Revista apadianos 2017 2018 conferencia

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CARTA AO LEITOR EDITORIAL HISTÓRICO APADA BILINGUISMO FENEIS LIBRAS, COMO ENSINAR? CAS SURDO-CEGUEIRA CONHECER DIREITO ACESSÍVEL SURDO-FOTO LETRAMENTO SURDO E MERCADO DE TRABALHO EDUCAÇÃO PORTUGUÊS INTÉRPRETES PSICÓLOGOS IFB SILÊNCIO EM AÇÃO GAMIFICAÇÃO DEPOIMENTOS SAIBA ONDE ENCONTRAR

| E x pe di e n te Redação Henrique Araújo Marcos Brito Tamires Araújo Jornalista Responsável Henrique Araújo Projeto gráfico Karolina Lima Capa Karolina Lima Diagramação Karolina Lima Revisão Jónior de Faria Antunes Rosana Cipriano Soraia Rodrigues Tiragem 100 exemplares Impressão Athalaia © É permitida a reprodução parcial ou total das matérias desde que citada a fonte. Os artigos assinados são de inteira responsabilidade de seus autores


Divulgação internet


| C a rta ao l e i tor

Shirley Vilhalva,

Professora Surda Mestre em Linguística pela UFSC FABAS/MS - Família Bilíngue e Amigos de Surdos

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comunidade Surda ganha uma nova etapa com a revista APADIANOS, contando com uma equipe com a mente firme em prol dos familiares de Surdos somando com a comunidade da língua de sinais. Com uma inovadora visão no desenvolvimento de familiares bilíngues e com olhares empreendedores nesse novo século. Através de perspectivas acentuadas, desejando novos caminhos da cultura Surda no Brasil e no mundo. A revista realça práticas e concepções realizadas contra o isolamento da língua de sinais, traçando um patamar altruísta na educação de surdos e ensino de Libras. A cada página desta revista você encontrará uma pincelada de conteúdo e dados sobre a cultura Surda. Tudo pensado por pais, filhos e amigos de Surdos, mostrando um vai e vem de ideias, revelações e propostas vivenciadas pelos próprios Surdos junto aos amigos e familiares. Em cada pagina que você folhear vai encontrar algo novo para desvendar de uma rica leitura da revista apadianos que vai mostrar quão a importância dos pais terem a Libras nas mãos e construir o mundo da linguagem em um idioma que se vê. Queridos pais e amigos de Surdos e da língua de sinais, ainda não achei motivos que levaram alguns de vocês estarem tão distante dessa língua tão maravilhosa em sua plenitude imagética. Meu desejo aqui é estar sempre acreditando em sua participação na luta frente ao direito

humano surdo desde a educação, trabalho e o bem viver nessa nossa grandiosa língua de sinais. Você leitor, a cada nova página vai se deparar com momentos descritos e analisados pelos pais que procuram o melhor para seus filhos. Vai desafiar os filhos Surdos a compreenderem que a constituição da pessoa Surda ocorre quando ela adquire a sua identidade surda e se apropria na sua condição bilíngue dentro da cultura surda. A família e a escola ganharam nas entrelinhas uma chamada para que juntos possam ofertar um espaço relativamente bilíngue, expondo-o em trânsito do ambiente familiar bilíngue à escola com presença de professores de Libras e dedicando um foco a ser construído com novos profissionais Surdos e ouvintes. Os pais desejam o melhor a seus filhos e é necessário que seja de coração aberto. Aceitando o desejo do seu filho, que é brilhar dentro da comunidade Surda, empoderados com sua língua de sinais, com firme identidade e cultura Surda política. Assim, convido você leitor a conhecer a Revista Apadianos, como eu que recebi com alegria a novidade. Tive a oportunidade de desvendar as páginas que me levaram a refletir que há uma gama de interferência na construção da almejada educação bilíngue, ensino da Libras que vive no “constrói e desconstrói” em formação de um novo caminho junto aos pais, amigos de Surdos e todos demais da nossa comunidade da Libras.


Marcos de Brito

Professor Presidente da Apada-DF (2013-2017)


| Ed i tor i a l

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m uma sociedade onde uma pessoa é dependente de outra para se sentir em igualdade de condições, está ainda muito distante de se considerar ideal e democrática; considerando-se, naturalmente, que o “ideal” é de difícil alcance, mas é possível se aproximar disto. Eis a diferença entre uma condição integradora, onde cada cidadão necessita se adaptar ao meio para ser mais um, poder contar com a ajuda, o auxílio, a caridade do outro para acessar sua igualdade de direitos e uma condição inclusiva em que este cidadão é parte do todo e por esse motivo precisa contar com condições favoráveis para se sentir um cidadão de fato, de forma independente e plena. Enquanto houver barreiras, sejam elas arquitetônicas, comunicacionais ou atitudinais, não podemos dizer que compomos uma sociedade inclusiva. Nesta edição, destacaremos a história de uma ONG, voltada para as especificidades da surdez, que diante de muitas barreiras, principalmente atitudinais, se mostra hoje como uma instituição respeitável, séria e comprometida com esta causa. Mas, como uma instituição não se perpetua sozinha, mostraremos também alguns de seus personagens que contribuíram e contribuem até os dias atuais, para que a utopia de uma sociedade inclusiva para o cidadão Surdo/ deficiente auditivo se transforme em algo possível. Dentre estes personagens que citaremos, encontram-se também instituições parceiras, como a Secretaria de Estado de Educação

do DF, Universidade de Brasília, Defensoria Pública do DF, Uníntese, Brasil Desenhado, Surdo Foto, Escola de Rédeas Reining Team, 2P Health Care, Feneis/DF, Instituto Federal de Educação de Brasília – IFB, Instituto Marista, Centro Estadual de Atendimento ao Deficiente da Audiocomunicação do MS – CEADA, através da super parceira Shirley Vilhalva, e demonstraremos, com efeito, que mais vale os vínculos de colaboração entre parceiros do que somente o apoio financeiro. Observaremos um desejo de vida, como bem dizia Madalena Freire (1992), por parte de familiares que vislumbravam uma sociedade de difícil trato para com seus parentes Surdos/ deficientes auditivos, e por se negarem a um desejo de morte, de derrota, se uniram em torno de um objetivo comum, que era e ainda o é, de fazer com que as barreiras impostas pela sociedade sejam eliminadas. Um desejo de difícil concretude, mas com efeito necessário para a dignidade deste segmento da sociedade. Como vocês poderão perceber, o nosso foco está voltado para a área pedagógica, por acreditarmos que a informação e o conhecimento são as melhores ferramentas para se transformar uma sociedade em metamorfose. Por fim, desejamos que, em sua leitura, entenda como a Apada/DF, fundada em 1975 na cidade de Brasília, consegue através destes anos, buscar desenvolver um trabalho sério, voltado às pessoas com surdez e deficiência auditiva, e que seja uma leitura prazerosa, pois foi feita com muito carinho.

Equipe Apadianos

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| H istóri co A p a d a

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A P A D I A N O S

TRANSFORMAÇÃO A

Linguagem Ludovico Pavoni CEAL-LP que abrigou a associação em uma das salas permitindo que as atividades fossem desenvolvidas com êxito. A esses inúmeros parceiros a Apada será sempre grata. Ressalta-se que o Ceal-DF é uma instituição que atua no DF para minimizar as dificuldades de uma das mais marcantes deficiências de sentido do ser humano: a surdez. A Apada é uma entidade civil, filantrópica, assistencial e educacional, sem fins lucrativos, e hoje encontra-se sediada em Brasília-DF, SDS Ed. Venâncio Jr, Bloco M. Henrique Araújo

Associação de Pais e Amigos dos Deficientes Auditivos do Distrito Federal Apada-DF foi fundada em 15 de março de 1975 com a finalidade de promover a assistência social, a cultura, prestação de serviços educacionais e a saúde; promover o voluntariado, a ética, a paz, a cidadania, os direitos humanos, a democracia e outros valores universais como rege o estatuto elaborado pelo advogado Sebastião Sarmento. A história da instituição é marcada pelo apoio de diversos parceiros, Centro Educacional da Audição e

A criação da Apada-DF deu-se nos anos 70, 1975, em um momento cuja legislação ainda era incipiente e de pouca atenção à inclusão das pessoas com deficiência. A realidade estava constituída de uma visão integracionista, marcadamente pelo entendimento de incapacidade dessas pessoas. Neste período, crianças Surdas eram vistas apenas como pessoas com deficiência auditiva, ou simplesmente DA’s, cuja visão clínica e terapêutica prevalecia sobre a pessoa em sua totalidade e que precisavam ser “tratadas” de um problema ou de

Tudo que a gente sonhava aconteceu ao longo desses anos de trabalho”, declarou Mariangela Reis, umas das primeiras integrantes da Apada DF.

Sebastião Sarmento e Mariangela Reis foram de suma importância para a construção e consolidação da Associação

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uma enfermidade auditiva e para tanto necessitavam de utilização de aparelhos auditivos e terapias para que fossem normalizadas com o propósito de serem adequadas à sociedade ouvinte. Diante deste contexto social, familiares e outras pessoas envolvidas com a causa, mobilizaram-se no sentido de que seus filhos Surdos tivessem melhores condições de vida, prioritariamente no campo educacional. Neste cenário a APADA-DF foi fundada com o objetivo de contribuir para a alteração da realidade imposta naquele momento. Durante esse período, os pais se engajaram na busca de melhores condições para seus filhos, para tanto, realizaram várias atividades em conjunto com o Ministério da Justiça e Educação, denominadas Encontros Nacionais de Pais e Amigos de Surdos - ENPAS. A partir destes eventos, acumularam experiências inovadoras dentro e fora do país, assim como a tradução de bibliografia sobre a área da surdez. Estes eventos descortinaram um fato que já se observava na prática, que era a incapacidade do método oral possibilitar uma inclusão social de qualidade, mas que por falta de opção permanecia como principal forma de atendimento a pessoas com surdez. Após contribuição de experiências além da filosofia oralista de educação, a Apada-DF avança rumo a novos métodos alternativos de educação do Surdo, sem que se descarte o modelo em uso, o oralismo. Um pensamento em respeito aos pais que preferiam permanecer na situação em que se encontravam, pois ainda havia

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o receio de “experimentar” algo novo. Considerando que os dirigentes da Apada-DF sempre assumiram a decisão de respeitar as diversas opiniões em relação aos métodos adotados para o ensino de seus filhos Surdos, inicia-se ações de apoio ao que se apresentava naquele momento, década de 80, com a filosofia denominada de Comunicação Total, cuja preocupação centrava-se nos processos comunicativos entre Surdos e Surdos e entre Surdos e ouvintes, com a utilização de informações e estratégias, como gestos espontâneos e naturais, mímicas, pantomimas, entre outras formas de comunicação para além da oralização. Os resultados pedagógicos no processo de ensino-aprendizagem do aluno Surdo apontam a necessidade de uma revisão neste processo, levando profissionais e pesquisadores à conclusão de que as línguas faladas e de sinais podem conviver harmoniosamente, mas não de maneira simultânea como ocorria com a filosofia da comunicação total. Neste sentido, a Apada-DF, no ano de 2000, estabelece o primeiro Termo de Cooperação Técnica com a Secretaria de Estado de Educação do DF – SEEDF, cujo o objetivo maior foi o de concretizar ações educacionais e sociais de inclusão do Surdo. Em razão dessa parceria, foram disponibilizados professores que atuariam na educação bilíngue de Surdos, bem como no apoio aos familiares e aos professores e toda a comunidade Surda.

“A relação com a SEEDF é mantida com êxito e compromisso desde aquele ano quando do início de uma história decisiva para as grandes mudanças, registrando inúmeras conquistas e diversas parcerias com outras instituições, pessoas físicas e jurídicas possibilitando assim a construção de um novo cenário social, justo, digno e legítimo à comunidade Surda do DF e de tantos outros estados por onde a Apada-DF teve a honra de contribuir, especialmente no campo da educação. Seja por força de lei ou pelo empenho e compromisso de todos os envolvidos, lança-se um novo olhar à realidade que se apresenta, entendendo que o caminho percorrido foi crucial para o presente que ora se experimenta modificando a vida de Surdos e Ouvintes! Rosana Cipriano* *Professoram Mestre em Educação e Doutoranda em Ciências da Educação, professora da SEEDF, 1989, presidente da APADA/DF, 2004-2014, atualmente atuando na ABRACE, DF.

