2 Tessalonicenses - M. Henry

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2 TESSALONICENSES Introdução Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Introdução A segunda epístola aos tessalonicenses foi escrita pouco depois da primeira. Foi dito ao apóstolo que por causa de algumas de suas expressões contidas na primeira carta, muitos tinham a esperança de que a segunda vinda de Cristo estaria muito próxima, e que o dia do juízo chegaria em seu tempo. Alguns deles passaram a agir com descuido em relação aos seus deveres mundanos. Paulo voltou a escrever para corrigir o erro deles, que seria um obstáculo à propagação do Evangelho. Havia escrito conforme as palavras dos profetas do Antigo Testamento, e disse-lhes que haviam muitos conselhos do Altíssimo que ainda estariam por se cumprir antes que chegasse o dia do Senhor, mesmo que tivesse se referido àquele momento como muito próximo, porque era iminente. Este tema conduz a uma notável predição de alguns dos acontecimentos futuros, que teriam lugar em épocas posteriores da igreja cristã, e que demonstram o espírito profético que o apóstolo possuía.

2 Tessalonicenses 1 Versículos 1-4: O apóstolo bendiz a Deus pelo crescente estado de amor e pela paciência dos tessalonicenses; 5-12: Exorta-os a que perseverem estando sujeitos a todos os seus sofrimentos por Cristo, considera não a sua vinda como o grande dia da prestação de contas. Vv. 1-4. Onde quer que esteja a verdade da graça, haverá um incremento desta. A vereda do justo é como a luz da aurora, que brilha mais e mais até que seja dia perfeito. E onde quer que haja o incremento da graça, Deus deve ter toda a glória. Onde quer que cresça a fé, o amor será ainda mais abundante, porque a fé trabalha por amor. É demonstrada fé e paciência, como aquelas que podem ser propostas como uma pauta


2 Tessalonicenses (Comentário Bíblico de Matthew Henry) 2 para o próximo, quando as provas por parte de Deus e as perseguições por parte dos homens vivificam o exercício destas graças; a paciência e a fé, em que o apóstolo se gloriava, sustentavam-no e capacitavam-no para suportar todas as suas tribulações. Vv. 5-10. A religião, se tiver valor, valerá mais do que tudo; aqueles que não possuem uma religião, ou nada que seja digno de temor em sua vida, ou que não sabem como valorizar a sua religião, não poderão encontrar em seus corações uma razão para sofrer por ela. Não podemos merecer o céu por todos os nossos sofrimentos nem por nossas obras de fé, mas, a nossa paciência prepara-nos para o gozo que nos está prometido, para as ocasiões em que estivermos sujeitos ao sofrimento. Nada marca o homem com mais força para a ruína eterna, do que o espírito de perseguição e de inimizade contra o homem de Deus e o seu povo. Deus trará a tribulação sobre aqueles que atribularem o seu povo. Existe um repouso para o povo de Deus; um repouso do pecado e da tristeza. A certeza da recompensa futura é provada pela justiça de Deus. Pensar neste assunto deve ser terrível para os ímpios, mas sustenta o justo. A fé, com o seu olhar voltado para este grande dia, é parcialmente capacitada para compreender o livro da providência, que parece confuso para os incrédulos. O Senhor Jesus Cristo se manifestará do céu naquele dia. virá na glória e no poder do mundo do alto. A sua luz será penetrante e o seu poder será consumidor, para todos aqueles que naquele dia forem contados como palha. Esta manifestação será terrível para todos aqueles que não conhecem a Deus, especialmente para aqueles que. rebelam-se contra a revelação e não obedecem o Evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo. Este é o grande crime das multidões: o Evangelho é revelado e eles não lhe querem dar crédito, ou, se fingem crer, recusam-se a obedecê-lo. Está estabelecido que o ato de crer nas verdades do Evangelho tem, como finalidade, a obediência dos seus preceitos. Ainda que os pecadores possam ser tolerados por muito tempo, no final serão castigados. Fizeram a obra do pecado, e devem receber o


