar, sendo que os cantos se encaixaram em termos de agressão. Estamos satisfeitos com ele e mal posso esperar para escrever o próximo.
HELL DIVINE: Como a banda teve a ideia de fazer uma espécie de homenagem aos antigos filmes de
horror no encarte? SVEN DE CALUWÉ: Pois é, todo o álbum e o universo da Aborted são uma homenagem ao horror dos anos oitenta e à minha fascinação doentia por serial killers e misantropia. HELL DIVINE: Qual a música mais poderosa do álbum, em sua opinião? SVEN DE CALUWÉ: É difícil dizer, mas em shows, eu diria que “Coronary Reconstruction”, “The Origin of Disease”, “Fecal Forgery” e “From a Tepid Whiff” definitivamente têm aquele efeito de fazer as pessoas se arregaçarem, ficarem possuídos. HELL DIVINE: Por que o título “Источник Болезни (The Origin of Disease)” está em russo? SVEN DE CALUWÉ: Porque tenho muitos amigos russos e queríamos berrar para os fãs de lá, embora seja um desafio cantar algumas palavras em uma língua que não consigo falar nada (risos).
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HELL DIVINE: Como você compara o antigo Aborted (Gore/Splatter) com o atual (Death Metal)? SVEN DE CALUWÉ: É o mesmo, a banda apenas se aperfeiçoou tocando seus instrumentos. O Gore e o Splatter ainda estão lá, e a banda sempre foi Death Metal, na realidade. “Global Flatline” é mais brutal do que qualquer um dos antigos discos, então, tornamo-nos mais extremos, sem contar os dois álbuns anteriores (risos). HELL DIVINE: Você mora em Israel atualmente, certo? É difícil ensaiar com o Aborted, que original é da Bélgica, mas que conta com outros integrantes de diferentes países? SVEN DE CALUWÉ: Nós não ensaiamos, fazemos as coisas pela Internet. Os integrantes treinam constantemente e, aí, nós praticamos por uma semana ou alguns dias antes de tocar em shows ou fazer uma turnê. É o único jeito de fazer as coisas funcionarem com pessoas espalhadas por três continentes. HELL DIVINE: O Aborted completa vinte anos, em 2015. Talvez seja cedo para perguntar, mas vocês já pensam em algum tipo de celebração? SVEN DE CALUWÉ: Putz, de fato! Não temos pensado nisso, mas seria legal fazer algo, com certeza. Talvez um DVD ou algo do tipo, quem sabe (risos). Você despertou minha atenção em relação a isso, agora vou me sentir velho e sentar no cantinho (risos). HELL DIVINE: Recentemente, vocês fizeram alguns shows para celebrar os dez anos do álbum “Goremageddon: The Saw and the
Carnage Done”. Como foi a experiência? SVEN DE CALUWÉ: Absolutamente incrível! Muitas pessoas apareceram e adoramos demais tocar as músicas antigas e novas para elas. Foi um prazer dividir esses momentos com os fãs e com nossos amigos do Vomitory e Benighted, entre outras, que certamente fizeram uma grande festa no palco a cada noite. Não poderia estar mais satisfeito! HELL DIVINE: Quais são as suas melhores e piores recordações do Brasil? SVEN DE CALUWÉ: A pior foi a falta de descanso e as passagens de som intermináveis (risos). Todo o restante foi absolutamente fantástico, as pessoas foram demais, as comidas/frutas são deliciosas. Tivemos só boas recordações e mal esperamos para voltar! Definitivamente, é um dos meus lugares favoritos de todo o mundo! HELL DIVINE: Vocês fizeram muitas imagens no Brasil, para usá-las em um futuro DVD? SVEN DE CALUWÉ: Nós, na verdade, somos um bando de retardados e não filmamos nada (risos), mas agora temos uma filmadora profissional e estamos prontos para retornar e garantir imagens suficientes. Então, produtores de shows, façam isso acontecer! HELL DIVINE: Agradeço muito a entrevista! Por favor, deixe uma mensagem final. SVEN DE CALUWÉ: Matem todos, comprem nossas merdas de materiais, obrigado! Por Christiano K.O.D.A.
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entrevista
É inegável que o Thrash sempre teve, em todas as décadas, grande expoentes e muita barulheira de responsa para apresentar. Na década de 2000, podemos marcar um “novo levante” de thrash maniacs que fez grandes referências para o metal. Os norte americanos do Fueled By Fire, com certeza, estão entre estes grandes nomes que surgiram e terão muito a nos apresentar! Agora, lançando seu terceiro álbum ”Trapped in Perdition” e com a primeira turnê sul americana, conversamos com o baterista Carlos Gutierrez.
HELL DIVINE: É uma grande honra para nós conversar com o Fueled by Fire! Primeiro, gostaríamos de saber do novo álbum. O que podemos esperar? Como foi trabalhar com Erik Rutan (Hate Eternal)? Carlos Gutierrez: Primeiramente, gostaria de agradecer muito pela entrevista. Fico honardo de estar na revista. Acho que o novo álbum ”Trapped in Perdition” é um passo a mais de nossos dois álbuns anteriores (“Spread the Fire” and “Plunging Into Darkness”). Nos dedicamos mais seriamente ao escrever os sons e pusemos nosso melhor neste trabalho. Está muito mais pesado, mas ainda com muita velocidade. Trabalhar com Erik Rutan foi maravilhoso! Ele é o cara! Estou muito orgulhoso de podermos chamá-lo de irmão e um grande amigo. Aprendemos muito com ele, não apenas de gravação, mas também sobre negócios. Ele realmente nos colocou para trabalhar, que era exatamente o que precisávamos. Ele nos fez colocar nosso melhor e estou muito orgulhoso do resultado. Lançamos uma música, que é a primeira do álbum, chamada “Catastrophe” e teve um ótimo retorno, o que nos deixou muito animados. Nós mal podemos esperar para que o amterial seja lançado! Vocês não se desapontarão com o que vão ouvir. HELL DIVINE: Podemos ver uma evolução na sua música, não só na técnica, mas também na parte da produção. Qual é a maior influência na hora de escrever novas músicas? Claro que o Thrash Metal Old School é muito presente, mas também ouvimos influências claras de Death Metal e NWOBHM, certo? Carlos Gutierrez: Sim, temos muito influência do Death Metal neste álbum. Gorguts, Morbid Angel, Death, Morgoth e Deicide. Estas são algumas das bandas. Mesmo que eu escute muito NWOBHM, não poderia dizer que há esta influência neste álbum.
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HELL DIVINE: Em seu primeiro álbum, vocês assinaram com a Metal Blade Records, um dos maiores selos de Heavy Metal no mundo. Como vocês fizeram esse contato? O novo álbum será lançado com a NoiseArt Records, o segundo álbum com eles. Como vem sendo o trabalho com eles? Carlos Gutierrez: Bem, na verdade, nós não os contatamos. Eles que nos contataram por e-mail. Acredite, eu achei que era algum tipo de brincadeira ou coisa do tipo. E nós ainda lhe perguntamos: “isso é verdade?”(risos). Mas nós fizemos o “Spread the Fire” por nós mesmos e, uma semana depois, Brian Slagel nos contatou. De alguma maneira chegou até ele, que ouviu, gostou e nos procurou! Ele foi remixado e remasterizado por Joey Vera do Might Aromored Saint e relançado pela Metal Blade Records, em 2007. Sim, “Trapped in Perdition” será lancado pela NoiseArt Records! Eles têm sido muito bons para nós!Têm nos ajudado muito! Estou muito satisfeito de estar em um selo que realmente colaboram com suas bandas. HELL DIVINE: Vocês sabem a dificuldade no underground e no Brasil, como em muitos outros lugares, temos muitos problemas não só com gerentes das casas de show, mas com a desunião de bandas, de fãs e produtores. E a cena nos EUA? Nos fale um pouco dela. Carlos Gutierrez: Bem, muitas vezes, aqui nos EUA, tem uns produtores bunda moles e muitas babaquices também, mas há muitas pessoas boas que realmente ajudam a cena e as bandas. A cena aqui está bem! A cena Metal em Los Angeles é bem grande. Nós sempre temos muito shows e concertos que ajudam a cena a crescer. As bandas locais também ajudam uma a outra e trabalham duro para fazer algo maior. Então, acho que a cena está viva e boa! HELL DIVINE: Este será seu terceiro álbum e vocês já fizeram boas turnês e tocaram em festivais respeitados na Europa. Ano passado, vocês fizeram uma turnê com Kreator, Morbid Angel e Nile na Europa. Conte-nos como foi. Carlos Gutierrez: Sim, o primeiro show na Antuérpia foi um grande show! Eu lembro que teve um pequeno atraso e logo que as portas abriram, todos correram para a frente e nós estávamos no
palco prontos para tocar. Então, começou nossa Intro e todos enlouqueceram! Muito bom. Nós tínhamos muitos amigos por lá e saímos com essas amizades fortalecidas. Mas estar em turnê com esse povo foi bom demais. Nós somos muito honrados de ter sido parte deste cast. Os shows foram destruidores! E nós fizemos muitos amigos naquela turnê. Equipe, os caras das bandas, tudo. Uma das grandes conquistas de nossa carreira até agora. HELL DIVINE: Ainda falando de turnês, nos conte daquela com o Violator na Europa, em 2010. Como foi excursionar com os caras? Carlos Gutierrez: A turnê com Violator foi destruidora! Eles são minha banda de Thrash favorita desta geração! Então, quando fechamos com eles, mas podíamos esperar. Sabíamos que seria uma boa e divertida turnê! Nós já tínhamos contato com eles antes mesmo da turnê e nós sempre dissemos uns aos outros que gostaríamos de dividir o palco. E finalmente aconteceu. Os caras realmente são nossos irmãos. Sempre tivemos bons momentos juntos. Tocamos com eles em
sua casa, Brasília, para o aniversário de 11 anos da banda! Vida longa ao Violator por mais onze destruidores anos! HELL DIVINE: Quais bandas você está ouvindo atualmente? Carlos Gutierrez: Ouço muito Metal Tradicional. Nightmare, Tokyo Blade, Sortilege, etc. Mas também venho escutando muito Graveyard, Ghost e estilos diferentes como The Growlers. Então, hoje em dia, eu misturo bastante, mas sempre detono com meu tradicional Heavy Metal (risos). HELL DIVINE: Muito obrigado! Deixe uma mensagem aos bangers brasileiros. Carlos Gutierrez: Obrigado pela ótima entrevista. Todos os bangers brasileiros são insanos! Obrigado pelo apoio verdadeiro! Voltaremos sempre para destruir o palco com vocês e tomar umas cervejas! Cheers! Por Cupim Lombardi.
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entrevista
Uma das vozes mais marcantes do Thrash Metal em todos os tempos, Steve “Zetro” Souza, em todos os projetos e bandas dos quais participou, deixou um legado de muitas qualidades. Vocalista original do Testament (quando a banda ainda se chamava Legacy), Zetro fez fama mundial com seus trabalhos com o Exodus devido a sua forma única de cantar, e suas apresentações fantásticas ao vivo. E agora, após quase dez anos sem estar à frente de uma banda em tempo integral, o músico retornou com o Hatriot, banda na qual toca com seus dois filhos, e que lançou este ano um dos melhores e mais agressivos discos de Thrash Metal dos últimos tempos. Aproveitando o lançamento de “Heroes of Origins”, conversamos com o vocalista, que nos falou sobre o álbum, o processo de formação de sua nova banda, como está sendo tocar com seus filhos, e ainda sobre a atual situação do Exodus. Confiram!
HELL DIVINE: Quando você anunciou sua nova banda, o Hatriot, os fãs de Thrash Metal ficaram muito entusiasmados. A repercussão do álbum foi a que você esperava? Contenos a respeito. STEVE: A resposta tem sido incrível e eu realmente acho que os fãs de Thrash Metal estiveram esperando meu retorno com uma banda completa, e não apenas com um projeto aqui, uma participação especial ali! Essa é a minha primeira banda em tempo integral desde que deixei o Exodus, em 2004, e acho que é um retorno atrasado. As resenhas sobre o álbum têm sido, na maior parte, muito boas, e nós estamos muito felizes, mas é a resposta dos fãs que realmente nos deixa orgulhosos. Eles são aqueles que compram nosso disco, e que pagam por nossos shows. É para eles que nós trabalhamos, não para os críticos. Os fãs realmente abraçaram o trabalho, e é isso que importa de verdade para nós.
HELL DIVINE: E após fazer parte de grandes bandas do Thrash Metal, como Testament e Exodus, quais eram suas expectativas ao montar uma banda nova? STEVE: Eu sempre tento entrar em uma banda sem expectativas reais. Você não pode prever o futuro, então não há razões para esperar por qualquer coisa. Eu tento fazer a melhor música que posso e me cercar com as melhores pessoas do ramo dos “negócios” que posso. Fora isso, está fora de minhas mãos e acontece o que tiver que acontecer. Obviamente, esperamos que o disco vá bem, mas nestes dias e com esta idade é muito difícil fazer muito barulho no mercado. As coisas andam muito saturadas. O ponto de partida é criar boa música, e se divertir com isso. É o que nós podemos fazer. HELL DIVINE: E como tem sido para você tocar com seus filhos Cody e Nick? Você acredita que eles sentiram algum tipo de pressão por serem seus filhos, e você já ser um ídolo consagrado da cena? 8
STEVE: Tocar com meus filhos foi uma das sensações mais incríveis de minha vida. É um dos meus sonhos se tornando realidade. Meus filhos cresceram. Meus garotos cresceram em volta do mundo da música, e sabem dos altos e baixos, e como as coisas funcionam. Eles têm vivido estas coisas através de mim, então eles vieram preparados e com a mente madura. Eles têm metas realistas e sabem como agir para atingilas. No começo, deve ter existido alguma pressão, mas agora que o álbum foi lançado, acredito que a música fala por si só. Ambos (meus filhos) têm tocado seus instrumentos por anos, e eles são músicos “matadores”! Os dois tentaram entrar para o Hatriot e foram bem sucedidos, merecendo seu lugar. Não há nepotismo aqui. HELL DIVINE: Para mim, “Heroes of Origin” é um dos discos mais agressivos dos quais você já participou. Você concorda? Toda essa brutalidade foi “planejada”, ou foi algo que surgiu naturalmente? STEVE: Este é, provavelmente, o disco mais pesado que já fiz em toda minha carreira. E acredito que isso tenha vindo naturalmente. Eu estava com toda essa agressividade reprimida em minha cabeça desde que deixei o Exodus e sabia que as probabilidades estavam contra mim com esta banda. Queria que essa banda fosse a coisa mais viciante e agressiva da qual eu já tivesse feito parte. Não havia nenhuma intenção de ser um clone do Exodus. Deveria ser mais pesado e ter sua própria identidade. Acreditamos que o álbum seja uma versão mais pesada de “Temple Of The Damned”. HELL DIVINE: Outro destaque do álbum são os guitarristas Kosta Varvakis e Miguel Esparza. Como você os conheceu, e quando decidiu que eles eram os caras certos para fazer parte do Hatriot? STEVE: Kosta foi o primeiro que conheci. Eu tinha ido assistir meu filho Nick tocar em um show e aconteceu que a banda de Kosta também estava tocando, e ele foi muito impressionante. Eu simplesmente sabia que o garoto tinha algo de especial, então trocamos informações aquela noite e estivemos em contato, e depois da banda dele se separar ele me contatou e nós começamos a escrever juntos. Esse foi o começo do que agora é o Hatriot. Miguel entrou em cena cerca de um ano atrás, após nosso antigo guitarrista deixar a banda. Ele nos foi indicado, veio até nós e simplesmente
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detonou no teste. Os dois guitarristas se engrenam juntos e tem uma grande química. É como era no antigo Exodus, nos tempos de Holt e Hunolt. HELL DIVINE: Você já disse em outras entrevistas que o Hatriot é uma banda, e não um projeto. Então, quais são os planos da banda para o futuro? Acredito que seria fantástico para os fãs uma turnê do Hatriot com uma de suas antigas bandas, como Exodus e Testament. Há alguma possibilidade disso acontecer? STEVE: Hatriot é, definitivamente, uma banda em tempo integral. Estamos trabalhando duro para nos estabelecermos na cena e algumas ofertas de turnês têm aparecido. Parece que nossa primeira turnê real ocorrerá neste outono na Europa, com o Toxik, e espero que novas ofertas apareçam depois disso. Tenho um ótimo relacionamento com ambas as minhas ex-bandas e nós, obviamente, esperamos que algo deste tamanho venha para nosso caminho em algum momento. É possível e realmente seria algo matador. Muito disso depende do tanto de discos que nós poderemos vender e quantas demandas nós criaremos com promotores ao redor do mundo. HELL DIVINE: Acerca do Exodus, você ainda tem planos de tocar novamente com o grupo? Aliás, você tem alguma novidade sobre a situação atual da banda, já que desde a morte de Jeff Hanneman muito se especulou sobre a entrada definitiva de Gary Holt no Slayer? STEVE: Continuo sendo um grande amigo de todos os caras do Exodus, mas não me vejo tocando novamente com eles como seu vocalista em tempo integral. Eles seguiram em frente com Rob Dukes e eu segui em frente com o Hatriot. Nos reunimos, de vez em
quando, como vocalista convidado quando eles tocam perto de minha cidade natal, e é sempre uma coisa muito legal. E eu não sei realmente o que irá acontecer com o Exdous agora que Gary está envolvido com o Slayer, que é, obviamente, um negócio enorme e Gary é o melhor homem para o cargo, em minha opinião. HELL DIVINE: E há alguma novidade sobre seus outros projetos, como o Dublin Death Patrol e o Tenet? STEVE: Dublin Death Patrol está encerrado neste momento. Fizemos dois álbuns realmente muito legais juntos, mas acho que terminamos o que tínhamos para fazer. Chuck está sempre muito ocupado com o Testament, e eu realmente quero focar todo meu tempo ao Hatriot. Não quero minha atenção dividida. Há muitas pessoas para coordenar quando temos que fazer shows ou ensaiar com a banda. São mais problemas do que vale a pena em vários sentidos. Quanto ao Tenet, por mais longe que ele vá, não deixa de ser mesmo um projeto solo de Jed Simon, para o qual eu fui convidado para cantar. Me diverti muito fazendo o álbum e os músicos eram demais, mas não tenho certeza se haverá um outro álbum. Se Jed precisar que eu cante em algo, irei realmente considerar o convite se eu tiver tempo, mas não é uma prioridade. O Hatriot tem minha atenção integral. HELL DIVINE: Obrigado Steve. Por favor, deixe sua mensagem final para seus fãs brasileiros e nossos leitores. STEVE: Obrigado você pela entrevista! Espero ir ao Brasil e ver todos os fãs em breve. Aprecio todo o apoio que vocês têm me dado em todos os capítulos de minha carreira. Então corram atrás de sua cópia de “Heroes Of Origin” e espalhem a notícia. Keep thrashing! Por Junior Frascá.