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Ailton do Almo Rodrigues Professor da Apada hรก 17 anos

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Apada = TRANSFORMAÇÃO

A Apada-DF existe há 42 anos, destes, 17 anos contam com Termo de Cooperação com a Secretaria de Estado de Educação do DF, que tive o privilégio de contribuir para sua efetivação, onde há disponibilização de professores que atuam diretamente com pessoas Surdas e familiares, não estando alheios às novas formas de existir no mundo, ressignificando as condições que oferecem para aprendizagem de seus alunos Surdos.

conquistas e celebrações. É justo dividir com a SEEDF os elogios, em razão da concessão de professores, cuja presença permitiu ampliar e consolidar ações positivas em prol do Surdo e seus familiares, principalmente no quesito dignidade e reconhecimento, pois os Surdos não são considerados como um Surdo abstrato, mas como pessoas que possuem diferentes formas de vida material e representam diferentes papéis sociais. Entendemos que a comunicação é fundamental com o Surdo, A história tem mesmo destas coisas, tem o cuja vivência no mundo é completamente hábito de não permanecer no passado. Alguns visual-gestual. A Libras é a sua língua, e neste defendem que tempo é dinheiro, para mim sentido, construímos juntos o feito de sua tempo é vida, vida repleta de emoções que se autonomia e inclusão social. faz a cada dia. Experimentar este tempo de vida só me trouxe e traz alegria. Uma aventura Aqui, a exclusão não se normaliza, nem tão pouco pedagógica. Na Apada-DF tem dessas coisas: se naturaliza. Nosso empenho, no nosso fazer após conhecê-la, não se esquece jamais! No pedagógico, é tornar visível o invisível, diferente meu caso, são 17 anos de dedicação, empenho de muitos olhares no cotidiano: ninguém vê e aprendizagem. Para alguns recordar é viver. nada, ninguém tem a ver com nada, ninguém Para outros, contrariamente, viver é libertar- sabe de nada. se do passado. Mas considero existir um diálogo possível entre ambas, recordações Concluo este compartilhamento para reforçar de experiências bonitas, fortes, desafiadoras que a Apada-DF não mede esforços para garantir e ao mesmo tempo saudade do futuro. E a acessibilidade em todos os níveis sociais a essa aqui, na Apada-DF, o passado, presente e classe minoritária no intuito de assegurar-lhes o futuro se entendem e caminham juntos. os direitos plenos. Em primeiro lugar as pessoas Uma instituição que cresce de mãos dadas e não a produção. E, como saudade do futuro, com sua história, reconhecendo o feito de quero ver uma sociedade em que a diferença tantas pessoas bonitas que passaram por ela e seja possibilidade para construção de nossa deixaram suas marcas, e tantas outras lindas autonomia, não o argumento para legitimar que permanecem e prosseguem com o mesmo injustas desigualdades econômicas, sociais e empenho e dedicação. politicas. A participação da Apada-DF no cenário Obrigado. local e nacional, empenhada na causa da pessoa Surda é muito importante, motivo de Professor Ailton do Almo Rodrigues Apadianos

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Para sempre proporcionar o melhor ensino ao surdo, a Apada conta com os profissionais mais especializados do mercado. ENPAS - Encontro Nacional de Pais e Amigos de Surdos, eventos realizados em conjunto com algumas das Apadas - Apada/DF, APASCAM e Apada/RS

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| Bilingu i s m o

O empoderamento do Surdo em destaque

Por: Glaucio de Castro

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Para o professor adjunto do Departamento de Linguística, Português e Línguas Clássicas da UnB, Gláucio de Castro Júnior, ser bilíngue é saber dominar duas ou mais línguas. No caso dos Surdos brasileiros, a Libras é classificada como a primeira língua – L1 e a língua portuguesa como segunda língua – L2. A Libras apresenta o mesmo status linguístico das línguas orais. A Língua Portuguesa geralmente é manifestada na forma escrita pelos Surdos. Normalmente existem diferentes Surdos com níveis linguísticos distintos, devido à exposição da aquisição da linguagem. “Ter o domínio de uma língua é ter o poder. É decidir e participar democraticamente das escolhas linguísticas”, afirma Gláucio de Castro. O empoderamento linguístico é uma estratégia que o sujeito Surdo tem para os seus pares e nas relações Surdo/Surdo e Surdo/Não-surdo por meio da linguagem usada. Os Surdos que possuem um bom nível Linguístico, sempre irão buscar o equilíbrio na língua para

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expressar o pensamento. Para isso, é preciso usar as estratégias e as possibilidades que a língua oferece no uso e na interação fazendo com que o outro consiga ampliar a sua expressividade e consiga de fato atingir o ápice de uma comunicação equilibrada. Assim, a oferta de uma acessibilidade torna-se possível oferecer um retorno para a Comunidade Surda, de forma que se tenha diferentes conquistas: a língua é pensada de forma vital e promotora de resultados que as políticas linguísticas buscam consolidar. Cabe lembrar que a educação familiar é primordial. Acreditar no potencial da pessoa Surda é fundamental. Viver em uma sociedade inclusiva é saber respeitar as diferenças, é fazer valer igualmente o direito de escolha, social e educacional de cada cidadão, seja ele Surdo ou não-surdo. A vida harmoniosa, em sociedade, deve ser o objetivo comum de todos, mas para ser alcançada é preciso que a comunicação seja uma realidade em Libras ou

em Língua Portuguesa, a depender da(s) escolha(s) de cada um e ser bilíngue permite que o próprio Surdo seja protagonista de muitas conquistas e ações.

*Glaucio de Castro

Professor Adjunto do Departamento de Linguística, Português e Línguas Clássicas – LIP. Coordenador do Núcleo de Estudo e Pesquisa da Variação Linguística – Varlibras. Coordemador do Inventário Nacional de Sinais-termo do Campo do Patrimônio Cultural e Artístico em Libras. Licenciado e Bacharel em Ciências Biológicas. Licenciado em Letras-Libras. Licenciando em Letras-Português. Especialista em Desenvolvimento Humano, Educação e Inclusão Escolar. Mestre e Doutor em Linguística.

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| Fen eis

Feneis dá voz ao Surdo através de educação e empoderamento linguístico Por: João Renato Dias Rodrigues | Tradução: Marcos de Brito

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A Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos - Feneis que completa 30 anos de luta em favor da comunidade Surda do Brasil em questões como empoderamento linguístico, acessibilidade e educação de qualidade tem uma atuação muito forte para dar voz ao surdo que não era visto nem ouvido. Esta situação levou a comunidade Surda a uma vida de grande esforço para se integrar numa sociedade majoritariamente ouvinte, o que torna o convívio complicado, pois não há o reconhecimento de direitos como um cidadão brasileiro. Em seu processo natural de desenvolvimento, a Feneis inicia uma atuação mais política, no que se refere à organização e desenvolvimento de projetos nos mais diversos setores sociais, como por exemplo, uma participação efetiva na criação da Lei Brasileira de Inclusão – LBI (Lei 13.146/2015) que dispõe

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uma condição mais justa e igualitária para os Surdos. “Nós, da comunidade Surda, passamos por situações muito difíceis em nossa sociedade excludente. É fato que de uns tempos para cá, tivemos alguns progressos, mas ainda são grandes os problemas vividos. Posso citar a questão da acessibilidade comunicacional, onde muitos dos tradutores/ intérpretes da Língua de Sinais/ Português ainda não possuem uma formação adequada para executar uma mediação de qualidade”, afirmou o diretor João Renato Dias Rodrigues. A Feneis vem de encontro a esse problema, amadurecendo e alardeando a necessidade de contar com profissionais intérpretes qualificados e empoderando a comunidade Surda de seus direitos a uma plena acessibilidade. A federação define algumas prioridades de luta como: a educação, oportunidades de trabalho, esporte e português como segunda língua. Assim, a

Feneis se empenha em desenvolver projetos para melhorar essas áreas que estão presentes na vida dos Surdos no DF. Os Surdos travam uma batalha muito grande para serem inseridos na sociedade, por isso a Feneis busca mecanismos para uma inclusão efetiva, mas muitos são os pontos que precisam ser mudados. Para que isso ocorra, faz-se necessário uma união com os diversos setores da sociedade. É necessário que a sociedade ouvinte reconheça os surdos como cidadãos. A Feneis integra na aprendizagem dos jovens, metodologias utilizadas nos Estados Unidos e que demonstram um ganho significativo para os Surdos. “Tenho a esperança de conseguirmos chegar neste nível de educação. Também desejo presenciar um futuro onde verei profissionais Surdos das mais diversas áreas, como médicos, advogados, engenheiros e atuando nestas áreas de formação”, concluiu.

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| Libras, com o e n s i n a r ?

Ensino de Libras como L2 – Uma proposta de língua estrangeira Por: Henrique Araújo

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onfira agora a entrevista com Denise Soares Ribeiro, atual responsável pelo ensino de libras, como L2 na Apada.

Antes de começar, me diga: Quem é você Denise? Sou formada em Licenciatura de língua inglesa pela UnB. Ministrei aulas de inglês por 31 anos. Você diz que a utilização desta proposta está envolvendo uma abordagem de língua estrangeira, que abordagem é essa? Essa abordagem é a comunicativa, muito utilizada no ensino de línguas estrangeiras e que fiz as adaptações necessárias para o ensino de uma língua de modalidade visual e motora. Como você teve a ideia de sugerir a abordagem comunicativa para o ensino de Libras como L2? Era aluna do curso de Libras básico da Apada. Percebia que a aula não tinha um planejamento estruturado, nem objetivos claros a serem atingidos. O

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professor apenas ensinava sinais de temas aleatórios, os alunos ouvintes que acabavam por dominar o processo da aula, buscavam, em suas curiosidades, de equivalências entre sinais e palavras do português. Poderia explicar melhor, no que se refere a planejamento e objetivos de cada aula? EEm primeiro lugar, senti falta de um material didático com DVD vinculado a apostila adotada para estudar em casa. Segundo, toda aula necessita de planejamento, ou seja, é necessário se pensar em cada momento da aula, como o tema que será introduzido, qual matriz de vocabulário será utilizado, como será desenvolvido o tema, quais serão as práticas utilizadas, qual material será necessário para o desenvolvimento do conjunto da aula e também pensar em como essa aula será

concluída, proporcionando o desejo de o aluno retornar a próxima aula. Material didático ajuda o aluno a se organizar melhor para estudar em casa e vocês desenvolveram dois livros didáticos, não é mesmo? Mas a ideia do material foi baseada em quê? Isso. Elaboramos dois livros a princípio, outros ainda virão. Na época, o professor usava uma apostila organizada pelo Prof. Ms.Falk Moreira, mas era consenso que a apostila não atingia o objetivo de material didático funcional, além de constar apenas com imagens estáticas, se contrapondo a modalidade da língua que é motora. Mas a ideia de sugerir a abordagem comunicativa no material didático, começou exatamente como? Após 7 meses de frequência no

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Ele aceitou a sugestão? Apresentei a ideia da unidade completa com uma roupagem totalmente contextualizada. Interação dos alunos e material lúdico para as práticas de ensino. O DVD também sofreu grandes modificações para ser usado junto com o livro, mas a sinalização é toda do professor Falk. Qual foi a reação do professor Falk Moreira? Abriu um sorriso largo, espontâneo e topou na hora a reformulação da apostila inteira. Neste momento foi um desafio para você? Sim e não! Sim, porque seria um mega projeto para ser desenvolvido sozinha. E não, pelo fato de conhecer e ministrar aulas com material didático para L2 de língua inglesa por muito tempo.

Terminada a etapa da organização da primeira unidade, o que foi feito para testar esta ideia? Sugeri ao então presidente da Apada, Marcos de Brito, a abertura de uma oficina de ensino de Libras como L2 para professores. Seriam 20 vagas. Para nossa surpresa, apareceram 42 interessados na ideia. E o resultado desta oficina? Os professores Surdos aceitaram sua sugestão de abordagem comunicativa, material didático e o lúdico como aliado a todo este projeto? Os quatro encontros desta oficina foram proveitosos. O sucesso foi tão grande que abrimos mais duas turmas posteriormente. Alguns professores inclusive levaram seus filhos para não perderem a oportunidade em participar. Nesta etapa o projeto já estava pronto? Ao encerrarmos as oficinas, escolhemos duas professoras para participarem de um projeto piloto com essa abordagem.

E o material didático já estava pronto? Ainda não. Por ser professora de inglês e acostumada com material didático importado, ilustrações exuberantes, papel de primeira linha, eu sonhava com este nível de qualidade para o nosso projeto. Como conseguiu tudo isto? Sabemos que não contou com patrocínio e nem ajuda de órgãos governamentais. Tenho uma pessoa próxima que é designer gráfico e é um verdadeiro artista. Além de ser da área, ofereceu seu trabalho totalmente como voluntário. Formatação completa. O resultado foi um material de alta qualidade. E as aulas com as duas professoras selecionadas, como foi? No primeiro semestre do projeto piloto, observei todas as aulas e fizemos um feedback ao final de cada encontro. Num total de 24 encontros. E o resultado, saiu dentro do esperado?

Constatei que deveria planejar e apresentar aula a aula para as professoras. Realmente é complexa uma Henrique Araújo

curso, pensei em entrar em contato com o professor Falk e apresentar um planejamento para uma unidade da apostila existente na época, o capítulo era sobre valores monetários.

