VOL. 1 Edição | 30 BR R$15,50 IT €5,00 FR €8,00 GB £5,00 EUA US$7,99
SEGUNDA DIVISÃO O LADO B DO ESPORTE
Esportistas realidade
relatam longe
a
dos
holofotes
Treinadores atletas
da
formam base
ao
profissional J U N H O
2 2
EXPEDIENTE Vitória Goes Editora-Chefe
Glória dos Santos Editora Executiva
Laura Lima Editora Assistente
Leonardo Sena Diretor de Arte
André Mota Redator Colaborador
Editora: Markethlete Redação e Correspondência: Av. Pres. Juscelino Kubitschek, 2042 Vila Nova Conceição, São Paulo - SP CEP:04543-011 Tel. (11) 3030-4366 E-mail: segundadivisao@gmail.com Redatores e Colaboradores: André Mota, Glória dos Santos, Laura Lima, Leonardo Sena e Vitória Goes.
EDITORIAL As ruas: onde quase tudo no esporte começa. Sonhos nascem e são alimentados. Crianças brincam e se divertem sem nenhum compromisso. Onde o que é fantasia e o que é real se encontram. As ruas são os palcos onde os futuros atletas começam a desfilar. É válido afirmar que poucas coisas são tão genuínas quanto brincar na rua, especialmente quando esportes são umas dessas brincadeiras. Do superastro Kylian Mbappé aos jogadores do Área do Verde, clube amador que é o último campeão da Supercopa Pioneer, praticamente todos deram seus primeiros passos no que de mais varzeano há para a prática de esportes. As categorias de base: o caminho percorrido por quem um dia sonhou. A faculdade para alcançar esses sonhos que passam a flertar com a realização. Estes, podem vir a frustrar o sonhador. Onde os sonhos podem deixar de ser sonhos. A base tem o poder de poder juntar um futuro melhor atleta do mundo naquela modalidade com um futuro bancário. Ou com o futuro melhor atleta na categoria amadora daquela modalidade, que no futebol é carinhosamente apelidado de várzea. A várzea: onde o sonhador acorda, percebe que aquilo era apenas um sonho, deixa de sonhar e passa a apenas lembrar daquele sonho. A várzea une diferentes histórias que foram movidas pelo mesmo sonho. A várzea é a esquina onde as ruas e a base se encontram. A várzea não se trata apenas dos campos de terra (atualmente não apenas feitos de terra, mas também, de grama sintética) onde campeonatos de futebol são disputados em periferias, a várzea também pode ser a rua onde maratonas são disputadas, como também podem ser as quadras onde diversos campeonatos de futsal e basquete são disputados sob pouco amparo organizacional. A revista Segunda Divisão: onde o esporte é tratado com uma visão empírica, relatando a dura realidade de quem batalha e batalhou na busca pela profissionalização em diversas modalidades esportivas. Onde o leitor descobre que o esporte vai muito além do que está sendo transmitido nas principais camadas da mídia. Em sua primeira edição, a Segunda Divisão entra em uma esfera muito pouco explorada pelas principais editorias esportivas. A Segunda Divisão é o lugar onde as ruas, as categorias de base e a várzea se encontram com propósitos muito bem definidos: mostrar os caminhos percorridos em busca do próprio sucesso.
SUMÁRIO Jean Lucas Cardoso, da zona oeste para NBB
05
Sérgio Baresi se destaca no comando do Osasco Audax
12
Histórias olímpicas
16
A várzea mudou
20
A origem
23
Voleibol na cidade
25
JEAN LUCAS CARDOSO DE OLIVEIRA DA ZONA OESTE PARA A NBB
Por Glória dos Santos Zona Oeste de São Paulo, região metropolitana
sonhava com o basquetebol. Na verdade, ele
até um certo ponto e mais adiante se torna
assistia seu irmão, Jonathan, participar dos
interior. Na vastidão de 248.209 km² que é esse
jogos de basquete na escola, mas isso não o
estado brasileiro, encontramos os mais diversos
atraía, seu esporte do momento era o futebol.
talentos espalhados por aí, dentre eles, os
Ele inclusive jogava pelo Aliança – time do
jovens
mais
bairro, e se dedicava ao futsal empregado na
precisamente no bairro do Engenho Novo,
quadra pela equipe. E num dia propício a um
morava Jean e um sonho. O rapaz que veio a ser
resfriado,
um talento da NBB jogando pelo Corinthians,
trabalhando e Jonathan perdia o jogo na escola
agraciado com o prêmio ‘Líder de Assistências’
para cuidar de Jean, o espírito em equipe falou
concedido pela LDB – Liga de Desenvolvimento
mais alto entre o corpo estudantil.
esportistas.
