DE V O LTA PA R A A LUZ
Organização de Lucimar de Santana
DE VOLTA PARA A LUZ
DE VOLTA PARA A LUZ ORGANIZAÇÃO DE LUCIMAR DE SANTANA 2020
PREPARAÇÃO: Quarta Capa Editorial REVISÃO: Editoras Depósito, Prisma e Quarta Capa. ARTE E DIAGRAMAÇÃO: Quarta Capa Editorial ORIENTAÇÃO: Andrea Antonacci, Helen Suzuki e Lucimar de Santana
QUARTA CAPA EDITORIAL São Paulo, 2020
APRESENTAÇÃO Por Lucimar de Santana
Este e-book nasce da junção de muitas energias e boas intenções. Inserido em projeto mais amplo, Fazer Diferente & Fazer Diferença, trata-se de fragmentos que formam um conjunto de suor e, por vezes, dor. Em tempos de pandemia, foi necessário reinventar o processo, os meios, os recursos... E vencemos! Este resultado é plural, em todos os sentidos: pensamentos, poemas e contos escritos por muitos corações; revisões realizadas por muitos olhos, elaboração e supervisão orquestradas por muitas mentes... O e-book agrupou o subprojeto: “Cápsulas de Ânima” – textos produzidos por alunos de Letras da UAM Centro Mooca; revistos e editados pelas alunas de Produção Editorial da UAM Vila Olímpia. Tais textos devem alcançar o público pretendido no subprojeto: pacientes, acompanhantes e colaboradores do ICESP – Instituto do Câncer do Estado de São Paulo – parceria mediada pelo gestor de Hospitalidade, Marcelo Cândido O que se lê aqui é mais que uma coletânea de textos universitários “arrancados” de gavetas e reabertos em pastas eletrônicas. O leitor mais atento compreenderá que os textos vêm da alma; e o livro resulta do compromisso com a esperança e com o outro – que se passa a conhecer pelo que escreve, sem nunca ter se visto. E agora, leitor, você conhecerá este grupo de autores e editores pelo que, juntos, proporcionam a você: momentos de ânimo, reflexão e solidariedade. “Carpe diem”
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AGRADECIMENTOS UAM - UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI Letras e Pedagogia Prof.a Ana Maria Damiani – coordenadora dos cursos Produção Editorial Prof. Max Melo e Prof.a Nara Cabral – coordenadores do curso Prof.a Helen Suzuki – professora da disciplina Design Para Web Prof.a Andrea Antonacci - professora da disciplina Projeto em Mídias Digitais ICESP – Instituto do Câncer do Estado de São Paulo Marcelo Cândido – gestor do setor de Hospitalidade ÀS EDITORAS: Depósito: Bruna Brito, Layla Guimarães e Mariane Parra Prisma: Bárbara Any da Silva, Beatriz C.A. Miranda, Gabriela Gherardi Martins, Leticia G. do Espírito Santo, Mariana de Castro Buíssa e Nykolly Vieira Albuqueque Quarta Capa: Gabriele Emidio da Silva, Jacqueline Máximo, Letícia Ribeiro, Marina Gonçalves Araújo e Pâmella Silva Ribeiro AOS AUTORES: Bruna Scorsi, Denis dos Santos Lima, Fernanda Taniz, Gabrielle Peixoto, Ikaro Leonardo, Josiélida Silva, Kaique do Carmo, Maiara Mendes e Thaís Lima
SEMEIE O QUE TE INSPIRA. REGUE O QUE TE ADMIRA. TRANSFORME O QUE TE ABORRECE. VALORIZE O QUE TE ENALTECE. - Jacqueline Mรกximo e Lucimar De Santana
POEMA CASUAL Ikaro Leonardo
As coisas andam difíceis, mas queremos vocês. Corram que o trem está chegando. Não se atrasem, peguem as meias da Júlia, a calça da Fernanda e o sapato do francês. E hoje nós iremos descarregar tudo em um álbum de rock que foi lançado. Vamos brincar, gritar e chegar atrasados para o cinema às nove. Vamos beijar, abraçar e dizer eu te amo. Vamos viver o que somos e fazer o que queremos, só por hoje. Vamos ser genuínos e amar, amar até vicejar.
