2 TIMÓTEO Introdução Plano do livro Capítulo 1 Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
INTRODUÇÃO I. AUTORIA Em contraste com a Epístola aos Hebreus, que não traz no texto nenhuma indicação clara do seu autor, as três epístolas (1 e 2 Timóteo, Tito) declaram abertamente terem sido escritas pelo apóstolo Paulo. Há evidência externa, primitiva e bastante forte, em apoio disto, não havendo evidência igual contra esse fato. A incerteza de hoje em dia sobre este ponto deve-se inteiramente a considerações internas e teóricas: estas considerações são de pouco proveito, visto não levarem a uma conclusão e apenas criarem hesitação e desconfiança. Embora o seu tema e, ainda mais, o seu vocabulário possam usarse em argumento contra a possibilidade da autoria de Paulo, nenhum desses raciocínios é decisivo. Muito ainda se pode dizer sobre o outro lado da questão, e muitos eruditos de responsabilidade têm ainda aceitado a autoria paulina. Parece-nos, pois, mais prudente que façamos o mesmo, sem tentar dizer, pormenorizadamente, tudo quanto pode ser dito de ambos os lados; tal discussão não é a finalidade precípua deste comentário. As próprias epístolas não somente endossam esta atitude, como também exortam com instância que não nos demos a debates que não produzem efeitos satisfatórios, e que não somente não trazem benefícios positivos, como podem servir para minar em alguns a sua fé. (Ver 1Tm 1.4; 6.20-21; 2Tm 2.14-23; Tt 3.9). Tais epístolas apresentam de igual modo, incidentalmente, muitos traços pessoais que assentam em Paulo e
2 Timóteo (Novo Comentário da Bíblia) 2 se apropriam às suas circunstâncias, de modo que não podem deixar de ser genuínas. Sobretudo, documentos que se apresentam como canônicos, mas que não o são, cedo deixarão de ser considerados como tais, como registros divinamente inspirados do ensino apostólico; e, por conseqüência, quem quer que alimente tais dúvidas sobre estas epístolas faria melhor se deixasse de fazer comentários pormenorizados em torno da permanente significação cristã das mesmas. Seria melhor que omitissem tais documentos do seu Cânon atuante das Escrituras, até que as dúvidas se lhes dissipassem e eles estivessem mais bem persuadidos do assunto. Quanto a nós, aceitamo-las como paulinas, e desejamos com o auxílio de Deus procurar entendê-las deste modo. II. DATA Concorda-se geralmente ser impossível colocar estas epístolas nos limites da vida de Paulo, segundo a conhecemos dos Atos dos Apóstolos. Para que tenham explicação, elas requerem a aceitação da hipótese, da qual com efeito fornecem a evidência mais decisiva, de que Paulo foi solto da prisão referida no fim dos Atos (cf. Fp 2.24; Fm 22); teria permissão de empreender, por certo tempo, viagens e intenso trabalho missionário, antes de ser outra vez preso e levado a Roma, para agora enfrentar o martírio. A falta de mais informações torna impossível fixar com certeza, como alguns têm procurado fazer, a cronologia e a ordem dos acontecimentos desses últimos anos do apóstolo. É claro que estas epístolas foram escritas entre mais ou menos 62 A. D. e a data do martírio de Paulo, que deve ter ocorrido entre 65 e 68 A. D. III. OCASIÃO E PROPÓSITO Aqui podemos falar com maior certeza, à vista da plena evidência e das inconfundíveis implicações destas mesmas epístolas. São
2 Timóteo (Novo Comentário da Bíblia) 3 claramente cartas pessoais, escritas pelo apóstolo Paulo aos seus íntimos cooperadores Timóteo e Tito, a respeito da responsabilidade da supervisão que eles tinham de exercer, particularmente nas igrejas de Éfeso (possivelmente da província da Ásia também) e de Creta. Estas epístolas têm muitas características em comum e, por conseguinte bem podem ser consideradas em conjunto. O primeiro interesse delas é a preservação e propagação da verdade do evangelho, e a promoção e manutenção de uma salutar conduta cristã por parte dos que o pregavam, e dos que criam. Tanto maior interesse Paulo tem por uma atividade oportuna da parte dos seus cooperadores quanto sabe que a oportunidade dele próprio, de dar testemunho, está passando, e que o futuro da obra vai depender da nova geração. E mais se preocupa por saber das ameaças já prevalecentes nos seus dias, de falsas doutrinas e suas maléficas conseqüências morais em caracteres pervertidos e conduta depravada. Exortações visando à autodisciplina, à fidelidade na pregação e no ensino da Palavra de Deus, à necessidade de ordem condigna no lar e na igreja, à importância de confiar o ministério e a superintendência das congregações somente a pessoas de qualidades morais provadas e firmes, é o de que tratam estas epístolas. O que importa é que o evangelho da graça salvadora seja recebido em sua plenitude, e fielmente comunicado a outros em sua integridade. Isto só se pode dar se aqueles que foram chamados para administrálo forem achados fiéis e encontrarem outros a quem transmitir seu sagrado depósito. Porquanto a sucessão apostólica, que é necessário preservar, é a guardiã da mensagem a ser proclamada, e do ensino a ser transmitido. Semelhantemente, isto só se dará se aqueles que forem trazidos para o domínio do evangelho e seu ensino, corresponderem cordial e sinceramente ao Senhor da graça e se entregarem à prática das boas obras. Porque a fé cedo se corromperá e perderá, se não for mantida com
