Transeuntes entre Ilhas

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Universidade Federal do Esp铆rito Santo Centro de Artes Departamento de Arquitetura e Urbanismo

Transeuntes ENTRE ilhas Henrik Carpanedo Lopes

Vit贸ria _ 2011



Henrik Carpanedo Lopes

Trabalho de conclusão de curso apresentado no Departamento de Arquitetura e Urbanismo do Centro de Artes da Universidade Federal do Espírito Santo como requisito para obtenção do título de Arquiteto e Urbanista.

Vitória _ 2011


FOLHA DE APROVAÇÃO Henrik Carpanedo Lopes TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO APROVADO EM ___ /___ / ______ .

ATA DE AVALIAÇÃO DA BANCA


AVALIAÇÃO DA BANCA EXAMINADORA

NOTA

DATA

ASSINATURA

NOTA

DATA

ASSINATURA

NOTA

DATA

ASSINATURA

APROVADO COM NOTA FINAL:____________


nesse momento -PG. Além do Cemuni III, existem outros cemunis...Beijo grande para os professores de Artes Betina, Vilar e Mara, que foram muito importantes para o desenvolvimento do meu traço e guardo seus ensinamentos Quando se estuda arquitetura por muito tempo (6,5 anos), mesmo em tempo certo, que também é muito (5 anos) se tem muito que agradecer, muita coisa e muita gente, no entanto, mesmo que nessas linhas falte espaço para todas as coisas e todas as gentes,

vivos na memória. Sem contar os estágios que muitas vezes (nem sempre) são muito importante para nos encontrarmos no curso, agradeço o apoio de Juliana e Sínthia, que me mostraram o paisagismo como linha de atuação do arquiteto-urbanista.

sobra nas lembranças e trocas de carinho nos corredores do CEMUNI III...Agora, infelizmente sem a recepção calorosa dos nossos queridos Seu Zé e Dona Elza, que com muito respeito serviram os professores e estudantes do Centro de Artes...

Aqui nesse Cemuni, Clara, a mãe dos gatos, quando nós-gatos perdidos nos roçamos buscando por um prato de leite, encontramos mais, bolas de lã, multidão...Obrigado Clara, impossível te esquecer! Além dela, outros professores do curso de Arquite-

Junto a tanto respeito e carinho, lembro de meus pais e tias durante todo o processo, é também por eles que estudo, à minha tia Maria da Penha que esteve de perto com muita paciência, mas ela não sabe que para nós (estudantes de arquitetura da ufes) o PG tem que resumir nossa vida, nosso passado e nosso futuro .. rsrsrsr ....Ao meu irmão Emí-

tura marcaram minha formação, Eduardo Barbosa pelo abraço-feliz e as notas sobras as escadas, ao André Abe pela gentileza sem fim, e à deixadora de calebos brancos, Renata Hermany, que muito intensamente nos transforma, deixando ótimas lembranças de suas orientações, por que nunca fui muito fâ de aula mesmo =)

lio, que além de irmão foi um grande companheiro À Flávia Botechia, que foi uma âncora nesse processo


do PG, foi muito bom, desde os momentos na PMV,

Agradeço também aos momentos de EMAU e CO-

suas discussões de cidade são muito germinárias,

NEXÃO VIX, com Gabriela, Ivana, Karlos, Cleuber,

é uma honra tê-la aqui! Rubiane Maia que, a flor da

Leandro, Bruno, Reinaldo, onde pude ver muitas por-

pele, nos emociona, obrigado por ter aceitado.

tas abertas, mesmo que tive que aprender a fechar as outras. Agradeço imensamente ao Sérgio Prucoli

Para realizar esse trabalho, que não feito sozinho,

,Paulo Muniz, Fábio Gouveia, Tetê Rocha, Clarissa

contei com a particpação de algumas pessoas.

Abreu, Dani Bissoli e à plataforma Trampolim pelas

Ao Luiz Paulo, pela amizade e a força INEVITÁVEL

conversas de PG, arte, arquitetura, e por aí vai.

de seu astronauta! Além dos risotos maravilhosos aqui em casa, rsrsrsrs. À força de outros amigos

De longe, a minha turma é a melhor =) me deu pre-

de perto ou de longe que participaram, a querida

sentes: Samira, uma Proêza de minina, Lorena que

Marina Vianna, Eduardo, Maria Carolina Barbalho, Flora Oliveira, e além muros, @n line. Daniel Vilela

escondeu meu estojo e até hoje não devolveu e a adorável Lúcia, que foi apoio forte em muitos mo-

pela ajuda com o vídeo. Á Cíntia e a Tetê Azezedo

mentos. À Leandro, Alê, Luciana, Thais, Júlia, Bárbara

pelo carinho e força nos finalmentes.

Rafael e Michel minhas felizes considerações, vocês deram corpo a essa turma.

As pessoas que carinhosamente compuseram o coletivo transeuntes (para registrar a cidade que eu

Além disso, existem pessoas que nem são da sala e

estava a descobrir) o querido Ronald Alves, o Thai-

que fazem muita diferença, Lilian, Mayara, Sofia, Lí-

ro Pandolfi que tinha vários negócios tecnológicos, Eliz Mondolo, Thalita Covre, Lívia, Adryelissom Maduro, Igor Odilon e Anderson Nepomuceno.

gia, Paula, Camilas, Giovana, Bárbara, Rafaéis, Gabriéis, Flávia, Leonardo, Thiara, Lary, Renan, Jorge... tantos...=) Cristiano Hemerly por ser chato, rs...Jésio, por ser legal e efusivo, Peter, pelo monitor que

Obrigado a todos e aos outros!

salvou tudo! Às antiguidades, com todo respeito, é claro, Lígia, Glee e Priscila=)


Sumário Texto 01 – 10 BLOCO A – 24 1 - VITÓRIIA entre a PEDRA e o MAR - 26 1.1 RECORTE 01 – Vitória – 26 1.2 RECORTE 02 – Área Central – 30 1.3 RECORTE 03 – Entre a Ilha do Príncipe e a Ilha da Fumaça – 34 1.3.1 Dois projetos e dois territórios – 34 1.3.1.1 Território que compreende a Ilh da Fumaça - 36 _ O território – 36 Projetos antigos e atuais – 38 1.3.2 Território que compreende a Ilha do Príncipe -40 _ O território - 40 _ Projetos antigos e atuais - 42 1.4 O percurso – Problemáticas gerais - 44 _ Rumos da Análise - 45 2 2.1 2.1.1 2.1.2 2.2 2.2.1 2.2.2 2.3

A cidade entre sua imaginação e sua construção -48 A cidade Imaginada - 51 O espaço Postulado - 51 O pensamento do projeto urbano - 53 A cidade construída - 59 O espaço Produzido - 60 As rupturas e contigüidades da forma urbana - 62 Notas dessas cidades e seus espaço - 64


3 A cidade-corpo - 66 3.1 Paisagen do (s) corpo (s) - 68 3.2 Corpos da paisagem - 76 3.2.1 As formas de Vitória e sua Área Central - 80 3.2.2 As formas do percurso “entre ilhas” – RECORTE 03 - 82 3.2.2.1 _01_ 89 3.2.2.2 _02_ 96 Da curva à catraia_02_ 98 Da catraia à Vila Vila Rubim – Área Pontuária – 104 Ilha do Príncipe – 110 3.2.3 Os corpos-paisagens “entre ilhas” - 113 3.3 Discussões BLOCO A – 118

BLOCO B Está dado o território 126 _ A definição do percurso 126 _ Dias de fotografia 127 Estranhamento 134 _ Navios 136 _ Experiência 136 _ Corpo-bike 150 Mapa em movimento 154 _ Mapa com imagens 156 _ Vídeo 159 _ ZOOM IN e ZOOM OUT - 160 _Agir - 162 _ Deslocar_locar - 156 _De quando Surge a ideia - 166 Discussões _ BLOCO B - 180 Texto 02

- 184


TEXTO 01


A paisagem de Vitoria está se transformando, a vi-

de tal ambiência urbana (o que poderá ser visto em

sibilidade disso é marcante. Basta passear pela ci-

mapas no BLOCO A).

dade e notar fitas de isolamento, desvio de faixas, e demais elementos que indicam canteiro de obras

O Projeto do PORTAL SUL visa transformar a entrada

nas ruas. Sabemos que o Espírito Santo vem cres-

sul da cidade de Vitória e ocupar o vazio em fren-

cendo rapidamente nos últimos anos, a cidade de

te a Ilha do Príncipe, onde hoje há a Ponte Seca e a

Vitória responde a esse ritmo com o número de

Vila Rubim. Vitória Bay, outro projeto, é uma daque-

construções numa projeção crescente.

las obras que impressionariam o olhar do passante, formas ricas plasticamente, cobertas de vidro.

Queremos tencionar a relação dessas obras nos espaços que se criam no cotidiano, do que sobra da

Neste trabalho os projetos agem na construção no

magnitude da forma urbana hegemônica. Para isso

pensamento da cidade e sua transformação. O que

precisamos entender o lugar que nos propomos a

há pode ser transformado, e transformado num ou-

estudar como cidade, como parte que compõe um

tro que mantém ou não conexões com o anterior. O

todo, mas que possui sua singularidade.

que nos move no trabalho, com um cabo de aço ati-

Inicialmente havia conosco o interesse de estudar

rantando, em que cada uma das roldanas em cada

alguns projetos que o poder público ou mesmo o

ponta da corda é cada um dos projetos e não o cabo

setor privado lançavam como intencionalidade

em si. Ou seja, os projetos nos fazem tencionar a

para a transformação da cidade. Os projetos que

ideia de cidade em transformação, mas enredados

nos interessamos são “Vitória Bay” e o projeto “Por-

num percurso.

tal Sul”. Ambos não carregam a certeza de serem implementados, no entanto, as intenções que eles

Então, partimos dos projetos a uma realidade, a uma

pré-enunciam para a cidade nos interessam como

cidade ou parte dela, a um passeio ou mesmo, um

se fossem construídos, como promessa de alteração

trajeto obrigatório. Interessa-nos o espaço entre es-

Figura 01 - Iscas de Peixes sobre o parapeito da orla do porto. Foto: Henrik Carpanedo@ coletivo transeuntes

ses territórios agenciados por esses projetos, entre a Ilha da Fumaça e a Ilha do Príncipe e entre os projetos territóriais que neles agem virtualmente. Ire-

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Figura 02 - Pedras de enconcamento Foto: Henrik Carpanedo@coletivo transeuntes

observá-la, abarcam o repertório do conhecimento do arquiteto-urbanista. Este profissional, enquanto ator da construção da cidade, tem nela um texto a ser lido e o mapa, assim como nossa escola ensina, é um dos mais importantes instrumentos para compreendê-la. Ele seria a forma de entendê-la como

mos tocá-los para que percebamos e discutirmos

completo e é usada estudos urbanístico (mapas usa-

este espaço-território-percurso com sua possibili-

dos nos projetos de arquitetura, paisagismo ou ur-

dade de transformação.

banismo).

O trabalho trata da duplicidade de um percurso.

Mesmo assim, podemos imaginar outras maneiras

De um lado uma ilha pressionada entre a expansão

de mapear uma cidade, ou melhor, de entendê-la,

urbana e a baía, mantém-se ilha, mesmo o aterro

buscas os significados de suas palavras e enuncia-

aproximado dela, a ilha da Fumaça. Do outro lado a

dos.Esse outro olhar pode ser engendrado pelo en-

Ilha do Príncipe, que se insere no território através

contro com o lugar através do próprio corpo, desar-

do aterro. (ver os mapas relacionados a aterro e os

mado das trenas e pranchetas. De qualquer modo,

territórios no BLOCO A).

para nós, buscar outro mapa para a cidade, é enriquecer o compreendimento que aprendemos como

“Essa complexidade de fronteiras diluídas

alunos.

engendrada pela contemporaneidade de fluxos que rompem com a noção convencional de lugar - deslocada pela crescente mobilidade de pessoas, objetos e informações (CASTELLS, 1996). Que cidades são essas que

Escreveremos sobre esse trajeto entre duas ilhas e duas possibilidades, de construção (a coisa) ou imaginação da produção de uma realidade (a possibi-

nos invadem, que determinam nossas formas

lidade de transformação dessa coisa). Ainda mais,

de estar-no-mundo?” (BRASIL, 2010: 127).

observamos a duplicidade entre o olhar convencional do arquiteto, olhando para mapas e signos para

As cidades da cidade contemporânea, como se

chegar a uma realidade como fosse a única maneira

houvessem tantas cidades quanto tantas formas de

de conhecê-la e o olhar do outro, que busca na pró-

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pria cidade, estabelecer sua rede de informações. Esta outra visão que se cria é enredada na possibilidade a partir da experiência do lugar e dissidente desse olhar constitucional, pragmático e topográfico. “O conhecimento do conhecimento é, ipso facto, uma transformação do conhecimento, uma perpétua deriva, um pôr-se em situação de reativar, reavaliar continuamente” (LEVÝ, 1998: 163).

Desse modo, buscamos realizar esse percurso em duas experiências, uma como a primeira forma de se chegar ao lugar, com o mapa e o sistema de coordenadas e a outra que buscará outras maneiras de se fazer entender. Nesse encontro temos a construção de dois, o BLOCO A e o BLOCO B. _ O BLOCO A Enquanto intenção, o que nos informa nesses projetos, nesses objetos semantizados pelo significado a transformar-se podem desestabilizar a relação de pertencimento do habitante com o lugar. Sendo que é ele que atualiza as formas da cidade. “Os praticantes ordinários das cidades atualizam os projetos urbanos e o próprio urbanismo, através da prática, uso ou experiência cotidiana dos espaços urbanos e, assim, os reinventam, subvertem ou profanam (BERENSTEIN, 2011: 113). Não vemos essa instabilidade como uma instância maléfica, mas uma instabilidade que enriquece a experiência de determinado lugar, trajeto, percurso. Essa instabilidade dobra-se na capacidade de se achar e de se perder, de pensar e de fazer, de imaginar e de construir. Os projetos nos causam curiosidade e pensamos que possa existir algo 14

Figura 03. Visão dos navios do porto pelas ruas do centro de Vitória. Foto: Luara Monteiro


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que os põe em coerência com o contexto local, entre o território e as pré-enunciações de mudança que serão entendidas ententendendo as linhas de atração dos projetos e a condição territorial local. Para entendermos o local de estudo dividimos Vitória em 03 recortes, o recorte 01 é ela mesma, o recorte 02 trata da área central e por último, o recorte 03 do percurso-cidade entre os territórios que são acompanhados dos projetos para eles destinados. O Recorte 01explicita a paisagem da ilha em cinco pontos: A água,a resultante edilícia, o mangue, o aterro e as referências naturais. O Recorte 02 estabelece às questões mais próximas a paisagem e, de modo esquemático, as questões do urbanismo no centro de Vitória. Por último, o recorte 03, coloca o percurso entre as ilhas e os projetos. Aqui, encontramos dois macro-setores, 01 e Figura 04. Vista da baía de Vitória de dentro do ônibus.. Foto: Luara Monteiro.

o 02, respectivamente, o território compreendido pela Ilha da Fumaça e o segundo pela Ilha do Príncipe. Após essa apresentação, buscamos as discussões conceituais e teóricas que surgiram no garimpar de livros durante o processo do trabalho. Inicialmente contrapomos a cidade imaginada e a cidade construída para duplicar a experiência de que falamos. A experiência da simulação (cidade imaginada) e a experiência do que está dado (a cidade construída). Na concepção das ideias a cerca da cidade imaginada, partimos do conceito de espaço postulado de Fábio Duarte (2002), em seu livro “A crise das Matrizes espaciais”, apropriamo-nos

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desse conceito para que enredássemos a constru-

espaços, o primeiro retrata o espaço do projeto, com

ção de uma cidade já a partir do projeto de arqui-

seus signos, o segundo espaço com suas formas, e o

tetura e da cidade. Dentro dessas questões mostra-

último, é o espaço vivenciado, entre a concepção dos

mos a discussão do pensamento da cidade a partir

espaços e suas formas em experiência. Assim, para

de dois arquitetos da modernidade, mas com ideias

nós, a experiência desse espaço vivido atua no entre

diferentes uma da outra, a saber: Le Corbusier e

a produção de imagens que visam construir a cidade

Patrick Geddes, pensadores discutidos no livro “O

(o projeto de cidade) e a produção de imagens que

Urbanismo”de Françoise Choay (1992).

se faz com o percurso (a cidade e suas formas constituintes).

Estes pensadores da cidade realizaram seus trabalhos conceituais sobre o planejamento urbano

Seguindo com o texto, a cidade construída, de uma

quando a cidade avançava no período moderno,

forma geral, é a resposta da morfologia urbana a es-

alterando a maneira de ver das cidades que con-

ses projetos, que visam modificar a cidade. Duarte no

sigo, carregava novos elementos como os carros e

mesmo livro em que vimos discutindo e aproprian-

outras máquinas que apareceram com o advento

do-nos de seus conceitos trata do espaço produzido.

da evolução tecnológica. Corbusier apresenta um

Essa categorização de espaço seria o espaço das

pensamento bastante positivista enquanto Geddes

formas imaginadas implantadas em seus locus, as-

avança, pontuando questões de uma temporalida-

sim, entendemos que existe um temporalidade nessa

de processual e criativa na concepção da cidade

transformação da cidade: o que existe no local e o

que não há resultados, mas uma trama de processos

que é novo nele. Os objetos estão numa relação du-

que constitui o todo e que continua.

pla, tratada por MAGALHÃES (2006), que são ruptura

Duarte (2002), baseado por LEVEBVRE (1981), pontua 3 diferenciações espaciais, o espaço concebido, o espaço percebido e o espaço vivido. Esses espaços caminham, respectivamente, da imaginação a sua realização. Pelo que entendemos desses 18

Figura 05. Bobina(carretel) encapado. Foto: Henrik Carpanedo@transeuntes


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e contigüidade, mantendo ou não alguns aspectos

recortes 01, 02 e principalmente o 03 (notar esses

anteriores dessa realidade. Essas duas palavras-

mapas no BLOCO A quando eles serão devidamen-

-conceitos, tratadas por Sérgio Magalhães, a morfo-

te explicados), pontuamos a paisagem do corpo e

logia da cidade é uma incerteza, onde as rupturas,

os corpos da paisagem. Essas discussões tratam de

contigüidades, são parte de uma continuação da

como assumimos a visualidade e a paisagem desse

forma urbana, intervenção após intervenção.

corpo e, buscando discutir seus limites. Os corpos da paisagem tratam-se dos corpos que encontramos

Caminhamos no texto, com a munição que estes

no lugar, para assim partimos para a análise.

outros textos nos deram. É instável a idéia de uma

_ O BLOCO B

cidade que se estabelece como uma coisa só, e

Agora nesse inserir de volta a esse caminho, beira-

do mesmo modo, há instabilidade em sua forma

-mar–centro precisávamos pensar como seria essa

manter-se estável, correta, numa instância onde a

pesquisa, como ela se instauraria. Tínhamos em

possibilidade de mudança é desprezível. Nesse

mente articular o texto, o trabalho de campo e a exe-

contexto, há a necessidade de abrirmos a discus-

cução gráfica do trabalho, fotografando a baia pon-

são de corpo, objeto-transeunte, paisagem-cidade

to por ponto para criar uma imagem sequencial do

entre as duas ilhas. Nossa ideia de corpo entremeia

percurso.

num corpo aberto, livre de definição orgânica que a ciência natural o caracteriza, ele cria cidades e a

A ideia era um olhar técnico, como se fosse dese-

reinventa. A idéia de corpo traz a tona o discurso do

nhar a fachada do percurso com o clicar da máquina

pensamento da cidade imaginada e também da ci-

fotográfica e obversar os cheios e vazios, onde abre

dade construída, quando a experiência é um entre

e onde se fecha a paisagem, como se fosse transfor-

esses dois momentos de apreensão da cidade

mar tudo (o eu é visto no caminho) em duas dimensões. O olhar durante o percurso seria realizado

Assim, antes de voltarmos ao território e os seus

pelo olhar da maquina. A foto teria essa função pro-

Figura 06. Ambiência parcial da baía. Foto: Adryelisson Maduro@transeuntes

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jetiva do que se experienciou no lugar, deixando

ção do Cotidiano, Pierre Levý (1998) em Inteligên-

para ela os créditos da fotografia e do olhar artís-

cia Coletiva e Paul Virilio (2005) no Espaço Crítico.

tico. Em alguns flashs, como a câmera livre dessa

Certeau nos diz que andar pela cidade é construir

estratégia, deixaria escapar instantes, que traduzis-

um mapa, sendo um dissidente do mapa usado pelos

sem aos nossos olhos, pontos de inflexão entre o

projetos de urbanistas. No processo de distanciar-

lugar e nosso desejo de lugar. Entre o que se via e

-se e aproximar-se ao território, Virilio nos ensina

o que se imaginava para agregar valor entre o texto

que o instante em que a imagem é clicada, cria-se

(escrito) e o contexto (urbano).

um duplo, a imagem real produz uma imagem que contém a realidade e a possibilidade de ser outra,

Após esses pensamentos, do que aconteceria de

um filtro entre a construção e a imaginação que en-

fato no “entre ilhas”, houve o dia de ir a campo para

reda a cidade.

realizar as fotos, e algumas coisas tomaram outro rumo. Um dos companheiros de campo estava com dois objetos novos até então, para o enredamento do trabalho: um tripé articulável e sua bicicleta,

Não obstante, esse novo corpo, a bicicleta e o pró-

que usamos como suporte para tirar as fotos.

prio corpo que a conduz além do que registra, se depara com os objetos constituintes desse percurso,

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A percepção do trabalho se transformou, ao invés

desse mapa em movimento. Recorremos ao concei-

de tratarmos com mapas cartográficos como fize-

to de cinemapa que Pierre Levý propõe. Os elemen-

mos no BLOCO A, agora, nós por nós mesmos, cria-

tos que o compõe possuem suas singularidades en-

mos um mapa dessa cidade que estamos a explorar,

quanto estão inseridos no todo. Daqui partimos com

marcada pelo percurso entre ilhas. Aí, recorremos a

os objetos escolhidos como fortes do território para

outro autores que têm na cidade questões que tan-

criamos nossa ação, o movimento que nos projeta

gem ao discurso anterior da cidade como processo

para frente, e para traz, como se começássemos des-

que são: Michel de Certeau (1990) no livro A Inven-

te ponto inicial(após a ação o início de tudo).


Figura 07. Vista das Montanhas da BaĂ­a. Foto: Thalita

Co-

vre@transeuntes.

23


24


Figura 09 - Desenho de Julio Torassa Viola.


1 _ VITÓRIA entre a PEDRA e o MAR

1.1

Figura 10 - croqui em

RECORTE 01 _ Vitória

aquarela da geografia da cidade de Vitória.

Vitória é resultante de contínuas alterações em sua paisagem que foram provocadas, sobretudo, pelas obras que modificaram o espaço físico na região da ilha, com a ocupação das áreas de mar e de mangue feita através de aterros; além da retirada de montantes de terra ou pedras de alguns morros e o desmatamento dos mesmos para uso da madeira e para ocupação habitacional. Ela se insere numa paisagem rica e complexa quanto a seus elementos formais que coexistem diferentes, há o mar e o morro, a Pedra e os corpos que nela vivem. Podemos observar nas imagens que a cidade é contornada pela água e a presença do volume-terra-pedra-morro e narram o contexto geográfico de ilha, como mostramos em um desenho em aquarela a sessão da cidade. Em meio à diversidade de cores e formas podemos enxergar cinco elementos, que juntos compõem a configuração da paisagem urbana e 26

Figura 11 Esquema dos Recortes. Recorte 01 - Vitória Recorte 02 - Área Central - Recorte 03 - “Entre ilhas”


natural da cidade (fig. 01). Para complementar o entendimento dessa paisagem atravessada por sua complexidade de formas e temporalidades, que também as tornam marcantes, trouxemos dois trabalhos de ceramicistas expostos na Secretaria Municipal de Esportes (Antigo Clube Saldanha da Gama) retratam a realidade geográfica de Vitória. Uma mostra as raízes aéreas das plantas do mangue (figura 12) e a outra, a ação humana sobre a natureza com a presença do Porto

Figura 12 - Painel Cerâmico 0,80X1,66x0,7 cm - Helena Moreira e Vergínia Moreira

(figura 13). A primeira retrata a paisagem natural mais relacionada à cidade de Vitória, que é o manguezal e a outra a área construída que também é muito significativa para a cidade: o porto. A água – Mangues; palafitas de São Pedro I ao VII; praias de Santa Helena, Santa Luzia, e ou-

Figura 13 - Painel Cerâmico 0,72X1,98x0,7 cm - Águeda Valetim e Nena Zimerer

tras menores que não existem mais; riachos canalizados, ou mesmo aterrados; pontos de água; o desenho recortado da Praia do Canto – que nem canto existe mais. A área industrial que promove a poluição no ar e na água; o esgoto de uma baía que desemboca na praia de Camburi. Esses aspectos modificaram a sensação que a água enquanto elemento natural 27


28


Fig. 14 - Imagem de Satélite de Vitória. Fonte: LPP - UFES. Em vermelho referência da sessão do desenho da figura 10, o setor 01 . Em amarelo o setor 02 e em azul o setor 03.

Figura 15 - Esquema de aterros. Fonte: IJSN - 1979 In. Acervo de Francisco Bernadino.

