TIAGO Introdução Capítulo 1 Capítulo 2 Capítulo 3 Capítulo 4 Capítulo 5 Introdução A epístola de Tiago é um dos escritos mais instrutivos do Novo Testamento. Dirigida principalmente contra os erros particulares da época, produzidos entre os cristãos judeus, não contém as mesmas declarações doutrinárias completas de outras epístolas, mas apresenta um admirável resumo dos deveres práticos de todos os crentes. Aqui estão manifestas as principais verdades do cristianismo, e se considerada com atenção, demonstrará que coincidem inteiramente com as declarações de Paulo acerca da graça e da justificação, abundando ao mesmo tempo em sérias exortações à paciência da esperança e à obediência da fé e do amor, mescladas com advertências, repreensões e exortações conforme os assuntos tratados. As verdades aqui expostas são muito sérias, e é necessário que em todo o tempo se sustenham e se observem as regras para sua prática. Em Cristo não há ramos mortos ou sem seiva, e a fé não é uma graça ociosa; onde quer que esteja, produz fruto em obras.
Tiago 1 Versículos 1-11: Como recorrer a Deus nos problemas e como comportar-se nas circunstâncias prósperas e adversas; 12-18: Devemos considerar que todo mal procede de nós e que todo bem vem de Deus; 19-21: O dever de vigiar contra o temperamento expansivo e de receber com mansidão a Palavra de Deus; 22-25: O dever de viver conforme a isto; 26, 27: A diferença entre as pretensões vãs e a verdadeira religião. Vv. 1-11. O cristianismo ensina os homens a se alegrarem nas tribulações; tais exercícios vêm do amor de Deus; e as provas do caminho do dever darão brilho às nossas virtudes agora, e à nossa coroa ao final. Nos tempos de provas devemos procurar fazer com que a
Tiago (Comentário Bíblico de Matthew Henry)
2 paciência, e não a paixão, atue em nós; o que se diz ou se faz deve ser ditado pela paciência. Tudo o que é necessário para a nossa carreira e guerra cristã nos será outorgado quando a obra da paciência estiver completa. Não devemos orar pedindo que a aflição seja eliminada, tanto quanto pedindo sabedoria para usá-la corretamente. E quem não quer sabedoria para por ela ser guiado nas provas, regulando seu próprio espírito e administrando seus assuntos? Aqui há algo que serve como resposta a cada pensamento triste, quando vamos a Deus experimentando a nossa própria fraqueza e viver néscio. Depois de tudo, alguém pode dizer que essa promessa não é para si próprio, e que não há de triunfar; porém, a promessa é: a todo aquele que pedir, lhe será dado. Uma mente que se ocupa em considerar o seu interesse espiritual eterno de maneira única e dominante, e que se mantém firme em seus propósitos para com Deus, crescerá sábia pelas aflições, continuará fervorosa em suas devoções e se levantará por sobre as provas e oposições. Quando a nossa fé e espírito se levantam e caem por causas secundárias, nossas palavras e ações serão instáveis. Isto nem sempre expõe os homens ao desprezo do mundo, e são caminhos que não agradam a Deus. Nenhuma situação da vida é tal a ponto de impedir que nos regozijemos em Deus. Os crentes mais fracos podem se regozijar se forem exaltados a serem ricos em fé e herdeiros do reino de Deus; e os ricos podem se regozijar com as providências humilhantes que os levam a uma disposição mental humilde e modesta. A riqueza do mundo é algo que se esgota. Então, que aquele que é rico se regozije na graça de Deus, que o faz e o mantém humilde; e nas provas e exercícios que lhes ensinam a buscar a felicidade em Deus e dEle, e não nos prazeres que perecem. Vv. 12-18. Nem todo homem que sofre é abençoado, e sim aquele que com paciência e constância vai pelo caminho do dever, através de todas as dificuldades. As aflições não podem nos tornar miseráveis se não forem ocasionadas por nossas próprias faltas. O cristão provado será um cristão coroado. A coroa da vida é prometida a todos os que têm o