2 Timóteo (Novo Comentário da Bíblia) 4 uma boa consciência para com Deus, e a menos que ela opere por amor e boa vontade na prática para com os homens. IV. AS FALSAS DOUTRINAS Os documentos neotestamentários revelam, em muitos lugares, que as primeiras congregações de crentes em Jesus, como Cristo e Senhor, cedo se viram perturbadas pelo aparecimento, no seio delas, de falsos mestres. Há, igualmente, uma percepção profética (ver 1Tm 4.1; 2Tm 3.1) de que essa espécie de mal recrudescerá cada vez mais à medida que esta dispensação avançar para o seu fim. Pela linguagem pitoresca da parábola de Cristo, sabia-se que na igreja visível o joio haveria de surgir em meio ao trigo, e que ambos amadureceriam e se desenvolveriam amplamente, até ocorrer a inevitável separação, rejeição e colheita do dia do juízo. Estas epístolas particulares deixam claro que esse mal irromperá de dentro da igreja professa, quando os homens cessarem de prestar à verdade uma lealdade cordial, obediência submissa e consciente, voltando-se eles a inquirições que só geram presunção e desassossego espiritual, antes que fé e firmeza na piedade. Tais questões são em si mesmas tolas e sem proveito; e enredam aqueles que as procuram com viva irreverência. As lucubrações deles conduzem alguns à pretensão arrogante de uma falsa ciência, no fundamento da qual se opõem à verdade e abandonam a atitude simples de fé na mesma. E assim se tornam de mente corrompida, faltos de entendimento, morbidamente absorvidos numa espécie de investigação e controvérsia que só produz contenda. Ver 1Tm 1.4-7,19; 3.9; 6.3,5,20-21; 2Tm 1.13; 2.16,18,23; 3.8; Tt 1.10-11,14,16; 3.9-11. É característico de tais homens substituírem a Palavra e o propósito revelado de Deus pelas fantasias e mandamentos de homens. Por exemplo, requerem a renúncia do casamento e a abstinência de certos alimentos, quando Deus, que criou todas as coisas, criou também
2 Timóteo (Novo Comentário da Bíblia) 5 tais alimentos para serem usados no espírito de oração agradecida (1Tm 4.3-5). Ora, por pensarem que o corpo humano é por demais material e, pois, bastante mau para ter um destino eterno na ressurreição, asseveram que esta ressurreição de que trata a fé cristã é um avivamento espiritual que já ocorreu (2Tm 2.18). Pior ainda, tais pessoas não só se tornam insensíveis à verdade, como no fim se tornarão vítimas de espíritos enganadores e suas doutrinas perversas (1Tm 4.1-2). Semelhante mal propaga-se danosamente como moléstia maligna, e requer nada menos do que completo afastamento dele (2Tm 2.16-17). Esses que resistem à verdade estão além do alcance da redenção (Tt 1.15-16). No interesse do bem-estar espiritual dos verdadeiros crentes, os tais devem ser veementemente repreendidos e, se recusam ouvir, devem ser rejeitados de todo (Tt 3.10-11). Por outro lado, os que foram desencaminhados por eles e se deixaram prender pelas astúcias do diabo, necessitam de ser tratados com simpatia e paciência, a fim de serem recuperados para o verdadeiro serviço do Senhor (2Tm 2.24-26). Num e noutro caso não adiantam discussões cara a cara. A melhor resposta e antídoto para tal situação é uma exposição positiva da verdade. V. DESENVOLVIMENTO DE FORMAS DE DOUTRINA CRISTÃ E DE ORDEM ECLESIÁSTICA Nestas epístolas há sinais significativos de um processo de desenvolvimento. O conteúdo da fé condensa-se claramente em breves sumários confessionais, muitas vezes de tal modo compostos que apresentam um desafio moral. Assim é que encontramos numerosas «declarações fiéis» (1Tm 1.15-4.9; 2Tm 2.11; Tt 3.8), que, diz o apóstolo, são dignas de serem apropriadas com vigor e correspondidas com fé. Encontramos princípios essenciais expostos e aplicados a problemas práticos particulares de uma forma que não somente podem
2 Timóteo (Novo Comentário da Bíblia) 6 ser claramente ensinados, mas que também se destinam a ser inculcados aos fiéis com exortação de agirem em conformidade com eles. Alguns pontos da teologia cristã fundamental são explicitamente enfatizados de uma nova maneira, a fim de rebaterem as falsas doutrinas predominantes. Há, por exemplo, a ênfase assinalada sobre a natureza essencial, atributos e unidade de Deus como o soberano Criador e Salvador de todos (ver 1Tm 1.1-17; 2.3-5; 4.4-10; 6.13,15,16; 2Tm 2.13; Tt 1.2-3); sobre Cristo como o único Mediador entre Deus e os homens; sobre Sua Pessoa e obra; sobre Sua humanidade e Sua morte, como preço de resgate, único e todo-suficiente meio de redenção, renovação espiritual e consagração a Deus e a Seu serviço (ver 1Tm 1.1; 2.5-6; 3.16; 2Tm 1.10; Tt 2.13-14; 3.5-6). Há evidências de culto congregacional com ordem e mais bem regulamentado, o que se nota nas referências ao lugar necessário da leitura da Palavra de Deus, da exortação e do ensino (1Tm 4.13), das súplicas, orações, intercessões, ações de graças (1Tm 2.1). Há indícios de hinos, de fragmentos de credo e de liturgia, de doxologias (ver 1Tm 3.16; 6.13-16; 2Tm 1.9-10; 2.8,11,13; 4.1; Tt 2.11-14; 3.4-7). Dá-se orientação para a designação adequada de pessoas que sirvam na superintendência e no ministério, no cuidado pastoral e na exposição da Palavra; faz-se um aviso claro e circunstanciado do perigo que existe nas nomeações apressadas e imprudentes. Cada congregação local ou igreja é reconhecida como família de Deus, destinada por Deus para ser guardiã e testemunha da verdade. Tais congregações ficarão firmes e fiéis em face de perigos de dentro e de fora se somente prestarem diligente atenção a esse procedimento adequado (1Tm 3.15). Todavia, sublinhando toda essa orientação detalhada e expressa predominantemente na mesma, está a percepção de que o que mais importa, sobretudo, não é o sistema, e sim o homem; a ênfase principal não é feita ao oficio ou às formas, mas ao genuíno caráter cristão e à conduta coerente.
2 Timóteo (Novo Comentário da Bíblia) PLANO DO LIVRO
7
I. COMUNICAÇÃO PESSOAL E SAUDAÇÃO - 1.1-2 II. AÇÃO DE GRAÇAS PELA FÉ DE TIMÓTEO - 1.3-5 III. NECESSIDADE DE CORAGEM E FIDELIDADE - 1.6-14 IV. PAULO LOUVA A DEVOÇÃO DE ONESÍFORO - 1.15-18 V. NOVA EXORTAÇÃO A CONSTÂNCIA E A DILIGÊNCIA - 2.113 VI. ALGUMAS REGRAS DE CONDUTA - 2.14-26 VII. ADVERTÊNCIA SOBRE A APOSTASIA VINDOURA - 3.1-9 VIII. APELO EM PROL DA PREGAÇÃO DA PALAVRA, A DESPEITO DAS PERSEGUIÇÕES - 3.10-4.5 IX. DESCRIÇÃO DAS SAUDAÇÕES FINAIS - 4.6-22
PRÓPRIAS
CIRCUNSTÂNCIAS;
COMENTÁRIO
2 Timóteo 1 I. COMUNICAÇÃO PESSOAL E SAUDAÇÃO - 1.1-2 Comparar e ver anotações sobre 1Tm 1.1-2 e Tt 1.1-4. Era característico de Paulo atribuir seu apostolado à vontade de Deus (cf. o verso inicial de 1 e 2 Coríntios, Efésios e Colossenses). Ele estava irresistivelmente consciente que sua nomeação ao apostolado viera da, parte de Deus; ver. Gl 1.1,15-16.
