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Síndrome do Final de Ano

A manifestação que faz mal para a saúde física e mental tado passivo).

O final de ano é um momento esperado pela maioria das pessoas com um misto de emoções. Em paralelo as confraternizações e festas observamos um fenômeno que tem como consequência o aumento dos casos de estresse, ansiedade, depressão, esgotamento mental, pânico, insônia, falta de energia e pressão pela falta de tempo. Isso ocorre no período entre o fim de novembro até o último dia de dezembro. Todo final de ano é assim. As pessoas param para fazer um balanço do ano e se planejar para o seguinte. E mesmo sendo um período de confraternizar, de estar junto de pessoas queridas, os sentimentos de melancolia e autocobrança podem dominar os pensamentos. O sentimento de ansiedade e angústia diante do fim do ano é tão verdadeiro que recebeu o nome de Dezembrite ou Síndrome do Final de Ano.

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Parece brincadeira, mas é real e acontece justamente quando as pessoas estão abarrotadas de coisas para fazer. Compromissos sociais, organização das festas em família, comprar presentes, enfrentar filas, concluir pendências do trabalho, planejar o réveillon, projetar o novo ano.

Quando uma pessoa faz reflexões sobre a sua vida e percebe pouca produtividade, conflitos interpessoais e intrapessoais, ela fica mais suscetível a desenvolver a ansiedade (expectativa de futuro) ou a depressão (es-

A autocobrança causa um gasto de energia física e mental e o fato de não alcançar seus desejos e metas, muitas vezes inatingíveis, pode gerar perda da autoconfiança e o rebaixamento da autoestima.

Porém essa cobrança feita a si mesmo não é de todo mal ou somente uma vilã na história de vida. A autocobrança funciona como um automonitoramento para conseguir adaptar emoções, sentimentos e comportamentos.

Ela só gera prejuízos na pessoa dependendo do nível em que ocorre, ou seja, níveis extremos de autocobrança podem dificultar a pessoa a percepção do que ocorre em sua vida, quais são as mudanças necessárias para seu equilíbrio. Ela também pode dificultar o reconhecimento de comportamentos funcionais que estejam sendo desenvolvidos pela pessoa, mas que não sejam suficientes para o enfrentamento da vida diária. Para lidar com a sensação de insatisfação com o desempenho é necessário autoconhecimento para reconhecer as capacidades, dificuldades e limitações. Dessa maneira será mais fácil potencializar as qualidades e ter a tomada de consciência dos comportamentos em que você não consegue realizar nesse momento. Sem dúvidas, o autoconhecimento auxilia a pessoa a equilibrar suas emoções, pensamentos e compor- tamentos, e consequentemente, estar satisfeito com suas decisões, ideias e com sua forma de lidar e aceitar sua vida, como ela realmente é.

Causas da Síndrome do Final de Ano

Os fatores que explicam a chegada de emoções tão pesadas e o aumento da dificuldade de lidar com as adversidades são inúmeras, mas é possível mapear alguns, com base nas demandas adicionais que não existem nos outros meses do ano. Vamos entender:

• Excesso de trabalho e dificuldade de gerir bem o tempo - Para o que a pessoa considera importante pode resultar em insatisfação com a vida e desânimo, afetando negativamente a saúde mental. O estresse, ansiedade e angústia afloram quando se vive correndo contra o tempo. Bons hábitos aliados à organização pessoal e gestão de tempo são refletidos na melhora do bem-estar no dia a dia. As pessoas que conseguem gerir bem os seus dias possuem mais tempo para encontrar amigos e familiares, além de ficar juntinho com o cônjuge.

• Falta de dinheiro, cobrança por presentes e a pressão pelas compras de Natal - Tudo isso pode gerar angústia emocional e ansiedade com o surgimento de sentimento de culpa. Felizmente, a celebração do Natal não se esgota na compra de presentes. O verdadeiro presente é aquele que faz a pessoa se sentir valorizada enquanto ser humano, se sentir notada, lembrada e que transborde afeto. Esse é o presente que ela vai guardar e lembrar para sempre. É importante centralizar a celebração em “presentes” como o reconhecimento das emoções, a empatia, a solidariedade e o apoio mútuo. As memórias de Natal não se fazem só de presentes desembrulhados, mas também de risos e histórias partilhadas.

• Conflitos em reuniões familiares acontecem - Pessoas que não mantêm boas relações com suas famílias também podem sofrer nesse período e, consequentemente, ter dezembrite. Existe uma obrigação de ser aquela família que só existe na propaganda, gerando angústia. Assim como não existem pessoas perfeitas, não existe família perfeita. Mas mesmo assim, e apesar de suas falhas, as famílias podem ser funcionais e amorosas, núcleos formados por pais e filhos que sabem amar, respeitar e crescer juntos. A família mais feliz nunca será uma família perfeita, mas aquela que seus membros respeitarão uns aos outros, aceitarão suas diferenças e garantirão que todos tenham suas opiniões, suas particularidades e seu espaço.

• Comparações com os outros - Está tudo bem sentir frustração ao fazer uma reflexão sobre seu ano, só não deixe que esse sentimento seja reforçado por comparações. Viu um post que trouxe um sentimento ruim depois que você o comparou com as suas frustrações da vida? Ao invés disso foque em uma atividade que traz prazer e ânimo para encarar a vida com mais leveza, trazendo a superfície as qualidades te fazem ser essa pessoa única e incrível que você é. A percepção sobre você deve ser baseada na intenção de construir uma consciência mais gentil com você mesma.

