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Da rua
para dentro Avanço do Smart Grid deverá extrapolar os limites das concessionárias e chegar ao consumidor final, que terá como gerenciar seu consumo e até gerar sua própria energia.
Por Paulo Martins
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ão é novidade que as concessionárias de energia elétrica vêm investindo fortemente no Smart Grid como ferramenta para reduzir os custos operacionais, combater as perdas técnicas e comerciais e melhorar a qualidade do serviço prestado. Entretanto, esse não é um assunto que diz respeito unicamente a elas. Mais cedo ou mais tarde, a transformação que está em andamento irá extrapolar os limites das companhias e chegará ao consumidor. As mesmas tecnologias que estão sendo utilizadas para viabilizar a implantação das chamadas Redes Elétricas Inteligentes nas empresas também precisarão entrar na casa dos clientes - uma zona onde até então as concessionárias nunca puderam atuar de maneira mais próxima. Recursos de TI, telecomunicações e automação passarão a fazer parte da vida do consumidor. Com o advento do Smart Grid, o usuário de energia elétrica ganha um papel de destaque em todo o processo. Mais do que poder contar com novos serviços, 20
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logia e o consumidor. “Não conseguiremos obter avanço nenhum, caso se implante a tecnologia e o consumidor fique inerte a ela”, alerta. Também para João Brito Martins, gestor executivo de Inovação e Sustentabilidade da concessionária EDP, a participação do consumidor é fundamental para a consolidação das Redes Inteligentes. “Somente com a interação dos clientes nos testes e levantamentos poderemos identificar quais as necesFoto: Divulgação
ele assumirá responsabilidades inimagináveis há algumas décadas, como o gerenciamento do próprio consumo e até mesmo a geração de eletricidade. Naturalmente, ainda existem muitas dúvidas sobre qual será a participação do cliente nas Redes Inteligentes. Que benefícios serão oferecidos, efetivamente? Ele poderá exercer seu direito de opinar? E mais: como fazer para inseri-lo nesse turbilhão de novas ideias da maneira menos traumática possível? Nesta matéria procuramos abordar questões como essas, sempre com base na opinião de especialistas e autoridades do setor. É preciso ressaltar que a implantação do Smart Grid é um processo dinâmico, sujeito a mudanças de rota e de estratégia. Portanto, é possível que nem todas as perguntas tenham resposta, neste momento. De qualquer forma, todos concordam com uma coisa: os usuários precisam ser reconhecidos como o elemento-chave de todo esse processo. Na opinião de André Pepitone da Nóbrega, diretor da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), o “sentido de existir” do Smart Grid depende do sucesso da interação entre a tecno-
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sidades e quais produtos e serviços os mesmos anseiam que a concessionária disponibilize”, destaca. Dona de uma concessão que abrange 28 municípios no Estado de São Paulo e 78 no Espírito Santo, a EDP comanda aquele que é considerado o mais avançado programa de Smart Grid do País: o Projeto InovCity, lançado em 2011 na cidade paulista de Aparecida (leia mais na página 34). As ações começaram pela informação da população sobre o que iria acontecer na cidade e pelo estímulo à prática da eficiência energética. Foram distribuídas cartas explicativas a todos os clientes da cidade, momento esse em que foi fornecido a cada unidade consumidora um kit com seis lâmpadas eletrônicas, folhetos de orientação sobre o consumo racional de energia e a forma de integração entre a empresa e os clientes, após a implantação da medição inteligente. Além disso, as comu-
O sentido de existir do Smart Grid depende do sucesso da interação entre a tecnologia e o consumidor. André Pepitone da Nóbrega | Aneel