Lutar para que o ensino de Libras possa ser mais divulgado e popularizado. Abrir frentes de trabalho para os professores Surdos, de forma que possam alcançar mais respeito e dignidade, não apenas para eles próprios, mas para toda a comunidade Surda. Denise Ribeiro Professores de Libras Surdos, aprendem na prática a didática demonstrada nos livros

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Henrique Araújo

sugestão de abordagem comunicativa para o ensino de Libras como L2. Muita paciência e principalmente o desejo de colocar em prática toda a organização e planos de aulas. Cada material lúdico tem o momento certo a ser utilizados em momentos distintos e interligados. O aluno e o professor se revezam no desenvolvimento da aula e ao final de cada encontro é planejado um momento para que o aluno encontre motivação e encantamento pelo aprendizado da língua.

satisfação com cada grupo. Temos gráficos que revelam o grau de satisfação, críticas e sugestões. Foram 30 turmas que já concluíram o curso com a utilização desse material.

E agora, quais são os seus planos? Na verdade este projeto não está concluído. É apenas o início da construção de uma ideia para o ensino de Libras como L2. Estudos, críticas e sugestões para o aprimoramento desta construção, são altamente benéficas e necessárias. Ao final destes três anos de aplicação, percebemos que há muito a ser feito. Como definiria um aprendizado eficaz em poucas palavras? Gosto muito desta citação de um autor desconhecido: “Diga-me e eu saberei, ensina-me e eu lembrarei, envolva-me e eu aprenderei”. Fica a dica. Envolvimento é a parte crucial

neste processo todo. Quais seriam seus planos a médio e longo prazo? Lutar para que o ensino de Libras possa ser mais divulgado e popularizado. Abrir frentes de trabalho para os professores Surdos, de forma que possam alcançar mais respeito e dignidade, não apenas para eles próprios, mas para toda a comunidade Surda. Poderia fazer um balanço final do projeto desenvolvido ao longo destes 3 anos? Foi acima das nossas expectativas. Dois livros publicados (Libras em Arquivos Básico I e Básico II) com seus respectivos DVD’s interativos e sinalizados pelo Prof. Ms. Falk, 20 turmas de alunos formadas na Apada, sendo duas turmas no Supremo Tribunal Federal, mais de 400 alunos envolvidos e cinco professores Surdos capacitados com a abordagem comunicativa de ensino. Avaliações prontas e na modalidade visual para cada livro, planejamento de aulas para as 120h/a de curso e material lúdico confeccionado para cada unidade específica de cada livro. Soraia Rodrigues

E as duas professoras Surdas, como avaliaram este projeto piloto nesta abordagem proposta? Perceberam que ensinar Libras havia se tornado bastante prático, organizado e planejado. Tinham mais autonomia na aula, já que os temas das aulas são contextualizados. Desta forma, os alunos se mantem focados no assunto apresentado e o rendimento individual surpreende até para os aprendizes com alto grau de dificuldade. E os alunos, qual foi a avaliação que fizeram deste projeto? Foram realizadas pesquisas de

Materiais de estudo utilizados para o ensino de Libras como L2 Apadianos

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| CAS

CAS-DF é referência no aprendizado do Surdo em Brasília

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Centro de Capacitação de Profissionais da Educação e Atendimento às Pessoas com Surdez (CAS-DF), realiza em Brasília o apoio a comunidade Surda e seus familiares, possibilitando a integração do deficiente auditivo e do Surdo na sociedade. O CAS possui quatro núcleos de coordenação, o que ajuda na interação e estudo de cada caso encaminhado para o centro. Criado em dezembro de 2002, o CAS foi instituído pela Secretaria de Educação Especial SEE-DF do Ministério da Educação - MEC. A proposta visou criar um Centro de Apoio ao Surdo em todas os estados da federação, direcionando o apoio aos alunos Surdos da rede pública

Por: Henrique Araújo

de ensino, o centro é mantido pela Secretaria de Estado e Educação SE-DF. Atualmente o centro dividi espaço com a SEE-DF na 912 sul em Brasília. Através do CAS, o aluno Surdo das séries iniciais e fundamentais do ensino regular do (SE-DF), recebe orientação e apoio para superar barreiras impostas pela comunicação. Essas barreiras são especificamente ao Surdo, uma vez que há uma limitação na audição, dificultando uma eficiente inclusão social. Desde que foi criado, o centro possui núcleos de atendimentos, possibilitando que o aluno seja prontamente atendido, facilitando o trabalho do professor que vai estudar e trabalhar cada caso. São eles:

São eles:

1. Núcleo de Capacitação de Profissionais e da Comunidade em Geral (NUCAPE) Esse núcleo tem por objetivo principal oferecer cursos de formação continuada para professores que atendam alunos Surdos, Surdocegos e/ou alunos com diagnóstico de DPAC (Distúrbio do Processamento Auditivo Central), em parceria com a Escola de Aperfeiçoamento dos Profissionais da Educação (EAPE) e outras instituições representativas da comunidade Surda. É também um espaço reservado para a capacitação de professores Surdos, intérpretes educacionais, contratados efetivamente ou temporariamente pela SEEDF, e apoio pedagógico ao Atendimento Curricular Específico (ACE). É responsável pelo aspecto pedagógico dos cursos de formação continuada nas áreas da surdez e DPAC, além de promover seminários, palestras e encontros pedagógicos com professores que atendam o aluno Surdo e/ou com diagnóstico de DPAC, com Transtorno Global de Desenvolvimento (TGD) permanente de estudo sobre educação de Surdos. Professora Coordenadora Geral do CAS: Jenaína Alacoque

2. Núcleo de Tecnologia e Adaptação de Material Didático (NUTAM) Esse núcleo tem por objetivo dar suporte técnico à produção de vídeos didáticos, em Libras; adaptação de vídeos de complementação didática, principalmente aqueles produzidos para as escolas públicas do ensino fundamental, por meio da inserção de “janelas” para a interpretação em língua de sinais ou de legendas. Essa ação torna os vídeos acessíveis aos surdos. Além de interpretação em Libras ou legendagem de vídeos já existentes, o núcleo também tem por objetivo orientar a produção de novos vídeos e materiais pedagógicos específicos para a educação do surdo e alunos com diagnóstico de DPAC. Professora/Coordenadora: Lira Matos 16

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3. Núcleo de Convivência (NUCON); Espaço interativo planejado para favorecer a convivência, a troca de experiências, pesquisas e desenvolvimento de atividades pedagógicas, socioculturais e lúdicas, integrando familiares, pessoas surdas, ouvintes e com distúrbios de áudio comunicação. Promove parcerias com instituições públicas e privadas. Professora/Coordenadora: Alliny Andrade 4. Núcleo de Apoio Didático Pedagógico (NUADIP); Esse núcleo compreende um espaço que coordena e organiza pedagogicamente o corpo docente e os atendimentos aos alunos surdos/DA, surdos com baixa-visão, alunos com diagnóstico de DPAC e assessoria e orientação às escolas e familiares. Professor/Coordenador: Elemregina Equipe Especializada de Apoio à Aprendizagem (EEAA) – Equipe multidisciplinar, composta de profissionais com formação em Pedagogia e em Psicologia, que tem como objetivo principal contribuir para a superação das dificuldades presentes no processo de ensino e escolarização, por meio de uma atuação institucional. A atuação da EEAA pauta-se em ações que ocorrem nos espaços e tempos do contexto escolar, tais como o mapeamento institucional, o suporte ao trabalho da gestão escolar, a assessoria ao processo de ensino-aprendizagem desenvolvido por meio de intervenções nas dificuldades de escolarização. Professor/Coordenador: Carla Silva

ATENDIMENTOS

- Curricular Específico (ACE) • Português Oral • Português Escrito • Estimulação Auditiva, Sensorial e Rítmica • Libras - Outros Atendimentos • Acompanhamento Educacional Pedagógico/Psicopedagógico • Matemática / Raciocínio Lógico • Artes • Informática Educativa • Educação Física / Educação Psicomotora • Atendimento aos alunos do Ensino Médio: Projeto “Conhecendo o Mundo: imagem, palavra e Conceito” – História (Ciências Humanas) • Orientação às famílias de Surdos e famílias de DPA ESTRUTURA ADMINISTRATIVA A estrutura administrativa do CAS é constituída de: I) Professor Coordenador Geral; II) Professores-Coordenadores de Núcleo; III) Professores Regentes; IV) Equipe Especializada de Apoio a Aprendizagem V) Auxiliar de Educação: Conservação e Limpeza

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| Su rdoce g u e i ra

Ausência de luz e som: Ultrapassando a barreira da desigualdade e deixando o isolamento Breve relato sobre desafios e alegrias de ter um filho Surdo cego Por: Henrique Araújo

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ocê que está lendo essa revista e ouvindo o som de cada página que passa com os dedos, nesse exato momento, tem consciência da sua sorte em ter nascido com essa visão? Talvez você não imagine, mas existem pessoas que não tem a mesma possibilidade e que a ausência de luz e som pode acabar por isolá-las do mundo que as cerca. Nas palavras da professora e mãe do Surdo cego Iury Moraes, Elemregina, o Surdocego não é um Surdo que perdeu a visão e nem um cego que perdeu a audição. O cego se apóia na audição, para estabelecer um contato com as pessoas. O Surdo se apóia na visão para fazer a mesma interação, já o Surdocego não possui esse apoio e não pode se apoiar em nenhum dos 18

dois. Por conta disso, acarreta uma dificuldade imensa de socialização, aquisição de aprendizagem, ou seja, é um processo que se dá mais pelo outro do que por ele mesmo. É um ser humano que precisa de apoio nos primeiros momentos, e após esse momento de ajuda, o Surdocego começa a evoluir, mas de forma mais lenta que as pessoas sem essa particularidade. “Eles têm poucos amigos, poucas oportunidades de se reunir, dificuldade de construir relacionamentos afetivos, e no curso de formação que oferecemos, nós tentamos fazer essa desmitificação de que o Surdocego não é uma pessoa para conviver em sociedade”, lamenta Elemregina. O Surdocego tem um leque de possibilidades, Surdocegos totais, Surdocego

com baixa visão, Surdocegos profundos, mas que fazem das pequenas possibilidades, tanto na visão, como na audição, uma aproximação com a sociedade complementa a professora. Com cinco meses de vida, foi descoberta a cegueira no primeiro filho da professora, Iury não possuía visão 100% nos dois olhos. Com um ano e meio de vida a criança acabou revelando um quadro de surdez. A mãe já desconfiava que alguma coisa acontecia, pois, a criança só andou com três anos. “Mas as professoras me falavam que era porque ele não tinha estimulo visual, mas logo foi crescendo e a fala também não se desenvolveu”, relatou. “Ele foi se desenvolvendo com os espaços que ele tinha e com a Apadianos

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depende da iluminação, adequação tátil e Libras em campo reduzido. A minha reivindicação é que a gente caminha muito timidamente para avançar nas conquistas para o Surdo. Há 23 anos estou nessa luta, e muitas coisas só aconteceram com o Iury porque sou professora e porque tenho uma condição melhor que outras famílias. Políticas públicas estão caminhando lentamente, e é uma minoria sem proatividade. Um político ou outro tem uma atuação forte nesse meio. Acontece que os Surdoscegos são muitos dependentes da família. O apoio as famílias também é pouco, quase nulo. O MEC também precisa de uma atuação mais forte em prol dessa comunidade, falta tecnologia assistiva, cursos de intérpretes, material de leitura, encontro dos professores que atendam esses alunos. Essa caminhada com o Iury é de extremo aprendizado, porém, sofrido é o que relata a mãe, Elemregina. “É um trabalho que parece não ter fim. Hoje sou os olhos e ouvidos do meu filho e procuro acompanhar e dar todo o suporte necessário para que ele continue se desenvolvendo, parece trabalhoso, mas tudo isso

Embora a Surdo cegueira possua duas deficiências associadas - a surdez e a cegueira - não se trata da somatória de ambas, mas uma deficiência única que apresenta características peculiares como graves perdas auditiva e visual, levando quem a possui a ter formas específicas de comunicação para ter acesso a lazer, educação, trabalho e vida social. Não há necessariamente uma perda total dos dois sentidos. No Brasil há hoje cerca de 250 pessoas com surda cegueira. Fonte: Grupo Brasil de Apoio ao Surdo cego e Múltiplo Deficiente Sensorial).

vale muito a pena”. “Estamos trabalhando para que ele caminhe daqui para frente com as próprias pernas, mas é um risco e estamos orientando para que ele faça uso da bengala. Ele tem plena consciência que eu nunca vou estar aqui para sempre, por isso terá que se virar sozinho. O Iury tem um sonho de morar em Londres, por ser uma cidade acessível, e isso já é um primeiro passo para torná-lo independente”.