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AMOR Josiélida Silva
Que eu te amo você sabe e te digo isso todos os dias. O que eu não digo sempre é o motivo de amar tanto você. Você me fez acreditar no amor e no quão lindo ele pode ser. Suave, seguro, e uma calmaria para a alma. Você alimenta a minha luz e faz eu me sentir mais forte do que acredito ser. Você é a pessoa mais paciente do mundo e a mais humorada também, exceto pelas manhãs, é claro. Você é a única pessoa no mundo que canta todas as letras das músicas errado, não importando qual seja, e isso sempre é muito engraçado. E é assim, com seu jeito todo peculiar de ser, que eu não poderia ser mais grata a Deus por quem você é, e por quem nos transformamos juntos.
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NATUREZA DE SENTIMENTOS Fernanda Taniz
No compartilhamento de sentimentos, devoramos as almas infectadas com particularidades de sensações. Essas possuem tristeza, medo e angústia em sua plena intensidade. Júbilo, valentia e calmaria em contraponto oscilam. No interior de cada ser, há esse conjunto englobado de emoções, onde é exposto ao universo e a resposta é um filtro invisível de equilíbrio. Absorvemos resquícios puros que Ele filtrou. Conseguimos sentir paz interior momentânea, porém eternizada.
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A ESCRITA Maiara Mendes
Ela, a Escrita, é libertadora, É o espaço para os pensamentos, É o livre arbítrio em forma de grafia, É a expansão de sensações e sentimentos. Ela é bela e contínua, Ela é a razão e nela não há crítica, Ela faz o corpo repousar, Depois da carga em que nela deixar. Ela é alívio e suspiro, É descanso e paz, É feminina ou se faz, É do autor e de ninguém mais. Ela, a Escrita, aprisiona, Eterniza momentos e sensações, Que por si só são inconstantes, Escraviza e domina sentimentos baseada no que já fora. Ela é inimiga do tempo, que cura. É fria e sucinta, Dela é a angústia e a exatidão, Não há nela compaixão.
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AMOR OCULTO Maiara Mendes
Fico a olhar-te e admirar-te A planejar o implanejável A sonhar o impossível Vontade minha é arrancar-te suspiros. História de amor de que sou narrador Incontáveis canções Incantáveis canções que fiz para você Que de medo do seu espanto escondi. Amor platônico não pode se chamar Porque cada sensação é explícita ao olhar Então, amor oculto será Porque, mesmo no silêncio, se põe a amar.
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TALVEZ SEJAMOS Maiara Mendes
A parte que não falta Os opostos que não se atraem O conjunto que não se dá A harmonia caótica O medo do nada A loucura da paz A cama vazia A lua de fel Os corpos que se querem A noite e a estrela O sol e o seu raio As mentes que não se dão A tomada que não funciona Não funciona o dia a dia O massacre da rotina
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O beijo mais gostoso O amor mais furioso O luto no seu ponto final A beira do abismo Tudo que não faz sentido O inferno do meu astral A poesia sem métrica A canção sem melodia A fuga dos meus dias A chuva no verão O sorvete derretido E tudo mais que não faz sentido Se tem algo que eu tenho sentido Eu tenho sentido você Se tem algo que faça sentido Não sou eu sem você.
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A ÁGUIA Bruna Scorsi
Era uma águia, mas nunca pôde voar. Cresceu em um lar de pequenos pássaros, dos mais diversos, sequer chegou a conhecer sua verdadeira família. Nesse zoológico, no qual vivia, sempre ouvira de seus cuidadores frases como: "Onde já se viu um pássaro como você, querer sair voando por aí?", "Você é apenas uma atração", e, com o tempo, fora acreditando... Outrora ouvira "Ela é tão feia! Desengonçada, com uma cara tão infeliz" porque, de fato, estava. Nascer para ser tocada, arrumada, exibida, comparada, e ainda ter de ser sempre tão amigável e educada, não é para qualquer ave. Caso estivesse muito amuada ou desanimada, seus cuidadores deixavam-na sem comida, para que aprendesse a se portar como uma respeitável e admirável rapina. Cortavam suas garras - que serviam de equilíbrio durante sua estadia em solo -, claro, tudo em prol da beleza... afinal, a ave deveria parecer frágil. “Você deve acasalar, uma fêmea deve seguir seu instinto selvagem”, diziam os machos de sua espécie. No zoológico havia um horário no qual as crianças podiam interagir com os pássaros. Era seu papel entreter, surpreender, espalhar graciosidade por onde passava. Ver aquelas crianças felizes a fazia se sentir útil e amada, bom, pelo menos por um curto momento de seu dia. Durante os momentos em que ficava liberta de sua gaiola para entreter seu público, notou, vindo ao norte, uma grande