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entrevista Depois de um início de carreira arrasador, com o álbum “Time to Rise”, os paulistanos do Wolsom se viram em uma das missões mais complicadas da carreira de uma banda iniciante: lançar um segundo álbum e atender às expectativas dos fãs. Mas o quarteto não só tirou de letra essa tarefa, como lançou um disco que facilmente figurará entre os melhores lançamentos de 2013 (não só entre os nacionais), sendo um verdadeiro marco na história do Thrash Metal nacional. E aproveitando esse momento, conversamos com o baterista Fernando Oester e com o baixista Francisco Stanich, que nos contaram um pouco sobre a repercussão do álbum anterior da banda, sobre o processo de composição de “Evolustruction” e sobre os planos da banda para o futuro. Confiram. 10
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HELL DIVINE: O début do Woslom “Time to Rise” recebeu ótimas críticas da imprensa especializada e foi muito bem aceito pelos fãs de Thrash Metal, inclusive, proporcionando a vocês a possibilidade de uma turnê pela Europa. Vocês já esperavam essa repercussão, ou ficaram surpresos com os resultados obtidos? Quais vocês acreditam que foram as maiores conquistas da banda durante a divulgação do álbum? Fernando: Olha, dizer que não esperávamos uma repercussão seria uma mentira de nossa parte. Nós procuramos fazer tudo da melhor forma possível tomando cuidado em todos os aspectos com tudo que relacionou o lançamento do “Time to Rise”. Desde a parte da produção musical como o clipe e a forma como a divulgação foi feita. Mas é claro que as coisas foram além do que imaginávamos, tivemos uma ótima resposta tanto da imprensa especializada como do público em geral. E eu diria que uma das maiores conquistas que obtivemos neste ciclo todo do “Time to Rise” foi o respeito das demais bandas do nosso underground. Onde quer que nós tocássemos, as outras bandas do cenário conheciam nosso trabalho e nos parabenizavam por ele, tanto bandas novas quanto bandas antigas na cena. Isso, com certeza, é uma conquista e tanto. Francisco: Trabalhamos muito pesado neste projeto. Por ser o primeiro álbum, não queríamos que nada desse errado, fomos muito detalhistas no planejamento dele. Sabíamos que tínhamos em mãos um grande trabalho, mas, com certeza, não sabíamos que a repercussão dele seria tão grande, ficamos muito surpresos com sua aceitação. Teve um momento que me surpreendeu muito, quando estávamos fazendo os shows na Europa, foi algo surreal ver o pessoal da plateia na Polônia e Suécia pedindo músicas como “Time To Rise” e “Mortal Effect”. HELL DIVINE: E agora vocês voltam com o segundo álbum, “Evolustruction”, que acaba de ser lançado no mercado nacional. Vocês se sentiram pressionados durante o processo de composição do disco, uma expectativa maior por parte dos fãs? Conte-nos um pouco do processo de composição de “Evolustruction”. Fernando: Na verdade, estávamos com uma sede enorme de fazer esse novo trabalho, pois o primeiro álbum, assim como a maioria dos primeiros álbuns, foi composto ao longo do tempo, composições de quatro ou cinco anos antes ao lançamento de 2010. Já a composição do “Evolustruction” se deu em quatro ou cinco meses. Escolhemos os oito temas que fariam parte e trabalhamos em cima deles. Basicamente, o Rafa Iak trouxe os esqueletos já compostos com material dele e algumas coisas do Silvano, que ainda não havia colocado suas ideias no primeiro trabalho. Trabalhamos na composição e 12
fomos para o estúdio para finalizar todos os arranjos. Ficamos cerca de um mês bem intenso no estúdio para finalizar e estarmos prontos para a gravação. A pressão foi imposta por nós mesmos desde o início desse projeto, tanto musical quanto visualmente e tudo que envolveu o novo trabalho. Para nós, tudo teria que superar o primeiro trabalho. Além disso, tínhamos a pressão pelo tempo para deixar tudo isso pronto e posso dizer que conseguimos atingir as nossas expectativas. HELL DIVINE: Em minha opinião, “Evolustruction” é um disco bem mais evoluído, variado e equilibrado que “Time to Rise”. Você concorda? Vocês planejaram esse novo direcionamento musical, ou foi algo que surgiu naturalmente? Fernando: Concordo plenamente. É, sim, uma evolução, uma busca pela nossa sonoridade. O primeiro álbum tem muitos aspectos naturais que lembram uma ou outra banda que nos influenciou. Já neste, buscamos o nosso som, o nosso jeito de tocar, o que melhor cada integrante tem para produzir. Sendo assim, o direcionamento musical acabou surgindo naturalmente, pois em nenhum momento nos preocupamos com rótulos, se isso seria mais ou menos Thrash. Nós sempre buscamos o que tínhamos de melhor do Woslom, o que podemos produzir de melhor entre nós quatro. HELL DIVINE: Aliás, por que vocês decidiram mudar um pouco o direcionamento musical da banda, em vez de lançarem um disco mais direto como o antecessor, o que seria uma tarefa bem mais fácil, inclusive para agradar aos fãs? Fernando: Foi natural, não mudamos propositalmente, mas depois de quase dois anos trabalhando no “Time to Rise” acabamos por mudar naturalmente e buscar um caminho nosso. Acho que a resposta está no que comentei antes, esse novo álbum foi composto nos últimos dez meses e ele reflete o que somos neste exato momento. Nossa qualidade técnica melhorou, amadurecemos, aprendemos muita coisa neste tempo, então foi natural vir algo assim como veio, creio que seja algo único. Francisco: Como falado anteriormente, não queríamos nos acomodar, sempre buscamos a evolução da banda, este é o verdadeiro prazer para nós ao criar um álbum novo, fazer algo diferente, senão perde a graça (risos). Pode ser que o fã mais radical prefira algo mais direto como o “Time To Rise”, mas o novo álbum “Evolustruction” continua com a sonoridade Thrash, mas com a inclusão de alguns elementos a mais. HELL DIVINE: Você acredita que a turnê pelo exterior foi importante para essa evolução da banda? Conte-nos a respeito.
Fernando: Com certeza foi, mas toda a experiência durante o ciclo foi importante. Após o lançamento do primeiro trabalho, entramos de cabeça nisso tudo. Claro que a turnê é uma experiência única onde você realmente aprende muita coisa sobre como as coisas realmente funcionam dentro de uma banda. Então creio que tudo que aconteceu nos últimos anos contribuiu para nossa evolução. Francisco: Com certeza, crescemos muito como banda após a turnê, pois foram 45 dias vivendo juntos, respirando apenas o Woslom, sem nada externo nos incomodando, vivemos apenas e exclusivamente para a banda. E também fazer shows quase que diariamente fez com que a banda ficasse mais entrosada. Sem dúvida, a turnê ajudou bastante para o crescimento da banda. HELL DIVINE: Por que vocês optaram por utilizar a faixa título como primeira música de trabalho, inclusive, para o primeiro videoclipe do material? Vocês têm a intenção de lançar outros clipes para o disco? Fernando: Essa foi a primeira composição do novo álbum. Ela grudou na cabeça e decidimos que seria o primeiro single do novo álbum e também seria o título dele. Aí é natural que ela vire o primeiro clipe também. E temos, sim, a intenção de lançar mais clipes deste trabalho, existem excelentes músicas ali que dariam ótimos clipes! HELL DIVINE: Apesar de ter momentos bem clássicos e voltados às raízes do Thrash Metal, “Evolustruction” tem faixas bem variadas. Uma das que mais me chamou a atenção foi “Purgatory”, repleta de climas sombrios e melancólicos, inclusive, trazendo elementos de Doom Metal. Você acha que essa diversidade poderá assustar um pouco os fãs, ou é algo que não preocupa vocês? Fernando: Nosso som sempre vai ser Thrash Metal. Isso é a nossa essência, é o que sabemos fazer e é o que aplicamos na banda. Quanto a “Purgatory”, essa é uma música que particularmente nós quatro gostamos demais, é bem completa, tem um clima sombrio, tem Thrash, tem dedilhado no violão, tem duetos, um baita vocal e no final o Doom Metal. Acho que quem curte Metal em geral vai pirar, porque eu mesmo após seis meses ouvindo ela, ainda me arrepio cada vez que a escuto.
Fernando: Uma vez citamos isso; fazer cover de bandas consagradas é moleza, todo mundo faz. Mas fazer de bandas underground que tocam conosco por aí, não é comum. E nós ainda fazemos uma versão, não é um cover propriamente dito, procuramos aplicar a pegada do Woslom e dar a nossa cara para a música. Houve discussões intermináveis para escolher essa música, pois cada um queria fazer um cover diferente de bandas diferentes e até mesmo de estilos diferentes. E dentro dos nossos critérios, o Mad Dragzter acabou sendo o escolhido com a “Breakdown”. Essa banda foi um marco para nós, em 2003, quando lançaram o “Strong Mind”. Todos nós temos o CD e o Tiago Torres também é um grande amigo nosso. Ligamos para ele pedindo a autorização para fazer o cover e ele pirou com a ideia, ele adorou a versão. Então estamos mais que aprovados. Francisco: Fazer cover de bandas consagradas já tem muita banda que faz, para que ter mais uma fazendo isto (risos)? Na verdade, a ideia é apoiar a cena underground brasileira, mostrar que não existe competição, que uma banda apoia a outra. O underground é uma cena muito rica musicalmente, com grandes bandas que trabalham duro para estarem aí. Fazer estes covers é nossa homenagem a nossa cena. Tínhamos muitas bandas na lista, mas no final optamos pelo Mad Dragzter por ser a banda que nos influenciou muito, em 2003, com o álbum “Strong Mind” e nada melhor que a faixa “Breakdown” para prestarmos esta homenagem. HELL DIVINE: Vocês já definiram os planos de divulgação do novo disco? Quais são as expectativas de vocês para os próximos passos da banda? Fernando: Sim, estamos trabalhando bem forte quanto à divulgação. Lançamos o teaser de lançamento, o videoclipe, tem algumas promoções e anúncios em redes sociais, etc... O álbum estará disponível para compra online, que hoje é o canal direto de vendas com o público. Também teremos o show de lançamento no Panzer Fest aqui em São Paulo. Algumas outras datas estão agendadas e outras a caminho e teremos a turnê europeia em setembro e outubro. Agora é continuar trabalhando bastante, tocar bastante, levar nosso som a todos os lugares e vender bastante merchandise! (risos). Francisco: Além do Panzer Fest, teremos em julho show ao lado do Violator em São Bernardo do Campo e também participaremos de um festival underground espanhol, o Brutólogos, que terá sua primeira edição no Brasil este ano.
HELL DIVINE: O Woslom também tem como tradição gravar covers de bandas nacionais, e dessa vez não foi diferente, já que o disco Por Junior Frascá. traz como bônus uma versão matadora para “Breakdown”, do Mad Dragzter. Por que vocês sempre buscam fazer covers de bandas nacionais, em vez de covers das bandas consideradas clássicas do estilo? E por que da escolha desta faixa específica do Mad Dragzter?
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A Andralls, que recentemente gravou um show em Belém do Pará para ser lançado em DVD, completa quinze anos de atividade. O baterista Alexandre Brito deu detalhes do registro e falou dos anos de estrada. Com vocês, um fasthrasher apaixonado por fazer música agressiva. HELL DIVINE: Tente fazer um balanço desses quinze anos de carreira. ALEXANDRE BRITO: Olha, é até engraçado pensar que já se passaram quinze anos de Andralls. Para nós, que estamos envolvidos diretamente com a banda, nem parece que se passou todo esse tempo. Foram anos de muita batalha, alegrias, tristezas, enfim, anos bons que passamos juntos dividindo emoções com nossos fãs, amigos, etc. Acredito que a longevidade da banda se deu por conta de amizade e respeito (às vezes) entre nós (risos), e o grande lance é levarmos a banda por mais quinze anos, fazendo o que a gente gosta, que é tocar e se divertir por este mundão.
HELL DIVINE: Por que escolheram gravar o DVD no Teatro Experimental Waldemar Henrique, em Belém/PA? ALEXANDRE BRITO: O principal motivo foi pela estrutura que o teatro iria nos proporcionar e, claro, pelo público paraense que, sem dúvida alguma, é um dos mais insanos em todo o mundo. Temos uma legião de fãs fieis por lá que sempre nos apoiou muito durante todos esses anos de carreira. Decidimos presenteá-los com esse evento no teatro, que tem história na cidade: por lá já passaram bandas importantíssimas de Belém, além de várias outras do cenário nacional. Temos um grande amigo que trabalha dentro do teatro e ele nos ajudou com todos os trâmites para a realização do evento. Acho que fizemos a escolha perfeita. HELL DIVINE: Como foi a apresentação de gravação do DVD? O público realmente correspondeu? Saiu tudo como o planejado? ALEXANDRE BRITO: A gravação foi muito f*da, muito trabalhosa, mas muito, muito prazerosa. O público que compareceu representou do começo ao fim, com direito a muitos stage divings e mosh pits, uma verdadeira celebração aos quinze anos da banda. Saímos de Belém com a sensação de dever cumprido. Com certeza, acertamos em cheio na escolha do local e da cidade. Acho que vai ser difícil nos esquecermos desse dia que, para nós, foi memorável. HELL DIVINE: O set foi baseado no último disco “Breakneck” ou foi um apanhado geral de toda a carreira do grupo? Como foi a escolha das músicas? ALEXANDRE BRITO: O set foi baseado em todos os
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PESO MADE álbuns da banda. A gente já estava tocando um repertório bem parecido com o que nos apresentamos no show de gravação do DVD. Fizemos algumas alterações e acrescentamos algumas músicas que não tocávamos há um tempo, e isso fez com o set ficasse mais intenso. Acho que a resposta do público foi positiva e acertamos em cheio na escolha das músicas. O show ficou bem redondo e acho que iremos continuar usando esse set nos próximos shows. HELL DIVINE: Apesar de já estar no Andralls há alguns anos, o vocalista/guitarrista Cleber Orsioli gravou somente o disco “Breakneck” e já emendou nesse registro ao vivo. Em algum momento ele se sentiu pressionado nesse sentido?
HELL DIVINE: O que vocês mais destacariam na apresentação? ALEXANDRE BRITO: Acho que o que se destacou mais foi a interação entre banda e público, a gente estava muito à vontade e o público, muito sedento em ouvir as músicas da banda. Isso fez com que o show ficasse perfeito. O trabalho de todos os envolvidos também foi de extrema importância. Na real, acho que o conjunto, em geral (banda, equipe e público), foi o grande lance da apresentação. HELL DIVINE: O DVD já tem nome e previsão de lançamento? Haverá material bônus? ALEXANDRE BRITO: Sim, o DVD se chamará “Andralls 15 Years Breaknecking”. A previsão de lançamento é para setembro deste ano. Além do show, haverá entrevistas com todos os ex-integrantes da banda, muitas imagens nossas em turnês, clipes, etc. Estamos cuidando para que o material seja bem interativo, com qualidade, e que os fãs possam desfrutar muito. Quem está cuidando dessa parte de finalização é Di lallo, nosso antigo guitarrista, ou seja, ninguém melhor do que ele para cuidar dessa parte, já que participou de muitos momentos da banda. E ele sabe exatamente o nosso gosto. Tenho certeza de que a galera irá curtir muito esse material.
