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Elétrica e automação predial
Reportagem: Paulo Martins
Falta de comunicação entre os profissionais das áreas de elétrica e de automação na execução de seus
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respectivos trabalhos pode gerar dificuldades na hora da instalação e desperdício de tempo e de dinheiro. 20
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irculando pelas grandes, médias e até pequenas cidades brasileiras, é natural imaginar que a área da construção civil vai muito bem, tamanha é a quantidade de obras em andamento. Mas não é apenas impressão. Apesar dos problemas que comprometem um desenvolvimento ainda maior, a pujança desse setor é comprovada pelas estatísticas. De acordo com o último levantamento do gênero feito pelo IBGE, o investimento das construtoras em incorporações, obras e serviços chegou a R$ 336 bilhões, em 2012.
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Para atender à demanda do crescimento populacional, novos empreendimentos imobiliários pipocam a cada dia. Mas não basta mais construir por construir. Nos últimos anos, tem aumentado o nível de exigência dos compradores de imóveis, que passaram a valorizar ainda mais os benefícios como conforto, praticidade e segurança. Outra tendência é a busca pela sustentabilidade, tanto na fase de construção quanto durante o uso dos imóveis. De carona nessa onda verde que se propaga, o morador foi promovido de espectador a protagonista. Agora, ele pode gerar sua própria energia, gerenciar o consumo de eletricidade e assim contribuir para o melhor aproveitamento dos recursos naturais. Tudo isso se deve a dois fatores fundamentais: o aumento do poder aquisitivo no País e a evolução da tecnologia, que permitem o acesso de uma parcela cada vez maior da população a novos produtos e serviços antes inalcançáveis ou inimagináveis.
Com um simples toque em um painel, tablet, smart phone ou controle remoto, é possível ativar recursos de iluminação e programar eletrônicos e eletrodomésticos em qualquer ambiente da casa. A interface que possibilita tudo isso é a automação, a especialidade que contribui para deixar nossos lares cada vez mais funcionais e inteligentes. Um detalhe nesse contexto é que a democratização da tecnologia é uma tendência que ganha força. Assim, além das construções de alto padrão, determinados recursos de automação passaram a frequentar também os lares da classe média. Observo ao leitor que a revista não pretende dar seguimento aqui a qualquer tipo de análise sociológica ou econômica do quadro descrito. Esta introdução visa apenas posicioná-lo sobre o potencial de crescimento de um recurso cada vez mais presente em nosso dia a dia - a automação residencial e predial. Na sequência sim, ficará claro o propósito da reportagem: alertar
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O desenvolvimento de um projeto executivo de instalações, tanto no âmbito da elétrica, quanto da automação, é por si só um trabalho complexo. José Roberto Muratori | Aureside
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Produzir e adquirir novas tecnologias é muito importante, mas é preciso aprender a integrá-las ao mundo real e às condições que dispomos hoje. tem chamado a atenção de vários especialistas do setor eletroeletrônico. Trata-se da falta de comunicação entre os profissionais das áreas de elétrica e de automação na execução de seus respectivos trabalhos, em um mesmo empreendimento. Eis o roteiro da encrenca: imagine uma casa ou apartamento qualquer, em fase adiantada de construção. A turma da elétrica faz seu projeto e instala os dispositivos padrões - quadros, caixinhas, fios, etc. Passado algum tempo, chega o pessoal da auto-
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para a necessidade de se investir na infraestrutura e na qualificação para que o País consiga acompanhar melhor o ritmo da revolução que se desenha. Afinal, tão importante quanto produzir e adquirir novas e futurísticas tecnologias, é preciso aprender a integrá-las ao mundo real e às condições que dispomos hoje, de forma que os benefícios se complementem e multipliquem. Dito tudo isso, é o momento de avançarmos para a questão central da matéria - um problema comum que
mação - que normalmente é um dos últimos a entrar numa obra -, e faz sua parte. Detalhe: em nenhum momento eles se falaram. Mas, para que o morador possa usufruir na integralidade aquilo que se espera dos sistemas, e dentro da previsão de custos traçada, é preciso que haja total integração entre as áreas, pois elas dependem uma da outra. Invariavelmente, esse desencontro tem como resultado o retrabalho, desperdício de tempo, dor de cabeça para o proprietário e prejuízo para as empresas envolvidas. Curiosamente, não existe uma rivalidade declarada entre os times de elétrica e de automação. Portanto, não é proposital quando um não deixa espaço (físico, mesmo) para o outro entrar. A lição principal a ser aprendida é que, apesar de todo o avanço tecnológico registrado nos últimos anos, nada substitui a boa e velha conversa.