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águia. Era como ela, mas, ao mesmo tempo, completamente diferente. Ela era livre. E, segurava em seu bico, o próprio alimento que caçara. De cara ela julgou a rapina que voava: “Como pode ter a audácia de voar assim? E ainda caçar sua própria comida?!”. Por um instante, pensando consigo mesma, se gabou por ter alguém para alimentá-la. Dias se passaram e a águia parecia cada vez mais desmotivada. Como seu cuidador havia ficado doente, colocaram uma substituta em seu lugar. A moça parecia compreendê-la melhor do que qualquer um e tratava-a de um jeito que nunca presenciou antes. Em uma manhã de sábado, o zoológico havia fechado, mas a moça estava lá, pontualmente, para sua alegria. A ave notou que a mulher não havia mais aparado suas asas, e percebeu que conseguia planar sobre o seu galho mais baixo. Com o tempo, foi incentivada a voar e, finalmente, respirar o ar puro fora da gaiola, que era pequena demais para o seu tamanho. Ela caiu e, certa vez, chegou a precisar de curativo. Mas enfim, aprendeu a voar. A sensação de liberdade era incrível! A águia podia, agora, ver o zoológico de um novo ângulo. Tudo ficou mais colorido e interessante, mas quando voltava ao seu lar, ouvia a zombaria das outras aves. Ficara tão chateada que desistira de voar por alguns dias. Então, notou que sua gaiola havia sido aberta por sua nova cuidadora, pensou: “Seria isso um engano?”. Por seu semblante, parecia que não... a ave olhara no fundo de seus olhos e viu-a assentir. Era sua chance. Ela abriu voo e sentiu a liberdade percorrer seu corpo, pensou nas outras aves e, em vez de desanimar, apenas desejou que todas pudessem um dia ser livres para voar por onde quisessem. Pois, depois que se aprende a voar, não se quer mais viver presa em uma gaiola.
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VOCÊ PERCEBERÁ QUE AMADURECEU QUANDO PARAR DE BUSCAR DESCULPAS E PASSAR A PROCURAR SOLUÇÕES. - Josiélida Silva
TÓXICO Kaique do Carmo
Eu sou tóxico Meu amor é tóxico Meu toque é tóxico Quando você precisava Meu carinho era bom Quando você se cortava Eu era bom! Você se matava e eu te curava Você gritava e eu te acalmava Agora sou tóxico Você me chama de tóxico Quando me tornei seu tóxico?
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BEM AQUI Kaique do Carmo
Eu estive aqui! Vivi, Amei. Bem aqui! Lutei, Sofri. E, no fim, Gritei, Morri. Mas ainda assim, Estive aqui, Bem aqui!
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TORNAR-ME Maiara Mendes
Eu sinto em não aprender Eu sinto por não saber Como é que faz Pra lhe fazer Feliz demais E me tornar essa paz Que você procura no amor Que você sempre sonhou Que é o que se espera ao viver Que alguém morra por você.
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LISTA DE DESEJOS Bruna Scorsi
A brisa soprava suave, fazendo as folhas dançarem uma música que só elas ouviam. Sons flutuavam vindo de algum lugar ao redor e, acompanhando-os, havia o vento que brincava com dois balões vermelhos, que bailavam felizes, contrastando com o azul do céu. As garotas se escondiam próximo ao salão de festas, rindo com seus pratinhos corde-rosa, cobertos de um delicioso bolo de brigadeiro roubado. Era o penúltimo item da lista: ser penetra em uma festa chique. Lívia recuperava o fôlego, enquanto tirava de sua bolsa uma caderneta colorida, já bem desgastada pelo tempo; abriu-a e, com sua canetinha azul, fez um “check” naquele tópico. As meninas pareciam orgulhosas do feito. Emily limpava sua boca toda suja de chocolate com a manga de sua blusa, como uma criança desajeitada; seus olhos já marejados não conseguiam esconder os sentimentos tão profundos dentro de si: ela sentia muita falta dele e queria o trio reunido de novo, como nos velhos tempos. Pensar em todos novamente reunidos, iluminou seu sorriso e, ao mesmo tempo, uma lágrima escorreu por sua bochecha, sem a sua permissão. Lívia jogou no lixo os pratinhos sujos do que um dia fora um delicioso bolo infantil e as garotas seguiram para a praia abraçadas para tentar encobrir aquele tempo gélido e aquela saudade aguda em seus peitos.