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nidades de baixa renda foram beneficiadas com a doação de 540 geladeiras e 460 kits para aquecimento solar da água do chuveiro. Outro trabalho importante foi a capacitação de todos os professores da rede pública de ensino de Aparecida sobre os conceitos de cidade inteligente, eficiência energética e uso racional de energia elétrica. Também foram ministradas palestras nas escolas e comunidades locais, envolvendo aproximadamente 25% da população da cidade. De acordo com Martins, essa experiência comprovou que um forte trabalho de esclarecimento das vantagens e benefícios que as Redes Inteligentes podem oferecer é capaz de despertar no cliente o interesse em participar do processo: “Assim ele entende que o objetivo maior deste investimento é o aumento da qualidade e da confiabilidade do serviço prestado. Quando isso fica claro, o cliente passa a ter uma postura de parceiro e a trabalhar conosco para o sucesso do projeto”. Mas afinal, o que irá mudar no dia a dia do consumidor, com o advento das Redes Inteligentes? Martins aponta que o Smart Grid permitirá maior interação entre clientes e concessionárias, não somente por conta das informações relativas ao consumo, mas também envolvendo a gestão do uso da energia. “Isto acontecerá porque estarão disponíveis ferramentas que permitirão ao cliente o uso racional da energia elétrica”, observa o executivo da EDP. Conforme destaca André Pepitone, a ideia é que o consumidor deixe de ser um agente passivo e interaja mais com os novos equipamentos inteligentes, como o medidor eletrônico de energia. Com o Smart Grid será possível gerenciar o consumo em tempo real, saber quanto a tarifa estará custando a cada momento e até traçar
O Smart Grid permitirá maior interação entre clientes e concessionárias, inclusive na gestão do uso da energia. uma projeção de gastos. Com o apoio das novas tecnologias, o usuário poderá inclusive diminuir os valores de sua fatura mensal. “Respondendo aos estímulos econômicos que vão ser apresentados, assim como acontece hoje na área de telefonia, o consumidor terá oportunidade real de reduzir
Geração distribuída
Uma grande novidade decorrente das Redes Inteligentes é a geração distribuída, onde o usuário pode produzir sua própria energia elétrica.
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sua conta”, diz o porta-voz da Aneel. Outros dois instrumentos regulatórios deverão ajudar o consumidor a gerenciar melhor o uso da eletricidade: a Tarifa Branca e o Sistema de Bandeiras Tarifárias. A primeira consiste em uma nova opção de tarifa que sinaliza a variação do valor da energia conforme o
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Avanço
dia e o horário do consumo. Ou seja, o cliente que aderir à modalidade passa a ter a possibilidade de pagar valores diferentes em função da hora e do dia da semana. O início da aplicação da Tarifa Branca depende da certificação dos novos medidores pelo Inmetro. Já o Sistema de Bandeiras Tarifárias, que aparecerá nas contas enviadas aos consumidores, indicará se a energia custa mais ou menos, em função das condições de geração. A Bandeira Verde significará condições favoráveis de geração, não implicando em acréscimo à tarifa. A Amarela significa condições menos favoráveis, o que acarreta acréscimo de R$ 1,50 para cada 100 quilowatt-hora consumido. A Vermelha representa condições mais custosas de geração, incorrendo em acréscimo de R$ 3,00 para cada 100 quilowatt-hora consumido. A Aneel observa que o mecanismo é apenas uma forma diferente de apresentar um custo que já existe na conta de energia, mas acaba passando despercebido pelas pessoas. Atualmente os custos com compra de energia pelas distribuidoras são repassados aos consumidores um ano depois de ocorridos, quando a tarifa reajustada passa a valer. Com as bandeiras, haverá a sinalização mensal do custo de
A Tarifa Branca e o Sistema de Bandeiras Tarifárias deverão ajudar o consumidor a gerenciar melhor o uso da eletricidade.
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geração da energia que será cobrada do consumidor. “A Bandeira Tarifária não representa em hipótese alguma um custo maior a ser incluído na conta de luz. É um mecanismo regulatório que vai deslocar no tempo o momento do recolhimento do custo da geração. Esse é um instrumento importante, porque vai sinalizar o preço para o consumidor, que vai poder responder ao sinal econômico no sentido de consumir menos para pagar menos energia no final do mês”, explica André Pepitone. Cyro Boccuzzi, presidente do Fórum Latino-Americano de Smart Grid e diretor da ECOee, empresa de consultoria especializada na área de energia, também mantém a expectativa de que os clientes venham a aprender a usar a eletricidade de forma mais racional, compreendendo não só o valor que é pago, mas também o verdadeiro custo que esse insumo tem para toda a sociedade. O executivo cita um problema comum envolvendo o uso de energia nas grandes cidades - decorrente do estilo de 26
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A participação do consumidor é fundamental para a consolidação das Redes Inteligentes.