2 Tessalonicenses (Comentário Bíblico de Matthew Henry) 3 salário do pecado. Aqui Deus castiga os pecadores utilizando as criaturas como instrumento, mas no futuro haverá destruição por parte do TodoPoderoso; e quem conhece o poder da sua ira? Este será um dia de gozo para alguns, para aqueles que são santificados, que crêem e obedecem o Evangelho. O Senhor Jesus Cristo será glorificado e admirado pelos seus santos neste dia brilhante e bendito. Cristo será glorificado e admirado neles. A sua graça e o seu poder serão demonstrados quando se manifestar o que Ele adquiriu para aqueles que crêem no Senhor, e a obra que realizou neles e que lhes tem outorgado. Senhor, se a glória concedida aos teus santos será assim admirada, quanto mais tu serás admirado como aquEle que deu esta glória! A glória de tua justiça na condenação dos maus será admirada, porém, não como a glória de tua misericórdia na salvação dos crentes. Que santa admiração este fato provocará nos anjos adoradores, e transportará a teus santos admiradores com eterna admiração! O crente mais vil desfrutará além do que o coração mais dilatado poderia imaginar, enquanto estejamos aqui; Cristo será admirado em todos aqueles que crêem, até mesmo na pessoa do crente mais vil. Vv. 11,12. Os pensamentos de fé e aqueles que estão relacionados com a expectativa da Segunda vinda de Cristo devem levar-nos a orar mais a Deus por nós mesmos e pelo nosso próximo. Se há algo bom em nós, este fato deve-se à boa disposição de sua bondade, e, portanto, chama-se graça. Há muitos propósitos de graça e de boa vontade em Deus para com o seu povo, e o apóstolo ora pedindo que Deus complete neles a obra da fé com poder. Esta consiste em que pratiquem todas as boas obras. O poder de Deus não somente dá início, como também executa a obra da fé. Esta é a grande finalidade e desígnio da graça de nosso Deus e Senhor Jesus Cristo, que nos é dada a conhecer, e que trabalha em nós.


2 Tessalonicenses (Comentário Bíblico de Matthew Henry)

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2 Tessalonicenses 2 Versículos 1-4: Advertências contra o erro de pensarem que o tempo da vinda de Cristo já estava muito próximo. Primeiramente haveria uma apostasia geral da fé, e a manifestação do homem do pecado, o Anticristo; 5-12: A sua destruição e a daqueles que o obedecem; 13-17: A segurança dos tessalonicenses contra a apostasia; uma exortação à constância e a oração por eles. Vv. 1-4. Se surgirem erros entre os cristãos, deveremos corrigi-los; e os homens bons terão o cuidado de suprimir os erros que surgem por entenderem mal as suas palavras e atitudes. Temos um adversário astuto, que está vigiando para fazer o mal e fomentar erros, até em relação à interpretação das Palavras das Escrituras. Qualquer que seja a incerteza que tenhamos, ou quaisquer que sejam os erros que surjam a respeito da ocasião da vinda de Cristo, a sua própria vinda é iminente. Esta tem sido a fé e a esperança de todos os cristãos em todas as épocas da Igreja; esta foi a fé e a esperança dos santos do Antigo Testamento. Todos os crentes serão reunidos em Cristo para estarem com Ele, e para que sejam felizes em sua presença para sempre. Devemos crer firmemente na Segunda vinda de Cristo; os tessalonicenses estavam diante do perigo de questionar a verdade ou a certeza do próprio fato, por estarem equivocados quanto ao tempo. As falsas doutrinas são como os ventos que movem a água de um lado para outro, e que inquietam a mente dos homens que são tão instáveis quanto a água. Já é o bastante que nós saibamos que o nosso Senhor virá e levará todos os seus santos com Ele. Dá-se uma razão pela qual eles não deveriam esperar pela vinda de Cristo como se ela fosse imediata. Primeiramente deveria acontecer uma grande queda, que ocasionaria o levantamento do Anticristo, o homem do pecado. Já ocorreram grandes debates sobre quem ou o que se entende por este homem do pecado e filho da perdição. Ele não somente pratica o pecado, mas também promove e comanda o pecado e a maldade nos demais. É o filho da perdição porque a sua destruição está ordenada,


