Ageu - N. Comentario

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AGEU Introdução Plano do livro

Capítulo 1 Capítulo 2

INTRODUÇÃO Ageu, o primeiro dos profetas da restauração, não tem história registrada sobre sua pessoa. Ele era "o embaixador do Senhor" (1.13) e seus testemunhos estão seguramente entesourados com seu divino Empregador. A mensagem, e não o mensageiro, era de importância primária. Deus, e não o seu profeta, domina a cena. I. DATA É impossível fixar com exatidão o período coberto pela vida de Ageu. Tem-se conjecturado que ele vira o templo de Salomão. Essa conjectura se baseia em 2.3 – "Quem há entre vós que, tendo ficado, viu esta casa na sua primeira glória?" Isso significaria que o profeta tinha pelo menos oitenta anos de idade quando sua mensagem foi transmitida. Porém, a linguagem do versículo, não apoiada por outras evidências, dificilmente poderá sustentar tal interpretação. É muito mais provável que ele nasceu no tempo e na terra do cativeiro. O período que apresenta maiores probabilidades, por conseguinte, seria a primeira metade do sexto século A. C. Sua mensagem, entretanto, está tão ligada com a história de seu tempo que ela pode ser definidamente fixada como tendo sido proferida em 520 A. C. Sua idade, então, pode ser apenas conjecturada, e só podemos inferir que Deus considerava isso sem importância. As datas, tão proeminentes na profecia, se referem, como as datas sempre se referem, a coisas passadas, porém, por trás delas obtemos um quadro


Ageu (Comentário da Bíblia) 2 bem focalizado sobre o caráter e os requerimentos independentes do tempo de Deus. II. AUTOR Jerônimo explica o nome Ageu, dizendo que significa "festivo" (derivado de haj, o "festivo" ou "exuberante"). Isso a não ser que a suposição de Reinke seja verdadeira, de que ele nasceu em algum dia festivo, sugeriria tanto que seus pais foram guiados divinamente, como que, sob as circunstâncias da época, uma forte fé da parte deles os tenha levado a escolher tal nome para seu filho. Parecem ter percebido que, embora ele semeasse entre lágrimas, haveria de colher com alegria. A profecia envolvida em seu nome, seja como for, foi cumprida, pois Ageu é um dos poucos profetas que teve o indizível prazer de ver amadurecerem os frutos de sua mensagem perante seus próprios olhos. Ficamos limitados inteiramente aos seus próprios escritos para poder fazer a estimativa do homem. Um par de referências, em Esdras, meramente se referem a ele como "Ageu, o profeta". Não há vôos poéticos de fantasia neste livro. Seu estilo chega a ser considerado por alguns, como deslustrado e prosaico. Porém, há certa concisão, franqueza e brevidade naquilo que ele tem para dizer. Essa brevidade tem levado alguns a considerarem que talvez tenhamos aqui sua mensagem em forma apenas condensada. Bem pode ser igualmente a verdade que essa característica, juntamente com as outras, nos forneça provas de que o profeta era um mensageiro simples, franco e direto. O homem, entretanto, estava engolfado em sua obra. Ele se mostra, caracteristicamente, profeta de Deus, falando em lugar de Deus e estabelecendo uma espécie de serviço postal entre Deus e Seu povo.


Ageu (Comentário da Bíblia) III. OS TEMPOS

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Ageu tinha uma tarefa claramente definida a realizar. Sua tarefa divergia e, em alguns aspectos, era mais estritamente limitada, da tarefa de qualquer dos profetas anteriores ou de seu contemporâneo, Zacarias. As circunstâncias eram diferentes daquelas dos dias anteriores ao cativeiro. Quando os profetas mais antigos entregavam sua mensagem, a casa do Senhor estava presente com toda a sua glória exterior, uma honrosa herança do passado. As observâncias cerimoniais eram rigidamente cumpridas, tanto quanto diz respeito às formalidades externas. Tão meticulosamente observadas eram elas, efetivamente, que afinal o Todo-poderoso ficou "cansado" daquelas rígidas formalidades mortas. Quando a religião do povo assim se transformava em joio, este olhava com auto-satisfação e com ilusório orgulho para os magnificentes edifícios e diziam: "Templo do Senhor, templo do Senhor, templo do Senhor é este" (Jr 7.4). O apelo dos profetas, por conseguinte, era inspirado pelo Espírito e, algumas vezes, era um grito angustioso para que o povo apreciasse devidamente os valores espirituais e agisse de conformidade com sua religião transmitida por Deus. Pois o povo dava importância primária às coisas materiais e formais em suas vidas. (Ver Apêndice I a Reis, pág. 391, "A Religião de Israel no Período da Monarquia".) Agora tais edificações estavam em ruínas, e o pêndulo se tinha inclinado para o outro lado. Nem ao menos havia interesse suficiente nas coisas externas para impelir o povo a reconstruir o templo. IV. A MENSAGEM A tarefa especializada e dada por Deus a Ageu era a de galvanizar o povo em ação, num novo esforço, nessa direção. Os argumentos derivados do passado ou do futuro, eram empregados por ele e focalizados sobre essa tarefa.