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Emily tremia um pouco, enquanto observava em seu dedo a sua aliança prateada, cravejada com uma linda pedra brilhante. — Você sabe, Emy, ele estaria radiante e orgulhoso da gente. Vamos fazer isso por ele. — Insistiu Lívia, enquanto segurava a mão da amiga e a viu assentir com a cabeça. As garotas avançaram na areia com seus pés agora descalços, indo de encontro ao píer. O vento se intensificou, e Emily sentiu um cheiro suave e doce, - como cheiro dele -, e entendeu como um sinal. Confiante, pediu a bolsa da amiga e de lá retirou a velha caderneta. Após folheá-la, encarou com ansiedade o último item da lista: ser o mar. As meninas fizeram força para não desabar ali mesmo; saudade batera forte, mas sabiam que o garoto estava em um lugar melhor, e isso confortava-as um pouco. Lívia segurou forte a mão de sua melhor amiga e logo após pegou em sua bolsa o outro objeto: aquela linda urna leve carregava o mundo em cinzas, - carregava o sorriso dele, seu jeito doce e o olhar alegre de quem um dia foi um irmão e um namorado implicante e teimoso, mas que não seria trocado por ninguém. Abriram o conteúdo da louça e lançaram aquelas cinzas ao mar – tão azul e agitado; conseguiram sentir a aura do garoto, e as águas pareciam festejar com aquela chegada, formando ondas intensas e límpidas. Em um instante, o garoto e o mar se tornaram um só; outro "check", o último e mais doloroso. Emily sorriu, olhando para a bela cena diante dela e refletiu: — Ele queria ser o mar, mas acabou sendo meu universo inteiro.
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PRA Maiara Mendes
Hoje, Pra secar minhas lágrimas, Pra inchar meus olhos, Pra rasgar meu coração, Pra lubrificar minha alma, Pra me sentir, Pra mudar as coisas, Eu chorei.
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AMOR PELA DOR Maiara Mendes
Hoje eu sinto a dor, Aquela causada pela falta da reciprocidade, Que outrora não senti na mesma intensidade, Que antes nem me causou dor. Nesse aspecto a ignorância era uma benção, A incerteza e o suspense eram menos cruéis, Agora a clareza tem gosto de fel. Não há como terminar o poema de amor, Já que fora substituído pela tristeza, A angústia tira a minha inspiração do belo, Agora a criatividade advém do peso. Suas opiniões me dilaceram, Tua verdade me diminuiu, Busco resgatar a pureza daquele que já sentiu. Poemas interminados correm o risco da inconstância, Inconstância esta que é a vida, Que de múltiplas sensações nos deixa pessoas divididas, Valida o sentimento, sem equilíbrio e ponderância.
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FOGO FRIO Ikaro Leonardo
Do fogo do amor. A chuva que escorre a dor e a solidão. As labaredas e as geleiras que se ramificam ao se opor. O fogo que incendeia o peito é um ardor, uma lição. Não podemos conter este calor. Nem devemos renunciar ao momento divino de transição. A lavanda do teu cheiro está aqui dentro. A hortelã traz o frescor para fluir ao centro.
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AÇÕES DO TEMPO Josiélda Silva
E tudo é uma questão de tempo... Você erra todo o tempo. Aprende com o passar do tempo. Acerta com o decorrer do tempo, Releva e esquece com determinado tempo, Amadurece ao longo do tempo. E evolui o tempo todo!
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EU TENHO UMA PROFUNDA TEIMOSIA, QUE ME FAZ RECUSAR O PENSAMENTO DE QUE MINHAS DIFICULDADES SÃO MAIORES DO QUE OS MEUS SONHOS, POIS ENQUANTO NÃO OS REALIZO, SEI QUE A CADA DIA ESTOU MAIS PRÓXIMO DELES. - Josiélida Silva
MELANCOLIA Josiélda Silva
Você partiu e não mais voltou Deixou no peito um vazio a residir A esperança de um dia tê-la, está a persistir Enquanto existir vida Espero que um dia, volte ainda para mim.