Em
Barueri
e
em
que
dona
Zilda
estava
de Basquete, não sabia que trilharia um caminho tão brilhante e desafiador.
Nesse período, Jonathan era o irmão mais velho da casa e ficava responsável por cuidar Jean
A jornada de Jean iniciou-se ainda na infância e
enquanto
Dona
Zilda,
desde então vem tomando rumos que levaram
trabalhava fora. E como mãe cautelosa, ela
o rapaz a escolher seguir seu sonho e aprimorá-
impunha normas e horários para que houvesse
lo ou abrir mão dessa experiência. Abraçar uma
uma rotina organizada entre todos, desde os
escolha e enfrentar as dificuldades envolvidas é
períodos
uma causa nobre que advém de inúmeros
brincadeiras na rua. Devido ao mal estar de
sacrifícios, mas para isso é preciso plantar uma
Jean, naquela manhã ele não foi para a escola e
semente, que será cultivada e nutrida no
consequentemente, Jonathan precisou ficar em
coração de quem a tem.
casa
escolares
para
ao
ajudá-lo.
mãe
tempo
Quando
dos
de
rapazes,
lazer
começou
e
a
acompanhar o irmão nos jogos, Jean já havia Jean Lucas Cardoso de Oliveira, quando tudo
notado como Jonathan era querido pelos
começou ele tinha 10 anos e não sabia que
colegas de time e, nesse dia em particular, o
05
06
diretor da escola questionou o motivo da falta
participavam de campeonatos e jogos desde
do rapaz através de uma ligação. Jonathan
que houvesse o bom desempenho escolar
explicou a situação e disse que não poderia
também. As técnicas iam nas escolas verificar
jogar pois, havia de cuidar do seu irmão e assim,
boletins e comportamentos na sala de aula
o diretor escolar buscou ambos os meninos
para ter certeza de que os pequenos atletas não
para que, Jonathan pudesse jogar e próprio
estavam deixando de lado seus deveres com os
diretor pudesse tomar conta de Jean. Naquele
trabalhos, presença em classe e desempenho
dia uma semente foi plantada, Jean sabia que
nas demais matérias.
queria viver um espírito de equipe como presenciou com o seu irmão, seu primeiro
Nessa época, com 12 anos Jean recebeu seu
contato com o desejo de jogar basquete veio
primeiro prêmio no ‘Jogo das Estrelas’. Os
através do sentimento de ser querido.
clubes de basquete da região de São Paulo se enfrentaram em diversas chaves até chegarem
O sonho começou a se concretizar dentro da
à final do campeonato da ‘Taça Ipê’ no Clube
sala de aula, na escola em que estudava – EMEF
Ipê em São Paulo, e dentre os meninos do GRB,
Armando Cavazza em Barueri. As professoras
Jean teve maior destaque. Foi logo após este
que trabalhavam no Grêmio Recreativo da
campeonato que os meninos do time foram
cidade passaram pelas salas para informar
federados pela Federação Paulista de Basquete
sobre a escolinha de basquete e buscar
e,
possíveis
‘comissão’ e todos os jogos eram realizados
manifestou
interessados, “Olha
quando
professora,
Jean
eu
sei
se jogar
assim
dentro
eles
das
passaram
normas
e
a
receber
regras
oficiais
uma do
basquete” arremessando uma bolinha de papel
Basquetebol, além de representarem a cidade
no lixo - atitude que o levou a ser convidado e
de Barueri nos campeonatos.
classificado numa peneira mais tarde. Dentro do Estado os meninos jogavam por É verdade que todos os garotos da peneira
todos os cantos, desde a Baixada Santista até o
passaram, mas com Jean foi diferente. Naquele
interior de São Paulo acompanhados por seus
dia de teste ele havia ido ao dentista com sua
maiores fãs: os pais. E no meio de tantos
mãe, descrente de que os horários de consulta
torcedores estava presenta a Thaís. Thaís Lisbôa
e peneira seriam compatíveis, mas por obra do
era a mãe das caravanas, a mãe que estava ali
acaso ou destino, Dona Zilda o questionou em
representando todas as outras mães, abraçando
qual horário eles precisariam estar no ginásio
os meninos e torcendo por eles. E não era
para que ele participasse da peneira – “Às
diferente com o Jean, o filho do coração,
15h00, mãe.” E vendo que ainda eram 14h00,
adotado com amor e carinho, principalmente
sua mãe decidiu levá-lo. Ela também havia
quando Dona Zilda não podia acompanhar o
colocado em sua bolsa o uniforme do Aliança,
filho devido à rotina de serviço.
muito
provavelmente
prevendo
que
Jean
participaria sim do teste em quadra.