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Integração
De acordo com José Roberto Muratori, diretor-executivo da Aureside (Associação Brasileira de Automação Residencial), o fato do próprio contratante não ter o escopo de trabalho bem definido tende a originar o problema. Assim, quando os projetos são iniciados, alguns serviços podem ser contratados em épocas diferentes. “Sem a compatibilização de escopos, podemos ter redundâncias e sobreposições, ou, o que seria ainda pior, lacunas importantes no tratamento dos sistemas, prejudicando sensivelmente a futura integração”, aponta.
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Alguns serviços podem ser contratados em momentos diferentes da obra, daí a necessidade de se trabalhar o projeto pensando na elétrica e na automação.
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O especialista conta que já sentiu o problema na pele na empresa que dirige, a Marbie Systems: “Atuamos na área de projetos de automação e é muito comum encontrar tanto incompatibilidade entre o escopo nosso e dos projetistas de instalações elétricas quanto a falta de clareza de quem contrata, com relação aos resultados esperados para o empreendimento em questão”. Conforme contextualiza o professor e consultor Hilton Moreno, o problema se confunde com os próprios
desdobramentos do mercado. Vale fazer aqui o seguinte posicionamento: as instalações elétricas, como conhecemos hoje, existem há muitas décadas. Já a automação residencial é bem mais recente, atingindo maior difusão nos últimos vinte anos. No começo, os recursos da automação eram limitados. Abrir e fechar uma cortina, por exemplo, era um grande feito, mas não exigia muito do sistema elétrico. Com o passar do tempo o sistema evoluiu e agregou outras funções. Teve também a fase
de prover status e luxo, mas hoje a automação se tornou inclusive um eficiente instrumento para promover a eficiência energética, evidenciando cada vez mais a ligação com a área elétrica. “Ao longo dos últimos anos aumentou a quantidade de tipos de automação, de produtos e de fornecedores. A partir do momento em que tudo se multiplica muito, começa a haver problema na obra, quando não se faz a previsão da infraestrutura elétrica no início”, explica Hilton, também diretor da Revista Potência.
Transtorno para o morador, prejuízo para as empresas Para quem está se perguntando o que, afinal, pode dar tão errado assim, os especialistas têm as respostas na ponta da língua. Conforme explica David Jugend, diretor geral da Jugend Engenharia, escritório de São Paulo (SP), os projetos de automação predial implicam na interface entre as duas disciplinas de modo que as funções de automação especificadas possam atuar nos sistemas e quadros elétricos, e
assim cumprir adequadamente o que se espera da instalação como um todo. Segundo ele, entrar bem depois na obra gera um transtorno enorme para os projetistas de automação, porque as soluções dos outros projetos já estarão praticamente prontas. Assim, conseguir que as mesmas mudem torna-se um processo trabalhoso e des-
gastante. “Infraestrutura é consequência, e não causa. Ou seja, depende dos conceitos iniciais adotados no projeto. Não pode ser feita de qualquer jeito, sem critérios firmes com relação aos sistemas eletrônicos a serem implantados”, alerta Jugend. Quando isto acontece, a bomba estoura na mão do projetista de auto-
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Comunicação
A troca de informações entre os profissionais pode, inclusive, elevar o nível de qualidade das instalações de elétrica e automação predial. 26
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Hilton Moreno também fala sobre os riscos de adaptar tardiamente um imóvel: “Quando está no fim da obra alguém lembra da automação, e aí fica complicado introduzir essa tecnologia por questões de layout e de falta de eletrodutos e de canaletas. Pode até faltar espaço para instalar uma segunda infraestrutura”. Detalhando um pouco mais a questão, David Jugend explica que a interface entre as duas disciplinas se traduz, do ponto de vista elétrico, em sua forma mais simples: em borneiras que espelham os pontos de automação liberados pelo sistema. Por exemplo: se vai ser comandado um circuito de luz, na atuação vamos ter um ponto de comando para ligá-lo e um ponto de supervisão para saber se o circuito efetivamente ligou. “Do lado do projeto elétrico, isto implica em gerar, além dos diagramas unifilares dos vários quadros, como iluminação e bombas, os diagramas de comando que permitam que a parte elétrica do sistema responda adequadamente à de automação e que o conjunto fun-
A automação é lembrada apenas no final da obra, o que dificulta a introdução dessa tecnologia por questões de layout e de falta de estrutura. Hilton Moreno | HMNEWS EDITORA Foto: Ricardo Brito/HMNews
mação que entra depois no processo e é obrigado a tentar ajustar a infraestrutura, o que muitas vezes é impossível. “E, se não houver um projetista eletrônico no processo, quem sofre é o instalador, que vai ter que rever tudo com o prédio já quase pronto e a infraestrutura já instalada”, completa Jugend. Ítalo Batista, diretor-proprietário da Proerg Engenharia e Projetos, de Belo Horizonte (MG), confirma que a ausência de sintonia pode gerar falta de previsão de infraestrutura e retrabalhos futuros. “E, normalmente esse profissional de automação não é especializado em projetos, mas sim em execução e instalação, o que dificulta ainda mais o processo”, lamenta. Batista diz que além de desgastar o relacionamento com o cliente, a falta de integração pode exigir intervenções na obra para que as condições necessárias à instalação da automação sejam atendidas. “Isso leva a um maior custo do sistema e nem sempre é possível executar a melhor solução técnica”, destaca.