Figura 06 - Esquema de aterros. Fonte: IJSN - 1979 In. Acervo de Francisco Bernadino.

partes. relacionava-se no ambiente. A água desenhava outra linha no centro de Vitória, marcando bem a orla

O mangue: Natureza vil com seus cardumes deses-

como se fosse uma litografia, ou melhor, como se

perados por reproduzirem; quanto menos mangue,

litografia natural agenciasse o movimento dessa

menos peixes. A massa verde, que faz especial a ci-

fluidez-água.

dade pelo maior mangue urbano entre as capitais do Brasil, apesar de ter sido diminuído pelos aterros

A resultante Edilícia: A Forma da cidade amplia-se

sucessivos durante os anos, bem como em parte na

em concordância com os fluxos, pontes e avenidas,

superfície da água.

através de projetos de expansão como o Novo Arrabalde. Os edifícios aglomeram-se em algumas

O Aterro: Camuflados na superfície da terra, ins-

partes da cidade, os morros são ocupados, cada dia

critos em arrimos de concreto, montante de pedras

uma nova obra na cidade. Corpo em processo que

cinza clara (parte seca) e cinza escuro (aquilo que a

compreende a morfologia dos bairros, a diversi-

maré marca), modificam a paisagem de forma invi-

dade formal dos edifícios, as pontes que ligam as

sível, pois é parte do cotidiano, onde muitas pesso29


as trabalham e moram onde já foi mar; onde já foi

no último século, partindo do núcleo central, onde a

mangue.

cidade ainda era denominada Cidade-presépio. Mas vemos o aumento populacional transformando a cida-

As Referências naturais _ Desenhos belos e sinu-

de, edificando novas formas e suprimindo outras (refe-

osos que mostram as marcas do tempo em suas

rências naturais em geral), através do aterramento, por

ranhuras e reentrâncias. Texturas que ao longe

exemplo. Estudar a abrangência da paisagem de uma

mudam de cor devido a incidência de luz, ou opaci-

cidade com mais de 400 anos de permanência e com

dade da atmosfera. A referência natural das formas

tantas mudanças a surgir, nos interessa. Também nos

geográficas, que desenham uma percepção topo-

preocupa o destino desse sítio.

-afetiva no lugar, entre mestres, ilhas e Penedos. (Esses pontos dos quais falamos aqui serão retoma-

Fig. 16 - Imagem de Satélite de Vitória. Fonte: LPP - UFES. Em vermelho referência da sessão do desenho da figura 10, o setor 01 . Em amarelo o setor 02 e em azul o setor 03.

dos no trabalho em textos e imagens) De uma maneira, um tanto livre, escrevemos sobre os elementos de Vitória, como de uma maneira de imprimir nessas palavras o que se percebe no usar a cidade e o que se afeta, nesses percursos e pas-

1.2

RECORTE 02 _ Área Central

seios, imersos na sombra do Penedo, quando passamos ali naquela curva, por exemplo (curva do Saldanha que será mostrada mais a frente). Esses elementos formam a paisagem e também formados por ela, a desenham e são desenhados por ela. É preciso entender que a cidade à medida que cresceu, precisou aprender a se relacionar com isso, com a paisagem que a recebia e parte dela fora destruída por ela. A urbanização de Vitória se deu, em maior escala, 30

O centro de Vitória é um lugar que carrega o “peso” do passado, aquilo que Vitória foi e daquilo que não foi. Carrega o peso de guardar, pelo menos pelo esforço da classe artística e institucional, o acervo arquitetônico de significado mais contundente e de representações. Carrega também o poder governamental e parte do poderio “bélico”, quer dizer, do poderio econômico, que lança a cidade e o estado em prumo para a competitividade mundial. Esse


31


signo econômico é representado pelo Porto de Vitória, pelo porto de Capuaba (em Vila Velha) que se vê daqui (da orla do centro de Vitória), os grandes carretéis que povoam a área da Flexibrás. A cidade iniciou seu crescimento a partir de sua área central (centro histórico), que possui, em linhas gerais, uma morfologia cravada pelo urbanismo colonial, que a deixou com ruas estreitas, ladeiras e escadarias, seguindo as prerrogativas do terreno natural. O centro histórico continua com suas ruas estreitas e curvas, produzindo uma alteração do andar através da surpresa de cada curva através da subida / descida que, mesmo suave, se percebe nas ladeiras e escadarias e que parece diferenciar-se da cidade que abriu suas ruas retas avistando, cada uma, seu início e seu fim O processo de expansão da cidade de Vitoria, quando ainda era um centro inscrito em si, quando ainda possuía 32

Figura 17 Novo Arrabalde. Fonte: Memória Visual 01 - Ilha do Príncipe e (02) Ilha da Fumaça e (seta direção do das praias, onde se instalava o Novo Arrabalde).


o nome de cidade presépio em sua paisagem, se

Grosso modo, a cidade buscou duas direções para

deu de maneira a negar esta inscrição geográfica,

se expandir, de um lado o leste, com o projeto do

a inscrição morfológica urbana e a inscrição dos

novo arrabalde (figura 17) e do outro o oeste, onde

edifícios. A morfologia da cidade seguia na busca

se construiu duas pontes para ligar Vitória a Vila Ve-

das linhas modernistas e retas, fazendo com que a

lha, a Cinco Pontes (ou Ponte Florentino Avidos) e a

expansão imediata tivesse outro desenho (KLUG,

Segunda Ponte. Então, essa cidade caminha em ou-

2009). Esse espaço retilíneo, como dito aqui, é pro-

tros rumos, direciona-se em prumo à modernização.

duzido pelo nivelamento promovido pelos aterros, o loteamento sobre esse território produz um teci-

“A “cidade presépio” ou a “cidade acrópole”

do hábil de reproduzir o tipo tabuleiro xadrez.

fica mais difícil de ser “lida” na paisagem de Vitória. A cidade que se adequava à fotografia

Essa diferença dos novos loteamentos em relação aos antigos é marcante no aterro da esplanada capixaba; seu loteamento apresenta um arruamento

e se espraiava sobre o mar não é mais percebida facilmente. O maciço Central, que outrora tinha um grande domínio sobre a paisagem, agora, aparece como fundo para a cidade ver-

plano. Essa área mostra para onde o setor comer-

ticalizada que se apresenta na orla” (KLUG,

cial iria avançar, este local se configurava entre a

2009:.56).

cidade antiga e a elevação aonde existia o antigo forte São João, atual Curva do Saldanha. A ruas-

Apesar do projeto do novo arrabalde não ser pen-

-rasgos dessa nova maneira de ocupar o território

sado para o centro de Vitória de fato, ele nos mostra

constituía-se no plano e na diferenciação formal do

a intenção de regularizar um terreno para receber

andar o terreno que antes era vencido nível a nível

uma cidade em expansão: uma nova Vitória que con-

é agora é abarcado quase por completo, quando do

tinua sendo presente, e tende a continuar mudando

início de uma rua, consegue ver seu fim, como um

pela sua condição de cidade em crescimento.

ponto de fuga.

33


1.3

RECORTE 03 _ Entre a Ilha do Príncipe e a

Ilha da Fumaça.

o limiar entre a cidade e orla que os tocam, e mais especificamente, o interstício urbano que unem essas porções de cidade. Assim, criamos um desenho em

A área de estudo – RECORTE 03 _ é um limite que

linha, que se define na avenida beira mar, que vai da

nos contém, felizmente, pois desejamos apenas o

Ilha da Fumaça até a Ilha do Príncipe.

que vemos como artifícios para que o invisível apareça também. Olhando para a linha criada, limiar

1.3.1 Dois Territórios e dois projetos

que tenciona o poder de transformação do homem sobre o ambiente natural nós vemos a força para a

Dessa maneira vimos os dois territórios representa-

manutenção da atividade econômica, como exem-

dos por um diagrama (figura 18) como alavancas da

plo a cidade e o porto. O que espera a paisagem-

compreensão do que se chamou RECORTE 03 e da

-cidade do Futuro?

discussão da cidade como organismo em mutação. Se há projetos para uma determinada área, há uma indi-

O percurso se coloca no interstício urbano entre es-

cação que desejam alterá-la. O trabalho com territó-

sas duas áreas de intervenção: entre a direção que

rios potencializados por projetos que visam transfor-

conduzia o Novo Arrabalde e a direção que levava

má-los, indicam que há algo que deva ser preenchico,

à Vila Velha, ao oeste da Ilha. Nos caminhos dessas

como se em algum aspecto, fosse vazio.

direções temos 02 territórios: a Ilha do Príncipe que foi aterrada para receber as novas estruturas

Essas faltas no território, muitas vezes chamadas de

da cidade e a Ilha da fumaça, que está inscrita na

vazios4 , parecem agenciar o movimento de transfor-

direção leste, indo em direção ao novo arrabalde,

mação do território, que busca preencher os buracos

mas essa região não contava no projeto. Essa linha que desenha o percurso tem como tencionamento as duas extremidades do percurso já indicadas, mas não buscaremos analisar/estudar seus territórios por inteiro. O que nos interessa é 34

4 Nos discurso de urbanismo,os vazios urbanos são temas sempre presentes no discurso de urbanismo, consideramos aqui nesse trabalho, sem aprofundarmos no que é vazio para o campo teórico, que o território possui aparência de ser vazio, ora por ser pouco ocupado (no caso do entorno da Ilha do Príncipe e ora, de ser desocupado, como no aterro da Vila Rubim,ambos territórios serão tratados adiante..


Figura 18 Esquema dos territórios 01 e 02. 01 - Ilha da Fumaça _ 02 - Ilha do Príncipe

(as estruturas urbanas possíveis a transformação) da malha urbana. Esses vazios estão aqui relacionados no sentido de não estarem inscritos nas linhas dos desejos de cidade. Chamamos de “desejo de cidade” os caminhos levados a uma compreensão de cidade, representado pelos grandes poderes (capita-

JEUDY e BERENSTEIN (2006) estudam em suas pesquisas, são levados de modo a diminuir os conflitos e as complexidades do lugar (estão na mesma relação outras disciplinas como a arte e a cultura). Apenas colocamos essa questão um tanto política dos grandes projetos urbanos para que o trabalho não siga ingênuo sem uma compreensão problemática

lismo).

do assunto. “A arte e a arquitetura, da mesma forma que o urbanismo e o paisagismo, são requisitadas

Seguiremos a explicitar os projetos de cada terri-

para operar as alterações de cenário, as mo-

tório, um antigo (mais próximo quando estavam em

dificações da imagem de uma cidade, respon-

processo de aterramento) e outro atual, que visam

dendo a estratégias políticas e culturais que se

transformar a realidade atual de cidade, da cidade

tornam cada vez mais marketing, com logoti-

contemporânea que é Vitória. Discutiremos em pou-

pos e marcas” (BERENSTEIN, JEUDY, 2006: 8).

cas linhas os territórios que são acionados os projetos e depois, na parte 02 desse bloco B, iniciaremos

Os projeto que estão direcionados para as áreas centrais são agenciados pelos grandes poderes e, como

a discutir os conceitos acerca da cidade – revisão bibliográfica. 35


1.3.1.1 Território que compreende a Ilha da Fumaça

Figura 19 Aterro de Santa Maria e bento Ferreira. Fonte: IJSN. s/d. Área correspondente ao que chamamos de território 01.

Colocamos duas imagens para ilustrar este território, uma após o aterro (figura 19) e outra com a situação atual (figura 20).

Vemos na figura o aterro livre, acabado de ser coberto pela terra, portanto, sem ocupa-

_ O território

ções. Na outra imagem, na outra a situação atual. É como se o aterro fosse realizado para

Entre o centro e o Novo Arrabalde existia um vazio, onde hoje encontramos esse território. Os atuais bairros de Bento Ferreira, Ilha de Santa Maria, Forte São João, são regiões formadas por um aterro, (figura 19) que suprimiu o grande mangue e uniu as ilhas, que saltam ao território como morros. Nessa direção da cidade ainda existem ilhas que permanecem, uma delas é a ilha da Fumaça. 36

receber a cidade que se expandia do centro para as áreas do novo Arrabalde e vice versa. Atualmente esse território produz uma paisagem em mutação, vide os empreendimentos estarem direcionando-se a bento Ferreira. Para este trabalho essa região é marcada pela avenida dividindo a orla dos prédios.

Figura 20 Bairro Saldanha da Gama. Fonte: PMV in KLUG, 2009: 44.


37


_ Projetos antigos e atuais.

Essa região se configura como um vazio residual entre as duas áreas de interesse da cidade, o centro e a região do

Os projetos trazidos para discutir o processo de

novo arrabalde” (KLUG, 2009: 44).

ocupação do território, enquanto intenção, são um de 1945 e o outro de 2010 . O projeto de 19452 é

“A ilha da Fumaça é anexada ao projeto do bairro

de um bairro residencial, o atual se chama Vitória

através de aterro para obter área física para inter-

bay4 que conta um complexo arquitetônico, realizado pelo arquiteto Willy Muller.

venção. A área incorporada é trabalhada para formar uma enseada que abrigaria pequenos barcos de turismo, um Iate Clube, um Clube de Pesca e possibilitaria a formação de extensa praia, centro de atração

O projeto de 1945 é um plano do Alfred Agache

do novo bairro, e onde seriam localizados hotéis, cas-

para o local, que não havia sido contemplado pelo

sinos, etc” (KLUG, 2009: 45)

projeto do Novo Arrabalde. Alfred Agache supervisionou um projeto para essa região depois que

Ao visualizarmos o projeto para a região, notamos forte

o Novo Arrabalde havia sido projetado. Trata-se

preocupação em valorizar a paisagem “natural” – o novo

de um bairro residencial. “(...) o bairro Saldanha

desenho da orla que já está naturalizado no cotidiano -

da Gama, na região do atual bairro Bento Ferreira.

criada pelo avanço do aterro sobre o mangue e a Baía.

2 Projeto de Alfred Agache de , aproximadamente, 1945. Disponível no livro Vitória: Sítio Físico e Paisagem , KLUG, Letícia, 2009: 45. 3 disponível no site: http://www.archinnovations. com/featured-projects/civic/wma-willy-muller-architects-vitoria-bay-vix-tower/.

Figura 21 - Montagem de imagens do projeto “Vitória Bay” do arquiteto Willy Müller, 2010.

38

As aflorações rochosas que perderam suas condições de ilhas eram respeitadas com a possibilidade de serem incluídas nos percursos da cidade. O projeto que temos como referencia desta localidade, que trata da construção


Figura 22 Bairro Saldanha da Gama. Fonte: PMV in KLUG, 2009: 44 .

do que o estado anda em passos largos em sua economia? Talvez se trate da condição de uma possível invisibilidade da cidade num contexto nacional. Mas ainda falaremos mais sobre essa questão. Vitoria Bay é um projeto ousado, propõe mais um aterro, e um complexo edilício rico em formas, além de um parque urbano bastante arborizado. Como o projeto anterior, o projeto estabelece relações de continuidade com o contexto urbano e soluciona a expansão urbana com o aterro da baía. No entanto, o resultado formal rompe com a escala de toda construção da cidade, rompe com a maior referencia geográfica do entorno próximo, o Penedo. Ambos os projetos trazidos aqui, apesar de possuírem programas diferentes, possuem algo que o tangenciam ao valor paisagístico (referência ao verde)

de um bairro que uniria o centro ao novo arrabalde valorizava bastante a presença de áreas possíveis ao paisagismo, mas não continha algo tão complexo e nem de tal escala como Vitória Bay. Willy Muller Propõe aqui um complexo arquitetônico sobre um grande aterro, transformando o desenho da orla, da curva do Saldanha até as proximidades da ilha da fumaça. É contundente o que pretende nesse projeto. Buscar uma nova identidade para uma cidade, para uma região que se

do local. O primeiro cria um centro cívico próximo à baía (a cidade alta já não comportava mais essa função), o que traria encontro e uso público à beira do desenho original (o desenho que os aterros deram a orla). O projeto atual visa um novo aterro, num grande jardim público, que ao mesmo tempo em que reforça o paisagismo distancia o limite entre a cidade e a água. Desse modo, é clara a intenção de modificar o território a partir da orla para a baía.

encontra em estado de inércia. De que inércia se trata sen39


1.3.2

Território que compreende a

Ilha do Príncipe

Figura 23 - Aterro da Vila Rubim. Fonte: Arquivo Público da PMV.

As imagens 23 e 24 retratam, respectivamente, o

Figura - 24. Baía de Vitória, Ilha do Príncipe.

território logo após o aterramento e a outra situa-

Fonte: Acervo Pessoal.

ção urbana hoje. (empresa de tubos flexíveis). A outra parcela aterrada não

40

_ O território

conta como uma paisagem urbana consolidada.

O território 02 e vermelho, Ilha do Príncipe, é basi-

Além disso, buscavam-se novas áreas para receber o mer-

camente formado pelos aterros que direcionaram o

cado que vinha dos barcos, antes das rodovias. Depois da

centro histórico para a baía, que deram lugar a área

superação desse tipo de comercio a região foi utilizada para

portuária, e pelo aterro que anexou-o a Vitória. A

a expansão do porto. O aterro que aconteceu na região que

primeira leva de aterros consolidou a região como

compreende a parcela de água que fazia a ilha do príncipe

área portuária, com o Porto de Vitória e a Flexibrás

uma ilha, ainda permanece um vazio. Esse região oeste (em


Figura 13 Ba铆a de Vit贸ria Fonte: Acervo LPP-UFES. .

41


direção a Vila Rubim) foi buscada para ampliar a morfologia da cidade que alcançava os preceitos modernos (muito representado pelos novos loteamentos ou aterros que visam ampliar sua área comercial). _ Projetos antigos e atuais. Dois projetos ilustram o tênue limite da realidade e do que pode vir a sê-lo nesse território. Um projeto é de 19314 e o outro de 20105. O projeto atual de chama “Portal Sul”, uma requalificação da área vazia. O segundo projeto trata-se de Figura 25 Montagem de vistas do projeto Paortal Sul.

uma proposta de expansão da área comercial da cidade para esta área. O projeto que estudamos nessa região contempla em sua analise, de uma forma geral, a constatação de um uso desqualificado do entorno e do uso indiscriminado das áreas elevadas. Como diretriz, a proposta visa possibilitar o fortalecimento e o adensamento do uso residencial do entorno através de um grande complexo arquitetônico. Consta também como diretriz que o programa do partido arquitetônico deveria prever a instalação da área administrativa da empresa Flexibrás (empresa de tubos flexíveis localizada na ilha do Príncipe), o que marca sua presença no cenário eco4 Projeto de Henrique Novaes. Disponível no livro Vitória: Sítio Físico e Paisagem , KLUG, Letícia, 2009: 45. 5 Projeto do escritório DAUS. Disponível no SITE: http:// territorios.org/portalsul/portal.html

42


nômico e urbano de Vitória. No projeto Agache propõe edifícios públicos na ilha – Apenas uma gleba no topo do morro – Embaixo propuseram um aterro para receber loteamento que visava expandir a cidade para oeste em direção à Ponte Florentino Avidos. Este aterro recebe uma malha tabuleiro xadrez e os uso comercial que a cidade precisava (nesta época houve o aterro da esplanada que também recebeu uso comercial). Hoje a ilha deixou de ser ilha, a cidade deixou de ser presépio, e deixou de ser bonita (bonita aqui, está relacionado ao término do ). Não percebemos a ilha do príncipe como algo aprazível; o que fica visível é a intenção de usar a região para fins comerciais. O projeto do Portal sul, como grande equipamento busca permanecer com a intenção do poder público em preencher o vazio produzido pelos aterros da CODESA contornando a Ilha do Príncipe, estabelecendo outro complexo arquitetônico. No território já Figura 26 -

existem outros elementos arquitetônicos, mas que

Proposta de Remodelação da Ilha

parecem não ter sido suficientes para, de alguma

do Príncipe e Zona comercial da

forma, ocupá-lo. Exemplos disso são a rodoviária,

Vila Rubim. Fonte: Novaes (1931) in

o complexo esportivo Tancredão que está sendo

KLUG, 2009:

quase terminado, além do Sambão do Povo e o antigo Teatro Camélia, sem contar o mercado da Vila 43


Rubim. Nesse sentido o projeto busca uma conti-

é uma cidade cujo centro está em toda parte

nuidade com o local, inclusive prevê no programa

e a circunferência em parte alguma.” (LEVÝ,

área para a empresa Flexibrás, o que fortalece sua

1998:152).

inserção na paisagem. Nessa passagem de Pierre Levý, a estrutura da cidaNo entanto, o “Portal Sul”, devido forma com que é

de é gerenciada pelos ensejos e mazelas do capi-

tratado formalmente, ignora o entorno e cria espa-

talismo, que apesar de polarizar, centralizar a cida-

ços que RIBEIRO (2005) coloca como articuladores

de em um ponto, percebemos que a cidade está em

da especulação imobiliária. Inclusive o adensamen-

tudo, com suas estruturas e a complexidades que a

to habitacional do entorno está entre as diretrizes,

é intrínseca.

mas não estabelece nenhuma ligação com o entorno, mas qualquer maneira indica a ocupação do

Este percurso, como um cabo atirantado por esses

vazio por inteiro e da reposição dos territórios do

dois territórios distintos, nos mostra sua complexi-

entorno. Além disso, estabelece relações com os

dade e o paradoxo acerca da ocupação do mar pela

projetos passados, mantém a relação do espaço

cidade devido a inserção diferenciada das ilhas no

como um lugar de uso comercial e agenciador de

território. Existe um “entre” essas duas regiões, dois

fluxos. Isso retifica a presença da área portuária –

macro-setores (territórios 01 e 02) criando um in-

representada pela Flexibrás - como participante da

terstício entre eles. Nesse setor-entre, com algumas

paisagem urbana.

questões a serem consideradas que já foram iniciadas no RECORTE 02. Este interstício traz as questões

1.4

O percurso – problemáticas gerais

da área central, que também faz parte desse território.

“Atravessado por estradas e auto-estradas, perfurado por metrôs, sulcado por linhas de

De pronto, ao olhar as imagens antigas, vemos a

ônibus ou bondes, sobrevoado por aviões,

ocupação contundente do mar pela cidade. Além

emaranhado de ruas, canais, redes, depósito

disso, as historicidades dessa região, as preocupa-

sobrecarregado por todos os fluxos, o urbano 44


ções patrimoniais, de certa maneira consolidam a sua

ça da cidade, das mudanças físicas e das alterações

paisagem como é. Mas ao mesmo tempo, essas duas

de sua imagem, percebemos que a condição de

extremidades, devido à complexidade dos projetos

vazio

que o são destinados (como intenção), podem agen-

tido de não serem ocupados, mas sim de que exis-

ciar transformações no trajeto. Podemos lembrar-nos

tem intenções de preenchê-los de outras maneiras,

de projetos como “MORAR NO CENTRO” que visam

com outras formas. Mas como saber o que existirá

reformar edifícios abandonados, o que reatualizaria a

de fato? Essa pergunta nos move a pensar sobre a

imagem que enreda o percurso. Ma aqui nesse traba-

forma como a cidade se conforma, mas não é nosso

lho, os projetos que agenciam-se nos territórios são

mote neste trabalho, nos move a descobrir o cami-

as pontas da corda que tentamos rasgar. Eles não são

nho na experiência (que será melhor discutida no

nossa meta, mas propõe que o território não está aca-

BLOCO B).

desses lugares ainda continua, não no sen-

bado, e isso para nós, é curioso. Após estabelecer possíveis relações teóricas que _

Rumos da análise.

constroem esse discurso, que caminharão pela construção e/ou imaginação e para continuidade ou não

A discussão desse percurso, que é atracado desses

da forma da cidade, voltaremos aos recortes que fi-

dois territórios com intenções de mudanças, se faz

zemos para tornar claros os pontos urbanos aonde

numa linha extensa e complexa. Essa complexida-

estão embebidos dessas questões. Atentos aos ter-

de se dá pela própria natureza do local, devido aos

ritórios que impulsionam o desenhar do percurso

cheios e vazios deixados pela evolução urbana e da

traçado por linhas instáveis e possui duas pontas e

paisagem. Entendemos a cidade desenhada em duas

um meio engolido por elas.

linhas, uma que a marca como objeto construído, como forma, e a outra que a sugere ao mesmo tempo em que

Vamos discutir junto com o campo teórico que nos

a insinua, a propõe. Partimos em direção a cidade que

convêm, entre o que é visível e o que é invisível e

é construída, existente e/ou imaginada pelo projeto.

embarcar nesse texto em direção aos conceitos que nos ajudam a continuar aproximando-se do territó-

Na breve relação entre as duas intenções de mudan-

rio e construir sobre eles a discussão que os embe45


be, numa análise entre o que existe e o que pode, ou poderia existir, conhecendo a cidade construída e a cidade imaginada estudada na revisão biblio-

Ilha da Fumaça

gráfica. Ilha do Príncipe Segue alguns diagramas (figura 26) que ilustram a ação dos planos atuais que estudamos. Ates de entrarmos nas discussões conceituais entre a cidade

Vazio da Vila Rubim

que está entre a construção e a imaginação, deixaremos estes desenhos para que, quando volarmos ao território, para parte 03, esteja claro sua inserção seja visual a maneira como os projetos agem, como forças pre-enunciativas no território.

Implantação do Projeto Vitória Bay Implantação do Projeto Portal Sul

Figura 26 Diagramas de Ações do projeto no território 46

Linhas (SETAS) de ação dos territórios. No território 01 as linhas são perpendiculares à orla indicando o avanço do território sobre a baía e , as setas perpendiculares ao território da cidade, exemplificam a provável alteração do etorno devido a especulação imobiliária. No território 02 as linhas são radialmente distribuídas no território, há forças que modificam o tecido urbano (setas para baixo) e a modificação dos outros morros (setas para cima), outras (direita) ratificam a direção da ocupação do território na direção oeste e (esquerda) a direção do centro e da Vila Rubim.


47


Figura 27. Duas Idéias de Ambientes, a cidade e a praia.Ambos desenhos de André Zaché. 48


_ 02 _

A CIDADE ENTRE SUA IMAGINAÇÃO E SUA CONSTRUÇÃO


01 e 02) , sendo que são de grande escala, complexi“Segue-se o tempo. Pois o território produz tempo com o espaço.” (LEVÝ, 1998: 151).

dade e há muitos interesses sobre elas (diagramas de ocupação do território - figura 26) .