“Nos jogos o Jean sempre se destacou. Eu lembro que a gente chamava ele de ligeirinho,
Iniciou-se então a rotina no basquete. O Grêmio
porque ele atravessava a quadra e a gente
Recreativo
popularmente
quase não acompanhava, ele sempre foi muito
conhecido pela sigla GRB, incentivava os
rápido. E ele chegou a ganhar um certificado
meninos no esporte de maneira que,
num fim de ano, numa festa, como o melhor da
de
Barueri
–
07
08
categoria dele: melhor armador. É que foram
carreira no basquete, o que lhe fez abdicar da
tantos certificados que ele ganhou que fica
vaga do curso técnico e abraçar a oportunidade
difícil saber de qual época, nas competições de
de continuar jogando como federado em um
quadra ele sempre corria muito, estava sempre
clube, estudando em uma escola de ensino
se destacando... O magrelinho da turma, mas
médio municipal. “Eu não abri mão do estudo,
que corria que era uma beleza!” de acordo com
eu escolhi ir para o lugar onde eu conseguiria
Thaís.
ampliar o meu sonho.” – Explicou Jean quando aceitou jogar pelo Clube Hebraica de São Paulo.
Mas nem todo o talento está imune ao sofrimento. Logo em seu primeiro ano de
A trajetória no Hebraica durou apenas um ano,
federação pelo GRB, Jean foi convidado a
mas
acompanhar a categoria de cima dos rapazes
desejados por Jean. Já o amadurecimento
mais velhos. “E eu lembro que no meu primeiro
estava por vir no ano seguinte, quando com
treino, naquela época em que eu não tinha
apenas 15 anos, o prodigioso armador decidiu
uma condição de ter o tênis pra jogar... eu fui
viver do basquete e para isso, saiu da casa de
com um tênis que tinha ganhado da minha
sua mãe e mudou-se para Taubaté, no interior
mãe, um tênis réplica... e quando eu cheguei lá
do Estado de São Paulo, onde passou a morar
alguns meninos do time me zoaram por conta
num alojamento com outros meninos. Nas
do tênis, porque não era um tênis apropriado
palavras de Jean, esse foi um ano de muita
para jogar basquete. Essa foi uma das vezes em
experiência e muito aprendizado, ele relatou
que eu quis parar de jogar, foi a primeira que
que nessa época treinava com o time adulto de
me aconteceu.” E com isso Jean deixou de
Franca, além de treinar com a sua própria
frequentar os treinos durante algum tempo.
categoria, o que gerava um intensivo pois,
trouxe
a
visibilidade
e
o
destaque
haviam também treinos de madrugada. E tudo Todavia, novamente o espírito de união falou
isso valia à pena para realizar seus sonhos, cada
mais alto, a técnica da categoria questionou
gota de suor, o cansaço físico, as mudanças de
Dona Zilda o motivo das faltas nos treinos e a
escolas para acompanhar o ritmo intenso das
mãe de Jean explicou o ocorrido que levou o
quadras... cada nova manobra, cada jogada era
rapaz a não comparecer nos jogos. Em seguida,
o investimento num sonho! O que contradisse
a equipe do GRB conseguiu uma doação de
tudo isso apenas, foi o racismo.
tênis apropriados para basquete e distribuiu aos atletas que não tinham condição naquele
“No primeiro ano após sair de casa, na minha
momento, o que incluía o Jean. “Isso aí me
terceira semana em Taubaté, era tudo muito
deixou feliz e animado para poder voltar pro
novo pra mim... Antes eu ia no banco com a
GRB, porque eu vi que eles queriam que eu
minha mãe e tudo que eu fazia tinha algum
estivesse ali, não era só mais um menino
responsável comigo. Então quando eu saí de
qualquer... Foi isso que me fez querer voltar.”
casa e comecei a fazer as coisas sozinho, aconteceu um episódio comigo que foi o
E ele se manteve firme nessa jornada, após
ocorrido que me fez querer parar com tudo,
concluir o ensino fundamental e passar para o
com essa vida de jogador, de atleta, de estar
Instituto Técnico de Barueri – ITB, atualmente
longe de casa, longe da minha mãe, de não ter
conhecido apenas como FIEB. A escolha de
um amparo...
