memória
e
resistência
CAPELA DOS AFLITOS “Lembre de mim se passar por aqui Sou fato oculto da tua história Mas veja ainda estou aqui” Aloysio Letra
SÃO PAULO 2021
FELIPE DIAS | HIGOR VALENTINI | LUCAS ITALO | RENATA LIMA | TAINARA MUSMICKER
arquitetura,
S U M Á R I O
1 . M O T E . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
0 2
2 .
0 3
3 .
C O N T E X T O 2.1.
Memórias enterradas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 04
2.2.
Chaguinhas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 06
2.3.
Disputa de narrativas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 07
I N S E R Ç Ã O 3.1.
4 .
5 .
6 .
H I S T Ó R I C O . . . . . . . . . . . . . . . . .
U R B A N A . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 0 8
Enforcamentos urbanos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 09
A N Á L I S E
A R Q U I T E T Ô N I C A . . . . . . . . . . . . .
1 1
4.1.
Forma, Desenho e Linguagem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
4.2.
Materiais e Técnicas construtivas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
4.3.
Análise da situação atual . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
4.4.
Peças gráficas (plantas e cortes) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
4.5.
Mapa de danos e patologias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
4.6.
Levantamento fotográfico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
P R O P O S T A S
D E
R E S T A U R O . . . . . . . . . . . . . . 2 9
5.1.
Proposta 2010 e Obra emergencial 2002 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
5.2.
Proposta de restauro 2021 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
A T R I B U I Ç Ã O
D E
V A L O R E S . . . . . . . . . . . . . . 2 5
6.1.
Resoluções de Tombamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
26
6.2.
Sítio arqueológico pelo IPHAN . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
27
6.3.
Apelo popular . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
6.4.
Memorial dos Aflitos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
Figura 01: Croqui da Capela dos Aflitos Fonte: Elaboração própria, 2021.
M O T E
M O T E
Dada a abrangência e complexidade se tratando dos inúmeros
patrimônios culturais presentes na cidade de São Paulo, optamos por tecer uma linha estratégica analítica a partir das obras arquitetônicas do século XVIII. Em sua maioria igrejas e casas bandeiristas, uma singela edificação do ano de 1779 (MOURA, 1943. p. 66) tomou relevância por entre as opções por ser um bem cultural na constante tentativa em se manter viva em sua história na cidade e nos enforcamentos urbanos por ela sofrida (PINHEIRO, 2017 s.p).
Devido
a
desenvolveu-se
pandemia a
partir
de
da
Covid-19,
o
levantamentos
método realizados
de
pesquisa
através
de
referências digitais, com consultas aos acervos históricos disponíveis online e
uma
visita
in-loco
realizada
durante
a
segunda
etapa
da
fase de transição do Plano São Paulo de combate ao coronavírus. Partindo de um breve histórico, o estudo sobre a Capela dos Aflitos transcorreu de uma escala macro, da observação de sua inserção na escala urbana, à uma escala mais aproximada, com a leitura de seus aspectos arquitetônicos, por meio de plantas e registros acerca do bem tombado, levantamentos fotográficos e materiais de pesquisa do projeto de restauro vigente. Também foi feita uma análise crítica a respeito dos projetos de restauração anteriores e, por fim, é examinada uma proposta de intervenção a ser implementada a fim de resgatar a memória e o valor histórico que hoje permanecem enterrados e esquecidos.
“Liberdade, liberdade! Abra as asas sobre nós (bis) E que a voz da igualdade Seja sempre a nossa voz” Samba-Enredo Imperatriz Leopoldinense, 1989.
Figura 02: Óculo atual da Capela dos Aflitos. Fonte: Adriano Vizoni – Folha de São Paulo, 2011.
CONTEXTO
HISTORICO
4
MEMÓRIAS
c o n t e x t o
Aproximadamente há 600 metros do marco central de São Paulo, em 1775, num lugar que já foi conhecido como Distrito Sul da Sé, depois chamado de Distrito da Glória e hoje Bairro da Liberdade, ficava o lugar que Sevcenko (2004, p. 19) denominou como “lugar maldito”. Era o limite sul de São Paulo, um morro conhecido pelo nome sombrio de Morro da Forca (Figura 03). Tal local foi deliberadamente escolhido por ser visível por praticamente todos os quadrantes da cidade, expondo cruamente e cruelmente o desfecho daqueles que cometiam crimes contra o Império Português. Sabe-se que no século XVIII os sepultamentos eram realizados no interior das igrejas, porém só as classes mais altas gozavam de tal privilégio. A poucos metros dali, por ordem governamental, foi instalado um cemitério destinado a enterrar os corpos dos condenados, indigentes, soldados e escravizados, aqueles que eram anônimos, desprezíveis e indignos aos olhos da sociedade da época: os Aflitos. Cursino de Moura (1943, p.66) data a construção de uma tímida capela no interior de tal cemitério em 1774 e Amaral (1977, p. 23) destaca o documento pertencente ao Arquivo da Cúria Metropolitana de São Paulo, no livro 1-1-3, o qual consta registros sobre a instalação da mesma no ano de 1779, na necrópole dos Aflitos:
Aos 27 de junho de 1779 foi sagrado o nosso cimiterio pelo Exmo. Sr. Bispo D. Frei Manuel d Ressureição assistindo o Rmo. Sr. Conego Arcipreste (Astpreste) Paula e mais três cônegos sendo um Arcdiado. A sagração começou as 8 horas e terminou as 3 da tarde. Jantar em seguida na chácara do Revdo. Paula Asipreste. Ata feita na sacristia da Nossa Senhora dos Aflitos na Capela do Cimiterio. S. Paulo, 28 de junho de
1779.
(AMARAL,
1977
p.23,
apud
ARQUIVO
DA
CÚRIA
METROPOLITANA DE SÃO PAULO, AUTO DE EREÇÕES E PATRIMÔNIOS DE
CAPELAS, vol. I, 1-1-3, p. 189).
Figura 03: Ilustração do Morro da Forca e Capela dos Aflitos Fonte: HQ Indivisível, de Marília Marz.
ENTERRADAS
h i s t ó r i c o
5 Essa capelinha foi dedicada à Nossa Senhora dos Aflitos (Figura 04) pois
Em maio de 1885, o vereador Manoel José de Araújo Costa, propôs a
de acordo com a religião católica, ela é a única capaz de consolar os que
reconstrução dos muros do cemitério, uma vez que o local pertencia à Mitra.
nada mais esperam. Ela representa a mãe de Jesus Cristo no momento em que
Porém, a Santa Casa de Misericórdia, procurando um local para implantar um Asilo
este
de Mendicidade, comunicou que o cemitério pertencia à sua irmandade, e o
agonizava
na
cruz.
Essa
Santa
é
venerada
pelo
sentimento
experimentado, a aflição, angústia e tristeza a que foi submetida durante a crucificação. Nesse sentido, há uma estreita ligação entre a Santa e os indivíduos ali sepultados.
grupo tinha intenção de tomar posse do local e lá instalar o asilo. Yamawa (2020, s.p.) relata em sua pesquisa que no ano seguinte, 1886, Dom
Lino Deodato Rodrigues de Carvalho declarou que o local pertencia à Igreja Aflita se viu a Virgem Maria aos pés da cruz. Aflito vejo-me eu.
Valei-me Mãe de Jesus. Confio em Deus com todas as minhas forças, por
isso peço que ilumine meus caminhos, concedendo-me a graça que tanto desejo. Amém. (PIMENTEL, 2011. NOVENA À NOSSA SENHORA DOS AFLITOS, p. 27)
Paroquial da Sé, autorizando o loteamento e venda do terreno, excluindo do negócio, o terreno da Capela e o espaço para criar um logradouro de acesso à mesma, dando origem ao Beco dos Aflitos, hoje conhecido como Rua dos Aflitos (Figura 05) e Porto (1996, p. 88) completa que a venda dos lotes tinha como objetivo a obtenção de recursos para a construção da atual Catedral da Sé.
Bueno (1976, p. 157) descreve que do
Desde então a pequena igreja vem sofrendo muitas dificuldades. Há 60 anos,
alto da Capela, ouvia-se o tocar triste do
uma de suas paredes laterais desabou, há 25 um incêndio ocasionado pelas velas
sino a cada condenado que era enforcado
de culto a Chaguinhas a atingiu e em 2018, uma obra vizinha colocou toda sua
e uma padiola era levada para trazer o
estrutura em risco.
cadáver para ser enterrado no cemitério. Em pesquisa ao Livro de
Óbitos da Sé, Matrangolo (2013, p. 66) aponta 153 sepultamos no Cemitério dos Aflitos apenas entre os anos de 1836 e 1837. São inúmeras memórias enterradas que vêm sendo esquecidas. Até que em 1858 é aberto o Cemitério da Consolação, e os sepultamentos no Cemitério dos Aflitos, bem como no interior das igrejas, são proibidos.
Figura 04: Imagem Nossa Senhora dos Aflitos. Fonte: Acervo digital Paróquia Nossa Senhora dos Aflitos
Figura 05: Rua dos Aflitos em 1976. Fonte: Processo CONDEPHAAT 20125/1976
6
o
CHAGUINHAS
santo
da
liberdade
Dentre todos os enforcamentos realizados no Largo da Forca e mais
Após três tentativas falhas de execução, uma quarta foi necessária e
tarde sepultados no Cemitério dos Aflitos, o que tomou mais destaque foi o de
definitiva. Sob gritos de “Liberdade! Liberdade!”, a população clamava pelo
Francisco José das Chagas, mais conhecido como Chaguinhas (Figura 06).
soldado, originando assim o nome do bairro. Por outro lado, Sevcenko (2004, p.
Cabo negro da colônia de Portugal, foi líder de um levante decorrente de
24) defende que o nome do bairro teve sua origem pelo Chafariz da Liberdade,
salários atrasados e luta por igualdade de tratamento entre os militares
que se encontrava no Largo do Curso Jurídico, atual Faculdade de Direito da
nativamente brasileiros e os portugueses. Em 27 de julho de 1821 ocorreu o
Universidade de São Paulo.
fatídico motim, que mais tarde levaria Chaguinhas à forca. Segundo Moura (1943, p. 94), Chaguinhas tornou-se lenda popular e Encaminhado de Santos, onde ocorreu a revolta, ao Largo da Forca, Chaguinhas passou a noite preso numa cela na Capela dos Aflitos, onde após a sua morte se tornaria local de devoção e, até hoje, fiéis depositam sua fé. Em 1832, o Padre Diogo Antonio de Feijó descreve o
transformou-se em veneração religiosa, considerado inocente de seus crimes. Ainda nos dias atuais, Francisco é considerado santo pelos seus devotos, apesar de não canonizado pela Igreja Católica. A porta da cela onde foi preso (Figura 07) antes de sua morte, é repleta de orações, pedidos e agradecimentos aos milagres a ele atribuídos
momento em que Chaguinhas é enforcado, durante uma reunião de governo da sua regência.