vida moderno -, e traça um paralelo com a área de transporte aéreo. Ele refere-se à simultaneidade de uso, quando um grande número de pessoas chega em casa e no trabalho mais ou menos na mesma hora todos os dias, provocando o sobrecarregamento do sistema elétrico naquela região. Uma das saídas para combater esses picos é justamente a diferenciação de preços conforme o horário, estimulando a redistribuição do consumo, Por exemplo: é comum uma passagem aérea entre duas importantes cidades ter preços diferentes, às 7 e às 10 horas. Naturalmente, viajar no meio da manhã é mais barato, porque a procura é menor. Assim, o cliente que aceitar deslocar aquele horário pode vir a ter um gasto menor. Para Boccuzzi, o mesmo fenômeno se repetirá na área de energia. “O consumidor pode ter tarifas menores, desde que use a energia de forma mais consciente e em horários mais adequados. Quem não puder mudar o horário de uso vai pagar um preço maior, necessário
João Brito Martins | EDP
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Controle
Junção entre soluções de Smart Grid e de automação predial será um processo natural.
para assegurar a expansão do sistema para atendimento da demanda simultânea. Mas haverá a opção de obter um
preço melhor se conseguir se adequar e tiver alguma flexibilidade na mudança de hábitos”, vislumbra o especialista.
Quem se habilita a gerar a própria energia? Outra grande novidade decorrente das Redes Inteligentes é a geração distribuída, sistema pelo qual cada usuário poderá produzir sua própria energia elétrica. Foram criadas duas categorias, conforme a potência instalada da planta: microgeração (potência menor ou igual a 100kW) e minigeração (potência superior a 100kW e menor ou igual a 1MWp). Detalhe: é preciso fazer o uso de fontes ‘limpas’, como solar, eólica, hidráulica e biomassa. Apesar da geração distribuída já estar devidamente regulamentada pela
Resolução Normativa Nº 482 da Aneel, a modalidade ainda não ‘decolou’ no Brasil, o que intriga e decepciona os especialistas e autoridades do setor elétrico. “Apesar de ser algo que já está solidificado, do ponto de vista regulatório, e de ter grande atratividade, o número de consumidores que adotaram o sistema é muito pequeno”, lamenta André Pepitone. Ele disse que a Aneel irá estudar o caso e tomará providências para contribuir para a difusão dessa tecnologia. “Essa medida é bastante benéfica para toda a sociedade”, acredita. potência
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Smart Grid Smart Grid
Características geralmente atribuídas às Redes Elétricas Inteligentes Autorrecuperação: capacidade de automaticamente detectar, analisar, responder e restaurar falhas na rede; Participação proativa dos consumidores: habilidade de incluir os equipamentos e comportamento dos consumidores nos processos de planejamento e operação da rede; Tolerância a ataques externos: capacidade de mitigar e
resistir a ataques físicos e cyber- ataques; Qualidade de energia: prover energia com a qualidade exigida pela sociedade digital; Capacidade para acomodar uma grande variedade de fontes e demandas: capacidade de integrar de forma transparente (plug and play) uma variedade de fontes de energia de várias dimensões e tecnologias; • Menor impacto ambiental do sistema produtor de eletricidade, reduzindo perdas e utilizando fontes renováveis e de baixo impacto ambiental; • Resposta da demanda mediante a atuação remota em dispositivos dos consumidores; • Viabiliza e beneficia-se de mercados competitivos de energia, favorecendo o mercado varejista e a microgeração. Fonte: CGEE (Centro de Gestão e Estudos Estratégicos)
Segundo dados fornecidos pela Aneel, em agosto de 2014 o País registrava 197 sistemas de geração distribuída. “A maioria fica nas áreas de concessão da Cemig e da Coelce, porque esses dois estados (Minas Gerais e Ceará) adotaram a política de desoneração do ICMS na geração. Existe uma decisão do Confaz (Conselho Nacional de Política Fazendária) que diz que a energia gerada e injetada na rede deve ser tarifada pelo ICMS, o que tira um pouco a atratividade do negócio”, constata o diretor da Aneel. O dirigente discorda da cobrança do imposto. Afinal, ao gerar sua pró28