Jean foi seguir seu sonho e construir uma
09
Eu só queria chorar no colo da minha mãe
Com 17 anos ainda no time do Franca, Jean
nessa época. E eu fui no banco sacar meu
iniciou sua preparação para a categoria adulta,
salário, eu e um amigo meu, de bicicleta. Estava
acompanhando a rotina de treinos e ganhando
de noite, ele ficou do lado de fora segurando as
experiência com os atletas profissionais. Ele
bicicletas
caixa
passou a efetivo no ano seguinte com 18 anos,
eletrônico, e como estava frio a gente estava de
ainda no Franca, quando começou a ter maior
capuz. Depois de uns três minutos em que eu
visibilidade
estava tentando fazer o saque do dinheiro, de
disputando os jogos. Em seguida, o armador foi
repente eu escuto sirenes tocando, mas achei
jogar em São José dos Campos no ano de 2020
normal, só uma viatura passando na rua.
e devido à pandemia da COVID-19 não houve
Permaneci
dinheiro
campeonato, sendo essa uma passagem rápida.
quando eu escuto a porta giratória do banco
Posteriormente foi contratado pelo Corinthians
fazendo barulho de alguém entrando e aí um
para disputar os jogos do NBB, além de possuir
policial me abordou, gritando comigo ‘vai
2 anos de LDB - Liga de Desenvolvimento de
macaco, vai pro chão que você perdeu’ e
Basquete (campeonato de base).
e
eu
estava
tentando
sozinho
sacar
no
meu
fazendo
parte
do
elenco
e
quando eu olhei pra fora haviam muitas viaturas, muitas motos de polícia... e eu sem
No Corinthians, por conta de uma temporada
entender, tinha meus 15 anos e estava tentando
não muito boa devido a lesões de alguns
sacar meu salário. Nisso eles me colocaram no
atletas, surgiu o interesse da equipe do Santos
chão, me agrediram algumas vezes e me
para que ele jogasse o Campeonato Brasileiro,
levaram pra fora do banco. Depois de ter sido
que é a segunda divisão do NBB. Aproveitando
xingado,
a oportunidade para recuperar seu ritmo e
os
policiais
foram
realizar
o
procedimento que eles deveriam ter feito no
permanecer
início: perguntaram qual era o meu nome, o
proposta e atualmente está emprestado para a
que eu estava fazendo... conforme foram
equipe do Santos. Em seus planos e metas de
conversando, a gente foi falando. Aí eles me
futuro o armador se sente realizado em
disseram que tinha uma denúncia anônima de
inúmeras
uma atitude suspeita no banco. Eles pediram
alcançar seu sonho de chegar a NBA, tornando-
desculpas depois de ver que não era nada do
se referência no exterior e expandindo o
que
conhecimento no basquete, almejando jogar
eles
estavam
imaginando,
mas
a
abordagem policial me deixou muito, muito e muito assustado... porque aquilo estava sendo muito novo pra mim, eu não esperava isso de alguém que deveria estar me protegendo. Com tudo isso eu pensei em denunciar, mas eu vou denunciar a polícia pra polícia? Então eu não contei pra ninguém além da minha família, na época eu liguei pra minha mãe chorando e ela me falou que isso ia ser algo que eu iria passar, infelizmente iria viver algumas coisas assim ainda e ela não me deixou voltar embora, não me deixou abandonar meu sonho... Porque ela sabia que não era isso que ia me tirar do rumo.”