Z IL BRA IN ADE ALEXANDRE BRITO: Cara, acredito que ele não tenha se sentido pressionado, não. Ele já está na banda faz um bom tempo e já tinha passado por diversas experiências conosco. Acho que esse registro foi mais uma coroação do trabalho que ele vem fazendo junto à banda do que qualquer outra coisa. A gente está muito bem entrosado devido a diversas turnês que fizemos com ele, e tem outra coisa também, na hora que a gente sobe no palco, nem lembra que está gravando um DVD. Tocando para uma ou para quinhentas pessoas, a adrenalina sobe e só vamos saber o que rolou mesmo no final do show (risos). Assim que é bom, pois o nervosismo pré-show desaparece e, no final das contas, a gente curte o show mais ainda.
HELL DIVINE: Imagino que agora vocês irão promover o DVD nos próximos shows, correto? No entanto, já estão trabalhando em algum novo material? ALEXANDRE BRITO: Exatamente! A partir de setembro, os shows serão de divulgação do DVD. Já estamos começando a fechar a agenda para isso e começaremos, dessa vez, divulgando aqui pelo Brasil e América do Sul, para depois irmos à Europa. Sobre material novo, o Cleber já tem varias ideias gravadas lá com ele, mas ainda não nos reunimos para começar a trabalhar nelas. Isso é uma coisa que veremos daqui a uns dias; estávamos muito concentrados na gravação do DVD e decidimos ir com calma para não atrapalhar nem um e nem outro. HELL DIVINE: E quais as maiores vitórias e dificuldades nesses quinze anos de Andralls? ALEXANDRE BRITO: Pô, é um pouco complicada essa pergunta (risos). São muitos anos e muita coisa se passou. Acho que as maiores derrotas, se é que podemos chamar de derrotas, são as mudanças de integrante, mas que, no final, tudo fica bem. As maiores vitórias, acho que são as turnês, que sempre fazemos por esse mundão, levando o nome da banda e do Brasil por todos os cantos, tocando em festivais importantes, com bandas que sempre admiramos; enfim, a vitória é se manter fiel às raízes e convicções durante todos esses anos , fazendo o que a gente gosta, que é tocar Thrash Metal e se divertir. HELL DIVINE: Valeu pela entrevista! Hora da mensagem final, por favor. ALEXANDRE BRITO: Muito obrigado pelo apoio da Hell Divine. O fogo está queimando. Aguardem que, em setembro, o DVD estará em todas as lojas especializadas do país. Stay Fasthrash. Por Christiano K.O.D.A.
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Talvez a Flesh Grinder nem precise de grandes apresentações. É considerada por muitos a maior banda de Splatter/Goregrind nacional em atividade e está completando duas décadas de estrada. O vocalista/baixista Rogerio Murara concedeu uma entrevista à Hell Divine, falando sobre o novo EP do trio, “Necrofiles”, lançado em formato de vinil de 7’’, e também sobre a carreira do conjunto, completado por Fábio Gorrssen (vocal/guitarra) e Daniel Henriques (bateria). Hora de sangrar...
GORE o m e r ext
HELL DIVINE: Vocês são uma banda muito respeitada no underground daqui e lá de fora. Isso, de certo modo, pesa para vocês? ROGERIO MURARA: Tentamos sempre ser muito honestos com nosso trabalho e é gratificante ter esse reconhecimento do público. Não pensamos muito nisso, apenas procuramos fazer com que os materiais que lançamos tenham sempre boa qualidade, para retribuir o respeito que o publico nos dá.
temos outros projetos que, se derem certo, logo divulgaremos.
HELL DIVINE: Vinte anos de banda comemorados com um EP em formato de vinil de 7’’. Como surgiu a ideia? Como foi a concepção de “Necrofiles” e do seu lançamento nesse formato? ROGERIO MURARA: O projeto de lançar um vinil de 7” era antigo. Já tínhamos lançado um split neste formato com a banda Mixomatosis, mas queríamos um que fosse somente nosso. Conversamos com o Fernando Camacho, da Black Hole, e ele gostou da ideia e fez o lançamento. Coincidiu com os 20 anos de banda, mas para comemorar essa data, ainda
HELL DIVINE: O último full, “Crumb’s Crunchy Delights Organization”, e o recente EP saíram pela Black Hole Productions. Vocês e Fernando Camacho têm uma amizade muito grande. Inclusive, ele faz a direção de arte o EP. Já existem planos para novos lançamentos pela BHP? ROGERIO MURARA: Realmente, a amizade que temos com o Fernando Camacho é de longa data, inclusive, talvez poucos saibam, mas ele e o Fábio tocaram juntos numa banda antecessora ao Flesh Grinder, que se chamava Hephrem, isso há mais de vinte anos.
HELL DIVINE: Concordaria que “Necrofiles” tem uma pegada um pouco mais Death Metal do que nos trabalhos anteriores? ROGERIO MURARA: Sim, apesar de não ter sido idealizado dessa forma. Aconteceu que durante as composições as coisas foram tomando este caminho e ficamos bastante satisfeitos com o resultado.
Ele já havia trabalhado conosco na arte de outros materiais e há algum tempo queríamos fazer uma parceria mais duradoura. Logo deveremos anunciar mais algum trabalho juntos. HELL DIVINE: O material, como já dito, foi lançado em vinil, para colecionadores mesmo. Vocês pretendem lançá-lo em CD futuramente? ROGERIO MURARA: Não. Provavelmente, regravaremos uma ou duas músicas para o próximo álbum, para quem não conseguiu adquirir o EP conhecer algumas, mas reproduzir o EP “Necrofiles” para CD está fora dos planos. HELL DIVINE: A discografia de vocês conta, principalmente, vários splits e full lengths. Qual dos dois é menos complicado de se colocar no mercado? ROGERIO MURARA: A vantagem do split sobre o full, talvez seja o fato de ter outra banda ajudando na divulgação da sua, o que abrangeria um número maior de pessoas. Por outro lado, muitas pessoas preferem o full, porque é o trabalho mais esperado da banda, por ser completo e deixar sempre a expectativa do conceito do álbum como um todo. Acho que só enrolei e não respondi diretamente a pergunta, né? (risos). HELL DIVINE: Vocês acham que a Flesh Grinder tem o reconhecimento merecido? ROGERIO MURARA: No nosso modo de ver, pelo que nos propomos a fazer, entendemos que sim. HELL DIVINE: E nessas duas décadas de banda, devem ter muita história para contar. Existe alguma esquisita/engraçada/bizarra nunca revelada? ROGERIO MURARA: Realmente, depois de um tempo, você esbarra com algumas situações engraçadas. Nunca contadas, acho que não temos, mas temos algumas que considero que estão no topo das bizarrices (risos). Já pensaram que o Fábio tinha o rosto deformado mesmo e que aquilo não era uma máscara; já vimos em bate-papo na Internet que levávamos um gambá morto nas apresentações; que o Fábio tinha sido preso e matado o colega de cela, mas a pior foi quando fizemos um release que dizia que os vizinhos tinham nos denunciado e a polícia tinha invadido a casa onde ensaiávamos e encontrado corpos mutilados e em processo avançado de decomposição. Descobrimos num chat que muitas pessoas tinham acreditado naquilo, inclusive estavam nos xingando e dizendo que deveriam fazer isso com a nossa família, até que um sujeito que mora aqui na nossa cidade, mas não o conhecemos, escreveu no chat que não nos conhecia pessoalmente, mas conhecia a banda, e que se aquilo fosse verdade, teria tido repercussão na mídia. Enfim, foi bem divertido ler
aquele monte de asneiras (risos). HELL DIVINE: Ainda sobre os vinte anos de banda, que balanço fariam de todo esse período, em relação não somente ao grupo, mas no contexto em que esteve e está inserido? ROGERIO MURARA: Muita coisa mudou, obviamente. Com relação à banda, tivemos várias mudanças na formação até nos estabilizarmos, mas é algo que acontece com muitas bandas, ainda mais se levarmos em consideração que são vinte anos. Num contexto mais amplo, as mudanças ficam ainda mais evidentes. Praticamente, nada é como vinte anos atrás. Shows, quantidade de bandas, formas de divulgação dos lançamentos, enfim, definir se está melhor ou pior, penso que cabe a cada um que teve a oportunidade de vivenciar, mas muitas coisas feitas anos atrás, apesar das dificuldades, deixaram saudades. HELL DIVINE: O que vem pela frente com a Flesh Grinder? ROGERIO MURARA: Estamos preparando um fulllenght e pretendemos lançá-lo ainda este ano. Tínhamos ficado um período sem nos apresentar para dar sequência a alguns materiais e outros projetos paralelos, mas estamos novamente com algumas apresentações marcadas. Estamos planejando também o lançamento de outros tipos de materiais, mas sobre esses, vamos dando mais detalhes na medida em que forem se concretizando. HELL DIVINE: O que acha das bandas Splatter/ Goregrind brasileiras atualmente? Existe alguma que destacaria no cenário? ROGERIO MURARA: O cenário splatter/goregrind sempre foi muito bom no Brasil, desde o início dos anos 90 com Sarcastic, Gore etc... É até difícil destacar essa ou aquela banda, para não ser injusto com ninguém, mas mesclando bandas antigas que ainda estão em atividade com novas, eu destacaria MDK, Crunch Delights, Ovários, Necrocéfalo, Offal, Harmony Fault, Zombie Cookbook, Necrotério, e por aí vai... HELL DIVINE: Agradeço muito a entrevista. Por favor, deixe uma última mensagem. ROGERIO MURARA: Nós é que agradecemos a oportunidade de participar da Hell Divine. Sempre acreditamos muito na abrangência e lealdade de zines e blogs com essa proposta, então, para nós, é um prazer poder participar. Gostaríamos de agradecer também a todos os nossos amigos, aos que nos acompanham, que gostam do som que fazemos e que nos respeitam. Keep on rotting.... Por Christiano K.O.D.A.
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A É AT
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MORTE
Completando quinze anos de carreira, em 2013, a banda Kalmah lança, no fim desse primeiro semestre, o seu sétimo álbum de estúdio intitulado “Seventh Swamphony”. Nessa breve entrevista o guitarrista Antti Kokko nos conta sobre o início de carreira ate chegar às gravações do novo álbum. 19
HELL DIVINE: Antes de surgir o Kalmah a banda tinha outro nome, tocava Thrash Metal. Contenos um pouco sobre o inicio de carreira. ANTTI KOKKO: A banda se chamava Ancestor e o Pekka começou em 1991. Eu entrei na banda depois de terem crescido um pouco em 1995. Depois de cinco a seis demos, decidimos mudar o nome para Kalmah e, ao mesmo tempo, decidimos colocar tecladista na banda. Isso foi em 1997. Nessa mesma época, encontramos uma banda chamada Antestor que tinha algumas semelhanças conosco. Após a primeira demo como Kalmah assinamos contrato com a Spikefarm Records e aqui estamos nós chegando firme e forte para o sétimo álbum. HELL DIVINE: O nome da banda também é algo bem curioso, por ser escrito na língua Carelia. Qual o seu verdadeiro significado? ANTTI KOKKO: Essa é uma palavra de dialeto da Carélia falado por pessoas que vivem na mesma região. Esse é um território que a Finlândia perdeu para a Rússia após a Segunda Guerra Mundial. Por exemplo, alguns parentes da minha mãe foram retirados dessa área para a Finlândia durante a guerra, por isso ainda há pessoas aqui na Finlândia, que falam esse idioma. Resumindo: Kalmah significa “até a morte” ou “para o túmulo”. HELL DIVINE: Com certeza, a banda sofreu sérias comparações ao Children Of Bodom no inicio de carreira. Como vocês conseguiram dobrar essa situação e instituir um estilo próprio? E eles (COB) são uma influencia para a banda? ANTTI KOKKO: Sim, temos sido comparados ao Children Of Bodom desde o início da nossa carreira. Por um lado, é uma honra ser comparado a essa excelente banda, mas por outro lado nós também estamos fazendo o nosso próprio estilo desde o início da nossa carreira. Seria hipocrisia de minha
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parte dizer que não gosto do COB. Na verdade, adoro os primeiros álbuns, mas com certeza eles não são a principal influencia da banda. HELL DIVINE: Vocês classificam seu som como “Swamp Metal”. Explique-nos esse termo utilizado pela banda. ANTTI KOKKO: Bem, as pessoas gostam de denominar e categorizar algo diferente. Até agora, pelo menos ninguém está fazendo “swamp metal” de modo que é, certamente, um bom gênero para nós. Em geral, eu considero a nossa música um Death Metal Melódico com toque agressivo e bem sujo. Assim tem uma ligação com os pântanos finlandeses. HELL DIVINE: Nesse novo álbum de estúdio vocês resolveram trabalhar ao lado de Jens Bogren (Soilwork, Opeth, Katatonia, Dark Tranquillity, entre outros) pela primeira vez. Qual o motivo dessa escolha? ANTTI KOKKO: Desta vez, tivemos um grande apoio da gravadora para fazer tudo o que tínhamos planejado. Sabíamos que seus trabalhos anteriores eram de excelente qualidade e esse foi um dos motivos para escolher Jens. As gravações foram excelentes e Jens fez a sua magia para atingir o melhor resultado em “Seventh Swamphony”. HELL DIVINE: No álbum “They Will Return” (um dos melhores da banda), temos o cover de “Skin O’ My Teeth” do Megadeth. Li uma vez que o Megadeth é unanimidade entre os todos da banda. Vocês já ouviram o “Super Collider”? O que acharam? ANTTI KOKKO: Honestamente, esse é provavelmente o pior álbum que eles fizeram desde “Risk”. Eu ouvi o álbum cerca de duas a três vezes e minha opinião continuou a mesma. Uma pena, pois sempre foram
uma das principais influencias da banda. Eu sempre tive o Marty Friedman como um dos principais guitarristas do metal e após sua saída o nível do Megadeth caiu bastante. HELL DIVINE: Hoje, a banda Kalmah já tem uma carreira muito bem estabilizada e com muitos fãs ao redor do mundo. Quando vocês virão a América do Sul? Mais especificamente ao Brasil? ANTTI KOKKO: Eu, honestamente, não sei. Houve algumas negociações em andamento há alguns anos, mas não consigo me lembrar do porque de não ter dado certo nossa ida ao Brasil. Esperamos poder tocar por ai em breve. Ouvi dizer que os fãs são loucos por aí! HELL DIVINE: Muito obrigado por responder a essa entrevista. Deixe algumas palavras para seus fãs no Brasil. ANTTI KOKKO: Muito obrigado a vocês da Hell Divine pelo espaço. Espero que vocês gostem do novo álbum! Por Luiz Ribeiro.
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Definitivamente, estava na hora de mostrarmos aqui belas palavras de quem realmente entende de Black Metal. E para isso não pensei em ninguém melhor do que uma das mais consagradas bandas nacionais da atualidade. Sim, me refiro ao Patria. Não é preciso dizer que concordo com cada vírgula em cada resposta, e ouso a dizer que essa foi uma das melhores entrevistas que já fiz e li – modéstia à parte, é claro. Confira agora essa entrevista com Mantus.
HELL DIVINE: Antes de tudo, obrigado, novamente, por generosamente dedicar o seu tempo para essa entrevista! Creio que devemos começar ressaltando um fato que não pode ser ignorado: o Patria, hoje, é uma horda exemplar quando o assunto é Black Metal nacional. Simplesmente, não tem como deixar vocês de lado no metal extremo brasileiro. Como vocês encaram essa ascensão? Obviamente, devem estar muito felizes com isso, mas como vocês se enxergam agora, comparado com o início de tudo, em 2008? MANTUS: Eu que agradeço pelo interesse no nosso trabalho e espaço dado aqui na Hell Divine. Bom, primeiramente, fico muito feliz e orgulhoso de saber que hoje temos esse grande reconhecimento na cena Black Metal brasileira, não só o reconhecimento em si como também o respeito dos fãs e amigos 22
que conquistamos ao longo desses cinco anos de existência. Isso é algo impagável, sem dúvida. Nunca, nada do que fizemos foi algo realmente planejado… O Patria começou como um projeto totalmente sem compromisso, sem muita frescura, querendo fazer barulho à moda antiga, sem muros, preocupações mercadológicas ou intuito de crescer. Era um projeto extremamente pessoal e quase que propositalmente para poucos “ouvidos”. Sempre gostamos muito desse sentimento mais underground e arcaico… Era isso que queríamos resgatar com o Patria. Longe da ditadura comercial e musical dos tempos modernos. Hoje, depois desses cinco anos, a coisa não anda tão diferente, mesmo nós estando crescendo como banda e visando novos objetivos. A essência é a mesma e, sinceramente, não fazemos nenhuma questão de mudar isso. Não vivemos da banda e eu, particularmente, nem gostaria. Também demos
a r i e d n a B
a r g e NHasteada sorte em termos tido a oportunidade de trabalhar com selos com a mesma visão que a gente e isso facilitou muito a nossa trajetória e a forma com que encaramos a coisa toda até hoje. Nosso trabalho transpira honestidade, posso garantir isso e acredito que quem acompanha o Patria já há algum tempo, pode perceber isso nas entrelinhas da nossa música e postura. A música que fazemos e atitudes que tomamos são as mesmas que gostaríamos de ver em outras bandas de Black Metal, então fazemos tudo querendo agradar primeiramente nossos próprios olhos e ouvidos, tentando olhar a “figura” de fora, como verdadeiros fãs de Black Metal. Então, acredito que o resultado natural de toda essa nossa dedicação e suor reflita diretamente nos fãs de Black Metal mais ortodoxos, que logo se identificam com a nossa maneira de se expressar com o Patria.