Henrique Araújo

família. Felizmente nós podemos dar todo suporte para ele. Mas existem casos em que a família negligencia, existem as que superprotegem, e tem as que tentam equilibrar os dois lados, que acredito ser o caso da nossa família. Ao mesmo tempo em que tenho medo que ele saia sozinho, também o deixo muito a vontade para que ele se posicione também em relação ao que acontece ao redor dele”. À medida que foi avançando no ensino médio, por exemplo, ele tinha que provar que estava ali por competência. Quando ele chegava nos lugares era uma surpresa, pois as pessoas se perguntavam o que o Surdocego estava fazendo nos anos finais. No decorrer do tempo, é claro que precisou de apoio, mas que chegou ali por mérito. A tecnologia ajudou muito, principalmente na interação com a própria família e com as redes sociais, possibilitando que ele fizesse amigos e encontrasse os colegas de curso, a dificuldade dele é enxergar de longe, sendo que o olho esquerdo foi completamente comprometido. Até um metro e meio ele consegue identificar o que está na frente, porém, tudo

Referências Existem no Brasil algumas instituições e pessoas empenhadas em promover a inclusão social de quem possui Surdo cegueira. Entre elas encontram-se: Associação Brasileira de Pais e Amigos dos Surdos cegos e Múltiplos Deficientes Sensoriais (Abrapascem), Associação Brasileira de Surdo cegueira (Abrasc), Associação para Deficientes do áudio Visão (Adefav - dirigida pela primeira educadora de Surdo cegos no Brasil, Ana Maria de Barros Silva), Ahimsa - Associação Educacional para Múltipla Deficiência, Escola Anne Sullivan, Instituto Benjamin Constant, Centro de Treinamento e Reabilitação da Audição (Central) e Grupo Brasil de Apoio ao Surdo cego e ao Múltiplo Deficiente Sensorial (congrega profissionais, instituições, pais e Surdocegos), Centro

A família é fundamental para o densevolvimento da pessoa surdocega

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de Integração Vítor Eduardo (Cive).

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IB D


| D efensor i a P ú b l i c a

Conhecer Direito: Um projeto que dá voz ao Surdo A ideia traz conhecimento e clareza para Surdos numa sociedade de ouvintes Divulgação

Por: Henrique Araújo

Projeto conhecer direito é acessível à todos os públicos

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projeto Conhecer Direito Acessível é uma iniciativa voltada para alunos com deficiência auditiva e/ou surdez. A ideia é trazer o conhecimento jurídico básico para o Surdo nas áreas de direito 22

administrativo, constitucional, civil, penal, direitos da criança e do adolescente entre outros. A iniciativa foi idealizada pela psicóloga Ingrid Quintão baseando-se no projeto da Defensoria pública Conhecer Direito

que era voltado para alunos da rede pública do DF. Na certeza de que o acesso à informação é o caminho que possibilita a autonomia e liberdade das pessoas, o projeto Conhecer Direito Apadianos

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do direito. O projeto contou com a ajuda de defensores públicos, diplomatas e magistrados como o juiz Fábio Esteves, do Tribunal de justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT) que puderam transmitir seus conhecimentos com auxílio dos intérpretes, capacitando os Surdos para o mercado de trabalho e para a vida. O conhecer direito acessível não ficou apenas nas salas de aula. A política de inclusão e respeito à comunidade Surda pela Defensoria Pública do DF sob a gestão do Dr. Jairo Lourenço em parceria com a Apada possibilitou a criação de outros dois projetos relacionados à essa comunidade. O primeiro visou a capacitação dos servidores do órgão com o curso de Libras, tendo a preocupação de que, em todos os setores, o Surdo pudesse ter atendimento na sua língua.

O segundo consistiu em atendimento e acompanhamento especializado que necessitava de acesso à justiça. O intérprete ficava à disposição no núcleo central da Defensoria Pública em Brasília. A ideia apresentou um dado positivo no atendimento, ocasionando uma melhoria de vida dos atendidos pelo órgão, tendo direito à comunicação garantido. Por meio da educação em direitos, os Surdos puderam ter acesso a informação e consecutivamente ampliar as possibilidades de acesso em universidades e concursos públicos. Mas, a maior contribuição de um projeto dessa magnitude foi e é o acesso à informação, tão cara para a comunidade Surda, que sofre por não ter condições ideais de educação. “Informação é vida, é saúde emocional". Divulgação

foi pensado e desenvolvido em 2010 pelo Coordenador da Escola de Assistência Jurídica (Easjur), Evenin Ávila. Dois anos mais tarde nascia o projeto Conhecer Direito acessível. As turmas eram inteiramente formadas por alunos Surdos, sendo capacitados por intérpretes da Língua Brasileira de Sinais - Libras. A versão acessível do projeto Conhecer Direito só foi possível, devido a parceria realizada com a Associação de Pais e Amigos dos Deficientes Auditivos (Apada). A associação buscou os melhores profissionais para auxiliar o projeto a transmitir as informações de forma acessível para os Surdos, ajudando na compreensão do conteúdo. Através do projeto, foram mais de 150 pessoas com deficiência auditiva que puderam ter aulas com profissionais qualificados no ramo

Professores e advogados engajados no ensino do direito para Surdos

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| Su rdo foto

Fotografia: Grande aliada

no desenvolvimento linguístico do Surdo Divulgação

Por: Henrique Araújo

Interação entre alunos Surdos e professores é requisito primordial para o aprendizado da fotografia

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esde sua criação em março de 2012, o Surdo Foto tem a missão de colaborar para o desenvolvimento linguístico do surdo por meio da fotografia. A estratégia do projeto fundamenta-se na utilização da fotografia como recurso comunicativo, posto que na sociedade, majoritariamente ouvinte, a comunicação se dá por meio da oralidade e da escrita. 24

Portanto, as barreiras de comunicação entre surdos, falantes de língua de sinais e ouvintes são muitas. O Surdo Foto pretende minimizá-las oferecendo o exercício da leitura e produção de fotografias como ponte para a compreensão de mundo e sua expressão. A ideia é iniciar os membros do grupo no processo de letramento visual que é a compreensão do texto

imagético envolvendo o uso social. Como resultado desse processo, ocorre à inserção na cultura e a mudança de papel social. O início do projeto se deu com o tema “cinema surdo”, inspirados no surgimento do cinema e em Charles Chaplin. Como resultado desse trabalho, os surdos realizaram uma exposição na Câmara dos Deputados. Apadianos

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Professores analisam os trabalhos e direcionam os alunos

para além da arte, ou da técnica, mais um recurso comunicativo. Nesse sentido, alguns membros do nosso foto clube optaram por ela como curso su-

perior e estão se profissionalizando” ressalta Isabella Gurgel, idealizadora do projeto e mestre linguístico pela Universidade de Brasília (UnB). Divulgação

Após esse primeiro contato, o surdo foto iniciou uma parceria com o Superior Tribunal de Justiça (STJ), que consiste em um curso de fotografia com prestadores de serviço surdos atuantes no tribunal e uma exposição com as imagens geradas pelo grupo participante. A última aventura foi o projeto Linguagens, olhares e poéticas, patrocinado pelo Ministério da Cultura (MINC) e a Universidade de Brasília (UnB). O Surdo Foto foi até a Escola Bilíngue Português/Libras em Taguatinga – DF, para desafiar um grupo de jovens surdos a ler e produzir fotografias como narrativa de suas vidas e da surdez. Desse processo surgiram imagens bastante significativas, que hoje estão expostas na Galeria UnB. “Percebemos, ao partilhar textos imagéticos com os olhares dos Surdos, o quanto essa comunidade é habilidosa na compreensão e produção. A fotografia na concepção dos Surdos, é

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Dessa forma, seguimos recitando a cada dia como mantra um verso de Drummond, nosso poeta maior, adaptado por nós à moda surda: “Penetra surdamente o reino das imagens” 25


| Ad u lto s S u rd o s

Letramento de surdos isolados

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expressão “Surdos isolados” tem sido empregada para designar os Surdos que cresceram sem aprender nenhuma língua standard. Na capital do Brasil, ainda há dezenas de Surdos jovens, adultos e idosos que não aprenderam língua alguma. Com esse perfil, muitos chegam até à Apada-DF trazidos por suas mães, irmãos, primos, cuidadores que têm o desejo de que eles aprendam “alguma coisa” ou que apenas tenham um lugar para passar o tempo. Eles não vêm por escolha própria, como no resto de suas vidas, sempre à mercê das opções dos outros. Não têm as mãos hábeis dos Surdos, pelo contrário, precisamos ensinar-lhes a pegar no lápis e a desvendar o universo dos objetos da leitura e da escrita. O contato inicial com essas mulheres e homens Surdos fez nascer em mim o desejo de estudar e desvendar esse universo tão pouco explorado. Eles chegam à Apada com sistemas de comunicação bastante arcaicos, são gestos, acenos, apontação, mímica, gritos, emissão sons. Esses sistemas 26

Por: Linair Moura Barros Martins*

gestuais criados e compartilhados no seio da família, tendem a ter existência apenas no espaço de tempo em que o Surdo for vivo. Por não terem existência anterior, não carregam os valores culturais próprios das sociedades humanas e por não passarem a outra geração são incapazes de se estabelecer historicamente como resultado das interações humanas. As consequências de não se saber uma língua estão, em primeiro lugar, no nível pessoal, relacionadas ao desenvolvimento das funções psíquicas superiores, como atenção voluntária, memória lógica, formação de conceitos, interpretação, análise e síntese e, em segundo lugar, no nível social, no relacionamento interpessoal, na compreensão das regras de convivência, além de outras consequências. Além da falta de uma língua, a superproteção da família funciona como um freio ao desenvolvimento, limitando a ação e impedindo que a pessoa enfrente os desafios que alavancam seu crescimento. Muitos Surdos jovens e adultos chegaram sem

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Adultos surdos são educados tardiamente pela falta de interesse dos familiares

autonomia para pegar um ônibus, fazer uma pequena compra na padaria, trabalhar fora, gerenciar os recursos recebidos do Benefício da Prestação Continuada, ou seja, demonstravam inabilidade com o autocuidado e com as demandas da vida social. Muitos passaram pela escola na infância, mas não permaneceram. Não foram alfabetizados e não aprenderam a escrever. O despreparo da escola imprimiu marcas reveladas por eles, como as situações vexatórias, os castigos, a exposição pública, juntando-se a isso, a baixa expectativa sobre o desenvolvimento acadêmico desse grupo que acrescentou mais um fator de exclusão social, pois, sem a aquisição de uma língua e sem o aprendizado da leitura e da escrita, eles passaram a computar dupla desvantagem: de um lado, privados da apropriação dos bens sociossimbólicos da sua coletividade e, por outro, em desvantagem social em relação à participação na sociedade letrada, onde a falta da leitura e da escrita dificulta uma ação mais qualificada e cidadã. No projeto desenvolvido pela ApaApadianos

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da, o desenvolvimento linguístico é o objetivo principal, privilegiando-se o ensino da língua de sinais e da língua portuguesa, na modalidade escrita. Porém, vários são os fatores implicados na aquisição de uma língua. No caso desse grupo, a aquisição, já tardia, é impactada pelo fator idade que também dificulta a sua identificação com os Surdos mais jovens, reduzindo suas oportunidades de interação com os pares e, consequentemente, de desenvolvimento linguístico-social. Para superar essa dificuldade, o projeto concebe a participação constante de um professor Surdo para propiciar a aquisição da língua de sinais. Além do aprendizado da língua, a interação paritética gera espaços de diálogo, em que temáticas relativas à surdez surgem naturalmente e conversa sobre os sentimentos e dificuldades enfrentados quanto às situações vividas propicia a criação de outros sentidos sobre a surdez, superando perspectiva individual do sofrimento, pela possibilidade situar a experiência como parte da história de um grupo. Nesse caso, a aprendi-

zagem da língua está diretamente relacionada à possiblidade de ressignificação da experiência vital em termos comunicativos e identitários, porque as oportunidades de falar sobre os incômodos do aparelhos auditivo, da experiência de não conseguir se comunicar, das impressões sobre a cabine de fonoaudiologia fornecem outras significações sobre a condição de Surdo que vão sendo pouco a pouco apropriadas individualmente, simultaneamente à constituição de vínculos com o grupo de referência, ainda que tardiamente, promovendo novas interpretações sobre si e sobre o mundo, num processo de construção de suas identidades sociais e de apropriação do conjunto de valores partilhados pela comunidade de falantes da língua de sinais pelos quais vão se constituindo o seu pertencimento. O pertencimento gera força para enfrentar outros coletivos, como nos diz Dorziat (2009) e também apresenta possibilidades de ser pela e na diferença. O pertencimento constitui um lugar onde as trajetórias individuais se encontram e fazem sentido porque 27


são partilhadas com a experiência dos outros Surdos, ressaltando a condição que os une e possibilitando a reconstrução das representações sobre a experiência pessoal dentro de um novo background em que os valores e as experiências dos Surdos são legítimos e representam “aquilo que somos ou pensamos ser”, escapando dos estigmas criados pelo grupo majoritário nos quais a surdez é geralmente tida como um desvio do padrão ouvinte. Nesse contexto, a língua de sinais começa a se desenvolver. Na medida em que cresce a competência comunicativa, um mundo de histórias passa a ser contado, revelando as dores e cicatrizes de uma vida constituída no submundo do preconceito e das mais baixas expectativas da família e da sociedade quanto ao seu desenvolvimento pessoal e acadêmico. Nos seus relatos, fazem questão de marcar a diferença entre eles e os ouvintes, do tratamento recebido, das situações vividas em que se encontravam sufocados por exigências que não podiam corresponder. Depois que aprendem a língua de sinais, revelam que o sistema gestual que usavam era incompleto e insuficiente para as demandas da vida e, em especial, da escola. Com a aquisição da língua de sinais, além de narrarem sua trajetória passam a avistar outras possibilidades, desejando, agora, aprender a língua majoritária, o português, pelo qual podem acessar outras possibilidades sociais, revelando que quem não tem língua alguma não pode entender o sentido de aprender outra língua. Somente depois de ocupar o lugar social de falante de Libras, é possível desejar outros lugares acessados, na sociedade brasileira, pelo domínio da língua portuguesa que, na perspectiva bilíngue, é ensinada como segunda 28

língua, na modalidade escrita. O que se pode dizer desse grupo de Surdos é que a surdez não foi a causadora do infortúnio de chegarem a essa idade sem adquirir uma língua, sem casar, constituir família, com reduzidas possibilidades de emprego e sem escolarização. Certamente, as consequências pessoais e sociais que sofreram resultaram de um conjunto de valores, em que prevaleceu a descrença sobre o potencial dos Surdos. Esses valores, incorporados pela família e pelas pessoas e instituições onde esses Surdos se constituíram, foram definitivos para traçar suas trajetórias e fazer com que crescessem à margem da sociedade, dependentes de suas famílias e isolados do mundo.