2 Timóteo (Novo Comentário da Bíblia) 8 De conformidade com a promessa da vida... em Cristo Jesus (1). Isso expressa o escopo do apostolado de Paulo; seu alvo era tornar conhecida essa promessa, levando os homens a aceitá-la) de que ele fora comissionado por Deus (cf. Tt 1.1-3). Ao amado filho Timóteo (2); uma afetuosa indicação de íntima associação, particularmente como líder e seguidor na obra de Deus (cf. 1Co 4.17). Paulo freqüentemente se dirigia assim a seus convertidos; ver 1Co 4.14-15; Gl 4.19; Fm 10. II. AÇÃO DE GRAÇAS PELA FÉ DE TIMÓTEO - 1.3-5 Paulo confessa a profundidade de seus sentimentos relativos a Timóteo, sentimentos que ele continuamente expressava em suas orações, sentimentos que incluíam o ansioso anelo de ter a alegria de ver novamente a Timóteo, em lugar de relembrar as lágrimas que derramou quando se separaram. Acima de tudo, diz Paulo, ele agradecia a Deus ao relembrar-se, nas suas orações, da sinceridade da fé de Timóteo, bem como da fé que semelhantemente era posse de sua avó e de sua mãe, antes dele. (Parece melhor tornar assim a memória sabre a fé de Timóteo a causa do sentimento de agradecimento de Paulo, considerando-se as cláusulas conexas como descritivas das circunstâncias daquelas ocorrências. A compreensão do sentido exato da cláusula é facilitada se substituirmos a palavra porque, no verso 3, por «ao» - “ao lembrar-me de ti nas minhas orações sem cessar, noite e dia”). No contexto desse pensamento acerca de Timóteo, Paulo se torna consciente de quanto ele igualmente deve a seus antepassados, de quem ele aprendeu a servir ou adorar a Deus com sinceridade consciente (3), Portanto, pode-se considerar ambas essas referências como testemunhos cristãos quanto ao valor de uma boa criação religiosa judaica. Pois, quando a Timóteo foi ensinado o Antigo Testamento, sendo ele ainda
2 Timóteo (Novo Comentário da Bíblia) 9 criança (3.15) seus mestres nas Escrituras provavelmente ainda não haviam confiado em Cristo. III. NECESSIDADE DE CORAGEM E FIDELIDADE - 1.6-14 Paulo relembra a Timóteo que ele possuía um dom espiritual, e que Deus não dota os homens a fim de torná-los covardes, e, sim, corajosos, amorosos e disciplinados - de fato, «auto-controlados». Por conseguinte, cabia-lhe avivar até às chamas o fogo que Deus lhe outorgara, e no poder de Deus aceitar sua parte em qualquer sofrimento no qual o Evangelho o envolvesse, não hesitando em associar-se ao testemunho referente a nosso Senhor e ao apóstolo Paulo como alguém que sofria prisões por causa de Cristo. A fim de reforçar esse apelo, Paulo relembra a Timóteo sobre quão maravilhoso é o Evangelho; pois, de conformidade com os graciosos propósitos de Deus, e não por motivo de qualquer coisa que tivéssemos praticado, Ele nos salvou. Esse dom da graça, que já nos havia sido dado antes da história do mundo ter início, agora se manifestou abertamente mediante o advento de Jesus Cristo a fim dEle ser nosso Salvador, e mediante Sua vitória sobre a morte. Em conseqüência, através do Evangelho que agora era pregado, foi trazida à luz a vida incorruptível (que os homens podem contemplar como uma realidade e abraçar como uma possessão, fazendo contraste com a negra incerteza anterior sobre sua existência, quando os homens desesperavam de desfrutar dela). Esse é o Evangelho, dizia Paulo, que fui comissionado de pregar; e é procurando desincumbir-me dessa comissão que estou sofrendo deste modo. Não obstante (a despeito das prisões e da possibilidade de sofrer o martírio) não vejo qualquer razão para envergonhar-me do Evangelho. Pois Deus é fiel e capaz; portanto (embora meu dia de servir como despenseiro do Evangelho esteja terminado) estou certo que Ele
2 Timóteo (Novo Comentário da Bíblia) 10 preservará aquilo que me confiou a fim de que lhe sejam prestadas contas a Seu contento, no dia final de prestação de contas. É esse esboço de doutrina sã, diz ainda Paulo a Timóteo, o qual eu te transmiti, que deves tornar teu e preservar em fé responsiva e amor ao próprio Cristo. Relembra-te, igualmente, que o Espírito de Deus habita em nós a fim de capacitar-nos a desempenhar nossa incumbência de despenseiros. Por esta razão (6), é uma referência à fé sem fingimento de Timóteo. Note-se como Timóteo não é exortado a buscar novas graças; pelo contrário, é exortado a relembrar-se da graça que já lhe tinha sido proporcionada, e é incitado a reavivá-la (ver 1Tm 4.14 n). Covardia (7), mais do que simples temor. Espírito (7) pode ser interpretado como referindo-se ao Espírito Santo; ou então pode descrever o espírito humano sob a ação do Espírito Santo. Os dois se complementam; cf. Rm 8.14-16. Seu encarcerado (8); isto é, por ação do Senhor; cf. Ef 3.1; Fm 9. Aqueles que São salvos são primeiramente chamados por Deus de conformidade com Seu próprio propósito, livremente pré-determinado; essa vocação é santa porque por seu intermédio somos levados à semelhança e comunhão com Ele; cf. Rm 8.28-30. Se por um lado as epístolas pastorais repetidamente insistem que as boas obras são o fruto tencionado da salvação, elas deixam igualmente claro, em estilo tipicamente paulino, que as boas obras humanas não são a causa da salvação; cf. Tt 3.5; Ef 2.8-10. Antes dos tempos eternos (9), esta tradução segue o grego bem de perto; cf. Tt 1.2; Rm 16.25. Destruiu a morte (10); isto é, aboliu-a, nulificou-a como poder dominante sobre os homens; o termo grego, katargein, significa «tornar inoperante». A vida e a imortalidade; a última palavra indica o caráter da primeira isto é, vida completamente isenta de destruição.
2 Timóteo (Novo Comentário da Bíblia) 11 Tenho crido (12). O tempo verbal perfeito, no grego, é usado aqui para dar a entender uma atitude continua de confiança conseqüente de sua adoção decisiva. Meu depósito (12); visto que a mesma palavra grega claramente se refere, em 1.14 (cf. 1Tm 6.20) ao «depósito» do Evangelho, o depósito confiado às mãos do despenseiro, é mais apropriado o sentido que esta versão acertadamente lhe dá. Porém, a interpretação de outras versões, como “o que lhe entreguei”, é igualmente possível. Uma asseveração da parte de Paulo, sobre a expectativa de sua salvação final (cf. 1Ts 5.23) se adapta ao contexto. Seu emprego dos termos “guardar” e “depósito” talvez tenha sugerido um novo emprego, com um sentido contrastado, em 1.14. IV. PAULO LOUVA A DEVOÇÃO DE ONESÍFORO - 1.15-18 Paulo reforça seu apelo para que Timóteo não tenha vergonha do Evangelho e do apóstolo deste (1.8) numa época de perseguições, relembrando-lhe tanto os muitos que se haviam envergonhado de associar-se abertamente a Paulo, o prisioneiro, como também certa pessoa que disso não se envergonhou, notabilizando-se. Visto que Onesíforo havia demonstrado tal bondade para Paulo, na necessidade do apóstolo, este agora orava ao Senhor que recompensasse Onesíforo, mostrando-se misericordioso tanto à sua família como a ele mesmo, no vindouro dia do julgamento e da recompensa divinos. Me abandonaram (15); um decisivo ato de repúdio; haviam negado a Paulo. Em contraste, Onesíforo não apenas reconheceu e ajudou a Paulo após seu aprisionamento, porém, mais tarde, quando chegou a Roma, esforçou-se extraordinariamente para encontrar Paulo (o que aparentemente não foi tarefa fácil) a fim de outra vez encorajá-lo (16-17). O próprio Timóteo tinha conhecimento dos muitos ministérios realizados por Onesíforo em Éfeso (18). Acompanhando o original e certas versões, deve-se eliminar a palavra «me», neste versículo.