HELL DIVINE: Não é novidade alguma que, de tempos em tempos, as bandas tendam a fazer combinações de estilos diferentes de metal ou mesmo criar novos “sons e rótulos”, sendo que boa parte dessas inovações acabam sendo taxadas de ridículas e não se destacam. Seria interessante se vocês, uma horda autêntica de Black Metal, deixassem aqui sua opinião a respeito disso. MANTUS: Olha, essa é uma questão difícil de responder… Quase filosófica! Não sei se poderia julgar isso, pois antes de qualquer coisa eu me considero uma pessoa eclética e ouço todo tipo de música. O que posso dizer é baseado no meu gosto musical pessoal e nada mais. Apesar de o Patria ser uma banda autêntica de Black Metal, como você mesmo falou, nós também nos permitimos algum experimentalismo na nossa música, mesmo 23
que discretamente. O importante é que haja um bom senso e, ao menos com o Patria, procuro não me perder no meio de tantas viagens, mantendo o foco e o mínimo de discernimento para saber o que realmente é válido ou não entrar na nossa música. Ao mesmo tempo, acho que música é arte e isso é algo que deveria ser livre, sem censura, sem rótulos! Gosto é algo muito subjetivo e é bom que seja assim, mas, obviamente, concordo que muitas bandas acabam se perdendo nessa tentativa de inovar, com essa necessidade extrema de soar original, muitas vezes pressionadas pela “onda” mercadológica, pensando em vender ou amenizar a imagem e música, se tornando mais comercial para ter mais espaço e atenção de grandes selos, etc. Entretanto, para soar original é preciso simplesmente SER. Não é algo mecânico! Não basta querer ser original, vem com o tempo, com suor e com trabalho – isso quando vem. Por outro lado, nem sempre ser original é um atestado de qualidade. Existe muita bosta que é realmente original e eu abomino (risos). Acredito na evolução natural de uma maneira nada cronológica, o que é, no mínimo, estranho eu sei (risos), mas talvez sejam os diferentes pontos de vista e “estranhezas” como essas que façam a coisa se tornar única. Não vejo a música como uma fórmula chata. São sentimentos expressados através de notas. E esses sentimentos variam de tempo em tempo de acordo com as experiências, influências e vivências de cada um. Como eu disse, gosto é gosto, mas eu poderia te dar dois ou três exemplos que ilustram bem o que eu estou querendo dizer. Por exemplo, o Enslaved é uma banda que mudou muito desde o primeiro álbum, assim como o Amorphis. Pode-se dizer que viraram outra banda praticamente, mas o trabalho é fantástico do começo ao fim, e é nítido que veio acontecendo naturalmente, a cada álbum. Soa muito verdadeiro por mais light e acessível que o som esteja hoje. Não parece uma mudança estratégica! Agora, o Darkthrone, desde o “Total Death” já não são a mesma banda. Em minha opinião, fizeram muitos discos ruins, só vendendo graças ao nome que conquistaram e muito marketing, e mais ainda nos últimos quatro ou cinco discos, quando perderam totalmente o foco. Eles entraram numa onda de punk/stoner metal “milenar”, querendo ser mais underground do que realmente são, ainda com uma postura meio junkie e esquisita, o que, para mim, destruiu a banda. Deixando claro, para mim! Acho o Darkthrone uma banda maravilhosa, uma das melhores bandas de Black Metal de todos os tempos, mas não consigo ouvir nada que preste deles depois do “Total Death”. Foi uma decepção! Perderam a autenticidade real da banda, no pior dos sentidos. Ou seja, essa é a “evolução” anacrônica que eu quis dizer antes. Bandas que eram mais pesadas ficando mais light fazendo álbuns perfeitos, e outras querendo “retroagir” de forma nada natural – em minha opinião – fazendo trabalhos de médios para horríveis. Gosto quando ouço uma banda e a reconheço mesmo não conhecendo o álbum. Isso, para mim, é mais importante do que qualquer inovação ou originalidade dentro da música. É personalidade pura e autêntica! 24
Aí sim, merece meu respeito e meus ouvidos. HELL DIVINE: Deixando de lado por um momento a recepção de “Nihil Est Monastica” por parte dos fãs, seria bom saber a recepção do novo trabalho por parte da própria banda. Como vocês avaliam o novo trabalho em comparação aos seus antecessores? Cite alguns fatores que serviram de inspiração. MANTUS: Bom, sou suspeito para falar (risos). Mas para a gente funciona como uma espécie de continuação dos trabalhos anteriores. Sempre buscando um aprimoramento. É claro que existem novos elementos e experimentos, mas a essência é basicamente a mesma. Acho que é um álbum que pode agradar a diferentes tipos de fãs de Black Metal. Com ele, conseguimos desenvolver um pouco mais a nossa música e, ao mesmo tempo, definir uma sonoridade quase que própria. Temos trabalhado muito nessa questão. Para nós, muito mais importante do que soar original ou diferente, é conquistar nossa própria identidade, sempre nos reinventando a cada trabalho, fugindo da monotonia, sem perder aquela rispidez, simplicidade e sonoridade orgânica de costume. Essa é nossa inspiração principal. HELL DIVINE: Ainda citando “Nihil Est Monastica”, ele é oficialmente o segundo álbum da horda lançado pela Drakkar Productions. Qual é a experiência da banda em trabalhar com uma label estrangeira? É comum reclamações de vários tipos sobre gravadoras nacionais. Qual a opinião do Patria em relação às dificuldades de se trabalhar com gravadoras nacionais, ainda mais voltadas para o metal extremo. MANTUS: Exato! Nosso segundo álbum via Drakkar e nossas experiências com eles e com nosso selo anterior (Monokrom/Russia) foram sempre ótimas. Geralmente, eles têm uma infraestrutura e distribuição muito maior, o que é primordial, em minha opinião. Já houve selos no Brasil interessados no Patria, mas nenhum até hoje pode oferecer o que os selos de fora oferecem, então, a nossa escolha é bem simples. Não tenho um pingo de nada negativo para falar dos selos brasileiros, pois sou sócio de um e sei o quão difícil é lidar com o mercado musical nos dias de hoje, principalmente, num país como o Brasil assolado pela cultura da pirataria. O problema todo é essa falta de costume dos brasileiros comprarem material original aliado à péssima condição econômica do país, mil impostos abusivos, entre outros males. Isso faz com que todo o trabalho seja muito mais difícil, pois o selo precisa ter o incentivo de que tem mercado para o produto que ele lança – o que, infelizmente, não tem acontecido de uns dez anos para cá. E, claro, as bandas são as maiores prejudicadas com isso. Em todo caso, o que a Internet trouxe de ruim com a questão dos downloads ilegais, também abriu um leque de novas opções para o artista independente. Hoje, é possível divulgar um trabalho amplamente sem a necessidade de um selo, mas o artista merece e precisa ter o lucro em cima do trabalho que faz e é nessa hora que o Brasil faz feio,
pois são pouquíssimos fãs de metal aqui que, de fato, tiram dinheiro do bolso e pagam por material original. O mp3 é algo fantástico, pela praticidade aos que precisam e também pelo fato de que podemos ouvir a música antes de investir, sabendo se é realmente algo que nos agrada. Mas a maioria não enxerga por esse lado e sequer se conscientizou de que essa é uma atitude que prejudica o meio do qual ele acha que faz parte e diz que apoia. Enfim, existe muito papo para pouca atitude, infelizmente! Acabei perdendo um pouco o fio da meada, mas acho que pelo que eu falei, minha resposta ficou clara. HELL DIVINE: Levando em consideração as apresentações nacionais feitas pelo Patria, qual delas foi a mais marcante para a horda? Qual é a região que costuma ser mais presente, mostrando o seu apoio à banda? MANTUS: Na verdade, só fizemos dois shows até hoje, um aqui no Rio Grande do Sul e outro em São Paulo. Ambos foram ótimos e foram marcantes para nós. Todas as regiões têm suas próprias características, mas talvez por SP ser uma megalópole a cena acaba sendo mais forte e mais presente. Gostamos muito de tocar por ai, a organização foi impecável, ótimas bandas e o público foi nota 10. Fomos muito bem recebidos e esperamos voltar em breve! Em todo caso, não somos uma banda que toca em qualquer lugar e toda hora. Como disse anteriormente, não vivemos da banda. Temos nossos trabalhos, famílias e responsabilidades, que quase sempre tomam a maior parte do nosso tempo. Além disso, estamos um tanto afastados do resto do Brasil, o que faz a logística financeira ficar ainda mais difícil. Trocamos de baixista há alguns poucos meses e estamos ensaiando e preparando um novo show. Não temos nada agendado ainda, apenas um convite para tocar no Rio de Janeiro, mas nada 100% fechado e, mesmo que feche, acredito que seja para o final do ano. HELL DIVINE: Fugindo um pouco do habitual e matando a curiosidade daqueles que gostam de saber detalhes, cite aqui os instrumentos e equipamentos que vocês normalmente usam durante suas apresentações, gravações e ensaios. MANTUS: Bom, geralmente uso duas guitarras, uma Eddie Van Halen modelo Wolfgang (que é a minha preferida, principalmente para gravações e ensaios) e uma BC Rich Warlock com captação top da DiMarzio que gosto de usar em shows, mais pelo visual e formato da guitarra. Nosso outro guitarrista Igniis Inferniis usa Ibanez. De amplificador para shows, na verdade, varia. Damos preferência para MesaBoogie ou Marshall JCM900 cabeçote e caixa, mas também gostamos do METEORO Wector III, quando novo e funcionando bem (risos). Nosso baixista atual Vulkan tem um baixo muito legal feito por Luthier (esqueci o nome) e usa ampli AMPEG, HARTKE SYSTEM ou METEORO. O nosso batera Abyssius sempre varia de marca e modelo de lugar para lugar, mas ensaia com uma Pearl, se não me engano. Microfone, geralmente, usamos Shure SM57, mesmo para as gravações.
Quanto mais sujo, melhor (risos). Bom, acho que é isso! HELL DIVINE: Lord Mephyr teve um papel notável em algumas composições do novo álbum. Como foi trabalhar com ele? MANTUS: Sem dúvida! Ele é um músico mega talentoso e foi responsável pelas três faixas orquestradas que funcionam como intermezzos no álbum. Demos algumas direções para ele em relação ao que a gente procurava, mas deixamos ele trabalhar livremente compondo as faixas através de seu próprio ponto de vista. O resultado ficou fantástico! HELL DIVINE: Sinta-se à vontade para usar este espaço para divulgar informações sobre apresentações, planejamentos, novas composições, etc. MANTUS: Estamos ansiosamente aguardando o lançamento da versão em LP e tape do “Nihil Est Monastica”, como também nosso novo trabalho, que está pronto para ir para fábrica. O split CD com a banda italiana Xeper, também via Drakkar. Possivelmente, estará disponível aqui no Brasil até o final do mês de julho. São cinco faixas exclusivas do Patria e quatro faixas do Xeper. O trabalho está demais! Arrisco dizer que essas faixas do Patria são uma das coisas mais legais que fizemos até hoje. Não vemos a hora de ter o split em mãos. E para quem ainda não conhece o Xeper será uma ótima oportunidade. Grande banda, do baixista ao vivo do Gorgoroth e Impiety! Também está para sair, em breve, em tape o trabalho “Faithless” que estávamos distribuindo gratuitamente por meio de download. São algumas faixas inéditas que nunca usamos em nenhum álbum. Esse material ganhará essa edição física die-hard A6, terá nossa demo de bônus e um patch muito bonito de brinde. O lançamento é do selo Narrowards. Ah, e não poderíamos nos esquecer do nosso novo videoclipe oficial da música “Nyctophilia” que está sendo editado pelo grande produtor sueco Håkan Sjodin, que trabalhou no último vídeo do Marduk “Souls for Belial”. Não temos data ainda para o lançamento dele, mas creio que sairá simultaneamente com o LP. HELL DIVINE: As últimas palavras são suas. Novamente, obrigado pela entrevista. Força e sucesso sempre! MANTUS: Agradeço a você, Yuri e a todos da revista Hell Divine pelo grande apoio e espaço dado aqui nessa entrevista. Sucesso para vocês também com a revista e parabéns pelo ótimo trabalho realizado. Salve o verdadeiro Black Metal brasileiro! Interessados em conhecer mais sobre o Patria: www.facebook.com/blackmetalpatria Por Yuri Azaghal.
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resenhas Ágona “Homo Grotescus” Independente Alguém já percebeu a movimentação que está acontecendo no Metal aqui em nosso país? A qualidade das bandas está aumentando cada vez mais e, se antes já não deviam nada às gringas, hoje afirmo que as superam com folga. O Ágona já surpreendeu a todos desde o lançamento do EP “Essencial Putrefação”, em 2011. Alguns anos se passaram e, finalmente, temos em mãos o mais recente e aguardado trabalho de inéditas. Apresento-lhes o fim do mundo em forma de música, “Homo Grotescus”. Finalmente, as bandas brasileiras estão assumindo com orgulho suas letras cantadas em português! Sinceramente, gosto bastante dessa escolha mais do que acertada que em nada piora o resultado final, muito pelo contrário, soa ainda melhor! O disco está simplesmente brutal, repleto de energia e muito empolgante. Uma música melhor que a outra que, em sequência, formam uma corrente de aço que puxa seus pés para o inferno. A faixa de abertura, “Regressão”, já é um tapa na sua cara, contando com um riff maldito de guitarra acompanhada do baixo. “Predestinados” mescla bem o lado Death/Thrash da banda, remetendo bastante à sonoridade do Lamb Of God. “Unon”, que também ganhou um videoclipe bem legal, é de tirar o fôlego e assume a função de ser uma das melhores do álbum ao lado de “Utopia”. A maravilhosa e doentia capa ficou a cargo do cada vez mais atuante Raphael Gabrio. “Homo Grotescus” parece ter vindo com cola no disco, pois desde que entrou no meu player, não sai mais. O Ágona mostra toda sua força por meio desse trabalho, que já pode ser considerado um dos melhores do ano, sem dúvidas! Nota: 9.5 Por Pedro Humangous. ARCKANUM “Fenris Kindir” Season of Mist Posso estar exagerando, mas ouso dizer que esse talvez seja o melhor álbum de black metal do ano. Tendo como ponto forte suas pausas dramáticas e seu ritmo “sujo”, a atmosfera de “Fenris Kindir” é predominantemente obscura, com bases que estremecem e causam um legítimo ar “maligno” durante a execução de suas notas. O andamento é rápido, agressivo e sem muita enrolação, mantendo a verdadeira essência do black metal – ou seja, a essência “pura”, dando um sentimento leve de nostalgia para 26
aqueles que apreciam o tipo de sonoridade tradicional do gênero e, ao mesmo tempo, acrescentando leves elementos sinfônicos que harmonizam com o caos de distorções e blast beatings, dando um pouco de impressão de música ambiente em determinados trechos. O arranjo é bem variado, mantendo o foco no propósito do álbum, ao mesmo tempo, evitando que as faixas se tornem repetitivas e enfadonhas. A ideologia seguida por Shamaatae continua evidente na temática lírica das novas composições, mostrando claramente uma progressão em termos de qualidade de composição. Faixas como “Hamrami” são tocantes, profundas e perturbadoras. Não há muito mais que falar desse álbum, além de ser um trabalho altamente profissional e digno de aquisição física. Finalizando com um excelente cover da horda Necromantia (Grécia), “Fenris Kindir” é, definitivamente, um álbum que vale a pena ser ouvido muitas e muitas vezes. Nota: 10 Por Yuri Azaghal Bleeding Utopia “Demons To Some. God To Others” Season of Mist Praticando um Thrash/Death metal brutal e sem concessões, embora moderno e atual, o quinteto sueco Bleeding Utopia acaba de lançar seu primeiro registro. Sem a intenção de reinventar a roda ou inovar no meio metálico, os caras apresentam aqui dez faixas pesadíssimas, mas com boas melodias, lembrando em vários momentos os brazucas do Slasher. Embora o trabalho de guitarras do álbum seja excelente, o real destaque fica para as linhas insanas de bateria, que variam entre o extremo e o “groove” com muita facilidade, e que deixam o ouvinte de queixo caído. O ponto negativo fica para o fato de as músicas serem muito parecidas entre si, e para as linhas vocais que não variam nunca, e que acabam deixando a audição um pouco cansativa no decorrer do interregno do material. Não é um disco que vai mudar a vida de ninguém, mas pode trazer uma audição prazerosa para os ouvintes menos exigentes. Nota: 6.5 Por Júnior Frascá. Carniça “Nations Of Few” Independente Os veteranos do Carniça vêm com o seu terceiro disco completo, “Nations Of Few”, mostrando o que têm de melhor, um Thrash/ Death Metal direto, sem firulas ou enfeites a mais em seu processo de gravação e até mesmo de composição. Ouvindo o disco você vê claramente a influência de bandas clássicas como Slayer e Possessed, caracterizando o som do Carniça. As faixas, todas elas de bom gosto, correm bem diretas e secas, algumas com mais cadência e melodia, como “Corruption” e “The Protester”. Ootras já descem a madeira, com passagens de blast-beat, como em “Diablo Politician”. Todo o disco é um bom exemplo de como podemos ter qualidade no Thrash Metal. Destaco a faixa “Prayers Before The Death”, com uma levada viciante de uma bateria seca e o incrível cover do clássico do WASP, “I Wanna Be Somebody”, fechando esse petardo do metal nacional. A audição é mais que recomendada e que essa Carniça exale seu odor forte por todo o país. Nota: 7.0 Por Augusto Hunter.
