ĂŠ um acaso
É um Acaso
Para Allan, mesmo sabendo que vocĂŞ nunca irĂĄ ler este livro
ĂŠ um acaso
Sei que é um erro enorme eu estar escrevendo sobre meus sentimentos. Sei que vai dar um tremendo trabalho traduzir todos os fatos ocorridos e todos os sentimentos indescritíveis que sinto e que irei sentir. Mas, vamos lá. Caro amigo, tudo o que você irá ler neste livro poderá de alguma forma lhe afetar. Não me responsabilizo por danos sentimentais caso você auto se encontrar: ansioso, choroso, tenso ou seja lá o que for. Caso você já tenha lido até aqui, a responsabilidade é toda sua, boa sorte do seu amigo Alfie Walker.
antes
treze dias antes 21 de Junho de 2014, férias escolares de Junho. Até seria legal se minha vida fosse como aquelas que assistimos nos filmes: Festas na piscina, baladas durante toda noite, bebidas alcoolicas, ficando com geral e pegando herpes labial, mas não é assim. Acordei mais cedo do que o normal nesta manhã. Ontem antes de ir dormir falei com meu irmão King que não iria haver curso naquela manhã para mim, e que eu iria sair mais cedo do que ele no dia seguinte para dar um passeio, ele concordou. “E se a mamãe perguntar por que sai muito cedo diga que meu curso hoje foi mais cedo do que
o seu.”, falei. Ele concordou e então fui me deitar. Tomei banho nas pressas, não queria que a mamãe acordasse e me visse sair. Me troquei dentro do quarto. Vesti uma calça jeans branca com meu all star vermelho e uma camisa branca estampada com flores. Peguei dois livros, enrolei a câmera com uma camisa e coloquei dentro da mochila. Eu tinha dinheiro suficiente para passar um dia fora de casa. O que é um fato bom. Desci as escadas e fui caminhando até a estação de metrô que fica perto da minha casa. ”Espero que tenha algum lugar para me segurar.” pensei. O metrô do Recife é um caso sério. Digamos que se você não se segurar em alguma coisa, quando o metrô entrar em movimento você vai se sentir como aquelas bolas de um jogo de pinball. Graças a Deus tinha uma barra de ferro livre, fiquei em pé segurando a barra até chegar na estação Joana Bezerra, o metrô partiu. (Prazeres, Monte dos Guararapes, Porta Larga, Aeroporto, Tancredo Neves, Shopping, Antônio Falcão, Imbiribeira, Largo da Paz, Joana Bezerra). As portas se abriram e seguir em frente. Centenas de pessoas esperando
para descer pelos elevadores e pelas escadas rolantes, as vezes me fascina como as pessoas hoje em dia são sedentárias. Desci pela escada normal, passo pós passo nas pressas para pegar o ônibus. Peguei o ônibus com destino ao shopping RioMar. O shopping estava praticamente vazio, algumas pessoas andando aqui, outras ali. Fui até o elevador e não tinha ninguém dentro, sozinho apertei o botão que tinha desenhado o número quatro. O quarto andar do shopping é apenas lojas de comida, um verdadeiro paraíso. Um paraíso abandonado, não tinha praticamente ninguém, o silêncio preenchia todo shopping. Fui no McDonald’s e uma mulher gentil de olhos pretos me atendeu. "Posso lhe ajudar?", perguntou ela me olhando atrás do balcão. "Sim. Eu vou querer um café", falei olhando o cardápio. "Apenas café?", perguntou ela. "Café com leite", respondi. Ela pegou um copo e levou até a máquina, apertou um botão e o café com leite começou a cair dentro do copo. Observei o vapor flutuando e se desintegrando pelo ar.