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pria energia a partir de fontes limpas, o consumidor contribui para a redução dos índices de emissão de poluentes e também para a postergação de novos investimentos em geração em grande escala. “Nada mais justo que ele seja beneficiado com a desoneração do ICMS”, defende Pepitone. Na opinião de Cyro Boccuzzi, o esperado boom da geração distribuída no Brasil foi ‘adiado’ pelo advento da Medida Provisória nº 579, instrumento criado pelo governo federal para tratar da renovação das concessões de energia e que estabeleceu a redução do valor das tarifas. De qualquer forma, ele ain-
da acredita que a modalidade irá deslanchar nos próximos anos. “Só não vai acontecer se a economia der sinais de andar para trás”, prevê. Para quem tem dúvidas sobre que tipo de geração adotar, o especialista aponta que para empreendimentos de pequeno porte, como residências e estabelecimentos comerciais, o sistema mais simples de implantar, principalmente em áreas urbanas, é o solar fotovoltaico. Dependendo do tipo de empreendimento, prossegue ele, há outras opções interessantes, como biomassa, resíduos sólidos e gás, além de soluções combinadas - de eólica e solar, por exemplo. “Teremos minicentrais produtoras de energia com alto grau de desempenho e nível de suficiência muito bom. Essa é uma transformação que não vai demorar os cem anos que a indústria levou para chegar até aqui, nem cinquenta anos. Acredito que em dez, quinze ou vinte anos iremos ter soluções de geração local de energia com bastante proficiência, inclusive no armazenamento de energia”, vislumbra o diretor da ECOee.
Geração Distribuída no Brasil
• Até agosto de 2014, o País contabilizava a existência de 197 projetos de microgeração distribuída de energia elétrica. • Quanto à fonte utilizada, esses projetos dividem-se da seguinte forma: Solar fotovoltaica = 177 projetos Eólica = 17 projetos Biogás = 1 projeto Solar/Eólica = 2 projetos Fonte: ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica)
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Créditos de energia, como na telefonia celular Projetos de Redes Inteligentes no Brasil • De 2008 até o final de 2013, foram identificados 273 projetos de desenvolvimento de Redes Elétricas Inteligentes no Brasil, catalogados em dez temáticas. • Os investimentos previstos declarados nas propostas de Pesquisa e Desenvolvimento da Aneel superam a marca de R$ 1,09 bilhão.
Cyro Boccuzzi se diz um entusiasta do sistema de pré-pagamento de energia. Ele conta que uma concessionária em que trabalhava nos anos 90 chegou a implantar a solução em São Paulo, para atender algo entre 2,5 mil e 3 mil clientes. Segundo o especialista, quando precisavam mudar de casa, os consumidores que tinham o equipamento ligavam para a companhia para pedir a instalação também no novo endereço. “Havia uma aprovação entre 90% Potencial
Benefícios do Smart Grid superam os limites das redes de distribuição de energia.
Fonte: ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica)
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Também tem gerado grande expectativa no setor a implantação do sistema de pré-pagamento de energia elétrica. André Pepitone informou que a questão já foi regulamentada. Para ser adotada na prática, esta medida também depende da pendência envolvendo os medidores eletrônicos de energia. O diretor da Aneel falou sobre os benefícios esperados. Para ele, essa modalidade de faturamento proporcionará maior transparência para o consumidor e o ajudará a melhorar a gestão do consumo. Já as distribuidoras poderão reduzir os custos de atividade comercial, decorrentes do sistema de faturamento convencional.