2 Timóteo (Novo Comentário da Bíblia) 12 Onesíforo aparece aqui como alguém que estava separado de sua família, ou por motivo de estar ausente de casa, ou, mui provavelmente, por motivo de falecimento (cf. 4.19). Isso não significa, no entanto, que Paulo estivesse orando a favor de seu presente bem estar como morto, uma prática inteiramente sem base nas Escrituras. A oração diz respeito não ao estado intermediário de todos, e, sim, à conduta nesta existência, bem como à recompensa no futuro dia de julgamento. Portanto, tal desejo que Onesíforo recebesse adequada e apropriada recompensa, é um desejo que pode ser igualmente expresso a favor dos vivos ou dos mortos, pois está em plena harmonia com o claro ensino de nosso Senhor e do Novo Testamento. Ver Mt 10.33; Mc 8.38; e comparar e contrastar com 2Tm 4.14.
2 Timóteo 2 V. NOVA EXORTAÇÃO À CONSTÂNCIA E À DILIGÊNCIA - 2.1-13 Seguindo o exemplo de Onesíforo, e em contraste com o malogro de outros, Paulo exorta a Timóteo que busque suas forças em Cristo e esteja preparado para sofrer dificuldades. Duas tarefas são supremamente importantes: primeira, que o depósito da verdade, o pleno Evangelho, seja fielmente transmitido a homens fiéis, que por sua vez o transmitam a outros; e segunda, que o propósito de Deus na entrada do Evangelho fosse cumprido na salvação eterna dos eleitos. Essas tarefas exigem para seu desencargo uma devoção, uma disciplina e uma diligência tais como as que se encontram no soldado (3-4), no atleta (5) e no fazendeiro (6). Essas tarefas também podem envolver sofrimento, conforme se podia ver na experiência Cristã diária do próprio idoso apóstolo. Em face do possível martírio, que era a expectativa de Paulo para futuro imediato, e que poderia tornar-se também a expectativa de Timóteo, é conveniente relembrar a fidelidade de Deus e a recompensa celestial garantida em
2 Timóteo (Novo Comentário da Bíblia) 13 vista do presente sacrifício e constância terrenos, mas também relembrar a vergonha correspondente que deve acompanhar o fracasso. Fortifica-te (1). O tempo verbal presente, no grego, e a voz passiva, significa «sê continuamente fortalecido». Na graça que está em Cristo Jesus (1) indica a única esfera em que isso é possível. Transmite (2); grego, paratithenai, derivado da mesma raiz que «depósito» (gr. Paratheke) em 1.14. Timóteo havia sido solenemente encarregado do Evangelho por Paulo. Agora é incumbido a, semelhantemente, transmiti-lo a ministros dignos de confiança, que por sua vez haverão de transmiti-lo a outros. Através (isto é, na presença) de muitas testemunhas (2) pode referir-se aos presentes quando Timóteo foi consagrado para o ministério; ou a frase também pode significar o conteúdo do Evangelho de Paulo que havia sido confirmado a Timóteo «através» (gr. dia) do testemunho de muitos outros. Participa (3); o sentido é «sofre comigo» (cf. 1.8). Soldado em serviço (4); gr. strateuomenos, isto é, servindo como soldado. Tal serviço exige que o indivíduo se desligue completamente das atividades mundanas ordinárias, obedecendo unicamente e de todo coração ao oficial comandante, cumprindo o propósito de seu alistamento para as forças armadas. No verso 5 temos referência a um competidor nos jogos atléticos. Na antiguidade o vencedor ganhava uma coroa de louros como prêmio. Segundo as normas (5); isto é, em estrita conformidade com o exigido pelo contexto particular, primeiramente no treinamento e a seguir na realização da prova atlética. Que trabalho e primeiro (6) são palavras significativas adicionadas a uma declaração que doutro modo seria geral. Tal participação faz contraste com a participação naturalmente inferior do indolente. Essas três ilustrações (2.3-6) reforçam diferentes aspectos do desafio a uma total devoção ao digno desencargo do ministério do Evangelho.