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RENASCER Denis dos Santos
Certo dia um rapaz andava apressado e perdido, passando logo por um vilarejo com detalhes muito simples, longe, bem longe numa estrada de terra uma casinha de sapê. Na cidade ouvia-se relatos sobre o rapaz, diziam que ele era uma pessoa que carregava as piores mágoas, as dores mais doloridas da vida, os sentimentos mais impuros, as angústias mais infelizes, as felicidades mais horrendas e uma doença que estava acabando com a vida dele. Este rapaz carregava tudo que ninguém queria ter. Já numa cidadezinha, ou um vilarejo como costumavam dizer. Falavam que lá existia um velho, mas bem velho, que era um grande sábio da vida, alguns falavam que esse velho era um encantado, que não morreu que apenas se encantou e está ali, outros ainda diziam ser um espírito muito iluminado que morreu, voltou e incorporou no senhorzinho e não foi mais embora. Por este motivo muitas pessoas procuravam esse senhor por apenas vaidade, mas nunca encontravam a cidade onde diziam estar esse velho. Após andar muito o rapaz avistou a casa de sapê e um senhor sentado num banco de madeira, com um chapéu de palha e um cachimbo na mão com a fumaça bem rala saindo dele. Este senhor sem fazer movimentação alguma disse ao rapaz: - Onde vai meu filho, perdido e com essa mágoa no coração?
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O homem espantado o olhou e disse: - Não sei, caminho a dias sem ter um rumo certo. O senhor então ajustando a barra do chapéu lhe disse: - Filho, o astro, o sol, nasce todos os dias e traz apenas uma mensagem com ele. A mensagem é renascer, é olhar para o céu e agradecer a força maior por mais um dia que foi lhe dado, é esquecer as mágoas e escrever na parede “ISSO PASSA”, pois com fé e amor tudo vai melhorar. O rapaz ao ouvir tudo aquilo se sentiu mais leve, caiu por terra de joelhos sobre o velho aos prantos, o velhinho então o abraçou e lhe ajudou a levantar. Assim que esse homem se levantou, ali mesmo ele renasceu para uma vida nova.
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SINTO MUITO Gabrielle Peixoto
O pôr do sol começa no horizonte. Os raios quentes que restam avermelham minhas bochechas e iluminam o bilhete em minhas mãos. A brisa fria do fim do verão balança meus cabelos, dá cambalhotas nas folhas e intensifica o voo dos pássaros. As buzinas da avenida dão som ao vazio da minha mente, eu suspiro e sorrio. Sinto. Depois de tanto, sinto! Sinto amor e paz, sinto tudo e mais um pouco. Percebo as crianças correrem no parquinho, os velhinhos jogando xadrez, e uma senhora alimentando os pássaros. Sinto em mim uma mistura dos verbos de estado: sou presente, estou aqui, pareço bem e permaneço firme. Agora, já não é difícil, sei que consigo. Sinto minha vitalidade. O sangue correr nas veias. Os dedos dos pés gelarem. Tudo enquanto o sol se põe. Sinto. E como é bom sentir, como é bom perceber em amplitude. Antes, tudo parecia cinza; e, agora, floreiam pequenos brotinhos de cor. Não, não foi uma visita ao parque que me reviveu, fui eu mesma. Aprendi que, para tudo, basta entender, aceitar e ressignificar. Pode parecer fácil falar, ainda mais quando não sei o que se passa com os outros... É, não mesmo, mas sei de tantas outras coisas. É estranho me sentir assim, como se eu não tivesse esse direito. Fecho os olhos com força e me recordo da tua voz cantando pra mim. Uma lágrima cai, e tenho que me lembrar
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que tudo bem sentir medo, e tudo bem também me sentir novamente. Tudo bem ser como for, tudo bem doer. Mas não devemos deixar que a dor se torne a única realidade. É preciso sentir, realinhar e aceitar. É preciso voltar aos eixos. Isso faz parte do todo também. Olho o relógio, levanto-me do banco, deixando lá o bilhete e dou um gole no café frio que sobrou no meu copo. Você ama café frio. Despeço-me dos pássaros, dos idosos e das crianças. Atravesso a rua, pego o crachá e subo de elevador. Dou uma batida leve na porta e entro. Sorrio e sinto meu estômago gelar. Seguro sua mão e sinto paz. Sei que tudo vai ficar bem, independentemente de como, ficará tudo bem.
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DIAS E NOITES Ikaro Leonardo
Entre equilíbrio de dias e noites. Céu e terra, o brilho sai das flores. Hemerocallis, begônia e camélia. Café da manhã com beijos e queijos sobre a panela. Em uma vida toda, espera-se o melhor de si. Mas o melhor de si não se vê. Ele está sempre ali, batendo dentro de ti. O melhor de ti tu sentes. Mas por que faz tão mal? O corpo cansa, mas alma não. Tudo é matéria, braços, pernas, roupas, o mar e o sal. Contradição ou não, motivação ou emoção, Que cada batida do coração lhe traga uma razão. Em dias quentes ou noites frias. Que o melhor colo seja dos seus entes. Que os melhores abraços façam com que sintas. Mas ainda que a sinfonia pare por cansaço, o show continua, Ainda que o livro feche, as palavras permanecerão.