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gócio a ser implantado no Brasil. Segundo ele, algumas concessionárias estariam falando em direcionar o sistema para aqueles clientes que apresentam histórico de inadimplência. Se isso acontecer, prossegue, o usuário estaria recebendo automaticamente um carimbo de mau pagador, o que despertaria a ira dos órgãos de defesa do consumidor. “Se colocar o pré-pago como mais uma opção para qualquer cliente, da mesma forma que se dá o pré-pago da te-
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e 95%, entre as pessoas que usavam esse tipo de sistema”, lembra. O diretor da ECOee acredita que o pré-pagamento ajudará o consumidor a gerenciar a velocidade de consumo de energia, pois funcionará como o indicador do reservatório de combustíveis de um carro, que informa a quantidade de líquido disponível. “Na minha avaliação, essa é uma excelente ferramenta para o cliente que quer controlar o uso de energia”, destaca. Apesar de apostar no sucesso desse mecanismo, Boccuzzi demonstra certa preocupação em relação à conotação que será dada ao modelo de ne-
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Smart Grid
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lefonia, para a pessoa poder gerenciar os créditos dele, isso vai ser uma ferramenta fantástica, que ajudará o consumidor”, contrapõe Boccuzzi.
A ‘conversa’ entre Automação Residencial e Smart Grid Ao contrário, muitos possuem bastante familiaridade com os equipamentos e softwares destinados ao gerenciamento de sistemas como ar-condicionado (controle de temperatura) e iluminação (acendimento, dimerização, composição de cenários, etc.).
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Para um determinado grupo de consumidores, que já utilizam os recursos da Automação Residencial, a implantação das Redes Inteligentes não será novidade total, pois eles certamente não partirão do zero.
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Boccuzzi lembra que entre os primeiros recursos de Automação Residencial estavam comandos como levantar e descer cortinas e ligar e desligar eletroeletrônicos como o home theater. Depois, agregaram-se aspectos que visavam aumentar a segurança patrimonial. Com o passar do tempo, cresceu a disciplina em torno do uso de energia. Ou seja, a partir da integração com equipamentos de última geração, como LEDs e eletrodomésticos inteligentes, o
Para os consumidores que já utilizam os recursos da Automação Residencial, a implantação das Redes Inteligentes não será novidade.
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sistema voltou-se bastante para a eficiência energética. “Existe, sim, uma convergência tecnológica entre essas duas ondas de transformação, o Smart Grid e a Automação Residencial. As empresas de energia precisam estar atentas a isso, pois precisam oferecer as interfaces de integração entre esses sistemas”, comenta o especialista. Conforme destaca o diretor da ECOee, quando falamos em gerenciamento da demanda, ou seja, o consumidor ‘afastar’ seu uso de energia da coincidência com os horários de pico para usufruir uma faixa especial de tarifa, isso não significa que ele terá que ficar programando seu eletrodoméstico, mas sim que ele precisará dispor de funcionalidades em seu sistema de automação que permitam fazer a in-
Existe uma convergência tecnológica entre essas duas ondas de transformação, que são o Smart Grid e a Automação Residencial. Cyro Boccuzzi | ECOee
tegração com a grade tarifária da concessionária. “Existe toda uma linha de serviços que podem surgir e que vão ajudar o consumidor a tomar as decisões corretas. Ele não vai ficar programando a cada dia o uso de energia para o dia seguinte, mas vai apertar um botão no sistema de automação dele que irá enquadrá-lo em determinado regime tarifário da concessionária, que é a melhor opção de tarifa para o tipo de uso que ele quer fazer”, explica Boccuzzi.
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Transformações no setor serão profundas
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ração do Smart Grid. Estima-se que o País tenha hoje por volta de 78 milhões de unidades desse equipamento, sendo
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“Os projetos estão em pleno desenvolvimento pelas distribuidoras, inclusive usando recursos da Aneel, que tem obrigação de investir meio por cento de sua receita operacional liquida em pesquisa e desenvolvimento. Uma das áreas contempladas é a de Smart Grid”, informa André Pepitone. Entre 2008 e o final de 2013, foram identificados 273 projetos de desenvolvimento de Redes Elétricas Inteligentes no Brasil, catalogados em dez temas. Os investimentos previstos declarados nas propostas de Pesquisa e Desenvolvimento da Aneel superam a marca de R$ 1,09 bilhão. Os projetos-piloto são importantes para testar os mais diversos tipos de tecnologias que compõem um sistema inteligente. É o caso do medidor de energia, considerado o coFoto: DollarPhotoClub
No contexto geral, a implantação das Redes Elétricas Inteligentes no Brasil está ocorrendo por meio de projetospiloto que envolvem concessionárias de energia, universidades, laboratórios, fabricantes de equipamentos e desenvolvedores de softwares.