10
em
quadra,
conquistas
um dia na Espanha.
e
Jean
busca
aceitou
a
atualmente
11
SÉRGIO BARESI SE DESTACA NO COMANDO DO OSASCO AUDAX TREINADOR E EX-JOGADOR DO SÃO PAULO
Por Laura Lima e Vitória Goes O treinador e ex-futebolista brasileiro Sérgio
europeus nos copiaram, essa metodologia que
Felipe Soares, mais conhecido como Sérgio
nós tínhamos que era uma metodologia de rua,
Baresi, que atuava como zagueiro, hoje é
nós
técnico do Grêmio Osasco Audax.
começaram a usar essa metodologia lá fora e
Começou a sua carreira aos 12 anos de idade e
eles evoluíram muito no futebol, enquanto nós
jogou nos times de base do São Paulo Futebol
diminuímos e perdemos espaço.”
perdemos
um
pouco.
Os
europeus
Clube, ao lado de Rogério Ceni conquistou a Copa São Paulo de Futebol Júnior de 1993.
O técnico aborda sobre o quão as mídias sociais
Baresi
e
são benéficas, mas podem vir a se tornar um
Psicologia Esportiva, o que o faz ter uma
problema e como o time lida com essas
preocupação maior e saber lidar com a saúde
questões:
é
formado
em
Educação
Física
mental dos jogadores, os quais ele denomina como “Geração PlayStation”, conectados com as
“Os jogadores são muito conectados com esses
redes sociais e jogos online.Aos 49 anos, Sérgio
jogos online e com as redes sociais, por um lado
fala sobre o quão o chamado “futebol de rua”
é bom, para que eles possam estar linkados
tem sido extinto:
com essas informações, sabendo filtrar, focar, mas por outro lado é muito ruim também,
"Quando comecei jogar bola, na minha época
porque
era o futebol de rua, hoje não existe mais, a
egocentrismo, dispersa querer resolver as coisas
gente
sozinhos e na maioria das vezes o futebol é
praticava
esportivas:
todas
Futsal,
as
modalidades
foco,
dispersa
o
decidido coletivamente. Então, se nós não não
principalmente Futebol. . Nós fazíamos aquelas
conseguirmos junto junto com as nossas
brincadeirinhas
comissões técnicas passar para eles e espremer
rua
de
Vôlei
o
e
na
Basquete,
dispersa
Gol
Garrafa,
Campinho, o golzinho era gol de chinelo e os
12
o máximo do atleta, isso pode causar uma
defasagem grande no processo não só criativo,
empatou a outra e ganhou a outra, você está
mas também disciplinar e de alta performance,
fora. Então, no futebol você tem que ganhar
porque temos que atingir um alto nível de
duas e empatar uma, se você tem qualquer
excelência. No Audax, nós também somos
outro tipo de resultado, você começa a entrar
clubes formadores e como clubes formadores,
na dança dos treinadores e começa a rodar de
nós temos que revelar bons atletas, não só para
um time pra cá e pra lá, e aí fica complicado.
o mercado brasileiro como para o mundial. Por
Basicamente é isso, treinador de futebol de
exemplo, nós temos 3 atletas que estão na
base ele tem mais tempo para desenvolver os
seleção brasileira hoje, um dos quais saíram
processos e se desenvolver automaticamente,
daqui do Audax, jogou aqui no profissional e
no profissional não, no profissional a cobrança é
não só foi formado na base, mas também jogou
muito
no profissional e isso é muito bom para o nosso
potencialização
case de sucesso.”
principalmente pós pandemia, as mídias sociais
Sérgio comenta sobre a venda do jogador
têm um poder muito grande sobre os clubes,
Bruno Guimarães e os demais jogadores que
até mesmo no contratar ou não, de apoiar o
saíram do Audax e hoje estão na Seleção
técnico ou não, ou seja, a pressão é muito
Brasileira:
grande.”
maior,
muitas
vezes
das
mídias
com
a
sociais,
“O mais TOP deles, que acabou de ser feita uma venda fantástica é o Bruno Guimarães. Ele foi
Na sua trajetória até o Audax, o técnico saiu da
vendido agora para o Newcastle e como nós
China e foi pros Estados Unidos e de lá para o
somos times formadores, 5% desses valores
Guarani de Campinas. Chegando no Brasil no
caem na conta do Audax, outro é o David Neres
final de 2018, recebeu uma proposta do Guarani
que também estava na seleção e o Anthony e
e
Anderson que foram convocados para seleção
treinador do Sub-20, e ao final do contrato o
brasileira. Então, o Audax é sempre uma
Audax fez uma proposta de trabalho, onde ele
referência no futebol de formação, justamente
permanece até hoje desenvolvendo o processo
por possibilitar esses jogadores de talento para
metodológico com as categorias: Sub-13 (11 e 13,
o mercado.”