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TEMPO Josiélda Silva
O tempo é o remédio para as coisas que foram significativas. Mesmo trazendo saudades das que foram boas, demonstra o motivo pelo qual algumas pessoas não permaneceram em sua vida. Enfim, mostra a razão para você ter de levantar voo... Cuide de quem faz seu coração sorrir, tira-lhe aquele sorriso bobo do rosto, ri das suas tolices e faz seus olhos brilharem mais. Acredite! Pessoas assim estão em extinção. As melhores coisas da vida são sempre as menos planejadas, permita-se ser surpreendido às vezes. Os percalços encontrados irão aumentar a sua caminhada e o seu suor, mas não poderão jamais apagar o brilho dos seus esforços. Permita-se ser podado para florescer e produzir bons frutos. O sonho é a jornada da alma, a chama da vida e a luz que ilumina o percurso. Que seja, então, longo, forte e jamais apague. A cada novo dia, outra chance, de se reerguer, recomeçar, surpreender, reinventar, ser melhor que ontem... ser feliz! Na vida você sempre terá mais razões para desistir do que continuar. Muitas palavras de desalento virão de pessoas próximas, o que irá diferenciar a derrota da sua vitória, mais do que seu esforço, será sua fé em acreditar que, se você não está onde quer, é porque ainda não chegou ao final do percurso. Porque a fé que nos move deve ser sempre maior que situação adversa que possa surgir.
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DOIS COMPONENETES Fernanda Taniz
Acordei de um sonho em que estava no meu quarto com minha avó materna, que, em um lapso de tempo segurou forte meus braços e apertou com tanta força que eu pude sentir como se fosse real. Ela olhava para mim e se esforçava ao tentar falar meu nome, mas nada saía. Então começou a bater com as mãos na parede do quarto todo, em movimentos e sons irreconhecíveis. Como uma dança bem ensaiada ela ordenava os passos e, por último, apontou seu dedo para a vidraça da janela indicando planetas, estrelas e galáxias, que são ofertadas todos os dias para nossa contemplação num aglomerado. Depois ela saiu pela porta e eu acordei. Não consegui compreender o significado daquilo, parecia real demais para ser apenas um sonho. Pensei muito e tentei afirmar que era algo simples, um sonho trivial até. Porém meu coração bateu forte, minhas mãos e meu corpo todo tremeram como um forte terremoto e eu lembrei que essas sensações eram plausíveis, visto que nunca conheci minha avó pessoalmente, já que ela faleceu antes de eu nascer. Continuo fixa em minha cama nessa madrugada amena de outono, com a janela fechada. A escuridão e o silêncio absoluto
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permeiam a totalidade de coisas nesse exato momento. Minha cabeça dói e decido ir ao banheiro molhar o rosto e esquecer por hora. Percebo meus braços doloridos e quando olho reparo em marcas roxas onde no sonho minha avó os segurou com tanta força. Meus olhos ficaram paralisados assim como todo o resto. Não conseguia sair do lugar e, de tão assustada, pequenas gotas de suor extremamente frias escorreram pela minha nuca. Tento raciocinar e explicar tal coincidência. Será que eu mesma apertei meus braços num reflexo humano inconsciente de tamanha imaginação? Ou, por algum motivo inexplicável, consegui estabelecer uma conexão em uma realidade alternativa com a minha avó? Voltei para minha cama, fechei os olhos e tentei lembrar de todo movimento e som que ela fez. Horas se passaram até que percebi raios solares entrando por uma fresta da janela, tal iluminação veio como uma lâmpada que acendeu numa ideia genial. Eu entendi! Os sinais eram código Morse e comecei a decifrar e anotar. Por ventura eu possuía um dicionário velho feito por mim e minha irmã para conversar na frente de todos sem eles descobrirem o que falávamos. Terminei de anotar e fiquei observando: -- .- -.-- .- --..-- / .. ... ... --- / -. --- / / ..- -- / ... --- -. .... --- / . ..- / .-. . .- .-.. -- . -. - . / . ... - --- ..- / .--.- ..- .. / -. --- / ... . ..- / --.- ..- .- .-. - --- / . -- / --- ..- - .-. --- / .--. .-.. .- -. --- --..-- / - --- -.. .- ... / .- ... / .--. . ... ... --- .- ... / -. --- / -- ..- -. -.. --- / ...- .. ...- . -- / . -- / -- ..- .-.. - .. ...- . .-. ... --- ... .-.-.- / .- - .-. ....- ... / -.. . / ..- -- .- / ..-. . -. -.. .- / . ..- / -.-. --- -. ... . --. ..- .. / -- . / -.-. --- -- ..- -. .. -.-. .- .-. / -.-. --- -/ ...- --- -.-. .-.-.-