De início estabeleceremos algumas formas de en-

“Jamais se deve confundir uma cidade com o dis-

xergar a paisagem e a imagem da cidade contem-

curso que a descreve. Contudo, existe uma ligação

porânea, a que é vista nos meios de representação

entre eles” (Calvino apud MIZOGUCHI, 2007: 50).

onde o planejamento urbano é protagonista, e a que é vista nas janelas dos carros ou no percorrer

Os projetos, mesmo não havendo certeza de sua imple-

da cidade. Depois, no decorrer do texto, entrarmos

mentação, são dispositivos que indicam a intenciona-

no cenário de análise (na parte 03 do BLOCO A, a

lidade de alteração urbana. Após as discussões, aqui

cidade-corpo e nas discussões do BLOCO B) . A

dentro de “a cidade entre sua imaginação e sua constru-

complexidade de interesses de mudança e da ci-

ção”, poderemos estabelecer relações entre a intencio-

dade e as escalas de percepção se dão em todas as

nalmente dos projetos com a realidade urbana de cada

formas mensuráveis.

lugar. Do que é imaginado, do que é construído das formas que existem e que estão a mercê da transformação

A consolidação dos territórios 01 e 02, do percur-

urbana no que se refere as relações de continuidades ou

so, não é bem assimilada como o centro de Vitória

não dessas formas. O discurso que intenciona a produ-

(que seria o entre os territórios 01 e 02), percebe-

ção da cidade, realizada pelo projeto é parte da realida-

mos a suscetibilidade desses espaços (territórios)

de da cidade tanto quanto a própria cidade sob a luz do

a mudar através dos projetos mencionados ante-

sol, à beira da água.

riormente. Não obstante, apenas grandes intervenções conseguiriam mudar a realidades consolidada

50

“Espaço é o efeito produzido pelas operações que o orientam, o circunstanciam, o temporalizam e o

do Centro da Cidade e dos grandes territórios que

levam a funcionar em unidade polivalente de pro-

compreendem os que estudamos aqui (territórios

gramas conflituais ou de proximidades contratu-


ais” (CERTEAU, 1994: 202).

de quaisquer desses no lugar onde tange a intenção e a ação, criam a imaginação e a construção (cons-

O espaço é complexo, está numa realidade poliva-

truído) da realidade. Olhar para a cidade entre a

lente, onde tudo acontece ao mesmo tempo, onde o

sua imagem e seu constructo tende a desestabilizar

limite entre o conflito e o contrato dessas ações ( po-

quem a escreve, a imagina, ou a experimenta.

dem ser várias) tornam o espaço urbano complexo. As assinaturas não comprovam o futuro de um pla-

Imaginar uma cidade segundo os signos que a con-

no, a duplicidade de imaginação e construção de

cebem, segundo os nossos desejos com relação ao

um espaço, tornam o futuro incerto. Uma imagem

lugar, é uma instabilidade. Dessa maneira podemos

que visa uma realidade pode simbolizar desejos

perceber um postulado e uma produção de imagens

que se carregam no território e a própria realidade

para a cidade, que se reflita na forma que o espaço é

produz imagens a fim de duplicar a realidade que

enredado na nossa experiência, tanto a experiência

a criou (como as fotos e desenhos que representam

de imaginar, olhar e (re) criar imagens quanto de

o lugar) produz um espaço pré-construído, um con-

criar imagens a partir de um dado concreto, que é a

trato entre a imaginação e a produção da cidade.

morfologia urbana.

2.1

2.1.1 O espaço Postulado

A cidade Imaginada “A presença física e o sonho se interpenetram no momento em que nosso olhar para (...). Percebemos as imagens (na cidade, na

Investimos na discussão de Fábio Duarte, apresentado anteriormente, onde carrega uma teia conceitual

periferia ou na estrada) tanto quanto as ve-

e teórica rica para a concepção de espaço na atuali-

mos” (CHÊNE, 2006:147).

dade. Segundo o dicionário GAMA KURY, o postulado é o princípio que se admite sem discussão, “prin-

O suporte de apresentação do projeto, seja o papel,

cípio reconhecido, mas não demonstrado”, “mas

seja o outdoor, a internet ou mesmo a lembrança

que não é tão evidente como o axioma”. “Axioma: 51


proposição evidente por si mesma. Sentença máxi-

espaço postulado” (DUARTE, 2002: 33).

ma”. Postulante é aquele que pretende algo. O mesmo autor aponta uma categoria que Lefébvre Ou seja, estamos tratando de um conceito que visa

dá ao espaço, como o espaço abstrato, que exclui o

transformar uma realidade, lançando-se para o fu-

vivido. Mas o espaço postulado é partícipe da cons-

turo, pois busca algo com pretensão sem tornar-se

tituição da cidade, não se perde nas abstrações ou

um dogma, mas carrega o peso de uma intenção

pelo menos da imagem que se tem de um devir ur-

por parte de alguém.. Há algo de cartesiano nesse

bano. Projetos de escala urbana, de órgãos institucio-

espaço, algo de matemático, intelectual/distante da

nais ou mesmo privados que saem na mídia, fazem

realidade. “É o mundo histérico, do homem histéri-

parte da vida e da promessa de modificação do coti-

co, aquele que não sabe mais o que fazer com seu

diano citadino.

corpo, imaginando-se fora de qualquer enraizamento espaço-temporal” (DUARTE, 2002; 31).

Mas Duarte afirma que este espaço postulado é ineficaz para entender as dinâmicas vividas no espaço-

52

Tratamos aqui do processo quase reciclável não

-tempo, pois apenas influenciam na concepção de

renovável, renovando a forma urbana de acordo

mundo de uma sociedade, precisamos observar o

com interesse do mercado imobiliário, por exem-

acontecimento, o canteiro de obras que é uma ci-

plo, que atualiza a cidade através de imagens que

dade, que é a cidade contemporânea no Brasil, de

simulam o futuro de um lugar na cidade, novos pro-

que é Vitória é exemplo, capital do estado que mais

jetos que podem murar realidades. As perspectivas

cresce ao ano. Mas adiantamos que a produção do

que mostram esses objetos-arquitetura ou as pers-

espaço não é uma relação unívoca e automática entre

pectivas que mostram as imagens que fazem essa

o que foi concebido ou o que é vivido. Em prol des-

cidade vender-se para um estrangeiro, ou seja, as

sa discussão, da relação de um espaço dogmático na

imagens que fazem das cidades famosas ou as ca-

cidade, vamos de encontro com o que se discute no

racteriza como são. “A perspectiva determina um

campo do urbanismo contemporâneo.


cia famigeradamente a produção do urbanismo mo2.1.2 O pensamento do projeto urbano

derno, desde suas primeiras afirmações sobre o um pensamento da cidade. O outro pensador se origina

No processo de buscar autores sobre a cidade con-

da Biologia, Patrick Geddes, que não coloca a dis-

temporânea, decidimos suscitar dois arquitetos

cussão do urbanismo como afirmação, mas como

da modernidade, Le Corbusier e Patrick Guedes.

processo que se reatualiza no intuito de unir pon-

Ambos são pensadores do planejamento urbano,

tos de vistas diferentes para gerar um projeto mais

mas apontam duas posturas diferentes. Aqui bus-

complexo, principalmente na relação entre o ser hu-

caremos no livro Urbanismo da Françoise Choay,

mano com o ambiente.

em que pontuando as ideias de cidade desde os pré-urbanistas até os mais críticos ao modernismo

A partir disso, vimos com esse contraponto da rela-

moderno, busca relacionar criticamente os autores

ção do planejador com a cidade que supostamente,

no tempo. No embate comparativo entre duas pro-

é produzeida por ele a partir de uma antiga falado

duções, leva a produção do pensamento urbanísti-

arquiteto Le Corbusier, no seu livro “O Urbanismo”.

co a dois pontos que nos mostra, no primeiro olhar,

Esta vem como memória do pensamento que iniciou

contrários.

as grandes obras que criaram cidades que esperavam superpopulação depois da revolução industrial.

“Estava inaugurado o espaço moderno, que em seus amplos vazios destinados à funcionalidade e à liberdade também trazia a forma

Este escritor e projetista da cidade, em sua trajetória profissional, passa por muitas mudanças em seus

ideológica que desenhava o comportamento

pensamentos, essa citação vem de uma reedição de

dos objetos e das pessoas que abrigava. É o

um livro publicado em 1922.

espaço como um produto” (DUARTE, 2002: 41).

“O homem caminha em linha reta porque tem um objetivo; sabe aonde vai (...). A mula

Temos de primeiro contato, Le Corbusier que ini-

ziguezagueia, vagueia um pouco, cabeça oca e distraída, ziguezagueia para evitar os gran53


des pedregulhos, para se esquivar dos bar-

uma referência com base nessa citação presa no tempo.

rancos, para buscar a sombra, empenha-se o

Mas temos que perceber um ponto do discurso teórico

menos possível. O homem rege seu sentimento pela razão; refreia os sentimentos e os instintos em pro-

do urbanismo, a relação do habitante não é uma relação de utensilidade.

veito do objetivo que tem. Domina o animal com a inteligência. Sua inteligência constrói regras que são o efeito da experiência. A experiência nasce do labor; o homem trabalha

Estes planejadores buscaram na morfologia e setorização o fim em si do urbanismo, sendo o que acreditavam

para não perecer. Para produzir, é preciso

ser uma premissa de vida para todos. Colocando num

uma linha de conduta; é preciso obedecer às

campo relacional esse pensamento corrente de urbanis-

regras da experiência. É preciso pensar an-

mo, podemos alinhavar costuras com o pensamento posi-

tes no resultado. A mula não pensa em absolutamente nada,

tivista, relacionados a termos como fordismo, por exem-

senão em ser inteiramente despreocupada”.

plo. O positivismo coloca que o fim justifica os meios, que

(LE CORBUSIER, 2000: 06).

a objetividade está na técnica, e somente, nela.

Lógica funcionalista clara, com propostas encerra-

Em detrimento a esta postura abstracionista da cidade

das em si, a forma seguindo a função como se fos-

do futuro, Choay ilustra outro pensamento do planeja-

se uma regra, regras mil que definem e enrijecem

mento urbano que é mais pautado por um olhar huma-

uma cena, fazem do urbanismo originado desses

nista da cidade, na obra de Patrick Geddes. Ainda recor-

pensamentos , um exemplo da retirada do corpo

re à filosofia para ajudar encontrar outras maneiras de

como premissa de um planejamento de cidade,

enxergar o urbanismo. O habitar é a ocupação pelo qual

sendo a máquina, o carro, a engrenagem o que

o homem tem acesso ao ser, deixando surgir as coisas

mais tange o que ele, enquanto propositor, deseja.

em si, enraizando-se” (CHOAY, 1992: 38).

Representados por essa passagem um dia escrita

54

por Corbusier, esses pensamentos forma base de

Geddes, na passagem do séc. XIX ao XX, era propositor

todo o discurso do projeto moderno, mesmo sendo

do planejamento da cidade vindo de outra área que não


o urbanismo, a biologia.

tiguidade6 . Há a ideia do futuro relacionado à incerteza, a mudança físico-estrutural de um lugar a

“Não existem dados indiferentes que em conjunto formam uma coisa porque contiguidades ou semelhanças de fato os associam; ao contrário, é

partir da consciência dos elementos existentes, e da permanência ou não deles (MAGALHÃES, 2005).

porque percebemos um conjunto como coisa que

“Buscando um discurso que não aceita a ruptura e

a atitude analítica em seguida pode discernir ali

toda descontinuidade. Hoje é um desenvolvimento

semelhanças ou contigüidades” (MERLEAU-PON-

e uma transformação do passado, não sua repetição.

TY, 1999: 39).

(...) encontramos aqui uma temporalidade concreta e criadora” (CHOAY, 1992: 39).

Sua postura mostra a passagem de uma relação própria do arquiteto para uma que muitas vezes parece abstrair a realidade do mundo, se colocando frente a uma relação que se importa muito mais com o conjunto das coisas do que as coisas circunscritas em si mesmas. Além disso, o tempo aparecia como processo e não como ponto marcado no calendário que anunciava origem ou apocalipse, sem acontecimentos entre essas pontas divergentes. Ou seja, a temporalidade avançava junto ao processo, não havia um protótipo ideal de cidade, mas sim ação continuada de sua construção.

Observando que a duração promove os processos criativos, articulando profissionais da disciplina do planejamento urbano com o modo de uso do espaço implantado, essa articulação estaria próxima a uma ação conjuntada entre a prática do projeto na prancheta e a prática do projeto no lugar. Seria como os usuários lidariam não apenas com o projeto implantado, mas com a criação do projeto junto aos profissionais numa ação conjunta, As considerações Geddesianas sobre urbanismo e planejamento da cidade, segundo Choay, foram importantes para os

Choay, quando escreveu sobre Geddes, mostrava que o tempo da cidade depois da revolução industrial não

estudos futuros sobre essa relação social da cidade e observamos que os estudos de suas publicações

era de ruptura, mas sim de continuidade, ou talvez con6

Grifo nosso 55


56


aparecem, hoje, como um grande campo de pesqui-

no discurso de um indivíduo com objetivo único e

sa sobre as questões acerca do urbanismo conecta-

que segue apenas em linha reta, cria-nos ideia de

do com as questões sociais e ecológicas.

uma cidade múltipla e criada por muitos homens, ou muitas mulas.

“No pensamento de P. Gueddes, uma intuição profunda da situação concreta deve conduzir

“Não existe uma cidade-tipo do futuro, mas

com certeza à solução adequada. Tal cidade

tantas cidades quanto casos particulares”

de amanhã é hoje totalmente imprevisível,

(CHOAY, 1992; 40).

mas uma vez realizada vai-nos parecer necessário, pois é elo de uma evolução criadora” CHOAY, 1992: 42).

A cidade de que Geddes defende e propõe é uma cidade guiada pelo processo evolutivo. Trata-se de

Será a criação unívoca de um arquiteto suficiente

um resultado social em que cada uma diferencia-se

para engendrar afetos. Relações essas que produ-

da outra, diferente da ideia universal de cidade dos

zem uma cidade em contato com o corpo e um cor-

arquitetos urbanistas funcionalistas, que acredita-

po em contato com a cidade? Segundo Peter Eise-

vam poder projetar cidades em quaisquer lugares

man (2011) a arquitetura não é determinante.

do mundo com o mesmo plano urbano gerador.

Essas dúvidas, essa instabilidade do projeto como

A ideia de Geddes caminha pelo tempo anteceden-

promotor da estrutura formal urbana altera a ideia

te como referência, numa evolução criadora da cida-

da cidade ideal e do homem ideal. Determinado

de, não uma repetição dos modelos anteriores nem o abandono total deles. Ao pensar sobre as espe-

Figura 28. Baía de Vitória com Terceira Ponte

cificidades da cidade, que é ponto central da ação

ao Fundo. A imagem mostra a alteração da

planejadora, o arquiteto atualiza a situação anterior

paisagem através dos elementos construi-

sobre a imaginação projetual que a transforma vir-

dos. Foto: Luiz Paulo@transeuntes

tualmente. 57


Essa relação com o tempo está muito próxima ao pensamento de Bergson, onde o presente já passou,

“Os urbanistas estão acostumados a pensar o urbanismo em termos de régua e compasso como uma matéria que deva ser elaborada apenas por engenheiros

onde o passado é daqui a pouco e o futuro, quando

e arquitetos para os conselhos municipais. Mas o ver-

imaginado, já se torna passado. O que nos refere

dadeiro plano é resultante e a flor de toda civilização

como uma potencialidade criadora, na criação de

de uma comunidade e de uma época” (GUEDES, apud

imagens, de novas imagens, e de habitá-las.

CHOAY, 1992: 211).

“Como Bergson ensina, as ideias são tão-so-

Tendo referência nessa relação dialética dos atores princi-

mente segmentos arbitrariamente tomados

pais Le Corbusier e Patrick Geddes, relacionamos respec-

da vida; o movimento é a essência da vida. O

tivamente a ruptura e a contiguidade. A ruptura que acon-

movimento vital da cidade perpetua-se modificando o ritmo imposto pelo gênio do lo-

tece quando o arquiteto ignora as questões físico-culturais

cal, e retomado pelo espírito do tempo” (GE-

precedentes da territorialidade onde ele intervém, ruptura

DDES apud CHOAY, 1992: 27).

que diminui a sensação de pertencimento do usuário, pois quebra drasticamente o imaginário anterior, já que o ima-

É preciso entender também que Geddes deu sua

ginário e o pertencimento são processos que articulam a

contribuição quando a cidade vinha da crise da ci-

duração e a continuidade para se engendrarem fortes.

dade industrial. “Guedes afirma a necessidade ab-

58

soluta de reintegrar o homem concreto e completo

Escritos como os de Geddes não abalaram a certeza que

na movimentação da planificação urbana. Assim

se representava firme na ponta da lapiseira 0.05 que dese-

são reintegrados o espaço e o tempo concretos”

nhava os traços mais finos, os detalhes mais fortes do dis-

(CHOAY, 1992: 39). Entendemos homem concreto

curso-projeto moderno. Agora, com as leituras desses dois

como um indivíduo representado pela diversidade

modos de ver a cidade, estabelece-se dúvida, uma insta-

inerente à condição humana, de corpo, como obje-

bilidade relacionada a uma ideia orgânica de cidade, im-

to finito e perecível.

pregnada do pensar de um processo como fruto de ação


criativa, e não fruto de elementos postulados, pré“Essa experiência da cidade habitada, da pró-

-estabelecidos.

pria vida urbana, revela ou denuncia o que o projeto urbano exclui, pois mostra tudo o que

Reconhecer o que precede à paisagem-territoriali-

escapa ao projeto, as micropráticas cotidia-

dade em questão, para o planejador, e entender que

nas do espaço vivido, ou seja, as apropriações

o embaralhamento para a percepção das imagens

diversas do espaço urbano que escapam das disciplinas urbanísticas hegemônicas” (JAC-

constituintes na cidade é uma evolução histórica, é

QUES apud MIZOGUCHI, 2007: 48 a 49).

resultado inevitável de sua conformação. Apenas o tempo pode mostrar a complexidade que essas estruturas denotam (MAGALHÃES, 2005). Milton Santos vem nos dizer que a paisagem é o espaço na duração do tempo. Ou seja, uma paisagem mostra as mutações nela acontecidas. Assim, as alterações da cidade são as marcas que indicam sua evolução morfológica e social.

Praticar a experiência da simulação é um trabalho intrínseco ao arquiteto. É intrínseco também a divulgação que promove os projetos. Na discussão acerca do pensamento urbano hoje aprende-se muitas vezes a continuidade ou não de determinado espaço, e também a consideração ou não das práticas existentes no território de ação. Mas como responde a morfologia da cidade a essa dualidade, essa

Essa relação da cultura com a paisagem nos leva a encontrar relações de pertencimento com ao lugar.

complexidade que muita mais a indetermina do que determina?

Pensar nessas relações não é que elas existam “em si” e nem que estejam separadas uma das outras,

2.2

A cidade Construída.

mas sim, partes de um conjunto. Essa trama urbana é um emaranhado de linhas que estão em superpo-

“O urbano é uma montagem visual. A forma

sição nessas imagens-acontecimentos ou imagens-

urbana obriga tratar ao mesmo tempo da per-

-objetos, como se fossem “layers”, onde um pode

cepção e da exposição. Há uma simultaneida-

interferir no outro.

de perceptiva. A percepção e a exposição são 59


coproduzidas” (CHÊNE, 2006:151).

obra”. Automaticamente referiremos ao texto de Duarte que estudou a fundo o pensador Henri Lefévbre, que

Dessa maneira, a memória de um projeto, a espa-

separa a produção do espaço em produto e obra. A obra

cialidade que criamos a partir de seus signos, códi-

possui unicidade e originalidade, o produto é repetido,

gos monta em nós um território instável, enquanto

seguindo “repetido tanto em si como pelos atos que o

a visualidade e a concretude da cidade e de sua

produzem” (DUARTE, 2002: 47).

paisagem nos comovem como vivência. “Desse modo, conclui que não são os objetos que “(...) o espaço é um lugar praticado. Assim a

formam o espaço, mas é esse que os forma, pois

rua geometricamente definida por um urba-

é sua lógica própria que determina quais objetos

nismo é transformada em espaço pelos pe-

serão destacados e como eles se organizarão. Em

destres. Do mesmo modo, a leitura é o espaço

diálogo constante, os sistemas de objetos condi-

produzido pela prática do lugar constituído

cionam as ações, e seus sistemas, por sua vez, pos-

por um sistema de signos – um escrito” (CER-

sibilitam a transformação dos objetos existentes

TEAU, 1994: 202).

ou levam à criação de novos” (SANTOS apud DUARTE, 2002: 48).

A cidade se escreve como um texto, com pontos, vírgulas e reticências, ou seja, com rupturas, continuidades e espaços a serem apropriados, ou deixados para o futuro. Este cenário de incerteza, de atuações e ações produz o espaço.

Continuando essa discussão sobre a relação entre objetos e o postulado ou a produção de um espaço, no mesmo texto de Duarte e na mesma reflexão com Levebvre, observamos três formas de diferenciar o espaço e a sua experimentação. É uma tríade, o espaço concebido, per-

2.2.1 O espaço Produzido

cebido e vivido. Estes pontos quase estabelecem uma relação linear e consecutiva de indicar ação e consequ-

No Dicionário GAMA KURY, produção é uma “coisa produzida, naturalmente ou pelo trabalho; produto,

ência, mas não concordamos e entendemos esses conceitos em sobreposição, uma co-relação entre a ideia de um espaço único (a palavra em si) e um espaço dividido

60


(as divisões conceituais dos espaços), categorizado.

Este espaço é onde os detalhes do cotidiano insurgem na paisagem, os novos objetos, as novas

Espaço concebido é uma representação do espaço, ou

relações que as pessoas fazem com eles, de per-

seja, é um arranjo de códigos que tentem a dominar um

da, ganho, esquecimento ou memória agem na sua

espaço, ousar a previsão da vivência que se pode ter

construção espacial.

no local. Esse lugar-espaço é a ação consciente e objetiva dos cientistas e os frutos da engenharia, que “de-

A prática espacial, que configura o espaço vivido é a

terminando sua vivência e permitindo sua reprodução

constituição dos espaços singulares da cidade. Essa

discriminada em qualquer terreno” (DUARTE, 2002: 43).

prática é o próprio acontecer e o desenrolar do coti-

Terminado como o produto final, como algo que foi pro-

diano. É nesse espaço que a vida se torna complexa,

duzido sem participação, inscritos nas ordens dogmáti-

intermediada e intermediando objetos representa-

cas da produção citadina, o profissional que projeto e os

dos ou representantes, instaurando “entres”, entre

órgãos que requerem estes projetos e o avaliam.

consenso e conflito, entre esquecimento e memória, visível e invisível, entre outros.

O espaço percebido é o espaço representado (os signos e códigos que o formaram na forma concreta), já em sua

É nessas condições que “(...) se dramatize, graças às

totalidade e concretude. É uma reunião de signos com

energias potenciais dos grupos diversos que trans-

potencialidades para serem apreendidos ou não pelo

formam pelo uso o espaço homogêneo (LEFEBVRE,

habitante. O simbolismo desses espaço e os objetos são

apud DUARTE, 2002: 43). Este espaço é a possibili-

latentes e geram possíveis (re) codificações.

dades de uma inter-relação entre o espaço postulado e o espaço produzido.

“É o espaço onde acorrem os conflitos cotidianos, mas que não se podem sobrelevar às representações do espaço, sendo o espaço vivido de uma

Indo de encontro com esses estudos, essas discus-

frágil liberdade perante o espaço concebido” (DU-

sões sobre um espaço que vai se dividindo em mui-

ARTE, 2002: 43).

tos, para que seja explicado e diferenciado, lembra61


mos que eles são indissociados, a prática do espaço

abandono às pessoas ou se eram elas que transmi-

expressa no cotidiano e articula as representações

tiam o abandono ao lugar” (Barros apud MIZOGU-

do espaço, o espaço concebido e os espaços de re-

CHI, 2006: 24).

presentação, o espaço percebido. A transformação da morfologia da cidade, para MAGAGrosso modo, estes dois últimos colocaram como espaço postulado (concebido) e produzido (percebido). Um se dá como potência para a existência do outro. A “(...) produção do espaço social (...) combina a realidade com o ideal, trata-se de um espaço prático, simbólico e imaginário que simultane-

LHÃES (2006), representa-se basicamente na escala e na expansão. Na questão escala percebemos como a cidade mudou esteticamente, como a cidade se relaciona com a paisagem-plano-de-fundo. A questão expansão nos mostra sobre a relação da cidade, seu crescimento e o território, do avanço ou não deste.

amente provoca ordem e desordem” (FERREIRA, Os projetos que trouxemos à discussão tratam da atuali-

2004).

zação da cidade sob ela mesma. Notamos que se trata de Apesar de falar do que é construído, do que seria o espaço produzido, podemos estabelecer relações e problemáticas entre a forma da cidade, entre a sua produção e/ou seu postulamento. As imagens que

alterar a escala e expandir as áreas da cidade (que ainda está em discussão nas próximas páginas). A manutenção dessa forma urbana que se dá na incerteza é desempenhada pela ruptura e pela contigüidade.

emergem na imagem citadina que parecem promover mudanças representam um desejo de futuro.