2 Timóteo (Novo Comentário da Bíblia) 14 Pondera o que acabo de dizer (7); isto é, entende o que acaba de ser dito, em sua aplicação prática a teu próprio ministério. Aqui não encontramos uma exortação vazia, visto que a compreensão, isto é, a capacidade de discernir corretamente, ser-lhe-ia outorgada pelo Senhor. Ressuscitado (8). Timóteo deveria encontrar inspiração na memória de Jesus vindicado como o “Messias” (Cristo), não apenas por Seu nascimento humano como descendente de Davi, em cumprimento das profecias, mas, muito mais ainda, por Sua ressurreição dentre os mortos; cf. At 2.36; Rm 1.1-4. Portanto, Ele podia ser relembrado na qualidade de Senhor vivo. Essa verdade essencial a respeito dEle faz parte do Evangelho que foi entregue a Paulo para que este o pregasse (e, por meio de Paulo, foi entregue a Timóteo); cf. Rm 2.16; 16.25; 1Co 15.1. O vocábulo evangelho (8) refere-se tanto às boas novas como à evangelização, neste caso. Pelo qual (9); isto é, por causa deste meu Evangelho que prego. Estou sofrendo até algemas, como malfeitor (9). Essas palavras destacam as indignidades e a vergonha inteiramente desmerecidas que Paulo estava sofrendo, e das quais Timóteo deveria estar pronto para compartilhar. Não está algemada (9); isto é, conforme Paulo estava. É impossível que a Palavra de Deus seja assim encarcerada. Por esta razão (10); isto é, por causa do Evangelho e de sua propagação. Tudo suporto (10); isto é, submeto-me pacientemente a toda espécie de experiência, mesmo a pior; cf. Hb 12.2. O alvo em mira era que aqueles aos quais Deus havia escolhido livremente para tal destino, também pudessem encontrar realmente a salvação - a salvação que é encontrada no Messias Jesus (acima referido, em 2.8) e que possui uma glória cuja qualidade e plena manifestação são eternas, e não temporais. As frases que encontramos nos vv. 11-13, citadas como palavras dignas de crédito, possivelmente foram tiradas de algum hino familiar,
2 Timóteo (Novo Comentário da Bíblia) 15 ou são uma cadeia de aforismos, cuja intenção é inspirar fidelidade até à morte e esperança de compartilhar da glória eterna de Cristo. Nossa entrada nessa glória corresponderá à nossa participação em Seus sofrimentos nesta existência; cf. Rm 8.17. Se já morremos (11); refere-se ao evento decisivo, ou da crucificação espiritual, juntamente com Cristo, ou do martírio físico, considerado aqui como experiência já passada (grego, tempo verbal aoristo). Contrastar com “se perseveramos” (12; grego, tempo verbal presente), isto é, uma atividade continuada. Note-se o contraste paradoxal entre o caminho e o alvo - por meio da morte até à vida, por meio de submissão paciente até o poder soberano. Se o negamos (12; grego, tempo verbal futuro - “se o negarmos”); uma possibilidade mais remota é aqui sugerida; cf. Mt 10.33. Apesar de que se os homens não O confessarem aqui isso afetará seu futuro reconhecimento por parte de Cristo, se os homens não confiarem nEle e não Lhe forem fiéis, isso não impede que Ele continue a ser-lhes fiel e merecedor da confiança deles; cf. Rm 3.3. Ser falso para Consigo mesmo é algo que Deus, mesmo onipotente como é, não pode fazer. VI. ALGUMAS REGRAS DE CONDUTA - 2.14-26 Havia o perigo crescente da atenção ser desviada para as especulações inúteis e demolidoras e para a controvérsia. Dois homens são chamados pelos seus nomes, que estavam propagando doutrina errada a respeito da ressurreição. Por conseguinte, Timóteo tinha o dever de relembrar aos crentes, e particularmente aos «homens fiéis» (verso 2) a quem lhe competia transmitir o Evangelho a ser anunciado, sobre as verdades que Paulo acabou de enumerar (vv. 4-13). E Timóteo devia exortá-los solenemente a não se deixarem envolver nas controvérsias que então prevaleciam. Quanto a si mesmo, que Timóteo aderisse à apresentação direta da verdade de modo aprovado por Deus, e que a ele,
2 Timóteo (Novo Comentário da Bíblia) 16 na qualidade de obreiro, não desse motivo para envergonhar-se à vista de Deus, particularmente no futuro dia do julgamento. A Timóteo cabia evitar fantasias irreverentes, capazes de ser tão destruidoras como o câncer corroedor. Se o fato de alguns haverem se desviado da fé, fazia com que ele temesse pela própria sobrevivência da comunidade cristã, que também se lembrasse que a Igreja verdadeira é o firme fundamento do próprio Deus, ainda que nem todos quantos professam reconhecer Cristo como Senhor são membros autênticos dessa Igreja; pois somente Deus reconhece aqueles que verdadeiramente Lhe pertencem. Professar o nome de Cristo envolve a exigência (a que alguns não respondem favoravelmente) de desistir do pecado. Assim como os muitos artigos existentes em uma grande mansão variam em qualidade, e alguns são de pouco ou nenhum valor, incapazes para um uso honroso, igualmente, a comunidade de cristãos professos é uma companhia heterogênea. O crente individual, como Timóteo, que tem o discernimento para reconhecer isso, deve procurar, mediante a auto-purificação diligente, deixar de pertencer à classe dos vasos de desonra, assim se tornando apto e preparado para o uso honroso no serviço do Senhor. Tal crente deve abandonar a auto-indulgência e compartilhar da companhia e das ambições espirituais dos crentes sinceros. Deve rejeitar ocupar-se de investigações insensatas, que promovem apenas violentas altercações. Na qualidade de alguém que foi chamado para o serviço do Senhor, ele não deve meter-se em controvérsias com os que estão iludidos pelo erro, mas antes, mostrar-se gentilmente paciente para com eles, procurando instruí-los mansamente na verdade, na esperança que Deus lhes conceda uma mente mais reta, e assim escapem do diabo que os aprisionou, dai por diante devotando-se a fazer a vontade de Deus. Evitem contendas de palavras (14); isto é, não se metam em controvérsias. As frases que se seguem indicam seu resultado. Negativamente, tais coisas não têm proveito; positivamente, em lugar de
2 Timóteo (Novo Comentário da Bíblia) 17 edificar aos ouvintes, antes os subvertem, ou seja, envolvem-nos em «catástrofe» espiritual. Que não tem de que se envergonhar (15); o termo grego pode ter uma força passiva, isto é, “de que ser envergonhado”; cf. Fp 1.20. Que maneja bem (15); lit., “que corta reto”; possivelmente uma metáfora aproveitada do traçado de estradas ou sulcos retos, e assim teria o sentido de não desviar-se da palavra da verdade, isto é, do Evangelho; cf. Gl 2.14. Evita (16), isto é, «mantém-te afastado de», «retira-te de». Falatórios... profanos (16), isto é, conversas destituídas de valor, cercadas de um espírito irreverente. Os que se dedicam a essas coisas progridem somente na direção errada, isto é, na impiedade; o espírito de irreverência é algo que cresce. Tais falatórios, ao receber oportunidade de manifestar-se, mediante a indulgência de alguns, se espalha como o câncer maligno, que corrói o tecido saudável. Himeneu (17) é também mencionado em 1Tm 1.20. A crença na ressurreição física era de difícil aceitação para alguns (cf. 1Co 15), especialmente para aqueles que rejeitavam toda matéria considerando-a má. Assim, os tais interpretavam a ressurreição (18) como um reavivamento espiritual ou iniciação já experimentada, não compreendendo assim a verdade e abalando a fé de outros. O firme fundamento de Deus permanece (19); isto é, é incapaz de ser derrubado. A referência, aqui, é à verdadeira edificação da Igreja de Deus; cf. Ef 2.19-22. Sua dupla comprovação indica, pelo lado de Deus e pelo lado do homem, como seus membros genuínos podem ser distinguidos e separados dos falsos. Desejando-se luz sobre as citações virtuais, ver especialmente Nm 16.5,26; cf. Is 52.11. Note-se que a autenticidade dos outros é conhecida apenas por Deus, e que cabe a cada qual que professa reconhecer Cristo como Senhor, tornar certa a sua eleição mediante ação coerente e apropriada.