...eu vi com meus olhos na minha província. Era o primeiro espetáculo; a curiosidade chamoume áquelle lugar. O desgraçado pendurado cahiu por haver se cortado a corda. Recorreu-se ao governo da província pedindo que se demorasse a
execução enquanto implorava a clemência do príncipe regente. Allegou se não haver corda própria para enforcar, mandou que se usasse laço de couro. Foi se ao açougue buscar o laço; o infeliz foi de novo pendurado, mas o instrumento não era capaz de sufocar com prestez. Cortou-se a corda e o miserável cahiu ainda semi-vivo; já em terra, foi acabado de assassinar! (REVISTA DO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DE SÃO PAULO. Vol V,
1899-1900. p. 66)
Figura 06: Pintura do “Santo” Chaguinhas Fonte: Acervo Digital Primeiros Negros
Figura 07: Porta de Chaguinhas Fonte: Eduardo Anizelli – Folha de São Paulo, 2018
7
DISPUTA D E a
liberdade
NARRATIVAS de
cada
um
Apesar de já ter abrigado o Pelourinho, o Largo da Forca e o primeiro cemitério de escravizados, enforcados e indigentes da cidade (SEVCENKO, 2004, p. 18), hoje o bairro da Liberdade tem como principal símbolo a cultura oriental. Atualmente ele é popular pelos restaurantes japoneses, lojas orientais e
“[...] Também queremos que sejam retiradas as luminárias japonesas dessa rua. Não tem nada a ver
a grande presença de imigrantes, mas era onde negros e indígenas eram
com a história.” (ALVES, Eliz.
mortos no período da escravidão.
REVISTA TRIP: A História dos
A circulação dos escravizados na época, desenhava uma “linha invisível” ao redor das casas senhoriais na região, hoje centro de São Paulo, porém
Negros no Bairro da Liberdade, 2019, s.p.)
Figura 09: Luminárias orientais instaladas pelo bairro Fonte: Catálogo Digital Ames Iluminação, 2021.
naquela época de periferia, segundo Raquel Rolnik. Andando pelo bairro, não há sinais de que um dia fora o lugar de último suspiro de muitos aflitos, exceto por algumas sinalizações simbólicas (Figura 08), iniciativa do DPH¹, criado pela resolução 13/CONPRESP/2019 para tentar não deixar ser esquecida essa parte do passado da história da maior cidade do país. Diante disso, há diversos movimentos ao redor da Disputa de Narrativas no local, lutas que colocam em pauta, por exemplo, a mudança de nome da estação de metrô em agosto de 2018, essa que anteriormente era denominada apenas “Liberdade”, atualmente chama-se “Japão-Liberdade”. Em entrevista, os ativistas Guilherme Dias e Eliz Alves comentam sobre a memória negra que tenta resistir, principalmente após o descobrimento de ossadas na região do
antigo Cemitério.
Quanto às luminárias (Figura 09), há registros segundo o processo 20125/76 de tombamento que permite o CONDEPHAAT² entrar em entendimento com a Prefeitura da Cidade de São Paulo para a retirada das mesmas na rua dos Aflitos, na intenção de desobstruir a linha visual da Capela, assim como o resgate da memória negra no bairro, apagada com o processo de turistificação e fetichização da cultura asiática (KISHIGAMI, 2017, p. 07). Por outro lado, há mais de um século os japoneses já habitam a região. Hoje, segundo dados da Folha de São Paulo, o Brasil é o pais com a maior população japonesa fora do Japão, e o bairro da Liberdade possui a maior colônia fora do país.
As ossadas chamaram a atenção dos grupos de cultura negra que atuam na região e reivindicam a presença de outras narrativas no bairro da Liberdade. Diante dos achados
Além dos japoneses, coreanos e chineses também
habitam e trazem cada vez mais um pouco de suas culturas para o local, que
tornou-se enfoque turístico do Programa de Orientalização para a construção de um bairro para a mídia (SAITO, 2008, p. 08).
arqueológicos e da reivindicação, o DPH apoia e estuda a implantação do centro de memória. (DIAS, 2019, s.p)
Figura 08: Placa Memórias Paulistanas Fonte: Acervo próprio, 2021.
Em luta, a comunidade suplica: Podem mudar o nome das ruas, largos e vielas, mas jamais poderão apagar a dívida que tem com os índios e negros. As cidades infelizmente estão fundamentadas em explorações que precisam ser denunciadas. [...] Saravá!. Autor Desconhecido, 2016, s.p.
¹ Departamento do Patrimônio Histórico ² Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo
INSERÇÃO
URBANA
9
INSERÇÃO URBANA
enforcamentos urbanos Ao nos depararmos com os mapas históricos de São Paulo (Figuras 10 a 15), fica perceptível o motivo por trás da escolha de localização da Capela dos Aflitos. Alocada próxima à forca, essa estrutura que recebia a última oração de cada aflito, com o
passar do tempo, viu lentamente se concretizar seu próprio enforcamento. As ruas coloniais do bairro abrigavam sítios considerados distantes e a partir da década de 1850 iniciou-se seu processo de urbanização devido à desapropriações concedidas para configurar novas ruas e praças.
1842
1847
1881
1930
É a partir da inauguração do cemitério da Consolação, em 1858, que o terreno do cemitério, ao redor da Capela, é loteado e vendido, fomentando a economia local e gerando impactos no crescimento demográfico.
Com
o advento
extraordinariamente, pois
da
República,
a
capital
de
São Paulo
cresceu
quase todos os proprietários das antigas chácaras. que
então existiam nos bairros de Santa Ifigênia, Born Retiro, Braz, Consolação. Liberdade e Cambuci mandaram abrir, nas referidas chácaras, diversas ruas, avenidas, alamedas e largos,
fazendo-se
neles
suntuosos
palacetes
e
bonitos
prédios.
(GUIMARÃES, 1979, p.47, apud A. E. Martins – SÃO PAULO ANTIGO, 1973, p.14).
Ao final do século XIX, os bairros da Liberdade, Vila Mariana e Consolação, já eram habitados com residências burguesas e era cogitada a implantação de uma estrada de ferro e bondes para comportar o crescimento exponencial da população e da cidade, expandindo ainda mais seus horizontes. As revoluções políticas de 1930 e 1932 acarretaram em previdências reformistas sociais e econômicas que tinham como objetivo transformar São Paulo no centro articulador das atividades comerciais. Concomitantemente, a intensificação do fluxo migratório impulsionou a metropolização da cidade, que passou então a concentrar riquezas.
Figuras 10 a 14 (esquerda para direita, de cima para baixo): Mapas Históricos de São Paulo, sem escala. Fonte: Arquivo Histórico Municipal Washington Luís, s.d.; Figura 15: Mapa atual da cidade, sem escala. Fonte: Geosampa, 2017.
1974
2017
10 A partir da análise legislativa é possível perceber que, de modo geral, o traçado do bairro da Liberdade que conhecemos no presente foi constituído na primeira metade do século XX. Guimarães, na coleção “História dos bairros de São Paulo”, aponta: “A industrialização em fase expansionista e a centro urbano cada vez mais densamente povoado, ditaram a expansão da cidade de São Paulo de maneira desordenada, destruindo grande parte de suas antigas edificações, e fazendo surgir o novo com o sacrifício do histórico.” (GUIMARÃES, 1969, p.50)
O bairro recebeu os impactos do progresso mais intensamente na década de 1970 com estações metroviárias da Linha 01 - Azul. Para funcionamento de tais, foi necessária uma ampla alteração no traçado existente, além de desapropriações e a programação da chamada “Zona Oriental”. Com isso, concretizou-se o enforcamento da capela.
ENFORCAMENTOS URBANOS Termo cunhado por Maristella Pinheiro, um enforcamento urbano pode ser claramente exemplificado pelo Beco dos Aflitos (Figura 16), local que em cerca de uma centena de anos passou de amplas fazendas e um cemitério a céu aberto à uma densa metrópole onde o horizonte mal se vê.
Esse beco escondido, para quem anda na Rua dos Estudantes em busca de conhecer o bairro oriental, raramente passa de um vulto no canto dos olhos. Caso o
transeunte pare e olhe, verá primeiramente um estacionamento, afinal não há saída nessa rua. Além dos automóveis, veria um par de postes vermelhos, símbolo da cultura oriental. E então, por trás de um alto gradil e um toldo, espremida entre edificações de gabaritos e recuos incoerentes, um pequeno vislumbre do patrimônio.
Figura 16: Diagrama Semi-Visão da Capela dos Aflitos. Fonte: Elaborado pelos autores, 2021.
ANÁLISE
ARQUITETÔNICA
12
ANÁLISE ARQUITETÔNICA forma, desenho
e
linguagem
Nome: Capela dos Aflitos (Capela de Nossa Senhora dos Aflitos) Localização: Rua dos Aflitos, 70 - Liberdade - São Paulo /SP Composição: Colonial
Proprietário (Original / Atual): Particular – Mitra Arquidiocesana Uso (Original / Atual): Evocação, culto religioso / Culto religioso Tombamento: CONDEPHAAT (1978) e CONPRESP (1991) Nível de Preservação: NP-1 Descrição Técnica: Originalmente em taipa de pilão, apresenta maciços de 30 a 60 cm de largura; sua fachada sofreu alterações e recebeu ampliações em alvenaria de tijolos e concreto armado. Fonte: CAROLLO, 2021. p. 2 A cerca da fachada frontal, sabe-se que o frontispício e óculo sofreram descaracterizações relevantes. Contudo, existe uma discrepância a cerca dos dados registrados. Publicado no livro dos Bens Culturais e Arquitetônicos da Secretaria Municipal de Planejamento (SEMPLA) há a seguinte informação: “Para sua manutenção, fora erigida em 1857 a Irmandade de N. Sra. dos Aflitos, cujo provedor, já em 1872, comunicava à Mitra a impossibilidade financeira da entidade em perseverar na tarefa que lhe fora incumbida. É a esse curto período que devemos atribuir o novo frontispício da capela, o qual, mutilado, chegou até nós”. (SEMPLA, 1984, p. 168).
De acordo com o Processo 20125/1976 sobre o Tombamento da Capela dos Aflitos, consta: “Desfeito o cemitério, com a venda dos lotes a particulares, a Capela sofreu reformas em 1869, cuja composição arquitetônica é a que expressa atualmente”. – CONDEPHAAT, Processo 20125/1976, fl. 28
Há mais uma documentação a ser considerada: uma fotografia de 1939 (Figura 17), do acervo Noronha Santos, onde a mesma apresenta a Capela (Figura 18) com traços diferentes dos citados no Processo acima e a SEMPLA
(1984, p.169) registra uma intervenção com data no mesmo ano da fotografia de Hermann Graeser, que pode ter sido posterior à foto. Figura 17 (superior): Fotografia de Hermann Graeser, 1939. Fonte: IPHAN – Arquivo Noronha Santos Figura 18 (inferior): Rua dos Aflitos em 1976. Fonte: Processo CONDEPHAAT 20125/1976
13
ANÁLISE ARQUITETÔNICA materiais
e
técnicas construtivas
A Capela foi construída originalmente usando a técnica da taipa de pilão,
Carollo (2021, p. 12 e 14) aponta adições à Capela executadas em alvenaria
que era o material mais utilizado durante o período colonial no Brasil, devido
e concreto armado, ao longo dos anos, assim como a aplicação de revestimento,
sobretudo à abundância de matéria prima – o barro vermelho, à relativa facilidade
gerando uma grossa camada de substratos (Figura 20). Tal dado torna-se relevante
de execução, à satisfatória durabilidade e às excelentes condições de proteção
a medida em que cada material se comporta de uma determinada forma,
que oferece quando recebem manutenção adequada (COLIN, s.a., p. 10 apud
gerando patologias na estrutura. Em um Laudo Técnico a pedido de Carollo, o
VASCONCELOS, 1979, p. 21). É uma técnica de origem mourisca praticada pelos
físico Matheus Rodrigues constata:
portugueses e espanhóis e conhecida também pelos negros africanos que trouxeram a técnica para as terras tupiniquins após a invasão em meados de 1500.