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3 amor de Deus reinando em seus corações. Toda a alma que verdadeiramente ama a Deus terá suas provas neste mundo passageiro plenamente recompensadas no mundo eterno porvir, onde o amor é perfeito. Os mandamentos de Deus e os tratos de sua providência provam os corações dos homens, e mostram a disposição que prevalece neles. Porém, nada pecaminoso do coração e da conduta pode ser atribuído a Deus. Ele não é o autor da escória, ainda que a sua prova de fogo a deixa descoberta. Aqueles que culpam o pecado por sua constituição ou a sua situação no mundo, ou fingem que não o podem evitar, procuram culpar a Deus como se Ele fosse o autor do pecado. As aflições, como enviados de Deus, foram concebidas para fazer com que as nossas virtudes reluzam, e não as nossas corrupções. A origem do mal e das tentações está em nossos próprios corações. Detenha os princípios de pecado, ou todos os males que sobrevierem depois serão totalmente atribuídos a você. Deus não se agrada na morte dos homens, como aquele que não tem nada a ver com os pecados deles, mas os pecados e a miséria devem-se a eles mesmos. Assim como o sol é o mesmo na natureza e influência, mesmo que muitas vezes a terra e as nuvens se interponham, fazendo com que a nós pareça variável, assim Deus é imutável e nossas mudanças e sombras não são mudanças nem alterações nEle. O que o sol é na natureza, Deus é em graça, providência e glória, e infinitamente mais. Como toda a boa dádiva é de Deus, assim, em particular, é que tenhamos nascido de novo, e todas as nossas conseqüências santas e felizes vêm dEle. Um cristão verdadeiro passa a ser uma pessoa tão diferente da que era antes das influências renovadoras da graça divina, que é como se fosse formado de novo. Devemos dedicar todas as nossas habilidades ao serviço de Deus, para que possamos ser uma espécie de primícias das suas criaturas." Vv. 19-21. Ao invés de culpar a Deus quando estamos submetidos a provas, abramos os nossos ouvidos e corações para aprender o que Ele está nos ensinando por elas. Se os homens desejam governar as suas
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4 línguas, devem governar as suas paixões. A pior coisa que podemos acrescentar a uma disputa é a ira. Aqui há uma exortação a se separar e a se lançar fora, como uma roupa suja, todas as práticas pecaminosas. Isto deve alcançar também os pecados do pensamento e do afeto, e os pecados do falar e do agir, a toda coisa pecaminosa e corrupta. Devemos nos render à Palavra de Deus com mentes humildes e dóceis ao ensino. Devemos estar dispostos a ouvir sobre os nossos defeitos e fazê-lo não só com paciência, mas também com gratidão. O objetivo da Palavra de Deus é nos tornar sábios para a salvação; e aqueles que se propõem a qualquer finalidade má ou baixa ao prestar-lhe atenção, desonram o Evangelho e tiram as esperanças de suas próprias almas. Vv. 22-25. Se ouvíssemos um sermão a cada dia da semana e um anjo do céu fosse o pregador, o fato de somente ouvir nunca nos levaria ao céu. Aqueles que são somente ouvintes enganam-se a si mesmos; e o engano de si mesmo, ao final, será achado o pior dos enganos. Se nos adulamos a nós mesmos é nossa própria falta. A verdade, tal como está em Jesus, não adula a ninguém. A palavra de verdade deve ser cuidadosamente ouvida com atenção, e exporá diante de nós a corrupção de nossa natureza, as desordens do nosso coração e de nossa vida; nos dirá claramente o que somos. Nossos pecados são as manchas que a lei deixa expostas; o sangue de Cristo é a lavagem que o Evangelho ensina. Porém, ouvimos em vão a Palavra de Deus, e em vão olhamos o espelho do Evangelho, caso nos retiremos e nos esqueçamos de nossas manchas ao invés de lavá-las, e esquecermos o nosso remédio em lugar de recorrer a este. Isto acontece com aqueles que não ouvem a Palavra como deveriam. Ao ouvir a Palavra olhamos dentro dela em busca de conselho e direção, e quando a estudamos, ela transforma a nossa vida espiritual. Aqueles que se mantém na lei e na Palavra de Deus são e serão abençoados em todos os seus caminhos. Sua recompensa de graça no além estará relacionada à sua paz e consolo presente.