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cione como tem que ser”, diz. Diagramas de comando são um dos problemas deste relacionamento, pois ainda existem empresas que não têm a cultura de elaborá-los e de deixar as borneiras compatíveis conforme descrito em seus quadros. “Aí, automatizar uma planta predial ou mesmo industrial se torna uma tarefa mais árdua”, expõe Jugend. Conforme relatado pelos entrevistados, é comum no Brasil o responsável pela construção da edificação contratar o profissional de automação depois que o projeto elétrico foi concluído. Mas a partir de que momento seria ideal que houvesse a ‘conversa’ entre os setores de automação e elétrica e que vantagens isso propicia? Na opinião dos especialistas consultados nesta matéria, o mais adequado é que a contratação do sistema de automação ocorra logo na concepção do edifício, juntamente com os demais projetos, como elétrica, hidráu-
No Brasil, é comum o responsável pela construção da edificação contratar o profissional de automação apenas depois que o projeto elétrico foi concluído. lica e ar-condicionado. “Sem dúvida, o melhor momento seria aquele da concepção do projeto de arquitetura, que é onde tudo começa. Ou seja, os projetos deveriam ser contratados no momento inicial”, reforça Ítalo Batista. Entre os benefícios possíveis, ele cita que a solução técnica será a mais adequada à edificação e mais barata, se feita já a partir da concepção dos projetos. “Além disso, não acarretará retrabalho e intervenções no andamento da obra”, menciona. David Jugend concorda: “Começando todos juntos, o relacionamen-
to entre os projetos é estabelecido no início, tornando muito mais fácil a compatibilização dos mesmos, tanto na parte física de infraestrutura e locação de equipamentos como na parte lógica, viabilizando com tempo as interfaces adequadas”. José Roberto Muratori observa que o desenvolvimento de um projeto executivo de instalações, tanto no âmbito da elétrica quanto da automação, é por si só um trabalho complexo e até exaustivo. Por isso é altamente recomendável esgotar todas as dúvidas e questionamentos na fase inicial dos
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projetos, evitando futuros desgastes que geram atrasos e possíveis problemas na obra. “Se a compatibilização de escopos e de objetivos for feita inicialmente e de forma consistente, o trabalho posterior de detalhamento do projeto será muito amenizado e mais ágil”, acredita. Para Hilton Moreno, os benefícios da integração no tempo certo é extensivo aos três lados: pessoal da elétrica, turma da automação e, principalmente, para o cliente. Na sua opinião, o contratante é beneficiado nos aspectos econômico e de resultados. “Quando se trabalha junto no projeto integrado, o resultado vai ser o custo da instalação menor e a melhor solução possível”. O consultor destaca que o fato de iniciar junto o trabalho pode permitir em muitos casos o compartilhamento da infraestrutura - o que seria muito
difícil, com as etapas sendo feitas em momentos distintos. “A princípio, não pode colocar no mesmo eletroduto um cabo de sinal, que seria de automação, junto com um cabo de elétrica. Mas pode, por exemplo, colocar o cabo de energia em uma divisão interna
de uma canaleta e na outra divisão o cabo de automação. Pode fazer isso também em uma eletrocalha ou perfilado. Quando faz com planejamento, dentro do que a norma NBR 5410 permite, consegue-se até compartilhar a infraestrutura”, informa Hilton.