2 Tessalonicenses (Comentário Bíblico de Matthew Henry) 5 e é o instrumento para destruir muitos, de corpo e alma. Assim como Deus fez-se presente no antigo templo e ali o adoravam, agora está em sua Igreja e com ela, da mesma maneira o Anticristo aqui mencionado é um usurpador da autoridade de Deus sobre a Igreja cristã, e reivindica que lhe sejam prestadas honras divinas. Vv. 5-12. Algo serve como obstáculo ou detém o homem do pecado. Alguns supunham que fosse o poder do império romano, o que o apóstolo nem sequer mencionou de modo claro naquela época. A corrupção da doutrina e a adoração entraram gradativamente, e a usurpação do poder foi gradual; assim prevaleceu o mistério da iniqüidade. A superstição e a idolatria foram promovidas por uma pretensa devoção, e foram fomentadas ao extremo do fanatismo e da perseguição pelo falso zelo por Deus e por sua glória. Então, o mistério da iniqüidade estava somente começando; quando os apóstolos ainda estavam vivos, houve pessoas que fingiram ser zelosas por Cristo, mas que na realidade faziam oposição a Ele. A queda ou a ruína do estado anticristão já está decretada. A pura Palavra de Deus com o Espírito de Deus denunciarão este mistério da iniqüidade, e em seu devido momento será destruído pelo resplendor da vinda de Cristo. Falsificam-se sinais e prodígios, visões e milagres, mas são sinais falsos, que sustentam doutrinas falsas; fazem prodígios mentirosos ou somente milagres simulados para enganar as pessoas. As obras diabólicas que o estado anticristão tem sustentado são notórias. Paulo descreve as pessoas que são os seus súditos voluntários. O pecado destes é o seguinte: não amaram a verdade, e portanto, não lhe deram crédito; agradaram a si mesmos com noções falsas. Deus os deixa entregues a si mesmos, então é certo que em seguida venha o pecado, e os juízos espirituais aqui neste mundo, e os castigos eternos no porvir. Estas profecias cumpriram-se em grande medida, e confirmam a veracidade das Escrituras.


2 Tessalonicenses (Comentário Bíblico de Matthew Henry) 6 Esta passagem está perfeitamente de acordo com o sistema do papado, que prevalece na igreja romana e subordinada aos papas romanos. Ainda que o filho da perdição tenha sido revelado, ainda que tenha feito oposição e se exaltado acima de tudo o que se chama Deus, ou que é adorado, tenha falado e agido como se fosse um deus na terra, e tenha proclamado o seu orgulho insolente, respaldando as suas ilusões coto milagres mentirosos e toda a classe de fraudes, não foi completamente destruído pelo Senhor e pelo resplendor de sua vinda, porque ainda restam cumprir-se estas e outras profecias antes que chegue o fim. Vv. 13-15. Quando ouvimos sobre a apostasia de muitos, é um grande consolo e alegria que exista um remanescente que esteja de acordo com a eleição da graça que persevera e que perseverará. Devemos nos regozijar, especialmente se estivermos incluídos neste número. A preservação dos santos dele-se ao fato de que Deus os ama com um amor eterno, desde o princípio do mundo. O fim e os meios jamais devem se separar. A fé e a santificação devem estar unidas, como estão a santidade e a felicidade. A chamada exterior de Deus acontece por meio do Evangelho; e este se torna efetivo por meio da obra interior do Espírito. A crença na verdade leva os pecadores a confiarem em Cristo, e a amá-lo e a obedecê-lo; estão selados pelo Espírito Santo sobre os seus corações. Não temos qualquer prova confiável de que algo mais tenha sido entregue pelos apóstolos, além daquilo que encontramos contido nas Sagradas Escrituras. Apeguemo-nos firmemente às doutrinas que foram ensinadas pelos apóstolos, e rejeitemos tudo aquilo que for acrescentado a elas, e as vãs tradições. Vv. 16,17. Podemos e devemos dirigir as nossas orações não somente a Deus Pai por meio de nosso Senhor Jesus Cristo, mas também ao próprio Senhor Jesus Cristo. Devemos orar a Deus em seu nome, não somente como o seu Pai, mas também como nosso Pai nEle e por meio dEle. O amor de Deus em Cristo é o manancial e a fonte de todo o bem que possuímos ou que esperamos. Há boas razões para que recebamos


2 Tessalonicenses (Comentário Bíblico de Matthew Henry) 7 grandes bênçãos, porque os santos têm uma boa esperança por meio da graça. A graça e a misericórdia gratuitas de Deus são aquilo que eles esperam, e nas quais fundamentam as suas esperanças, e não em algum valor ou mérito próprio que possam ter. Quanto mais prazer tenhamos na Palavra, nas obras e nos caminhos de Deus, com mais certeza seremos preservados nestes. Porém, se vacilarmos na fé, e se tivermos uma mente duvidosa, vacilando e tropeçando em nosso dever, não será de estranhar se nos tornarmos alheios às alegrias da religião.