11 e 9 anos), o Sub-15 (15 e 16 anos), o Sub-17 e o
ficou
na
temporada
2019/2020
como
Sub-20. Baresi compartilha as maiores dificuldades de ser um treinador, o técnico afirma que o treinador do futebol de base não sofre tanta pressão comparado ao do profissional, já que segundo ele, o da base normalmente tem um tempo mais longilíneo de trabalho, a não ser que cometa alguma situação muito grave no clube ou mesmo com o atleta. O ex-futebolista explica sobre a regra de três do futebol: “Na base, você tem uma estabilidade maior, você consegue desenvolver esses processos, enquanto no profissional eu costumo dizer que é a regrinha de três: Se você perdeu um,
13
14
“Nós temos mais ou menos 90 atletas sob nossa
serem empresários, que marcam reuniões para
tutela, com essa responsabilidade de fazer com
que possam estar mais próximos e desenvolver
que a gente desenvolva não só o atleta no seu
melhor a parceria. Recebem também técnicos,
nível intelectual, mas também principalmente
olheiros e observadores de outros clubes em
no aspecto físico, técnico e tático. Onde entra
parceria, fazendo com que realizem algo bem
nossa metodologia de trabalho, os quais nossos
produtivo durante o dia, em prol de seus
disciplinadores das comissões técnicas estão
atletas.
preparados para que nesse processo de ensino e aprendizagem, fazer com que nossos atletas
Fora das quatro linhas, Sérgio é casado com
absorvam o mais rápido essa metodologia, para
Márcia e tem três filhos: João Vitor (19), Lorenzo
que isso possa potencializá-los para o mercado
(11) e Maya (7), reside em Santo André, mas tem
não só nacional como internacional também.”,
um flat em Osasco para não precisar ir todos os
comenta o ex-jogador.
dias para casa. Seus ídolos são incontáveis: Careca, Muller, Silas, Oscar, Ricardo Rocha, etc.
Ao ser questionado sobre as questões sociais
Torcedor do São Paulo desde pequeno, em uma
comentou sobre algumas ações do clube:
fase mais recente jogou com o Zetti e sempre reencontra seus ídolos e amigos no Camarote
“Como tem o campeonato Paulista e outras
dos Ídolos no Estádio Cícero Pompeu de
competições, a gente tem a agenda muito
Toledo, Estádio do Morumbi. Baresi comentou
programada. Mas nós temos um departamento
sobre alguns de seus objetivos:
deste setor, que é justamente voltado para este
“Tenho o objetivo de voltar a ser treinador em
departamento das obras sociais, nesse ano de
alto nível, em um clube de expressão nacional.
2021 foi destinado mais de um milhão de cestas
Mas não é uma obsessão, eu penso muito no
básicas, o Sr. Mário Teixeira (proprietário do
meu hoje aqui no Audax, então entrego sempre
Osasco Audax) doou mais de um milhão de
o meu melhor, para que isso possa se vir
cestas básicas para as casas de caridades daqui
acontecer algum dia, estejamos preparados. Eu
de Osasco, em parceria com a prefeitura
tenho todas as licenças que é possível ter, não
também. E aqui nós temos um fundo social do
só para o Brasil, mas também lá fora. Então a
idoso, é um projeto que todo ano tem para
gente
alavancar e apoiar a sociedade daqui de
oportunidade dessa chegar, a gente abrace de
Osasco. As principais iniciativas sociais são
corpo e alma novamente.”
tá
preparado
para
quando
uma
essas que comentei. Nós temos essa conexão com a prefeitura, dia da raça negra, outubro
Para finalizar, comenta que a vida do treinador
rosa, novembro azul, as datas comemorativas
é um casamento que tem hora que dá certo e
dos dias dos pais, dia das mães, nós trazemos as
tem hora que não dá certo e explica sobre
famílias dos jogadores pra cá e se torna um
como o futebol é um ambiente fantástico, de
grande evento, é bem bacana.”
muito aprendizado, muitas alegrias, porém, de muitas
tristezas
também.