• Saudade de pessoas que já faleceram - A saudade pode apertar ainda mais no final de ano, muitas pessoas acabam se entristecendo nessa época, pois lembram de pessoas que já se foram, é como reviver o luto. O processo do luto é delicado e pessoal, mas independente da fase em que ele esteja, é necessário ressignificar tudo aquilo que lembra o ente querido. Uma das formas de fazer isso é usando as boas memórias como alicerce desse caminho, para que ele não seja tão doloroso.

• A sensação de solidão pode se agravar - A solidão pode se manifestar em pessoas que vivem sozinhas e não têm contato com familiares, muitas vezes elas vivem bem, mesmo sozinhas, mas durante as festas ficam mais deprimidas. O sentimento de solidão ao contrário do que as pessoas possam pensar, não afeta só quem vive sozinho ou não tem familiares próximos, pois pessoas com famílias aparentemente bem estruturadas também podem ser atingidos por essa sensação, uma vez que, apesar da proximidade física, existem algumas pessoas que podem sentir-se emocionalmente distante dos demais.

• Pressão por felicidade e gratidão - A necessidade de se sentir feliz e grato o tempo todo é chamada de “positividade tóxica” e pode ser muito observada nessa época do ano. Ela é, resumidamente, uma postura assumida por algumas pessoas, que consiste em escapar ou silenciar qualquer tipo de sensação negativa, afinal, é socialmente imposto que a época das festas é um tempo feliz para todos. Porém, sabe-se que isso não é verdade, visto que nem todas as pessoas têm condições de comemorar ou motivos para celebrar. Essa obrigação de se sentir feliz no fim do ano pode causar ansiedade e angústia. A pessoa que não compartilha desse espírito de comemoração pode se sentir desconcertada ou como se tivesse algo de errado com ela. Mas é preciso entender que não é um dever comemorar ou estar bem no fim do ano e que cada pessoa é única e está tudo bem não compartilhar das festividades alheias.

Como evitar a Síndrome do Final/Começo de Ano Apesar de ser quase inevitável não ter algum tipo de ansiedade e depressão nessa época, existem algumas dicas que podem ajudar a lidar com a temporada de forma mais tranquila.

Culpar-se por coisas que não realizou ou por tudo que aconteceu durante o ano, por exemplo, prejudica ainda mais a saúde mental, gerando um enorme gasto de energia emocional. Consequentemente, isso afeta as atividades cotidianas, relacionamentos e o bem-estar no geral. Por isso, é necessário ter o hábito de destacar suas conquistas diárias e suas qualidades. Ter um outro olhar sobre os acontecimentos e ser grato podem ser gatilhos positivos para o fortalecimento da saúde emocional, gera bem-estar, aumenta a autoestima e traz forças para realizar mudanças. Entende-se a gratidão como a capacidade de ser agradecido a algo que a vida proporciona, sendo bom ou ruim. E pode ser praticada de maneira divertida, leve e com certeza tem a capacidade de mudar a forma com percebemos os acontecimentos da vida, o que por sua vez aumenta a autoestima e autoconfiança, e consequentemente gera maior qualidade de vida. Geralmente, quando as pessoas agradecem, as situações fluem de uma maneira melhor.

Estratégias para viver melhor

VALORIZE O POSITIVO

Desenvolva a prática de ressaltar seus aspectos positivos, vitórias e acontecimentos ao longo do ano que foram bons. Isso vai aumentar sua autoestima, despertar em você uma sensação de contentamento e bem-estar. Estes são os ingredientes fundamentais para uma boa saúde emocional. Respeite suas limitações, valorize-se e agradeça as pequenas conquistas.

Baixe A R Gua Da Autoexig Ncia

Quanto mais exigentes somos conosco, mais ampliamos um estado emocional dolorido. Então, que tal baixar a régua da autocrítica um pouquinho? Permita-se ser mais gentil e fazer uma reflexão mais generosa, analisando o que você fez bem e o que pode ser feito diferente da próxima vez. Em resumo, transforme o erro em aprendizado.

Ressignifique As Coisas

Você já parou para pensar que, talvez o fato de não ter concretizado aquele plano que queria é consequência de você ainda não estar preparado? Ou na possibilidade de você não aproveitar os frutos dele como gostaria? Por isso, substitua a culpa por responsabilidade, ou seja, a capacidade para responder diferente numa próxima vez. Mas se você chegar à conclusão de que faltou força de vontade, reflita se o que você almeja é algo que você genuinamente deseja, ou se está fazendo isso por expectativa dos outros ou convenções sociais.

Diminua A Expectativa Em Rela O Ao Outro

Todo ano a história se repete. As piadinhas sem graça, os parentes vão surgir com perguntas inconvenientes do tipo “e aí, está namorando? E o casamento? E o bebê? Quando chega?” – Nem sempre essas pessoas fazem isso por mal. Às vezes é apenas a forma delas demonstrarem interesse por você ou quererem participar de sua vida, embora não saibam fazer isso com responsabilidade afetiva.

Então, ao invés de querer mudar o outro e criar expectativas, que tal trabalhar com sua reação a estas adversidades? Sugiro que você pense em estratégias para te ajudar neste momento: deixe claro seus limites (a comunicação não-violenta é sua aliada nessas horas), diga não e evite discussões desnecessárias. Por fim, respire fundo e saiba que isso vai passar. Como recomendação final reforço que é perfeitamente normal sentir-se mais triste, ansioso ou estressado neste período. Apesar disso, tome cuidado para não aliviar o sofrimento através de comportamentos ‘escapistas’, como comprar compulsivamente, comer demais ou exagerar na bebida. Tenha um olhar generoso e compassivo com seus sentimentos, acolhendo-os ao invés de negá-los. Este é o começo do caminho. E acredito que seja um bom caminho.

Fonte: Rosemary Seguin, psicóloga do HFC Saúde

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