O projeto concebe a participação constante de um professor surdo para propiciar a aquisição da língua de sinais. Além do aprendizado da língua, a interação paritética gera espaços de diálogo, em que temáticas relativas à surdez surgem naturalmente e conversa sobre os sentimentos e dificuldades enfrentados quanto às situações vividas propicia a criação de outros sentidos sobre a surdez. Linair Moura A situação dos Surdos isolados nos leva a avaliar as responsabilidades da família e da sociedade sobre as pessoas com deficiência. Desde a Constituição de 1988, o Brasil produziu uma rica legislação com o objetivo de garantir a inclusão das pessoas com deficiência e outras minorias na vida social, promovendo diversas ações afirmativas como forma de garantir acesso aos espaços antes fechados

ou restritos. Muito embora esse fato aponte para uma situação melhor no futuro, é preciso reparar as grandes injustiças cometidas no passado e garantir que não se repetirão. É necessário que a família receba orientação e recursos diante de situações de ignorância, negligência ou carência que comprometam o desenvolvimento de crianças com deficiência. Nesse momento histórico, em que as pessoas com deficiência conquistaram espaço de locução, é necessário reconhecer a condição de “oprimidos”, como nos ensina Freire (1979), quando destaca o compromisso necessário à modificação das condições históricas que dificultam ou impedem a movimentação dos mais fracos do lugar social criado para eles que lhes nega o direito de ser cidadão. No caso dos Surdos, para superar essa condição, é preciso lhes dar voz, criando oportunidades de desenvolvimento linguístico e considerando que o aprendizado da língua gera valores pelos quais o grupo que dela compartilha se identifica como “nós” e é identificado como um coletivo pelos outros “nós”, possibilitando o reconhecimento desses “nós” na composição daquilo que designamos como coletivo humano.

*Linair Moura Barros Martins

É Doutora em Educação pela Universidade de Brasília e compõe a diretoria da Apada/DF. O tema desta reflexão está desenvolvido no trabalho: MARTINS, L.M.B. A prática pedagógica no letramento bilíngue de jovens e adultos surdos. Tese de Doutorado. Universidade de Brasília. Brasília, 2015.

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Surdofoto

| S urd os e m e rc a d o d e tra b a l h o

Parceria entre APADA e Província Marista Brasil Centro-Norte Por: Tamires Santos

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ara além da obrigatoriedade legal na contratação de Pessoas com Deficiência (PCD), a Província Marista Brasil Centro-Norte (PMBCN) tem em seu plano estratégico a atuação de uma gestão profissionalizada, humana, transparente e ética, e assume como responsabilidade a inclusão de profissionais com necessidades especiais, proporcionando a esses colaboradores a oportunidade de aprender e se desenvolver. Com este direcionamento, em 2014 a PMBCN estabeleceu parceria com a Apada – Associação de Pais e Amigos de Deficientes Auditivos, por meio da

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qual foi criado e implantado o I Programa de Capacitação e Inclusão de PCD’s. O Programa aconteceu entre agosto de 2014 e agosto de 2016, e formou 22 colaboradores, que foram preparados para inserção no mercado de trabalho. Além disso, neste primeiro Programa teve-se a efetivação de nove profissionais em uma das unidades da Província, promovendo a oportunidade de atuação efetiva no mundo empresarial. E, em agosto de 2016,novamente em parceria com a Apada, iniciou-se o II Programa de Capacitação e Inclusão de PCD’s, que irá capacitar, até agosto de 2018, mais profissionais

para inserção no mundo corporativo. “A nossa maior intenção é promover e possibilitar um espaço de formação humana e profissional, inspirados nos valores deixados por São Marcelino Champagnat, fundador dos Irmãos Marista”, afirma a gerente de Recursos Humanos da Província, Ana Beatriz Rodrigues Rosa. São Marcelino Champagnat nos diz que cada um é convidado a viver na sua história, e gerar oportunidades de se formar, para um maior crescimento humano, visando criar possibilidades de realização, principalmente na área profissional.

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| E d u ca ç ã o

A licenciatura Letras-Libras, a distância, e a cooperação entre a Universidade de Brasília e a APADA-DF Por: Heloísa Maria Moreira Lima Salles*

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colaboração entre a Universidade de Brasília e a Apada-DF tem sido produtiva e duradoura, no tratamento da questão linguística da comunidade surda e de suas implicações educacionais. Entre as inúmeras ações realizadas, destaca-se, pelo alcance e repercussão para a cidadania surda, a participação na “Licenciatura em Letras, com habilitação em Língua Brasileira de Sinais”, realizada, na modalidade a distância, pela Universidade Federal de Santa Catarina, sob a coordenação acadêmica da Profa. Dra. Ronice Muller de Quadros. Em sua execução foram engajadas instituições federais e estaduais de ensino superior, na qualidade de instituições-polo, entre as quais se incluiu a Universidade de Brasília. Conforme previsto no convênio celebrado entre a UFSC e a UnB, a realização do curso foi possível mediante o atendimento de condições de infraestrutura, como o provimento pela UFSC de equipamentos de comunicação (estação de videoconferência interativa, microcomputadores, televisão, projetor, além de meios para adaptação e manutenção de equipamentos) e a constituição, no âmbito das instituições-polo, de uma coordenação acadêmica, que incluiu um coordenador local, professores tutores presenciais, tradutores-intérpretes de Libras português. Quanto à implementação acadêmica do projeto, coube à UFSC elaborar o material didático, bem como 30

ministrar as disciplinas a distância, cabendo às instituições-polo prover as condições para receber os estudantes Surdos matriculados, garantindo a realização das atividades acadêmicas presenciais previstas. Na Universidade de Brasília, houve duas turmas, iniciadas em 2006 e 2008, respectivamente. Nesta breve exposição, gostaria de fazer um depoimento, tomando por referência minha atuação como coordenadora da segunda turma, em que procuro destacar os seguintes pontos: por um lado, o significado, para a comunidade surda e para profissionais ouvintes a ela vinculados, dessa proposta inédita de formação acadêmica, e por outro, a importância da atuação articulada entre a Universidade de Brasília e a Apada - DF. A situação linguística e social da comunidade surda brasileira apresenta características singulares, que precisamos considerar preliminarmente na análise da relevância da proposta que possibilitou a realização da licenciatura Letras-Libras. Identificados por condição fisiológica que lhes impede, ou dificulta, o acesso ao input sonoro da língua oral, os Surdos constituem minoria linguística em relação à comunidade ouvinte, crucialmente por terem a língua de sinais como primeira língua e com ela se identificarem social e culturalmente, sendo o português, a língua majoritária circundante, adquirido como segunda língua. Nesse sentido, a socialização e a educação

formal da pessoa surda ocorrem sob o impacto de fatores psicossociais complexos, dando origem a uma situação singular de bilinguismo. Com a legislação de acessibilidade, e a chamada Lei de Libras, promulgada em 2002, e regulamentada em 2005, estabeleceram-se condições para o acesso das pessoas surdas à educação bilíngue, devendo o poder público garantir à criança surda, nas séries iniciais, o acesso aos conteúdos curriculares em sua língua materna, a língua de sinais brasileiros – a Libras –, preferencialmente ministrados por professores Surdos, e a presença de intérpretes de Libras português no ambiente acadêmico, nas séries subsequentes. Além disso, o ensino de Libras foi incluído como disciplina obrigatória na grade curricular de cursos de licenciatura, pedagogia e fonoaudiologia. A essas condições somava-se, porém, uma carência de alta complexidade: a falta de recursos humanos qualificados para ensinar Libras e dela fazer uso no processo de escolarização dos Surdos, além da indisponibilidade de recursos e instrumentos didático-pedagógicos adequados. As razões para esse fato eram evidentes. As sucessivas estratégias metodológicas no tratamento da questão linguística produziram um cenário de recorrentes fracassos no processo de escolarização da pessoa surda. Recorria-se à prática do oralismo, que ignorava por completo a língua de sinais, depois substituída Apadianos

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pela comunicação total, caracterizada pelo uso indiscriminado de recursos de comunicação – sem atentar para a autonomia e precedência da língua de sinais em relação à língua portuguesa. Com o reconhecimento da Libras como primeira língua, sendo o português segunda língua, passou-se à educação bilíngue, o que propiciava a difusão da língua de sinais entre os Surdos e os profissionais que com eles trabalham, colocando ainda o desafio aos educadores de desenvolver o ensino do português (escrito) como L2. Esse passo inovador exigia a atuação de profissionais proficientes em Libras, com formação acadêmica para ensinar a língua de sinais, além de professores habilitados a ensinar o português como segunda língua, entre outras demandas correlatas. Ainda assim, já existiam instituições especializadas e comprometidas com a situação linguística e educacional da pessoa surda. Por iniciativa de Surdos e de seus familiares e amigos, surgiram associações que faziam a diferença, com resultados relativamente isolados, embora reunindo um corpo técnico qualificado. Em Brasília, já se destacava a atuação consistente e engajada da Apada - DF, fundada em 1975. Reunindo educadores e intérpretes de Libras Português, a Apada - DF atuava como espaço de socialização e convivência para os Surdos e suas famílias, no atendimento psicopedagógico, na oferta de cursos de Libras, de português como segunda língua para Surdos, na realização de atividades culturais, celebrações, entre outros eventos. A Universidade de Brasília, por sua vez, avançava em relação ao entendimento de que o ensino de português não poderia se restringir ao contexto em que o português é a língua materna do estudante, havendo ampla demanda para o ensino do português como segunda língua, a fim de atender as diversas situações de bilinguismo/ multilinguismo existentes no terriApadianos

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tório brasileiro, sobressaindo-se o caso dos indígenas e dos Surdos, além das situações de contato linguístico nas fronteiras e nas comunidades de imigrantes. Nesse contexto, foi criada a licenciatura “Português do Brasil como segunda língua”, voltada para a formação de professores para atuar no ensino de português aos estudantes que não têm o português como língua materna. A essa iniciativa vieram somar-se atividades de pesquisa científica e extensão universitária, com resultados significativos. Dadas as especificidades da situação linguística e educacional dos Surdos, sucintamente descritas, a que se acrescentava a dificuldade em relação à disponibilidade de recursos humanos, o projeto “Licenciatura Letras Libras” representou um avanço decisivo para a valorização da cidadania surda. Sua execução, no âmbito da Universidade de Brasília, representou uma experiência não só inédita, como mencionado, mas também, uma oportunidade de interlocução acadêmica, profissional, e de convivência humana incomparável. Nesse processo, de grande impacto para a comunidade surda, no nível local, regional e nacional, foi essencial a cooperação estabelecida entre a Universidade de Brasília e a Apada - DF. Embora não tenha sido firmado um convênio entre as instituições, por não haver previsão no âmbito do projeto, fez-se necessário o recrutamento de profissionais especializados para atuar nas atividades presenciais do curso, como professores tutores, intérpretes, e a Apada - DF foi um apoio fundamental nesse sentido. Sua pronta adesão, seu engajamento, sua parceria, na superação das inúmeras e infindáveis dificuldades, por intermédio dos dirigentes, da comunidade surda, dos pais e amigos dos Surdos, demonstraram a grande sensibilidade da Associação em relação ao momento histórico que estávamos todos vivendo. Não faltou profissionalismo, apoio, solidariedade,

generosidade, simpatia, numa palavra, amor à causa, naqueles anos de convívio intenso e de grande aprendizado. Muito mais poderia ser acrescentado para descrever essa experiência tão rica e gratificante. Para concluir, gostaria de dizer que esse depoimento é para mim uma honra e também uma forma de expressar meu profundo agradecimento à Apada - DF, com destaque para a Professora Rosana Cipriano da Silva e o Professor Marcos de Brito, presidentes da instituição, que atuaram como tutores presenciais e intérpretes de Libras-português durante a realização do curso, mas não apenas isso é uma oportunidade de deixar registrado meu profundo respeito à Apada - DF, por sua atuação competente em prol das pessoas surdas, em que fica evidente a confiança na capacidade de superação do ser humano e o desejo de buscar horizontes sempre novos nessa caminhada.