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Smart Grid ajuda no combate às perdas e ao furto de energia elétrica.
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que aos poucos a tecnologia eletromecânica terá de ser substituída pela eletrônica. “Do ponto de vista da Aneel a regulamentação está pronta. Hoje o desafio é a certificação dos medidores pelo Inmetro”, reforça Pepitone. Outro ponto bastante importante que está sendo testado, e comum a todas as empresas, envolve a comunicação. Ou seja, que sistema será empregado para fazer a comunicação entre o medidor das residências e o concentrador que vai agrupar uma série de medidores, e também desse concentrador para o backhaul, que por sua vez irá reunir uma série de concentradores. “Hoje em dia existem várias tecnologias, com suas vantagens e desvantagens”, pondera o diretor da Aneel. Sobre os motivadores do Smart Grid, é preciso destacar que cada país tem as suas necessidades. Se na Europa uma das maiores preocupações é tornar a matriz elétrica limpa e reduzir a emissão
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EDP revela detalhes das REIs em SP e no ES O programa de Redes Elétricas Intediferencial deste projeto em relação ligentes desenvolvido pelo grupo EDP ao de Aparecida está na tecnologia em Aparecida (SP) é considerado um adotada para comunicação de última trabalho de vanguarda por especialismilha. Optamos por testar um padrão tas da área. Até o momento, foi feita a mais moderno de comunicação RF, basubstituição de mais de 13.500 mediseada em IPV6 para equipamentos de dores convencionais pelos eletrônicos, baixa potência, conhecido como 6Loo que representa 98,6% dos clientes wPAN”, informa Martins. impactados pelo Projeto InovCity. O porta-voz comentou como está Conforme informa João Brito Marsendo o processo de implantação das tins, gestor executivo de Inovação e Redes Inteligentes. Em Aparecida, uma Sustentabilidade da EDP, está em andas dificuldades encontradas até o damento o processo de comissionamomento foi a falta de capacidade mento dos medidores à rede ZigBee, da infraestrutura pública de telecomurede de comunicação de dados RF nicações das empresas que prestam com topologia Mesh. “Esta camada, estes serviços na cidade. “Como não chamada última milha, se conecta ao houve interesse, na época, em potensistema de gerenciamento via rede cializar os serviços de disponibilidade WiMAX, implantada exclusivamente de banda para tráfego de dados via para atender a telecomunicação dos GPRS, tivemos que alterar o escopo medidores inteligentes em Aparecida solução de comunicação de GPRS da”, explica. Também já foram instapara uma solução própria de comunilados os primeiros 150 relés que darão cação, através da criação de uma rede ao sistema a possibilidade de executar proprietária de WiMAX. Esta situação remotamente o corte e a religação de provocou um atraso significativo no energia. Os testes com essa solução cronograma do projeto, pois tivemos iriam começar ainda em outubro. que alterar a tecnologia embarcada Em fase bem mais recente está o em alguns dispositivos de comunicaProjeto InovCity realizado pela EDP em ção da rede”, relata Martins. duas cidades do Espírito Santo: DoUm novo problema, prossegue o mingos Martins e Marechal Floriano. O executivo, foi a necessidade de exprojeto foi iniciado oficialmente em junho deste ano, com a entrega de scooters elétricas e com as ações de eficiência energética, que envolvem a conscientização da sociedade, palestras nas escolas e capacitação dos professores da rede pública. Está sendo criada a infraestrutura de telecomunicação que atenderá a medição inteligente nos dois municípios, bem como encaminhará VEÍCULOS ELÉTRICOS Scooters doadas pela EDP e que estão os dados coletados até a sede em uso em Aparecida (SP) da EDP em Carapina (ES). “O