Pelo
futebol
Apesar da rotina incessante, treinando com as
caminhar em cima da régua, diz que se você
três categorias do clube, fora o Sub-13 que
desviar um pouco, está fora do combate, do
treina apenas três vezes na semana, na sua
time e fora de terminar a carreira que se iniciou.
agenda nos horários entre 11h e 14hrs ele recebe empresários e pais que precisam tratar de algum assunto, mas na maioria das vezes diz
15
HISTÓRIAS OLÍMPICAS DE VILA VELHA AO MUNDIAL EM CALI
Por Vitória Goes e Laura Lima Se você acompanha reality shows, com certeza
encaixa no clássico jargão associado aos jovens
sabe quem é Paulo André Camilo, mais
no Brasil "o futuro da nação". O jovem está
conhecido como PA, o semifinalista dos dos
classificado para o Campeonato Mundial de
100m rasos nas Olimpíadas de Tóquio chegou à
Atletismo Sub-20 de 2022, que será realizado
final
em Cali, na Colômbia.
da
assistida
competição do
Brasil,
não-esportiva o
BBB.
mais
Portanto,
a
A proximidade de Thamer com Paulo André
participação do velocista de 23 anos foi
vai
além
de
serem
velocistas.
Ambos
essencial para a visibilidade do atletismo no
começaram a correr no mesmo projeto social,
nosso país, um esporte que possui 24 categorias
com o mesmo professor, Carlos José Camilo,
olímpicas porém, ausente dos holofotes.
pai de Paulo André. Após Paulo André engatar nas competições e passar a ocupar pódios ele e
Nesse
contexto,
as
primeiras
provas
da
o pai fundaram a Associação Paulo André,
modalidade datam de 776 a.C., na Grécia
onde Thamer treina. O projeto ajuda jovens da
antiga. Porém, o atletismo como conhecemos
região a ingressarem no atletismo. “Tem
hoje apareceu oficialmente no final do século
muitos diamantes a serem lapidados aqui. Eles
XIX, e era praticado nos países da Europa e nos
brilham mais a cada treino”, diz Camilo.
Estados Unidos. O atletismo moderno ganhou popularidade e foi propagado no mundo todo a
Aos 12 anos, Thamer deu sua primeira largada
partir
em
de
1900,
ganhando
ainda
mais
um
projeto
social
Vila
mal
prefeitura
Federação Internacional do Atletismo (IAAF) foi
contava que a vida nas pistas se tornaria sua
criada. No Brasil, a prática foi consolidada nas
própria profissão. "Minha vida inteira sempre
três primeiras décadas do século XX.
fiz muitos esportes, já fiz basicamente tudo:
isso,
há
mais
milhares
de
jovens
de
pela
visibilidade a partir de 1912, ano em que a
Posto
municipal
promovido Velha,
futsal, vôlei, basquete, handebol.
promissores na modalidade em questão. Assim
Quando comecei não era bem um clube, era
como Thamer Avillar, o velocista de 17 anos se
uma associação, pequena, que tinha em uma
16
Em uma escola que eu estudava e um amigo
aí 14h eu já saio de casa pra ir pro treino. Depois
meu que também treinava. Aí ele me
chego em casa umas 19h. Conciliar a vida do
chamou para treinar e eu fui. O meu técnico
atletismo
com
a
escola
é
muito
difícil,
Camilo, que é o pai do Paulo André, dava aula lá
principalmente esse ano porque tem ENEM, fica
nessa época. No começo não era algo que eu
tudo muito sugante pra gente. Porque, pra mim
queria, como um trabalho. Eu treinava um dia,
minha profissão principal é ser atleta, mas como
no outro não, mas depois fui pegando mais
tenho que terminar o ensino médio, preciso
gosto e fui treinando. Até que eu fui competir
cumprir com isso”.
pela primeira vez, em 2018, fui para o meu primeiro estadual e fiquei em terceiro lugar dos
Logo no início, após ganhar medalha de bronze
100 metros” relatou Thamer sobre o ponta pé
no estadual em 2018, Thamer engatou nas
inicial da sua carreira.
competições e foi ganhando cada vez mais medalha, as quais ficam agrupadas na parede de
No entanto, ele se deparou com o obstáculo
seu quarto. “Em 2020, foi a primeira vez que eu
mais comum na vida dos atletas brasileiros. “O
medalhei em um Campeonato Brasileiro Sub-18,
começo é muito difícil para aprender e a falta
que é uma competição muito grande, acho que
de patrocínio, faz muita falta. Porque no Brasil,
é uma das maiores competições da América do
eles querem te patrocinar quando você já está
Sul. Eu competi e fiquei em terceiro lugar pela
na seleção, essas coisas”, ele ainda completou.”