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Cauê Leitão “Lab Guitar Experience” Independente Disco de guitarrista deveria ser a coisa mais fácil de resenhar, em especial, a classe dos shredders, pois os ingredientes básicos são técnica em abundância, baterista que levaria multa por excesso de velocidade e o principal: músicas chatas pra caramba. Mas, mostrando para o redator que é possível fazer música instrumental de qualidade, estava na minha caixinha de correio este CD. Gente... E como eu me calei. Apesar de ter os elementos essenciais do estilo, “Lab Guitar Experience” não é chato, pois o músico (conhecido por seu trabalho com o Andragonia) mesclou músicas virtuosas com outras quase pop e de fácil assimilação. Claro que essas canções mais acessíveis encantam logo de cara, como “Power of a Warrior” e “Into the Cloud”, que são extremamente grudentas e que se fossem vocalizadas, perderiam o sentido. Só que, graças a essas faixas, acabamos nos rendendo ao talento do músico, que oferece em seu CD outros destaques, como a pesada “Chaos in the Rope”s e a ‘groovada’ “Reflection in Groove”. Um conselho: em vez de idolatrarem apenas os guitarristas de sempre, que tal prestarem atenção em caras como Cauê Leitão? Nota: 8.5 Por João Messias Jr. Chaos Synopsis “Art Of Killing” Lab 6 Music Ando realmente abismado com as bandas brasileiras. O nível aumentou muito e essa saudável e acirrada briga pelo topo está bastante interessante. Estão todos trabalhando duro, investindo pesado na qualidade dos instrumentos, dos melhores estúdios de gravação, buscando a melhor produção, mixagem e masterização. “Art Of Killing” é o segundo álbum do Chaos Synopsis, que já havia lançado o excelente “Kvlt Ov Dementia”, em 2009. O novo trabalho supera o antecessor e com folgas. O Thrash/Death aqui apresentado está muito bem composto, tudo em seu devido lugar, esbanjando classe ao destilar um poderoso veneno. A pancadaria já começa com a faixa de abertura, “Son Of Light”, que faz uma mistura interessante das letras cantadas metade em português, metade em inglês. Outra faixa sinistra é “Rostov Ripper”, com uma pegada bem Thrash, bateria desenfreada e riffs cavalares. O legal das letras é que foram baseadas em histórias de famosos “serial killers”, deixando o disco ainda mais macabro. A corda do baixo quase enrola no seu pescoço em “Bay Harbor Butcher”, que conta com um solo pra lá de inusitado. A masterização do experiente Andy Classen (no famoso Stage One Studio, na Alemanha) deixou o som perfeito e polido na medida certa – dando aquela clássica sensação de soco no ouvido. Só senti o vocal pouca coisa abaixo do instrumental, mas nada que atrapalhe. Rafael Tavares anda trabalhando feito louco, ultimamente, e não é à toa que muitas bandas andam escolhendo sua arte para ilustrar a capa de seus discos. Essa, em especial, ficou absurda! Recentemente, postei nas redes sociais uma foto com os candidatos ao melhor disco do ano, e lá estava o “Art Of Killing”. Sem dúvidas, é um excelente trabalho e forte candidato ao topo da lista. Não deixe de ouvir! Nota: 8.5 Por Pedro Humangous.
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Code 3-7 “Main Entrance” Independente Não tem jeito, quando a pessoa nasce com um dom e está predestinada ao sucesso, não tem quem mude o rumo da história. O Code3-7, aparentemente, surgiu do nada e já está destruindo fones de ouvido e mentes aparentemente saudáveis – me incluo nessa lista. A banda é capitaneada pelo super competente (e gênio) Michel Oliveira, que é acompanhado por Wallace Ribeiro (baixo) e Rafael Lucas (bateria). Michel assume as guitarras, a produção, mixagem e masterização do disco. Ao ouvir “Main Entrance”, você simplesmente não acredita que temos bandas desse nível técnico no Brasil. O gênero Djent surgiu há pouco tempo mundo afora e, felizmente, aportou em nossas terras mais cedo do que o esperado. Você já deve ter ouvido falar de bandas como Animals As Leaders e Scale The Summit, que abusam de sons modernos, repletos de guitarras de sete cordas, afinação baixa, inserção de sons robóticos e eletrônicos, bateria ultra quebrada. O Code 3-7 segue exatamente essa linha, totalmente instrumental e elevado à extrema potência quando o assunto é viagem musical. Ainda está confuso? Para falar bem superficialmente, pense em um Meshuggah sem vocais. Porém, a ambientação criada pelo Code 3-7 vai muito além, abusam de sintetizadores e de passagens mais melódicas – você consegue visualizar facilmente uma viagem interestelar de algum filme de ficção científica moderno. Conversando pessoalmente com o Michel, trocamos uma ideia sobre a banda ter vocais nos próximos trabalhos. E não é que ele gostou da ideia e já está compondo novo material com vocais? E advinha quem vai cantar? Ele mesmo! O multi-instrumentista parece realmente não ter limites para compor e executar suas brilhantes criações. Só de curiosidade, procure no YouTube pela banda e veja os covers inusitados feitos pelo Michel. Meu último pedido a ele seria utilizar um bom artista gráfico para ilustrar a capa, pois um álbum desse nível merece. Procure ouvir “Main Entrance” e comprove cada palavra dita aqui. Fique de olho nesse nome, você ainda vai ouvir bastante daqui pra frente! Nota: 9.0 Por Pedro Humangous. Corréra “Human Chaos” Against Records Um dos mais surpreendentes do ano. Quem acompanha o grupo, que está completando quinze anos, certamente concordará. Especialmente porque está ciente da evolução absurda pela qual o quinteto de Araraquara/SP passou. De verdade, é difícil dizer que seria a mesma banda, quando comparados o primeiro disco, “Eu Não Dei Letra Pra Rodar”, com esta pérola que está saindo do forno, o terceiro full length. O lançamento demorou pra sair, mas acredite: valeu esperar cada segundo! Um Thrashcore aniquilador, com o extremismo do Death Metal em dados momentos. O nível das composições é altíssimo, sempre com a agressividade sobressaltando em todas elas. É cada arranjo lindo, um cuidado em que é perceptível a preocupação do conjunto com cada detalhe do álbum. Enfim, músicas bastante trabalhadas, minuciosamente esculpidas. São tantas ideias colocadas em prática, que as faixas são longas para os padrões do estilo dos caras. E a proposta realmente mudou, seja no instrumental, que está afiadíssimo, seja nas letras, agora cantadas em inglês. A primeira faixa, “Fields Of War” (que na versão anterior, “Campos de Guerra”, era interpretada em português), já virou um clássico. Tem uma pegada explosiva e empolga do início ao fim. Outros grandes petardos são “Dirty Empire”, com uns breakdowns de estremecer; “Bloodline” (que também foi regravada) e o refrão pegajoso; “Burning Eyes”, talvez a que tenha a maior influência de Death Metal; e “Decade of Destruction”, executada de maneira primorosa e com um final para quebrar pescoços batendo cabeças. A gravação está espetacular, com um peso sobrenatural das guitarras de Vitor Craes e Danyel Piccin, e do baixo demolidor de Álvaro Jhopar. E a produção gráfica também é de chamar a atenção. A capa, por exemplo, feita pelo renomado Rafael Tavares, embora apresente somente o logotipo da banda, é bem rica em detalhes e tons de cores, e o 29
encarte, com fotos caprichadas, também é ‘profisa’. Michel Chade se aperfeiçoou na bateria e capricha muito nos pedais duplos, quebrados na medida certa, sem tirar nem por. E o vocalista Lincoln Ducci berra com toda a ira do mundo, lembrando, quando canta de forma mais esganada/quase gutural, o timbre vocal de um “tal” de Phil Anselmo. Talvez um único item que poderia ter um investimento maior é a velocidade. Calma lá, existem vários trechos em que a porradaria é rápida, mas poderiam ser mais acelerados. E é só, pois no restante, estão irretocáveis. A Corréra é certamente uma das melhores bandas de Thrashcore do estado, quiçá do Brasil! Se esse pessoal quiser, ganha nome lá fora fácil. Aqui é na base da marreta! Nota: 9.0 Por Christiano K.O.D.A. Empürios “Cyclings” MS Metal Records Sei que tem muita gente que desejará a morte deste redator após ler essa resenha. Mas estou muito feliz com essa espécie de review que o metal melódico vem recebendo. Curiosamente, vinte anos após o lançamento do clássico “Angels Cry” (Angra), bandas voltam a apostar neste estilo, e de forma primorosa, como é o caso do sexteto carioca Empürios. Só que com muita sabedoria, o sexteto formado por Fernanda Decnop (voz), Renata Decnop e Iury Alonso (guitarras), Luiz Freitag (baixo), Thiago Alves (bateria) e Marcos Ceia (teclados) optou por “versatilizar” o estilo, agregando elementos sinfônicos, progressivos e obscuros, mostrando que é possível, sim, trazer novas nuances e, de certa forma, reconstrui-lo. Um desses exemplos é “Invisible Man”, que possui nuances Hard. Já “Chaos” começa soando como uma música tradicional do estilo, mas no decorrer dela, ganha toques progressivos e outros próximos da música brasileira. O instrumental “The Butterfly Effect” começa com uma linda introdução de teclados que nos remete ao Savatage, só que depois ganha contornos cadenciados e cheios de virtuosismo, sendo, assim, um dos pontos altos de “Cyclings”. Mas o que temos de melhor aqui é “Mayã”. Ela começa de forma acústica, num híbrido de MPB com Rock, cujos andamentos ganham guitarras limpas e uma linha vocal que pode ser considerada uma das melhores do estilo. Depois ganha contornos pesados e termina de forma climática. Lembra que falamos do Angra? Pois é, o primeiro vocalista do grupo, André Matos coloca um pouco mais de brilho no disco, participando em “Over the Fire”. Assim como o CD do Skinlepsy, merece ser ouvido diversas vezes seguidas. Ao lado de grupos como o Vandroya e Ecliptyka, o Empürios tem tudo para fazer bonito neste novo momento do estilo. Nota: 9.0 Por João Messias Jr. Facada “Nadir” Blach Hole Productions Quanta maldade no coração. Quanta maldade na voz, nas baquetas e palhetas. “Amanhã Vai Per Pior”, já alerta o título de uma das músicas dos cearenses do Facada. Na realidade, o amanhã já se tornou o agora, com o lançamento de “Nadir”, o terceiro e talvez mais furioso full-length da banda. O Grindcore de outrora recebeu improváveis influências de... Black Metal! Sim, agora, a mescla de estilos norteia o som do quarteto formado por James (baixo/vocal), Dangelo (bateria), Ari (guitarra) e Danyel (guitarra – o músico mora na Alemanha atualmente). A velocidade que sempre caracterizou o grupo está lá, assim como as vozes revoltadas do vocalista. O que se percebe de diferente são, principalmente, os riffs, que ganharam um tom levemente mais melódico, como geralmente executam os conjuntos do Metal negro. Mas se alguém se preocupava com o resultado da nova – e involuntária – proposta, pode ficar tranquilo: o disco ficou soberbo! São muitas boas ideias, mas que não se sobrepuseram aos riffs mais Grind. É lógico que eles estão 30
lá, equilibrando tudo! E nem precisaria, mas o disco conta ainda com participações memoráveis: o vocalista Marcelo Appezzato, do Hutt – outra lenda do nosso Grind – participa da homenagem dos nordestinos ao grande Zé do Caixão, cantando na faixa “Josefel Zanatas”. John “The Maniac” Leatherface, do empolgante Chronic Infest, contribui nos vocais de “Corumbá, Hippie do Inferno” e “Eu Não Pertenço a Este Mundo” e, por último, o grande Jão, do Ratos de Porão, manda ver num solo macabro em “Altar de Sangue”. A gravação está extremamente suja, prova de que, mesmo com o reconhecimento maior da banda, eles optaram por não deixar a coisa mais audível. “Nadir” atesta que receber uma Facada no ouvido pode ser uma experiência matadora. O trocadilho é terrível, mas o álbum é o extremo oposto. Uma boa surdez para os ouvintes! Nota: 9.0 Por Christiano K.O.D.A.
Flesh Grinder “Necrofiles” Blach Hole Productions Prepare-se para sangue, suor e, claro, tripas. Os mestres do Goregrind nacional voltam com tudo, em 2013, com esse EP em formato vinil de 7’’. Uma beleza! A qualidade da gravação está muito boa, suja e pesada na medida certa, tudo bem audível, com destaque pera o timbre do baixo. E o trio, formado por Fábio Gorresen (vocal/guitarra), Rogério Murara (vocal/baixo) e Daniel Henriques (bateria) novamente acerta a mão nas cinco faixas (duas no lado A e três no B). Os dois primeiros parecem ter caprichado ainda mais nos vocais, com os efeitos típicos do estilo, mas sem absolutamente nenhum exagero. Por sua vez, o dono das baquetas mantém seus blast beats carregados e os distribui muito bem no material. E um aspecto interessante na sonoridade dos catarinenses é uma pegada mais Death Metal em trechos de algumas composições, como pode ser notado na violência de “Sick Revolting Guts” ou “Abracadaver”, por exemplo. Isso se deve, talvez, aos velozes riffs de Fábio, um elemento que deixou o som da Flesh Grinder ainda mais interessante. Infelizmente, como um bom vinilzinho, o negócio acaba logo. Mas a sensação de ir até o aparelho de som e virar o disquinho para colocar novamente a agulha é demais! Portanto, é só começar a carnificina novamente e jogar mais vísceras no ventilador, já que a festa do Gore/Splatter não pode parar! Nota: 8.5 Por Christiano K.O.D.A.
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Furia Louca “Furia Louca Independente A banda de São Luis do Maranhão, conhecida como a Jamaica Brasileira, apresenta em sua demo, composta por 10 faixas, o mais puro Hard Rock - clássico, sem tirar nem por. Aquelas guitarras com riffs jogados, um bom vocal e lotado de backings em seus refrões, o Furia Louca está provando que o Nordeste não vive somente de extremo e tem muita qualidade em outro tipo de sonoridade. A banda está na ativa desde 2005, não nos trás nada de novo, com um som bem calcado nas clássicas bandas oitentistas de Hard Rock, como Motley Crue, Accept, Krokus, Ratt, WASP entre outros, a banda faz um som perfeito para qualquer festa. Bem composto e bem divertido, as letras falam dos temas mais clássicos dentro do estilo e com uma música em português, “Cohatrac City”, que fala de São Luís. A banda lança uma demo bem enérgica e prepara ainda para esse ano o lançamento do seu primeiro disco. E mesmo sendo uma produção completamente independente, a produção da demo é algo incrível, com um som limpo e de fácil audição. Pra quem curte esse estilo é prato lotado. Nota: 8.0 Por Augusto Hunter. Galinha Preta “Galinha Preta” Danado Records A banda Galinha Preta já está nessa estrada há um bom tempo. Brasília foi o berço escolhido por esses malucos que, a cada lançamento, nos divertem mais. Você coloca o disco para rodar e o sorriso se abre instantaneamente. Letras muito bem humoradas e (por que não?) inteligentes ilustram as faixas ultra velozes, focadas no punk/hardcore, seco, cru, mas muito bem tocado. A gravação, propositalmente tosca, está muito bacana, tudo muito bem produzido. A simplicidade é a chave do sucesso desses caras – as músicas são simples, de curta duração, mas dão seu recado. As vinhetas são as melhores partes e também a marca registrada do Galinha Preta. Apesar do lado despretensioso que a banda assume, as letras falam de assuntos sérios e muito atuais. Acompanho a banda há um bom tempo e não me recordo de terem gravado faixas em inglês, e nesse disco temos duas, “Only Two Nations” e “Gimme Good News”, que ficaram muito boas por sinal. Se não me engano, “Roubaram Meu Rim” e “Eu Não Sei De Nada”, já fizeram parte de lançamentos anteriores, e dão as caras por aqui novamente – para nossa alegria! O disco todo é diversão pura e muito legal de ouvir de ponta a ponta, mas destaco a trinca matadora com “Mídias Sociais”, “Eu Tenho Problema” e “Ratoburger”, além da última, “UNB”. O som desses caras é perfeito para abrir rodas, beber uma boa cerveja e dar aquele “role” descompromissado de skate. Por aqui o Galinha Preta já é sucesso e acredito que mais gente deveria conhecê-los. Se está vacilando e ainda não ouviu, corra atrás urgentemente. E se tiver a oportunidade de vê-los ao vivo, não perca tempo, pois é diversão garantida! Nota: 9.0 Por Pedro Humangous.