A Ruptura instaura o novo diferente do velho, constitui um contraponto entre o que antecede e o que substitui, que-

2.2.2 As rupturas e as contiguidades da Forma ur-

bra os paradigmas e o elemento novo se coloca como mais imponente que a situação anterior. Melhor, se coloca como

bana.

algo que sana os problemas a partir da representação da“Não sabia se era o lugar que transmitia o 62

quilo que não existia antes. É base da ruptura o pensamen-


to dominante durante a criação do movimento moder-

possibilidade de permanecer com a complexidade

no.

anterior para valorizar seus pontos fortes ou criar algo que a diferencie afim e gerar novas possibili-

Nesse momento assistia-se a transformação da cidade

dades.

tradicional, a cidade funcional veio com linhas puras e retas, térreos livres, colocando tudo que se podia como

A contiguidade não exclui a ruptura e não é uma

forma oposta ao existente. Dessa maneira, a postura de

constituição do contínuo. Reconhecer o que prece-

Corbusier, que já estudamos, reflete os pensamentos da

de à paisagem-territorialidade em questão, para o

transformação da cidade através da ruptura.

planejador, é entender que o embaralhamento para a percepção das imagens constituintes da cidade é

Antes de tocar no assunto acerca da contiguidade, ter-

parte de uma evolução histórica, é resultado ine-

mo trabalhado por MAGALHÃES (2005) vamos enten-

vitável de sua conformação. Apenas o tempo pode

der o termo continuidade no seu discurso com a cida-

mostrar a complexidade que essas estruturas deno-

de. Pensar a continuidade é ter uma nova forma sobre a

tam (MAGALHÃES, 2005).

cidade existente sem que existam discrepâncias entre o anterior e o atual (projetado). Não há mudança da pai-

É preciso considerar que a contiguidade está refe-

sagem na cidade

renciada à transformação da cidade. Trata-se de um interesse para que ocorra a mudança, para a troca

A contiguidade não passa por essa constituição do an-

de uma situação ambiental existente por outra a ser

terior para engendrar um novo, para produzir um novo

construída. O que a produz é a inserção de um ele-

sistema de signos que (re) criam espaço, a contiguida-

mento de natureza física que modifica morfologica-

de, para MAGALHÃES(2005), está nos termos na contin-

mente a cidade, mas que se faz a partir do reconhe-

gência, daquilo que se aproxima e que tangencia. Aqui

cimento das pré-existências ambientais e culturais

a forma urbana que está para a anterior, não numa rela-

(MAGUALHÃES, 2005:72).

ção de semelhança automática, mas sim de diálogo, de 63


2.3

Notas dessas cidades e seus espaços.

Essas imagens da cidade em processo de imaginação possuem a potencialidade de produzir duplos que fa-

“(...) cada espaço pensa e deseja os outros em seus próprios termos, segundo suas próprias figuras” (LEVÝ, 1998: 198).

zem coexistir o espaço em sua construção e a construção de imagens resignificadas no processo de produção da imaginação. Esse processo enreda o mapa

Assim, existe um entre-espaço entre esses espaços. Entre a cidade imaginada e construída, quando a experiência do espaço vivido é engendrada numa

da cidade que se constrói na mente e no corpo. Para CERTEAU, 1994, o caminhar na cidade é construir um mapa no percurso, esse mapa.

produção de imagens que atuam na lida com o espaço, com a experiência pela imagem e da imagem. O espaço que é vivido, entre o que se percebe e se concebe, é exercido continuamente nos engendramentos do cotidiano e na construção da imagem da

Desse modo, pelo que desejamos trabalhar nesse texto dividido entre BLOCO A e BLOCO B, entre a diferenciação da construção de alguma forma de mapa para determinada cidade, entre entender o processo do acontecimento urbano em signos que o abstraem

cidade.

em desenho (mapa genérico do arquiteto-urbanista, “A paisagem urbana não termina nos limites,

trabalhado aqui no BLOCO A) ou em sentidos, frag-

nas molduras, nos campos. Há um jogo de tro-

mentos, que se criam na experiência (mapa dito por

cas incessantes entre materialidade e imate-

Certeau e trabalhado melhor no BLOCO B). Entender

rialidade, real e ficção. A cidade e o espaço da cidade existem também nas imagens que circulam, que vemos sem ver e que o olhar

a cidade é construir um mapa dela, sejam ele e ela de o que são.

urbano faz sair de seu enquadramento. A cidade contemporânea é feita de imagens móveis da mesma maneira que ela própria funciona como imagem“(CHÊNE, 2006:148).

Figura 29. Guindastes do Porto de Vitória. A imagem a complexidade dos elemento maquínicos do Porto, que é parte do Percurso “entre ilhas”. Foto: Henrik Carpanedo@transeuntes

64


65


_ 03 _

CIDADES ASSIMÉTRICAS Fernando Achiamé

A CIDADE - CORPO

Não retorne às cidades passadas, vãs poeiras cobririam seu corpo. Cidades são esfinges: decifradas se desfazem, previstas já acabam. Não visite cidades do futuro, pois seu dorso viraria fumaça. Utopias boas só após findas; planos existem para o fracasso. Não fale das cidades no presente, troncos e pedras se levantariam. Cidades têm grandes pés postos no ar, ilusão a riscar longos desenhos Não queira tracejar tais desígnios. Ou queira, arrume-lhes mais desejos. Abrirem-se, cidades se abatem. Que mistérios as fixam na história? Não ergam estátuas nas novas urbes, mas sua argamassa guarde o traço; umas partes de pó, outras de vazio, porções de fel, e grande esquecimento. Não consuma citadino glacê sem comer os recheios desse bolo. Como os amantes se dão, cave no urbano sem saber ao certo se há um solo

Não habite aglomerações jovens, a menos que fabrique sua memória; Nem tente entender antigos burgos, salvo se invejar seus construtores

66

Figura 30. A Bolha. Obra de Mavi Veloso.. Dis-

Não ame cidades; de nada serve. Ou ame-as, por sua conta e risco. Ame-as sim. Assim: sem fé, com furor, Numa ainda incriada dimensão

ponível no site http://maviveloso.tumblr.com/.

Por que conhecer o que junto se destrói?


67


“O corpo urbano não é um corpo territorializado. O olho compõe com a mobilidade dos locais, dos corpos, das imagens. (...). O olho inventa e reinventa pas-

Caminhando no texto e no percurso entre ilhas com

sagens, caminhos ao mesmo tempo individuais e co-

os olhos aproximado ao Google Earth ( a mesma

letivos, através do emaranhado tangível de imagens

aproximação do zoom out, zoom in e pan dos pro-

mentais e materiais”. (CHÊNE, 2006:149).

gramas CAD) e a aproximação do “andar” do fazer o percurso” encontramos pontos de inflexão entre

3.1

Paisagens do (s) corpo (s)

a imagem do projeto, aquilo que ele propõe como realidade e a realidade com as imagens que suscitam da experiência de percorrer o trajeto-território.

“Macabéa, quando se aproximou do corpo casa e tornou-se incompleta, quebrou o espelho enferrujado e fez alguma coisa ser vista sem os olhos da cidade do capital. Viu uma mulher nordestina, narrando histórias nas quais outros homens e mulheres com chei-

Imbuídos do discurso dessas duas cidades que nos apresenta como um duplo, um caminho dual, com a

ros e intensidades diferentes compartilhavam do seu corpo careado e afirmavam, sim, com muito suor e cicatrizes marcados nos olhos. A incompletude a fez

cidade imaginada e a cidade construída paralelas a

ver que essas marcas tornavam esses homens e mu-

essas linhas, essas cordas de tensão serão atraves-

lheres um texto coletivo e múltiplo, vozes não rotinei-

sadas por outra discussão que não as rompe, ape-

ras e não entranhadas no cotidiano do rádio-relógio,

nas a distendem mais. Daqui em diante trataremos melhor da visualidade, da paisagem do corpo, a

mas cicatrizes desenhadas como uma obra aberta. Vigorosa, afirmando incomodamente sim. (BAPTISTA, 1999: 106).

forma do transeunte que este trabalho é embebido. Mesmo cedo, mas já informamos que o corpo da ci-

Estas palavras quase dramáticas de uma cena urbana do

dade é uma duplicidade da cidade de um corpo, o

Rio de Janeiro foram escritas por Antônio Baptista. Refere-

corpo da paisagem exige uma paisagem do corpo

-se à personagem famosa Clarice Lispector por sua con-

para que ela possa ser lida.

dição mínima e humana. As histórias que eram tecidas em seu perambular (mesmo andando com objetivo fixo, casa

68


e trabalho), eram parte da cidade, da cidade possível ao

“Quando outro corpo intervém, respondemos como

seu corpo, àqueles que a cumprimentavam nos entronca-

quem somos e que território estamos aptos a ocu-

mentos de ombros nas esquinas e nas surpresas quase “de

par” (AHMED, 2010: 335). Existe uma identidade de

supetão” nas curvas de quadra, no andar distraído pela

corpo que estabelece um si-estático que faça des-

calçada. Esse objeto-carne enredava-se num movimento

cobrir o que é? Ou o corpo é um estar à deriva de

imperceptível, devido à quantidade mil dos mesmos como

possíveis engendramentos, enredamentos?

ela, vis corpos-carne a se (de) baterem nas faixas de pedestres, nas portas de metrôs. Corpos estupefatos com ou-

ORTEGA, 2000, apoiado nos livros de Richard Sen-

tros corpos atirados no chão, estupefatos com uma minúcia

net, comenta que a vida pública e a teatralidade

numa vitrine ou no céu, uma nuvem mais bonita.

possuem alguns pontos em comum, pois os seres humanos agem como se tivessem máscaras, agem

Com a cidade agindo no corpo, promovendo esses encon-

como se fossem atores e a cidade uma cena, ou seja,

tros desencontrados, promovendo cenas para a vida, o que

cada um ocupa um lugar mas pode ocupar outros

fica no corpo, em que o corpo modifica a cidade? É possí-

também. Isso nos mostra que o corpo, um ser, não

vel um corpo, na sua instância menor, modificar algo? Para

possui uma essência enquadrada numa subjetivida-

Halbwalchs a memória está no corpo, portanto, memória

de anti-histórica, que configura uma maneira de se

não se relaciona a melancolia do passado, às referência

comportar contínua, essencial. O corpo se traduz a

longínquas de um tempo que passou, mas sim, de um tem-

todo o momento, nos caminhos em que se perde e

po que passa, e continua passando, quando passa já pro-

em que se encontra, transmutando-se. (...) “não exis-

duziu passado e o futuro se torna presente, nos instantes

te um eu profundo atrás das aparências” (ARENDT

que estão a porvir. Então, a cidade se modifica pelo pró-

apud ORTEGA, 2001).

prio atualizar dos passos dados por um homem, e o molho de tomate que cai do seu cachorro quente que consome

O Corpo atua no presente e se produz pela presen-

com fome, antes de voltar pra casa depois do trabalho.

ça do outro. Está numa relação em rede que se localiza no mundo. Este corpo produz subjetividades 69


e existe em um território, mas possui a fluidez do

na relação construtiva do espaço, e nas relações que o

atravessamento, ocupando outros também.

produz, estabelecem relações produtivas e/ou criativas entre as formas da infraestrutura urbana e no existir dos

“(...) indivíduo engendrado em um meio – e, simultaneamente, como produtor de tal meio. Consideração óbvia é a de que se trata de um real social, o qual, logicamente, implica

transeuntes, onde as formas representam as mudanças da cidade, participando da produção de subjetividades, e vice-versa.

as ciências humanas em um estudo das contingências espaço-temporais” (MIZOGUCHI,

“(...) vivemos sempre na defasagem em relação

2006: 23).

à atualidade de nossas experiências. Somos íntimos desse incessante sucateamento de modos

Os corpos estão postos nas cidades, são agentes de

de existência promovido pelo mercado que faz e desfaz mundos: treinamos, dia após dia, nosso

um cotidiano saturado de informações, de objetos,

jogo de cintura para manter um mínimo de equilí-

de outros corpos e, grosso modo, seguem incrusta-

brio nisso tudo e adquirir agilidade na montagem

dos num sistema econômico e político. Os lugares

de territórios” (GUATARRI, ROLNIK, 2005: 15).

atualizam a memória deste corpo, no seu andar, no seu estar no meio da mesma forma, com os grupos

Como já foi dito, Vitória é uma cidade feita de supres-

de corpos. “O lugar recebeu a marca do grupo, e

são das áreas molhadas para o assentamento urbano

vice versa (...)” (HALBWACHS, 1990: 133). O tem-

promovido por uma ideia de futuro. Ou seja, uma defa-

po e o espaço são determinantes para este corpo

sagem do que existia antes com o que é proposto a exis-

acontecer e se enrederar no acontecer-agora-ci-

tir. O centro histórico catalisa as mudanças alternando

dade. “(...)a memória é tocada pelas circunstân-

um lugar por outro, demolindo e construindo em cima

cias, como o piano que “produz” sons ao toque das

das ruínas. Como é criar relações subjetivas com esse

mãos” (CERTEAU, 1994: 163).

ambiente? Uma força externa parece alternar-alterar o território. Montar territórios que acabaram de mudar é

Estar na cidade, o meio que coloca cada indivíduo, 70

possível no sentido que eles podem ainda mudar? Qual


Figura 32 - Homem contempla o corpo a partir do parapeito acompanhado de uma bicicleta - Foto Henrik Carpanedo @coletivo transeuntes. O corpo no centro de Vitória, assim como no percurso em que vimos estudando está em meio a uma série de relações que podem fazer dele um objeto único e/ou um objeto múltiplo. Na verdade a idéia de corpo que queremos tratar e segue no texto “paisagens do corpo” é de um deslocamento que o carrega e o faz existir. Um homem parado a assistir a paisagem portuária guarda consigo a bicicleta que aqui o acompanha, mas também o move na cidade, transformando-a na instância micro e momentânea de sua ação e seu “volume-corpo”. Um é extensão do outro

Figura 31 - Guindastes e carreteis do porto - Foto Henrik Carpanedo @ coletivo transeuntes. Outras forma participam mutuamente inorgânicas como os carreteis do porto, os guindastes, os navios , dentre outras várias formas possíveis e visíveis. Na área portuária não há apropriação mas o limite que o gradil faz com a cidade ressalta o corpo que ali não há ( existem muitos corpos humanos trabalhando no local mas ele não é apropriado para o uso lúdico ou de lazer). Ali é o lugar da indústria e mostra o movimento dessa, o vir a ser de seus espaços, o movimento múltiplo de seus objetos, dentre outros. 71


o tempo de maturação de um corpo, para que en-

tocamos no interstício que insere o capital como força apli-

raíze seu corpo para fortalecer essa memória, essa

cativa, operativa da mudança visual de um lugar, pois ele

atualização do lugar e do corpo entre si?

altera o espaço-território. Será o território de Vitória um lugar-território sucateado?

Apesar de não respondermos essas questões, apesar de nos vir mais perguntas, podemos imaginar

MACHADO (Leila), 1999, nos faz pensar na dificuldade de

ou tencionar a dificuldade desses agenciamentos

Montar os territórios e ser montado por eles. O processo de

se consolidarem, sendo necessária agilidade para

constituição e desconstituição de territórios se torna uma

montar e organizar esses territórios, para que se

repetição desincorporante, mas portadora de subjetivida-

atualizem nossas experiências. Faz com que pare-

des e ocupando-habitando, mas com territórios provisórios,

ça um jogo de ganhador e/ou perdedor. Ou mesmo

que começam a se engendrar sobre os demais, resignifi-

um embate dialético de conceitos.

cando-se e resignificando outros. “Os caminhos inusitados percorridos pela interação máquina-homem situam-se num

Mas a realidade desses agenciamentos, dessas re-

amplo campo de indeterminações, de temporalidades indi-

lações serem tratadas numa relação de algo que

retas e não lineares, onde tudo pode acontecer” (FERREIRA,

produz, e algo que é produzido, sendo um conten-

2005: 04). Inclusive o inevitável.

do o outro, mas essas relações que foram tratadas antes no texto-discurso com os conceitos de pos-

No percurso proposto a estudar, encontramos elementos

tulado e produzido, e depois, com o jogo de visu-

efêmeros e físicos na paisagem, tais como os navios e o Pe-

alidade, especular e espetacular, que se coloca na

nedo, respectivamente. Será que se pudessem, já teriam

cidade.

retirado, retificado este afloramento geológico em prol da passagem de mais Navios? O que espera o passante desse

A cidade que o capital produz é a mesma cidade

percurso?

que o corpo faz produzir? Mesmo com as pernas curtas para correr e buscar essas respostas, ainda 72

Podemos encontrar uma característica desse trajeto. O cor-


po urbano, repleto de intenções, de possibilidade de

lidade estrutural” porque a sociedade não é um sis-

transformações (Discussão que continuará com os con-

tema fechado mas, na realidade, é “decididamente

ceitos de ruptura e contiguidade mais em frente). No

aberta” (Wammack).

decorrer do tempo, do passado ao futuro, o processo busca problematizar essa força conformante do espaço,

Ao olhar para os transeuntes entre as ilhas, olhar

uma subjetividade frágil, estigmatizada pelo consumo

seu trânsito (Des) incorporado, entre essas pontes

da cidade. Que marcas os corpos ganham, que rastros

que ligam a ilha ao continente, entre as pontes que

são marcado por eles?

existem ou não, o que vemos? O que realmente nos toca? É essa pergunta que segue o trabalho como

Salvaguardamos que esta discussão continuará, temos

um mote, como uma meta. O centro de Vitória não

um corpo que é produzido pela cidade, pelas intenções

é mais o único território atrativo da cidade, mesmo

que transformam. Do mesmo lado, temos o corpo que

que antigamente era o único que a cidade possuía.

produz a cidade e a converte habitável. “Em suma, o centro não funciona mais como “(...)uma produção de subjetividade. Não somen-

atratividade, salvo em momentos episódicos,

te uma produção de subjetividade individuada –

acontecimentos que pontuam o mundo urba-

subjetividade dos indivíduos - mas uma produção

no mais do que propriamente pertencem à

de subjetividade social que se pode encontrar em

uma lógica de cidade” (BAUDRY. 2006: 32).

todos os níveis da produção e do consumo.” (GUATARRI, ROLNIK, 2005: 22).

Temos como base a ação produtiva de um corpo e uma ação produtiva de uma cidade pelo o que está

Pensar nessas subjetividades, que caminham do indivi-

construído e pelo que se pode construir. “E existem

dual ao coletivo, do uso ao consumo, é pensar num siste-

ainda na cidade certos deslocamentos - de forças,

ma aberto. Possível de ser olhado de diferentes manei-

coisas e corpos - que configuram devires corporais:

ras que retalhem sua realidade. “(...) o espaço urbano

Devires de corpos em coisa, como corpo mercado-

não pode ser reduzido à pura expressão de uma “tota-

ria, corpo fluxo, corpo lixo, e os devires de coisas 73


em corpo: corpo bicicleta, corpo mar, corpo pedra,

Figura 33. Bicicleta apoiada poparapeito próximo à Ilha da

corpo cidade” (BRITTO, 2010: 110).

Fumaça. O corpo-bicicleta indica a presença do corpo-humano pela sua ausência.Foto: Henrik Carpanedo@transeuntes.

O corpo parece ser a instância menor da cidade, aquilo que vai ligando um quarteirão no outro, atra-

quadro, da cena;” (LOPES apud FERREIRA, 2005: 05).

vés de seu olhar, o seu (re) criar paisagens prontas, dadas eu construídas. Paisagens a serem construídas, nesse caso, é a paisagem pensada pelo projeto.

Encontramos a consciência de um corpo que ultrapassa os limites da pele, e de um corpo que a invade, seus tímpanos, seus poros, e um corpo que se (inter) relaciona,

O que implica este olhar? É apenas um mirante ao rés do chão em movimento, ou um contínuo dow/upload de imagens, absorvidas e associadas

que se engendra numa realidade concreta, se sinestesia, de sinergia, que salta da pele, ou se que inicia um salto com impluso suficiente para que o externalize.

a outras próprias de quem olha? Paisagem não é uma imagem estática, muda na duração do tempo,

“Essa complexidade de fronteiras diluídas engen-

transformando-se pelo próprio passar dos segun-

drada pela contemporaneidade de fluxos que rom-

dos, pelo próprio movimento dos corpos (orgâni-

pem com a noção convencional de lugar - desloca-

cos e inorgânicos) presentes no fluxo da cidade.

da pela crescente mobilidade de pessoas, objetos e informações (CASTELLS, 1996). Que cidades são

Dessa forma podemos pensar tudo como corpo.

essas que nos invadem, que determinam nossas for-

Postes,cães, nuvens de mosquito. Estabelecem

mas de estar-no-mundo?” (BRASIL, 2010: 127).

links, associações, que os unem num ponto, mesmo

74

ligações com baixa ou alta intensidade, constituin-

Vitória que continuará a ser escrita nesse trabalho, o

do um espaço aberto, possível. “(...) espaço de con-

percurso entre ilhas que obstinadamente nos atrai, estão

ciliação, possibilidade de encontro, habitado por

inscritos num discurso-cidade. O corpo-paisagem neste

um corpo que se dissolve na paisagem, nem mero

lugar se move e se comove e se instaura como insigni-

observador, nem agente, apenas fazendo parte do

ficante e ao mesmo tempo, como significante da atuali-


75


zação de encontros, de mobilidades e contempla a

sua história” (BAPTISTA, 1999:102).

beleza que é apoiar-se no parapeito e observar. Nessa disputa quase homérica por significado, por uma “A prática de pensar é potencializada por experiências corporais, afetivas e perceptuais, o espaço-tempo torna-se um processo contí-

identidade coletiva que clama por imagens sacralizadas pela mídia, por ideogramas e ícones culturais que

nuo de criatividade heterogênea e generati-

sincretizam uma sociedade, por sua singularidade ins-

va (MAC COMACK, 2008).

crita nestes elementos representacionais, Vitória de desenvolve, mas anestesiada. O tempo anda cada vez

Experimentar e intervir nas relações sensíveis en-

mais rápido, a cidade muda a cada dia, cada dia uma

tre corpo e cidade, torna-se uma ferramenta de am-

nova obra, o que é, no próximo dia ganha mais informa-

pliação tanto do campo das artes quanto das ciên-

ções que o transforma.

cias que se ocupam do urbano” (BRASIL, 2010: 127). Marcas não faltam nessa paisagem-percurso, nessa liSinergia essa que o corpo contém o faz ser o prin-

nha fina que traçamos com os olhos e com o lápis, mas

cipal ator do espaço vivenciado e suporte de toda

até que ponto nós a vemos visíveis? Deixaremos esse

astúcia necessária para transformar aquilo que o

corpo afogado, morto, preso nas pedras. Esse osso que

quebra ou o causa surpresa em algo tênue, apazi-

comportou carne, que se tornou parte da água e parte

guado, que possua um continente-subjetividade.

da pedra. Deixaremos esses elementos falarem, orgâ-

Mas será que este lugar, esta cidade é para o corpo,

nicos, inorgânicos, mas que se constituem numa rela-

para o seu habitante?

ção possível de ser, ela mesma, um devir-paisagem.

“O corpo-casa rebelou-se; afirmou que as cidades calam seus ocupantes por meio do vazio e da ausência de marcas “(...) O corpo-casa fede, deixa seu rastro balançando seus perpenduricalhos e reivindica nervosamente 76


Figura 34. Barquinho ancorado pr贸ximo a Ilha da Fuma莽a. Foto: Luiz Paulo@transeuntes

77


3.2

Corpos da Paisagem “Quer-se, então, abandonar a ideia de indivíduo – ou, mais exato, quer-se reinventá-la – em nome da ideia de singularidade. Não que se considere que o indivíduo não exista; considera-se, aliás, que ele “sempre existe, mas apenas enquanto um terminal” (Guattari e Rolnik, 1986, p. 32). Em outras palavras: ele sempre existe, mas como indivíduo engendrado em um meio – e, simultaneamente, como produtor de tal meio. Consideração óbvia é a de que se trata de um real social, o qual, logicamente, implica as ciências humanas em um estudo das contingências espaço-temporais”( MIZOGUCHI, 2006:23) .

O corpo ( as idéias acerca de corpo) que discutimos é liberto de sua exigência orgânica, liberto de sua conformação prevista e determinada pelos projetos. Ainda mais, liberto de suas formas e suas visibilidades, pratica o espaço, o conforma e é conformado por ele. O homem [e a mulher], aqui, enquanto corpo possui o mesmo peso (de valor) que os outros corpos que se podem encontrar, como bicicletas, postes, elementos do porto, barcos. Esses Limites (anti) precisos entre os conceitos que nos propomos discutir, inicialmente estavam claros - o que era um espaço postulado, o que era um espaço produzi78


do - mas vimos a possibilidade de um estar no outro. Tendo a noção de uma cidade produzida, não como objeto pronto, mas um que se transforma e se potencializa por essa mutabilidade, observamos que os discursos de ruptura e contigüidade também não são constituídos numa relação díspare. Não há limites precisos entre eles, também não há um limite preciso no percurso, do que é cidade e do que é natureza, nem do que é passado, presente ou futuro. “Os limites são transparentes, os mundos não. Os mundos se tocam nas transparências” (EVANGELISTA, 19XX: 46). O bloco foi iniciado com uma breve apresentação da compreensão formal da paisagem do território e dos territórios enquanto lugares passíveis de mudança. Depois discutimos sobre conceitos, tais como: Postulado e produzido; ruptura e contigüidade, usados para compreender a cidade contemporânea, que se apresenta como um um palimpsesto de situações que desestabilizam o entendimento de sua forma, das continuidades ou não de seus percursos ou de sua evolução. Sobre a Figura 35 - geomorfologia da cidade de Vitória. São as ilhas do arquipélado que hoje é Vitória. Fonte: Gentilmente cedida pelo geógrafo cristiano Hemerly.

forma da cidade, o que vêm em contornos definidos desses conceitos? O que foi uma ruptura ou o que foi uma contigüidade? Quais esses limites no percurso de estudo deste trabalho? 79


3.2.1 As formas de Vitória e sua área central Aqui, o trabalho retorna ao território pelos recortes 01 e 02 , respectivamente, a cidade de Vitória e sua área central. De uma maneira esquemática iniciaremos a discutir o lugar de estudo acompanhados do que apreendemos na revisão bibliográfica e que pode ajudar a enredar essa aproximação ao território. Os pontos que imprimimos no nosso olhar sobre a cidade de Vitória, os 05 pontos, são formas que infra-estruturam a paisagem de Vitória. A partir do conhecimento que produzimos no percorrer o território entre os seus aspectos constituintes, percebemos: Os aterros são a maneira mais usada de expandir a cidade, criando uma relação de ruptura com o

muitas vezes há relações de ruptura quando as novas

ambiente natural, mas à medida que foram se re-

formas não possuíam relação de escala com as ante-

petindo, um era uma contigüidade do outro. A ci-

riores. Os Mangues, as águas e as referências geográ-

dade que crescia nessa expansão sobre as áreas

ficas eram alteradas junto com esse processo evoluti-

molhadas, acontecia junto ao crescente aumento

vo. Ao passo que se construíam os aterros e a cidade,

do número de edifícios (gabarito), lotes (expansão

destruíam as referências naturais que são inerentes

urbana). O tecido urbano se alterava a resultante

ao território. A estrutura e os aterros indicavam uma

edilícia, aquilo que constitui a forma da cidade, al-

expansão urbana, e a estrutura urbana armada de

terava a paisagem.