Mercado cobra melhor qualificação profissional e normalização Apesar de ainda persistir, o problema gerado pela precária comunicação existente entre elétrica e automação já foi pior no passado. O próprio crescimento da aplicação da automação
A ausência de sintonia entre os profissionais pode gerar falta de previsão de infraestrutura e retrabalhos futuros. Ítalo Batista | Proerg
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tem ampliado essa cultura no País e forçado uma maior integração entre os profissionais das mais diversas áreas. Outro fato que pode contribuir para minimizar esse impasse é o advento da tecnologia sem fio. Graças a ela, a automação depende cada vez menos da estrutura física de elétrica. Entretanto, segundo a opinião de alguns especialistas, esse sistema ainda não consegue atender todas as demandas. Conforme aponta Hilton Moreno,
a tecnologia sem fio de fato tem ajudado a reduzir os conflitos, mas ele observa que dificilmente será possível manter um sistema como esse em 100% de áreas muito grandes. Além disso, equipamentos como dimmers, modens, painéis de comando e sensores ainda dependem de alimentação elétrica. “Sem fio minimiza o problema, mas a elétrica sempre vai ter que deixar prevista alguma coisa para a automação”, resume. Para Ítalo Batista, da Proerg, a tecnologia sem fio contribui em parte nessa história. “O wireless resolve o problema para aplicações que não demandam banda larga, ou seja, maior velocidade.
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Hoje, com a demanda de aplicações de vídeo via internet, a necessidade de banda larga é um fato. Com isso é necessário o uso de cabos tecnologicamente adequados”, destaca. David Jugend entende que a tecnologia wireless destina-se a aplicações limitadas, pois teria alcance restrito e estaria sujeita a interferências, o que é um problema, quando se busca a segurança dos sistemas. “A rede sem fio é uma extensão da rede com fio, que é o cabeamento estruturado que tem que ser implementado. Em situações muito específicas, são utilizados alguns elementos wireless em automação e seguAvanço
O número de usuários de automação predial tem crescido no Brasil, fato que exige melhor preparo dos profissionais.
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rança. O restante é todo cabeado, seja na forma de rede de dados, seja com cabos específicos, dependendo da necessidade, do produto envolvido e da aplicação”, analisa. Jean Pascal Nathan De Simone, diretor da Flex Automation, fabricante brasileira de produtos e soluções para automação, destaca que a tecnologia sem fio “minimiza qualquer dor de cabeça”, mas reconhece que persiste alguma dependência do meio elétrico. “Eu ainda tenho que ligar o aparelho. Sem fio é apenas o comando. Ou seja, não preciso dos cabos de comando, mas continuo tendo que usar os cabos de alimentação”, sintetiza. Segundo Jean, que é representante na América Latina da Z-Wave Alliance, organização de fomento do protocolo de automação residencial Z-Wave, quando
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como conduítes, cobre, caixas de passagem e quadros, além de mão de obra, quando comparada com a automação cabeada. Comparações de tecnologia à parte, existem outros instrumentos que, na opinião dos entrevistados, podem contribuir para solucionar os problemas mencionados. Um deles é a melhor qualificação nas escolas que formam técnicos, tecnólogos e engenheiros, que são os profissionais que normalmente vão lidar com os dois assuntos - elétrica e automação. Para Hilton Moreno, os profissionais que desempenham suas funções nas áreas de projeto e instalação deveriam ter na sua formação aulas das duas disciplinas integradas. “Não é que o mesmo profissional precisa conhecer muito dos dois assuntos. Ele precisa saber que existem os dois lados”, diz. Entretanto, o especialista constata que esses temas ainda têm pouca ênfase nos atuais currículos escolares. “Instalação elétrica é um assunto meio que marginal nos cursos técnicos, tecnológicos e de engenharia elétrica. A automação, então, está numa posição mais secundária ainda”, critica. Hilton cita uma situação na qual a informação e o conhecimento poderiam fazer muita diferença: é bastante comum que o proprietário de um imóvel em construção sequer cogite, num primeiro momento, colocar automação no ambiente. Mas, na opinião de Hilton, hoje é praticamente inconcebível elabo-