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Haterial “Twisted Verses” Worm Hole Death Para quem acha que a Finlândia só vive de metal sinfônico e Death Metal melódico, eis aqui mais uma grande prova do quanto tal afirmação é errada. Praticando um Thrash/Metalcore pesadíssimo e muito trabalhado (e sem a presença dos famigerados vocais limpos), o Haterial está na estrada desde 2010, e chega agora a seu primeiro registro. O destaque disparado do som dos caras é o excelente trabalho de guitarras, com riffs pesadíssimos e cheios de ótimas melodias, criando ótimas estruturas melódicas em todas as 11 faixas do disco, como fica claro em especial na matadora “02 Me Two-Point-0”, que tem o refrão mais cativante do álbum. Nos momentos mais brutais, a banda também mostra muito potencial (ouça “Exterminate Reality” e “Wasted” e comprove), com muita técnica e precisão. Para quem curte algo mais moderno, pesado e virtuoso, eis uma ótima pedida. Nota: 7.5 Por Júnior Frascá. Hell Reaper “Harvester of Souls” Independente Iniciada como um projeto do guitarrista João Pacheco, do Mother Zombie, a Hell Reaper foi formado, em 2011, no interior do estado de São Paulo (Jaboticabal/Ribeirão Preto), e acaba de lançar esse seu primeiro registro. O som do quarteto é uma mistura bem interessante de groove e stoner metal, com algumas pitadas de souther rock, cheia de riffs marcantes, uma cozinha direta, mas precisa, e ótimas linhas vocais de Júlio Buzoli (Mother Zombie), bem agressivas e cativantes. É música para lá de descontraída e divertida, sem grandes pretensões de soar intimista ou demonstrar maiores apuros técnicos. Em alguns momentos, a banda lembra Pantera, mas com um lado Stoner mais evidente, como se comprova em faixas como “Burning Down the Road” e “Born Again, Die Again”, com riffs que remetem aos suecos do Spiritual Beggars e aos noruegueses do Chrome Division. Outras faixas, ainda mais diretas e energéticas, como “Hell Reaper” e “The Strangers” tem uma pegada bem Motorhead. Um ótimo começo para a banda, que aparenta ter um futuro muito promissor pela frente. Confira no volume máximo! Nota: 8.0 Por Júnior Frascá. Lacerated and Carbonized “The Core of Disruption” Eternal Hatred Records O Metal Nacional nunca esteve tão bem representado! Deixando de lado todas as adversidades impostas pelo underground, a cena cresce forte e apresenta trabalhos cada vez mais profissionais, de cair o queixo mesmo. “The Core Of Disruption” é o segundo trabalho dessa incrível banda carioca chamada Lacerated And Carbonized. Os caras já apavoraram a todos com o disco de estreia, em 2011, “Homicidal Rapture”, e após uma bem sucedida turnê na Europa, ganharam mais experiência e trouxeram ótimas ideias na bagagem. Podemos ver o resultado por meio dessas onze destruidoras faixas que compõem o álbum. As caixas de som sangram ao executar o Death Metal nervoso e brutal praticado por esse quarteto formado por Jonathan Cruz (vocais), Caio Mendonça (guitarras), Paulo Doc (baixo) e Victor Mendonça (bateria). As composições estão irrepreensíveis, muito bem construídas, com riffs que beiram a perfeição 33
e grudam na cabeça rapidamente. A bateria ultra veloz abusa dos ritmos quebrados e de levadas interessantes nos pratos – isso sem mencionar os blast beats e as viradas de tirar o fôlego. Jonathan simplesmente cospe as palavras na sua cara utilizando-se de um gutural cavernoso, casando perfeitamente com o som proposto pela banda. A arte da capa é, simplesmente, uma das mais incríveis que já vi na vida e reflete muito bem a realidade dos brasileiros, principalmente daqueles que vivem na cidade “maravilhosa”. Apesar do título em português, “O Ódio E O Caos” é cantada em inglês, bem como todas as demais. Destaque para “Awake The Thirst”, com a participação especial de Eregion (Unearthly) e “The Candelária Massacre”, que conta com as vozes de Guilherme Sevens (Painside). Meu amigo, feche os olhos e entregue a grana, pois cada centavo usado na compra dessa obra de arte é bem investido. Estamos diante de um dos melhores discos de Death Metal já produzidos nesse país! Nota: 9.0 Por Pedro Humangous. MALE MISSANDRA/MALVEILLANCE “Split” Suffering Jesus Prod./Cianeto Discos Esse é um split de malucos! O trabalho saiu, inicialmente, pela extinta Suffering Jesus Productions e lançado no Brasil pela Cianeto Discos. Os Italianos do Male Missandra abrem com um Grind muito bem feito, com belas linhas de Death Metal, onde apresentam seis músicas bem producidas com arranjos muito bem alocados, vocais variando entre o gritado e gutural, bateria muito bem encaixada, músicas curtas, sem solos, bem fiel ao Grind clásico e assim se mantém. No encarte, não há informação sobre nome de músicas nem nada. Fazia tempo que não via um pessoal tão bizarro como esses canadenses do Malveillance! Os conheci um pouco antes com seu último álbum “Consentir à L´absurde”. Neste split, a partir da décima música, começa a podreira das composições de F, único integrante da banda. Muda um pouco a proposta do split, caindo mais para um Hardcore, com uma produção mais crua e foge um pouco da proposta incial, partindo depois para um Death Metal com uma produção bem piorada, mas na mesma linha de sons curtos e sem solos! Sim, como disse, os caras parecem totalmente malucos, o que pode fazer alguns torcerem o nariz! Realmente, acabaram pecando nas informações no encarte! Totalmente zoado, com fotos que não te convidam muito a folheá-lo como um horrendo nu frontal do cidadão, onde, sem ajuda, você não consegue saber a sequência das músicas e uma pena não colocarem as letras, ainda mais por buscar alcançar público do exterior. Até porque as letras do Malveillance são em francês! Mas o som não deixa de ser interessante e, sim, vale a pena conhecer, principalmente pela primeira parte do split. Quem curte o estilo e não os conhece, fará questão de ouvir e conhecer o som dos caras. Nota: 8.5 Por Cupim Lombardi. Queiron “Sodomiticvm Per Conclave” Gallery Productions / Rising Records / Rapture Records / Impaled Records Em março de 2012, fizemos a bem sucedida primeira edição do Hell Divine Fest e tivemos o prazer de contar com o Queiron no cast do evento. Naquela época, os paulistas apresentavam em seu repertório todas as músicas de sua carreira e estavam compondo o novo disco, que seria este que tenho em mãos, “Sodomiticvm Per Conclave”. Com quase vinte anos de estrada, a banda esbanja técnica e experiência na hora de compor seus hinos maléficos. O álbum é baseado na obra “Os crimes dos Papas” de Maurice Lachatre, e expõe os fatos absurdos corridos dentro das igrejas, ainda presenciados nos dias de hoje. O disco já impressiona logo pela maravilhosa arte da capa, 34
feita por Rafael Tavares – uma pena que a impressão deixou a imagem um pouco opaca, perdendo a vivacidade. A produção e qualidade de gravação estão soberbas, deixando o som encorpado e extremamente pesado. Isso ajudou e muito na potência das músicas, deixando tudo ainda mais violento. Ao ouvir faixas como “Ordo Iconoklastic Rebellis”, temos a nítida sensação de estarmos vendo um filme de ação onde o personagem principal luta contra demônios, perseguições insanas dentro do Vaticano, com muita destruição e sangue sendo jorrado. “Pervesion In Khaoz” surpreende pelo lado mais melódico da banda, cheia de guitarras dobradas e solos inspirados. O Death/Black Metal do grupo está super afiado, abusando de riffs melódicos e passagens marcantes, que viciam à primeira audição. “The Stench Ov Sacrifice”, com seu estilão Behemoth, promete abrir rodas tão profundas que será possível sentir o calor e o cheiro de enxofre do inferno. Durante as dez músicas que compõem essa blasfêmia em forma de disco, não há tempo para respirar, é pancada no ouvido e na boca do estômago, deixando o ouvinte atordoado ao final de “Mighty Erection Ov Holiness (Part I)”, que encerra o trabalho. “Sodomiticvm Per Conclave” foi bastante aguardado e superou com folga as expectativas. O Queiron deixa marcas profundas e é, definitivamente, uma das principais bandas do underground brasileiro! Nota: 9.0 Por Pedro Humangous.
SETH “The Howling Spirit” Season of Mist Ao que tudo indica, até o final do ano teremos álbuns magníficos de Black Metal. Dessa vez, a banda francesa Seth é a responsável por me fazer supor essa teoria, com seu mais novo trabalho “The Howling Spirit” que, apesar de longo, vale cada segundo. Esse álbum é uma perfeita evidência de como as pessoas que acham que Black Metal não passa de “barulho” são pobres coitadas. A maestria da composição é assombrosa e, para aqueles que sabem identificar e assimilar os mais ínfimos e profundos sentimentos não apenas com os ouvidos, mas também com a alma, terão um deleite verdadeiramente macabro logo nas primeiras faixas. Desde as letras, a composição, passando para a produção e a arte de capa, não consegui detectar um mísero ponto negativo nesse trabalho. E, cá entre nós, à primeira vista não foi um álbum que me chamou muito a atenção. Isso só prova a quantidade de trabalhos fantásticos e altamente talentosos que estão obscuros, e que não devemos julgá-los antes de ouvi-los. A atmosfera mística e envolvente que esse álbum causa é perfeita, inquestionável. Primeiro, o Arckanum faz aquele álbum sensacional chamado “Fenris Kindir”, e agora tive a oportunidade de ouvir “The Howling Spirit” do Seth?! Desculpem-me, mas podem ficar com o novo álbum do Black Sabbath. Para mim, em termos de música, o ano já valeu a pena. Meus sinceros parabéns a esta horda. Nota: 10 Por Yuri Azaghal. 35
Skinlepsy “Condemning the Empty Souls” Shinigami Records Essa banda merece toda a atenção! Formada por André Gubber (guitarra/voz), Evandro Jr. (bateria) e Luiz Berenguer (baixo) – músicos que já passaram por grupos como Anthares, Nervochaos, Pentacrostic, Opera – que fizeram história por terem gravado o clássico “The Corpse Falls” (Siegrid Ingrid), juntam forças para um novo capítulo na história do metal, desta vez por meio da banda Skinlepsy. O début “Condemning the Empty Souls” que, embora não fuja do background musical do grupo, tem na mescla do Thrash/ Death o seu maior trunfo. As canções são executadas por músicos seguros e o que mais surpreende aqui são os vocais de Gubber que, apesar de agressivos, fogem do esquemão de hoje em dia, pois vão numa linha próxima à usada por Marcelo “Índio” D’Castro (Necromancia), que é berrada, mas natural. Agora, especificando as canções, todas são empolgantes, com passagens trabalhadas, cheias de texturas (graças ao nível musical excelente dos envolvidos) e ideais para serem apresentadas ao vivo. Bem, se vocês são daqueles que curtem ouvir por “amostras”, confiram “Pervensions of Racial Hatred” (com trechos em português), “Regressing from the End”, dona de momentos “slayerizados” e “Alienation”, que começa bem cadenciada e termina em pura desgraça. Um disco que tem tudo para atender ouvidos exigentes e que, de forma fácil, consegue a façanha de ser ouvido diversas vezes seguidas. Nota: 8.5 Por João Messias Jr. Tribe “Through The Veil” Independente Banda americana e que conta com dois brasileiros em sua formação (o guitarrista Denner Vieira e o baterista Rick Pivetta), o Tribe está na estrada, desde 2010, e acaba de lançar esse que é seu primeiro EP, contendo apenas três músicas, mas que já dá mostras da ousada proposta musical dos caras. O som é moderno, cheio de groove, peso e experimentalismos, trazendo diversas influências de bandas como Ill Niño, Korn e Ektomorf. Contudo, mesmo diante de tanta diversidade, as três faixas apresentadas se mostram genéricas, sem muita vibração e soando meio confusas em vários momentos, e acabam não prendendo tanto a atenção. Além disso, o pouco tempo do material, em especial para um estilo tão diversificado (o EP tem aproximadamente dez minutos de duração) é insuficiente para se apurar as reais qualidades da banda. Aguardemos seus próximos lançamentos. Nota: 6.0 Por Júnior Frascá. Underwell “Plain Your Rebirth” WormHoleDeath Os Italianos do Underwell apresentam um disco cheio de peso e boas passagens melódicas. Com uma gravação maravilhosa e uma composição melhor ainda, o Underwell apresenta aqui dez canções de puro bom gosto instrumental, com todas as passagens raivosas do Hardcore, técnica apurada do Metal, os vocais lindos e passagens mais calmas do Post-Hardcore. Todas as faixas do disco seguem o clássico processo de composição pedido pelo estilo, passagens pesadas com vocal limpo, guitarras melodiosas em todos os momentos, breakdowns em momentos chaves das músicas - algo que particularmente eu gosto muito, mas anda um 36
bocado desgastado. Uma coisa que tenho que destacar desse disco é a incrível gravação que a banda conseguiu, todos os instrumentos claros para ouvir. Você consegue entender tudo que o guitarrista, baixista e baterista fazem na evolução do disco e o vocalista Marshmallow também apresenta técnica muito apurada nos vocais. Mais um disco provando por A+B que a Itália não vive somente de Power Metal e afins e tem muito mais para mostrar ao mundo. Fica a dica, se você curte Hardcore e não conhece o Underwell, vá atrás, não se arrependerá. Nota: 8.0 Por Augusto Hunter. Unearthly “Baptizing The East In Blood: Live At Voronezh – Russia” Blizzard Records O Unearthly cresce assustadoramente ao longo dos anos e sua reputação está cada vez mais solidificada, tanto em território nacional quanto internacional. A prova disso foi a bem sucedida turnê europeia que fizeram, resultando nesse belo registro, “Baptizing The East In Blood: Live At Voronezh – Russia”. O disco ao vivo representa a ótima fase vivida pela banda, reunindo seus maiores hinos mortais em forma de música, aqui ilustrados por onze destruidoras faixas, mesclando o já conhecido Black/Death Metal. Ao colocar o disco para rodar, temos a nítida sensação de que algum ritual macabro se inicia, principalmente pela sinistra introdução com “7.62”. A sequência matadora continua com as excelentes “Baptizing In Blood” e “Murder The Messiah” – uma das melhores. Um fator curioso nesse lançamento é que a banda focou somente em seus dois últimos trabalhos, “Age Of Chaos”, de 2009, e “Flagellum Dei”, de 2011. Convenhamos, esses discos são absurdamente incríveis, repletos de composições técnicas e marcantes. Outro destaque fica por conta do cover da banda Sarcófago, com a faixa “Orgy Of Flies”. O público europeu já é conhecido por ser mais frio e pudemos perceber isso na gravação. Apesar de esquentarem ao longo da apresentação, o que é normal, ainda senti que deixaram a desejar no quesito empolgação. Mas para compensar isso, a banda simplesmente dominou o palco e transbordou fúria na execução das músicas. A gravação está ótima, só a bateria que ficou um pouco cansativa nos blast beats. A sensação ao ouvir esse disco é de estarmos presentes no show – mais um ponto para a banda, já que esse é o sentido de se fazer um disco ao vivo, certo? O encarte, apesar de simples esteticamente, apresenta uma arte bem bonita, deixando o trabalho ainda mais profissional – a capa é estranhamente atraente. É incrível ver a evolução desses cariocas que estão, literalmente, com sangue nos olhos, alcançando níveis cada vez mais altos. O DVD desse mesmo show está prestes a sair, fechando o pacote com chave de ouro. Ambos os registros são obrigatórios! Nota: 8.5 Por Pedro Humangous. WHIPSTRIKER/POWER FROM HELL - SPLIT “Brazilian Besttial Attack” Cianeto Discos Há tempos queria conhecer o som do Whipstriker, mas ainda não havia tido a oportunidade de ter um material físico em mãos e, dessa vez, tive a oportunidade de tê-lo e compartilhar. Esse é um split com os paulistas do Power From Hell lançado pela Cianeto Discos. Abrindo com uma introdução que tem até pitadas Black, o Whipstriker derrama seu Thrash/Death totalmente Old School com “Midnight, Sex and Wine” seguida de “Christ Under Whip” sem frescura alguma, mantendo uma crueza muito afinada, totalmente fiel à proposta da banda. Ótima pegada e um som muito coeso que te fixam ao ouvir. Apenas senti falta de um pouco mais de destaque ao baixo que faria uma diferença na “cozinha” e podreira, mas que não tira nem um pouco a vontade de ouvir mais. Pena serem apenas cinco músicas, onde nem cabe destacar nenhuma, mas “Time to Kill Your God” é uma composição que fica na cabeça! Na sequência, o Power from Hell aparece seguindo a mesma linha, com letras um pouco mais “bizarras”, 37
zoando claramente a questão religiosa, porém com uma produção um pouco mais aquém do anterior. Infelizmente, mostra uma banda um pouco crua em termos de arranjo que, apesar de seus anos de estrada, ainda têm que avançar nas composições, mas que não deixam de valorizar a iniciativa do lançamento. Se bem trabalhada, pode ter algo interessante a mostrar, porém, por enquanto, sem muita novidade. Um problema que diagnostiquei é que, no encarte, não dá para saber onde termina uma banda e começa outra, tendo que descobrir isso apenas ao ouvir o material e sua diferença de produção. Diria que é um trabalho que vale a pena ter em mãos e, mais ainda, vale a pena esperar um lançamento maior dos cariocas do Whipstriker e que se liguem nesse nome! Nota: 8.5 Por Cupim Lombardi.