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5 Cada parte da revelação divina tem seu uso, levando o pecador a Cristo para salvação, e guiando-o e exortando-o a andar em liberdade pelo Espírito de adoção, conforme os santos mandamentos de Deus. Observe a diferença: o homem não é abençoado por suas obras, mas em sua obra. O que nos levará ao céu não é o falar, mas o andar. Cristo se tornará mais precioso para a alma do crente, que por sua graça, se tornará mais idônea para a herança dos santos em luz. Vv. 26, 27. Quando os homens se esforçam para parecer mais religiosos do que realmente são, é um sinal de que a sua religião é vã. Não refrear a língua, a prontidão para falar das faltas do próximo ou para diminuir sua sabedoria e piedade, são sinais de religião vã. O homem que tem uma língua caluniadora não pode ter um coração verdadeiramente humilde e bondoso. As religiões falsas podem ser conhecidas por suas impurezas e falta de caridade. A religião verdadeira nos ensina a fazer cada coisa como estando na presença de Deus. Uma vida imaculada deve andar unida ao amor e à caridade não fingidos. A nossa religião verdadeira tem a mesma medida daquela que estas coisas tenham em nosso coração e conduta. Lembremos que nada tem valor em Cristo, salvo a fé que opera por amor, que purifica o coração, que submete as luxúrias carnais e que obedece aos mandamentos de Deus.
Tiago 2 Versículos 1-13: Todas as profissões de fé serão más se não produzirem amor e justiça para os demais; 14-26. As boas obras são necessárias para demonstrar a sinceridade da fé que de outro modo, não será mais vantajosa que a fé dos demônios. Vv. 1-13. Os que professam fé em Cristo como o Senhor da glória não devem fazer acepção de pessoas pelas circunstâncias ou aparências externas, de uma maneira que não concorde com sua profissão de ser discípulos do humilde Jesus. Aqui Tiago não incentiva à rudeza nem à desordem; deve dar-se o respeito civil, mas nunca de modo que
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6 influencie nos procedimentos dos cristãos para dispor dos ofícios da Igreja de Cristo ou para passar as censuras da Igreja ou em alguma questão da religião. O questionamento a si mesmo é algo de muita utilidade em todos os aspectos da vida santa. Façamo-lo com mais freqüência e aproveitemos todas as ocasiões para discorrer com as nossas almas. Como os lugares de adoração não podem ser edificados nem mantidos sem gastos, pode ser apropriado que os que contribuem sejam acomodados de maneira concordante; porém, se todos fossem pessoas de maior orientação espiritual, os pobres seriam tratados com mais atenção do que costuma acontecer nas congregações. O estado humilde é mais favorável à paz interior e ao crescimento na santidade. Deus daria riquezas e honra deste mundo a todos os crentes se lhes fizesse bem, considerando que Ele os tem escolhido para que sejam ricos em fé, e os tem feito herdeiros de seu reino, prometido a todos que o amam. Considere quão freqüentemente as riquezas conduzem ao vício e à maldade, e que grandes censuras são feitas a Deus e à religião por parte dos homens ricos, poderosos e grandes no mundo; isso fará que este pecado pareça muito grave e néscio. A Escritura estabelece como lei amar ao próximo como a si mesmo. Esta lei é uma lei real, que vem do Rei dos reis, e se os cristãos agirem de modo injusto, serão convictos de transgressão pela lei. Pensar que as nossas boas obras expiarão as nossas más obras, é algo que claramente nos leva a buscar outra expiação. Conforme o pacto de obras, transgredir qualquer mandamento coloca o homem sob a condenação, da qual nenhuma obediência o pode livrar, seja passada, presente, ou futura. Isto nos mostra a felicidade dos que estão em Cristo. Podemos servi-lo sem medo. Porém, Deus considera que é sua glória e alegria perdoar e abençoar aqueles que poderiam ser condenados com justiça em seu tribunal; e sua graça ensina que os que participam de sua misericórdia, devem imitá-lo em sua conduta.