Sucesso sempre, são meus sinceros votos!

*Heloísa Maria Moreira Lima Salles Possui graduação em Letras pela Universidade de Brasília (1985), mestrado em Linguística pela Universidade de Brasília (1991) e doutorado em Linguística pela University of Wales (1997). É professora associada da Universidade de Brasília. Atua na área de Linguística, na abordagem da Teoria Gerativa, investigando, principalmente, os seguintes temas: sintaxe de complementação e sintaxe de preposições, com ênfase em línguas românicas, germânicas, língua brasileira de sinais, aquisição de português L2, bilinguismo dos surdos.

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UNÍNTESE

Uma trajetória comprometida com a ÉTICA e o DESENVOLVIMENTO das PESSOAS e das ORGANIZAÇÕES. A história da Uníntese iniciou há 13 anos e, a cada ano, renova seus valores e objetivos de promover o desenvolvimento do ser humano, valorizando suas potencialidades e respeitando as suas diferenças. Desenvolve um trabalho educacional que prioriza a ética, a qualidade e a inovação, acrescentando aos alunos conhecimentos e competências proossionais que possam oportunizar diferenciais econômicos e atitudes de comprometimento com a melhoria da sua vida e da coletividade. Para tanto, a Instituição tem como missão oferecer um ensino contextualizado, promovendo a construção de conhecimentos, de valores e de competências proossionais que respondam às exigências do presente e aos desaaos do futuro, contribuindo para a evolução do ser humano e da sociedade.

LIBRAS

PÓSGRADUAÇÃO

NEUROCIÊNCIA E EDUCAÇÃO CLÍNICA NEUROPSICOPEDAGÓGICA

A construção de uma sociedade inclusiva é o eixo norteador da Instituição, direcionando ações, projetos, cursos de pós-graduação, de capacitação, de atualização, pesquisas, produção de materiais didáticos, publicações, seminários, fóruns, visando alcançar o seu objetivo maior. Desenvolve cursos presenciais de pós-graduação lato sensu nas áreas de LIBRAS, Gestão Escolar, Psicopedagogia, Ensino pela Pesquisa e Aprendizagem por Projetos, Neurociência e Educação: Clínica Neuropsicopedagógica, Educação Infantil, Atendimento Educacional Especializado – AEE, dentre outros, preparando proossionais para atuarem com qualidade e inovação. Entre os cursos de especializaçã destaca-se o curso de LIBRAS, formando especialização, TRADUTORES, INTÉRPRETES E DOCENTES NA LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS. Com pioneirismo, o curso de pós-graduação foi o primeiro no Brasil a obter registro junto ao MEC, ainda no ano de 2005. Com 730 horas aula para


uma ênfase e 920 horas aula para duas ênfases, constitui-se em referencial de qualidade, com turmas em todo o País e mais de 4.000 alunos formados. A UNÍNTESE está presente em 76% dos Estados brasileiros com oferta de cursos presenciais, expandindo o acesso aos interessados em formação proossional através de parcerias com proossionais, entidades e organizações, contribuindo para o desenvolvimento social e econômico das diferentes Regiões do país. Com uma moderna plataforma EaD, oferece cursos de atualização e de capacitação proossional voltados para a formação em diversas áreas, com conteúdos atuais, cientíícos, signiicativos, motivando o cursista para conhecer, reeetir, propor soluções para seus questionamentos, realizar novas pesquisas e experiências e, assim, construir seu próprio conhecimento com autonomia e ética, através do Portal Ensin Ensino.digital. Entre os projetos de Responsabilidade Social da Instituição, merece destaque a oferta de uma gama de cursos gratuitos na modalidade EaD, abordando temas contemporâneos, acessíveis para todas as pessoas interessadas, atendendo o objetivo de propagar o conhecimento.

Capacitações EaD na área de Libras. • Tradução e Interpretação Educacional • Pedagogia Bilíngue • Linguística da Libras • AEE / Surdez • O Ensino da Língua Portuguesa como Segunda Língua para Surdos

Agora que já nos conhecemos, que tal aprender uma nova

LÍNGUA?

LIBRAS Curso presencial em todo o país!

CAPACITAÇÃO E PÓS-GRADUAÇÃO

TRADUÇÃO / INTERPRETAÇÃO E DOCÊNCIA

turmas em Brasília

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| Po rtu g u ê s

Língua-alvo: Laboratório de Pesquisa e Ensino de Línguas Contribuir para a acessibilidade comunicativa e a inclusão nos diversos segmentos sociais é o grande objetivo do trabalho Por: Margot Marinho*

curso de português para Surdos, assim como a intervenção pedagógica para crianças e jovens que apresentem distúrbios de leitura e escrita. O objetivo precípuo do Divulgação

O

que é?

É uma instituição, sediada em Brasília-DF, criada com a missão de promover o desenvolvimento da linguagem verbal em crianças, jovens e adultos. É oferecido um

Estudo do português parao surdo é requisito essencial para o futuro

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Apadianos

Ano 2017 | 2018


Divulgação

Professores capacitados geram alunos interessados

trabalho é contribuir para a acessibilidade comunicativa e a inclusão dessas pessoas nos diversos segmentos sociais.

O curso Língua Portuguesa para Surdos Jovens e Adultos (LPS) Destaca-se o curso Língua Portuguesa para Surdos Jovens e Adultos, como forma de resgatar o processo de letramento iniciado no Ensino Básico e impulsionar o desempenho dos Surdos no que concerne aos aspectos acadêmico e profissional. É um curso livre de ensino de português, ofertado a Surdos jovens e adultos, fluentes ou não na Língua Brasileira de Sinais, e com idade acima de quinze anos. A metodologia de ensino de segunda língua, é fundamentada na abordagem comunicativa-funcional, contemplando os princípios sociointeracionistas, por entenderem que saber usar uma ou mais línguas nos

Apadianos

Ano 2017 | 2018

diversos eventos comunicativos é mais importante que conhecer os termos gramaticais. Também é levado em conta os processos e as condições da aprendizagem, cujo parâmetro está embasado na Psicologia Cognitiva. Além disso, a experiência dos docentes associada à saudável atitude de acatar as considerações de outras abordagens amplia as ações pedagógicas e contribui sobremaneira com o processo de ensino-aprendizagem da língua portuguesa. Dito isto, o programa do curso visa a oferecer instrumentos de modo a fortalecer os conhecimentos linguístico, discursivo, referencial e sociocultural do aluno, levando-o a adquirir habilidade comunicativa para estar incluído nos diversos domínios sociais. Assim, o curso concentra-se nas habilidades de leitura e escrita, sem deixar de

valorizar a oralidade e a língua de sinais daqueles que delas se utilizam na comunicação. Estrutura física e recursos humanos Os materiais pedagógicos são rigorosamente selecionados para atingir os objetivos, além de professores bilíngues (Libras/português) e ênfase na motivação dos alunos, procurando sempre inserir os alunos numa atmosfera agradável de aprendizagem. As turmas com limites de 6 alunos dividem-se em níveis básico, intermediário e avançado A Apada é uma grande parceira do Língua-Alvo. Este ano, será lançada a primeira edição de provas com a finalidade de certificar os Surdos de acordo com os níveis de proficiência na Língua Portuguesa. * MARGOT LATT MARINHO

Prof. Doutora em Linguística pela Universidade de Brasília E-mail: linguaalvo.lab@gmail.com

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| In térpre te s

A Formação do Tradutor Intérprete de Língua Brasileira de Sinais: breves reflexões Por: Patricia Tuxi*

U

ma das definições mais utilizadas para Tradutor Intérprete de Língua de Sinais é a de Quadros (2003): “uma pessoa que traduz e interpreta a língua de sinais para a língua falada e vice-versa em quaisquer modalidades que se apresentar (oral ou escrita)” (QUADROS, 2003, p. 11). Esta descrição faz parte do primeiro livro publicado no Brasil sobre a área, intitulado O Tradutor Intérprete de Língua de Sinais e Língua Portuguesa. A segunda maior pesquisa realizada foi de Rosa (2006) que defino o intérprete como aquele que viabiliza a comunicação entre Surdos e ouvintes, identificando-se com o orador, exprimindo-se na primeira pessoa, sinalizando e representando suas ideias e convicções, buscando imprimir-lhe similar intensidade e mesmas sutilezas que as dos enunciados em português. Para Cokely (1992), um conceituado autor estudado por muitos aqui no Brasil, o trabalho do intérprete é imediato, ocorre no momento da fala oral e recebe a mensagem de forma direta. Dentro da interpretação há duas formas possíveis: a interpretação simultânea e a interpretação consecutiva. Assim sendo, partindo de todos as pesquisas e estudos acima men36

De minha parte não apenas confesso, mas proclamo a plenos pulmões que quando traduzo os textos em grego, salvo as Sagradas Escrituras (onde até a estrutura da frase é mistério) não é palavra a palavra, mas o sentido que eu exprimo. São Jerônimo

cionados entendemos o Tradutor e Intérprete de Língua de Sinais como o profissional que tem como função tornar acessível à comunicação aos Surdos e aos não-Surdos nos mais diversos espaços sociais, educacionais, políticos e públicos. Segundo Tuxi (2009) esta comunicação pode ocorrer de forma simultânea ou consecutiva. A interpretação simultânea é quando a mensagem fonte está em andamento e o intérprete acompanha essa fala (ou sinalização). Ou seja, enquanto o interlocutor está falando, o intérprete interpreta simultaneamente, sem cortes. Na interpretação consecutiva o intérprete escuta (ou vê) a mensagem e assim que fecha uma sentença há uma pausa. Na interpretação consecutiva, o intérprete recebe a mensagem fonte primeiramente, para em seguida interpretá-la. No caso do ILS, esta interpretação é muito usada em consultas médicas, entrevistas de empregos e tribunais. A interpretação da língua de sinais é uma atividade complexa, como as demais interpretações em outros idiomas. A Língua Brasileira de Sinais - Libras, como as demais línguas possui uma estrutura própria, tem uma gramática completa como outras línguas. Ao realizar a

interpretação para a língua de sinais, o intérprete não sinaliza palavra por palavra. Ele interpreta a mensagem que está sendo dita, preservando a mensagem essencial, mas respeitando todos os aspectos da língua de sinais, o que a faz clara, de forma que toda a comunidade surda a compreenda. Com todos esses requisitos que o (ILS) deve apresentar durante uma interpretação, é necessário que o mesmo tenha uma formação. A formação dos Tradutores Intérpretes de Libras (TILS) sempre ocorreu, como tudo que está em desenvolvimento, muitas falhas. Os primeiros cursos eram realizados em espaços religiosos, com objetivo de tornar acessível a “palavra de Deus”. Os cursos ministrados tinham, em sua maioria dois níveis, e os que concluíam partiam para as atividades práticas dentro das igrejas. Se fizéssemos uma lista com os dez maiores intérpretes de língua de sinais no Brasil, no ano de 2005, todos eram intérpretes religiosos. Essa formação por muito tempo foi a ideal, pois o local de uso eram as igrejas. Contudo com o reconhecimento da Libras no ano de 2002 tudo mudou, e os TILS deram um salto dos palcos das igrejas para dentro das salas de aula, onde no mínimo cinco disciplinas distintas Apadianos

Ano 2017 | 2018


eram ministradas, foi uma grande mudança! Em 2008 um novo caminho surge para o desenvolvimento da área. Cria-se, por força de lei, o curso de Bacharelado em Língua Brasileira de Sinais. Esta formação, já de caráter acadêmico foi ofertada pela Universidade de Santa Catarina – UFSC. Atualmente há seis universidades que ministram cursos de graduação no âmbito da Tradução e Interpretação de Língua de Sinais Brasileira. No entanto, apesar da construção de cursos para a área, as políticas públicas existentes, como a própria lei de criação da carreira de TILS, apontam que a formação necessária para atuar como TILS nos espaços educacionais é o nível médio. Este assunto ainda é polêmico e está em discussão na Câmara dos Deputados. Atualmente é possível encontrar intérpretes de língua de sinais nos mais diversos ambientes. Em cada um deles o profissional precisa ter afinidade com a Terminologia da área para melhor desempenhar seu papel. Atuar como intérprete comunitário (AGUIAR, 2016) é hoje uma nova preocupação com a linha de formação, pois os cursos são escassos e os ambientes diversos como: os hospitais, os segmentos do judiciário e legislativo, os meios de comunicação e o setor empresarial. Apesar da área de interpretação mais requisitada ser a educacional é preciso refletir que a formação de um intérprete que atua na esfera acadêmica diverge do profissional que está em sala de aula nos ciclos finais e também do TILS que atua em contextos comunitários. Isso nos leva a pensar que um curso ministrado para o aprendizado da Libras não é a base de formação do TILS. É preciso refletir que para atuar na interpretação se faz necessário, uma grade curricular organizada para este fim e não para o aprendizado da língua de sinais. Apadianos

Ano 2017 | 2018

Porém o que mais encontramos nos espaços educacionais e comunitários são profissionais que fizeram cursos de 180 horas e um certificado de Proficiência em Tradução e Interpretação – PROLIBRAS, que não validam conhecimento específico de atuação de área. Assim fica uma breve reflexão sobre qual tipo de profissional, nós TILS desejamos ser e principalmente qual a valorização que podemos exigir do mercado e dos concursos públicos, sendo que nossa atuação e nossa formação estão ainda baseadas em cursos de língua de sinais: básico, intermediário e avançado sem formação acadêmica. É preciso considerar a necessidade de formação específica para as áreas. Desde o ano de 2008, foram criadas as primeiras turmas de bacharelado em Língua de Sinais. Mas a formação precisa contemplar as diversas áreas e isso deve ocorrer nos cursos de graduação e pós-graduação. Não há como pensar no TILS a partir de uma formação de nível médio, não há base linguística e tradutória para isso nesse nível educacional. Apesar de todos esses percalços encontrados pelo caminho é preciso destacar a força, a determinação e a luta desses profissionais que atuam diariamente nos mais diversos meios. Há uma ausência de políticas públicas que reconheçam e valorizem o intérprete, e isso precisa ser repensado pelos diversos gestores. Acreditamos na necessidade de uma formação diferenciada e completa, onde o profissional após compreender o que são os Estudos da Tradução e da Intepretação possa adquirir conhecimento de cada possível área de atuação. Viabilizar essa formação dará uma valorização e reconhecimento para o profissional que desempenha um trabalho tão significativo que é o de Tradução e Interpretação da Língua de Sinais.