Woslom “Evolustruction” Independente Acompanho de perto tudo sobre o Heavy Metal aqui no Brasil e, ultimamente, tenho visto ótimos comentários a respeito do novo álbum da banda Woslom. Fiquei pensando comigo, será que está isso tudo mesmo? Bom, o que posso dizer é que procuro meu queixo até hoje, deve estar caído em algum lugar que jamais encontrarei! Mas que paulada esse “Evolustruction”! O disco está certeiro demais, beirando a completa perfeição. Eu ouvi pelo menos umas cinco vezes seguidas antes de sequer começar a pensar em escrever. E as composições ficam cada vez melhores. Ao todo, são oito destruidoras, velozes e matadoras músicas e uma bônus, o excelente cover de “Breakdown” da banda brasileira Mad Dragzter. A evolução desde “Time To Rise” é absurda, simplesmente não há comparações – mesmo que antes os caras já fossem bons pra cacete, agora alcançaram outro nível. O que temos agora é um Speed/Heavy/ Thrash no mais alto calibre, remetendo aos clássicos monstros do estilo, mesclando a velha escola à nova, apimentando tudo com o tempero brasileiro. Notam-se com facilidade as influências de Megadeth, Metallica e Exodus, o que é um tremendo elogio. A gravação está perfeita, de primeiro mundo e de dar orgulho – não se esqueça de que estamos falando de um disco independente no Brasil. O que dizer, então, dos músicos? Cada um mais perfeito e técnico do que o outro. A bateria está cavalar, brutal demais, abusando de viradas que roubam o fôlego, ataques violentos aos pratos e bumbo no melhor estilo metralhadora. Os vocais me fazem arregalar os olhos, rasgados na medida certa, cantados de forma clara, com uma ótima dicção no inglês. As guitarras e o baixo brilham com um timbre maravilhoso, riffs inteligentes e solos super inspirados. Finalmente, acertaram na arte da capa e deixaram o trabalho ainda mais belo com o trabalho esplendoroso de João Duarte. Todas as faixas são assustadoramente empolgantes e viciam logo nas primeiras ouvidas, fazendo com que o disco simplesmente grude no seu player. Gostei muito de todas as músicas, mas destaco “New Faith”, minha nova favorita quando o assunto é Thrash Metal. Aliás, esse é um forte candidato a melhor disco de Thrash já feito no nosso país. E digo mais, “Evolustruction” já está no topo da lista dos melhores do ano, brigando ombro a ombro com medalhões mundiais. Parabéns ao Woslom por esse belíssimo trabalho, e quem ganha somos nós. Nota: 9.5 Por Pedro Humangous. 38
dificuldade: realismo x desafio
divine deathmatch
matÉria
Todo mundo adora um bom desafio. Seja por emoção ou necessidade de se exibir, todos adoram jogar no “expert”, no “veteran”, no “Sith Lord” ou qual seja o termo usado para definir o nível de dificuldade mais absurda nos jogos. Mas eu te pergunto: você realmente se diverte assim? Algumas pessoas não se dão conta, mas o nível de dificuldade, um fator aparentemente irrelevante, é motivo de muitas vezes arruinar ótimos jogos – além de causar um grande mal para a saúde daqueles jogadores impacientes, com síndrome do “quero zerar logo”. Certo, nada contra um bom desafio, contanto que ele tenha lógica e não afete o realismo do jogo. Afinal, o realismo é um dos fatores mais importantes, e a falta dele pode arruinar por completo um game. Admitam, é ótimo jogar um jogo com alto grau de realismo, não é? Você se surpreende com o que pode ser feito, você se sente dentro do jogo, absorvendo toda a atmosfera que ele provoca. Quando se trata de um RPG, você se sente quase na vida real, graças à quantidade enorme de possibilidades dentro do jogo – como casar, comprar casas, etc. Quando se trata de um jogo de terror, o realismo lhe garantirá grandes sustos e uma atmosfera de medo constante. Se for um jogo de guerra, a adrenalina e a emoção farão você se sentir um verdadeiro Rambo, e por aí vai. Mas não são necessários bugs de gráficos ou trapaças absurdas para fazer um jogador “broxar”, basta a dificuldade não ter lógica. Se estivermos jogando Battlefield, por exemplo, é praticamente obrigatório jogarmos a campanha na dificuldade mais alta. Afinal, em uma guerra de verdade você não aguentaria dez ou onze tiros antes de cair; bastaria um bem colocado, por assim dizer, para te matar. Ou seja, faz sentido ser difícil. Nesse caso, seria a redução da dificuldade que estragaria toda a atmosfera do jogo. Mas existem jogos que são apelativos simplesmente por serem. Jogos que abusam com a intenção de frustrar mais pela falta de sentido do que pela dificuldade em si. Chega a ser ridículo. Pegamos, por exemplo, o jogo Elder Scrolls V – Skyrim, ou simplesmente Skyrim. Para quem não sabe, Skyrim é um dos jogos do gênero RPG que mais ganharam fama atualmente. Se você jogar Skyrim na dificuldade mais alta, ou seja, “Legendary”, você provavelmente vai se sentir incrivelmente frustrado. Nessa dificuldade, praticamente não faz diferença nenhuma se você tem armadura ou não. Sua resistência é medíocre. Se você é mago, dane-se a sua fireball e o seu nível 20. Um Zé Roela de nível 8 com uma magia básica de destruição te mata rapidinho e, adivinha, você faz cócegas nele, levando ai dez minutos por inimigo. Entenderam o motivo de Skyrim não acabar nunca? Tudo bem, faz sentido um dragão te matar rápido, mas um lobo também? Ou melhor, faz sentido você tropeçar em uma costela e morrer? São apenas alguns exemplos de jogos que podem por tudo a perder por causa do nível de dificuldade. O que importa, no final das contas, é o bom senso na escolha da dificuldade, e não o que os seus amiguinhos vão achar de você se você jogar em tal dificuldade. Se desejar desafio acima de qualquer coisa, apenas me diga honestamente: você se diverte mesmo assim? Caso seja sim a sua resposta, seja feliz com o seu masoquismo, meu amigo. Eu jogo para me divertir, não para ter infarto, AVC e decrepitude prematura – pelo menos, não sem motivo. Por Yuri Azaghal.
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Mass Effect Trilogy Estúdio: Bioware / EA Ano: 2007 / 2010 / 2012 PS3 / XBOX 360 Esse não é um simples jogo, e sim uma epopeia futurista baseada em RPG e Shooter que não só vai ganhar a sua mente, mas também sua alma e seu corpo. Você se apaixonará por essa incrível série sobre sobrevivência, valores, escolhas, boas e más atitudes, tudo. Mass Effect, que antes era exclusivo para Xbox 360 e PC, hoje está disponível para PS3 também. Uma característica que facilita demais o desenvolvimento da história da trilogia é a possibilidade de importar os dados das ações do primeiro jogo para o segundo e deste para o terceiro, fazendo todas as suas escolhas e ações durante o jogo alterarem completamente o rumo das relações de entre os diversos personagens apresentados durante a campanha contra os Reapers. A introdução à história desse jogo pode ser resumida (bem superficialmente) assim: em 2187, é descoberta uma tecnologia de origem “Proteana”(Prothean), denominada “Mass Relay Effect”, ou “Mass Effect”, que faz com que as viagens espaciais fiquem mais rápidas, pois as naves passam por ela e viajam mais rápido que a luz. Relays são encontrados em todo o universo, permitindo que as naves viajem entre as diversas galáxias, sistemas e nebulosas. O personagem principal é o Comandante Shepard da nave “Normandy”, que trava diversas batalhas contra os Reapers em uma luta pela manutenção da vida humana e de várias raças. Esse jogo é simplesmente apaixonante, impossível de se jogar por poucas horas e posso dizer que ele mereceu todos os prêmios recebidos. História, jogabilidade e gráficos insanos os aguardam. Joguem e tenham a certeza de que não estão jogando qualquer coisa, mas sim um dos mais aclamados da história, merecidamente. Gráficos: 9.0 Enredo: 10 Jogabilidade: 10 História: 10 Por Augusto Hunter.
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God Of War Ascension Estúdio: Santa Monica Studio Ano: 2013 PS3 Kratos está de volta e, dessa vez, ele está aqui para provar que antes de um deus, antes de tudo, existiu um homem que foi traído pelos deuses, mas também os traiu. Essa seria a melhor maneira de explicar “God Of War: Ascension”. A história do jogo começa quando Kratos trai a confiança e rompe sua ligação com Ares e é preso pelas Fúrias. Durante o jogo, ele tem a ajuda de Orkhos, o filho das Fúrias com Ares, que seria o guerreiro perfeito, mas não “saiu” como eles esperavam. O jogo faz jus à série inteira do espartano e o couro come – como é esperado. Um dos pontos altos desse jogo é, com certeza, a parte gráfica, que é linda. Realmente, o pessoal da Santa Monica investiu pesado e muito bem, pois em várias cenas do gameplay e até mesmo do cinematic pode-se jurar que se está jogando com um ator e não um personagem em CG completo, tamanha a perfeição. Outra coisa que chama a atenção é o modo de combate online, em que o jogador tem a chance de criar um personagem e levá-lo para batalhas épicas online. O seu personagem é obrigado a fazer um voto de lealdade a um dos deuses do Olimpo, sendo eles: Ares, Poseidon, Zeus ou Hades e, dependendo do deus, um tipo de poder diferente será concedido. Tenham certeza, é divertido e isso só faz os fãs do God Of War terem mais um motivo para ter esse jogo em casa. Então, não perca tempo e garanta sua cópia, pois Kratos o aguarda para aniquilar as Fúrias. Gráficos: 10 Enredo: 8.0 Jogabilidade: 9.0 História: 8.0 Por Augusto Hunter.
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covering sickness
Retomando a seção “Covering Sickness”, que entrevista artistas gráficos que trabalham com Heavy Metal, conversamos com o talentoso Carlos Fides do Artside. Você já deve ter visto sua arte estampada em alguma capa de uma banda famosa, afinal, ele já trabalhou com Shaman, Narnia, Devon, Sacrificed, Rygel, Deadly Curse, Sacrario, Sleepwalker Sun, etc. Carlos também integrou a banda Underpain, onde era tecladista. Após uma pequena pausa, ele agora retoma os trabalhos com força total. Falamos sobre o passado, sobre sua banda e o que ele espera com esse retorno à cena, confira!
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HELL DIVINE: Seja bem vindo às nossas páginas, Carlos! Eu, particularmente, acompanhei seu trabalho desde o começo, sendo um dos artistas mais promissores do Brasil e do mundo. Porém, notei que de uns tempos para cá você deu uma sumida. O que realmente houve? Carlos Fides: Primeiramente, agradeço o espaço dedicado aos artistas aqui na Hell Divine que tem feito muito sucesso; já passaram muitos artistas por aqui e é uma honra poder fazer parte dessa edição número 15. No ano de 2012, dei uma pausa para me dedicar a outros projetos. Sempre tive apego por animais e, principalmente, Biologia Marinha. Então, resolvi abrir uma loja voltada para o mundo do aquarismo – quem quiser acompanhar é só acessar (fishplanet.com.br) – isso me tomou um enorme tempo até tudo se ajustar. Sempre estive acompanhando bandas e outros artistas durante esse processo, recebi inúmeras propostas de trabalho, mas só agora estou retornando com força total na Artside. Agradeço a todos que me procuraram este tempo todo, não me esqueci de vocês!
HELL DIVINE: Como e por que foi que você começou a trabalhar com arte e design? Algum motivo específico? E de onde vêm as inspirações para suas obras? Carlos Fides: Tudo começou, em meados de 2008, com minha antiga banda, a FIDES. Eu passava muito tempo brincando no Photoshop até que um dia comecei a fazer o site, capa, cartaz de shows e outras artes pra banda; isso foi o inicio dessa grande saga. Minhas inspirações eu vejo no dia-a-dia, filmes, jogos, livros e outros artistas como Dennis Sibeijn, Gyula Havancsák, Mattias Noren e outros conceituados artistas. HELL DIVINE: Como você prefere trabalhar? Quando a banda te deixa livre para criar ou quando te dão as diretrizes do que querem? Carlos Fides: Eu sempre gosto das diretrizes dos clientes. Em seguida, dou uma pesquisada sobre o tema e, com isso, entro em contato com o cliente e falo meus pensamentos sobre aquilo. Praticamente 100% aprovam na hora, acho que sou muito versátil 42
nessa hora, isso tem me ajudado muito nos resultados dos trabalhos. A meu ver, é uma vantagem de não ficarem parecidos. HELL DIVINE: Você foi tecladista da ótima banda brasiliense Underpain. O que aconteceu com a banda? Ela acabou definitivamente, ou está em pausa, com possibilidade de voltar à ativa? Carlos Fides: Underpain foi um grande marco na minha vida, fizemos vários shows, lançamos nosso CD, videoclipe e conheci muitas pessoas legais. Mas pegamos rumos diferentes, não brigamos como toda banda acaba (risos), mas preferimos parar a banda no momento certo. Não vejo a possibilidade de a banda voltar à ativa, tudo que está registrado foi o legado da Underpain. HELL DIVINE: Ainda falando sobre fazer parte de uma banda, você que pôde presenciar a cena no Brasil, acha que ainda temos um futuro no Heavy Metal por aqui? Vê alguma evolução ao longo dos anos (em termos de bons estúdios, produtores, equipamentos, shows, etc.)? Carlos Fides: Futuro? Temos sim! Mas precisamos ter uma reforma na cena, começando pelas bandas e músicos que não dão valor a eles mesmos; ir contra os organizadores dos eventos que não te dão sequer um copo com água, ir contra a supervalorização das bandas gringas. A evolução da tecnologia, hoje, faz milagres. Qualquer banda pode gravar seu CD no quarto e fazer parecer uma mega produção, equipamentos estão cada vez mais acessíveis a todos. Vejo isso como uma grande evolução, falta mesmo a galera (público) dar mais valor às bandas brasileiras, pois temos bandas e artistas incríveis aqui! HELL DIVINE: Explique um pouco como é seu processo de criação quando pega um projeto do zero. Quanto tempo leva para finalizar uma capa? Quais e quantos programas você costuma usar? Além do computador, você costuma desenhar e/ou pintar também? Carlos Fides: Após receber o briefing, começo a pesquisar e estudar o tema, procurar imagens relacionadas, textos e etc... Normalmente, levo em média três dias para o trabalho da capa ficar pronto, espero em torno de dois dias para entregar o trabalho – esse é o tempo de fazer alguns ajustes e detalhes que passaram despercebidos. Uso Photoshop CS6, Cinema 4D e After Efects. Os trabalhos de logotipo são os únicos que desenho no papel um pequeno esboço, todos os meus trabalhos são feitos digitalmente, sou péssimo em desenhos e pintura manual (risos). HELL DIVINE: Você já trabalhou com diversas bandas brasileiras e gringas também. Qual delas você mais curtiu fazer? E tem alguma que você sonha em trabalhar um dia? Carlos Fides: Todo trabalho eu sempre curto fazer, principalmente bandas de metal. Um dos trabalhos que gosto muito é da banda portuguesa Annihilation (“Against The Storm”), me traz boas lembranças do momento em que eu vivia. Todo artista sempre tem suas bandas preferidas, acho que tenho muitas que gostaria de trabalhar, Fear Factory seria uma dessas bandas! HELL DIVINE: Como estão os trabalhos para o segundo semestre de 2013 e quais suas metas daqui pra frente? Esperamos ver muitos trabalhos seus em capas de grandes bandas! Seja bem vindo de volta, deixe um recado para os leitores da Hell Divine! Carlos Fides: Segundo semestre tem muitas novidades, minha meta é continuar a evoluir como artista e como pessoa. Acho muito importante para os resultados esperados pelos fãs das bandas. Com certeza, espero poder dar o prazer a todos de verem meu trabalho em pequenas e grandes bandas. Sempre farei o meu melhor para poder agradar a todos. Novamente, eu que agradeço a equipe da Hell Divine pelo espaço, é muito satisfatório poder estar voltando e justamente com uma entrevista aqui, e aos leitores que tem acompanhado a saga da revista, fica o meu respeito e obrigado por fazerem desta uma das melhores revistas digitais voltadas para a cena do metal mundial! www.artside.com.br Por Pedro Humangous. 43
live shit
Show: My Dying Bride Data: 10/04/2013 Local: Teatro Rival BR – Rio de Janeiro É uma honra estar tendo a chance de lhes contar o que com certeza soará óbvio para muitos: a passagem dos mestres ingleses do Doom Metal, My Dying Bride, foi mais que marcante, foi memorável! E para muitos, até dado momento, foi o melhor show já assistido em 2013. Primeiramente, eu não teria a chance de assistir a esse show, pois por motivos exclusos, minha credencial tinha sido negada. Mas um dia antes do evento, recebo uma ligação especial mandando estar até as 18:00 horas no local, pois seria segurança de palco, uma emergência que acabou me beneficiando. Não nego que corri muito para chegar a tempo no local, já que meu horário de trabalho não me possibilitaria estar lá a tempo, mas nada como dar uma clássica “fugida” (não recomendada, vale dizer, mas nesse caso necessária). Cheguei bem cedo e a casa estava praticamente pronta para o grande show. O My Dying Bride vem ao longo dos anos angariando mais e mais fãs por todo o mundo com o seu Doom Metal melancólico, doloroso e sofrido. Uma banda que tem uma discografia impecável e que sempre lança discos com um nível de aceitação na mídia especializada acima do normal e nunca tinham passado pelo Brasil. A Overload Produções conseguiu esse ano uma simples e única data na agenda deles aqui no país. Como dito, cheguei bem mais
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cedo, conversei com todos os envolvidos ao sair do Teatro Rival, localizado no Centro do Rio, já havia uma grande quantidade de fãs chegando e o mais interessante, ouvia sotaques diferentes, pessoas de outros estados que tinham feito suas loucuras pessoais para ver o show da banda no meio da semana, coisas do Metal... E quanto mais gente chegava, mais o clima melhorava e a festa já começava com amigos se encontrando e bebendo suas cervejas antes do evento. Eu vi como a banda era querida em sua chegada ao local do show, os fãs se aglomeraram para bater a melhor foto de seus ídolos e o pessoal berrando, vi muitos ali, do lado de fora vendo a banda passar já se debulhando em lágrimas emotivas realmente pesadas, coisas que somente fã mesmo entende e faz. Passado esse momento, a banda desce e os portões do Teatro Rival BR se abrem para o público e com a clássica pontualidade britânica, às 20h30min, as cortinas do palco se abrem. A banda está parada de olhos fechados diante de seu grande público que berra loucamente e assim eles começam o seu concerto. Com quase duas horas de duração, a banda fez um set list bem variado, passado por quase todos os lançamentos de todo o tempo de estrada e músicas do novo disco, “A Map Of All Failures”. Eles abrem mesmo com uma de seu disco novo, “Kneell This Doomsday”, o público mais uma vez vai à loucura e eu percebo que qualquer riff, movimento ou música tocada naquela noite teria a mesma reação, algo que eu a muito tempo não via. A próxima música foi mais bem recebida, já que se tratava do clássico “Like Gods Of The Sun”, com uma execução impecável da banda inteira. O vocalista Aaron Stainthorpe mostrou uma presença e domínio do palco inacreditável, com um personagem altamente teatral e, como a música da banda pede, depressivo. O show segue com público e banda numa sintonia inacreditável, simplesmente isso. Ao olhar para o público, em diversas vezes vejo pessoas em prantos, cantando e ainda incrédulas do que presenciavam. Na sequência, um desfile de boas músicas como “From Darkest Skies”, “Turn Loose The Swans”, “My Body, A Funeral” e “Wreckage Of My Flesh” – mais uma do novo disco. Pra fechar o show, fomos de “The Forever People”, “Bring Me Victory” e “The Rose And The Angel”. Perfeito. Um show mais que memorável! Tive a chance de conhecer e conversar com todos eles, que esbanjam simpatia e simplicidade, cada um do seu jeito. O mais empolgado com certeza era a dupla de guitarras, composta por Hamish Glencross e Andrew Craighan, que foram altamente simpáticos e super felizes, batendo fotos com todos e fazendo piadas e brincadeiras em todo momento. Aaron Stainhorpe também deu aula de dedicação aos fãs, realmente um belo momento vivido por todos que ali estavam. Quarta feira, um dia no meio da semana, um dia que tudo poderia ter acontecido, mas ter visto o My Dying Bride, pela primeira vez no Brasil e ainda no Rio, simplesmente perfeito demais. Se por esses motivos, você que está lendo não conseguiu ir ao show, fique calmo, de acordo com todos da banda e da produção dos mesmos, eles vão voltar para mais shows e tenha certeza de ir, pois não estará indo a um simples show, mas sim a um espetáculo de intangível proporção e emoção. Por Augusto Hunter.