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7 Vv. 14-26. Equivocam-se aqueles que tomam a crença de somente algumas noções do Evangelho pelo todo da religião evangélica, como muitos fazem hoje. Não há dúvida de que somente a fé verdadeira, pela qual os homens participam da justiça, expiação e graça de Cristo, salva as suas almas; porém, produz frutos santos e se mostra verdadeira por seus efeitos nas obras deles, enquanto o consentimento a qualquer forma de doutrina ou crença histórica de fatos difere totalmente da fé salvadora. A profissão de fé sozinha pode obter a boa opinião de pessoas piedosas e, em alguns casos, pode procurar coisas mundanas boas; porém, de que aproveita a alguém se ganhar o mundo todo e perder a sua alma? Essa fé pode salvá-lo? Todas as coisas devem ser contadas como proveitosas ou prejudiciais para nós, segundo tenham a tendência de promover ou atrapalhar a salvação de nossas almas. Este ponto das Escrituras mostra evidentemente que uma opinião ou consentimento ao Evangelho, sem obras não é fé. Não há maneira de mostrar que cremos realmente em Cristo, senão sendo diligentes em boas obras por causa do Evangelho e para os propósitos do Evangelho. Os homens podem vangloriar-se uns aos outros e se orgulharem falsamente de algo que na realidade não possuem. Não se trata somente de conformar-se à fé, mas consentir com ela; não só de concordar com a verdade da Palavra, mas de concordar em receber a Cristo. Crer verdadeiramente não é só um ato de entendimento, mas uma obra de todo o coração. Por dois exemplos se demonstra que a fé que justifica não pode existir sem obras: Abraão e Raabe. Abraão creu em Deus e isto lhe foi imputado por justiça. A fé que produz tais obras, conduziu-o a favores peculiares. Então vemos, no verso 24, como o homem é justificado pelas obras; não somente pela opinião ou declaração, ou por crer sem obedecer, mas tendo a fé que produz boas obras. Ter que negar a sua própria razão, afetos ou interesses, é uma ação ideal para provar um crente.
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8 Observe aqui o maravilhoso poder da fé para transformar os pecadores. A conduta de Raabe provou que a fé dela era viva e tinha poder; demonstrou que ela cria com o seu coração e não só por consentimento intelectual. Então, tenhamos em mente que as boas obras sem fé são obras mortas, carentes de raiz e princípio. Tudo o que fazemos por fé é realmente bom, porque se faz em obediência a Deus e para a sua aceitação: quando não há fruto é como se a raiz estivesse morta. A fé é a raiz, as boas obras são os frutos, e devemos nos ocupar em ter ambos. Esta é a graça de Deus pela qual resistimos, e a qual devemos defender. Não existe estado intermediário. Cada um deve viver como amigo de Deus ou como seu inimigo. viver para Deus, que é conseqüência da fé que justifica e salvará, nos obriga a não fazer nada contra Ele, mas a fazer tudo por Ele e para Ele.
Tiago 3 Versículos 1-12: Advertências contra a conduta orgulhosa e a frialdade da língua desenfreada; 13-18: A excelência da sabedoria celestial oposta à mundana. Vv. 1-12. Somos ensinados a temer uma [íngua desenfreada, como um dos maiores males. Os assuntos da humanidade são lançados à confusão pela língua dos homens. Cada época do mundo e cada condição de vida privada ou pública dá exemplos disto. O inferno tem a ver com o aumento do fogo da língua, mais do que os homens geralmente pensam; cada vez que as línguas dos homens são empregadas de maneira pecaminosa, estão acesas com fogo do inferno. Ninguém pode domar a língua sem a assistência e a graça de Deus. O apóstolo não apresenta isto como algo impossível, mas como extremamente difícil. Outros pecados decaem com o tempo, o que muitas vezes agrava o caso; vamos nos tornando mais perversos e ansiosos à medida que a força natural se deteriora e chegam os dias em que não temos prazer. Quando outros pecados são
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9 domados e submetidos pelas enfermidades da idade, o espírito se torna muitas vezes mais agudo, a natureza é vencida, e às vezes as palavras usadas se tornam mais apaixonadas. A língua do homem refuta-se a si mesma, porque em um momento pretende adorar as perfeições de Deus e referir todas as coisas a Ele, e em outro momento, condena até mesmo os homens bons se estes não usam as suas mesmas palavras e expressões. A verdadeira religião não admite contradições: quantos pecados seriam evitados se os homens sempre fossem coerentes! A linguagem piedosa e edificante é o produto genuíno de um coração santificado, e ninguém que entenda o cristianismo espera ouvir maldições, arrogâncias, mentiras e injúrias da boca do crente mais do que espera que uma árvore produza o fruto de outra. Porém, os fatos provam que são mais os professos que conseguem frear os seus sentidos e apetites do que refrear devidamente as suas línguas. Então, dependendo da graça divina, procuremos bendizer e não maldizer; procuremos ser coerentes em nossas palavras e ações. Vv. 13-18. Estes versículos mostram a diferença entre os homens que pretendem ser sábios e os que realmente o são. O que pensa ou fala bem não é sábio em relação às Escrituras, se não viver e agir bem. A verdadeira sabedoria pode ser conhecida pela mansidão do espírito e do temperamento. Os que vivem em maldade, inveja e contenção, vivem em confusão; e estão obrigados a ser provocados e precipitados em toda a má obra. Tal sabedoria não vem do alto, mas brota de princípios, ações ou motivos terrenos, e está dedicada a servir propósitos terrenos. Aqueles que se orgulham de uma sabedoria assim devem cair na condenação do Diabo. A sabedoria celestial, descrita pelo apóstolo Tiago, é próxima ao amor cristão, descrito pelo apóstolo Paulo; e ambos são descritos assim para que todo homem possa provar plenamente a realidade de seus ganhos nelas. Não tem disfarce nem engano. Não pode cair nos enganos que o mundo considera sábios, que são astutos e mal intencionados, porém é sincera, aberta, constante, uniforme e coerente consigo mesma.