2 Tessalonicenses 3 Versículos 1-5: O apóstolo expressa a confiança que tem nos tessalonicenses, e ora por eles; 6-15: Encarrega-os de se apartarem daqueles que andam de modo desordenado, particularmente dos preguiçosos e dos intrusos; 16-18: Conclui com uma oração a favor deles, e com uma saudação. Vv. 1-5. Mesmo aqueles que estão muito afastados, ainda podem ser reunidos diante do trono da graça; e aqueles que não podem fazer e nem receber alguma outra bondade, podem deste modo fazer e receber uma bondade verdadeira e muito grande. Os inimigos da pregação do Evangelho e os que perseguem os pregadores fiéis são homens ímpios e irracionais. Muitos não crêem no Evangelho, e não é de maravilhar-se se não tiverem tranqüilidade e demonstrarem malícia nas ações que venham a empreender para resistir a este. O maior mal é aquele que provém do pecado, mas há outros males dos quais devemos ser preservados, e somos exortados a depender da graça de Deus. Uma vez que a promessa é feita, o cumprimento é garantido e certo. O apóstolo tinha confiança neles, mas fundamenta sua confiança em Deus; de outro modo, não pode haver confiança no homem. Ora a favor deles pedindo bênçãos espirituais. O nosso pecado e a nossa miséria é que depositamos os nossos afetos em objetos equivocados. Não há verdadeiro amor a Deus, aonde não há fé em Jesus Cristo. Se pela graça especial de Deus temos esta fé que multidões não


2 Tessalonicenses (Comentário Bíblico de Matthew Henry) 8 possuem, devemos orar fervorosamente para ser capacitados sem reservas, e obedecermos os seus mandamentos; e que o Espírito Santo possa dirigir os nossos corações ao amor de Deus e à paciência de Cristo. Vv. 6-15. Aqueles que receberam o Evangelho têm que viver de forma coerente com este. Aqueles que podem trabalhar, e não o fazem, não têm que manterem-se ociosos. O cristão não deve tolerar a preguiça, que consome aquilo que é capaz de dar ânimo àqueles que são trabalhadores, e para sustentar aos enfermos e aflitos. O trabalho em nossa vocação como homens, é um dever requerido por nossa chamada cristã. Alguns esperavam que seriam mantidos na ociosidade, e permitiam a si mesmos que tivessem um temperamento curioso e soberbo. Estes intrometiam-se nas preocupações alheias e causavam muitos problemas. É um grande erro e abuso da religião quando alguém faz desta um manto para ocultar a preguiça ou qualquer outro pecado. O servo que aguarda a qualquer momento a chegada de seu Senhor, deve estar trabalhando, conforme foi ordenado por seu Senhor. Se estivermos ociosos, o Diabo e o coração corrupto rapidamente nos darão algo para fazer. A mente do homem tem a tendência de ocupar-se; se esta não for empregada em fazer o bem, estará com toda a certeza fazendo o mal. Uma união excelente, embora rara, é quando estamos ativos em nossas próprias ocupações, mas tranqüilos em relação às ocupações das outras pessoas. Se alguém se recusa a trabalhar com tranqüilidade, a ponto de precisar ser censurado ou separado de suas companhias, devemos buscar o bem desta pessoa por meio de admoestações feitas com amor. O Senhor estará contigo, enquanto tu estiveres com Ele. Mantenha o teu caminho na presença dEle, e Ele te sustentará até o final. Jamais devemos nos render nem cansar em nosso trabalho. Haverá tempo suficiente para repousarmos quando chegarmos ao céu. Vv. 16-18. O apóstolo ora a favor dos tessalonicenses. Desejemos as mesmas bênçãos para nós e para os nossos amigos. A paz com Deus lhes é desejada sempre e em todas as coisas. Paz por todos os meios e


2 Tessalonicenses (Comentário Bíblico de Matthew Henry) 9 formas para que, ao desfrutar dos meios da graça, possam utilizar todos os métodos que sejam necessários para assegurarem a paz. Para sentirmo-nos seguros e felizes, não necessitamos nem podemos desejar algo melhor para nós e para os nossos amigos, do que ter por graça a presença de Deus conosco e com eles. Não importa aonde estejamos, se Deus estiver conosco; nem quem esteja ausente, se Deus estiver presente. Por meio da graça do Senhor Jesus, esperamos ter paz com Deus e desfrutarmos da presença dEle. Esta graça é tudo o que nos faz felizes; mesmo que a desejemos muito para outras pessoas, ela é suficiente para nós.


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