O macaco que queria uma viola

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O MACACO QUE QUERIA UMA VIOLA


H

avia um macaco esperto, mas pobre. Ele queria muito, mas muito mesmo, ter uma viola. Mas, cadê o dinheiro para comprar uma? Resolveu, então, sair pelo mundo pra fazer

negócios, fazer trocas. Como não tinha nada pra trocar, pensou em armar uma confusão. Foi pra estrada do sítio do seu Zeca Calçudo. Por ela, vinha seu Zeca conduzindo uma charrete. O macaco, então, atravessou o rabo no caminho e ficou lá, esperando. Seu Zeca, ao se aproximar, pediu: — Ô macaco, tira o rabo da estrada! Mas o macaco, nada, nem se mexeu. Seu Zeca voltou a falar: — Macaco... Ô macaco. Tira o rabo, senão fica sem ele.


E

o macaco lá, sem se mexer. Bem... depois de muito insistir, seu Zeca passou com a charrete por cima do rabo do macaco. Ichi!

O bicho armou a maior confusão. Ele pulava e gritava: — O senhor cortou o meu rabo? Eu quero ele de volta! Eu quero o meu rabo! E tanto berrou que seu Zeca, já tonto com a gritaria, disse: — Tá bom macaco. Eu não posso devolver seu rabo, mas dou pra você esta faca em troca. O bicho, que não queria outra coisa, aceitou a faca e foi embora contente da vida, pensando assim: “Perdi meu rabo, ganhei uma faca. Coisa boa pra quem não tinha nada”.


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eguiu caminho. Logo adiante, encontrou um homem que fazia cesto com fibras da palmeira e cortava as fibras com os dentes. O macaco, pressentindo um bom negócio, foi dizendo, com uma voz

condoída:

— Ô, amigo! Cortando as fibras com os dentes! Não faça isso! Pegue minha faca. O homem, muito agradecido, pegou a faca e começou a cortar as fibras com ela. Mas nem bem começou, a faca quebrou. E o macaco? Sim, se pôs a berrar: — O senhor quebrou a minha faca! Eu quero a minha faca! Eu quero! Onde já se viu fazer isso!


E

tanto berrou, tanto chorou o peste do macaco, que o homem, zonzo com a gritaria, acabou dando um cesto pro macaco em troca da faca. O macaco, muito satisfeito com o negócio, foi embora pensando

assim:

“Perdi meu rabo, ganhei uma faca, perdi a faca, ganhei um cesto. Coisa boa pra quem não tinha cabresto”. E seguiu caminho até que viu uma mulher que assava pães. Muitos. Ela levava os pães do forno para uma mesa, carregando um monte deles na saia. O macaco foi chegando e dizendo, em tom de repreensão: — Ora dona, carregando pão na saia! Onde já se viu isso? Que coisa nojenta!!! Se a senhora quiser, eu empresto o meu cesto.


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mulher não queria aceitar, mas tanto o macaco insistiu e tanto insistiu, que ela pegou o cesto. Passado um tempinho, o cesto furou. E o macaco? Começou tudo outra vez:

— A senhora furou meu cesto? Eu quero ele de volta! O cesto é da minha mãe. E agora, o que é que eu vou dizer pra ela? Eu quero meu cesto! E tanto falou e argumentou o macaco, que a mulher deu um pão pra ele em troca do cesto. O macaco, que nem tinha mãe, nem nada, saiu pulando e foi embora pensando: “Perdi meu rabo, ganhei uma faca, perdi a faca, ganhei um cesto, perdi o cesto, ganhei um pão. Êta negocinho bão!”


E

, contente da vida, continuou seu caminho. Mais pra frente, encontrou um moço que vendia instrumentos musicais: cavaquinho, sanfona, pandeiro e.... viola!!! O olho do macaco

cresceu em cima da viola! Era tudo o que queria da vida. Mas, cadê o dinheiro?! Não tinha.

Ele, então, engatou uma conversa com o moço. Na conversa que vai e vem soube que o moço estava com fome. O macaco, já com segundas intenções, ofereceu para ele seu pão. O moço, agradecidíssimo, começou a comer o pão. E o macaco? Muito esperto que era, aguardou o moço comer o pão todinho, até a última migalha, e aí começou:


-O

senhor comeu todo o meu pão? E agora? E eu? Eu também tô com fome. O senhor pensa que eu não sou filho de Deus? Tá certo que eu ofereci! Mas era pra comer só um pedaço! Eu quero o meu pão! Eu quero o meu pão!

O moço explicou pro macaco que não dava pra devolver seu pão. Então, o macaco, com a maior cara de tristeza e de conformismo, falou: — Tá certo. É verdade. Não tem mesmo jeito de devolver. Mas... bem que você poderia me dar um desses instrumentos em troca. Não, não precisa ser dos caros, não. Pode ser até mesmo aquela violinha mixuruca. Não faço conta.


O

moço, então, deu a viola pro macaco que, todo contente da vida, voltou pra casa. Chegando lá, foi tocar a viola e cantar:

“Perdi meu rabo, ganhei uma faca. Perdi a faca, ganhei um cesto. Perdi o cesto, ganhei um pão. Perdi o pão... ganhei viola... Tenho mesmo boa cachola!!!”

FIM Contação de Eliana Gagliardi, gravada e posteriormente transcrita.



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