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se aplica a tecnologia sem fio num projeto, as intervenções eventualmente necessárias nas instalações elétricas são mínimas. Ele cita um caso em que a empresa responsável pelo projeto elétrico esqueceu de preparar a estrutura para automatizar a persiana da sala de todos os apartamentos de um edifício. “Conseguimos resolver o problema principalmente devido à tecnologia sem fio”, comenta. Jean diz que o sistema sem fio é aplicável inclusive em um espaço que não foi preparado para receber automação, como é o caso das construções mais antigas: “Mesmo nos casos de retrofit, o fato de ser sem fio minimiza demais o nível de intervenções que tem que fazer. Dependendo do nível de recursos que a pessoa quer, a automação com fio se torna inviável no retrofit”. O especialista explica ainda que a tecnologia wireless permite uma redução de pelo menos 20% em materiais
Na formação dos profissionais, o direcionamento para a interface entre as disciplinas de elétrica e automação seria importante em ambos os cursos. David Jugend | Jugend Engenharia
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O projetista de elétrica deveria tomar algumas providências básicas no projeto, para que o dia em que o morador quisesse fazer automação, não precisasse quebrar o prédio. rar um projeto que não preveja nenhum recursos de automação: “O projetista de elétrica deveria tomar algumas providências básicas no projeto, para que o dia que o morador quisesse fazer automação, não precisasse quebrar o prédio. Só que falta conhecimento para o pessoal da elétrica, no sentido de deixar o mínimo necessário para algum dia lá na frente entrar a automação”. Aproveitando a deixa, Hilton volta a mencionar que a simples comunicação também poderia ajudar em casos como esse. “Se o profissional de elétrica entendesse mais de automação, se o profissional de automação entendesse mais de elétrica, ou se cada um só entendesse da sua área, mas eles se falassem durante o projeto, tudo isso seria facilmente resolvido”, finaliza. David Jugeng confirma que quando estudou não havia disciplina de elétrica nos cursos de eletrônica e acredita que o direcionamento para interface entre as disciplinas de
Evolução
Os prédios mais novos e modernos têm colaborado para o avanço da automação no Brasil.
elétrica e automação seria importante em ambos os cursos. De acordo com ele, a Jugend Engenharia está atenta a essa integração o tempo todo e procura qualificar seus colaboradores. “Somente terminamos o projeto de automação das disciplinas de elétrica, hidráulica e de ar-condicionado quando temos em mãos as versões finais desses projetos. Aí elaboramos listas de pontos detalhadas para cada quadro, equipamento e sistemas, como medição, bombas, iluminação, etc. Para isto, todos os projetistas são exaustivamente treinados para ler os projetos elétrico, hidráulico e de ar-condicionado e extrair as informações necessárias para gerar a interface adequada entre estes projetos e aqueles dos sistemas eletrônicos descritos”, relata. Ítalo Batista também aposta na qualificação mais completa para que o mercado evolua. “A Abrasip-MG, que é a associação da qual participamos e somos sócios-fundadores, promove sistematicamente treinamentos com profissionais reconhecidos da área e fornecedores de materiais e equipamentos destinados a esse fim. A Proerg, além de participar desses programas, promopotência
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Pelo menos para Jean De Simone, diretor da Flex Automation, a falta de integração entre as equipes de elétrica e automação não chega a ser um grande estorvo. Isto se deve não só ao fato da empresa ter um portfólio baseado nas soluções wireless, mas principalmente ao sistema de trabalho adotado pela companhia. “Executamos serviços em muitos prédios, que são entregues totalmente automatizados. E temos índice zero de problemas”, orgulha-se o especialista. O diferencial da empresa é perceptível já no momento do contrato com os responsáveis pela obra. O primeiro passo é fechar um pacote completo com a construtora, incluindo o fornecimento, a instalação e a programação das soluções. “A contrapartida da construtora é deixar a infraestrutura elétrica adequada para aquele projeto”, revela Jean. Ele explica que uma das primeiras etapas a serem executadas é a compatibilização entre os projetos elétrico e de automação. Um ponto que ajuda bastante é o bom relacionamento existente entre os profissionais dessas áreas: “No momento em que a construtora fecha com a gente, ela já nos informa qual empresa é responsável pelo projeto elétrico daquela obra. Normalmente são as maiores do mercado, então a gente já conhece todas elas, que também já nos conhecem e sabem como funciona a automação Z-Wave”. Na sequência um projetista da Flex se reúne com a empresa responsável pelo projeto de elétrica. As partes se entendem sobre os recursos de automação que terá o empreendimento e definem a infraestrutura elétrica que será necessária. A obra tem início e, no momento em que a construtora começa a rasgar a parede para passar dispositivos como conduítes e caixas, a Flex faz uma vistoria in loco