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10 Que a pureza, a paz, a bondade, a docilidade e a misericórdia sejam vistas em todas as nossas atitudes e que os frutos da justiça abundem em nossa vida, provando que Deus nos tem outorgando este excelente dom.
Tiago 4 Versículos 1-10: Advertências contra os afetos corruptos, e o amor deste mundo que é inimizade contra Deus; 11-17: Exortações a não empreender nenhum assunto na vida sem a consideração constante da vontade e da providência de Deus. Vv. 1-10. Posto que todas as guerras e pelejas vêm das corrupções de nossos próprios corações, é bom mortificar as concupiscências que lutam em nossos membros. Elas são males que não permitem a alegria nem a satisfação. Os desejos e os afetos pecaminosos impedem a oração e a obra de nossos desejos para com Deus. vigiemos para não abusar ou usar mal as misericórdias que alcançamos através das orações respondidas, por causa da disposição de nossos corações. Quando os homens pedem prosperidade a Deus, costumam pedir com más intenções e finalidades ruins. Se assim buscamos as coisas deste mundo, é justo que Deus as negue. Aqueles que oram com desejos incrédulos e frios não são atendidos; podemos ter toda a certeza de que nossas orações voltarão vazias quando corresponderem mais à linguagem das concupiscências do que à linguagem das virtudes. Aqui há uma clara advertência a evitar todas as amizades criminais com este mundo. A orientação do mundo é inimizade contra Deus. Um inimigo pode ser reconciliado, porém a 'inimizade', nunca. O homem pode ter muitas coisas nesta vida e ser, não obstante, mantido no amor de Deus; porém, o que coloca o seu coração no mundo ao qual se conformará, ao invés de abandonar a sua amizade, é um inimigo para Deus. Assim pois, qualquer pessoa que resolva em todos os aspectos estar de acordo com o mundo, se fará inimigo de Deus. Os judeus ou os professos relaxados do cristianismo pensam que a Escritura fala em vão contra esta orientação em relação ao mundo. O
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11 Espírito Santo, que habita em todos os cristãos ou na nova natureza que Ele cria, não produz este tipo de fruto. A corrupção natural é mostrada na inveja. O espírito do mundo nos ensina a acumular e amontoar para nós, conforme as nossas próprias fantasias; o Deus Espírito Santo nos ensina a estar dispostos a fazer o bem a todos os que nos rodeiam, de acordo com as nossas possibilidades. A graça de Deus corrigirá e curará nosso espírito natural; e onde Ele dá graça, dá outro espírito que não é do mundo. O orgulhoso resiste a Deus, às verdades de Deus e às leis de Deus; em suas paixões resiste à providência de Deus; portanto, não é estranho que Deus resista ao soberbo. Que desgraçado é o estado daqueles que fazem de Deus o seu inimigo! Deus dará mais graça ao humilde porque eles vêem sua necessidade dela, oram por ela, são agradecidos por ela e a terão. Submetam-se a Deus conforme o verso 7. Submeta o seu entendimento à verdade de Deus; submeta a sua vontade à vontade de seu preceito, à vontade de sua providência. Submetamo-nos a Deus, porque Ele está disposto a fazer-nos o bem. Se nos rendermos às tentações, o Diabo nos seguirá continuamente; porém, se nos vestimos de toda a armadura de Deus, e resistirmos, ele nos deixará. Que os pecadores submetam-se a Deus, e busquem a sua graça e favor resistindo ao Diabo. Todo o pecado será lamentado aqui com tristeza santa, e no além, com miséria eterna. O Senhor não negará o consolo àquele que verdadeiramente lamenta-se pelo pecado, e exaltará aquele que se humilha diante dEle. Vv. 11-17. Nossos lábios devem ser governados pela lei da bondade, da verdade e da justiça. Os cristãos são irmãos. Quebrantar os mandamentos de Deus é falar mal deles e julgá-los como se eles nos pusessem uma restrição grande demais. Temos a lei de Deus, que é a nossa regra para tudo; não presumamos em colocar as nossas próprias noções e opiniões como regra para aqueles que nos rodeiam, e tenhamos o cuidado de não sermos condenados pelo Senhor. "Eia agora" é um