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Levei algumas horas para decodificar e quando terminei, arrepiei-me dos pés à cabeça. Contudo li outra vez: “Maya, isso não é um sonho eu realmente estou aqui no seu quarto em outro plano, todas as pessoas no mundo vivem em multiversos. Através de uma fenda eu consegui me comunicar com você”. Com essas informações alojadas no meu ser eu nunca mais fui a mesma pessoa. Se o mundo soubesse dessa grandeza, ele seria melhor ou, talvez, as pessoas sofreriam menos. Surgiram muitos questionamentos em mim. Rasguei a frase codificada e descodificada, não comentei com ninguém sobre, mas todos os dias na mesma hora do sonho, bato com as mãos na janela dessa forma: - . / . -. -.-. --- -. - .-. --- / .-.. --- --. --- / -- .- .. ...¹
¹Te encontro logo mais
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NUNCA MAIS MUDO Maiara Mendes
Eu mudo, mudei três mil e mudarei mais três milhões! Eu me forcei muito tempo a não mudar e apenas ir acrescentando, durante a vida, novos aprendizados, sem precisar mudar os que tenho de bom, mas não, agora, não mais. Entendo que a mudança não se trata apenas de trocar o errado pelo certo e nem o certo pelo errado, trata-se também de mudar o certo pelo certo, isso se existir um certo e um errado, um lado e outro, e não só se resumir a me faz bem e me faz mal. Parar de rotular o que sentimos, o que somos, o que queremos; e, talvez eu rotule mais para frente... E, aí, não será mais o meu eu de agora; aí, já terei mudado. E a cada passo que mudo, que retorno, volto atrás, faço completamente diferente; ou faço o mesmo, só que de outra forma, me pertenço. Sou cada vez mais eu, estou pouco a pouco me encontrando, não para estar certa e não para os outros, mas sim para me aceitar para mim mesma, para entender que essa sou eu, e eu não poderia estar melhor, e mesmo se eu enxergar que preciso
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melhorar... calma, que ainda tenho tempo, ainda chego lá. Parafraseando a linda da Ana Caetano¹, “se aceitar” faz parte do entender que não existe ninguém no mundo igual a mim. Eu sou única e não existe uma versão melhor ou pior em outro lugar para que eu me compare: essa sou eu, sendo eu. E acredito que é isso que eu entendo da minha vida, uma eterna mudança, uma “metamorfose ambulante”, com medos de infância, com medos de agora, com sorrisos de infância, com sorrisos do agora. Eu sou eu, e faz parte de mim a lágrima que eu derramo, a dor que eu sinto (que não é frescura) - ela é minha e só eu sei lidar com ela - e todo o resto que faz eu ser eu. Não me permito me definir em uma ou duas palavras, não me é certo definir o mar por uma pequena parte de sua água, na verdade nem me sei definir, e se sou, quem sou? Ou melhor, o que sou? Não me parece certo responder a essa pergunta, não ficará completa, ainda faltará quem fui e quem serei, meus trajetos, minhas voltas, quem eu quis ser, quem tentei ser. Não me é fácil o me definir, como também o não me definir. O não me saber com exatidão; e completude, e este é o frio da barriga: não saber as atitudes que eu tomaria, em cada situação que me possa ser proposta, não saber qual seria minha linha de moralidade, o que sinto, o que quero e o que devo fazer, e estabelecer limites - se estes existirem. Não sei em que momento iniciei esse pensamento - essa certeza de não ter certeza de nada -; e nem sei se ele um dia irá se findar. Se acontecer, bom também, porque então já terei mudado e começarão outros ou repercutirá o mesmo de outra forma.
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Eu achei graça nisso, achei belo não ter todas as respostas; logo eu que sempre as quis tanto! Achei belo construir minha vida, em formular perguntas e não as solucionar. Não tenho definição de amor, não sei resumi-lo e nem dizer como funciona, e funciona? Foi feito para ser funcional ou só belo, só encantador, e se for, ele é? Foi feito? É ele ou ela? Ou é coisa? Eu tenho orgulho de não entender as minhas fases, e achoas tão lindas, tão paradoxais, e interdependentes, tão elas e tão eu. Eu tenho vivido. O quê, como, por que ou pra que eu não sei, mas eu tenho vivido, um dia de cada vez e vários dias dentro de um só, e só hoje eu já mudei vinte vezes, já reconheci e desconheci, me aproximei e me afastei. Então eu mudo, de fato. Já mudei três mil e vinte vezes e mudarei mais três milhões.