Edifícios modificava a escala da cidade, num campo cartográfico e também num plano volumétrico. A me-

80

Cada nova forma estabelecia contigüidades, sendo

dida que há a manutenção da destruição rompe com

o processo de construção um organismo vivo, mas

o desenho natural que os conformava.


Figura 36 à esquerda e Figura 24 à direita. A primeira trata-se do limite de Vitória faz com a água - limites físicos d acidade e a segunda o mesmo que o anterior com as edificações. Ambas gentilmente cedidas pelo geógrafo Cristiano Hemerly. Podemos observar nessas imagens, desde a figura 37, o processo de modificação do território pela implantação da cidade. A primeira vemos apenas os morros, desenho muito parecido com que imaginamos. A figura 23 exemplifica o limite da cidade depois do processo de aterramento e a última, o assentamento urbano sobre a nova cidade.

Figura 38. Imagem de Satélite do Recorte 03. Fonte: Google Earth Pro..

81


3.2.2 A formas do percurso “entre ilhas ” RECORTE 03

Figura 39. Montagem do Território “entre ilhas” numa fotogranometria de aproximadamente1960. Fonte: NAU-UFES.. Acervo original I.J.S.N.

“É o real que se faz possível e não o possível

Montamos uma imagem de satélite no google earth

que se faz real.” (Henri Bergson, s/d)

(imagem 38) para visualizarmos a inserção urbana desse território. Os territórios 01 e 02 (figura 16)

Grosso Modo, a recorrer a mapas que poderia ilus-

são as pontas que tencionam esse trajeto como se

trar lugares exatos dessas saliências, desses criar

fosse uma corda esticada por elas. Guiaremos essa

imagens e deixar ser criado por elas, saltam rela-

linha dividida entre o vermelho e o amarelo (figura

ções de ruptura ou de contigüidade. Ir ao local e

40) em sentido de sua compreensão, indo no lugar

observar com nossos olhos, pontuar os corpos da

mas com referência aos mapas que produzimos.

paisagem que a pesquisa de campo podem nos

82

mostrar são exemplos que podem caracterizar es-

Para entendermos a evolução da cidade, trouxemos

sas conformações.

aqui uma montagem de um mapa fotogramétrico


A

D

B C

B C

A

D

Figura 41 - Percurso percorrido - Sem escala A cor vermelho trata-se do território 01 e a cor amarela, o território 02. A linha azul representa, grosso modo, a limite da água antes dos aterros. Figura 40. Esquema nos territórios 01 e 02.

D C Figura 42 Esquema das seções esquemáticas do território em aquarela

B

A 83


da base de 1960, disponível no NAU-UFES (núcleo de estudos em arquitetura e urbanismo da UFES). Tendo uma breve comparação entre a situação anterior do território daquela data e a situação atual (mapa do google earth - figura 38) percebemos o processo de aterros em ação, o melhor exemplo disso é a ilha do príncipe (Vila Rubim) que ainda está em processo de aterramento - figura 39 -. Com um olhar mais atento percebemos muitos terrenos ainda desocupados nesse percurso. O que é diferente no mapa do google earth que montamos. Tendo a informação desse território em processo, temos em mãos o desenho norteador do nosso trajeto, o mapa da figura 19. Feito em impressão de desenho CAD e intervido em aquarela, mostra a baía em planta junto com o percurso em cores - figura 41. Por exemplo, aqui já percebemos que no território vermelho (02) a parte aonde existe a Ilha do Príncipe não podemos ver o mar devido o obstáculo geográfico que ela desenha, nem na parte do porto, onde a linha limite da cidade distancia-se da linha vermelha. Onde a linha vermelha e a linha de limite da cidade se confundem (restante do território 02 e território 01) notamos que a paisagem ganha mais abertura física e visual, com a possibilidade de avistar a outra margem que é Vila Velha.

Figura 43 - Mapa de localizações. Trabalho em impressão de CAD e

A linha amarela que representa o território 01, participa de uma configuração territorial mais natural, onde em planta percebemos a presença das ilhas e do desenho orgânico do mangue, na margem de Vila Velha. Essas constatações são abstrações do desenho possibilitada pelo mapa, não que elas não existam, mas estão contidas num olhar distante, que busca tornar esse território acessível para quem não o conhece. 84

aquarela.


Ponte Seca Palácio Anchieta

Flexibrás Área Portuária

Terminal aquaviário desativado

Antigo Clube do Saldanha

Praças

Sam’s Club

Sam’s Club e PMV

Terminal catraieiros

PMV 85


Após essa aproximação distante, ou seja, depois das informa-

ritório - figura 46 - O projeto Portal Sul (em

ções sem termos ido ao terreno, ao material e local de estudo,

vermelho - seta vermelha na figura 45) pre-

como desde o início desejávamos, fomos entendê-lo de per-

-enuncia a ocupação do vazio da Vila Rubim

to através da fotografia (este processo está melhor discutido

e alterar o entorno e o outro, Vitória Bay (em

no BLOCO B deste trabalho).

amarelo - seta amarela na figura 45), com linhas que modificariam o limite com a baía e

Assim, temos os lados A e B. O LADO A é a fotografia tirada

o entorno.

da cidade para a baía (ou para o lado que a obstrui, como os galpões ou a ilha do príncipe). O LABO B é a fotografia regis-

A figura 45 repete a divisão dos territórios 01

trada do limiar anterior (limite da cidade com a água) para a

e 02, com a redivisão do 02 em três - linhas

cidade, mostrando seus cheios e vazios.

vermelhas. O desenho-mapa esquemático já

Antes de entrarmos nos territórios 01 e 02, voltaremos com o diagrama que mostra a linha de ação dos projetos no ter-

sugere onde o trajeto é mais fechado e onde é mais aberto. Na outra margem, em Vila velha, podemos ver a linha de cor laranja e verde. A primeira indica a paisagem representada pela ação humana e a segunda mantém as referências naturais avistadas do centro de Vitória e também do nosso trajeto - RECORTE

LADO B LADO A

03.

Figura 45 Mapa de percurso. Espaço comprimido Espaço Aberto Visão da área ocupada de Vila velha que é vista. Área natural de V.V. vista pelo percurso.

Figura 44 - Desenho em aquarela da fotografia. 86

Ação de transformação da paisagem. (ter. 01)

Ação de transformação da cidade. (ter. 02)


Figura 46 - Diagrama de ações. Croqui em pastel oleoso. Vermelho: Projeto Portal Sul Amarelo: Projeto Vitória Bay. Ação dos projetos no território.

Ilha

Área

Da catraia

Da curva

do

Portuária

à

à

Curva do Saldanha

Ilha da Fumaça

Príncipe

87


88


3.2.2.1

_ 01 _

O território 01 compreende o trajeto da curva do Saldanha até o ponto em que não há mais parapeito - elemento de faz o limite da cidade com a baía - aonde Figura 47 - Início do percurso “território 01” Nessa imagem curva do Saldanha,, parte mais acentuada e ao longe, a ilha da fumaça, verde como um grande arbusto.

existe a Ilha da fumaça. É o território 01 e amarelo dos mapas anteriores. Seguiremos o percurso, da curva à ilha, observando como muda a paisagem do centro até a direção leste - lembrando das pré-enunciações da época pelo projeto o Novo Arrabalde, que visava expandir a cidade em direção às praias (Praia do Canto, etc.). Caminharemos com as fotografias, a partir da Curva do Saldanha, seguindo o limiar terra X água. Contaminados pelas discussões sobre os projetos, lembramos do projeto Vitória bay que faz marcante a tendência desse lugar ser imaginado e produzido como paisagem, repleta de elementos verdes. Desde o inicio do percurso isso a paisagem abre-se acabando os edifícios verticais numa área aberta e verde (figura 36).

Figura 48 - Seção A em aquarela. Sem escala, desenho ilustrativo da geografia do local. A maior porção de terra separada por água é a ilha da Fumaça. 89


O Penedo (figura 51 a) é uma marca forte dessa paisagem, um corpo maciço mas não tão estático, devido a alteração de sua presença pelos navios, que podem escondê-lo por alguns instantes. A presença dos navios na baía avisam a existência da estrutura portuária que haveremos de encontrar do decorrer do território 02.

Figura 49 - Início do Percurso. Foto: Luiz Paulo @coletivo transeuntes.

90

Figura 50 - Uso do parapeito, paisagem em contemplação. Foto: Henrik Carpanedo @coletivo transeuntes.


O território 01, se desenvolve numa paisagem aberta ( figura 51 e 52 c), de um lado a baía com a

os mangues de Vila Velha e de outro a cidade, com espaços vazios e cheios que representam a

a

presença de edifícios (figura 52 b). Notamos na montagem de imagens de satélite do google earth que as edificações não fazem sombra como no centro da cidade, ou seja, os edifícios não são tão verticalizados quanto no centro da cidade (que b

ainda está por vir no texto), além disso, na mesma comparação com o centro de Vitória, a ocupação b das glebas que não é tão forte, o que deixa vazios. Num ponto desse percurso, o parapeito (recém reformado) que iniciou o percurso desde a Curva do Saldanha ( o parapeito começa no ponto que acaba a estrutura portuária) faz um espaço aberto

c

para a baía com o parapeito antigo. (Ver figura 51 b). Este antigo é de desenho mais simples e pin-

c

tado de amarelo. A presença edificada do que se vê da cidade é permutada de áreas livres, estruturas urbanas de ocupações irregulares e terrenos vazios visualid

Figura 51 - quatro imagens do LADO A. Território 01. Fotos: @coletivo transeuntes

Figura 52 - quatro imagens do LADO B. Território 01. Fotos: @coletivo transeuntes

d

91


zando-se apenas muros (figura 52 b). Muitos edifícios (figura 52 c e 52 d) são de uso institucional, o que nos parece ser atraído pelo uso do solo pela prefeitura municipal logo depois dos territórios que desenhamos (localiza-se poucos metros de onde acaba o limite do território). O percurso termina com o parapeito (figura 51 d) terminado num muro, onde é instalado o Clube Álvares Cabral. De um modo geral observamos que o desenho da orla não é rígido, há espaços para apropriação do espaço que promovem uso de (semi)permanência. A linha de orla que percorremos é pontuada por coqueiros criando uma ambiência consensual de orla, o que remente à praias, etc. A paisagem ressalta elementos que fazem dela ser tratada como paisagem natural, como: a textura da água e dos elementos verdes, das ilhotas e do Penedo. Vimos que o projeto de 2010, Vitória Bay, age totalmente depois do limite atual da cidade, amplia a cidade com um parque através de aterro, transformando-se num elemento da paisagem - e uma naturalização do ambiente em cima de aterro - De acordo com essas intenções, se fossem construídas, o percurso que fazemos seria diferente pois a baía estaria

Figura 53. Fotos: Eliz Mondolo @coletivo transeuntes Figura 54. Fotos: Henrik Carpanedo @coletivo transeuntes Figura 55. Fotos: Henrik Carpanedo @coletivo transeuntes 92

Figura 56. Fotos: Henrik Carpanedo @coletivo transeuntes


93


94


mais longe devido ao aterro. Esses limites desenham a imaginação ou a produção da cidade, e é importante para o arquiteto estar junto e dentro dessa instabilidade pois enri-

Figura 60 - Limite da cidade com a baía. Figura 61 - Imagem do parapeito antigo. Figura 62 - Imagem do Parapeito novo.

quece seu repertório. Fotos: Eliz Mondolo @ coletivo transeuntes.

Estamos a um deslizar de ideias dentre a cidade construída que está aos nossos olhos disposta e a cidade que se transforma na mente (memória - corpo) por exemplo, o local ( figura 51 b) que coexistem com os dois parapeitos, o novo e o antigo, mas que parece estar à beira de alguma forma .de transformação. Não podemos deixar de notar um dos antigos terminais do sistema de transporte aquaviário de Vitória, que está desativado no momento. Figura 57 - Limite da cidade com a baía. Figura 58 - Imagem do parapeito antigo. Ambas imagens, ao fundo, está um antigo aquaviário desativado. Figura 59 - Imagem do Parapeito novo. Fotos: Eliz Mondolo @ coletivo transeuntes. 95


3.2.2.2

_ 02

O território “02” do percurso entre ilhas (RECORTE 03) nos apresenta a estrutura portuária do centro de Vitória que acompanhou a evolução urbana da cidade. Um assistiu o crescimento do outro. O porto assistiu a cidade crescer e foi parte desse crescimento da cidade que o abrigou, mesmo que hoje essa relação seja um pouco sufocada pela falta de espaço (por questões de incompatibilidade da baía com os novos navios e de conturbação do fluxo e logística para o desenvolvimento portuário). Esta parte ( 02) do percurso é bastante complexa para ser entendida de uma vez, por isso, para organizar nosso encontro com a cidade que aparece no seu percorrer, dividimos este setor em três partes. A primeira é “Da curva do Saldanha até ao ponto da catraia” (onde inicia o porto termina e configura o local de trabalho dos catraieiros) O outro setor é a área industrial, que se define da catraia até o início da Ilha do Príncipe (onde localiza-se a flexibrás e a Vila Rubim) e por último a ilha do príncipe até a Ponte Florentino Avidos. Figura 67 - .Zona Portuária. Foto: Henrik Carpanedo @ coletivo transeuntes. Figura 68 - .Zona Portuária. Foto: Henrik Carpanedo @ coletivo transeuntes (na próxima 96 página).


97


Figura 69 - Seção B do território 02 da curva à catraia em aquarela. Desenho meramente ilustrativo. S/escala.

Da Curva à Catraia _02 _

rio o desenho em aquarela mostra a paisagem numa sessão do território (figura 69).

Aqui, como já indicamos anteriormente, o percurso mostra a paisagem observada pelo LADO A total-

A paisagem avistada pelo LABO B mostra a cidade (centro

mente disponível ao olhar; sem grandes obstáculos

da cidade) de Vitória que se encontra verticalizada e inten-

vê-se o parapeito que divide a cidade e o mar, além

samente ocupada com edifícios de variados tipos de uso,

de proteger o corpo de cair durante o seu trajeto.

o que se percebe, as sombras dos edifícios visíveis, com o

Vemos também o movimentar de navios e catraiei-

mapa do google earth e no mapa com um esquema de figura

ros na baía junto a presença do Porto de Capuaba

fundo (figuras 38 e 43, respectivamente).

que é pertencente ao limite de Vila Velha. Para tentarmos explicar a paisagem desta parte do territó98

Caminhando da curva do Saldanha para o porto éramos as-


a

saltados pela quantidade de imagens e elementos dela participante. De pronto temos o Penedo que, majestoso, abre o caminho (ver figura 70a). A par- a tir desse ponto a cidade já começa, saltando do verde que a recobre (figura 71 d). A presença dos navios é sazonal porém constante (figura 70 b) e o Porto de Capuaba, que configura a paisagem da orla de Vila velha e é cenário desse movimentar

b

de corpos, navios e nuvens. Esta, ao nosso ver, é a área mais consolidada do

b

trajeto: o parapeito parece encerrar o limite da cidade com a água; os edifícios (figura 71 a) e praças (figura 71 b e figura 71 c) são parte do cotidiano das pessoas a muito tempo (após o aterro da Explanada Capixaba). O lugar onde os catraieiros c

atuam é um dos resquícios do transporte aquaviário, atualizando a baía com o transporte de passa- c geiros, aumentando o deslocamento de corpos e o agenciamento de significados deles com o ambiente urbano (mar-cidade).

d

Figura 70 - quatro imagens do LADO A. Território 02. Da curva a catraia. Fotos: @ coletivo transeuntes

Figura 71 - quatro imagens do LADO B. Território 02. Da curva a Catraia. Fotos: @ coletivo transeuntes

d 99


100


Figura 74- territ贸rio 02 (da catraia a curva do saldanha) mostrando o parapeito e cidade e a 谩gua durante o anoitecer. Foto: Henrik Carpanedo

Figura 73- Porto de Capuaba - territ贸rio 02 (da catraia a curva do saldanha) a noite Foto: Henrik Carpanedo @ coletivo transeuntes.

Figura 75- Parapeito e Porto de Capuaba. Territ贸rio 02 (da catraia a curva do saldanha) . Foto: Henrik Carpanedo @coletivo transeuntes. 101


Figura 76- Série de Imagens panorâmicas do território em questão. Foto: coletivo transeuntes.

102


103


Da Catraia a Vila Rubim - Área Portuária _02 _

Figura 77 - Seção C do território 02 - Área Portuária- em aquarela. Desenho meramente ilustrativo. S/escala.

Ao caminhar pela extensão da estrutura portuária

Nesta área os edifício perdem um pouco da qualida-

do centro de Vitória, como dissemos antes, a área

de e começam a existir edifícios abandonados, tal-

anterior parecia mais consolidada e que está sujei-

vez o porto reflita degradação para a cidade. Além

ta a algumas polêmicas sobre alteração do porto -

disso o Palácio do Governo localiza-se nessa parte

importância que tange a essa também (que não fo-

do percurso (figura 46 c) e esta inserção mostra os

ram tangenciadas neste trabalho pois escolhemos

resquícios de uma certa importância do centro de

trabalhar com os dois projetos já citados). Figura 78 - Panorânica a partir da praça Pio XII. Foto: Henrik Carpanedo.


Vitória como centralidade atrativa, onde os setoa

res institucionais faziam parte de seu enredo ura

bano. O lado A, aqui, é composto pelo Porto de Vitória com seus galpões que geram muros e comprimem (figura 45 c) o espaço e os gradis que geram espaços (ainda que comprimidos) com possibilidade de visão para a baía e os acontecimentos no

b

porto (imagem 45 d).

b

Após o porto temos a flexíbrás que também estabelece essa relação de compressão e abertura do espaço (figuras 45a e 45b, repectivamente). O desenho esquemático em aquarela (figura 43) onde se percebe a existência da estrutura portuária (galpões, guindastes de espaço de retroaria e c

outros elementos), mostra a relação entre os pré- c dios, o porto, a baía e a margem de V.V que contém o porto de Capuaba.

d

Figura 79 - quatro imagens do LADO A. Território 02. Da catria a V. Rubim. Fotos: @coletivo transeuntes

Figura 80 - quatro imagens do LADO B. Território 02. Da catraia a V. Rubim. Fotos: @coletivo transeuntes

d

105


Estas imagens mostram a compressão causada por duas forças no espaço. Uma vindo da cidade e outra vinda da baía. A força que vem da cidade representa a expansão desta para o mar através dos aterros (forma urbana invisível) e a força que vêm da baía é da cidade que contém-se no mar, o mar passagem de que falamos, o mar-cidade que engendra corpos sujeitos a essa hibridação espacial. As panorâmicas das figuras 46, 47 e 48 mostram o trajeto comprimido por essas forças que se representam em muros, os carros em movimento (cortados pela captura da imagem pela câmera), diferente do que pode-se ver na figura 44, mostrando o parapeito, a cidade, e o início do porto pela praça Pio XII. A imagem 49 coloca o carretel como imagem forte desse percurso e as panorâmicas seguintes, figura 50, 51 mostram a relação deles na cidade. Permanecem estáticos atrás dos muros e gradis da flexibrás. A panorâmica da figura 52 mostra a inserção dos carretéis no espaço em que são dispostos e a visualização da estrutura geográfica de Vila Velha.

106

Figura 81 - Panorâmica. Foto: Henrik carpanedo@ coletivo transeuntes

Figura 82 - Panorâmica. Foto: Henrik carpanedo@coletivo transeuntes Figura 83 - Panorâmica. Foto: Henrik carpanedo@coletivo transeuntes


Figura 84 - Carretel e Flexibrรกs. Foto: Henrik carpanedo @coletivo transeuntes

107


Figura 85 - Panor창mica. Foto: Henrik carpanedo@coletivo transeuntes

Figura 87 - Panor창mica. Foto: Henrik carpanedo@coletivo transeuntes 108


Figura 86 - Panor창mica. Foto: Henrik carpanedo@coletivo transeuntes

109


Figura 88 - Sessão do território 02. Do território 02. Ilha do Príncipe. Desenho esquemático em aquarela, sem escala. Figura 89 - Imagem dos carreteis da ilha do príncipe pela ponte Florentivo Avidos. Foto: Thairo Pandolfi@coletivo transeuntes.

110


Ilha do Príncipe _02 _ Fomos ameaçados e muitas vezes impossibilitados de fotografar, o que reduz a quantidade de imagens desse lugar. Não nos cabe adentrar em questões fora do campo da visualidade da cidade, mas não podemos ignorar que este percurso nos pareceu uma zona de tensão, o vazio que ali existe parece favorecer uma ambiência pouco agradável. Tentaremos entender este local, pelos seus aspectos visuais. O LADO A desse território não mostra a baía, mas sim o que a esconde, a própria Ilha do Príncipe.

O lado B mostra

a cidade que se colocou numa área da baía cheia d’água. De um modo geral, o resultado dessa transformação do território e a malha urbana sobre ele é marcado por uma transformação da ilha numa forma parecida com um emaranhado de edificações.

Figura 90 - Foto: Henrik Carpanedo@coletivo transeuntes. 111


O tecido urbano do bairro Ilha do Príncipe seguiu a

as linhas do desenho geográfico do aspecto insular desse território, mantendo-se em seu antigo li-

a

mite. O aterro que nivelou toda aquela superfície de água agregou a ilha ao terreno da cidade, mas o processo de sua constituição segregou-se do seu entorno; a via de alto fluxo e a flexibrás a distanciam da cidade, e o vazio da vila rubim aumenta essa distância. Os edifícios dispostos em sua b

borda marcam o desenho quase circular que era rodeado por água (figura 91 d) e criam um anel

b

(figura 91 b) que fortalecem ainda mais o aspecto segregado desse território urbano. Apenas as entradas de ruas desvelam a topografia e interioridade do bairro (figura 55 a).

c

A antiga configuração da ilha é explícita quando se olha para a figura 91 c: estamos diante de

c

um grande corte da pedra (imaginamos que esse corto foi feito para fazer a estrada que conectava a Ponte Florentino Avidos que ia da Vila Rubim à Vila Velha atravessando a Ilha e hoje a parte que conecta a V. rubim à ilha do príncipe que se chama ponte seca devido ao aterro - ver figura 92 d). d

112

Figura 91 - quatro imagens do LADO A. Território 02. Vila Rubim. Fotos: @coletivo transeuntes

Figura 92 - quatro imagens do LADO B. Território 02. Vila Rubim. Fotos: @coletivo transeuntes

d


3.2.3 Os corpos-paisagens “ENTRE ILHAS”. A paisagem “LADO B” é um vazio, onde os planos

A cidade é um objeto a beira e eira da transforma-

cinza do asfalto e os pontos verdes dos jardins as-

ção, ela própria é construída da/de/na ação a par-

saltam a visão, o que valoriza os elementos a partir

tir das alterações nos territórios que a compõe, nas

das bicicletas em constante fluxo, a atravessar pela

mais variadas temporalidades e escalas. A tessitura

Ponte Florentino Avidos (figura 92 b). A rodoviária,

desse trabalho alavancou-se com a ideia de cidade

por estar a um nível abaixo do percurso e por ha-

em movimento, da imaginação a construção e no es-

ver um grande jardim em sua volta, está quase ca-

tabelecimento da contigüidade e da ruptura na for-

muflada e dificulta a comunicação visual com a Ilha

ma urbana. A linha desenhada como território é a

do Príncipe (figura 92 a). A paisagem é marcada

cidade imaginada como percurso.

por uma cidade degradada, com seus morros cobertos de edificações de aspecto irregular (figura

Apesar da complexidade urbana e da quantidade

92 d), e a gleba mais próxima repleta de edifícios

de corpos que transitam no percurso “entre ilhas”,

subutilizados ou mesmo vazios, sendo espaço livre

gostaríamos de pontuar alguns lugares que podem

para grafiti (figura 92). A ponte Seca participa da

nos ajudar a entendê-lo.

paisagem presa no tempo e servindo a ele e a sua velocidade.

_ Flexibrás_

Enquanto o território 01 (Ilha da Fumaça) apresenta

Como vimos anteriormente, o projeto Portal sul – se

intenções oriundas dos projetos para modificar a

construído - fortalece a presença da empresa Flexi-

paisagem natural o território 02, representado pe-

brás no centro de Vitória. Desse modo, a existência

las intenções do projeto nessa localidade represen-

dos carretéis que lá são fabricados continuará pre-

ta a mudança da cidade, as transformações do limi-

sentes, com alguma importância no contexto local.

te da Ilha do Príncipe em direção à ponte seca e a

Este objeto nos interessa devido sua riqueza formal

cidade em si (Imaginamos que se o Portal Sul fosse

e é parte do emaranhado de objetos da área portuá-

implementado a paisagem LADO B seria drastica-

ria - figuras 85, 86 e 87.

mente alterada pelos volumes que ele propõe). 113


A esquerda, Figura 93 - espaรงo entre-parapeitos- quatro imagens do LADO B. Acima, figura 94 - Vista lateral do parapeito antigo. Abaixo figura 95 - Vista lateral do parapeito novo.. Fotos: Henrik Carpanedo@coletivo transeuntes


Figura 96 - pedra de enroncamento para o aterro. Fonte: Acervo de Clara Luíza Miranda.