Ageu (Comentário da Bíblia) 4 Contemporânea e complementar da obra de Ageu era a tarefa de Zacarias. O próprio zelo e entusiasmo de Ageu, pela reconstrução material da casa de Deus, poderia tender a fazer o povo desviar seus pensamentos do Deus da casa e da glória do Messias vindouro. Certamente havia também espaço para a mensagem de Zacarias. Entretanto, estaríamos sendo muito injustos para com Ageu se considerássemos que as coisas materiais eram as únicas que o preocupavam, como alguns afirmam, de que ele estava interessado apenas em "tijolos e massa". O cirurgião que se especializa em doenças dos pés não e indiferente para com o fato que o coração e o sistema circulatório são vitais para a saúde do corpo inteiro e essenciais para o sucesso de seus próprios esforços para tratamento de um membro particular. Semelhantemente, Ageu não se esquecia que a religião vital, em sua inteireza, estava por detrás da obra especial do momento; e, nas revelações que lhe foram concedidas por Deus, havia motivos suficientes para justificá-lo, na companhia de todos os seus colegas profetas, a buscar "qual a ocasião ou quais as circunstâncias oportunas, indicadas pelo Espírito de Cristo, que neles estava". Ele via o dia de Cristo à distância, e com isso, alegrou-se. Ele via a restauração do templo como um elo na grande cadeia dos acontecimentos orientados por Deus. Ele via em Zorobabel, seu príncipe, uma cadeia viva na corrente humana da semente de Davi, que continuaria sem interrupções até a vinda do Messias (Mt 1.12 e segs.). Ele via a glória de um reino para o qual, um dia, as nações fluiriam, como "as águas cobrem o mar". O trabalho para o qual Deus chamou ambos os governantes e o povo de Judá, por meio de Ageu, era o reinício de uma tarefa não terminada (ver Ed 4). Os 50.000 exilados, que tinham aproveitado o decreto de Ciro e haviam retornado da Babilônia para sua pátria de origem, tinham iniciado a reconstrução do templo. Essa obra, entretanto, havia sido interrompida, devido, pelo menos ostensivamente, à feroz


Ageu (Comentário da Bíblia) 5 oposição e amarga oposição da parte do "povo que habitava a terra", aqueles colonos que se haviam estabelecido ali durante o período do exílio dos judeus, a fim de preencher os vazios de uma população dizimada. O verdadeiro motivo dessa interrupção, entretanto, foi a letargia do povo de Deus. Por cerca de dezesseis anos a casa do Senhor jazia "desolada", e a melancolia da cena era intensificada pelos sinais da tentativa de reconstrução que abortara. Subitamente àquele povo letárgico, Ageu aparece, como um mensageiro despachado da sede do comandante supremo e dramaticamente apresentou sua mensagem. Incidentalmente, o registro das providências de Deus para com Seu povo revela para nós a chave para a solução do problema de alimentação no mundo. Condensada nas palavras de Cristo, poderíamos ler: "Buscai, pois, em primeiro lugar, o seu reino e a sua justiça, e todas estas cousas vos serão acrescentadas" (Mt 6.33). PLANO DO LIVRO I. UMA MENSAGEM PARA PRÍNCIPE E SACERDOTE--1.1-2 II. UMA MENSAGEM PARA O POVO--1.3-12 III. UMA MENSAGEM DE ENCORAJAMENTO A TODOS -- 1.13-14 VI. UMA MENSAGEM PARA O PRÍNCIPE, O SACERDOTE E O POVO -- 2.1-9 V. UM APELO A TODOS PROFUNDAMENTE -- 2.10-19