Se considerarmos um corpo isotrópico, ou seja, que o coeficiente de dilatação independa da direção, temos um coeficiente constante e esse fato
Era de uso comum na Europa, até meados do século XIX. Comumente as paredes têm uma fundação em pedras, porém no Planalto
torna a análise da dilatação mais simples. A dilatação corresponde a um aumento do espaçamento inter atômico médio. [...] Dessa forma, fica evidente
Paulista havia uma escassez de matéria prima, fazendo com que a taipa fosse
que dois materiais diferentes terão dilatações diferentes, podendo implicar em
socada diretamente em uma vala, o que acarreta em diversas patologias
danos na construção. [ ...] É irrefutável o fato de que a taipa não acompanha a
(CAROLLO, 2021, p. 02 apud LEMOS, 2005, p. 14), tal fato aplica-se à Capela.
dilatação de outros materiais contemporâneos apresentando rejeição, trincas e absorvendo esforços solicitantes transversais que ela não prevista para suportar,
Segundo Colin (2015, p.11 e 12) a técnica consiste em socar a mistura com o auxílio de um pilão em formas de madeira, semelhantes às
pois só consegue absorver cargas verticais de compressão. (RODRIGUES, Matheus. LAUDO TÉCNICO A RESPEITO DA DIFERENCIAL DILATAÇÃO DE UM CORPO ISOTRÓPICO NO ÂMBITO DO RESTAURO DA CAPELA DOS AFLITOS, 2020, s.p).
formas de concreto atuais, em várias camadas e em pequenas quantidades de 20cm que, socadas, se reduzem a 10 ou 15cm. (Figura 19). Tal mistura era dosada entre argila, areia e
alguma fibra vegetal, crina de animal, estrume ou até óleo de baleia e esperavam de 4 a 6 meses para secagem para assim aplicar o revestimento de cal e areia, que aumentavam a resistência
Figura 19: Técnica da taipa de pilão em execução. Fonte: COLIN, 2015, p. 11 apud BARDOU, 1981, p. 20.
Figura 20: Várias camadas de revestimento evidentes na Torre da Capela. Fonte: Acervo próprio, 2021.
14
ANÁLISE ARQUITETÔNICA materiais
e
técnicas construtivas
As plantas da Figura 21 foram produzidas e fornecidas pelo arquiteto Igor
que, além de outros fatores nocivos, desfiguram o frontispício. (SEMPLA, 1984, p.169),
Carollo, no ano de 2021, com base em seus estudos de pesquisa de mestrado em
tal acréscimo pode ser identificado com a planta da situação atualmente, à direita.
andamento pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Nesse contexto, Nuto Sant’Anna que viveu entre 1889 e 1975 descreve em um
Ao fazer uma análise crítica, os registros da SEMPLA (1984, p.169) legitimam o
de seus textos a Capela dos Aflitos:
levantamento do arquiteto, uma vez que é sabido de uma ampliação da Capela
Uma porta ao centro, ao alto uma roséola, depois a cruz, no frontispício
(construção de nova sacristia, nave do lado do Evangelho e coro) entre os anos de
recortado ao da arquitetura religiosa setentista ou princípios do oitocentismo. À
1883 e 1962, conforme a planta após metade do século XX, ao centro. Período de
direta, a torre única, de dois andares: No primeiro o relógio, e no segundo o
zeladoria do Dr. José Maria Bourroul e as sucessoras, sua irmã, Dona Sebastiana e, a
campanário. Em reentrâncias bilaterais, duas portas toscas. Junto da que se vê à esquerda, crentes de todas as raças [...] improvisaram um velário paupérrimo.
filha desta, Dona Branca.
AMARAL, 1977 p.27 apud SANT’ANNA, Nuto. IGREJAS DO SÉCULO DA FUNDAÇÃO in Ensaios Paulistas, s.a., p. 502.
Os mesmos registros também apresentam que, em meados da década de 60, foi acrescentado o atual velário, uma construção medíocre seguido de alterações
Figura 21: Comparativo entre plantas térreas da Capela dos Aflitos e suas adições ao longo do tempo. Fonte: CAROLLO, 2021.
8 4
4
1
4
1
7
2
PLANTA TÉRREO Situação em planta até 1930.
7 6
3
3
5
3
3 2
PLANTA TÉRREO Situação em planta após metade do séc. XX
1- NARTEX | 2- ALTAR MOR | 3- NAVE LATERAL | 4- ESCADA TORRE 5- SECRETARIA | 6- LOJA | 7- BANHEIRO | 8- VELÁRIO
1
6
3
3
5
PLANTA TÉRREO Situação em planta atualmente.
2
LEGENDA TAIPA DE PILÃO ALVENARIA
15
ANÁLISE ARQUITETÔNICA s
i
t
u
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E é assim que hoje resiste a pequena Capela dos Aflitos. A Figura 22 foi tirada em visita in-loco dos autores à Igrejinha em abril de 2021. E a Figura 23, produzida por Carollo (2021, s.p.). Devido a pandemia da Covid-19, até o presente momento, o local tem seu horário de funcionamento reduzido e missas com presença de fiéis suspensas, porém as reuniões em louvor a Chaguinhas seguem acontecendo virtualmente. A começar pela fachada, há a presença de “elementos espúrios” referindo-se ao toldo e gradil instalados. Eles impedem a leitura e deturpam a unidade potencial do bem. Olhando por entre tal gradil, nos deparamos com a porta de entrada deteriorada. Cheia de cartazes fixados em sua face. Anexo à esquerda, encontra-se o velário, intitulado “construção medíocre” (SEMPLA, 1984, p.169) que aparenta ter sido reformado recentemente. A Rua dos Aflitos onde está situada a Capela, possui uma ambientação totalmente inóspita. Apesar das ruas movimentadas nas imediações, não há fluxo de pessoas no interior do beco que serve como estacionamento de motoboys e caminhonetes do comércio local. Somado a isso, estão as lanternas nipônicas e os edifícios de gabarito alto no entorno imediato, que desviam e atrapalham a avalia da Capela.
PLANTA TÉRREO Sem escala
Figura 22: Foto da situação atual da Fachada da Capela dos Aflitos. Fonte: Acervo próprio, 2021. Figura 23: Planta da situação atual da Capela dos Aflitos. Fonte: CAROLLO, s.p., 2021.
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ANÁLISE ARQUITETÔNICA p e ç a
s
g
r
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f
i
c
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s
As peças gráficas referentes à Capela são de autoria e fornecidas pelo arquiteto Igor Carollo, material de sua pesquisa de mestrado e projeto de restauro vigente no ano de 2021.
B
B
A
A
B
B
P L A N T A
PAVIMENTO S E M
E S C A L A
TÉRREO
P L A N T A
MEZANINO S E M
E S C A L A
Diagrama de paredes originais X adições s/ escala Fonte: CAROLLO, 2021
TAIPA DE PILÃO ALVENARIA
17 As peças gráficas referentes à Capela são de autoria e fornecidas pelo arquiteto Igor Carollo, material de sua pesquisa de mestrado e projeto de restauro vigente no ano de 2021.
P L A N T A
COBERTURA S E M
E S C A L A
ELEVAÇÃO S E M
E S C A L A
FRONTAL
18 As peças gráficas referentes à Capela são de autoria e fornecidas pelo arquiteto Igor Carollo, material de sua pesquisa de mestrado e projeto de restauro vigente no ano de 2021.
CORTE S E M
A-A
E S C A L A
CORTE S E M
B-B
E S C A L A
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ANÁLISE ARQUITETÔNICA m a p a
d e
d
a
n
o s
Em seus levantamentos da pesquisa de mestrado para o restauro da Capela dos Aflitos, o arquiteto Igor Carollo desenvolveu um Mapa de Danos e Patologias presentes na edificação, para receber o devido tratamento, onde ele explica:
Fissuração
Geométrica:
Reparação
da
argamassa
de
assentamento por excesso de cimento ou de finos no agregado. Movimentação hidrotérmica do componente. Obturação Cimentícia: Remendos ricos em cimento Crosta negra: Ocasionada devido a poluição atmosférica e a presença
de
partículas
em
suspensão
no
ar
Perda de camada pictórica (interna): A perda da camada pictórica decorre da pintura a base de látex, técnica que causa empolamento e descolamento da camada de tinta, devido o bloqueio da interação dos vapores de água Desprendimento do rebocoa: Desplacamento do emboço devido a incompatibilidade de dilatação de materiais (Normalmente devido a obturações cimentícias). Elemento espúrio: Elementos espúrios engastados na alvenaria (Toldos, gradis não originais etc.) Perda de camada pictórica (externa): A perda da camada pictórica em sua fachada frontal é decorrente de pintura a base de látex, técnica está que causa empolamento e descolamento da camada de tinta, devido o bloqueio da interação e troca de umidade entre o maciço de taipa de pilão e o ambiente externo
a camada de tinta. (CAROLLO, 2021, s.p.)
Figura 24: Elevação com Mapa de Danos atuais da Capela dos Aflitos. Fonte: CAROLLO, 2021, s.p.
ELEVAÇÃO FRONTAL – MAPA DE DANOS Sem escala
LEGENDA
Fonte: CAROLLO, 2021, s.p. Fissuração geométrica
Estrutura contemporânea em concreto armado
Elemento espúrio
Trinca superficial no revestimento
Crosta negra
Desprendimento do reboco
Obturação cimentícia
Destacamento com exposição da alvenaria
Fiação elétrica exposta
Fixações de peças metálicas
Perda da camada pictórica
20
ANÁLISE ARQUITETÔNICA
relatório fotográfico - interior As imagens a seguir foram obtidas online, pois a visita da equipe à Capela restringiu-se ao lado externo devido à pandemia do coronavírus. Um trecho do Retábulo de Santo Antônio do Categeró (Figura 25) ainda encontra-se danificado devido ao incêndio que o acometeu na década de 90. Na foto ao lado, a porta possui pintura contemporânea descascada devido ao fato das pessoas baterem onde, diz a lenda, que Chaguinhas
25
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passou sua última noite em vida e que ao você bater três vezes fazendo um pedido, ele será atendido. Ao redor desta porta, paredes apresentam mofo e umidade (Figura 26). Na Figura 27, o forro destaca-se pelo mau estado de conservação e também a infraestrutura elétrica improvisada e prejudicada, facilicitando a ocorrência de sinistros. A técnica da taipa de pilão é executada com maestria e fica claro no arco abatido no lado esquerdo do templo, rebatido simetricamente à direita (Figura 28). A porta principal (Figura 29) possui os contramarcos em madeira
danificados por umidade e pela presença de agentes xilófagos e biológicos. O Retábulo do altar mor (Figura 30) está altamente danificado, com perda de ornamentação e recomposições em gesso junto à madeira dos ornamentos
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atrás das imagens de S. Benedito (à esquerda) e S. Miguel Arcanjo (à direita).
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Figuras 25 a 30: Situação atual no interior da Capela. Fontes: CAROLLO, 2019; COUTINHO, 2020; SCHMITT, 2017; ANIZELLI, 2018; GERIBELLO, 2014; Acervo União Amigos da Capela, 2019.