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Vistorias prévias evitam surpresas desagradáveis na obra - normalmente existe um apartamento modelo - para checar se o combinado está sendo seguido. As torres vão subindo normalmente e, na hora de entrar com os recursos de automação, a Flex faz outra vistoria em cada unidade. Todo esse trabalho evita deslocamentos em vão da equipe e dos equipamentos a uma obra que eventualmente não esteja com a infraestrutura elétrica toda preparada. “Quando a construtora começa a entregar os apartamentos, eles sinalizam para a gente. Fazemos a vistoria e já alertamos para que eles voltem em caso de problema. Não deixo meu funcionário perdendo tempo lá”, observa Jean. Apesar de toda precaução, Jean conta que já se deparou com barreiras para fazer o trabalho de automação. Foi feito o devido o check-list, mas o pessoal da elétrica ‘comeu bola’ em determinado momento. Quando o problema é grave, a solução é acionar os responsáveis. Mas, em casos mais simples, a própria Flex já providenciou o ‘conserto’ da situação. “Uma vez faltou um cabinho, que estava em contrato. Eu não puxo fio. Por isso faz parte do projeto. Mas chegamos na obra e não havia o cabo para interligar um determinado dispositivo. Naquele momento a gente julgou que era menos complicado ir na loja e comprar um rolo de cabo. Nós mesmos passamos o fio e ficou por isso mesmo”, conta Jean. Existe ainda outra característica que diferencia o trabalho da Flex. Segundo Jean, a empresa foi a primeira a vender soluções de automação diretamente para as construtoras - até então, sempre haviam intermediários nesse processo. “Nós quebramos esse paradigma. Chegamos mais próximos da construtora e acho que por isso não erramos, ou erramos pouco: porque estamos muito perto deles”, acredita.
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Casas
ve regularmente treinamentos internos para seus colaboradores”, garante. José Roberto Muratori confirma que ainda não existe formação acadêmica na área de automação predial ou residencial. O País tem apenas cursos isolados e de fabricantes que tentam suprir esse lapso. Desta forma, o espaço tem sido ocupado por profissionais oriundos tanto da elétrica quanto de áreas correlatas. Dando sua parcela de contribuição para o mercado, a Aureside mantém um programa de capacitação e atualização para profissionais
Compatibilização entre os projetos elétrico e de automação deve ser uma das primeiras etapas a serem executadas em uma obra. Jean Pascal Nathan De Simone | Flex Automation
Construções residenciais também exigem atenção dos profissionais envolvidos.
de automação. Inclusive, existem cursos que dão ênfase à parte elétrica e à formação de especialistas com visão de integração. Segundo os entrevistados ouvidos nesta matéria, existem outras medidas importantes que poderiam ser tomadas pelo mercado. Uma delas envolve o contato mais próximo entre as associações que representam as áreas e os profissionais envolvidos no tema. Também é importante haver maior divulgação para conscientizar o consumidor, ou seja, os proprietários de imóveis, a respeito das novas tecnologias que surgem e as possibilidades que elas proporcionam. Segundo Muratori, seria importante que os contratantes também potência
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Avanços na normalização técnica seriam muito importantes para ajudar a promover a integração entre as áreas de elétrica e automação predial. 38
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Agilidade
fizessem a sua parte, desenvolvendo memoriais e cadernos de especificações desejáveis para orientar minimamente os projetistas: “Normalmente encontramos esses cadernos repletos de recomendações normativas, mas é obrigação do projetista ter conhecimento prévio disso. O que estamos falando aqui é de um caderno de atributos e características desejáveis que o incorporador ou proprietário da futura edificação tenha consolidado e ofereça como um ‘guia’ para orientar os projetistas. Logicamente sempre haverá espaço para incorporar novas ideias a cada projeto, mas uma boa parte do que se deseja já está decidido pelo incorporador, embora poucas vezes esteja explícito como deveria”. Claro que não se pode exigir qualquer tipo de conhecimento mais apro-
Quando o projeto elétrico considera também a parte de automação, a execução da instalação se torna mais fácil e rápida.
fundado de um cidadão comum quanto ao nível de automação que ele deseja para seu imóvel, mas as construtoras, por exemplo, estão ou deveriam estar habilitadas a assumir isso. Por último, amarrando esse assunto como um todo, seria preciso investir no trabalho normativo, conforme defende Hilton Moreno: “A NBR 5410, que fala de elétrica, não menciona atualmente uma linha sequer, explicitamente, sobre automação. Além disso, não temos uma norma específica de automação que cite a parte elétrica. A normalização técnica seria um instrumento muito importante para promover essa integração”, opina.