_Terminais de transporte aquático_ No percurso em questão os pontos de transporte aquático são muito presentes. Os portos favorecem o transporte de carga e turismo e o movimento de inda e vinda (entrando e saindo da baía) dá ao mar e à baía de Vitória a ideia de porto expandido, de uma cidade dentro o mar e vice versa. Como se o mar só houvesse nas extremidades (Serra e Vila Velha). olhar, supomos que o trabalho acontece sem estrutura Mas, além disso, existe outro ponto acerca da

adequada e, portanto, sem apoio governamental.

presença de embarcações na baía: a polêmica sobre o transporte aquaviário em Vitória. Sem

Em linhas gerais, ousamos dizer que o trabalho dos ca-

adentrarmos em todas questões relativas a esse

traieiros possa estar à beira de mudar, talvez acabar. Via

assunto, percebemos dois terminais de transpor-

de regra, os antigos terminais foram paralisados, como

te de passageiros. Um terminal localizado no ter-

exemplo o antigo terminal Dom Bosco. Esse movimen-

ritório 01 (ilha da fumaça - ver figuras 57 e 58)

to de acabar com o transporte aquático em Vitória pré-

e outro no território 02 (Ilha do Príncipe – Cen-

-enuncia uma aparente força que possa finalizar o uso

tro). O primeiro está desativado e destruído, é o

dos catraieiros. Desconhecemos essas forças, mas é

antigo terminal Dom Bosco. O segundo trata-se

marcante a percepção do vir a ser dessa prática que pa-

do ponto dos catraieiros que ainda permanecem

rece estar escondida pelos parapeitos e pelos grandes

enquanto elementos da paisagem. No primeiro

navios que adentram na baía de Vitória. Como essa prá115


tica é cadenciada por uma ação micro e não estabelecida constitucionalmente percebemos, que mesmo se o transporte aquaviário retornasse ao cenário da mobilidade urbana de Vitória, a ação dos catraieiros também tenderia a se alterar, pois poderia sucumbir a homogeneização do transporte. O que nos interessa nessa discussão, muito mais que perceber a mutabilidade do transporte aquaviário, é assistir a atualização da existência do corpo nesse ambiente, em que um intervém na existência do outro, pois é água e é praticado com o movimento – de ir e vir, sendo uma microprática do espaço urbano. O mesmo corpo que transita na cidade, transita na baía e é levado pelos braços-remo de outro corpo-homem. A experiência nesse trajeto se estabelece na troca de sentidos, o agenciamento desses objetos-corpos uns sobre os outros, e os sentidos que enredam as suas subjetividades. A medida que o corpo é deslocado como água, a água se desloca como corpo, atualizando-se. _Espaço entre parapeitos Dentre os lugares desses territórios estudados, um nos chama atenção devido o seu potencial de vir a ser outro. Consideramos este item (Espaço entre parapeitos) como uma síntese do que se apreendeu no bloco A. É um espaço com suas formas, como se fosse projetado para ser daquele jeito e analisado por um (futuro) arquiteto. Não temos em mãos nenhum projeto ou documento que valide sua intenção de transformação, e a provável modificação dele 116

Acima, Figura 97 - pedra de enroncamento para o aterro. Abaixo, figura 98, estruturas portuárias. Fonte de ambas as fotos: Acervo de Clara Luíza Miranda.


não abrange a grande escala como vimos tratando nos

dem e com a possibilidade de sobreposição desses

grandes projetos e no território. Este lugar de que fa-

atores - apresenta sinais na cidade que a indicam o

lamos é o encontro dos dois parapeitos que mostra-

que vem a ser, a especificam, como fazem os arqui-

mos nas imagens do território 01, o da Ilha da Fumaça

tetos nos projetos.

(figuras 93, 94 e 95). Este lugar marca um acesso a baía, via de regra, Aqui nesse lugar, vindo do território 02 em direção ao

marca uma paisagem que foi modificada pelos ater-

01, do vermelho ao amarelo, o parapeito segue recém-

ros no local, deixando clara a presença das pedras

-reformado (sem data desta mudança) com concre-

de enrocamento (figuras 58 e 59) e o contato com

to aparente. À medida que ele entra no território 01

a água. Tratamos do aterro como elemento formal

delineia-se na curva que ali existe e para num lugar

invisível da cidade e da paisagem, mas aqui, se mos-

onde a baía é acessível (vimos meninos usando o es-

tra aparente. O que marca o atual limite da cidade-

paço para navegar e pessoas pescando). Neste lugar

-território com a água, foi alterado durante o tempo

esse parapeito cinza-concreto encerra e depois do

e exercido pelos novos aterros. Como já discutimos,

vazio, que o acesso exige, o parapeito continua com

cada nova transformação é uma contiguidade da an-

sua outra forma e cor, a que existia antes desse novo

terior, mas sempre rompe e marca no território, a

parapeito ser estabelecido (de concreto e pintado de

destruição da forma natural em prol da construção

amarelo).

de novas áreas para a cidade.

A substituição do parapeito anterior pelo atual, em

Assim, estabelecemos esse lugar “entre parapei-

parte da orla, indica que há possibilidade do outro

tos”, como um ponto de inflexão da cidade enquan-

também mudar ou minimamente ser alterado. O res-

to forma e enquanto imagem-ação que a transforma.

tante do percurso até a ilha da fumaça, que perma-

Uma inflexão que tange nossas discussões conceitu-

nece com o parapeito antigo parece ser afetado pela

ais e o modo como adentramos no território e dele

força que modificou o parapeito. Essa ação, essa força

tiramos proveito. Enquanto o espaço-lugar “entre

está inscrita no espaço postulado de que muito fala-

parapeitos” aguarda o futuro e alguma ação, a cida-

mos, de uma cidade que imaginada por um, realizada

de continua a enredar as suas atualizações, o porto

por outro e vivida por um terceiro - não na mesma or117


funciona (ainda funciona) e os transeuntes atravessam em segredo o barulho e o caos das cores da cidade, atualizando-se. 3.3 Discussões – BLOCO A Aqui estão duas imagens, uma do passado e outra atual, do processo de visita no lugar. Uma mostra um carro sendo embarcado e outra, uma mulher atravessando uma de suas partes. Uma relata um uso e sua importância no cenário econômico da cidade. Imaginamos que o elemento carro representava alguma importância à sociedade da época. A outra retrata o aspecto cênico dos “transeuntes entre ilhas”, de um corpo híbrido e que compõe a paisagem e é composto por ela. As discussões deste trabalho parecem ter caído na possibilidade de mudança dos territórios a partir do aterro, principalmente, representado pelo pa-

Figura 99. Carro sendo carregado por um guingaste no Porto de Vitória. Fonte: Acervo de Luiz Paulo Comério. Figura 100. Mulher passando pela calçada do Porto de Vitória. Foto: Henrik Carpanedo Lopes@transeuntes.

118


119


rapeito que contorna a orla do centro de Vitória e

- de que abordamos como disponível a mudança, foi

finaliza apaziguando o limite último, o último limite

pintado de cinza. De qualquer modo, essa alteração,

gerado pelos aterros à cidade. Essas transforma-

mesmo que simples, nos confirma a cidade como

ções agem no imaginário popular e na relação de

um organismo disponível para mudar. A forma e a

pertencimento do habitante com o lugar, agenciam

cor participam do imaginário daqueles que por ali

a memória não como lembrança, mas como estra-

passam e esta mudança é um estranhamento. A ins-

nhamento. É uma surpresa saber que caminhamos

tabilidade é parte da experiência urbana, que ca-

onde havia água.

minha da imaginação à produção do espaço. Quem pintou o objeto-parapeito deixou suas marcas, e

Nós, participantes da construção do trabalho agora

quem o visualiza e/ou o usa, é marcado por essas

somos assaltados por essa instabilidade, essa dúvi-

ações, numa microprática da cidade.

da. De uma hora para outra o parapeito – amarelo Figura 101 e 102 (à direita e à esquerda, respectivamente). Parapeito pintado de cinza. Foto: henrik Carpanedo@transeuntes

120


Assim, o trabalho caminha em direção ao BLOCO B. O Figura 103. Panorâmica do espaço entre parapeitosParapeito pintado de cinza. Foto: henrik Carpanedo@ transeuntes

olhar do arquiteto que aqui escreve vai ser tomado pelo olhar de alguém. Quem vai ao território, é também ar-

Como síntese do trabalho, o espaço “entre parapeitos”, acompanhado do outros pontos que também participam do cenário de discussão do BLOCO A, terminal aquaviário (catraia) e a localização da empresa Flexibrás (carretéis), estão inscritos no mapa da figura 104.

quiteto e toma as impressões do lugar para discutir

Flexibrás

as questões da cidade a partir dos objetos que o compõe.

Catraia

Espaço Entre-Parapeitos

121


Figura 104.

122


123



As imagens do bloco B iniciarão a patir do número 01 para tornar mais próximo o passar de números de imagens.

BLOCO B

BLOCO B A resignação é um desejo sem pele

(MAREBAK, 2006)


Está dado o território

Aqui nesse BLOCO B, apresentaremos o território a partir do que se viveu nele, escapando um pouco da

Definir o território é um processo complicado pra

leitura do outro bloco. Algumas teorias, como a de-

uma pesquisa ou trabalho que trata de algum – por

riva de Guy Debord levantam trabalhos que tratam

que escolher esse e não aquele? - È preciso enten-

da cidade como campo a se descobrir perdendo-se

der que a escolha desse território se deu a partir

nela. Aqui nós entramos no território seguindo com

de dois projetos que nos apresentam como convite

um fio desenrolado para que não nos perdessemos, mesmo

a adentar nas realidades em que estão relaciona-

sem o fio que tecemos desde o bloco A, os fluxo de

dos (os territórios-cidades que iriam recebê-los se

carros, pessoas e bicicletas indicariam para onde ir,

fossem construidos). Desde a sua apresentação no

sendo que o lugar de estudo é no desenrolar de uma

TEXTO 01 e melhor descrição-análise no BLOCO A,

via a bai-mar, beira porto, cidade e ilhas. Não esta-

o território que estudamos é aqui novamente abor-

mos a deriva aqui nesse trabalho – no BLOCO B, o

dado, como se o trabalho iniciasse do zero, mas ain-

território já está dado.

da dependente de todo conhecimento criado ante-

126

riormente.

A definição do percurso

Foi possível perceber o quanto o lugar é rico for-

A inserção do corpo-pesquisador no local iniciamos

malmente, complexo em suas questões históricas,

o caminho pela Ponte Florentino Avidos em direção

econômicas e até mesmo estéticas. Aqui, a cidade

a Ilha da Fumaça, passando pela Ilha do príncipe,

desses lugares, os lugares da cidade que estamos

pela Flexibrás e pelo porto, pelo centro e a Curva do

a tratar são frutos de uma ação continuada. Estas

Saldanha até chegar na Ilha na Fumaça. Não havia

ações estão inseridas umas nas outras, entre as

um ponto bem definido além de sabermos se fôsse-

imagens que a produzem e que são produzidas por

mos para a ilha do Príncipe, deveríamos partir em

ela. A realidade em questão, nos aproximados 4km

direção a ilha da fumaça, mas não contávamos com

de percurso entre a Ilha do Príncipe e a Ilha da Fu-

algum ponto específico para que se iniciasse o per-

maça, é composta por cheios e vazios, por lentos e

curso, este se desenvolver de acordo com a disponi-

rápidos espaços.

bilidade dos colegas que estavam juntos


na empreitada e também de acordo com as máquinas fotográficas emprestadas ou trazidas por

Dias de Fotografia

estes companheiros. Com a máquina fotográfica, uma ou duas delas, De quaisquer maneiras que pudessem enredar nosso percurso nessa cidade-linha, o produto deveria saltar-se acompanhado dos projetos que criariam a cidade e da cidade como um próprio. Esse salto do percurso em direção ao distancia-

dejamos chegar a Ponte Florentino Avidos, passar pela Ilha do Príncipe e ir em direção à Ilha da Fumaça e buscar perder-se na vastidão que a cidade nos insere no instante em que se pára para tirar um foto.

mento dele pelos mapas (BLOCO A) e da aproximação dele pelo andar se cria na experiência de

_ Primeiro dia de maquina.

conhecê-lo, de realzarmos tentativas de vencê-lo com a câmera fotográfica, andando (BLOCO B). Como já foi avisado, o interesse era enteder o local com as fotografias e a análise de uma a uma e entender, em casa, como um laboratório, o que acontece no local, mas o rumo mudou no percurso.

Presentes, o estudante que lhe escreve mais três amigos, uma bicicleta que levava um deles e acessório-tripé. A idéia era fotografar tecnicamente o percurso, para fazer fotomontagens no fotoshop. Mas parecia muito árduo o trabalho de manter os braços estendidos por muito tempo, e caminhávamos, nós quatro e a bike, um peso morto ate então. Surge, como surge do nada, um instrumento ainda estranho para mim, um tripé flexível, daí pensei: porque não amarrar no guidon e seguir a fotografia a partir da bicicleta? 127


Assim, o olhar de uma maquina que era desejo desde então foi às ultimas conseqüências, a imagem quase totalmente dependente da maquina, senão o corpo que carregava a câmera e apertava o botão. Mas se fosse um móvel automático e a máquina programada para realizar cliques automáticos, seria ainda mais uma maquina à fotografar, a máquina pela maquina. Nesse momento a paisagem mais forte vinha do porto, onde as maquinas não se cansavam, onde o fluxo de bicicletas é bastante considerável, o corpo teria perdido sua importância se não fosse a disponibilidade de outras tecnologias em nossos equipamentos. Paramos no ponto que desejamos começar, na ponte Florentino Avidos (5 pontes, mas um de nossos amigos havia ficado em um bar do outro lado), então partimos de Vila velha, passando pela ponte inteira. Nesse caminho-percurso a cidade que não venceu a água em aterros ( a baía debaixo da ponte), mas faz a ligação de duas cidades promovendo a mobilidade entre ambas. Seguimos sua dimensão-ponte a aproximar-se da ilha do Príncipe e seguir até a Ilha da Fumaça buscando perceber a relação da cidade com sua geografia-água. Dos edifícios com o plano-cidade, com as ilhas e seus edifícios, com a água e os ele-

Figura 06. 128


129


Figura 07.

130


mentos que a compõe, como os elementos do porto, além de sua superfície-espelho. _Outros dias de fotografia. Seguimos a Ponte Florentino Avidos, com a

Os outros dias de ida ao centro, na verda-

bicicleta a fotografar. A outra câmera buscava

de, de estadia por alguns dias na casa de

detalhes, buscavam registrar outras nuances

amigos, foram esforços em vão no sentido

desse percurso. De repente a câmera na bi-

de finalizar as fotos do percurso. No entanto,

cicleta parou de funcionar, mas substituímos

sentimentos de stresse, tédio, tempo perdi-

pela outra, terminamos o percurso da ponte

do, se misturavam a observações que ge-

e iniciamos as fotos da Ilha do Príncipe, mas

raram links a imagem-memória, e não pela

precisamos parar pois a outra câmera tam-

imagem - maquina. Na ilha do príncipe fo-

bém havia parado de funcionar.

mos impossibilitado de fotografar, sem nem ao menos sabermos por quê. Entre contra-

Entre máquinas, objetos, corpos e contratem-

tempos, falta de câmera, falta de bateria ou

pos, nossa idéia inicial mudou, como muda a

carregador quando havia câmera, falta de

cidade, como muda o trajeto em cada passo

bicicleta, falta de pneu quando tinha bici-

que damos. A foto que seria estática, presa

cleta, na ilha do príncipe fomos impossibili-

nas página do texto, virou movimento, ima-

tados de fotografar o importante era dormir

gens, instantes de lugar, possibilidade de ví-

e acordar inserido no objeto de estudo.

deo. E a nossa ação, arte. Ação performática.

131


Nesses instantes tensos e instantes leves, per-

nalizar constitucionalmente o percurso-fotogra-

cebemos que o ato de fotografar tudo era fo-

fia. Este dia marca o fim do percurso mesmo ten-

tografar o nada, que usar a bicicleta como su-

do em mente outras formas de fotografar, outros

porte, ou melhor, como atuante da percepção

ângulos a descobrir. Dia inteiro nas calçadas,

das imagens, era como dar tiros no escuro.

pela manhã sem biclicleta-fotografica, mas com

Havia uma ação performática nesse transitar,

corpos dispostos, braços, olhos, parapeitos, pei-

queríamos mostrar a paisagem em movimen-

tos, enquadramentos.

to, mas atualizamos a paisagem assim como os navios que transformam as imagens da

Uma possibilidade inesperada nos aparece,

orla, o porto estendido. Nasceu a bicicleta fo-

uma visita a cobertura de um prédio, onde pu-

tográfica, o corpo fotográfico. Mas perdemos

demos observar do alto (imagens de cima pos-

o registro da artista-bicicleta em suas ações

tas no BLOCO A), e perceber uma nova cor da

anteriores, quando ainda não sabíamos disso.

água, uma nova forma dela refletir a luz, outros ângulos das pessoas e dos objetos, da cidade.

_ Ultimo Dia de fotografia.

Vendo desde a baía de Vitória até a orla de Vila Velha. Depois disso, à tarde, recuperamos nossa

132

No ultimo dia de fotografia não havia intenção

bicicleta e continuamos com ela opercurso, que

de parar de fotografar, mas era necessário fi-

seguiu em segredo.


Índice de Imagens do “Está dado o território”_ BLOCO B . _ Imagens . A primeira imagem é um desenho de André Zaché e a segunda, um desenho de Júlio Torassa (Artista argentino). As figuras 03, 04 e 05, respectivamente, a bicicleta, o tripé felixível e a camera, foram os dispositivos para a construção do BLOCO B. A figura 06. Das páginas 128 e 129, mostram o início do percurso - e descoberta - da bicicleta, caminhou-se a ponte Florentino Avidos por sua extensão. Figura 08.

A figura 07, nas páginas 131 é uma montagem de três momentos da bicicleta fotográfica no desenrolar do percurso. A figuras 08 mostra os trânsitos das bicicletas, as que passam por nós e a nossa, que fotografa. A figura 09 mostra a continuidade da ação da bicicleta nos galpões do porto. A figura 10 mostra a transitoriedade da bicicleta que fotografa. A figura 11 exemplifica a ação de fotografar com a câmera presa pelo tripé flexível na bike.

Figura 09.

133


Figura 10.

Berro no beco (F tatagiba 73)

2-

Estranhamento “O espaço em que o homem age conscientemente”, confirma Beijamin, “é substituído pela câmera por um

Beirando cair

espaço em que sua ação é inconsciente.” (VIRILIO,

Carrego a beira

2005: 60).

De mim, o buraco Medo de ficar lá

A cidade é uma realidade dupla, a medida que é realizada

Beiro ficar

de perto é observada de longe, cada passo nos torna mais

Em pé

próximos ao nosso destino mas nos distancia daquilo que

Pisar

no lugar conhecemos, de onde iniciamos o percurso. O pro-

C

cesso de representação da cidade através de imagens é re-

A

alizado a medida que a cidade muda no corpo que a repre-

I

senta - em nós arquitetos, por exemplo - Pois o inconsciente

R

humano, a partir da câmera e todo o aparato tecnológico do

Beira dentro de mim

computador, experencia o espaço de uma forma nova, como se ao olhar a imagem fosse reviver o espaço-lugar-território

134


Figura 11.

Isopor _ John Estouro de bolha de sabão Rufem os tambores de brinquedo O palco é de papelão Alguém fez um samba enredo Vou levar pastel de vento Sanduiche de isopor Bolo de esquecimento Vou esquecer quem é meu amor Vou pensar que ainda não vi Nada igual ao que estou vendo Nem vou mais querer olhar O firmamento

de onde foram tiradas as imagens, transformando a noção/ sensação da cidade que existe/existia/existirá ali. Para onde ela caminha? Não há certeza do que é cidade para nós e talvez nem para quem nos lê, nem para quem a estuda, para quem a produz, ou a quem ela sustenta. A forma em que a cidade é constituída, seus contornos visíveis e táteis se debruçam sobre agenciamentos entre mudança e permanên-

Tudo o que vejo é inconsistente E nada aprendo, tudo se desmente Nada do mundo, desde o começo Eu não conheço, eu não entendo

cia, entre temporalidades e enredamento de significados.

Vou querer tomar veneno Vou querer dissimular Vou ter crise de comportamento Vou sorrir querendo chorar A música é feita de sons E os sons são feitos de ar E agora que a banda passou Nada vai ficar Nada vai ficar Nada vai ficar

A cidade toca e é tocada com os membros do corpo e com o

A cidade é a condição do material e concreto e mais além. que se alcança com os olhos. Além disso, o toque, o sentido tátil (pisar, pegar, segurar) que abarca nossa relação com a cidade, avança em outros, inclusive aos sentidos que se inscrevem na relação frágil entre a imagem e sua função de re135


presentação, ao mesmo tempo, que a experiência de reconhecimento da cidade muda, muda de um ponto a outro; da cidade como uma própria e da cidade nas interfaces que a representam.

Figura 12 - HDR tonning dos barcos dos catraieros.. Mostra as menores embarcações, que são usadas pelos catraieiros, o movimento do barca já denuncia seu aparecimento/desaparecimento na paisagem (tanto do ir e vir de cada lado da baía, quanto da força descrita no BLOCO A que indica o desaparecimento dele. experimentações, lugar onde se produz a face

“Aproximar para “desconstruir” estrutural-

do diverso, do estranho, do familiar, do estran-

mente ou para “dissipar ao longe”, aqui, as

geiro. Local ao mesmo tempo de fabricação de

funções do olho e da arma se confundem, já

práticas para acolhê-los, dar corpo às suas fa-

que, por definição, a resolução da imagem

ces ou dissipá-los” (Baptista apud MIZOGUCHI,

transmitida é instantaneamente sua redução,

2007: 15).

mas uma redução que afeta não somente o conteúdo da representação, a forma-imagem

- Navios

projetada, mas ainda o espaço construído e a forma do território, de onde essa promoção da organização do tempo, a organização crono-política das sociedades avançadas.” (VIRILIO, 2005: 59).

O estranhamento causado por percorrer a cidade que se abre como um leque, é estabelecido em tantas possibilidades de se perder nela quanto de se achar. Nos perdemos onde estamos seguros, onde sabemos onde estamos também nos estranha. O percurso que escolhemos, e nos foi dado no pro-

O percurso “entre ilhas”, de um modo geral, é atravessado pelo corpo-navio, assim como muitos outros, entre eles as bicicletas (que andam e que fotografam), as pessoas, e outros ainda por vir no texto. É disponilibilizado pela CODESA os horários e quais navios passam pela baía, é um movimento programado pelo sistema de logística que é inerente a ele. Por outro lado, no percurso, o navio altera a sensação e a experiência do lugar. A presença do navio na paisagem altera a certeza sobre ela, modificando-a.

cesso do trabalho, é um campo aberto de possibilidades, mesmo temos o escolhido. “as cidades dos nossos dias, como as do passado, são territórios de fecundos conflitos, 136

-Experiência “o passeio como acto, como politica, como experimentação, como vida” (Deleuze e Parnet apud MIZOGUCHI, 2007: 49).


Porque? Caetano Veloso

estou me a vir e tu como é que te tens por dentro? porquê não te vens também?

137


Figura 13. Sequência de imagnes do navio.

A visilidade da paisagem que experiementamos gera um conhecimento delicado, um conhecimento realizado pelo transitar, por estrar entre outros trânsitos. Um conheciemento por tentativas, medindo com os pés os metros das ruas, entre a matemática e a poesia. O mapa criado nesse percurso é produzido por um novo saber, um tanto diferente daquele usado pelo arquiteto-urbanista, um tanto curioso e angustiante por não mostrar claramente quando deveríamos parar de realizá-lo. “Um conhecimento transeunte (...). Errar, ser

navegado nos labirintos da cidade para que inauditos e estranhos conhecimentos possam ser atualizados. Em um caminho, passagens quaisquer: nos rastros do deambular, uma cidade-pensamento inédita a se compor” (MIZOGUCHI, 2007: 49).

Esse saber criado pela experiência do lugar, do corpo enquanto desbravador de seu meio. Um meio atualizado. Um corpo atualizado. Uma atualziação que enreda todos os elementos da experiência e um tempo que vai e retorna mas quando retorna é irreversível, e tudo que deixa modificar não volta a ser o que era, é outro. Para somar à expressão dessa experiência-transeunte, usaremos sobreposição de imagens

Figura 14. Imagem do porto, atualizado por embarcações de serviço que deixam um rastro na água. 138


139


140


num comando disponível no Photoshop – file>automate. HDR tonning - Dividiremos o território do mesmo modo como dividimos antes. Essas imagens sobrepostas geram um efeito de mistura de formas, cores ou texturas, enfim, geram uma aparência que também representa o que sentimos (na experiência sensível) no nosso percurso. “somente a experiência do errar, em todos os seus sentidos, nos faz apalpar, como que pelo avesso, a experiência de uma verdade que não seria, primeiramente, a coerência de nosso pensamento, mas sim o movimento mesmo de sua produção (...) Errar é, simultaneamente, perda das referências conhecidas e aprendizagem do desconhecido, apavorante e apaixonante” (Gagnebin apud MIZOGUCHI, 2007:48). Figura 16. HDR tonning da panorâmica da chegada em Vitória.