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ANÁLISE ARQUITETÔNICA
relatório fotográfico – exterior Infelizmente, os horários de visitação à Capela são bastante reduzidos, principalmente na pandemia da Covid-19. Por isso, no dia 24 de abril foi
realizada uma visita do grupo ao local de estudo em sua área externa. Partindo do beco inóspito que abriga a Capela (Figura 31), ele funciona como garagem e carga e descarga dos comércios nas redondezas. As
32
31
luminárias orientais desviam o foco e o gabarito alto do entorno agrava a sensação de enforcamento. Na base da torre (Figura 32) é possível identificar a exposição do emboço devido ao fato do engaste de elementos espúrios como o toldo e o gradil, sem mencionar o velário (Figura 33), construção extemporânea anexa à fachada da Capela. O vizinho esquerdo na cor verde limão (Figura 34), não traz danos estruturais à igrejinha, porém deturpa a área envoltória, situado no entorno imediato da Capela, atrapalhando a legibilidade do mesmo. As adições contemporâneas em argamassa cimentícia apresentam desprendimento, trincas e fissuras (Figura 35) além da perda de ornamentação de frisos, criptoflorescência, eflorescência e crosta negra (CAROLLO, 2021, p.
10). Na base da torre (Figura 36) é nota-se um desprendimento do revestimento com uma geometria peculiar, induzindo ao fato de que pode ter
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sido ocasionada em prospecções anteriores.
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36 32
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Figura 31 a 36: Situação atual da Fachada Frontal e lado externo da Capela dos Aflitos. Fotos: Acervo próprio, 2021.
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PROPOSTAS DE
RESTAURO
23
PROPOSTAS DE proposta
2010
e
RESTAURO
obra emergencial
Com o passar do tempo, a Capela dos Aflitos começou a sofrer com desgastes ocasionados por falta de manutenção, tendo assim batentes, forros rústicos e portas tomadas por cupins. Além disso a Capela perdeu grande parte de suas talhas barrocas do oratório devido a um incêndio ocorrido em 1990 por um mau funcionamento na parte elétrica. E assim começa uma busca por uma proposta de restauro. O Estúdio Sarasá e Instituto Actos foram os responsáveis pelo projeto (Processo
Administrativo 2010-0.249.852-9), que visava resgatar, de forma arbitrária, o desenho da fachada e óculo mais antigos que se têm registro, a partir dos princípios de ViolletLe-Duc, contrapondo os de John Ruskin, onde a composição arquitetônica da fachada atual (Figura 37) seria restaurada com base na fotografia de Hermann (Figura 17) seguindo o seu estilo e forma registrados (Figura 38). Em resposta, o CONDEPHAAT aponta:
Figura 37: Elevação Fachada Frontal em 2010 Fonte: CAROLLO, 2019. p. 46 apud Projeto de Restauro - Estúdio Serasá, 2010.
Parecer técnico da UPPH de no 298-2011, apresenta em resposta a solicitação da alteração do frontão a conclusão do Condephaat, informando que não são favoráveis ao projeto apresentado por não considerarem que os ângulos e graus estão fiéis ao da fotografia de Hermann Graeser de 1939. O parecer também sugere que a Diretoria Técnica prossiga a aprovação dos serviços de conservação já aprovados. (CAROLLO, 2019. p. 7 apud CONDEPHAAT - Processo 62696/2010, fl. 82 e 83.)
Antes da proposta mencionada, sabe-se segundo o SEMPLA (1984, p.169) que houveram diversas reformas e restauros no decorrer dos anos, porém segundo o CONDEPHAAT a primeira obra de conservação e restauro que se tem conhecimento é a troca do telhado executada em 2002. Em novembro de 2002, o CONDEPHAAT recebe uma solicitação para uma
obra emergencial de troca de telhado devido a vazamentos que danificaram os forros, esses originais da capela, e também os revestimentos. A obra é aprovada pelo órgão, com a condição de que não se alterassem as características.
Figura 38: Elevação Fachada Frontal Proposta, em 2010 Fonte: CAROLLO, 2019. p. 47 apud Projeto de Restauro - Estúdio Serasá, 2010
24
PROPOSTAS DE proposta
2021
RESTAURO
Diante da situação em que a Capela se encontra (Figura 39), em conformidade com o Plano de Manutenções do CONPRESP, o arquiteto Igor Carollo propõe a ideia de recuperar a unidade potencial do bem (BRANDI, 2008. p. 47) trazendo um projeto de restauro que se adeque dentro de cada situação presente na Capela, a fim de legitimar a historicidade que envolve o edifício e seu presente (Figura 40): O partido de intervenção dá-se pela consolidação da volumetria atual da capela,
levando em consideração o trajeto da historicidade que perpassa o edifício e afetividade e imaginário coletivo da população devota a Nossa Senhora dos Aflitos, prezando também pela consolidação do espaço votivo denominado Velário, local de adoração e depósito de crenças e afetos.(CAROLLO, 2021. p.13)
Está previsto o sacrifício do velário atual (introduzido na metade do século XX), o projeto de um novo velário em caráter de distinguibilidade e reversibilidade; recomposição do acesso lateral da Capela; remoção de elementos estruturais
Figura 39: Situação atual Capela dos Aflitos, sem escala. Fonte: Projeto básico de restauração – CAROLLO, Igor. 2021, p. 10
contemporâneos não compatíveis com os fatores de dilatação da taipa de pilão e reposição por técnicas em solo cimento, além de prever um estudo acerca das fundações, devido uma possível instabilidade estrutural presente. Carollo também propõe um estudo aguçado com uma equipe de Arqueologia a respeito do piso na intenção de remover toda a intervenção presente e recompor a partir do solo cimento. A fachada terá a recomposição dos frisos e molduras danificados em argamassa de solo cimento com saibro no lugar da areia, garantindo maior plasticidade, a pintura será a base de cal virgem com pigmentação definida pela prospecção. Os elementos espúrios (gradil e toldo) serão completamente removidos, assim como a pavimentação da calçada na testada do lote e colocação de pedras poliédricas. A cobertura existente será recuperada e higienizada e o sino restaurado. No interior da Capela o restauro do mezanino, está previsto assim como a restauração dos retábulos e do altar mor com a substituição das peças em madeira que perderam a capacidade mecânica de suportar esforços de tração; novo layout dos ambientes Loja e Sanitário. Figura 40: Proposta de restauro 2021, sem escala. Fonte: Projeto básico de restauração – CAROLLO, Igor. 2021, p. 12
ATRIBUIÇÃO DE
VALORES
26
ATRIBUIÇÃO DE VALORES resoluções
de
tombamento
Parágrafo Primeiro – Qualquer intervenção nessas áreas, incluindo a escavação ou
A primeira resolução de tombamento ocorreu por meio do CONDEPHAAT
instalação de qualquer tipo de equipamento e mobiliário urbano, deve ser submetido à
no dia 23 de outubro de 1978, publicado no Diário Oficial dois dias após e inscrito
prévia aprovação do DPH/CONPRESP e a análise e manifestação do centro de
no Livro do Tombo em 18 de julho de 1979.
Arqueologia.
Artigo 1º – Fica tombado como monumento histórico a Capela dos Aflitos,
Parágrafo Segundo – Fica obrigatória a contração de serviço de Acompanhamento Arqueológico pelo Poder Público e suas empresas concessionárias em intervenções que
localizada à Rua dos Aflitos, nº 70, no Bairro da Liberdade, nesta Capital. Artigo 2º – Fica o Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado autorizado a inscrever no Livro do Tombo competente o
bem cultural em referência, para os devidos e legais efeitos. (CONDEPHAAT, Resolução SC S/N/78, 1978, s.p.).
afetem o subsolo em todas as áreas definidas [...]. (CONPRESP, Resolução nº 25/CONPRESP/2018, 2018, s.p.).
O eixo arqueológico do Glória-Lavapés é protegido pelo DPH/CONPRESP pela (Resolução 20/CONPRESP/2016) como sendo “lugar de caráter referencial e simbólico
Posteriormente o CONPRESP introduz a Capela dos Aflitos como sendo o 22º
da história da urbanização da cidade”, justificado e consolidado por fatores como
bem a ser tombado “ex-officio” presente na resolução nº 05/91 publicada no
sinuosidade e topografia, incluindo calçadas, logradouros e edificações que estejam
Diário Oficial em 10 de abril de 1991.
ao longo do percurso.
Tombamento ex-officio - Art. 7º - O Município, na forma desta lei, procederá ao tombamento total ou parcial de bens móveis e imóveis, de propriedade pública ou particular existentes em seu território que, pelo seu valor cultural, histórico, artístico,
arquitetônico,
documental,
bibliográfico,
paleográfico,
urbanístico,
museográfico, toponímico, ecológico e hídrico, ficam sob a especial proteção do
Área de Interesse Arqueológico
Poder Público Municipal. Parágrafo Único - O tombamento deverá recair de ofício sobre bens já tombados pelos poderes públicos federal e estadual. (Lei no 10.032/85 alterada pela Lei no 10.236/86). (GLOSSÁRIO DE TERMOS – RESOLUÇÕES CONPRESP, 2008, s.p.).
Outra resolução importante é a 25/CONPRESP/2018, nela consta a
Eixo Arqueológico
regulamentação da área envoltória de proteção compreendida num raio de 300 metros da Capela dos Aflitos, juntamente com o tombamento do caminho histórico da Rua da Glória e Rua do Lavapés, sendo considerado um eixo arqueológico na região da Liberdade. (Figura 41)
Área Envoltória da Capela dos Aflitos
Artigo 5º - Visando à preservação do patrimônio arqueológico relacionado ao Caminho Histórico Glória – Lavapés, extensão da colina central da cidade, foram definidas ÁREAS DE INTERESSE ARQUEOLÓGICO [...]
Figura 41: Mapa de Proteção do Caminho Histórico Glória – Lava-Pés Fonte: DPH, adaptado pelos autores
27
ATRIBUIÇÃO DE VALORES sítio arqueológico IPHAN
Localizada entre a Rua Galvão Bueno e Rua dos Aflitos, no ano de 2018, havia uma propriedade particular com uma área de 400m², que abrigava um
A arqueóloga do IPHAN, Leila Maria França, comenta sobre achados nas escavações (Figuras 43, 44 e 45), dizendo:
prédio cuja uma das fachadas ficava voltada à Capela dos Aflitos. O proprietário
Quanto às contas de vidro, os dados levantados pelo estudo indicam
do espaço decidiu demolir o edifício por conta de problemas estruturais e construir
que estas estavam vinculadas à religião de matriz africana, especialmente ao
um novo empreendimento comercial, porém esta nova obra, além de ter
culto de Ogum - conclusão tecida a partir de outros contextos brasileiros, e
começado de forma irregular, abalava a estrutura frágil da Capela que se localiza
respectivos estudos que ligam a prática de levá-los à sepultura aos costumes das populações de Guiné, Nação Cabinda ou Benguela. (FRANÇA, Leila. Revista
bem ao lado.
Museu, 2020, s.p.).
Uma devota chamada Eliz Alves, fundadora e integrante da UNANCA (União dos Amigos da Capela de Nossa Senhora dos Aflitos) relata em uma roda de conversa proporcionada pelo SESC ConVIDA, dizendo:
Figura 43: Contas de vidro encontrada nas escavações Fonte: Portal G1, 2018.