2 Timóteo (Novo Comentário da Bíblia) 18 O verso 21 reitera a responsabilidade do indivíduo de separar-se da conspurcação de associações indignas. Note-se a referência óbvia aos falsos mestres, no caso de Timóteo. O verso 22 indica verdades complementares. A contaminação que parte do íntimo, bem como aquela que vem de fora, devem ser igualmente evitadas, e o crente deve seguir a associação com os sinceros. Note-se a repetida indicação de que algumas investigações são insensatas e ineptas, isto é, destituídas de luz, visto que não geram edificação, mas antes, contendas (23). O servo do Senhor (24); essa designação se aplica a qualquer crente (1Co 7.22), mas, particularmente, àqueles que são chamados a um ministério especial, como foi o caso de Timóteo; cf. Tt 1.1. Brando... paciente (24); isto é, bondoso em suas palavras e conduta, paciente para com o mal. Apto para instruir... disciplinando (24-25); isto é, devotado à exposição positiva da verdade, em lugar de entrar em controvérsias com os que se opõem à verdade. Eis como aqueles que têm sido iludidos pelos falsos ensinos deveriam ser tratados (mas contraste-se o tratamento mais drástico que deve ser usado para com os propagadores deliberados dos falsos ensinos, Tt 3.10); pois os que têm sido iludidos podem ser conquistados de volta somente quando Deus lhes conceder uma mudança de mentalidade a fim de que entrem no pleno conhecimento da verdade (25). O verso 26, corretamente interpretado parece ser que aqueles que têm sido conquistados vivos pelo diabo possam assim ser reconquistados para a sensatez, escapando da armadilha de Satanás e passando a cumprir a vontade de Deus.
2 Timóteo 3 VII. ADVERTÊNCIA SOBRE A APOSTASIA VINDOURA - 3.1-9
Se Timóteo estranhasse que tantos males pudessem surgir dentro da Igreja visível, Paulo agora desejava que ele soubesse que condições
2 Timóteo (Novo Comentário da Bíblia) 19 piores haveriam de prevalecer, quando o fim da dispensação se aproximasse. A pecaminosidade da voluntariedade humana encontrará plena e irrestrita expressão por meio de ações, palavras e pensamentos. Cessarão as práticas da reverência, do dever, da gratidão, do amor ao próximo e aos parentes, e da honra aos pactos assumidos. Os homens tornar-se-ão diabólicos, descontrolados, violentos, inimigos da virtude, prontos para trair a seus semelhantes, inexoráveis, desviados pela sua própria presunção. Aqueles que professarem ser religiosos preferirão o amor aos prazeres do que o amor a Deus; externamente fingirão certa forma de reverência, mas repudiarão deliberadamente seu autêntico poder transformador. Homens dessa classe precisam ser evitados. São do tipo que sutilmente se impõem e desviam mulheres fracas, as quais, por causa de sua consciência sensível devido a seus atos pecaminosos, por causa de sua tendência de se deixarem dominar pelas emoções, por causa de seu amor pelas novidades, e por causa de sua incapacidade de entender a verdade, tornam-se presas fáceis. Tais homens devem ser reconhecidos em seu verdadeiro caráter, visto que são oponentes da verdade, dotados de mente depravada, que aos olhos de Deus são rejeitados em relação à própria fé que professam possuir (cf. Mt 7.22-23). Não obstante, sempre haverá um limite ao progresso que fizerem; pois todos verão que seu comportamento é manifestamente insensato. Nos últimos dias (1). A era cristã, como um todo, é assim descrita em certas passagens bíblicas (ver Hb 1.2), mas a referência, neste versículo, é explicitamente ao fim de nossa dispensação. Note-se o tempo verbal futuro, sobrevirão, ainda que os tempos verbais presentes, em 3.5-6, indiquem que o mal que só mais tarde haveria de amadurecer, já estava em operação. Cf. Mt 13.24-30; 2Ts 2.7-8. Difíceis (1); grego, chalepos; isto é, «difíceis de neles vivermos». Os homens (2); o grego tem o artigo definido, como aqui, significando não os homens ou a humanidade em geral. O contexto inteiro, especialmente o verso 5, sugere que essa manifestação do mal
2 Timóteo (Novo Comentário da Bíblia) 20 deverá ocorrer dentro da esfera do Cristianismo professo. Não são os pagãos sem luz, mas aqueles que resistem à verdade e repudiam o poder do Evangelho que se tornam corrompidos. Cf. 2Ts 2.3, onde Paulo ensina que primeiramente deverá ocorrer «um desvio para fora» (gr. apostasia), isto é, para fora da verdade. Note-se, nos vv. 2-4, serão egoístas... antes amigos dos prazeres que amigos de Deus, isto é, serão homens que se devotam à auto satisfação do que em ser agradáveis a Deus. Essa é a própria essência do pecado e da prática do pecado, que na terminologia educacional se chama de «auto-expressão». Arrogantes (2); gr. hyperephanos, isto é, «altivos», desprezando os outros. Blasfemadores (2); isto é, aqueles que falam desrespeitosamente, quer a respeito de Deus ou do homem. Implacáveis (3). O gr. aspondos, descreve não tanto aqueles que rompem seus pactos, conforme certas versões dão a entender, e, sim, aqueles que não entram em relações de aliança, o que explica esta tradução. Inimigos do bem (3); gr. aphilagathoi, isto é, aborrecedores de todo bem, quer nas coisas ou nas pessoas. Atrevidos (4). gr. propetes, «temerários» (ver At 19.36). Negando (5); cf. 1Tm 5.8; Tt 1.16. Foge também destes (5); contrastar com 2.5. Evidentemente os tais devem ser considerados impossíveis de ser redimidos, capazes de causar tão somente danos. Mulherinhas (6); gr. gunaikaria, um diminutivo que expressa desprezo. Quanto à maior facilidade com que as mulheres são desviadas, cf. 1Tm 2.14. Janes e Jambres (8) são mencionados em certo Targum hebraico sobre Êx 7.11, como mágicos que se opuseram a Moisés. Essa comparação talvez implique, semelhantemente, no uso de poderes ocultos; ver anotação sobre «impostores» (3.13). De todo corrompidos na mente (8), isto é, não mais capazes de entender a verdade (cf. Rm 1.21-22; Ef 4.17-18).