PARA

QUE

MEDITEM

VI. UMA MENSAGEM PESSOAL PARA O PRÍNCIPE, COMO SUCESSOR DE DAVI -- 2.20-23


Ageu (Comentário da Bíblia) COMENTÁRIO

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I. UMA MENSAGEM PARA PRÍNCIPE E SACERDOTE - 1.1-2

Ageu 1 Essa mensagem veio no segundo ano de Dario (1). Esse foi Dario Histaspes. A data, portanto, é 520 A. C. O ano se adapta aos acontecimentos na história. O mês e o dia mencionado servem para ponto de comparação com as datas que se seguem e assim fica marcado o progresso da obra. Zorobabel era, então, príncipe de Judá (1). A palavra traduzida aqui como príncipe (pehãh) é uma palavra estrangeira que serve de lembrança que Judá estava em posição de subserviência a um poder estrangeiro. Isso, porém, não diminuía sua responsabilidade para com Deus. O fato que a mensagem foi dirigida a Zorobabel, conjuntamente com Josué, o sumo sacerdote, mostra que o governo civil ocupava seu próprio departamento, como também o líder eclesiástico, os quais tinham responsabilidade pelo bem estar do reino de Deus. Há uma nota de repreensão na frase: Este povo (2). Aqui Deus não disse "Meu povo". O pecado aliena. O povo estava a dizer: Não veio ainda o tempo (2). Em apoio dessa perene desculpa, possivelmente um argumento ou diversos, ou uma combinação de diversos argumentos, eram empregados. Era o tempo da colheita e por isso o povo estava por demais atarefado. As colheitas eram magras e, portanto, os tempos eram difíceis. O trabalho havia sido interrompido desde dezesseis anos passados devido à feroz oposição e perseguição do "povo que habitava na terra e essa oposição certamente rugiria novamente se qualquer tentativa fosse feita para reiniciar a obra de reconstrução. Contando desde a destruição final de Jerusalém (586 A. C.) os profetizados setenta anos de cativeiro (Jr 25.11-12) ainda não estavam totalmente completos. O povo estava, portanto, aguardando pelo tempo


Ageu (Comentário da Bíblia) 7 marcado por Deus. E assim o povo, emprestando um ar de santidade às suas desculpas, aliviava um tanto suas consciências pesadas. A mensagem que segue, dirigida diretamente ao povo (10), sugere claramente que o verdadeiro impedimento jazia na letargia da nação. É o caráter – e não a exigüidade de tempo, nem tempos dificultosos e nem mesmo a oposição de adversários – que impede o progresso do trabalho de Deus. Não há tempo apropriado quando os homens estão desinteressados. Qualquer tempo é apropriado para aqueles que estão em sintonia com os desejos de Deus. II. UMA MENSAGEM PARA O POVO - 1.3-12 Este oráculo tem a mesma data que a mensagem que acabara de ser transmitida aos líderes da nação. Deus responde à objeção levantada, fazendo urna pergunta: É para vós tempo...? (4). Algumas versões traduzem: "para vós mesmos é tempo...?", isto é, para um povo como vós e com uma história como a vossa? Há um tom de repreensão nessa maneira de Deus dirigir-se a eles. O povo não é descrito aqui, quando deveria ficar manifesto que eram o povo de Deus. Note-se o contraste entre vossas essas estucadas e esta casa há de ficar deserta? (4). Uma casa "estucada" era casa confortável e belamente adornada com madeira. Visto que a madeira era rara em Judá, casas estucadas eram um sinal de luxo e gastos. Formavam um vívido contraste com os alicerces de pedra da casa do Senhor, ainda por terminar e expostos aos elementos, durante os últimos dezesseis anos, desde que terminara em fracasso a última tentativa de reconstruir o templo. Uma casa, em distinção a uma tenda como moradia, ou a um altar isolado para o local de adoração, denota uma habitação permanente... Casas estucadas, em contraste com a casa de Deus que jazia deserta, portanto, implicava que o povo desejava permanecer na terra em