Grosso modo, assim como no BLOCO A, temos duas formas Figura 15. HDR tonning do percurso da Ponte Florentino Avidos. de perceber a paisagem em questão, que se enreda numa Figura 17. HDR tonning da panorâmica da chegada em Vila Velha. linha, como se fossem fitas cassetes, com dois lados, o A e o B. O registro imagético se deu de um LADO A, da cidade para a orla, ou para o que seria a direção da baía e da calçada que divide essa porção de água, ou as estruturas que a escondem para a cidade, LADO B. A imagem mostra a sobreposição de elementos que mais fortes saltam aos olhos. Na imagem da Ponte (fig. 15) as estruturas geográficas mostra-se ocupadas pela cidade e as bobinas - carretéis da estrutura portuária ressaltam essa presença no local, tanto quanto os galpões cobertos de metal, mesmo material dos carretéis e da ponte. A imagem que exemplifica a chegada da ponte por Vila Velha (figura 17) é marcada por arames farpados que representam muros, postes e a visão da área portuária. A imagem que mostra a chegada em Vitória (figura 16), deixa reinando a ponte, com alguns estruturas vegetais e o início da Ilha do Príncipe, além da Flexibrás, que também existe neste lado da ilha. 141


Andar pela Ilha do Príncipe foi um pouco desagradável devido ao estado de tensão que o lugar remete. Muitas parte do lugar é usada para uso de drogas e alguma vezes, como já foi dito, fomos ameaçados por estar usando câmeras.

Figura 18 - Esta imagem mostra muito clara o aspecto degradado da Ilha do Prímcipe, a textura da Pedra participa junto dos edifícios para definir o desenho fechado do bairro. Este é o LADO A, mas em vez de baía vemos o bairro Ilha do Príncipe. 142


Como já foi descrito nas imagens do LADO A e LADO B da Ilha do príncipe, a sensação de degradação e vazio do lugar é marcante. As imagens que criamos aqui, mostram a coloração cinza, as formas sobrepostas criam a aparência de algo inacabado e deixado de lado.

Figura 19 - O LADO B da Ilha do Príncipe, a vista da cidade - onde havia água - não parce com a cidade “cheia” que vemos da ponte e nem da cidade que veremos nas próximas imagens, abre-se como um vazio. Nenhuma das imagens deixam claros os elementos (mas foram detalhados no BLOCO A), mas os desenhos das imagens com elementos construidos não conseguem saltar a paisagem, um vazio onde o corpo salta-se com a bicicleta e outros veículos. 143


Diferente do território anterior, aqui as cores saltam aos olhos, as formas, apesar de muitas, criam uma composição rica. O LADO A e LADO B, ambos carregados de elementos, diferenciam-se nas cores. O LADO A as estruturam matém-se vermelha, devido

Figura 20 - Esta imagem LADO A da Área portuária podemos ver a sobreposição dos galpões sobre os vazios que eles criam, deixando aparecer os guindastes. Os carros e as pessoas aparecem como vultos, e o gradil tece a imagem marcando o limite porto X cidade como um engastamento urbano. 144


a grande quantidade de galpões dessa cor. O LADo B, carregados de objetos, mostra as Aqui é visível a presença dos guindastes, mas camadas de história sobreóstas (Palácio Anos carretéis não aparecem devido estar detrás chieta e Prédios verticias). Entre um e outro dos gradis e dos muros. Mas olhos atentos a é forte a sensação de um espaço cheio dos imagens podem observá-los.

dois lados, carregado de objetos e situações.

Figura 21 - O LADO B da área portuária, aqui enquadrada por um dois veículos que estavam de passagem durante o trajeto, mostra a visão cidade nesse percurso, os objetos saltam a visão num “caos” que é intrínseca a cidade, prédios, postes, gente, carros, ruas, entre outros elementos. 145


Andar por esse território é se deparar com um lugar rico em suas formas, de um lado a cidade com sua verticalidade mostrando a mata do morro por entre as ruas, do outro a baía que mostra o porto do outro lado. O lado B, que mostra a cidade, por ser um tanto homogênea (edifícios verticais oriundos do loteamento da esplanada capixaba), deixando a imgem qua-

Figura 22. O parapeito marca a paisagem LADO A desse território (Da catraia a curva). Ele divide a cidade da baía e deixa visível as estruturas do porto de capuaba. É vivível a sobreposição desses elementos, onde o corpo, salta como parte comtemplativa e poética da paisagem, como se ele brigasse em silêncio para aparecer. 146


se monocromática e com os elemen-

elementos do porto, que fazem dela exube-

tos bem definidos.

rante. A cor azul forte dessas duas imagens

O Lado A intremeia os objetos so-

mostram a presença do céu, que num lado

brepostos na imagem, a paisagem é

ararece vez em quando e do outro que apa-

livre-aberta mas

rece como cor e forma constante.

muito ligada aos

Figura 23. A cidade, aqui nesse percurso, nesse LADO B, Da Catraia à Curva, é ainda marcada pela verticalidade mas numa ambiência mais leve. As praças criam ambiências mais abertas e os edifícios mantém um estética constante. 147


Experiência Era uma vez num verão, (Chico César) Num dia claro de luz, Há muito tempo, um tempão, Ao som das ondas azuis. E as coisas aquela vez Eram qual foram e são, Só que tínhamos os pés Um tanto fora do chão.

Figura 24. O LADO A do percurso - Da curva a Ilha - O parapeito anterior sobrepõe ao parapeito antigo. Eles estão juntos aos coqueiros que são presentes, junto com as ilhas e referências naturais da baía - ilhas, mangue e Penedo. O Porto é presente aqui também, mas a paisagem se cria muito mais aberta. 148


O azul do céu, ainda descoberto, reina

LADO A é marcada pelos coqueiros, pa-

ainda mais nesse território, da curva do

rece uma orla de praia (parace que Vitó-

Saldanha á Ilha da fumaça, a paisagem

ria teve praia um dia). A paisagem LADO

é aberta para o sol e as ondas da baía

B, fovorece a abertura da paisagem e a

que cntinuam o azul do céu. A paisagem

presença do céu por ser bastante vazia.

Figuras 25. A paisagem LADO B do percurso Da curva a Ilha - é marcada por vazios em que saltam edifícios e muros vez ou outra. Nesta imagem postes e árvores destacam-se na paisagem pouco movimentada de pessoas. Os edifícios acompanham essa abertura. 149


- Corpo – bike “Hoje é um ótimo dia para se pintar bicicletas.” - Clarice Lispector

Não nos interessa separar corpos da cidade, ou do mar, nem deles mesmos. Há na mente que tudo não é o mesmo, mas tudo se contém numa dualidade, numa instância hídrida que está imersa no vir a ser de cada um.

Andar pelo caminho que nos propomos percorrer

Esses elementos possuem uma interface, uma inter-re-

é construir em nosso corpo o mesmo caminho. “Sua

lação que os é intrínseco, o corpo contem a paisagem

agitação é um inumerável de singularidades. Os jo-

e a paisagem contém o corpo. A cidade, corpo grande,

gos de passos moldam espaços. Tecem os lugares”

uma junção de sistemas estruturais que a viabilizam, é

(CERTEAU, 1994: 176). No nosso percurso-pesqui-

suporte e é parte desses engendramentos.

sa, a mobilidade se dá pelo pedestrianismo, pelo potencial do corpo de locomover, com a câmera

“Deslocar-se com as próprias pernas

ou mesmo com a bicicleta - ciclismo. As imagens

(...)

iscrevem-se na cidade que engendramos em nosso

“Creio q andar de bike é uma forma de manter

corpo, como se fosse uma cidade postulada pelos

uma conexão humana com a cidade, de ser turista

nossos desejos e produzida pela nossa memória. Em nosso corpo-estudante da cidade, em nossa memória usuária – de como se conhece a cidade

esse direito, andar de bike em sua própria cidade, a humanidade urbana embrutece. Andar de bike é sentir o vento q a cidade sopra, é estar co-

andando nela - com olhar de fora e de dentro dela

nectado com o entorno, com o outro, é compreen-

a recriamos.

der a dimensão irrestrita de cidadania, de casa.

“(...) os processos de caminhar podem reportar-se em mapas urbanos de maneira a transcrever-lhes os traços (aqui densos, ali mais leves) e as trajetórias (passando por aqui e não por lá). Mas essas curvas em cheios ou em vazios remetem somente, como palavras, à ausência daquilo que passou” (CERTEAU, 1994: 176). 150

do lugar em q vc mora. Se todos renunciarem a

Nossa casa é além portas, além muros, grades, é a nossa cidade” (NAKAO, 2006: 151).

”(...) o processo de composição de um território existencial requer um cultivo ou um processo construtivo.” (ALVAREZ e PASSOS, 2009, p.136). Certeau (1996) nos ensina que andar, percorrer parte da cidade é construir Figura 26. HDR tonning da ação da bicicleta no percurso.


151


152


um mapa dela. Nossa existência nesse lugar-território se chocaram com a visualidade das outras.

Andar, caminhar é construir um mapa, é existir num

Somos expelidos e fagocitados por essa experiên-

território onde demais corpos como o nosso e di-

cia construtiva, dessa maneira, o mapa da cidade

ferentes existem, enredados num meio que os-nos

a partir do andar jamais abarcaria tudo que o de-

engloba. O que existe além da nossa presença? O

senho topográfico alcança, em contrapartida, este

que engendra uma percepção do espaço? O que

último, não contempla as singularidades que a ci-

é engendrado à medida que olhamos, passamos e

dade exala.

descobrimos novos ângulos e indícios de cor, luz ou trepidação do piso ao deslocar-se? É “(...) o corpo a

Trabalhar com a imagem vinda da máquina foto-

corpo com um real que desaloja o espectador, priva-

gráfica, ter nela a segurança de representar a ex-

do de trilhos e vidraças” (CERTEAU, 1994: 197).

periência daqueles momentos no lugar em questão, nos atrai a discussão abrangente de cidade. De

“Humberto Gessinger certa vez escreveu: “Toda vez que falta luz o invisível nos salta aos

uma cidade que se atualiza a partir das imagens

olhos”. Momentos em que os homens infames

que ela produz e que faz dela produto e obra. De

saem de onde sempre estiveram. Ou melhor,

uma cidade incerta.

de onde só saem quando, iluminados por breves instantes, entram em choque com o po-

A imagem, instante congelado de determinado es-

der e se fazem visíveis. O estranhamento e a

paço e tempo, contém a duplicidade da sua cons-

inverossimilhança de vidas destinadas a não

trução e de sua emissão, sua imersão ou sua imaginação. O percurso a ser realizado no território entre

deixar rastros retorcendo-se em estridentes e quase instantâneos momentos de obscuros embates. Entre a iluminação azulada e veloz

as Ilhas em questão, na linha que nos é escolhida e

da televisão e a iluminura de uma paisagem

por nós dada, é uma experiência dupla, mesmo an-

que soube esperar pelo tom de suas tintas,

tes de ir constitucionalmente, pois de certo modo já

algo se passa” (MIZOGUCHI 2006:66).

sabíamos o que nos esperava. Dar luz à bicicleta é iluminar o corpo, tanto pela sua Figura 27 - HDR tonning. Experiência de fotografar, sobreposição de formas e texturas do percurso.

capacidade de superar distancias e espaços pouco acessíveis, quanto pelo seu limite-corpo como trans153


gressor do espaço, pela capacidade finita das per-

O movimento do nosso caminho, na produção de ima-

nas, dos outros membros do ser humano, que vence

gens atualizava nossa experiência e nossa realidade.

as distãncias que são impostas ao/pelo corpo nas

Nesse percurso imagético, guiado pelos braços e pela

modalidades de transporte. O assunto da mobili-

bicicleta, notamos algumas imagens que se repetiam e

dade traz a bicicleta, que é uma modalidade limpa

significavam o lugar: navios, carros, carretéis, pessoas

energeticamente, como paradigma do transporte

rápidas, bicicletas, praças, ponte seca, ponte sob água

do futuro. Mesmo que denuncie outras questões, o

(Cinco Pontes), guindastes e grandes e pequenas em-

corpo-bicicleta

barcações, parapeito, muros.

Mapa em Movimento “Os caminhos que se respondem nesse entrela“A prática de pensar é potencializada por

çamento, poesias ignoradas de que cada corpo

experiências corporais, afetivas e percep-

é um elemento assinado por muitos outros, es-

tuais, o espaço-tempo torna-se um processo

capam a legibilidade. Tudo se passa como se

contínuo de criatividade heterogênea e ge-

uma espécie de cegueira caracterizasse as práti-

nerativa (MAC COMACK apud BRASIL, 2010:

cas organizadoras da cidade habitada. As redes

127).

dessas escritas avançando e entrecruzando-se compõe uma história múltipla, sem autor nem

Nossos passos são instrumentalizados por um olho-

espectador, formada em fragmentos de trajetó-

-máquina, deitado cuidadosamente no guidon de

rias e em alterações de espaços: com relação às

uma bike, passeando a paisana, carregada, tranqüi-

representações, ela permanece cotidianamente,

la. Inserimo-nos na paisagem e a insermos em nós. Somos: “(...) um ser situado por um desejo (...) e plantado no espaço de uma paisagem. (...) “existem tantos espaços quantas experiências espaciais distintas” (CERTEAU, 1990: 202). Existem tantas bicicletas quantos corpos a trepidar, e tantos carros quando corpos a se acomodar.

outra” (CERTEAU, 1994: 171).

Recorremos à leitura de Pierre Levý (1998), para que nos ajudásse-nos a organizar na mente a paisagem dos objetos-corpos que encontramos, ou poderíamos encontrar. Para ele, os elementos possuem suas singularidade mesmo que participam de um sistema que os organiza. Este escritor defende o conceito de cinemapa, em suas palavras: “O cinemapa permite explo-

154


rar uma macrossingularidade dinâmica, entremeada de singularidades” (LEVÝ, 1998: 164). de um todo e de um micro, de uma rede e os nós que a estruturam, pode-se estabelecer nossa relação com este território corposto por muitos objetos. “(...) as motricidades dos pedestres formam um desses “sistemas reais cuja existência faz efetivamente a cidade” (CERTEAU, 1994: 176). Podemos elaborar e reelaborar nossa inserção nesse território a partir do conheciemnto de nossa posição, “estamos aqui, estamos ali” (LEVÝ, 1998). Vamos construir o nosso mapa de acordo com os pontos que o cinemapa produz, dentro dos objetos que compõe a paisagem, vamos escolher os que mais saltam a visão, os que mais diferenciam o espaço-território do resto da cidade. “Os pontos do cinemapa não são unidades abstratas, identificadas unicamente por suas coordenadas, como nos mapas do Território. Cada ponto do cinemapa é um atributo diferente dos outros, uma qualidade específica, manifestada por um ícone, um signo único” (LEVÝ, 1998: 164).

Dessa maneira, O mapa, composto de objetos, corpos que possuem sua especificdade, agem no sentido de dar existência e composição dos outros, e vice versa, ao mesmo tempo que são transformados permanecem Figuras 28, 29 e 30 - HDR tonnings. A primeira e última mostram a transitoriedade dos corpos. Menins fotografando o grupo, na primeira e um homem carregando um carrinho na outra. A segunda imagem mostra ação contínua da água nas pedras de enconcamento, que desenham o atual limite cidade X água.

155


Carretéis intactos, perenes. “No cinemapa, o universo informacional (ou o banco de dados) não é estruturado a prio-

Corpo humano

ri, seguindo uma organização transcendente, como o Território. Não é regulado, tampouco, por médias ou distribuições estatísticas, à maneira mercantil” (LEVÝ, 1998: 163).

- mapa com imagens Trecho de Expeiência

Formas vegetais

Formas edilícias

Coqueiros

(Chico César e Carlos Rennó) “E as coisas eram as coisas: A folha, a flor e o grão,

Guingastes

O sol no azul e depois as Estrelas no preto vão. E as coisas eram as coisas

Figura 31 - Legenda do mapa linear.

Com intensificação, Que as coisas eram as coisas Porém em ampliação” 156

Figura 32 - Mapeamento visual LADO A. Figura 33 - Mapeamento visual LADO B.



Corpo vazio Fernanda Tatagiba

os pés em pé olhos na terra as mãos lançadas no peito, na barriga sem fome no prato, cabelo no rosto, cruzo as pernas entre elas o atrito sem pêlo osso fosso somos o que nos atravessa


Continua aqui, o processe de ir além das imagens

- Vídeo 01

fotografadas, como já houve nas imagens sobre-

Trecho de Expeiência

(Chico César e Carlos Rennó)

postas no texto sobre a experiência, o que há agora, é um quase-diagrama a fim de mostrar as formas

“Era qual uma visão

predominantes do percurso, itens já mencionados,

De um milagre microscópico,

mas aqui ilustrados. No comando do photoshop /

Do infinito num botão,

file>automate>photomerge. É como se fosse mos-

E em ritmo caleidoscópico,

trar para nós mesmos, estudantes de arquitetura da

Ciclos de aniquilação

UFES, elementos que fazem parte de muitos de nos-

E criação sucessiva,

sos percursos obrigatórios nos trabalhos do curso,

Átomos em mutação (...)”

que quase sempre, estão inseridos no centro da cidade de Vitória.

Ainda no mesmo processo, o vídeo é uma possibilidade de mostrar a cidade de uma outra maneira, as

“Essa situação de estrangeiro, situação de nômade, faz você prestar mais atenção tanto nas coisas visíveis e materiais, quanto nos processos menos evidentes, menos imediatos e portanto mais complexos.” (PEREIRA, 2010:285)

cidade-fotografias em movimento, junto da música experiência de Chico Cesar e Carlos Rennó, que trouxemos para participar dessa discussão. O Vídeo está disponível no link: henrikcl.tumblr. com.

159


-ZOOM IN e ZOOM OUTAssim, estar próximo (ZOOM IN) e distante (ZOOM Trecho de Expeiência (Chico César e Carlos Rennó)

Era uma contemplação Como com lente que aumenta; Era o espaço em expansão

OUT), é estar no meio do campo a experimentar, neste caso, a cidade. Há correlações entre a cartografia topográfica do espaço geodésico e a cartografia sentiemental1 dos lugares onde há corpos humanos

E o tempo em câmara lenta.

a interagir com os outros possíveis. Essas noções de

Era tudo em comunhão

distância entremeiam as idéias de espaço concebi-

Com o um e tudo à solta;

do, percebido e vivido de Levébvre (conceitos dis-

Era uma outra visão

cutidos no BLOCO A), como se o espaço concebido

Das coisas à nossa volta

fosse mais próximo ao ZOOM OUT e o percebido do ZOOM IN, e o espaço vivido um espaço híbrido entre

Aproximar ao espaço é também distanciar-se dele.

distancia-se e aproximar-se2 .

É estar imerso no campo da surpresa, do que pode acontecer e estar disponível a mudança junto ao

Nessa experiência dinãmica de estar no mundo, no

lugar. Distanciamos de nossa idéia sobre aquele

espaço onde o distante pode estar diante dos olhos,

lugar e imersos a sua realidade, transformamos a

algumas micro-paisagens podem acender como for-

imagem de tínhamos dele, daí as sequÊncias de

tes no enredamento de significados que co-relacio-

imagens, suas composições possíveis e realizadas

nam a cidade com sua experiência. Que imagens nos

no decorrer do trabalho.

são fortes, mas que se esquivam da produção urbana

“Se esta situação corresponde à realidade dos fatos no que diz respeito à física do infinitamente pequeno, também se aplica ao infinitamente grande: se o que, visivelmente,

1 Cartografia Sentimental é um livro de Suely Rolnik, que em sua trajetória como escritora, trabalhou com Guatarri, os estudos de cartografia (muito discutido no campo da pscicologia) que é geralmente cria outros mapas de territórios.

não era nada torna-se “alguma coisa”, inversamente, a maior distância não oculta mais a percepção; a extensão geofísica mais vasta se contrai, se contrai” (VIRILIO, 2005: 13). 160

2 Essas relações entre esses três espaços e os ZOOM’s são apenas um esboço para complementar a discussão dos mesmos, havendo outras possibilidades dessas corelações que não cabem mais a esse contexto.


homogênea?

para o porto e vice-versa, articulando essa troca. Na paisagem da cidade, hora ou outra, os guindastes aparecem como se aparecessem de surpresa. Isso os

Mapa – Aproximar ao objetos.

torna tão visíveis e simbolicamente representativos

O corpo da paisagem-navio desmaterializa o pro-

do porto como o navio, que também correlacionam-

cesso de consistência da experiência,

-se com a idéia da baía como um porto extendido, e

por um

material sublime, por paredes sazonais e por mo-

portanto, como cidade.

vimentações aquáticas controladas pelo cafetão – navio, a paisagem é outra a cada instante que ele

Na imagem da experiência da área portuária, no seu

se movimenta. É um objeto estanque, porém móvel,

LADO A é possível ter a sensação da presença do

prostituindo o olhar do homem-corpo a uma ins-

guindaste ser mais forte que a do carretel. No dia-

tância da surpresa e de estesia.

grama e no VÍDEO 01 por exemplo, pode-se perceber também a inserção linear/horizontal dos car-

O Navio é o elemento que auto-correlaciona os

retéis por detrás dos muros e gradis e notar que a

objetos que existem no mapa em movimento, nos

presença deles na paisagem urbana não é nula, mas

objetos encontrados; corpos-edifícios (estrutura

pouco exposta. Os carretéis estão dispostos na ci-

urbana), corpos-guindastes, corpos-carretéis, cor-

dade e transportados por navios, e essa deslocação

pos-humanos. A estrutura edificada da cidade é

é feita através do guindaste. Essa proximidade do

um constante em toda sua extensão, junto aos seus

cerretel com o mar é possível ser vsita no percurso

cheios e vazios. O homem-mulher ou o grupo atua-

da ponte, onde há muitos carreteis distribuídos no

liza a paisagem e é atualziado por ela. Os elemen-

território.

tos guindaste e carretel, correspondem a imagem da área portuária, a estrutura urbana que diferen-

Além disso, na zona portuária de Vitória exis-

cia-se do restante da cidade.

tem bobinas (carretéis) que são utilizadas para enrolar as linhas flexíveis. Esses dutos

O guindaste, representado por nós com uma pinça, é o elemento que transporta mercadorias do navio

são usados para duas finalidades: A primeira aplicação é em plataformas de exploração de petróleo em alto mar e o segundo em refina161


rias de petróleo. As linhas produzidas são para atender empresas do setor de óleo e gás no Brasil, Europa e EUA (Essas informações estão disponíveis em: www. technip.com)

Dessa maneira, estabelece-se relações com a cidade e com este trabalho. O carretel, entre o mar-cidade e a cidade-porto, atualiza lentamente a paisagem – sua movimentação, produção e transposição é lenta e menos dinâmica que a do guindaste. Assim, a forma do carretel, circular como os pneus da bicicleta e dos utros automóveis da cidade, é um elemnto forte da paisagem. Nesse viés simbólico que georeferencia a forma circular do carretel com as outras formas do percurso, ao passo que está entre o concreto-cidade e o fluido-água, o carretel, simbolicamente, desloca-se na cidade através da bike e desloca-se no porto-mar através das roldanas – elemento circular - dos guindastes. Assim, o carretel está dado para nos acompanhar numa nova experiência, antes com a bicicleta e agora com ele. Agir “Desloca, assim, as fronteiras entre ação espontânea e ação planejada” (RIBEIRO, 2010: 36).

Aqui no trabalho, a ação é/foi um elemento de encontro com 162


163


164


o espaço e distanciamento da visão distante dos

panfletário ao dizer “estou aqui”. O carretel como

mapas. Mas não um distanciamento total, mas sim

significante do percurso, percorre o nosso conhe-

ainda conectados por um gancho –entre o corpo hu-

ciemnto transeunte entre as ilhas que foi produzido,

mano e o corpo urbano - procedendo um conheci-

ilha do perto (ZOOM IN) e a ilha do distante (ZOOM

mento entre o transitar no lugar e nas imagens que

OUT), ambas separadas pelo que os é comum (espa-

nos fazem lembrar dele. Pensar em agir no lugar,

ço vivido), a experiência e a ação artística.

como arte, a mesma arte da bicicleta que atualizava a paisagem a medida que atualizava-transforma-

“A arte é capaz de capturar o tempo e torná-

va nosso conheciemnto é estar conectados com o

-lo sensível (GROSZ 2008). Os experimentos

mundo-cidade que nos engloba, e que nos fagocita.

artísticos - que tem na cidade fonte de inspiração, reflexão e atuação - poderão, portanto

“Estabelecendo novas relações entre passado e presente, natureza e cultura, tempo e espaço, incluindo-se aí as circunstâncias históricas do lugar que fundam a significação da obra, instauram outras ligações estéticas e éticas entre o mundo real e o mundo da arte”. (FERREIRA, 2010: 306)

revelar dimensões do urbano normalmente negligenciadas ou friamente capturadas em sistemas de coordenadas e previsões pelos estudos urbanos tradicionais: sistemas de forças, transitividades, ritmos e qualidades expressivas do território que são extraídas e extendidas em afectos e perceptos (DELEUZE E GUATTARI, 2005). É no imprevisível, no inesperado, no não-representável que acredita-

O mundo real repleto de camadas, desfolhado por

mos residir o potencial transformador destes

nós, permeados por essa relação do carretel com

experimentos artísticos que tensionam corpo-

seu meio, está a descobrir o potencial estético e

-cidade.” (BRASIL, 2010:125)

- Deslocar – locar Figura 35 - HDR tonning com carretéis - página 163. Figura 36 - Homem sentado no parapeito, vista da cobertura de um prédio alto. Foto: Eliz Mondolo. Mostra o espaço intervido pela ação do carretel.