A gente tem uma imagem de Nossa Senhora das Dores, que é uma relíquia, e
Com o encerramento das escavações na Liberdade, os ossos foram levados
ao passo que batia a estaca praticamente a santa pulava. Então aquilo começou a
para o laboratório da “A Lasca” (empresa de assessoria em Arqueologia), onde
apavorar a gente. (Relato de Eliz Alves, SESC – ConVIDA, 2020, s.p.).
passaram por uma curadoria e uma análise, até a entrega dos objetos para o DPH.
Posteriormente, a situação foi levada para o DPH que embargou a obra e, por se tratar de uma área envoltória da capela, obrigou o proprietário a contratar uma empresa de arqueologia para que fossem feitas escavações no lote sob a coordenação do DPH e do IPHAN. Esta é uma obra particular, mas por estar no entorno da capela, que é um bem tombado, está sob a regulamentação dos órgãos de preservação do patrimônio histórico e cultural [...] Por isso, antes de dar seguimento às obras, as instituições recomendaram uma pesquisa arqueológica para saber se havia evidências do antigo cemitério que historicamente sabia-se que existia aqui. (JULIANI, Lucia. Empresa de Arqueologia A Lasca - G1SP, 2018, s.p.)
Com as escavações, entre outubro e dezembro de 2018 três arqueólogos especialistas em sítios de categoria funerário identificaram nove ossadas do séc. XVIII a cerca de 1m abaixo do nível da rua (Figura 42).
Figura 44 e 45: Ossada encontrada nas escavações Fonte: Portal IPHAN, 2018.
Figura 42: Processo de escavação Fonte: Portal G1, 2018.
28
ATRIBUIÇÃO DE VALORES a p e l o
p o p u l a r
A UNAMCA (União dos Amigos da Capela dos Aflitos - Figura 46 e 47) surgiu em 2018 a partir de uma mobilização de devotos que frequentavam a capela. Essas pessoas viam o estado lastimável em que o Bem se encontrava, sem
Esse patrimônio já resistiu a urbanização do bairro oriental da cidade, que descaracterizou a região original, embora tenha trazido novas contribuições culturais e a um incêndio no início da década de 1990, mesmo tendo sido tombado
manutenção e em risco estrutural devido à obra no lote vizinho, e então
pelo CONDEPHAAT com número do processo 20125/76 a
começaram a buscar meios de reverter essa situação. A primeira reunião do
23 de outubro de 1978 e com publicação no Diário Oficial a
grupo se deu em 27 de junho de 2018 (239º aniversário da Capel), e foi entregue
25 de outubro de 1978, na página 54, livro do tombo histórico
uma carta aberta para os órgãos responsáveis pelo bem. Em 17 de dezembro de
com número de inscrição: 128, p. 24 de 18 de julho de
2018 foi feita uma audiência pública na Câmara Municipal de São Paulo para abordar a questão.
1979 e como o patrimônio 22 do município tombado pelo CONPRESP pela resolução 05 de 05 de abril de 1991. O jornal Folha de São Paulo notificou no dia 25 de outubro de 2011, que os órgãos do
“Devotos da Capela dos Aflitos”, não são devotos só católicos. São devotos
patrimônio histórico haviam aprovado o primeiro
afrodescendentes e, portanto, umbandistas, do Candomblé, católicos e espíritas de
restauro da Capela que seguia para o Ministério
diversas tendências. (LUIZ, Silvio, Notas Taquigráficas, 2018, p. 25) Abaixo encontra-se
da Cultura, que mediante a Lei Rouanet, a obra
a Carta Aberta de 27 de junho de 2018 em favor a Capela de Nossa Senhora dos Aflitos elaborada pela Comissão Provisória da UNAMCA:
orçada na época, em torno de R$ 1,5 milhão pudesse ser custeada pela livre iniciativa, mas nada foi feito.
E, no entanto, em seu aniversário de 239 anos de edificação, o que temos? A ameaça do desabamento A Comissão Provisória e responsável pelo processo de constituição jurídica da UNAMCA - União dos Amigos da Capela de Nossa Senhora dos Aflitos torna pública às autoridades competentes da cidade de São Paulo, aos organismos de preservação patrimonial e cultural de nosso país, bem como às autoridades eclesiásticas, da Cúria Metropolitana de São Paulo, da CNBB e da Cúria Romana, além de toda a população, a nossa completa indignação sobre o estado deplorável que se encontra a Capela de Nossa Senhora dos Aflitos, situada no Beco dos Aflitos, 70, no bairro da Liberdade, na capital paulista. A referida Capela data de 27 de junho de 1779 sua fundação, como referencial católico do primeiro cemitério de 1775 da cidade
destinado aos desvalidos (escravos, pobres indigentes e aos .condenados à morte). Por dois séculos e meio é o santuário dedicado a devoção às almas, onde atualmente há duas missas
total ou parcial da Capela, provocado por uma demolição
Figura 47: Logo da UNAMCA Fonte: Acervo Digital UNAMCA, 2021.
e futura edificação de um imóvel comercial situado ao lado da Capela, no Beco dos Aflitos, 64 e que se estende até a outra rua paralela ao Beco, a rua Galvão Bueno. 36 Questionamos veementemente a forma como esta obra foi liberada. Se a análise geológica foi realizada e acompanhada pelos órgãos competentes, levando em consideração a distância necessária e o impacto sobre esse prédio tão antigo e tão significativo para a preservação de nossa memória cívica e espiritual. Nossa apreensão torna-se ainda mais legítima e urgente, considerando os reais e comprovados impactos manifestados nas rachaduras recentes das paredes do lado interno da Capela, que inclusive foram calçados pela construtora responsável pela referida obra, além da parede do lado externo fronteiriço à obra que foi totalmente rebocada sem qualquer critério para uma edificação tombada, pela mesma empresa que atua na obra, para cobrir os estragos realizados.
.semanais, às 2as feiras, além de rezas de terço e a constante
Conclamamos as autoridades competentes em todos os setores implicados na questão,
visitação de devotos que acendem suas velas.
para que intercedam em favor da Capela de Nossa Senhora dos Aflitos, antes que a situação seja irreversível. (UNAMCA, Carta Aberta, 2018, s.p., )
Figura 46: Um dos símbolos da UNAMA Fonte: Acervo Digital UNAMCA, 2021.
29
Hoje a Capela dos Alfitos possui um projeto de restauro em fase de levantamento para aprovação perante ao proprietário, a Cúria Metropolitana de São Paulo e nos órgãos de preservação do patrimônio, porém, o apelo popular a respeito desse imóvel acontece há muito tempo. Na Figura 48 é possível destacar um recorte do Jornal Correio Paulistano do ano de 1948, há 73 anos atrás, onde já era notório o descaso com a igrejinha. Em um dos parágrafos da matéria, o jornal descreve: O beco dos Aflitos apesar de tudo é o mais sossegado de S. Paulo. Nele (...), escondem-se dos pais os moleques que gazeiam a escola nos mesmos lugares que antigamente palmilhava o pé do condenado, coram hoje ao sol lençóis e roupas brancas. E lá no fundo
a igrejinha velha esquecer-se de que, muitas e muitíssimas vezes, seu sino plangeu tristemente, ao chegar o corpo do condenado, justiçado lá em cima na forca. (CORREIO PAULISTANO, 1943, s.p.)
Em 1961, o jornal O Estado de São Paulo (Figura 49) relata o desabamento de uma das paredes da Capela. A fotografia não deixa claro qual parede exatamente desmoronou, mas o registro é válido. Para muitos pode soar como uma simples notícia, mas para outros o que se lê é um pedido de socorro para o patrimônio. Em dias atuais, no ano de 2018, como uma iniciativa da UNAMCA, um série de publicações nas redes sociais foram feitas para chamar atenção ao descaso com a Capela. As imagens, intituladas “memes” (Figura 50) usam do humor para atingir o público de maneira reflexiva, pois apesar de parecer engraçado, a crítica era real e a resposta necessária. Tantos apelos buscavam uma única coisa: um olhar sensível que trouxesse um restauro à Capela, à sua arquitetura e à sua história, cada vez menos contada.
Figura 48: Reportagem antiga evidenciando o esquecimento da Capela Fonte: Acervo Digital Correio Paulistano, 1948, s.p. Figura 49: Notícia sobre o desabamento de uma das paredes da Capela. Fonte: Acervo Digital O Estado de São Paulo, 1961, p. 12 Figura 50: Meme da UNAMCA para atraiar atenção à Capela Fonte: Redes sociais da UNAMCA, 2018.
30
ATRIBUIÇÃO DE VALORES m e m o r
i a l
d o s
Art. 1º - Fica criado o "Memorial dos Aflitos", destinado à preservação de acervo arqueológico e memória dos negros e negras que viveram nesta região
a f l i t o s
durante o período da escravidão. Art. 2º - Obrigatoriamente farão parte do acervo do Memorial as descobertas arqueológicas da região, ossadas e demais resquícios do antigo
Como já tem dito um dos artigos relativos à Preservação de Bens Culturais e
Cemitério dos Aflitos. (Câmara Municipal de São Paulo, Diário Oficial da Cidade,
Ambientais presente na Constituição da República Federativa do Brasil de 1988: Art. 216. Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à
p.95, 2019).
Este foi o primeiro passo para que esse desejo popular viesse a se
identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira,
concretizar nos próximos anos. No ano seguinte em 28 de Janeiro de 2020, Bruno
nos quais se incluem: I - as formas de expressão; II - os modos de criar, fazer e viver; III - as
Covas, atual prefeito do Município de São Paulo naquele período, decretou e
criações científicas, artísticas e tecnológicas; IV - as obras, objetos, documentos,
promulgou a Lei nº 17.310, publicada no Diário Oficial da Cidade no dia seguinte.
edificações e demais espaços destinados às manifestações artístico-culturais; V - os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico. § 1º O Poder Público, com a colaboração da
Neste mesmo ano, em 9 de setembro Bruno Covas retorna com o Decreto nº 59.750:
Art. 1º Ficam declarados de utilidade pública, para serem desapropriados
comunidade, promoverá e protegerá o patrimônio cultural brasileiro, por meio de
judicialmente ou adquiridos mediante acordo, os imóveis particulares situados no
inventários, registros, vigilância, tombamento e desapropriação, e de outras formas de
Distrito da Sé, Subprefeitura da Sé, necessários à implantação do Memorial dos
acautelamento e preservação. (BRASIL. Constituição Federal, 1988, Seção II, Artigo 216,
Aflitos, contidos na área de 451,14m2 (quatrocentos e cinquenta e um metros
p.170 e 171).
quadrados e catorze centímetros quadrados), delimitada pelo perímetro 1-2-3-4-5-
Em 15 de março de 2019 foi publicado no Diário Oficial da Cidade o Projeto de Lei 01-00653/2018, que dispõe sobre a criação do “Memorial dos Aflitos” no lote onde foram encontradas as ossadas (Figura 51 e 52):
6-7-8-1, indicado na planta P-33.283-A1, do arquivo do Departamento de Desapropriações, a qual se encontra juntada no documento no 033029030 do processo administrativo SEI no 6025.2019/0015893-3. (Câmara Municipal de São Paulo, Diário Oficial da Cidade, p.6 c. 1-2, 2020).
Figura 51: Foto atual do lote destinado ao Memorial dos Aflitos. Fonte: Acervo próprio, 2021. Figura 52: Planta com lote destinado à receber o Memorial dos Aflitos. Fonte: Decreto 59.750/2020.