Ageu (Comentário da Bíblia) 8 meio ao luxo, mas que não tinha preocupação alguma para que Deus, a Quem deviam o fato de haver retornado do exílio (Sl 126), habitasse no meio deles. Aplicai os vossos corações aos vossos caminhos (5,7). Este é uma espécie de estribilho por toda a profecia. Na psicologia dos hebreus, "coração" significa pensamento ou atenção. Os fatos falariam para eles se ao menos quisessem ouvir e dar atenção. Seus esforços em direção à prosperidade adquirida para si mesmos tinham sido um fracasso. Ver o versículo 6. Todo dom parecia não ser abençoado. Havia pobreza mesmo no meio da abundância. Os salários eram ganhos, mas quem os ganhava não colhia mais prazer do que se tais salários fossem derramados num saco furado (6). A futilidade de tudo aquilo era de despedaçar o coração! "Ponderai nisto", dizia Deus. "Perguntai a vós mesmos: "Não há um motivo para tudo isso?" e esse motivo não é vossa própria maneira de vida?" Subi ao monte (8), vem a ordem. Isso dificilmente espera pelo resultado lógico da meditação por parte do povo. Trata-se de uma ordem que exige obediência, independente do fato se o resultado de tal ponderação os levasse ou não a ligar sua pobreza com seu esquecimento para com Deus. Deus queria que fizessem Sua vontade, segundo Ele a tinha revelado, e isso por motivo de amor e de fé nobre, e não meramente como uma condição de prosperidade material. "Tentai a grande experiência", dizia Deus. "Fazei Minha vontade. Buscai em primeiro lugar a glória de Minha casa. Então vereis, por experiência real, como as fortunas destroçadas podem ser transformadas em verdadeira prosperidade" (ver 2.18 e segs. e cf. Jo 7.17). Comparar vós (9) com "eu" (11; subentendido). Deus não permitiria que o povo tirasse falsas conclusões. Ele estabeleceu os fatos claramente. O povo tinha feito esforços estrênuos, mas haviam-se esquecido que Deus tinha a última palavra no que tangia à prosperidade da nação.


Ageu (Comentário da Bíblia) 9 Eu lhe assolei (9); fiz vir a seca (11). Nada daquilo aconteceu por acaso, mas Deus é Quem controla supremamente a provisão de alimentos. Logo se seguiram resultados. Todas as três classes, às quais se dirigiu o profeta, obedeceram sua mensagem. Nessa obediência, reconheciam que Deus era seu Senhor supremo, que Ageu era profeta do Senhor e que eram muito razoáveis as exigências feitas. Seu (deles) Deus (12). Note-se a volta do pronome possessivo, em que fica subentendida uma relação mais íntima. III. UMA MENSAGEM DE ENCORAJAMENTO A TODOS - 1.13-14 Então Ageu... falou ao povo, conforme a mensagem do Senhor (13). Esta é uma descrição diferente quanto ao método de entrega, mas a mensagem veio da mesma fonte. Poder celeste está envolvido nas palavras. Eu sou convosco (13). Esse é o fato que tem animado homens a praticar os grandes feitos do mundo. Cf. Moisés (Êx 3.12; 23.14), Gideão (Jz 6.16), Jeremias (Jr 1.8). Debaixo dessa mesma promessa os soldados de Cristo têm combatido e combaterão até o fim (Mt 28.20). Evidências sobre Sua presença logo foram sentidas: O Senhor levantou (14). Deus opera por meio de instrumentos, mas o trabalho é Seu. Ele trabalha em nós como também juntamente conosco. Não somos apenas cooperadores, mas obreiros capacitados por Deus em Seu reino. Com que alegria não deve o profeta ter escrito o versículo 15! Uma planta maravilhosa para levantamento do edifício havia não apenas sido concebida, mas também posta em vigor em um par de dúzia de dias!