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Show: Orphaned Land Data: 29/05/2013 Local: Rio Rock And Blues – Rio de Janeiro A data não poderia ter sido melhor, quarta feira, véspera de feriado e um show dos Israelitas do Orphaned Land em terras cariocas. A banda possui uma sonoridade bastante interessante, misturado Metal com música oriental, mais especificamente de sua região de origem, Israel. O Rio Rock And Blues apresenta uma estrutura magnífica, sendo uma casa relativamente pequena, ideal para shows de bandas com menor expressão no Rio, infelizmente esse é o caso do Orphaned Land. Mesmo com o público reduzido, todos ali estavam imbuídos em fazer daquela apresentação inesquecível! A banda entra em palco e o público vai crescendo, ao chegar o simpático Kobi Farhi (vocalista), ele começa a cantar a primeira música e o público vai ao delírio, “Halo Dies”, do excelente “Mabool” é a escolhida para abrir aquela noite. Kobi e banda esbanjam técnica e simpatia em palco, enquanto vão tocando músicas do todos os discos. O show foi uma belíssima viagem pelos discos já lançados pela banda. Tivemos chances de ouvir grandes clássicos, músicas como “The Ocean”, “Sapari” entre tantas outras. E a banda ia mandando ver nas músicas, enquanto o público prestava atenção no show, cantava, se emocionava e até mesmo dançava ao som da banda, fato esse que por diversas vezes Kobi e Iossi (vocal e guitarra) olhava pro grupo rindo e se divertindo. Ao final do show, a banda toca um dos sons mais clássicos do seu repertório, música essa em sua língua natal, “Norra El Norra”! A canção começa mais lenta, com o Kobi declamando a sua letra inicial, facilitando o público a acompanhar e depois o peso incrível e muito bem trabalhado começa, fazendo a música crescer assustadoramente. Eles fazem essa música em medley com “Ornaments Of Gold”, fechando assim uma apresentação incrível. Eles vieram em turnê do recém-lançado “All Is One”, disco esse que promete ser eleito por muitos no cenário como um dos melhores do ano, pois a riqueza de composição dessa banda é incrível e nesse show eles provaram isso! A gente espera que eles voltem mais vezes para nos mostrar o som pesado de Israel. Por Augusto Hunter.
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Show: Sodom Data: 16/04/2013 Local: Teatro Odisséia – Rio de Janeiro Esse ano tem sido incrível para o público carioca, já que estamos tendo shows diversos, como em muito tempo não vinha acontecendo e uma coisa muito interessante a ser colocada é que o público tem comparecido em um número muito bom, ponto pra gente que por anos não tínhamos shows de qualidade por aqui e hoje em dia podemos sonhar com muito mais. Naquela terça feira de clima agradável, me dirigi até a Lapa para, ao chegar, ser recepcionado por grandes amigos que vinham de todos os cantos do estado para prestigiar essa que estaria pra ser uma mágica noite para o Thrash Metal. A festa começara cedo do lado de fora com os fãs do Sodom se reunindo perto da casa escolhida, que vale ressaltar, o Teatro Odisséia tem abrigado grandes nomes do Metal mundial e em todos os eventos a qualidade estrutural do local fica de parabéns, mesmo não sendo nada grande. Ao abrir as portas, a casa rapidamente fica bastante cheia e eu percebo que o show terá mais um ingrediente incrível, o caloroso público carioca, que, mesmo antes de o show começar, já esbravejava pela banda com toda a força de seus pulmões e quando o som ambiente começou a parar e a intro do show sobe nos PA´s, todos começamos a nos movimentar, em um movimento quase único, devido a quantidade de pessoas presentes. Sobe ao palco o Sodom com a faixa título de seu penúltimo disco lançado, “In War And Pieces”. Todos cantam junto de Tom Angelripper e assim começa uma apresentação de mais ou menos duas horas! Uma aula de Thrash Metal foi dada naquela noite, os caras são incansáveis e mesmo com o calor que estava fazendo no Odisséia, Angelripper, Bernemann e Markus “Makka” não deixaram a peteca cair jamais com sons de todas as fases do Sodom. Vou destacar um momento divertido, em que Angelripper está se secando por conta do calor e mesmo de lado vai até o microfone e canta: “O PAPA UMAMA PAPA UMAMAMA!”. Não preciso dizer que o mosh em “Surfin´ Bird” ficou insano e divertido ao mesmo tempo com o pessoal repetindo esse verbete a toda hora. “Among The Wierdcong” foi outra bomba no público, assim como “Sodomy And Lust” e “Blasphemer”, essa já anunciando o final da noite incrível que o trio alemão fez no Rio de Janeiro. A noite se encerra e o público ainda em êxtase saía do Odisséia, que infelizmente não teve a chance de ter um contato maior com a banda. O guitarrista Bernemann fez o show com o pulso direito aberto e estava com dores no local, uma pena realmente, já que todos queriam conversar com eles. Tenho certeza que esses voltam bem rápido, já que o comentário foi geral: o Sodom amou o Rio e espero que eles tenham a certeza de que nós amamos o Sodom. Por Augusto Hunter.
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upcoming storm
IN SOLITARY Contando com ex-integrantes do Tiger Cult e outras bandas de São Paulo, a banda surge como uma grande promessa no cenário underground nacional. Executando um Metal Moderno, com estilo e muita personalidade, a banda lançou o seu primeiro EP esse ano, “He Who Walks”, que conta com duas grandes canções. A banda começa a se projetar com um futuro claro para eles, o sucesso. Todas as composições da banda são coesas e eles têm um time invejável. Marcel Briani, vocalista, mostra um trabalho de vocal invejável, não devendo nada a nenhuma grande vocalista do cenário nacional e internacional, sendo esse, para mim, um ponto de diferencial da incrível banda que tem muito para dar certo. Fiquem de olho, pois esse nome ainda dará muito que falar. Por Augusto Hunter. MORTO Banda do Equador de black metal depressivo, tendo como obra mais recente um split com outra banda conceituada do gênero chamada Lamento Fúnebre. Para os interessados nos sentimentos mais mórbidos que podemos ter em vida, essa banda é uma junção de tudo o que espírito humano é capaz de sentir. Contato: http://www.facebook.com/mortodepresion Por Yuri Azaghal. ABSENT HEAT Ainda seguindo a linha do gênero depressivo, outro concorrente recémnascido é o Absent Heat das nossas terras. A banda mineira estreou oficialmente com o recente lançamento do seu EP intitulado “Lifeless”. E, convenhamos, quem é que gosta de black metal depressivo que não iria querer ouvir um trabalho com esse nome? Contato: http://www.facebook.com/absentheat
Por Yuri Azaghal. ANCESTRAL KVLTV Banda de black metal vinda, dessa vez, da Sicília, sendo mais uma horda que devota suas energias a macular o solo do vaticano com boa música – eu, pelo menos, gostei da demo de estreia lançada pela Eternal Tombs Records, então, recomendo que ouça e tire suas próprias conclusões. Contato: http://eternaltombsrecords.jimdo.com/ Por Yuri Azaghal. ENYGMA Para quem gosta de mistureba porqueira – felizmente, não é o meu caso – há a opção de checar a banda de Thrash/Death/Black Metal Enygma do Peru. A banda acaba de se lançar no mundo ingrato da música com a demo “Path of Evil” que contém um cover do Sepultura da música “Troops of Doom” – que creio ser suficiente para deixar a brasileirada atiçada e curiosa. Contato: https://www.facebook.com/enygmaperu Por Yuri Azaghal. 48
momento wtf
Recentemente, na rede social Facebook, um texto circulou com o título “O público foge, e o metal nacional ainda busca explicações”. Pelo título já se pode saber do que se trata, e dos tópicos que foram levantados nas discussões. Resumindo, muita coisa que vive sendo dita quando esse tema aparece novamente em algum lugar da Internet. Porém, não é a minha intenção aqui ressaltar tais pontos, mas sim revelar o verdadeiro motivo do problema acontecer. No final das contas, a causa dos males é sempre a mesma: o humano.
Qual o problema do metal nacional? Ele é ruim? Não. Ele é caro? Muito pelo contrário. Ele é inferior ao metal estrangeiro? Jamais. Então, por que tanto desinteresse e desprezo por parte do público? Antes de responder, vamos refletir sobre pequenos fatos do nosso cotidiano. Uma pessoa comum no Facebook posta uma frase profunda e filosófica de sua autoria em seu mural. Uma frase realmente incrível; mas quantas pessoas prestam atenção a essa frase, ou em termos mais apropriados, quantos “curtir” essa sentença exemplar ganha? Poucos. Algo em torno de cinco ou seis, se chegar a isso. Agora, supondo que essa mesma frase seja postada por uma pessoa de banda ou por algum “famosinho” da cena que trabalha na área de comércio ou mídia, os “curtir” explodem, e não é porque essa pessoa “famosinha” tem mais amigos. Essa pessoa, quando posta seus comentários irrelevantes de uma linha como “Sono”, “Vontade de comer pastel” e “Xatiado” (com erro de português e tudo), consegue ganhar de lavada de Nietzsche, Platão e qualquer outro em termos de “curtir”. Entenderam? Caso não, eu darei um exemplo mais claro. Recentemente, o Black Sabbath lançou o seu novo álbum chamado apenas de “13”. Como eu não ouço Black Sabbath, não vou opinar a respeito do álbum, mas para as pessoas que tenho no Facebook, a recepção não foi nada positiva. E, mesmo assim, a turnê de preço incrivelmente abusivo renderá bons frutos para a banda. Será nessas horas que a lógica absurda de que vale mais a pena gastar R$ 800,00 para ver o Black Sabbath na pista VIP do que R$ 40,00 para ver o Krisiun começa a fazer sentido na cabeça do público. A combinação de insegurança e persuasão via renome. Esse é o verdadeiro problema do metal nacional. Os incríveis talentos que temos aos montes em nosso solo simplesmente são obscurecidos pelo Black Sabbath, pelo Iron Maiden, pelo Metallica e por tantos outros representantes do lado “mainstream” da coisa, mesmo que os trabalhos mais recentes deles sejam totais porcarias – novamente, não sou eu que estou falando isso, já que para começo de conversa eu não ouço essas bandas e não falo do que não tenho conhecimento de causa. Apenas estou criando suposições baseadas no que eu estou vendo no Facebook. Tem pessoas que simplesmente pensam “Ah Ozzy é Ozzy, né cara?!”. Há pessoas tão bitoladas nessas bandas que se encontram em verdadeiros estados de idolatria cega, então, mesmo reconhecendo no fundo que o trabalho mais recente do seu ídolo tenha decepcionado suas expectativas, ele jamais vai admitir isso, vai continuar idolatrando os músicos e de forma intolerante e ignorante, vai reagir de forma violenta contra quem discordar dele. Então, obviamente, uma pessoa nesse estado jamais vai arriscar conhecer uma banda nova, mesmo que por um preço aceitável, enquanto puder gastar rios de dinheiro para ver os “figurões” no Pacaembu. Isso é certo? Claro que não. Afinal, nenhum tipo de fanatismo é certo. Esse tipo de fã nada difere de outra figura muito presente em nossa sociedade: o religioso. Por mais nocivas, hipócritas, negativas, atrasadas e absurdas que sejam suas teorias e atos, para ele está certo, simplesmente porque está na Bíblia. E se está na Bíblia, não tem discussão. Assim é a maioria dos fãs de metal hoje em dia. Se for Bruce, Lars ou Ozzy, não tem discussão. Essa mesma atitude acaba atrasando o ser humano em outras áreas da sua vida, não só em seu lazer e preferência musical. É a mesma atitude que faz a pessoa preferir um concurso público ou um trabalho de carteira assinada e ganhar um salário lamentável o resto da vida trabalhando feito escrava do que arriscar trabalhar por conta própria, podendo viver muito melhor e ganhando uma quantia de dinheiro muito mais digna, proporcional aos seus esforços. Afinal, tal empreitada iria gerar nela insegurança, tirando-a da “zona de conforto” e forçando-a a enfrentar a tentação que o renome do trabalho de carteira assinada ou concurso público causa através da segurança de ter o seu – pouco – dinheirinho garantido todo mês. E se acham que eu estou falando asneiras leiam “Os Segredos da Mente Milionário” de T. Harv Eker e depois conversamos... E sobre as frases de Facebook ou de onde sejam, procurem dar valor ao conteúdo da mensagem e não valor a quem tenha dito. Use a oportunidade para aprender algo e não ser um bajulador. Afinal, as mulheres não são idiotas, e sabem muito bem quando um homem está concordando com tudo o que elas falam e façam apenas porque está interessado sexualmente nelas. E para finalizar, deixo aqui a mensagem do famoso – claro, afinal se ele tem renome é mais garantia de que vão ler – filósofo Jean Jacques Rousseau “O homem nasceu livre e por toda a parte vive acorrentado”. Reflitam. Por Yuri Azaghal.
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rascunho do inferno
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