31
MEMORIAL DOS
AFLITOS
32
MEMORIAL DOS AFLITOS v i s i t a
i n
–
l o c o
Com o objetivo de estabelecer relações espaciais e analisar o bem cultural de maneira mais aproximada, no dia 24 de abril de 2021, a equipe realizou uma visita à Capela dos Aflitos (Figuras 53 e 54). Isso só foi possível por estarmos na fase amarela do plano São Paulo de combate à pandemia do coronavírus. A visita deu-se apenas pelo lado externo da Capela e do lote destinado à implantação do Memorial dos Aflitos e ocorreu em um dos dias mais movimentados da região, um sábado, com apenas os integrantes da equipe que sentiram-se confortáveis em ir presencialmente ao local. Foram realizadas algumas medições e elaboração de diagramas (Figura 55) a respeito do fluxo peatonal local, assim como a produção de um relatório fotográfico e levantamento dos gabaritos do entorno, sempre visando meios de executar uma proposta de intervenção que atendesse à realidade do lugar.
Fluxo intenso
Fluxo moderado
Fluxo baixo
Figura 53: Higor Valentini realizando medições in-loco. Fonte: Acervo próprio. Figura 54: Lucas Italo (esquerda) e Renata Lima (direita) observando o bem. Fonte: Acervo próprio Figura 55: Diagrama de fluxos e gabaritos obtido na vista, sem escala. Elaboração própria
33
MEMORIAL DOS AFLITOS r e f e r ê n c i a s
p r o j e t u a i s
Recentemente foi publicado o projeto para o Memorial em homenagem às vítimas do rompimento da barragem de Brumadinho, em Minas Gerais (Figura 56) com autoria do escritório GPA&A – Gustavo Penna e Arquitetos Associados, que traz um edifício com paredes distorcidas
que remetem ao trágico
acontecimento e representa o conflito da lama avassaladora diante da
insuficiência humana. Pensar em uma arquitetura que cause impacto e promova sensações em quem passar por ela através da sua própria forma tornou-se nossa principal referência a partir do projeto de Penna. O construído deixa de ser um simples edifício para abrigar um Memorial e tornar-se parte da experiência. Autor: GPA&A – Gustavo Penna e Arquitetos Associados Ano do projeto: 2020 Local: Brumadinho, Minas Gerais, Brasil.
Figura 56: Perspectiva renderizada do futuro Memorial de Brumadinho em Minas Gerais, do escritório GPA&A. Fonte: Site GPA&A, 2020
Figura 57: Planta renderizada do futuro Memorial do Holocausto em Londres, de autoria de David Adjaye e Ron Arad Achitects. Fonte: Site ArchDaily, 2017
A entrada do Memorial do Holocausto em Londres (Figura 57) possui várias paredes paralelas cuja arquitetura se conecta ao paisagismo externo e leva a fluidez do espaço público para o interior do edifício. Servindo como um convite à entrada e
proposta de Adjaye Associates e Ron Arad Architects, com a participação de Gustafson Porter + Bowman. No caso do Memorial dos Aflitos, como sua implantação leva em consideração a transposição entre a Rua Galvão Bueno e Rua dos Aflitos, as paredes paralelas obrigarão quem passar por lá a atravessar sozinho nesse trecho, devido a um espaçamento pensado para isso.
Autor: Adjaye Associates e Ron Arad Architects e contribuição Porter + Bowman. Ano do projeto: 2017 Local: Londres, Reino Unido.
34
Em honra às nove ossadas que foram encontradas no lote, buscamos
Pensando
em
trazer
uma
uma referência que apesar de distante há muito em comum. O Memorial do
estética contrastante à Capela dos
Holocausto em Berlim (Figura 58) possui totens que parecem túmulos espalhados
Aflitos, que tem uma arquitetura
pelo seu terreno afim de remeter a cada vida que foi tirada e para representar
colonial do século XVIII,
a individualidade de cada pessoa, nenhum deles têm o mesmo tamanho.
o prédio a abrigar o Memorial
terá
sabe de quem foram as ossadas encontradas, mas sabe-se pela história e pelos
estrutura
mista
documentos que os enterrados no antigo Cemitério dos Aflitos pertenciam às
concreto
armado
camadas mais pobres da sociedade, os escravizados, soldados sem família e os
paredes em taipa de
indigentes, mas acima de tudo isso, eram pessoas.
pilão.
Essa intenção se repete no caso do Memorial dos Aflitos, onde não se
uma de e
Referenciados
pelo projeto da Escola Autor: Peter Eisenman Ano do projeto: 2005 Local: Berlim, Alemanha.
de
Figura 58: Foto do Memorial do Holocausto em Berlim. Foto: MCINTYRE, 2019.
Artes
Plásticas
Mauricio
Rocha
e
Gabriela
Carrillo
no
México
(Figura
59)
o
edifício usa das linhas mais
minimalistas
e
materiais da atualidade
Figura 59: Escola de Artes Plásticas, no México, com sistema estrutural misto de concreto e taipa de pilão. Fonte: Site Architectural Review, 2009.
concomitantemente a uma técnica utilizada no período em que o bem tombado é datado. É uma forma de mencionar o passado histórico do lugar empregando a técnica da taipa de pilão nas paredes de vedação externas com a passagem do tempo que nos levou até os dias atuais, com a estrutura do edifício em concreto
armado, onde as paredes em taipa são apoiadas e transferem sua carga pela laje, vigas e pilares de concreto armado até o solo. O uso das esquadrias em alumínio preto e vidro reiteram com êxito
a
intenção de trazer o contemporâneo para algo colonial, conceito que também será aplicado no Memorial dos Aflitos.
Autor: Mauricio Rocha e Gabriela Carrillo Ano do projeto: 2009 Local: Oaxaca, Mexico.
35
MEMORIAL DOS AFLITOS e s t u d o s
p r e l i m i n a r e s
A prerrogativa de desenhar um edifício que garantisse uma linha visual do usuário para a Capela e que o lote funcionasse como transposição para quem
visita o bairro, foi o que direcionou cada uma das propostas. O primeiro croqui (Figura 60) mostrava um bloco angulado, suspenso por pilares no térreo e ocupando o recuo direito do lote. A partir da referência da Praça das Artes, do escritório Brasil Arquitetura, a ideia era que o novo prédio
“ e m o l d u r a s s e ” a v i s ã o p a r a o m o n u m e n t o através de paredes anguladas, mas que só funcionaria em um determinado ponto de vista. Figura 61: Croqui da proposta para o Memorial dos Aflitos. Elaborado pelos autores, sem escala, 2021.
Figura 60: Croqui da proposta para o Memorial dos Aflitos. Elaborado pelos autores, sem escala, 2021.
Ainda nos primeiros desenhos (Figura 61), começava a surgir uma relação entre a forma do prédio e o desnível da topografia, de aproximadamente 4 metros, onde ela seria capaz de despertar comoções no transeunte e visitante, ficando todos submetidos a um sufocamento ocasionado pela arquitetura referenciando àqueles que morreram enforcados e foram enterrados naquele lugar. Embasados pelo projeto do GPA&A (Gustavo Penna e Arquitetos Associados) para o Memorial de Brumadinho, a forma do novo edifício deveria
provocar
sensações
em
quem
p a s s a , principalmente
quando vinculadas à história do bem que deverão estar presentes pelas empenas do lote. Porém, essa mesma forma que era tão impactante bloqueava totalmente a visão para a Capela e a escadaria que vencia o desnível era inóspita e fora das normas, uma vez que não havia patamares intermediários. Então o projeto seguia em revisão.
36
MEMORIAL DOS AFLITOS e s t u d o s
p r e l i m i n a r e s
Havia uma necessidade de construir um monumento em h o n r a à s
n o v e o s s a d a s dos indigentes que foram encontradas naquele terreno O projeto começa a tomar forma. Na figura 62 vemos que a escadaria inóspita não existe mais e grandes patamares de permanência surgem em seu lugar. Como um convite para quem está de passagem entrar no lote.
única para a torre sineira por quem está apreciando o acervo. Dessa forma a consegue
respeitar
a
pré-existência
desviando o foco do bem, mas corroborando com a legibilidade.
não Em
contrapartida, a linha de visão para quem está na rua ainda não é a melhor possível e a intenção é trazer de volta para a cidade a igrejinha que ficou esquecida por tantos e tantos anos.
Figura 62: Croqui da proposta para o Memorial dos Aflitos. Elaborado pelos autores, sem escala, 2021.
Em contato com a A Lasca, empresa de arqueologia responsável pelo trabalho no sítio em
O prédio que abriga o Memorial fica elevado, proporcionando uma visão
arquitetura
e que de fato instituíram o Memorial dos Aflitos.
questão, obtivemos a geolocalização com precisão dos fragmentos descobertos e mais algumas informações que serviram para pautar o desenho desse monumento. No lugar de cada ossada será instalado um totem (Figura 63) feito em taipa de pilão, sistema construtivo semelhante ao utilizado na época dos sepultamentos (século XVIII). Sua base será de seção maior e cada peça terá 50x50x20cm. Sua altura será a medida variável entre cada um com intuito de simbolizar a individualidade de cada indigente, nenhuma altura dos totens será igual uma da outra. De acordo com o documento da A Lasca, em
duas ossadas foram encontradas contas na cor azul de religião de matriz africana, como mencionado na página 27 deste caderno. Sendo assim, nesses dois locais os totens também terão contas de cor azul fixadas por entre as camadas de taipa.
Figura 63: Croqui em aquarela da proposta para os totens em honra às nove ossadas encontradas. Elaborado pelos autores, sem escala, 2021.
37
MEMORIAL DOS AFLITOS p e ç a s
g r á f i c a s
Estação JapãoLiberdade
D
O
S
E
S
T
U
D
A
N
T
E
S
PROPOSTA
IMPLANTAÇÃO
0
10
20m
C
RUA DOS AFLITOS
38
C
i = 4%
A
1
762,20
762,60
GUARDA-CORPO h=1.10m
B
A
i = 4%
B
L E G E N D A 1 – Mirante
PLANTA
MIRANTE – COTA 762,60
0
5
10m
C
RUA DOS AFLITOS
39
C
7 B
A
PROJ. MIRANTE
758,20
760,20 762,20
2
D
D
D
3
5
A
758,20
761,20
6 PROJ. RAMPA DE ACESSO
759,20
4
B
L E G E N D A
PLANTA
CAPELA – COTA 758,20
2 – Bilheteria 3 – Foyer 4 – Velário 5 – Totens 6 – Capela dos Aflitos 7 – Espaço de Permanência 0
5
10m
C
RUA DOS AFLITOS
40
C
B
10 11
A
A
8 755,20
9
B
L E G E N D A
PLANTA
ACERVO – COTA 755,20
8 – Acervo/Exposições 9 – Administração 10 – Sanitário PNE 11 – Sanitários 0
5
10m
41
PROPOSTA
CORTE
A-A
0
1
2
3m
42
PROJ. ACERVO
PROPOSTA
CORTE
B-B
0
1
2
3m
PROPOSTA
CORTE
C-C
0
1
2
3m
43
MEMORIAL DOS AFLITOS d i a g r a m a s
e
p r o g r a m a
Para uma melhor compreensão acerca do estudo preliminar para o Memorial dos Aflitos, a figura 64 relaciona a setorização do projeto com o diagrama de fluxos do transeunte, que apenas está de passagem pela transposição e do visitante, que virá conhecer o prédio. Abaixo, uma relação entre o programa de necessidades e a área destinada a seu uso:
Bilheteria Administração
(6,00m²) (12,55m²)
Sanitários Sanitário PNE
(11,85m²)
Acervo/Exposição Velário
(78,00m²) (10,15m²)
Circulação
PLANTA MIRANTE – COTA 762,60
PLANTA BILHETERIA / VELÁRIO / CAPELA – COTA 758,20
Fruição Pública
A fruição pública pelo lote do Memorial dos Aflitos será livre, porém embasada na historicidade a qual aquele lugar carrega. O transeunte que optar por descer as escadas e seguir em direção ao Beco dos Aflitos ficará submetido às sensações que o partido do projeto causará no usuário. Apesar do edifício atender ao programa, há uma linha de fluxo
PLANTA ACERVO – COTA 755,20
imaginária direta, conectando as duas vias de maneira rápida para quem está apenas de passagem. Agora, para quem deseja percorrer o projeto na perspectiva do visitante
Fluxo do Visitante
Fluxo do Transeunte
que vêm conhecer a história, passará por cada ponto e terá algo novo a conhecer. Figura 64: Setorização e fluxos do Memorial, sem escala. Elaborado pelos autores, sem escala, 2021.