Ageu 2 IV. UMA MENSAGEM PARA O PRÍNCIPE, O SACERDOTE E O POVO 2.1-9


Ageu (Comentário da Bíblia) 10 Há um certo encanto atraente acerca da ocasião desta mensagem. Foi entregue no último dia da festa dos tabernáculos (cf. Lv 23.34). Esse era, usualmente, um festival de alegria e ações de graças por uma feliz colheita. Naquele ano, porém, a ceifa fora pobre. O povo estava desanimado. Os homens idosos, ao olharem para os resultados do trabalho de um mês, no templo, inclinavam-se por meditar sobre suas memórias, comparando as presentes condições com as glórias do passado. Contudo, agora havia menor número desses homens idosos, que lamentassem, do que quando os alicerces tinham sido colocados pela primeira vez (Ed 3.12-13), ainda que sua tristeza não fosse menos intensa. O pessimismo dos homens idosos, influiu na moral dos homens mais jovens. É em meio a essa melancolia que vem a mensagem de Deus a fim de servir de esteio para seus espíritos desanimados mediante uma renovada garantia de Sua presença no meio deles (4-5; cf. 1.13), que inclui a premissa óbvia que, onde Ele se encontra, as dificuldades não podem ser levadas em consideração. Quem... tendo ficado...? (3), pergunta o profeta. O "período permitido" da existência humana estava quase chegando ao fim, desde que o templo fora destruído. Poucos, dentre os vivos, tinham-no visto antes de sua destruição. Como nada em vossos olhos (3). A comparação do novo com o antigo templo, quase certamente levaria a uma estimativa errada, visto que o homem de oitenta anos não enxerga com os mesmos olhos o que viu como criança de doze; a obra presente estava terminada apenas parcialmente; e a verdadeira glória de qualquer casa de Deus não depende exclusivamente de sua estrutura ornamentada. Glória e resplendor não são termos sinônimos. A glória autêntica do templo dependia do que ela era – "Minha casa" – e não em sua aparência. O mandamento, esforçai-vos (4), foi o mesmo, para todas as classes. Suas tarefas talvez diferissem, mas o espírito que devia animar deveria ser o mesmo para todos – príncipe, sacerdote e povo. Há uma certa praticabilidade rude nas declarações do profeta. Breves, mas insistentes são as suas exortações. Esforçai-vos... trabalhai


Ageu (Comentário da Bíblia) 11 (4). Cf. Js 1.6. Em íntima conexão com o mandamento acima temos a reiterada promessa da presença de Deus. Porque eu sou convosco (4). Isso não servia de desculpa para a ociosidade, mas antes, era um incentivo para a atividade, bem como a única garantia para o sucesso dos esforços de todas as classes. A palavra que concertei convosco... o meu Espírito habitava (5), ou "habita". A adição das palavras "meu Espírito habitava" ou "habita", fornece o sentido, embora o estilo obscuro do original seja, talvez, mais impressionante. A presença de Deus com Seu povo não era o resultado de uma nova promessa, mas, sim, o cumprimento da antiga aliança da parte do Deus que nunca muda e que nunca deixa de observar Sua palavra. Quando saístes de Egito (5). Essa afirmação parece historicamente inexata. O povo que saíra literalmente do Egito, debaixo do pacto, já havia morrido. Muitas gerações tinham nascido e falecido desde os dias em que os israelitas foram emancipados do Egito. Deus, entretanto, é o Deus que "guarda concerto... até mil gerações. Os indivíduos passam, mas a nação permanece. Os pactos nacionais não podem caducar com a idade. Esse pacto, feito com Israel, nos dias em que foram livrados do Egito, era considerado pelo Senhor como ainda em vigor nos dias de Ageu. É como se Deus tivesse dito: "Ainda estou convosco, pronto para cumprir Minha parte no contrato. Estais prontos para cumprir a vossa?" (Ver Êx 19.5-6). Aqui há um apelo latente para que considerassem seus caminhos. Que conexão haveria entre o fato de haverem esquecido o concerto e seu país totalmente arruinado, com sua falta de prosperidade material (1.6)? Por que Babilônia os rasgava, afinal de contas? O motivo disso tudo não é que haviam sido infiéis para com a aliança, e por essa causa haviam perdido a glória que poderiam possuir? Uma pergunta perscrutadora para indivíduos ou nações, sempre é: Quão fiel tenho sido eu para com meu pacto com Deus? A infidelidade nunca se encontra de Seu lado. "Estou convosco segundo a palavra com que Me pactuei convosco". "Considerai vossos caminhos".