“Estar demasiadamente preso a uma lógica visível não denunciaria já uma forma de cegueira?” (MAIA, 2010 # 03) 165


Para estabelecer como seria a ação artística, é pre-

havia espaço para deslocá-lo, dentro do limite real-

ciso saber que a existência desse tipo de trabalho

ziado no percurso de estudo, da Ilha da Fumaça à

no projeto de Graduação era desejado, mas não

Ilha do Príncipe. Mas como seria isso? Quem faria

assumido como objetivo dele. Muitas ações foram

isso? A artsita-bailarina Déia Carpanedo foi convi-

pensadas para esse trajeto na cidade de Vitória,

dada e aceitou.

mas foram esquecidas e o trabalho fluiu em direção a elas, ele seria discussão sem ação, nem projeto e

Foi ás 16h de uma terça feira de Julho. Haveria de

nem algo do tipo.

ser terça-feira devida sua única folga do trabalho. No início da tarde de terça fomos ao local para (re)

_ De quando surge a ideia _

conhecê-lo e escolher os pontos, onde iniciar, onde terminar. Como já conhecia “de cado a rado” o lu-

No cemuni III, na UFES, há um carretel de madei-

gar, partilhando idéias com Déia, já pensávamos

ra, que pareceu ali, como que aparecesse do nada.

em iniciar da Praça Pio XII, era o lugar com calça-

Foi aí o estopim para os pensamento criativos que

da medidas-possíveis que caberiam o carretel. Este

desenvolveriam semanas depois a ação – Sem data

passaria carregado pela artista até o ponto onde é

para o descobimento do carretel. A idéia era: deslo-

possível chegar até a baía, onde há um hiato no pa-

car esse carretel no espaço possível para isso,onde

rapeito, entre o antigo e o novo.

Figura 37. Reconhecimento do território. Foto: Henrik Carpando@transeuntes. 166

Figura 37. Deslocamento do objeto até a praça Pio XVII. Foto: Henrik Carpando@transeuntes.


Ás 16 começamos, eu, Déia, o carretel e colegas que fizeram possível o registro.

O corpo da artista deixa o corpo do objeto, como se renunciasse e ao contato da cidade com a água. Assim como a cidade, em seu desenvolvimento, renunciava a água também.

Figura 38. Partida da Praça Pio XII.

Figura 39. Passeio na orla do Centro.

Foto.: Henrik Carpando@transeuntes.

Foto: Henrik Carpando@transeuntes.

Figura 40. Finalização. O objeto é deixado no espaço entre parapeito. Foto: Lívia Melina.

Esta praça é onde foi possível chegar com o objeto-carretel ( que me de aproximadamen-

Durante o trajeto a artista interveio no espaço

te 1,4x1,4 m) devido haver

causando estranhamento às pessoas (que po-

faixa de pedestre e a calçada

derá ser melhor visualizado no vídeo e nas pró-

da orla é suficiente para este

ximas imagens)

trajeto. 167


168


169


170


171


172


173


174


“Ações que interrompem a cotidianidade – inscrevendo a copresença em contextos que a renegam - implicam em sincronização de gestos e na representação de papéis que não são esperados e nem programados. Essas ações corporificam, na encenação da experiência urbana, o descarte, por alguns instantes, de controles que tolhem a invenção (e inversão) de posições sociais nos fluxos urbanos” (RIBEIRO, 2010: 31). 175


176


177


“Ao não se deter (...) na comum percepção que constrói conjuntos analógicos ou complementares (...), o artista avança, sente, toca, vê e ouve a potência, não só o ato; ultrapassa as aparências do real e revela percepções e aspectos únicos da realidade encouraçada, ou formas únicas de percebê-la; revela aquilo que as palavras confundem,as imagens escondem e os sons” (BOAL apud RIBEIRO, 2010: 37).

178


179


Discussões _ BLOCO B

ma-se em “suporte-superfície” de inscrição, literalmente ou ainda cinematicamente: o tempo

Agir no território foi nossa prerrogativa desde o início. Iniciamos pela experiência de criar imagens na memória projetiva, apreendida nos projetos e

constitui superfície. Graças ao material imperceptível do tubo catódico, as dimensões do espaço tornam-se inseparáveis de sua velocidade de transmissão. Unidade de lugar sem unidade

nos mapas. Depois, o corpo foi à luta, entre perder-

de tempo, a Cidade desaparece então na hete-

-se ou achar-se onde se perder era (IM)possível

rogeneidade do regime de temporalidade das

e e se achar um des(A)tino. O estranhamento em-

tecnologias avançadas” (VIRILIO, 2005, p.10).

brionário acertou-se com o mapeamento do corpo no território e do território no corpo-conhecimen-

Essa cidade extensamente descrita por Paul Virilio,

to, que deslocou-se a outras formas possíveis, ima-

uma cidade de um tempo estranho ao tempo do corpo

gens saltavam na cabeça, cabeças rolavam sobre

e/ou mais compatível ao tempo cósmico da velocida-

a mesma cabeça que criava, foi um conhecimento

de da luz que o homem forçadamente tenta implantar,

compartilhado, era como se as cabeças trocavam

é permeada por muitos corpos, como que se orbitas-

de corpo e os corpos de cabeça.

sem em torno deles mesmos, cada um é sol que giram em torno de outros, estabelecendo relações cosmo-topológicas entre eles.

“(...) devemos observar que, a partir do momento em que abrimos não somente a janela como também a televisão, o dia modificou-se: ao dia solar da astronomia, ao dia incerto da luz de velas e à iluminação elétrica

a compreensão de um corpo para o outro reluz ao processo de codificação destes através da sua cons-

acrescenta-se agora um falso-dia eletrônico,

trução, no enredamento de significados que fazem

cujo calendário é composto apenas por “co-

deles memório ou esquecimento, presentes ou ausen-

mutações” de informações sem qualquer re-

tes. Andar é praticar o ZOOM IN e o ZOOM OUT, o au-

lação com o tempo real. Ao tempo que passa

mento e/ou a diminuição de formas disponíveis para

da cronologia e da história sucede portanto

o agenciamento de seus afetos inorgânicos.

um tempo que se expõe instantaneamente. Na tela de um terminal, a duração transfor180

As velocidades e distanciamentos e afastamento para


“O espaço em movimento não está ligado somente ao próprio espaço físico mas sobretudo ao movimento do percurso, à experiência de percorrê-lo, é diretamente ligado a seus atores, que são tanto aqueles que percorrem esses espaços opacos no cotidiano quanto

Ídice de Imagens da Ação

aqueles que os constroem e os transformam continuamente”(BERENSTEIN, 2006:112).

_ Consta aqui o índice das imagens a partir da página 168_

A ação realizada com o objeto – o carretel – transcorre o caminho entre os processos simbólicos e mate-

Figura 41 – Carretel à chegar. Foto. Henrik Carpa-

riais do espaço urbano. Ao mesmo tempo em que

nedo Lopes@transeuntes. Página 168. Figura 42 –

mais próximo chega, perde-se de onde iniciou e em

Sequência de Fotos da chagada da artista com seu

cada ponto do percurso, engendra-se de maneiras

objeto no percurso. Fotos. Luiz Paulo@transeuntes.

diferentes. O estranhamento que ele é na cidade-

Página 169. Figura 43 - Três imagens do percurso da

-trajeto-entre ilhas – é o estranhamento avançado

artista/onbjeto no porto. Fotos:

da ação desenvolvida pela bicicleta, pelo seu mover

Henrik@transeuntes. Página 170. Figura 44 – Duas

na cidade. A experiÊncia de percorrer com o corpo

Imagens em cima da página 171. Inserção/aproxi-

flui-se à experiência de percorrer com a bicicleta,

mação da artista/objeto no percurso. Fotos: Henrik@

que abre-se para o objeto-corpo-carretel.

transeuntes.

A partir de agora, a experiência anterior, do BLO-

Figura 45 – Uma imagem abaixo da página 171. In-

CO A, realizada pelo aspecto mapa cartográfico/

serção a ção na paisagem.

elementos do trajeto que é do campo disciplicar do arquiteto-urbanista, encontram aqui, no BLOCO B, a

Figura 46 – Três Imgens que tratam do contato do

possibilidade de se chocarem em encontros furtivos

corpo-humano com o corpo-objeto, a contemplatr o

para a cidade-conhecimento do arquiteto ou se dis-

corpo-cidade. Página 172. . Foto:

sipar, e se perder no mundo.

Henrik@transeuntes. Figura 47 – Imagem acima da 181


página 173. A forma circular do objeto destaca-se

do com o corpo-bicicleta-humano, numa conversar

das formas duras e retas da paisagem-entorno. Foto:

travada em silêncio sobre as história-memória des-

Henrik@transeuntes. Figura 48 – Imagem abaixo

bravadora do primeiro corpo com o corpo calejado

da página 173. Essa imagem expressa o contato do

do segundo, que conta sua memória jamais saturada

corpo com o objeto, mostra a escala de um e outro.

de experiências. Figura 55. Sequência de imagens,

Fotos: Henrik@transeuntes e Luiz paulo@traseun-

mostrano o percurso do carrtel-artista e o estranha-

tes.

mento da experiência. Foto: Thalita Covre@transeuntes.

Figura 49 e 50– Ambas imagens nas págnas 174 e 175. Mostram ainda o contato do corpo-artista-car-

Figura 56. Essa imagem repete da página 167. A re-

retel como relacionante da paisagem. A primeira o

núncia das mundo à cidade, suas mazelas, sua forma,

carretel parace estar autônomo e carregar o corpo

seus espaços escuros não iluminados pelo capita-

da artista, e na sedunda, ela o carrega, usando sua

lismo, os detalhes da cidade não iluminados pelos

força-forma-movimento.

grandes desejos dos grandes projetos. Foto: Lívia

A figura 51 são duas imagens acima à esquerda da

Melina@transeuntes.

página 176 mostram o movimeto do corpo (micro-movimentos) no deslo-

Figura 57.

O carretel é deixado no espaço “entre

car das pernas de frente e detrás do carretel . Fotos:

parapeitos”, como se ocupasse um vazio (o lugar não

Lívia melina@transeuntes. A figura 52 (abaixo das

vazio pois é usado para navegar), como se ocupas-

duas imagens que compõe a figura 51) denuncia o

se com o mesmo objeto que representa força m a ci-

que há na imagen 54 . Ambas as fotos: Thalita Co-

dade, o porto, que suprime as formas mais frágeis,

vre@transeuntes. Figura 53. Trata do contato solitá-

como o limite da água com a cidade e outros dese-

rio da artista com seu objeto. Fotos: Thalita Covre@

nhos ainda menores, como a instabilidade e o rastro

transeuntes.

dos barcos menores na baía, dentre outras práticas e trânsitos, como se ocupasse o vazio deixado pelo

182

Figura 54. O carretel faz contato com a biciclata,

deslocar dos trânsitos-corpos, um vácuo. Foto. Lívia

como se o corpo-carrtel-artsita um único, dialodan-

Melina@transeuntes.


183


Figura 56. Mulher pescando em HRD tonning pรกgina 184. Figura 57 - Rua vista de cima - Desenho Urbano. 184


185


Trecho de Experiência Chico César e Carlos Rennó

Era uma luz, um clarão, Um insight num blecaute. Éramos nós sem ação, Como quem vai a nocaute. Era uma revelação E era também um segredo; Era sem explicação,

1 – O processo Dentre os muitos desejos advindos do TEXTO 01, o

Sem palavras e sem medo

BLOCO A –

trabalho foi descoberto a medida que se encontra-

186

va com a cidade - o Projeto de Graduação nasceu

O bloco é dividido em 3 partes. A cidade entre a

de uma ação rizomática como nascem os tubér-

pedra e o mar, a cidade entre a sua imaginação e

culos. O inicial interesse de discutir o território a

sua construção e por fim, a cidade-corpo. A primei-

partir dos projetos que indicam sua transformação

ra parte apresenta o território, do recorte 01 ao 03,

partiu-se em outros. O contato com a cidade e a re-

até chegar a duas divisões do último recorte – o 03

visão bibliográfica afastavam o projeto de gradua-

– em dois territórios, cada um com projetos que

ção desse tema. A escolha do território originou-

indicam intenções de sua transformação. É a partir

-se dos projetos urbanos nele inscritos e por isso, o

disso que inicia o trabalho. A segunda parte apre-

trabalho divide-se em mapas (arquiteto-urbanista)

senta discussões conceituais entre a cidade imagi-

e percursos (outro). Dessa maneira, o BLOCO A e

nada e a construída. Fábio Duarte (2002) organiza a

o BLOCO B respondiam à necessidade de separar

discussão entre os conceitos de espaço postulado e

esses dois entendimentos: a cidade como um sis-

espaço produzido. Para discutir a cidade imagina-

tema de coordenadas e a cidade como um campo

da, propusemos a conversa de Geddes com Corbu-

aberto e possível, respectivamente.

sier seguida pelos pontos do planejamento urbano


buscados no livro Urbanismo de Fronçoise Choay

que não notamos no segundo, que diferentemente

(1992) que, em linhas gerais, possuem duas posturas

propunha cidades ideais para corpos humanos ide-

bem distintas sobre a temporalidade da cidade e de

ais (talvez aí a crise teórica do campo do urbanismo

seu usuário (volteremos a esse ponto na discussão

moderno).

de corpo). No caso da cidade construída, abre-se a discussão sobre a continuidade ou não da forma

No corpo da paisagem – e desde “entre o mar e a

urbana e para abarcá-la, buscamos no texto “Cida-

pedra” - os desenhos em aquarela junto à fotografias

de da incerteza” de Sérgio Magalhães (2006) ques-

enredam o cenário dos transeuntes entre ilhas, vão

toes sobre as relações de ruptura e contiguidade e

tecendo a dimensão territorial do percurso e bus-

demais noções urbanas-conceituais que tratam da

cando nela as relações de escalas, cheios e vazios.

transformação – incerta – da forma urbana.

Os diagramas e mapas, além de cartografar o território, vão indicando as linhas de força dos espaços

A cidade-corpo – terceira parte – pontua a relação

“postulados” e “produzidos” criadores de “ruptura”

entre as duas cidades com o corpo, a construída na

e “contiguidade” na forma urbana que é imagina-

memória e a imaginada na experiência (entre ou-

da e, portanto, produzida na memória). O território

tras relações); discute a idéia de corpo em “paisa-

nos faz encontrar algumas forças resultantes dessas

gens do corpo” e volta para agir no território em

ações territoriais (dentro da revisão bibliográfica e

“os corpos da paisagem”, até encontrar corpos que

do embate no território), que são: o espaço entre-

seriam fortes para a compreensão da complexidade

-parapeitos, a catraia e a empresa flexibrás.

do mesmo. A discussão que abarca o corpo coloca um corpo atravessado pelos outros, onde permane-

“Não esqueçamos que, ao lado das técnicas

ce sua casca, e não o que o contém. O conteúdo do

de construção, está a construção das técnicas,

corpo é multiplicado/dividido em outros, (re) atualizando-se. A discussão de corpo tratada no planejamengo urbano de Geddes e CORBUSIER mostra-

o conjunto de mutações espaciais e temporais que reorganizam incessantemente, com o campo do cotidiano, as representações estéticas do território contemporâneo. O espaço

-nos que o primeiro já pensava o corpo como uma

construído não o é exclusivamente pelo efeito

açao criativa com alguma temporalidade singular, o

material das estruturas construídas, da perma187


188


nência de elementos e marcas arquiteturais

composto/decomposto por estes sistemas de

ou urbanísticas , mas igualmente pela súbita

transferências, de trânsito e de transmissão,

proliferação, a incessante profusão de efeitos

estas redes de transporte e transmigração

especiais que afetam a consciência do tempo

cuja configuração imaterial renova a da orga-

e das distãncias, assim como a percepção do

nização cadastral , a da construção de monu-

meio” (VIRILIO, 2005, p.16).

mentos” (VIRILIO, 2005, p.16).

Paul Virilio (2005) é contundente ao tratar a deli-

Sendo assim, essa (de)composição do território,

cadeza da ideia do espaço construído. O arquiteto

BLOCO A e BLOCO B, agencia as maneiras de se

que age no território é também intervido por ele.

chegar até ele e são transferências de nosso conhe-

Se o trabalho iniciara com a idéia de transforma-

cimento, do mapa ao percurso. Deslocamos o corpo-

ção do território a partir da ação-futura dos pro-

-persquisador a medida que descolamos também as

jetos, ao adentrar nele, percebeu que o território

idéias do trabalho. Não obstante, o território convida

muda por si, sem necessariamente haver projetos

a uma imersão dessa força, pois as formas urbanas

que indiquem mudanças, e cada mudança ocorrida

presentes nele possuem forças suficientes para isso.

é um estranhamento, como a alteração da cor do

Há muitos objetos e/ou práticas de valor histórico e

parapeito. além de tudo, o processo de represen-

simbólico na cidade. Esse choque entre a visão ho-

tação do território, em croquis e fotografias, junto

mogênea proporcionado pelo mapa e a aproxima-

ao texto, cria o discurso da cidade que mostramos

ção territorio-corpo fortalece os limites destas di-

e discutimos - a cidade de vitória em transforma-

mensoes, mantendo-as separadas ao mesmo tempo

ção. essa interface entre cidade e comunicação faz

em que as tangencia, criando pontos comuns que

dela uma outra. da cidade pela representação à re-

enriquecem a experiência sem virgula aqui de um

presentação pela cidade, de acordo com as várias

arquiteto postulado-produzido, postulante e pro-

percepções de cidade e das micro-relações com o

dutor de espaço, afinal, o arquiteto é, também, ser

lugar.

humano. quem não possui o conhecimento técnico do arquiteto também cria-imagina suas cidades, e a “Hoje é até mais provável que aquilo que

produz em suas práticas cotidianas.

persistimos em denominr URBANISMO seja 189


“Os móveis nos automóveis combinam suas

estranhamento do território textual e urbano melhor

velocidades, trocam suas mensagens, entre-

desenvolvido e estabelecido no bloco a. ele parte

cruzam-se em um espaço também móvel,

da experimentação do urbano a partir da ação do

relativo, no qual tudo se mexe em relação a tudo, no qual a distância não é nada e a velocidade, tudo” (LEVý, 1998: 152).

Pierre Levý, que mapeia a construção da inteligên-

bicicleta, que foi um agente transformador do trabalho. “Este caráter investigativo e potencialmente transformador trabalha com o risco e a incer-

cia na relação da construção do mundo aTarvés

teza, com os processos e as circunstâncias,

da tecnologia, mostra nessas palavras a condição

portanto com um futuro indeterminado. Ex-

instável do corpo urbano. Vários trânsitos atuam

perimentar é não ter certeza: é estar aberto

na cidade (em todas as suas instâncias, sua forma,

ao acontecimento e à sensações previamente

sua discussão teórica, os projetos nela destinados,

desconhecidas. Os “experimentos artístico-

entre outros). A areia movediça, que sustenta a cer-

-urbanos” propõem certas situações, ou numa

teza da cidade (nessas instâncias), debRuça-se no estranhamento desse tRAbalho, entre o BLOCO A e o BLOCO B. “Segue-se o espaço. A partir do tempo do pensamento coletivo, formam-se e transformam-se espaços de significação, tensos de

acepção científica, montagens estratégicas para impusionar, induzir, provocar certos fenômenos: neste caso certas experiências urbana”.(BRASIL, 2010:125)

A ação de pesquisar sempre é um “olhar estrangeiro” em que a ação de experimentar um lugar, mes-

aproximidades subjetivas, distâncias interio-

mo nos estudos da revisão bibliográfica, mesmo no

res” (LEVÝ, 1998: 155).

processo de fotografia, é uma tentativa de entendê-lo, interví-lo. Essa ação é parte dos trânsitos da ci-

BLOCO B – O lugar (território entre ilhas) de estudo Já estava certo antes de iniciar os estudos do BLOCO B, mesmo por que este bloco foi uma diferença a partir do 190

dade, viajar sobre ela em tantos veículos possíveis. “Uma coisa é certa: não são apenas os viajantes que viajam de cidade em cidade; as cidades também viajam nos corpos dos viajantes.


(BRASIL, 2010:127).

O BLOCO B inicia contando os dias de fotografia, sobre o encontro com a presença da bicicleta enquanto elemento estético dos trânsitos urbanos, com seu potencial enquanto dispositivo do passeio/ estudo urbano. “a cidade é o território textual por excelência da transmissão e da estocagem, da multiplicidade potencial, um universo jamais saturado

Este bloco depois de contar o processo, parte para

de imagens” (gomes apud mizoguchi, 2007:45). O

“O estranhamento” que se divide em navios, experi-

corpo enquanto seus possíveis deslocamentos, em

ência (que faz uma comparação entre as imagens de

câmera fotográfica, tripé articulável, bicicleta, bra-

cada percurso sobrepostas) e corpo-bike. Em suas

ços estendidos, mapas urbanos (no bloco a), expe-

palavras:

rimenta a cidade que é repetidamente atualizada por eles e pelo meio que a engloba, entrando e saindo de seus poros.

“Corte, desdobramento, produção: imagética concernente à afirmação da força do inacaba-

“E em mão dupla, cidades inscritas nos cor-

mento e ao deboche dos procedimentos con-

pos e corpos inscritos nas cidades, que tam-

clusivos. Walter Benjamin já houvera escrito:

bém as configuram. Processo de transforma-

“método deste trabalho: montagem literária.

ção permanente: devir corpo da cidade e

Não tenho nada a dizer. Só a mostrar” (apud

devir cidade do corpo”. (BERENSTEIN, 2010:

Bolle, 2000, p. 94). Trata-se, em suma, de um

265).

procedimento de composição de uma montagem fragmentária – tal qual as expostas pelos movimentos de vanguarda do dadaísmo, do

Danichi nos ajuda a enredar esse conhecimento

surrealismo, do teatro épico, mas também do cinema e dos meios de comunicação de massa

transeunte, de estar a beira da cidade no momento

(Bolle, 2000) -, a qual, duvidando de quaisquer

que as ondas nos fazem afogar em suas dinâmicas.

possibilidades de totalização unitária ou exe191


gese de um corpo urbano, dá a ler estórias

ção cada vez maior com a indeterminação. Se

que nunca se deixam encerrar. Estórias, tam-

no início do século XX Le Corbusier, um dos

bém, que nunca deixam de acreditar no mun-

expoentes da arquitetura moderna, propunha

do – crença, diga-se, em muito distante de um

o ‘passeio arquitetural’ como uma grande ino-

otimismo pueril; crença, afirme-se, oriunda

vação, no qual o habitante desvelaria a arqui-

de um caráter destrutivo jovial e alegre que

tetura ao percorrê-la, vemos hoje arquiteturas

“só conhece um lema: criar espaço” (Benja-

onde o corpo não só desvela o espaço, mas na

min, 1987b, p. 236). Inacabamento, estranha-

verdade altera as qualidades do próprio espa-

mento, sobressalto. Fragmentos de cidades,

ço quando nele se movimenta. Aqui, o corpo

textos que nunca se prestarão a totalizar o

passa efetivamente a ‘construir’ a arquitetura,

que quer que seja. As narrativas e as imagens

certamente uma arquitetura que se faz e refaz

se fundam, mas não se prestam a fechamen-

na relação com o habitante” (MARCUS VINÍ-

tos. Vazamento de um procedimento eminen-

CIUS).

temente construtivo, sempre em aberto: validação de passagens e de atravessamentos imanentes a um sutil empirismo. P51 e 52 (MIZOGUCHI, 2007: 51 e 52)

A ação-arte tenciona o elemento circular das bobinas que se relaciona com outros elementos da cida-

O faz-refaz da arquitetura e do urbanismo desmembrado das articulações de corpo – desde a cidade e/ou projeto de cidade de Geddes e Corbusier tratado na cidade imaginada do BLOCO A – articula a efemeridade do acontecimento com o mundo. O

de. Esta parte do processo tensiona, para o autor do

Figura 59 - Diagrama entre os pontos de síntese do

trabalho, a ação do arquiteto- paisagista-urbanista

BLOCO A e o trajeto da ação com o carretel. O carre-

no território pois esta disciplina trata geralmente

tel é um elemento simbólico da cidade para o BLOCO

de intervenções fixas e não efêmeras como a per-

B e representante da empresa flexibrás na paisagem.

fomance (nota de rodapé). A chegada pela Praça Pio XVII é imediatamente equi“Diante da irreversibilidade do tempo, o cor-

distante do ponto de catraia e o espaço entre para-

po se transforma em peça-chave da arquite-

peitos (que é o lugar de transformação do BLOCO A)

tura como o agente que articula o tempo e o

é o lugar onde a ação finaliza.

espaço na performance, dentro de uma rela192


193


conhecimento que gera a discussão da cidade, portanto, parte dela. A ação-experimento artístico realizada na cidade, leva a mesma pelos enredamentos dos significados urbanos dedicada a mostrar outras maneiras de ver a cidade. “Segue-se o espaço. A partir do tempo do pensamento coletivo, formam-se e transformam-se espaços de significação, tensos de aproximidades subjetivas, distâncias interiores” (LEVÝ, 1998: 155).

Entre o BLOCO A e o BLOCO B. Nesses mapas da cidade que produzimos aqui, o BLOCO A com os signos do corpo-urbano entre a imaginação e a construção, o BLOCO B com a experimentação do corpo-urbano, mesmo que diferentes, são experiências singulares do espaço urbano. “Todos os mapas são uma abstração do mundo, elaborados sempre a partir de um ponto de vista” (ASCERALD e COLI, 2008:13). O olhar do arquiteto é importante para sua ação no mundo e foi produzido durante toda sua disciplinização, em especial, no território acadêmico. Não obstante, outros olhares, de sua ação na cidade, não são inesgotáveis para sua compreensão holística de sua ação enquanto 194


profissional. O arquiteto liga com imagens, sejam elas percepções do mundo sensível, real, do mundo virtual, também sensível. “A imagem é um elemento recorrente da geografia. Ela não é exatamente a realidade do espaço, é apenas uma manifestação dele, uma representação efêmera e aberta” (MARQUES, 2006: 11). Não obstante, sua efemeridade ( a imagem, por ser uma representação, é um espaço desatualIzado de certa experiência ou ambiência urbana) conduz a atuação do arquiteto em toda sua trajetória, acadêmica, profissional, e como estar-no-mundo.

Figura 58 , 60 e 61 Ambas

Fotos

de

Henrik carpanedo.

195


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