2 Timóteo (Novo Comentário da Bíblia) 21 Contrastar o verso 9 com 2.16 e 3.13. Apesar de que tais homens irão se tornando cada vez piores em sua depravação e em seu poder de iludir aos outros, não serão capazes de fazê-lo sem que sua insensatez seja geralmente reconhecida. A daqueles (9) é uma referência a Janes e Jambres. VIII. APELO EM PROL DA PREGAÇÃO DA PALAVRA, A DESPEITO DAS PERSEGUIÇÕES - 3.10-4.5 a) O exemplo da própria experiência de Paulo (3.10-13) Quão diferente é a história prévia de Timóteo de tudo isso (isto é, de 3.1-9)! Paulo relembra Timóteo sobre sua própria fé e prática, bem como das perseguições e sofrimentos nos quais foi envolvido devido a seu serviço cristão, não menos no início de seu trabalho missionário nas vizinhanças do lar de Timóteo. Que Timóteo se convencesse que sua experiência era típica. Todos quantos resolvem viver vidas de legítima devoção cristã devem esperar perseguições; e tal perseguição se vai intensificando conforme o contraste aumenta entre o bem e o mal, quando então os homens ímpios se tornam piores, tanto em seu cego desvio da verdade, como em seu poder de iludir aos outros. Tu, porém, tens seguido (10), isto é, em discipulado responsivo; cf. 1Tm 4.6. Paulo não se estava ufanando, mas relembrando seu devotado seguidor acerca dos elementos essenciais da devoção a Cristo. Quais (11). Em ilustração ao que dizia, Paulo seleciona algumas provações que eram especialmente bem conhecidas a Timóteo, mediante as quais ele pela primeira vez aprendeu que tais aflições fazem parte da inevitável experiência de todos os verdadeiros crentes (ver At 14.19-22), Essa é a lição focalizada no verso 12 (cf. Mt 5.10; 10.22; Jo 15.20). Todos quantos querem (12); lit., todos quantos estão resolvidos. Piedosamente em Cristo Jesus (12) é uma significativa descrição do espírito e da esfera da vida cristã autêntica, isto é, correspondendo em
2 Timóteo (Novo Comentário da Bíblia) 22 reverente devoção, como alguém que é capacitado e constrangido por uma vital relação pessoal. Impostores (13). O gr. goetes, significa, lit., «lamentadores», referindo-se aos encantamentos por meio de lamentações; portanto, fica aqui subentendido o uso de artes mágicas. b) O Valor das Escrituras (3.14-17) O mais importante é que Timóteo conhecia a verdade revelada de Deus, e fora assegurado sobre seu valor por parte daqueles que o ensinaram quando ainda era criança. Seu dever, por conseguinte, era aderir determinadamente a essas coisas. Pois as sagradas Escrituras, nas quais ele fora instruído, são qualificadas para guiar os homens à experiência daquela salvação divina que é desfrutada por meio da fé no Messias Jesus, não havendo outra coisa qualificada para tanto. E não somente isso, mas cada passagem das Escrituras, visto dever sua origem ao hálito criativo do Espírito de Deus (em gr. theopneustos, “soprado por Deus”; cf. Sl 33.6), tem o seu devido valor para a educação moral do homem de Deus e para seu completo equipamento para toda espécie de boa obra. Tu (14); em agudo contraste com os homens perversos (13). Desde a infância (15); lit., «desde bebê»; uma referência ao fato de Timóteo haver sido instruído desde a mais tenra infância nas letras sagradas (ver 1.5). As sagradas letras (15); lit., «os escritos sagrados». Usada com o artigo definido, essa é, virtualmente, uma expressão técnica (encontrada também nos escritos de Filo e de Josefo) que significa o Antigo Testamento. Note-se a significativa descrição cristã do tema e propósito das sagradas letras. Não somente fornecem conhecimento ou informação, mas, igualmente, sabedoria prática. Podem (15). No grego, essa palavra é um particípio presente, o que indica uma qualidade permanente.
2 Timóteo (Novo Comentário da Bíblia) 23 Toda Escritura (16). O sentido dessas palavras é que cada passagem bíblica (da porção que acabara de ser referida) visto ser inspirada por Deus, também é proveitosa; portanto, o crente não deve desprezar porção alguma das Escrituras. Educação na justiça (16), isto é, no caminho (ou vida) da retidão. Perfeito e perfeitamente habilitado (17). No grego, tanto o adjetivo como o particípio repetem a mesma raiz, reforçando a idéia de “perfeitamente equipado e adaptado”.
2 Timóteo 4 c) Exortação de Paulo a Timóteo (4.1-5) Portanto, em vista de sua chamada ao ministério, Paulo exorta solenemente a Timóteo, na presença de Deus, e à luz da prestação de contas que ele terá de render ao Rei Jesus, quando Ele vier para julgar, a pregar a Palavra, a estar sempre preparado para pregá-la em todas as ocasiões, quer sejam favoráveis ou não, e a aplicar o seu desafio aos seus ouvintes, tanto para repreendê-los como para consolá-los com uma paciência interminável e com uma instrução que possa ser compreendida. Timóteo deveria fazer isso sem tardança, pois chegaria o tempo quando os homens não mais tolerariam essa espécie de ensino proveitoso, mas abandonariam a verdade e se apegariam às ficções seguindo mestres que ensinem coisas satisfatórias para sua imaginação fantasista. Portanto, Timóteo deveria ser constantemente sóbrio, circunspecto disposto a sofrer tribulações, ativo na propagação das boas novas cristãs, desincumbindo-se de seu ministério plenamente. No verso 1, Paulo conjura Timóteo por Deus, por Cristo, o futuro Juiz, por Sua «epifania» ou Segundo Advento, e por Seu reino. É característica importante do Evangelho neotestamentário a doutrina que Jesus deverá julgar a todos os homens, e que chegará o dia quando Ele
2 Timóteo (Novo Comentário da Bíblia) 24 será assim manifestado, Cf. At 17.31; Rm 2.16. Essa frase, há de julgar vivos e mortos, se encontra nos primeiros credos cristãos. Prega a palavra (2); isto é, o Evangelho; cf. At 6.4; Cl 4.3. Insta, quer seja oportuno, quer não (2); lit., «prossegue» (epistethi). Está no imperativo aoristo, o que mostra ser uma ordem que Timóteo precisava cumprir. Corrige, repreende, exorta (2). Note-se como a Palavra e seu pregador devem primeiramente ferir, para em seguida curar. Com toda (isto é, com toda espécie de) a longanimidade e doutrina (2). Isso indica ao mesmo tempo como o ministro deve manusear seus ouvintes e como ele deve selecionar o assunto de suas pregações. Ele deve prover variado e positivo ensinamento, e não monótona e negativa condenação. A expectativa futura, descrita nos versos 3 e 4, adiciona razão extra para que se pregue agora, em todas as ocasiões possíveis. Não suportarão (3); “não terão a mente nem a paciência de receber”. Note-se como tais homens ouvirão com motivos e interesses torcidos; sua atitude contrária à verdade será determinada por seu capricho egoísta, que prefere desprezar a verdade e aceitar as fábulas. IX. DESCRIÇÃO DAS PRÓPRIAS CIRCUNSTÂNCIAS; SAUDAÇÕES FINAIS - 4.6-22 Paulo declara que estava pronto para morrer como mártir, o que sabia estar prestes a acontecer. A obra de sua vida estava terminada; ele fora fiel ao seu encargo. Agora podia olhar para aquela futura consumação da salvação, que o Senhor proporcionará, naquele dia em que Ele vier como Juiz, a todos quantos tiverem sua expectativa assim fixada em Seu aparecimento. Dentre os amigos íntimos e colegas de trabalho de Paulo, somente Lucas estava presentemente consigo. Portanto, Paulo roga a Timóteo que procure vir ter consigo imediatamente, trazendo em sua companhia tanto
2 Timóteo (Novo Comentário da Bíblia) 25 a Marcos como alguns objetos de uso pessoal do apóstolo, que ele deixara em Trôade. Em seu aprisionamento e julgamento, Paulo passou por alguns desapontamentos. Demas o abandonara. Alexandre chegara a insultá-lo, falando contra o apóstolo. Ninguém estava preparado para tomar publicamente a sua defesa. O Senhor, porém, não o desapontou, capacitando-o a declarar amplamente a substância do que pregava a todos quantos quisessem ouvi-lo. Paulo foi preservado de ser dominado e silenciado, e estava persuadido que o Senhor o levaria em segurança através da experiência que agora o esperava, e que o faria entrar no reino celestial. A Ele era devida a glória eterna. Timóteo deveria transmitir as saudações de Paulo a seus amigos especiais, aceitando também saudações da parte de alguns que porventura desejassem enviá-las ao apóstolo. Visto que Paulo estava destituído da companhia daqueles que talvez Timóteo julgasse estarem consigo, o apóstolo solicita que Timóteo venha antes do inverno. Que Timóteo reconheça a presença do Senhor em seu coração; e que a graça salvadora de Deus esteja com todos aqueles que estavam na companhia de Timóteo. As circunstâncias em que se achava Paulo proviam motivo adicional pelo qual convinha que Timóteo fosse zeloso (4.5). As libações, ou seja, o derramamento de um pouco de sangue (Dt 12.27) ou de um pouco de vinho (Nm 28.7) ao Senhor, acompanhava os sacrifícios; Paulo se refere, aqui, ao derramamento de seu próprio sangue. Cf. Fp 2.17. Note-se que o que era então uma possibilidade remota, agora era realmente uma certeza imediata, pois já havia até tido início. O bom combate (7); isto é, «da fé» (cf. 1Tm 6.12). Completei a carreira (7); cf. At 20.24. A fé (7); isto é, o Evangelho, ou depósito doutrinário, confiado a Paulo. Tal depósito ele havia guardado com sucesso (cf. 1.14). Guardada (8); isto é, reservada, separada.