44
MEMORIAL DOS AFLITOS p e r s p e c t i v a s
3 D
O PROJETO / MIRANTE PARTIDO A pouco mais de 120 metros da estação de metrô Japão-Liberdade, a Rua Galvão Bueno abriga um espaço de memória em honra àqueles
que
um
dia
foram
considerados
indigentes, tiveram suas vidas interrompidas e seus corpos enterrados naquele lugar. O Memorial dos Aflitos tem a difícil proposta de proporcionar uma experiência sensível e impressionante, dando visibilidade e materialidade a um fato oculto da nossa história. Sua forma acompanha a topografia declive do terreno e se encaixa no lote de maneira que ao entrar nele, o único horizonte visível é o enquadramento do bem cultural.
Acessando pela R. Galvão Bueno, um Mirante na cobertura do Memorial oferece um espaço
contemplativo,
com
vista
para
a
Capela dos Aflitos e para que seja mínima a obstrução
do
olhar,
o
guarda-corpo
de
segurança possui um desenho minimalista e o mais sútil possível. Figura 65: Perspectiva renderizada do acesso pela R. Galvão Bueno, conectando o Mirante e a transposição. Elaborado pelos autores, 2021.
45
O
PERCURSO S E N S A Ç Õ E S
O percurso causa aflições que remetem
ao passado dos Aflitos. Ao descer as escadas, os grandes patamares começam a ficar sob a laje inclinada do Memorial que possui um pé direito baixo, de modo a causar um certo incômodo intencional em quem passar por ali até que, de repente, você é submetido a escolher
um
dos
nove
corredores
para
continuar o caminho. Eles possuem largura de 80cm, suficiente para circulação desde que feita sozinha e são nove em menção às nove ossadas que foram
encontradas na pesquisa arqueológica no ano de 2018. Ao fim deles, encontra-se a bilheteria do Memorial que te convida a continuar o trajeto pela história, acessando o subsolo. Nele está localizado o acervo em exposição.
Figura 66: Perspectiva renderizada dos corredores da transposição. Elaborado pelos autores, 2021.
46
VELÁRIO D E V O Ç Ã O
E
E
TOTENS
H O M E N A G E M
Aquele que continua o percurso em direção ao beco e Capela dos Aflitos, poderá visitar o novo velário, projetado de forma que pudesse fazer parte agora do Memorial, uma vez que ali
se
prestarão
homenagens
àqueles
esquecidos na história e integrando também a
devoção
pelo
conhecido
“Santo
da
Liberdade”, o Chaguinhas. O velário possui forma contrastante e ao mesmo tempo simplista. Rasgos ortogonais na parede norte deixarão raios de luz entrar no ambiente escuro, iluminado apenas pela luz das velas. Adjacente ao mesmo, um elevador traz a acessibilidade prevista pela norma NBR 9050/15 daqueles que desejam acessar o mirante pelo nível inferior.
Em
frente,
estrategicamente
posicionados, totens marcarão os nove locais onde foram descobertas as ossadas nos estudos arqueológicos em 2018 pela empresa A Lasca. Tais ossadas agora farão parte do acervo e serão expostas no Memorial. Figura 67: Perspectiva renderizada do pavimento de acesso à Capela, ao velário, totens e bilheteria do Memorial. Elaborado pelos autores, 2021.
47
Figura 68 Perspectiva renderizada do visão do Mirante para o bem cultural e os totens. À direita, o novo velário e elevador atendendo à NBR 9050/15. Elaborado pelos autores, 2021.
48
ACERVO M E M Ó R I A O acervo é enterrado, no subsolo do Memorial, de modo a lembrar a necrópole que um dia ali existiu. Seu acesso é restrito, apenas os visitantes com ingresso terão entrada permitida que poderá ser feita por escadas ou elevador. Ao entrar, o ambiente é escuro e sua implantação na cota abaixo do térreo, estimula a introspecção. No centro, as ossadas estarão expostas em cavaletes desenhados
semelhantes
aos
totens
externos. As paredes receberão projeções mapeadas, de modo a resgatar o passado a qual queremos contar: a vida daqueles que foram considerados um dia como indignos e de como a Capela dos Aflitos foi resistindo aos
enforcamentos
urbanos
com
o
crescimento da cidade. No mesmo ambiente há três sanitários, sendo um deles acessível de acordo com a NBR 9050/15 e uma sala administrativa. Tudo
isso
transforma
o
pequeno
espaço do acervo em um grande ambiente Figura 69: Perspectiva renderizada da área de Acervo, com os cavaletes especiais com as ossadas expostas. Nas paredes a imersão pela história continua. Elaborado pelos autores, 2021.
imersivo para o visitante.
49
Figura 70: Perspectiva renderizada da área de Acervo, com os cavaletes especiais com as ossadas expostas. Nas paredes a imersão pela história continua. Elaborado pelos autores, 2021.
50
BECO
DOS
AFLITOS
V I S I B I L I D A D E
Para estimular a fluxo peatonal através do Memorial, a proposta é transformar a Rua dos
Aflitos
em
uma
via
compartilhada
reduzindo o presença de automóveis. Devido ao uso comercial, a rua é
utilizada para carga e descarga, o que gera uma obstrução visual e também do acesso à Capela. Para tanto, uma restrição de horário para tal uso será prevista, onde só poderão acontecer no período noturno, fora do horário de pico. Em
frente
a
igrejinha,
o
passeio
existente é ampliado e acrescido de uma área
de
permanência
que
conta
com
mobiliário urbano e vegetação rasteira, para não atrapalhar a visibilidade do bem.
Por fim, no intuito de concluir a solicitação que foi aberta em 1977, as luminárias orientais serão substituídas por novas, minimalistas, com formato de arco e engastadas nas fachadas das edificações, longe do chão, permitindo uma visão mais Figura 71: Perspectiva renderizada do novo paisagismo e Área de Permanência na frente da Capela. Elaborado pelos autores, 2021.
ampla do bem cultural.
51
Figura 72: Perspectiva renderizada do novo paisagismo e Área de Permanência na frente da Capela. Elaborado pelos autores, 2021.
52
Figura 73: Perspectiva renderizada da fachada restaurada da Capela dos Aflitos, sem os elementos espúrios. Elaborado pelos autores, 2021.
53
RESTAURO
CAPELA
54
PROJETO DE INTERVENÇÃO p r e m i s s a s
e
t e o r i a s
Intervir em um bem cultural é uma tarefa bastante delicada e minuciosa. É em conformidade com a Carta de Veneza (1964) e na obra de Césare Brandi que embasa-se a proposta de intervenção na Capela dos Aflitos, uma vez que não deve-se presumir o tempo como reversível, muito menos a abolição da história a qual envolve o monumento. A partir de Brandi, restauração dá-se como “o momento metodológico do reconhecimento da obra de arte, na sua consistência física e na sua dúplice polaridade estética e histórica, com vistas à sua transmissão para o futuro” (BRANDI, 2008, p.28), complementado com o artigo 9º da Carta de Veneza:
Art.9
-
O
restauro
é
um
tipo
de
operação
altamente
especializado. O seu objetivo é a preservação dos valores estéticos e históricos do monumento, devendo ser baseado no respeito pelos materiais originais e pela documentação autêntica [...]. O restauro deve
ser sempre precedido e acompanhado por um estudo arqueológico e histórico do monumento. (CARTA DE VENEZA, 1964, p. 4)
A restauração deve visar o resgate da unidade potencial da obra de arte,
sem cometer um falso histórico ou falso artístico, sem cancelar nenhum traço da passagem da obra de arte no tempo (BRANDI, 2008, p. 33). Brandi ainda defende que o bem não volte ao momento de sua criação e sim que continue carregando as marcas do tempo. Tais marcas também compõem sua história. Na Figura 74 é possível notar como a Capela dos Aflitos vem resistindo até os dias atuais. Esquecida por entre os altos prédios do entorno, destacam-se à primeira vista, as luminárias orientais presentes não somente no Beco dos Aflitos,
mas em todo o bairro da Liberdade, que interferem na legibilidade do bem, assim como elementos espúrios (toldo e gradil) engastados na sua fachada frontal.
Figura 74: Foto da Fachada Frontal da Capela, obtida em visita do grupo ao bem cultural. Fonte: Acervo próprio.
55
Se é possível destacar um benefício do elemento espúrio, talvez seja sua tentativa de transmissão do valor inerente do bem a quem venha visitar ou está de passagem pela região. No toldo é possível ler “Capela Nossa Senhora das Almas dos Aflitos. Fundação 27 de junho de 1779. Cemitério de 1775 até 1858”. Apesar de breve, desperta a curiosidade de quem lê. À esquerda de quem olha do Beco dos Aflitos para a Capela, a edificação vizinha possui uma fachada cor verde limão (Figura 53) onde, mais
uma vez, deturpa a visão daquilo que merece destaque principal. Segundo publicação no Jornal O Estado de São Paulo em 27 de setembro de 1961 (Figura 49),
sabe-se que o lado esquerdo da igrejinha
desabou durante a madrugada sem causa conhecida e em conformidade com os estudos de Carollo, o atual velário (Figura 75), que foi construído a partir da segunda metade do século XX encontra-se no mesmo lugar do desabamento e hoje reúne diversas pessoas que vêm prestar seu culto à
Chaguinhas e as almas dos Aflitos ali enterrados. Ou seja, apesar de ser anexo à fachada frontal, o fato que seu uso é demasiado significativo com um importante valor afetivo para a comunidade traz à tona um apelo por uma construção regularizada e que seja segura. Já no interior da Capela, no anexo construído no lado direito da Nave (Figura 76), um pequeno sanitário atende aos fiéis que frequentam as missas e aos trabalhadores voluntários que vendem velas, imagens e outros artigos religiosos, gerando receita para a igreja. A lojinha é apertada, conta apenas com um balcão e nichos improvisados em marcenaria. O banheiro conta com uma bacia reservada e um lavatório aberto que também funciona como depósito e têm uma situação precária além de não estar em conformidade com a NBR 9050/15 sobre acessibilidade.
