entrevista
Antonio Maschietto jr.
Alerta para a sociedade Procobre produz documento para alertar governantes e sociedade sobre a situação crítica das instalações elétricas no Brasil.
Entrevista a Paulo Martins
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Foto: Ricardo Brito/HMNews
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levantamento estatístico das ocorrências atendidas pelo Corpo de Bombeiros de São Paulo expõe uma situação preocupante: problemas nas instalações elétricas já estão entre as principais causas de incêndios ocorridos no Estado. Sabe-se que o fenômeno também acontece em outras regiões, o que requer a realização de um amplo trabalho de conscientização e prevenção por todo o País. Uma nova contribuição nesse sentido acaba de tomar forma, com a recente publicação do dossiê “Panorama da situação das instalações elétri-
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cas prediais no Brasil”. O documento foi elaborado pelo Procobre - Instituto Brasileiro do Cobre, instituição sem fins lucrativos patrocinada por empresas produtoras e transformadoras de cobre. A entidade tem como objetivos estimular o uso técnico e econômico desse metal, promovendo sua utilização correta e eficiente, e atuar como agente difusor de informações. O dossiê de 64 páginas pretende chamar atenção dos governantes e da sociedade em geral sobre a situação
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Qual a relação entre o trabalho do Procobre e as instalações elétricas? O instituto tem 18 anos e desde o início desenvolve projetos nas áreas em que o cobre é utilizado. No segmento elétrico, as instalações elétricas constituem o ambiente onde existe o maior volume de cobre presente. Mas percebemos que há uma divergência grande entre as especificações e o que é posto em prática no mercado. Em uma instalação elétrica, teoricamente existem 0,36 quilos de cobre por metro quadrado. Há lugares que usam 0,15, 0,20, até 0,30, quando a obra é boa. Isso indica que as pessoas não estão seguindo um projeto elétrico. Existe preocupação com a segurança da instalação elétrica principalmente porque ela não é um produto único, mas sim parte de vários subsistemas. Se usar um bom produto elétrico, mas com um projeto elétrico falho, o resultado não será bom. Se tiver excelentes projeto e produto, e a mão de obra não for adequada, como consequência o resultado também será ruim. É preciso trabalhar toda a cadeia para obter um resultado positivo. A partir do momento que te-
crítica das instalações elétricas no Brasil e estimular o debate. Além de expor o problema no País, o estudo apresenta a experiência de outras nações do mundo com o tema e apresenta uma série de propostas. O material contém ainda textos que revelam a visão que os porta-vozes de diversas entidades ligadas ao setor elétrico têm sobre a questão. Contribuíram com depoimentos representantes da Abinee, Abracopel, Abramat, Abrasip, Abrinstal, Anamaco, Certiel Brasil, Cobei,
Corpo de Bombeiros, Fiesp, USP, Qualifio, Sindicel, Sindinstalação e Sinaenco. Na opinião de Antonio Maschietto Jr., diretor-executivo do Procobre, falta no País algum tipo de regulamento que obrigue a fiscalização das condições das instalações elétricas. “Hoje tira-se o habite-se e ninguém está preocupado se a casa tem projeto elétrico ou não”, lamenta. Confira a seguir essa e outras questões abordadas na entrevista com Maschietto.
mos bons projetos, produtos e mão de obra, é preciso um mecanismo que assegure que esses três componentes estejam alinhados corretamente para uma finalidade, mas isso não existe no Brasil.
a casa tem projeto elétrico ou não. Fazer bem, de uma única vez, deveria ser a leitura correta. Os custos e o impacto para a sociedade seriam menores. Mas é preciso criar mecanismos regulatórios que forcem esse tipo de coisa. Esse aspecto regulatório poderia ser a certificação das instalações ou poderia ser uma inspeção periódica, no caso dos edifícios antigos. Têm casos interessantes na França e na Bélgica, envolvendo a comercialização de um imóvel, seja ele novo ou usado. A pessoa é obrigada a fazer um atestado mostrando se a instalação está correta ou não. Pesquisas indicam que 90% das pessoas que recebem esse atestado providenciam a regularização do imóvel, do ponto de vista elétrico. Fazendo uma
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Que tipo de mecanismo seria esse? Está faltando, talvez por parte de algum órgão de governo, comprar essa briga e criar uma lei ou regulamento que force uma melhor fiscalização. Por exemplo: para obter o habite-se da casa que construiu, o proprietário poderia ter que apresentar um documento que comprovasse que a instalação elétrica está correta. Isso não ocorre. Hoje tira-se o habite-se e ninguém está preocupado se
Falta, talvez por parte de algum órgão de governo, a criação de uma lei ou regulamento que force uma melhor fiscalização. potência
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Antonio Maschietto jr.