2 Timóteo (Novo Comentário da Bíblia) 26 A coroa da justiça (8); ou a coroa é a recompensa pela retidão, ou a retidão é o conteúdo da coroa (cf. 1Pe 5.4). Essas duas idéias podem ser combinadas naquela consumação celestial da retidão ou justificação proporcionada por Deus, sendo que por enquanto o crente usufrui apenas de seus primeiros frutos (cf. Rm 5.1-2), isso é sugerido pelo fato que ela será igualmente compartilhada por todos quantos tiverem dedicado seu amor a essa manifestação coroadora do Senhor, quando Ele vier para julgar retamente, por ocasião de Seu Segundo Advento. Demas (10) não é aqui acusado de apostasia, mas apenas de falta de disposição para enfrentar a possibilidade de sofrimentos físicos ou morte, por continuar associado a Paulo, o prisioneiro, que provavelmente seria martirizado. Contraste-se o fato que Demas amou «o presente século» com aqueles que “amam a sua vinda” (8). Toma contigo a Marcos (11). A despeito de sérias dúvidas quanto à sua aptidão para o ministério (At 15.38), aqui Paulo (cf. Cl 4.10) louva Marcos como útil para o ministério, talvez no Evangelho ou talvez para algumas necessidades pessoais do apóstolo. Alguns pensam que o fato de Marcos provavelmente ter tido conhecimento do latim, o tornava particularmente útil em Roma. O verso 12 deixa subentendido que talvez Paulo necessitasse de Marcos para tomar o lugar de Tíquico. Paulo dependeu de Tíquico mais de uma vez para levar mensagens e agir como seu representante (ver Ef 6.21-22; Cl 6.7-8; Tt 3.12). A capa (13); isto é, uma veste externa bem folgada, aparentemente necessária para Paulo usar durante os frios meses de inverno; ver o verso 21. Os pergaminhos (13); em gr. membranai, palavra de origem latina, que significa peles especialmente preparadas, preferíveis ao papiro para documentos importantes. Tais pergaminhos eram especialmente preciosos para Paulo. Presumivelmente tratava-se de cópias das Escrituras do Antigo Testamento, ou, possivelmente, de manuscritos e documentos pessoais valiosos pertencentes a Paulo.
2 Timóteo (Novo Comentário da Bíblia) 27 Causou-me muitos males (14); isto é, «demonstrou-me muitos maus tratos». O Senhor lhe dará a paga (14), uma citação virtual de Sl 62.12 (cf. Pv 24.12), implicando em: “Ao Senhor pertence retribuir-lhe de conformidade (não pertence a mim ou a ti)”; cf. Rm 12.19. “Nesse ínterim”, fica subentendido pelas palavras de Paulo a Timóteo, «necessitas de ter cautela com ele». Na minha primeira defesa (16). De conformidade com o procedimento legal romano, Paulo havia comparecido uma vez ao tribunal a fim de apresentar sua defesa. Nessa ocasião ele teve de pleitear sozinho a seu favor. Não tinha advogado nem testemunhas de defesa. Aqueles que poderiam ter vindo em sua defesa, tinham-no abandonado, presumivelmente por temor, e não por malícia deliberada, como no caso de Alexandre. Portanto, Paulo agora orava que Deus, em Sua misericórdia, não tomasse em consideração contra aqueles o fato de terem abandonado o apóstolo. Para que, por meu intermédio, a pregação fosse plenamente cumprida (17). O verbo grego, acompanhado em seu sentido por esta versão, significa «plenamente realizado»; cf. 4.5. A preocupação de Paulo era que a proclamação do Evangelho fosse fielmente levada a efeito por meio dele, na capital do império, a fim de que todos a ouvissem. “Ser livrado da boca do leão” (17) talvez fosse uma frase corrente significando livramento de algum perigo avassalador iminente. Por outro lado, «leão» pode referir-se, ou às feras do anfiteatro, ou ao imperador Nero, ou a Satanás. Em 1Pe 5.8, ser devorado pelo leão, parece significar que o testemunho do crente é silenciado quando este se rende por medo do diabo. Cf. também a oração do Pai Nosso - «livra-nos do maligno» - a respeito do qual parece haver mais reminiscências no verso 18. Me levará salvo para (18); o grego, tem «eis» em lugar de «para» e isso torna esta sentença extremamente significativa. A salvação de Paulo deveria ser completada quando fosse transportado «para dentro» de seu reino celestial, isto é, o reino de Cristo Jesus. O livramento com
2 Timóteo (Novo Comentário da Bíblia) 28 o qual esperava ser livre de todo mal não era a morte, ainda que lhe viesse por intermédio da morte. Note-se que a doxologia (18) é dirigida a Cristo considerado como Deus. A bênção do verso 22 é dupla: a primeira porção é dirigida pessoalmente a Timóteo, enquanto a segunda porção é a «assinatura» distintiva de Paulo (ver 2Ts 3.17-18). A. M. Stibbs