"Açúcar ou adoçante?", perguntou a atendente. "Açúcar", respondi. Paguei a atendente, ela me deu três sachês pequenos de açúcar peguei o copo e os sachês e fui andando até a varanda. Eram 10h13 da manhã e o Sol já estava escaldante, os prédios no horizonte pareciam se contorcer devido ao calor. Dei um gole no café com leite e estava tão amargo. Voltei para dentro do shopping e me sentei em uma das mesas com vistas para a varanda, admirando os pássaros que traçavam suas rotas por ali. Dei mais um gole no café com leite e ainda não estava entendendo o por que estava tão amargo, foi ai que percebi que ainda não tinha colocado os açúcares, então abri os três sachês despejei dentro do copo e mexi. Dei um gole. Açucarado como mel. Fiquei sentado durante um tempo, abri a mochila e folheei algumas páginas dos livro até perceber que o café com leite já tinha acabado. Voltei ao McDonald’s mas dessa vez comprei um chocolate quente e fui para a parada de ônibus. Minutos depois o ônibus chegou e me levou até a estação do metrô
onde fiquei na plataforma com destino ao Recife. Desci na estação do Recife, com o copo do chocolate quente na mão comecei a caminhar até o Marco Zero. As ruas estavam tão calmas, o dia estava lindo, ensolarado e com poucas nuvens. O Marco Zero se encontrava cheio de turistas devido a copa do mundo, argentinos pra cá, americanos para lá, fotografias e mais fotografias por toda parte. Nunca me senti tão seguro andando pelo Recife como hoje. Tinha policiais em toda parte. Tirei a câmera da mochila e coloquei pelo pescoço. Comecei a fotografar alguns prédios. Pessoas rindo de coisas bobas me deram boas fotografias espontâneas, sorrisos convictos de felicidade momentânea. As vezes me sinto tão bem quando fugo da monotonia. Sei que me rendo a tristeza e que a maioria do meu tempo sou um garoto depressivo. Mas em alguns momentos eu gosto de ser feliz. Fui caminhando de volta para a estação e peguei o metrô com destino à Cajueiro Seco. Ao chegar na estação de Prazeres desci na plataforma e fui caminhado para casa. Passei a tarde ouvindo Lana Del Rey enquanto
ficava admirando as estrelas artificiais grudadas no teto PVC do meu quarto. Tristemente não sou uma pessoa que tem a vida social ativa como qualquer adolescente normal de dezesseis anos. Mal sabia eu que, o meu dia ainda estava prestes a começar… Adormeci. Acordei algumas horas depois mas permaneci deitado, apenas ouvindo música e pensando em coisas aleatórias. Fui até a cozinha e preparei um sanduíche e comi ao ar da solidão que predominava toda cozinha. Voltei para o quarto e peguei o notebook para checar as redes sociais. Meu celular vibrou. Uma nova mensagem no WhatsApp. Allan Scott tinha escrito na tela. "Allan Scott?", falei para mim mesmo olhando a tela do celular. "Não conheço algum Allan Scott", falei. Mas em questão de alguns milissegundos me recordei que um garoto chamado Allan Scott me seguiu no Twitter na noite anterior. Deslizei o dedo sobre a tela do celular para desbloquear a tela. "Oi, quem é você?", era a mensagem do garoto. Mas que diabos eu fiz para merecer uma mensagem dessas? O garoto vem
conversar comigo e pergunta quem é, só acho que essa pergunta deveria ser minha. "Alasca.", respondi. "Alasca?", ele respondeu. "Quem é Você, Alasca?", retruquei. Nossa. Com uma piada dessa o garoto vai achar que sou um tremendo idiota. "Esse livro é ótimo.", ele respondeu. E assim começou uma conversa longa e duradoura. Allan Scott. Dezesseis anos e alguns meses. Nascido em abril de 1998. Gosta de músicas, livros e fotografias. Odeia relacionamentos devido por fazerem ele sofrer, se sentir mal e triste. Eu estava muito cansado. Meu dia foi bastante movimentando e andei por vários lugares, passava das 00h00. Allan e eu ainda estávamos conversando mas falei que estava cansado e precisava dormir agora. "Okay meu amor, tenha uma boa noite." "Meu amor?", pensei. Quem é ele para me chamar de meu amor? "Tchau.", foi o que apenas respondi. Coloquei o celular embaixo do travesseiro e fiquei olhando para o teto, a escuridão do quarto não dava para ver muita coisa, apenas as estrelas artificiais que acediam no escuro.
Fiquei olhando para elas até minha visão ficar embaçada e cai no sono.