O foco do documento é mostrar um panorama do Brasil e o que pode ser mudado. Inclusive, apresentamos sugestões de ações que poderiam trazer melhorias para as instalações elétricas. As soluções não são complexas, não é algo que ninguém inventou ainda, ou que não funciona. Existem exemplos de vários países. É preciso agarrar essa questão e falar: ‘isso é importante, temos a engenharia necessária, queremos reduzir o número de mortes e proporcionar melhor qualidade e segurança à população’. Alguém precisa encabeçar esse processo, e nós entendemos que tem que ser o governo.
Foto: Divulgação
4 analogia, as pessoas levam o carro que querem comprar ao mecânico para avaliar se está tudo certo. É o mesmo caso aqui: só iria acontecer em situação de compra e venda. Não iria pegar a população como um todo de uma vez, mas sim de forma escalonada. Existem várias formas de atacar essa questão. Precisa haver um grupo de trabalho que decida qual é a melhor. O importante é que haja algum mecanismo, porque hoje não existe nada.
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Que efeitos o senhor acredita que o estudo irá produzir no mercado brasileiro? Esse documento é um compêndio que reúne num único volume informações que propiciam aos governantes e a quem fazer a leitura uma visão macro do setor de instalação elétrica. A ideia é que ele crie um ambiente para que haja discussões que de alguma forma produzam melhorias, porque continua morrendo gente e havendo incêndios. 12
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Quão grave é a situação? Os moradores e frequentadores dos edifícios brasileiros estão correndo riscos? Existem dados extraoficiais que indicam que quase 600 pessoas morrem por ano devido a um produto chamado eletricidade. (N.R.: O entrevistado refere-se ao levantamento feito pela Associação Brasileira de Conscientização para os Perigos da Eletricidade, que identificou a ocorrência de 592 mortes em 2013 devido a choque elétrico). Olhando
Dados extraoficiais indicam que quase 600 pessoas morrem por ano no Brasil devido a um produto chamado eletricidade.
desse ponto de vista, a situação é grave. Existe solução para isso. Nós temos engenharia nacional e normalização de sistemas que permitem ter um índice zero de morte.
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Em que ambiente o problema é maior? Podemos dividir o mercado em quatro segmentos. Tem o mercado das construções novas e o das construções antigas. Existe o mercado formal ou profissional, que envolve os escritórios de projeto, empresas instaladoras e construtoras. E tem o mercado que chamamos de autogerido, no qual o proprietário contrata um pedreiro ou empreiteiro e constrói a casa, mas sem uma estrutura por trás. No mercado formal sem dúvida houve evolução. Só que esse é o mercado menos representativo hoje no Brasil, em relação ao número de construções. O grande mercado é o informal, ou autogerido. E para esse mercado está tudo solto. Nós fizemos alguns levantamentos em construções novas autogeridas e 80% das casas não têm projeto elétrico. Assim fica difícil obter um resultado satisfatório.
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Como envolver nesse processo o cidadão comum, que sabidamente tem limitações financeiras e muitas vezes recorre aos serviços de um colega que faz trabalhos de eletricista, por exemplo? Hoje no Brasil a construção industrializada representa uma parcela muito pequena. Programas como Minha Casa Minha Vida e da CDHU de São Paulo são exemplos dessa construção profissionalizada. A construção industrializada tem que assumir esse mercado, e não deixar o cidadão comum, que não entende do assunto, construir sua casa. Isso acontece porque, no Brasil, o percentual de recursos para financiamento é muito pequeno, em relação a outros países. Esse é um problema de mercado que em al-
gum momento vai se resolver, e assim a construção irá migrar da informalidade para a formalidade.
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Como estamos em relação aos países mais desenvolvidos? Existem estatísticas que mostram que certos países têm sistemas para controlar a situação das instalações elétricas, o que diminuiu o número de acidentes. Nos Estados Unidos, por exemplo, se você constrói uma casa, a companhia de seguros não oferece cobertura se não tiver inspeção. Existe uma cultura diferente em relação a isso. Não faz parte da nossa cultura essa preocupação. Há casos em que se coloca mármore de Carrara no edifício mas não há a preocupação de se verificar se o fio que está dentro da parede está instalado corretamente ou não.
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A quem o estudo será enviado? Nós listamos no documento uma série de projetos de lei sobre o tema que estão em andamento há dez, quinze anos, e alguns mais recentes. A ideia inicialmente é enviar para essas pessoas envolvidas, porque assim pode servir como fonte de inspiração.
Foto: Ricardo Brito/HMNews
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Mas as ações do Procobre em torno desse assunto não acabam aqui, certo? Esse é um trabalho sem fim. Mas não somos só nós, do Procobre. Tem uma série de associações e entidades que também atuam nesse sentido. Entendemos que o documento é uma contribuição a mais para a sociedade e esperamos que essa iniciativa possa surtir algum efeito no mercado.
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