¹Compositora e intérprete do duo musical Anavitória, formado em 2014
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PLUTÃO É PLANETA Thaís Lima
Em um universo interminável Habitava um pequeno planeta Tão distante e vulnerável Foi excluído de seu sistema Netuno ficou desolado ao ver a cena O azul frio determinante, lagrimejou Plutão encolhido, desabou O nono planeta, irreconhecível Sentia-se incompreendido Tendo agora seu nome desconhecido O asteroide, então, sumiu Em meio a uma galáxia infinita Tão vasta e incompreendida Que simplesmente o excluiu Netuno solidário lhe sorriu Dizendo-lhe que todo o acontecido Por maior que tenha sido Solitário e entristecido Plutão deveria seguir destemido
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Porque em meio ao universo Infinito e modesto Como num encontro de estrelas cadentes De nuances entorpecentes, fez seu desejo Netuno havia se apaixonado Pelo pequeno Plutão Que, mesmo desacreditado, Girou em sua órbita Consolidando, assim, sua condição Plutão é um planeta anão!
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QUE O AMOR QUE EM NÓS HABITA SEJA SEMPRE MAIOR QUE TODA AMARGURA QUE ENCONTRARMOS. - Josiélida Silva
O Projeto Este projeto “Fazer Diferente & Fazer Diferença” é, em tese, o conjunto de possibilidades de pesquisa e atividades práticas, desenvolvido por estudantes universitários, orientados por docentes de duas instituições de ensino superior: Universidade Anhembi Morumbi e Faculdade Paulista de Artes. Foi idealizado, em 2009, pela Prof.a Ms. Lucimar de Santana, com turmas de licenciatura em artes (Visuais, Dança, Música e Teatro), a proposta é que os estudantes levem, para outros espaços (comunidades, creches, entidades do terceiro setor, religiosas ou afins), conhecimentos adquiridos ou aprimorados na faculdade. Como, atualmente, a professora atua nas duas instituições, a ideia expandiu-se. O desenvolvimento pode ocorrer por meio de oficinas, workshops, apresentações; enfim, da maneira mais adequada ao público escolhido, de acordo com a área selecionada. Tudo que possa ser considerado: ensino e aprendizagem (oficinas e workshops); empreendedorismo (produção física e eletrônica); voluntarismo, atividades complementares e estágio informal. Para tanto, elabora-se projeto com todos os quesitos (Tema, Objetivos, Justificativas, Questão-Problema e Hipótese, Metodologia, Cronograma e Referências). O principal objetivo do projeto é justamente o título: “Fazer Diferente e Fazer Diferença”, isto é, o que cada pessoa, por empatia e solidariedade, compromete-se a oferecer, de
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modo a transformar algo em si e no outro. Assim, depende da proposta (individual ou coletiva) o que especificamente se tem como meta. Há infinitas motivações para enveredar este projeto, especialmente ao refletir sobre a formação desses estudantes - de áreas distintas. Qual o perfil de egresso pretendido? Que cidadão deseja-se entregar ao mercado de trabalho? Qual é – de fato – a relação entre a missão das instituições de ensino e a missão de vida de cada estudante? Esses questionamentos, devido ao comprometimento e ao empenho dos professores envolvidos, começam a ser respondidos. Do ponto de vista social, a relevância está em proporcionar mudanças positivas – para quem propõe (estudantes), para quem se envolve (instituições de ensino), para quem colabora (patrocinadores e empresas), para quem recebe (sociedade). Para o aspecto acadêmico, participar desse tipo de projeto pode ser o ponto de partida para aprofundar a pesquisa final de curso ou iniciar a pós-graduação. Pessoal e profissionalmente, agrega-se muito valor: respeito, solidariedade, cooperação, liderança... um sem-fim de importâncias. Ao completar 11 anos de existência, foi efetivada parceria com o ICESP – Instituto do Câncer do Estado de São Paulo, intermediado pelo gestor, Marcelo Cândido – o que gerou ainda mais afetividades e possibilidades, dentre elas este e-book. Desejamos que tudo isso tenha sido efetivo e afetivo para você também!
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