Referências

COKELY, D. Sign language: Teaching, interpreting, & educational policy. In Sign Language & the Deaf Comunity: Essays in Honor of William C. Stokoe. Ed. Baker &Batison, 137-158. Silver Spring, MD: The National Association of the Deaf, 1980 QUADROS, Ronice Muller de. O Tradutor Intérprete de Língua de Sinais e Língua Portuguesa. Secretaria de Educação Especial, Programa Nacional de Apoio à Educação de Surdos. Brasília:MEC; SEESP, 2003. ROSA, Andréa da Silva. Tradutor ou Professor? Reflexão preliminar sobre o papel do intérprete de língua de sinais na inclusão do aluno surdo. PONTO DE VISTA, Florianópolis, n.8, p.75-95, 2006. SANTOS, Silvana Aguiar dos; COSTA, M. P. P. ; GALDINO, T. S. . Nas trilhas da tradução e interpretação de Português-Libras em revistas de tradução no Brasil. CADERNOS DE LETRAS DA UFF, v. 26, p. 525-545, 2016. TUXI, Patricia. Professor Intérprete ou IntérpreteEducacional?Atuação desse profissional em classes inclusivas no ensino fundamental. Dissertação de Mestrado em Educação,Universidade de Brasília, UnB, Brasil -2009.

*Patricia Tuxi

É professora no Departamento de Linguística, Português e Línguas Clássicas da Universidade de Brasília, na área de Língua Brasileira de Sinais - Libras. Doutora em Linguística pela Universidade de Brasília- UnB e Mestre em Educação pela Universidade de Brasília. Desenvolve pesquisas na área de Léxico e Terminologia da Língua de Sinais Brasileira -LSB. Tem experiência na área de Tecnologia e Linguagens, Lexicografia e Terminografia das línguas de sinais, formação para profissionais na área de ensino de Libras e formação e profissionalização de Intérpretes de língua de sinais. Membro pesquisadora do Centro de Estudos Lexicais e Terminológicos (Centro LexTerm) da UnB, membro do Laboratório de Linguística de Língua de Sinais-LabLibras da UnB e membro do Grupo de Ensino de Libras- Língua Brasileira de Sinais do Instituto Federal de Brasília - IFB, cadastrado pelo CNPQ.

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Henrique Araújo

| Psicó lo g os

Amigos da Apada:

Parceria do bem O atendimento psicológico realizado na Apada busca o desenvolvimento e inserção social da pessoa surda Por: Tamires Santos

D

esde 2015, em parceria com a Associação de Pais e Amigos dos Deficientes Auditivos do Distrito Federal - Apada-DF, a equipe composta pelos psicólogos Danillo Rippel, Luiza Camurça e Ana Cecília Amorim, vem realizando atendimento psicológico aos Surdos/deficientes auditivos e suas famílias, priorizando a comunicação em Língua de Sinais. A equipe também realiza outros serviços como aulas, supervisão de alunos de cursos de psicologia, tanto para Surdos quanto para ouvintes, e, ainda em 2017, iniciará a orientação voltada para o mercado de trabalho, sempre objetivando o bem-estar psíquico, a saúde mental, o desenvolvimento humano 38

e a inserção social da pessoa surda. Os atendimentos acontecem de acordo com as demandas solicitadas e são realizadas na sede da Apada. Para os menores de idade, é preciso que os pais agendem as consultas, já para os Surdos maiores, o contato é direto com os psicólogos. As atividades e, em especial o atendimento psicológico, proporcionam o crescimento profissional e pessoal de cada psicólogo. As experiências de atendimento trazem questões e questionamentos únicos, instigando esses profissionais a um aprofundamento na língua e na cultura dos surdos. Para a psicóloga Ana Cecília Amorim, atuar com Surdos é uma imersão

numa relação alteritária construída por dois sujeitos: o eu Surdo e seu outro terapêutico ouvinte. “Isso exige o cuidado e o zelo das especificidades linguísticas, sociais, históricos, culturais e ideológicos que constituem a pessoa surda”, afirmou. A psicóloga estuda a língua de sinais desde 2008 e tem como sujeito e objeto de estudo o surdo e seus processos relacionais, respectivamente. Danillo acredita que o espaço da psicoterapia precisa ser um espaço empoderador para qualquer cliente. Portanto, poder oferecer ao paciente surdo a oportunidade de ser atendido na língua que se sentir mais confortável, sem necessitar da presença de intérpretes, Apadianos

Ano 2017 | 2018


Henrique Araújo

que o acolhimento pode se tornar um importante espaço para compartilhar sentimentos, pensamentos e histórias familiares. “Mudar a comunicação da família é fundamental para transformar relações familiares e entre casais”, atesta a psicóloga.

é uma forma de valorizar o surdo como pessoa, promovendo uma relação onde a língua não será utilizada como instrumento de submissão, mas sim como a base de uma comunicação empática. Para Luíza, atender os surdos é fazer um exercício diário de adaptar o seu jeito terapêutico às demandas específicas de uma língua e uma cultura nova. Muito além da Libras, a psicóloga acredita que o trabalho deve ser pensado a partir de diversos estímulos visuais. Desenhos, vídeos, figuras e bonecos são grandes instrumentos de comunicação e podem ser explorados para fazer com o entendimentos se torne mais claro, como no caso de metáforas e figuras de linguagem. Quando há surdos e ouvintes na mesma família, é preciso estar sensível às demandas de cada um. Como terapeuta Familiar e de Casal, ela conta Apadianos

Ano 2017 | 2018

Henrique Araújo

Atendimento psicológico na Apada é exclusivo para Surdos

Muito além das Libras, a psicóloga acredita que o trabalho deve ser pensado a partir de diversos estímulos visuais. Desenhos, vídeos, figuras e bonecos são grandes instrumentos de comunicação e podem ser explorados para fazer com o entendimentos se torne mais claro, como no caso de metáforas e figuras de linguagem.

Introsamento da equipe faz com que o trabalho tenha resultados positivos

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| IF B

Instituto Federal de Brasília leva capacitação, diversidade e inclusão ao DF Divulgação IFB

Por: Alessandra do Carmo Fonseca - Técnica em Assuntos Educacionais do IFB

Tradutores e Interpretes de Libras atuam junto aos estudantes surdos do IFB para que o aprendizado possa acontecer sem barreiras comunicacionais

Respeito à diversidade e à dignidade humana” e “Promoção da inclusão”. Esses são dois valores organizacionais do Instituto Federal de Brasília - IFB, o que evidencia a preocupação da instituição com a oferta da educação de forma inclusiva. E, quem acompanha o dia a dia do IFB, sabe que o trabalho inclusivo vai além dos conceitos e se faz presente na rotina da instituição escolar. Desde 2008 na capital do Brasil, o Instituto Federal de Brasília IFB oferta cursos gratuitos – qualificação rápida, técnicos, superiores e pós-graduação nas suas 10 unidades (Brasília, Ceilândia, Estrutural, Gama, Planaltina, Riacho 40

Fundo, Samambaia, São Sebastião, Taguatinga e Taguatinga Centro). Além de primar pela qualidade da oferta dos cursos, o IFB busca fazer da inclusão uma ferramenta diária de trabalho. “O IFB possui uma política de inclusão para as pessoas com deficiência de modo a possibilitar acesso, acompanhamento e integração ao sistema educacional, empenhando esforços para atender em plenitude os estudantes que apresentam necessidades especiais que impactam no respectivo aproveitamento e qualidade dos processos educacionais”, destaca o reitor do IFB, Wilson Conciani. A inclusão no IFB já tem início no Processo Seletivo. Para participar de um

algum curso técnico ou de qualificação rápida (Formação Inicial e Continuada) todos os candidatos têm exatamente as mesmas chances de entrar. “O IFB é o único Instituto Federal do Brasil que realiza o processo de seleção por meio de sorteio eletrônico, instrumento que desvincula o ingresso à meritocracia e possibilita a grupos, historicamente excluídos do processo educacional formal, sua reinserção nas instituições de educação”, reitera Conciani. O Instituto realiza, também, reservas de vagas para pessoas com deficiência nos cursos técnico de nível médio e superior, mesmo antes da obrigatoriedade Apadianos

Ano 2017 | 2018


Divulgação IFB

| IFB em lei (Lei nº13.409/2016). “E, hoje, a nossa oferta de reservas é, ainda, 10% maior do que previsto pela legislação”, destaca o reitor.

As 10 unidades do IFB contam com um Núcleo de Atendimento às Pessoas com Necessidades Específicas (NAPNE), formado por uma equipe multidisciplinar

as especificidades da estudante. Nesse contexto, foi ofertado, em duas edições, o Curso de Extensão ‘Surdez, Linguagem e Inclusão Social’, para oportunizar uma formação nessa área para servidores, estudantes e comunidade externa”, explica a coordenadora de Políticas Inclusivas do IFB, Alessandra Fonseca. Desde o início do funcionamenDivulgação IFB

Preparando para receber todos bem Cada uma das 10 unidades do IFB conta com um Núcleo de Atendimento às Pessoas com Necessidades Específicas - NAPNE. Esse núcleo, formado por uma equipe multidisciplinar, recebe e desenvolve um trabalho personalizado a cada pessoa com deficiência ou alguma especificidade e que, por conta disso, necessita de uma maior atenção durante o período escolar, orientando os professores e buscando novas ferramentas pedagógicas. “No ano passado, por exemplo, recebemos uma estudante Surda que não tinha fluência em nenhuma das línguas (Português e Libras), sabia apenas sinais “caseiros” usados em casa com os familiares. Dessa forma, percebeu-se que era necessário a adequação de medidas para eliminar as barreiras comunicativas e de ações pedagógicas condizentes com

O Instituto Federal de Brasília (IFB) possui 10 campi espalhados pelo Distrito Federal. O da foto é o Campus Brasília, localizado na quadra 610 norte, Asa Norte

Apadianos

Ano 2017 | 2018

to, o IFB já formou e contribuiu para que estudantes Surdos conseguissem ingressar no mercado de trabalho. Porém, a inclusão também está presente de outro lado da sala de aula. A instituição conta com sete professores efetivos da área de Libras, dentre eles, seis são Surdos. Além disso, tradutores e intérpretes de Libras atuam junto aos estudantes Surdos para que o aprendizado possa acontecer sem barreiras comunicacionais. Para além da sala de aula O IFB promove também outras atividades institucionais, além das desenvolvidas em sala de aula, referente à temática de inclusão, que são fomentadas por meio de editais de ensino, pesquisa e extensão e que também contribuem para a inclusão educacional. A instituição tem, em seu cronograma anual, alguns eventos que tratam dessa temática e são desta- | IFB O Instituto Federal de Brasília (IFB) possui 10 campi espalhados pelo Distrito Federal. O da foto é o Campus Brasília, 41


que tem como objetivo contribuir com o processo de aprendizagem dos estudantes Surdos dos cursos Técnico em Serviços Públicos e Tecnólogo em Gestão Pública, oferecidos pelo Campus Brasília. Nesse projeto, a equipe – formada pela coordenadora, professora Katia Palomo, a professora Renata Rezende, que é surda, as intérpretes em Libras, Cássia de Sousa Carvalho e Simone Silva de Moura e oito alunos PcD’s, sendo cinco Surdos – desenvolvem um trabalho de criar termos, da área em questão, em Libras. “Durante esse período foram construídos e analisados sinais em Libras para 150 termos utilizados na área, bem como foram gerados mais de 2.000

registros fotográficos e vídeos para a montagem de um glossário ilustrado e blog de apoio, que poderão ser utilizados como materiais de referência para professores, intérpretes e estudantes Surdos que atuam na área de Gestão e Negócios”, explica a professora Kátia. O reitor do IFB, Wilson Conciani, sabe que ainda há muito a ser feito na instituição no que se refere à inclusão, mas ele acredita que o instituto está trilhando o caminho certo. “O IFB acredita que ações como essas fazem com que a educação profissional e tecnológica contribua para a formação cidadã e o desenvolvimento sustentável, comprometidos com a dignidade humana e a justiça social”, finaliza Conciani. Divulgação internet

localizado na quadra 610 norte, Asa Norte As 10 unidades do IFB contam com um Núcleo de Atendimento às Pessoas com Necessidades Específicas - NAPNE, formado por uma equipe multidisciplinar que no ambiente acadêmico, como, por exemplo, o Fórum de Educação Profissional e Tecnológica Inclusiva, o Encontro de NAPNE do IFB e o Encontro de Tradutores e Intérpretes do IFB, onde são abordados temas relativos a educação inclusiva (pessoas com deficiência, diversidade sexual, questões de raça e gênero, Libras e Tradução). Outros destaques no IFB referente à temática acontecem em formas de projetos. Um exemplo é o “(Re) construindo as significações dos sinais em Libras na área de Gestão e Negócios”,