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12 chamado a todo aquele que considera que a sua conduta é má. Quão dados os homens mundanos e astutos são para deixar Deus fora de seus planos! Quão vão é buscar algo bom sem a bênção e a direção de Deus! A fragilidade, a brevidade e a incerteza da vida devem frear a confiança vã e presunçosa de todos os projetos para o futuro. Podemos estabelecer a hora e o minuto do nascer e do por do sol pela manhã, mas não podemos precisar a que horas a névoa se dissipará. Tão curta, tão irreal e dada a murchar é a vida humana, e toda a prosperidade e o prazer que a acompanham; porém, a benção ou o "ai" serão para sempre, conforme a nossa conduta neste momento passageiro. Devemos depender sempre da vontade de Deus. Nossos tempos não estão em nossas mãos, mas à disposição de Deus. Nossa mente pode estar cheia de preocupações e pensamentos por nós mesmos, por nossos familiares ou amigos, mas a providência muitas vezes confunde nossos planos. Tudo o que pensamos e tudo o que fazemos deve depender de Deus de modo submisso. Néscio e daninho é ensoberbecer-se de coisas mundanas e projetos futuros, pois produzirá grande desengano e será destrutivo ao final. Os pecados de omissão e os de comissão serão levados a juízo. Será condenado tanto aquele que não faz o bem que sabe que deve fazer, quanto aquele que faz o mal sabendo que não o deve fazer. Ó, que sejamos tão cuidadosos para não omitir a oração e não descuidar da meditação e do exame de nossas consciências, posto que não devemos cometer grosseiros erros contra a luz!
Tiago 5 Versículos 1-6. Anúncio dos juízos de Deus contra os ricos incrédulos; 7-11: Exortação à paciência e à mansidão nas tribulações; 12-18: Advertência contra os votos precipitados – A oração recomendada para as circunstâncias aflitivas e prósperas – Os cristãos devem confessar suas faltas uns aos outros; 19, 20: A felicidade de ser o meio para a conversão de um pecador.
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13 Vv. 1-6. Os transtornos públicos são os mais penosos para os que vivem no prazer, os que são seguros e sensuais, ainda que todas as classes sociais sofram profundamente em tais momentos. Todos os tesouros idolatrados perecerão rapidamente, exceto se forem levantados em juízo contra os seus possuidores. Cuidai-vos de não defraudar e oprimir; e evitai até as aparências do mal. Deus não nos prole de usar o prazer lícito, mas viver no prazer pecaminoso é um pecado que provoca. Não causa danos às pessoas o fato de não preocuparem-se pelos interesses de suas almas, porém satisfazerem os seus apetites carnais? O justo pode ser condenado e morto, mas quando sofre por parte dos opressores, Deus o vê. Acima de todos os delitos, os judeus haviam condenado e crucificado ao Justo que veio a eles: Cristo, o Justo. Vv. 7-11. Pense naqueles que esperam por uma colheita de milho, e não esperarás uma coroa de glória? Sendo chamado a esperar um pouco mais que o agricultor, não é porque há algo mais valioso a esperar? Em todos os sentidos a vinda do Senhor vem se aproximando, e todas as perdas, privações e sofrimentos de seu povo serão recompensados. Os homens consideram o tempo longo porque medem-no de acordo com as suas próprias vidas; porém, todo o tempo é como nada para Deus, como um instante. Alguns anos parecem séculos para as criaturas de vida curta; porém, a Escritura mede todas as coisas pela existência de Deus, reconhece que milhares de anos são como alguns dias. No caso de Jó, Deus agiu de modo a mostrar claramente que é muito compassivo e de terna misericórdia. Isto não é observado durante os seus problemas, mas é visto no resultado, e assim os crentes encontram um final feliz em suas provas. Sirvamos ao nosso Deus e suportemos nossas provas como quem crê que ao final Ele coroará a todos. Nossa felicidade eterna está assegurada se confiarmos nEle: todas as demais coisas são pura vaidade, e logo terminarão para sempre. Vv. 12-18. Condena-se o pecado que jurar; quantos desprezam de modo habitual os juramentos comuns! Tais juramentos desprezam expressamente o nome e a autoridade de Deus. Este pecado não produz