Ageu (Comentário da Bíblia) 12 Ainda uma vez, daqui a pouco (6). "Uma vez mais, e imediatamente". Apesar de que as opiniões diferem quanto aos acontecimentos referidos neste contexto, é patente o fato que Deus reivindica controle supremo entre todas as nações, e emprega as "agitações" para o avanço de Seu próprio reino. Cf. as agitações dos reinos da Pérsia, Grécia e Roma, antes do advento de Cristo. Uma frase que tem ficado em nosso vocabulário religioso é digna de atenção especial – o Desejado de todas as nações (7). Por muito que os corações, especialmente os corações daqueles que têm encontrado Aquele que é tudo quanto desejam, gostariam de seguir aqui os antigos expositores judeus, e nessas palavras compreender uma referência pessoal ao Messias, e por maior que fosse a verdade assim ensinada, a dificuldade de traduzir essas palavras com esse sentido parece insuperável. Embora o substantivo seja singular, o verbo (bau, virão) está no plural. A Septuaginta traduz "virão as coisas escolhidas de todas as nações", ou, talvez, "as nações escolhidas de todas as nações". A construção da sentença sugere que esse acontecimento não meramente se seguirá à agitação das nações, mas sim, que é o resultado dessa agitação ou tremor. Apesar de que tais "agitações" tivessem de ser precursoras e acompanhantes da vinda do Messias, dificilmente poderiam ser consideradas como a causa dessa vinda. A declaração do versículo 8 parece sugerir que o influxo será a prata e o ouro que, embora se encontrem nas mãos das nações, não obstante estarão sob o controle de Deus e serão trazidos quando e como Ele o desejar (cf. Ed 6.8-10). Isso assegurará a glória desta última casa (9) ou "a glória final desta casa", como dizem algumas versões. "Casa", aqui, é o templo de Deus, quer o construído por Salomão ou reconstruído por Zorobabel ou por Herodes. Ele era "minha casa", mesmo quando jazia "deserta". A glória final, pois, excederá até mesmo a do edifício primitivo. Neste lugar darei a paz (9), isto é, os queixosos do versículo 3 seriam silenciados. A glória primária não consiste de ouro, de prata e de pedras lavradas. Pois tanto o coração como os olhos encontrarão prazer. A


Ageu (Comentário da Bíblia) 13 profundíssima necessidade do homem seria satisfeita -- paz. Neste lugar é, antes de tudo, Jerusalém, o lugar onde permanece a casa de Deus. Porém, a visão é ampliada para nós de hoje em dia. O Príncipe da Paz já veio. Por Sua autoridade sabemos que "nem neste monte, nem em Jerusalém adorareis". O templo espiritual de Deus está em qualquer lugar, mas, não obstante, ali a paz está habitando (Ef 2.16 e segs.). É digno de nota como esta seção ilustra o método de Deus para animar o que está sendo provado ou está desanimado, usando a promessa de melhores condições futuras. Seu próprio Filho suportou a cruz "em troca da alegria que lhe estava proposta" (Hb 12.2). Cf. Gn 3.15; 12.2; Jo 14.1. V. UM APELO A TODOS PROFUNDAMENTE - 2.10-19

PARA

QUE

MEDITEM

Dois meses se haviam passado desde a entrega da última mensagem. Enquanto isso, segundo podemos supor, o trabalho de reconstrução prosseguia e o povo era estimulado por uma nova voz que cooperava com a de Ageu, em seu apelo para que voltassem a Deus. Zacarias, por essa altura, já tinha lançado também seu apelo (Zc 1.1,3). Somente um novo amor a Deus impeliria o povo a um novo zelo na edificação de Sua casa. Os versículos 11-14 formam um pano de fundo para seus pensamentos, quando agora são solicitados a "considerar" seu caminho. Ver os versículos 15,18. Agora teriam de considerar sua vereda futura e não a passada. Pergunta agora aos sacerdotes (11). Dirige-te à fonte de autoridade apropriada. Certifica-te sobre as premissas, antes de tirares conclusões. Deus estava disposto a arrazoar com Seu povo. Cf. Is 1.18. Os fatos aduzidos foram tirados de princípios bem conhecidos e estabelecidos na lei. Juntamente com Paulo, poderíamos talvez dizer: "Não vos ensina a própria natureza?" Sabemos que um toque daquilo que é poluído contamina o que é puro. Não obstante, um toque do que é puro, não pode purificar o contaminado (Lv 5.2).