Parceria Apada e IFB O Instituto Federal de Educação de Brasília IFB, desde o início de suas atividades em Brasília demonstrava preocupação com a inclusão de pessoas com deficiência. Nesta visada de atendimento igualitário, a Apada - DF foi contatada, na época pela professora Girlaine Maria Ferreira Florindo, responsável pela inclusão de pessoas com deficiência na instituição, com o objetivo de obter informações sobre a contratação de intérpretes de Libras. A Apada - DF, sempre preocupada com a inclusão de pessoas com surdez, prontamente prestou consultoria de como proceder nesta contratação. A partir deste instante, criou-se um elo entre as instituições e a Apada - DF, por solicitação do Núcleo de Atendimento às Pessoas com Necessidades Específicas - NAPNE, prestou, voluntariamente, várias palestras de sensibilização para professores e consultoria sobre a inclusão de pessoas surdas em ambiente escolar. A parceria foi tão gratificante que o IFB prestou homenagem a Apada - DF com o título de Mérito Inclusivo, no III Fórum de Educação Inclusiva em 2014.

Saiba mais sobre o IFB, acesse: ifb.edu.br 42

Apadianos

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Henrique Araújo

| S ilêncio e m a ç ã o

Escola de Rédeas e Equitação da Granja do Torto

A iniciativa que insere o Surdo na equitação Por: Tamires Santos

N

ão é só uma aula comum de rédeas, é muito mais que isso. O Projeto Silêncio em Ação proporciona para o Surdo/deficiente auditivo cada vez mais, a inserção em uma atividade vista por muitos como impossível, por conta da barreira comunicacional. As aulas de equitação para os Surdos/deficientes auditivos é mais uma ação positiva para a inclusão, não só no esporte, mas na sociedade como um todo. O projeto é fruto de ideais e prin-

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Ano 2017 | 2018

cípios do presidente da Associação de Equitação e Rédeas da Granja do Torto, Dr. Paulo Emílio Aguero em parceria com a Associação de Pais e Amigos dos Deficientes Auditivos do DF (Apada/DF). Parceria firmada, era hora de botar em prática o projeto. Foi feita uma apresentação da modalidade de rédeas para os alunos Surdos, destacando o uso dos cavalos “Criolo” e “Quarto de Milha”, indicados para o treinamento. As aulas acontecem aos sábados a custo zero para os alunos da Apada/

DF. Além do transporte, estrutura para o treino, intérpretes e alimentação, os alunos que se destacam recebem também o incentivo para participar de competições fora da cidade, patrocinadas pela 2P Health Care, empresa de sucesso no atendimento médico hospitalar em Brasília. Na visão do Dr. Paulo Emílio, o projeto tem sido de grande ajuda para ambas as partes, para os alunos, onde a oportunidade de aprendizado e o ganho vem sendo grande. “Para mim, o momento

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Henrique Araújo

mais emocionante foi ver o brilho nos olhos dos alunos Surdos, o semblante e o ar de novidade deles”, afirmou. Atualmente o projeto Silêncio em Ação conta com a participação ativa de quatro alunos Surdos. Cada aula tem duração de 45 minutos e os alunos são treinados individualmente. A ideia, é que o número de participantes aumente e, de acordo com a demanda, a escola irá contar com mais cavalos para atender os alunos.

O criador do projeto acredita que abrindo as oportunidades no mundo do esporte, através das aulas de equitação, o Surdo estará melhor inserido na sociedade. Saulo Moraes acredita que todos os dias vence barreiras e se destaca na modalidade

O projeto é recente e o primeiro a inserir o Surdo na modalidade em Brasília. Por enquanto, está apenas no regional, visando futuramente o nacional. Outro objetivo do projeto é incluir a equoterapia em parceria com a Associação Nacional de Equoterapia de Brasília (Ande), a partir do segundo semestre de 2017. A contratação de equipes especializadas para acompanhar todo o processo abrindo vertentes também para outros tipos de deficiências.

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Henrique Araújo

Projeções Futuras “Nós estamos inserindo o Surdo na sociedade, através dessa nova modalidade de ensino. Temos plena convicção que estamos fazendo um ótimo contato entre os dois mundos, e assim diminuindo a barreira do preconceito, não só para os Surdos, mas também para os futuros alunos que serão inseridos”, declarou. Dr. Paulo Emílio Aguero

Formado em Medicina pela Universidade Federal de Goiás no ano de 1994. Especialista em Terapia Intensiva pela Sociedade Brasileira de Terapia Intensiva e Especialista em Cirurgia Geral pela Fundação Hospitalar do Distrito Federal também habilitado pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Laparoscópica.MBA Executivo em Administração de Empresas com Ênfase em Gestão pela Fundação Getúlio Vargas.

Apadianos

Ano 2017 | 2018


| G amifica ç ã o

UnB e Apada se unem para desenvolver jogos para o aprimoramento do ensino de Libras

Soraia Rodrigues

Por: Ana Claudia Maynardes

O objetivo do projeto é o ensino de Libras para Surdos e não Surdos onde ele possa aprender “brincando”

A

gamificação é um conceito que utiliza o jogo como agente para a aprendizagem, trazendo um maior engajamento motivacional para o Surdo O Laboratório de Desenvolvimento em Design (LDD), do Curso de Design, da Universidade de Brasília (UnB) e a Apada - DF, com apoio da FAPDF, se uniram para a pesquisa e

Apadianos

Ano 2017 | 2018

desenvolvimento do projeto “Gamificação no ensino de Libras: elaboração e desenvolvimento de material didático para prática pedagógica”. O projeto tem previsão de desenvolvimento para 24 meses e um plano de trabalho que prevê estudos e análises de metodologias de ensino de L1 e L2; análises de usos de jogos lúdicos na aprendizagem; projeto,

desenvolvimento e prototipação de jogos para posteriores testes in loco. Entendendo que a Língua Brasileira de Sinais ainda sofre com a escassez de materiais de ensino que permitam ampla divulgação e aprendizado, o projeto pretende desenvolver recursos e materiais pedagógicos com o intuito de auxiliar e melhorar a prática de ensino e a experiência

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Segundo dados do IBGE (2010), o Brasil conta com uma média de

9,7 milhões de Surdos/ deficientes auditivos.

Estima-se que no Distrito Federal haja em torno de

150 mil

pessoas com algum nível de deficiência auditiva e surdez.

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de estudantes de Libras. Estes materiais pedagógicos serão “objetos de aprendizagem” na forma de jogos educacionais que utilizarão conceitos de “gamificação” e de “lúdico” como métodos e visam oferecer aos professores e alunos uma oportunidade de complementação de ensino e aprendizado. A gamificação é um conceito que utiliza o jogo como agente para a aprendizagem, trazendo um maior engajamento motivacional para os alunos. Gamification vem do inglês, e se refere ao uso de jogos em atividades diferentes de entretenimento puro. A gamificação é frequentemente usada para expressar a utilização de elementos de jogos (enredo, pontuação e ranking) em contextos que não são de jogos (ambientes de aprendizagem, por exemplo), para motivar e influenciar as pessoas a realizarem uma determinada atividade. Na gamificação, transformam-se momentos, como os de realização de tarefas gerenciais ou de simples compras no supermercado, em jogos, nos quais se alcança pontuação e colhem-se recompensas. Um dos grandes objetivos do projeto é estudar o contexto da cultura Surda e inseri-la na estrutura de história/ narrativa (elementos do jogo) proporcionando a inserção social e a

redução dos obstáculos do convívio social e cultural dos Surdos por meio do jogo. Para tanto, a equipe de projeto conta com especialistas nas mais diversas áreas, como professores, profissionais e estudantes de educação, psicologia, design e educação inclusiva - Libras. Considerando que uma sociedade inclusiva supõe o reconhecimento da exclusão social como característica da sociedade contemporânea e que, a exclusão social se expressa em diversos campos da atividade humana, como na educação, é fundamental o entendimento da educação inclusiva como uma educação para todos, independentemente de características individuais, de condições socioeconômicas ou raciais.

*Ana Claudia Maynardes

Professora, Doutora do Departamento de Design da UnB e Coordenadora do Projeto de Gamificação – FAP/DFsurdos.

Apadianos

Ano 2017 | 2018


| D ep oime n tos Ao longo desses 42 anos de existência da Apada, ela ajudou muitos surdos não alfabetizados e foi a instituição que começou o primeiro curso de Libras do DF para comunidade em geral. Hoje a Apada tem professores de várias disciplinas para ensinarem os Surdos, um lugar que se preocupa com o bem-estar de seus alunos. Fui vice-presidente por duas vezes dessa instituição que tem um foco específico na comunidade Surda e me sinto feliz por ter feito parte dessa história. Falk Moreira

Meu primeiro contato com a Apada foi aos 25 anos, quando ainda era na w3 Sul. Comecei a entender o trabalho que eles faziam depois de começar meu mestrado em Letras Libras. Foi a hora que tive um apoio enorme da Apada para concluir meus estudos e pesquisas. Depois disso, fui voluntaria por 4 anos e isso me fez feliz e agradeço demais. Rejane Louredo

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A Apada é pai de todos, eles sempre apoiaram todo Surdo e sempre de braços abertos. Entrei na Apada em 2007, foi com a ajuda deles que eu passei no vestibular da Universidade e fiquei um pouco tempo fora por causa do estudo. Voltei em 2013 e me tornei professora da Apada até hoje. A Associação sempre dá oportunidade para o Surdo. Agradeço muito pela oportunidade que tive, lá eu cresci e amadureci muito. Hellen Caldas

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,, Apadianos

Ano 2017 | 2018

Depois que me formei em Letras/Libras me convidaram para dar aula na Apada em 2010 e estou até hoje. Hoje sou integrante dessa família apadianos e me sinto feliz por fazer parte desta equipe maravilhosa. Tive a oportunidade de fazer um curso da nova metodologia de lançamento de material didático para o ensino de Libras como L2 (para ouvintes) com a Denise Soares Ribeiro. Este novo método de ensino tem me ajudado muito no meu desenvolvimento de ensino L2 para os alunos ouvintes. A Apada te faz acreditar que é capaz e ensina que tudo pode dar certo. Elaine Souza 47


| Sa iba on d e e n con t ra r CEAL - Centro Educacional de Audição e Linguagem Ludovico Pavoni Endereço: Setor de Grandes Áreas Norte 909/Modulo B / Asa Norte – Brasília-DF

FENEIS Endereço: SDS Ed. Venâncio Jr. Bl M - cobertura - Asa Sul, DF, 70393-902 Telefone: (61) 3346-8025

Telefone: (61) 3349-9944 E-mail: comunicacao@ceallp.org.br secretaria.ceal@ig.com.br SEEDF (Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal CAS - Centro de Capacitação de Profissionais da Educação e Atendimento às Pessoas com Surdez Endereço: Centro de Ensino Especial 01 de Brasília - CEE 01 Módulo II W5 Sul SGAS Quadra 911/912, Área Especial Lote 42/48 E-mail: casdf.sedf@gmail.com Telefones: (61) 3346-9902 (Público) (61) 3901-7629 (Secretaria)

Endereço: SBN Quadra 02 Bloco C - Edifício Phenícia CEP: 70.040-020 Telefone: 162 | 3901-1886

Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão –Secadi(SECADI MEC) Telefone: (61) 2022-9217 / 9018

Associação de Pais e Amigos dos Deficientes Auditivos – Apada DF Endereço: SDS Ed. Venâncio Júnior, Bloco M Telefone: (61) 3346 8025 Email: apada@apadadf.com.br

Central de interpretes Estação 112 sul Para receber atendimento, é preciso agendá-lo pela emailgecil.gdf@hotmail.com - mediação por webcam através da Língua de Sinais Telefones: (61) 2104-1185 e 99298-7750 Mensagens. Estação de Metro da 112 Sul - segunda à sexta-feira, das 8h às 17h)

Reaning Team Endereço: Parque de Exposição da Granja do Torto Lago Norte, Brasília - DF CEP: 70297-400 Telefone: (61) 99269-0898


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