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14 ganhos, prazer nem fama, mas mostra uma inimizade contra Deus que não é necessária nem traz proveito algum. Mostra que o homem é inimigo de Deus, por mais que pretenda chamar-se pelo seu nome, ou às vezes participar dos atos de adoração. O Senhor não considerará inocentes àqueles que tomam o seu nome em vão. No dia da aflição nada é mais oportuno do que a oração. Então, o espírito está mais humilhado e o coração quebrantado e brando. É necessário exercitar a fé e a esperança nas aflições; e a oração é o meio estabelecido para se obter e acrescentar estas graças. Observe que a salvação do enfermo não é atribuída à unção com azeite, mas à oração. Em um momento de enfermidade não é a oração fria e formal que é a efetiva, mas a oração de fé. A grande coisa que devemos pedir a Deus para nós e para os demais em tempos de enfermidade é o perdão dos pecados. Que nada seja feito com o objetivo de se estimular alguém a tardar com a equivocada noção de que uma confissão, uma oração, a absolvição e a exortação por parte de um ministro, ou o sacramento, consertarão tudo no último momento, quando alguém tem se descuidado dos deveres de uma vida piedosa. A confissão mútua de nossas faltas muito ajudará a promover a paz e o amor fraternal. É muito proveitoso quando uma pessoa justa, um crente verdadeiro justificado em Cristo e por sua graça, que anda diante de Deus em santa obediência, apresenta uma oração fervorosa e eficaz, colocada em seu coração pelo poder do Espírito Santo, que produz efeitos santos e expectativas de fé, e assim o dirige com fervor a pedir as promessas de Deus diante de seu trono de misericórdia. O caso de Elias demonstra o poder da oração. Não devemos olhar para os méritos do homem quando oramos, mas a graça de Deus. Não basta pronunciar uma oração, mas devemos pedir em oração. Os pensamentos e os desejos devem ser firmes e ardentes, e as graças devem ser exercidas. Este caso do poder da oração dá ânimo a todo cristão para orar eficazmente. Deus nunca disse a alguém da semente de Jacó:
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15 "Buscai o meu rosto em vão". Mesmo onde possa parecer que não exista um grande milagre de Deus quando responde às nossas orações, ainda há muita graça. Vv. 19,20. Não é uma característica do homem sábio e piedoso ensoberbecer-se de estar livre de erros ou negar-se a reconhecer um erro. Há um erro doutrinário no fundo de todo erro prático. Habitualmente ninguém é mau se não se baseia em um princípio mau. A conversão é fazer o pecador voltar do erro de seu caminho, e não somente de uma a outra parte ou de uma noção a outra, nem de um modo de pensar a outro. Não há maneira de ocultar o pecado de modo eficaz e definitivo, senão abandonando-o. Muitos pecados são impedidos na vida de um convertido; este também pode impedir que outros sobre quem tem influência, pequem. A salvação de uma alma é de importância infinitamente maior que a de preservar a vida de multidões ou contribuir para o bem estar de todo um povo. Tenhamos estas coisas em mente em todos os aspectos de nossas vidas, sem fazer alusão à dor que possa haver no serviço a Deus, e o tempo provará que nosso trabalho não é vão no Senhor. Ele tem multiplicado o perdão por seis mil anos; contudo, a sua livre graça não está cansada nem se esgotou. Certamente a misericórdia divina é um oceano que está sempre cheio e que sempre flui. Que o Senhor nos dê uma parte desta abundante misericórdia por meio do sangue de Cristo e da santificação do Espírito.