Ageu (Comentário da Bíblia) 14 Assim é este povo (14). Note-se, outra vez, a separação dos contaminados – não "meu povo". O povo havia sido poluído pela desobediência e por sua letargia em reconstruir o templo. Por conseguinte, tudo quanto tocava ficava poluído e, conseqüentemente a bênção de Deus fora suspensa de seus esforços e possessões (ver versículos 16-17). Nenhuma ação boa pode merecer a suspensão da maldição; no entanto, tal é a maravilhosa graça de Deus e tal é Sua admirável recompensa para com aqueles que observam os Seus mandamentos, de Deus, começando mesmo no próprio dia em que lançaram os alicerces da casa do Senhor. O profeta pergunta: Há ainda semente no celeiro? (19). Não foi meramente mediante antecipação inteligente, baseada em sinais favoráveis de um ano bom, que Ageu foi capaz de predizer uma colheita abundante. Antes de a semente ser semeada ele já predizia boa colheita. A abundância da colheita do ano seguinte muito dependia das chuvas do nono mês em diante. "Não considereis a boa colheita mera coincidência", pleiteava Deus por intermédio de Seu profeta. "Marcai bem a data exata da alteração de vossas condições. Considerai que... desde este dia vos abençoarei" (19). VI. UMA MENSAGEM PESSOAL PARA O PRÍNCIPE COMO SUCESSOR DE DAVI - 2.20-23 Por duas vezes, no mesmo dia, Deus enviou recado por Seu profeta (cf. versículo 10). Há a urgência do amor por trás desse recado repetido. Esta segunda mensagem do vigésimo quarto dia do nono mês trazia em si todo o otimismo do Deus da esperança e a confiança do Deus do poder. Nem o céu nem a terra podem resistir-Lhe. Por trás de todos os levantes acha-se a Sua mão. Farei tremer dizia Deus (21). Lit., "estou tremendo". Trata-se de um processo presente e contínuo. As convulsões do império persa, por exemplo, nos dias de Dario, redundaram em vantagem para os judeus.


Ageu (Comentário da Bíblia) 15 Dario estava ansioso para conciliar os judeus como súditos que não se haviam rebelado e, igualmente, para seguir a orientação política de Ciro. Portanto, ele confirmou o edito de Ciro de que o templo deveria ser reconstruído. Porém, a profecia se alarga indefinidamente. Contempla os reinos das nações (22). Ageu recebeu uma visão sobre reinos em decadência, enquanto o reino de Deus governava sobre todos eles. As coisas que Deus declara que faria chamam-nos a atenção. Derrubarei... destruirei (22). Novamente, te tomarei... te farei (23). Por detrás dessas afirmações temos a calma certeza da onipotência. Não mediante interferência direta, mas por meio do processo dos acontecimentos é cumprido o plano de Deus: pela espada do seu irmão (22). Não obstante, não há contradição entre esse fato e o fato de Deus dizer "farei", que aparece na parte anterior do versículo. "Verdadeiramente tu és o Deus que te ocultas". Ele opera por intermédio de outros, mas é Ele Quem opera. A Zorobabel foi transmitida uma linda promessa, como um anel de selar (23). O anel de selar era um objeto muito precioso aos olhos dos orientais. Era, igualmente, sinal de autoridade. Há beleza no emprego deste símbolo, em conexão com a prometida restauração de Zorobabel ao trono, como descendente de Davi. A rejeição de Jeconias tinha sido dada a conhecer por Jeremias, por meio destas palavras: "Vivo eu, diz o Senhor, que ainda que Jeconias, filho de Jeoaquim, rei de Judá, fosse o selo do anel da minha mão direita, eu dali te arrancaria" (Jr 22.24). Por conseguinte, a promessa tem o sentido seguinte: Considerarte-ei preciosíssimo e dar-te-ei uma posição de grande autoridade. Aqui ficam implicadas tanto a preservação como a preferência. E ele devia tudo isso não a seu próprio mérito, mas sim, à escolha de Deus: te escolhi (23). Assim como Abraão, Davi e Salomão foram selecionados, semelhantemente Zorobabel ficou pertencendo à nobre sucessão dos escolhidos, em cuja "semente" as promessas encontraram seu mais excelente cumprimento (Mt 1.12-13). Pois eis que Alguém maior que


Ageu (Comentário da Bíblia) 16 Zorobabel acha-se aqui. No Messias a visão é completada. A respeito dAquele que se assenta para todo o sempre no trono de Davi é dito: "Este será grande e será chamado Filho do Altíssimo; Deus, o Senhor, lhe dará o trono de Davi, seu pai; ele reinará para sempre sobre a casa de Jacó, e o seu reinado não terá fim" (Lc 1.32-33). Deus o escolheu como "anel de selar". J. McIlmoyle.


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