Figura 75: Foto do interior do atual velário sendo utilizado. Fonte: TOBIAS, 2021. Figura 76: Foto do anexo da Nave Direita onde funciona a lojinha, o sanitário e a secretaria da Capela. Fonte: Google Street View 360, 2017.
56
PROJETO DE INTERVENÇÃO e s t a d o
a t u a l
Com base nos dados apresentados e no levantamento realizado por Carollo em seus estudos, percebe-se uma Capela do século XVIII tombada em esfera municipal e estadual, tímida por entre os prédios do entorno, a edificação com paredes originais em taipa vem resistido ao tempo, ao crescimento da cidade e a inúmeras intervenções que modificaram seu aspecto original, mas não cancelaram sua relevância na história, mesmo que pouco conhecida. O projeto de intervenção de restauro na Capela visa resgatar a unidade potencial do bem não somente respeitando sua travessia no tempo, mas
conservando e revelando valores que tornam o bem motivo de procura e visitação. Tudo aquilo que deturpa e/ou rouba valor será eliminado ou realocado em função do levantamento a respeito do uso e significância daquilo na
ELEVAÇÃO – ESTADO ATUAL
FACHADA
FRONTAL
historicidade do bem, como os elementos espúrios e as lanternas orientais. As contribuições de todas as épocas serão respeitadas e qualquer nova adição ou intervenção proposta será mínima e feita com caráter de reversibilidade e distinguibilidade, embasadas pela Carta de Veneza e nas teorias de Brandi, além de ficar sujeita a aprovação por parte dos órgãos competentes. Na figura 77 é possível visualizar como a Capela se encontra atualmente e identificar o que se mantém original em taipa de pilão e onde estão as adições de alvenaria e concreto armado.
Taipa de Pilão
Alvenaria
Figura 77: Elevação frontal e planta do estado atual da Capela dos Aflitos. Elaborado por CAROLLO, 2021 adaptado pelos autores.
PLANTA – ESTADO ATUAL
PAVIMENTO
TÉRREO
0
1
2
3m
57
PROJETO DE INTERVENÇÃO i n t e r v e n ç õ e s
p r o p o s t a s
No intuito de garantir uma legibilidade melhor do bem, será proposto a remoção das luminárias orientais apenas no Beco dos Aflitos. Tais luminárias reiteram a disputa de narrativas do bairro da Liberdade, porém não em detrimento de outras culturas. Consta no Processo de Tombamento da Capela no CONDEPHAAT uma possibilidade de retirada das mesmas já no ano de 1977: Na presente data enviamos à consideração superior de V.S. os dados
e
elementos
gráficos
que
coligimos
tendo
em
vista
o
tombamento da igreja do Beco dos Aflitos, bem cultural arrolado no centro da cidade pela COGEP em 1975, e que consideramos digno daquele instituto. Depois do tombamento, poderá este CONDEPHAAT entrar em entendimentos com a Prefeitura no sentido de remover do local as lanternas orientais que ali estão e como mostram as fotos. PROCESSO CONDEPHAAT 20125/1976, 1977, p. 13
ELEVAÇÃO – INTERVENÇÕES
FACHADA
FRONTAL
Os elementos toldo e gradil, assim como qualquer material de comunicação visual presentes na fachada, serão eliminados e o atual velário demolido e reconstruído em local mais pertinente. A única proposta de intervenção no interior da Capela será no anexo em alvenaria onde hoje é o simples lavabo. Com a remoção de algumas vedações, o banheiro será ampliado de modo a aproveitar os pontos de hidráulica e esgoto existentes, sem a necessidade de obras maiores de infraestrutura. A pequena loja será realocada e um acesso lateral secundário
será retomado, integrando o bem ao lote destinado ao Memorial do Aflitos.
Taipa de Pilão
Alvenaria
Remoção
Figura 78: Elevação frontal e planta com as intervenções propostas. Adaptado pelos autores, 2021.
Adição PLANTA – INTERVENÇÕES
PAVIMENTO
TÉRREO
0
1
2
3m
58
PROJETO DE INTERVENÇÃO u n i d a d e
p o t e n c i a l
d o
b em
As propostas de intervenção na fachada são duas e se restringem à lateral esquerda do bem, pois além de ser a porção não original, é onde se encontra do lado de dentro a porta do Chaguinhas, objeto tão adorado pelos fiéis. Alteração amparada pelos casos excepcionais do Artigo 11º da Carta de Veneza de 1964, que segue:
Art.11 - As contribuições válidas de todas as épocas para a construção de um monumento devem ser respeitadas, dado que a unidade de estilo não é o objetivo que se pretende alcançar nos trabalhos de restauro. Quando um edifício apresente uma sobreposição de trabalhos realizados em épocas diferentes, a eliminação de algum desses trabalhos posteriores apenas poderá́ ser justificada em circunstancias excepcionais, quando o que for removido seja de pouco interesse e
aquilo que se pretenda pôr a descoberto tenha grande valor histórico,
ELEVAÇÃO – UNIDADE POTENCIAL (1)
FACHADA
FRONTAL
arqueológico ou estético e o seu estado de conservação seja suficientemente bom para justificar uma ação desse tipo. A avaliação da importância dos elementos envolvidos e a decisão sobre o que pode ser destruído não podem depender apenas do coordenador dos trabalhos. CARTA DE VENEZA, 1964, p. 3
Com isso em mente, a primeira proposta é demolir o atual velário, desobstruir essa porta e cobrir a parte exterior dela com vidro, mantendo a integridade da mesma e impedindo que se torne mais uma passagem. Assim, a intenção é que se torne parte do passeio ao acervo do Memorial, trazendo mais visibilidade para a história de Chaguinhas, que será escrita no vidro com aplicação de letras delicadas e brancas.
Figura 79: Elevação frontal e planta da unidade potencial do bem. Adaptado pelos autores, 2021.
PLANTA – UNIDADE POTENCIAL (1)
PAVIMENTO
TÉRREO
0
1
2
3m
59
PROJETO DE INTERVENÇÃO u n i d a d e
p o t e n c i a l
d o
b em
Ambas propostas remetem à fachada original em questão de gabarito, mantendo a lembrança do que um dia foi, porém sem reconstituição fiel, mas sim com caráter de distinguibilidade na sobriedade das formas e materiais utilizados para recomposição, como recomendado no artigo 12º da Carta de Veneza de 1964:
Art.12 - Os elementos destinados a substituírem as partes que faltem
devem
integrar-se
harmoniosamente
no
conjunto
e,
simultaneamente, serem distinguíveis do original por forma a que o restauro
não
falsifique
o
documento
artístico
ou
histórico.
CARTA DE VENEZA, 1964, p. 3
Visto que a integridade da porta de Chaguinhas ainda não foi
ELEVAÇÃO – UNIDADE POTENCIAL (2)
FACHADA
FRONTAL
verificada, a segunda proposta surgiu com referência na recomposição de fachada da Alte Pinakothek de Munique por Hans Döllgast. Após a desobstrução, deve-se verificar se a porta está coberta por alvenaria ou quaisquer
materiais
que
possam
danificá-la
se
removidos.
Se for o caso apresentado em obra, a opção é manter a volumetria da fachada e criar uma menção à porta com uma volumetria delicada que mostre
seu
porte,
e
a
mesma
seguirá
coberta.
É possível também verificar após análise de plantas, que essa porta originalmente era um pouco deslocada à direita, portanto, caso ela permaneça vedada a menção deve ser constituída no local onde se encontrava em sua composição originária.
Figura 80: Elevação frontal e planta de uma segunda opção de unidade potencial do bem. Adaptado pelos autores, 2021.
PLANTA – UNIDADE POTENCIAL (2)
PAVIMENTO
TÉRREO
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CONSIDERAÇÕES FINAIS A escolha da Capela dos Aflitos se corrobora após o aprofundamento
acerca de toda trajetória percorrida por ela. Os cinco valores de atribuição (MENEZES, 2009, p. 35) materializam-se e tornam-se presentes nesse bem de forma peculiar: desde sua consolidação em taipa de pilão resistindo até os dias atuais no coração da metrópole, até sua capacidade de gerar contatos profundos entre o indivíduo e o espiritual, contendo uma memória densa em significado e uma historicidade que vale a pena ser mantida, conservada e relembrada.
Seu enforcamento urbano foi concretizado com o passar dos anos, tornando o local praticamente invisível em meio à cultura oriental que se instala em todo seu entorno. Tímida no final de um beco sem saída está a razão do nome que leva o bairro: Liberdade. A quem tem o fortuno de encontrá-la pode perceber que a Capela deixa à mostra seu frontispício cheio de “cicatrizes” e outras patologias que acusam os incompatíveis restauros, alterações de linguagem e adições de elementos espúrios em seu porte. O terreiro que um dia abrigou tantas últimas orações aos Orixás sincretizados se mantém firme, resiste contra o tempo e inspira resiliência enquanto fornece um olhar à uma história cada vez menos contada. Hoje abriga orações e agradecimentos pelas graças alcançadas e é querida por seus Amigos. É local de adoração,
aos santos canonizados ou não, onde
muitos dizem serem perpetuados milagres. Por fim, parte inestimável e imprescindível da história, convertido de cemitério a coração da metrópole; de mata a sítio arqueológico e na intenção de resgatar a unidade potencial da arquitetura e do passado, é ofertado ao povo o projeto de um Memorial, como forma de perpetuação, memória e respeito aos Aflitos e a materialidade que um dia os recebeu.
“Bem aventurados os aflitos, porque serão consolados”. (Evangelho segundo S. Mateus 5, 4)
Figura 81: Frontispício da Capela que tenta sobreviver e a disputa de narrativas com a luminária nipônica instalada em sua frente no Beco. Fonte: Cecília Bastos, s.a.
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Com a disponibilidade do terreno lateral foi possível projetar um espaço convidativo e curioso, visando proporcionar não apenas uma transposição entre as ruas movimentadas do bairro da Liberdade, mas uma materialização da memória. Na verdade, após as escadas, quem transpassa encontra um mergulho profundo na história da cidade e da humanidade em si. Permeia-se
sozinho,
acompanhado
apenas
pela
realidade
subterrânea desse espaço com pé direito baixo e passagens estreitas. Os
totens, gigantes, dificilmente não chamariam atenção por seu porte, mas não foram dispostos à toa. Ao observá-los, percebe-se nas alturas a individualidade de cada um dos Aflitos encontrados nesses exatos lugares. Não são meros objetos de exposição. Cada um tem sua identidade contida nesse subsolo esquecido por tantos. Estão presentes, erguidos em taipa, inesquecíveis, subindo aos céus imponentemente. A arquitetura do novo edifício dialoga de maneira constrante e sua forma se encaixa no terreno de forma que, ao entrar, o único horizonte visível é o enquadramento do bem cultural. Também uma nova abertura foi criada na lateral Capela, conectando tanto os fiéis para o Memorial, quanto os transeuntes e visitantes do projeto para às missas. O Memorial aos Aflitos é uma chance imprescindível de dar visibilidade à história do bairro da Liberdade e não deixar que ela se perca novamente. Não é possível reescrevê-la, mas é possível educar para que jamais se repita.
“Bem aventurados os aflitos, porque serão consolados”. (Evangelho segundo S. Mateus 5, 4)
Figura 82: Torre sineira da Capela que tenta sobreviver e a disputa de narrativas com a luminária nipônica instalada em sua frente. Fonte: Cecília Bastos, s.a.
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