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teriorização do dispositivo de corte e religação dos medidores inteligentes. Devido a impossibilidade do Inmetro testar os novos medidores com módulo de corte embarcado, a EDP teve que modificar o projeto do medidor inteligente e criar um novo produto, o ‘relé de corte externo’. Essas alterações geraram mais atraso no cronograma geral do projeto. “Outro desafio que estamos superando neste momento está relacionado ao comissionamento dos medidores inteligentes. Temos atualmente aproximadamente 6 mil medidores em comunicação com a nossa infraestrutura de comunicação de dados”, conta. Ao ser indagado sobre a avaliação que a empresa faz dos principais pontos do Projeto InovCity, Martins destaca que os medidores inteligentes instalados vêm apresentando bons indicadores de qualidade, tanto relacionados à vida útil, quanto à precisão da medição. Ele ressaltou também a solidez do sistema de comunicação adotado, pois os índices de sucesso de comunicação com os medidores comissionados são satisfatórios. Além disso, a companhia está aferindo dados para verificar os ganhos relacionados à diminuição das perdas Foto: Divulgação não técnicas. Os possíveis novos serviços serão testados em outros dois projetos de P&D (Observatório do Cliente e Testes de Opções Tarifárias), que estão em fase inicial e mostrarão quais produtos e serviços poderão ser oferecidos aos clientes do Grupo EDP em um futuro próximo, com o auxílio das Redes Inteligentes e adequação da regulação pela Aneel.
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de carbono, nos Estados Unidos o principal drive é a busca por maior eficiência energética. No Brasil, o foco é combater as chamadas perdas não técnicas, ou seja, o furto de energia. “Quando se melhora a gestão da rede, consegue-se combater com mais eficácia e precisão essas perdas”, observa Pepitone. De acordo com ele, outro objetivo a ser atingido é a melhoria da qualidade dos serviços. Na Europa, a duração das interrupções tolerada é de até 300 minutos ao ano. Nos Estados Unidos, são 500 minutos. No Brasil, o número apurado pelas empresas é absurdo: 16 horas. “Melhorando a gestão da rede, com certeza a gente vai conseguir diminuir isso significativamente e almejar ficar próximo dos padrões mundiais de interrupção. A média do País, de 16 horas, é um valor muito alto”, aponta o dirigente. Cyro Boccuzzi demonstra grande preocupação ainda em relação aos preços da energia praticados no Brasil e sentencia: para termos Redes Inteligentes, precisamos de tarifas inteligentes. Ele destaca que esses valores pre36
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Motivadores do Smart Grid no Brasil • Reduzir as perdas técnicas e comerciais (fraudes); • Melhorar a qualidade do serviço prestado pelas distribuidoras; • Reduzir os custos operacionais; • Melhorar o planejamento da expansão da rede; • Melhorar a gestão dos ativos; • Promover a eficiência energética; • Fomentar a inovação e a indústria tecnológica. Fonte: CGEE (Centro de Gestão e Estudos Estratégicos)
cisam estar alinhados com a realidade de mercado, espelhando os custos reais de suprimento, mas reclama que a eletricidade está sendo ofertada a um preço artificialmente baixo. “O que está sustentando o setor são subsídios governamentais, sejam diretamente financiados pelo Tesouro, sejam
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financiados por aumentos futuros da tarifa. Todo esse aprendizado (projetos-piloto de Smart Grid) já deu às empresas uma base de conhecimento tecnológico e econômico, para que elas possam estruturar planos muito realistas de implementação. Mas esses planos só vão ser viáveis economicamente se houver uma tarifa que realmente espelhe os custos de fornecimento”, argumenta o especialista. Toda essa situação, aliada a outros revezes, levaram as empresas do setor elétrico a viverem uma crise financeira sem precedentes, o que acabou obrigando a protelação de determinados investimentos em Smart Grid. Entretanto, André Pepitone destaca que tem havido avanços ano a ano e que não há dúvida de que esse fenômeno irá se concretizar. A questão seria apenas de timing, para buscar uma equação benéfica entre investimento e resultado. “Não se deve perguntar se vamos avançar ou não, isso é algo inexorável. As Redes Elétricas Inteligentes serão adotadas”, garante.