primeira vez. Depois disso, eu fui em 2021 e eu fui
As coisas mais difíceis pra gente conseguir são
no sub20 e eu acabei ficando na quinta
roupas e materiais de treino. É muito dinheiro
colocação, mas não era minha categoria, eu
que você tem que tirar do bolso, e meus pais
competi uma categoria acima só para melhorar
sempre me ajudaram, com passagens e afins.
a minha marca. Eu competi na categoria de
Meu maior investimento são eles e meu
cima, melhorei minha marca e com ela eu
técnico”.
consegui fazer o índice, o tempo para ir para o
Com
isso,
de
Mundial Sul-Americano, essas competições da
investimentos por parte das empresas privadas,
seleção brasileira. Então eu fui convocado para o
os principais patrocinadores são fundamentais
Sul-Americano, que foi no Paraguai, e aí lá a
para
são
gente foi campeão do revezamento 4x100m e foi
programas do governo federal como a Lei das
muito bom. Depois desta vez, que a minha
Loterias, destinada a recursos de loterias para
carreira engrenou”.
os
por
atletas
conta
ainda
da
em
ausência
formação,
esportes paralímpicos. Bolsa Atleta, envio de verba
para
os
atletas
que
não
possuem
patrocínio. Lei de Incentivo ao Esporte, permite que empresas e pessoas físicas invistam parte do que pagariam de Imposto de Renda em projetos esportivos aprovados pela Secretaria Especial do Esporte do Ministério da Cidadania. Sendo assim, além das dificuldades já vistas o menino capixaba ainda precisa juntar a rotina de treinos em Vitória, cidade vizinha de Vila Velha, com os estudos. ”Eu ainda estou no ensino médio, no terceiro ano. Estudo até 12:20,
17
18
Com a agenda cheia, Thamer disputou o
psicologicamente porque isso afeta bastante na
Campeonato Brasileiro Loterias Caixa Sub-20 de
pista. Eu acho que o psicológico as vezes conta
Atletismo, onde conquistou a marca para o
mais do que sua performance física. O atleta
Mundial de Atletismo Sub-20 de 2022 e para o
pode
Pan-Americano
psicologicamente e não vai bem. Uma vez eu fui
Sub-20
de
Atletismo,
que
estar
treinado, num
mas
Brasileiro
não
está
Sub-20,
bem
acontece em junho, no Rio de Janeiro. O garoto
competir
tinha
demonstrou estar contente com os resultados
acontecido algumas coisas, eu não estava muito
“Ainda tenho 17 anos, então é muito bom estar
bem e eu acabei correndo muito mal. Isso me
me destacando nas categorias acima”.
deixou pior ainda. As vezes não escuta o tiro e queima a prova, ou não corre bem mesmo. Não
Diante de toda a evolução do jovem teve ao
tem como que a gente não ficar nervoso. Mas o
longo dos anos, ele contou qual foi sua medalha
nervosismo acaba atrapalhado bastante se você
mais especial. “A que me marcou foi a minha
estiver na pista”, disse Thamer.
primeira medalha no Brasileiro Sub-18 em 2020, depois disso que fez eu alavancar. Essa
Diante de tanto talento e carisma, o atleta
medalha faz eu pensar que depois disso que
responde quem ele tem como inspiração, e é
tudo começou, ela tem mais importância para
claro que o maior velocista de todos os tempos
mim”.
não ficou de fora, Usain Bolt. Mas o jamaicano teve que dividir o pódio com o nosso brasileiro e
Em momentos de lazer, o atleta aproveita o
colega de treino do Thamer. “Meu ídolo é o Bolt,
tempo livre merecido para cuidar de si e fazer o
não tem como, e o Paulo André. Ele sempre foi
que gosta. “Quando eu pego um fim de semana
uma inspiração pra mim. Como eu via ele
ou feriado eu falo ‘agora eu quero dar um
treinando comigo e depois sendo campeão
tempo pra mim’. Aí eu vou na praia, saio com
mundial. Eu falava ‘quero ser assim também’.
meus amigos, descanso. Eu amo viajar. Outra
Isso é muito do atleta, quando você almeja, te faz
coisa que eu gosto é de comprar, aí eu gasto
querer treinar mais ainda”, destaca o jovem
comigo mesmo, saio um pouco da dieta. Nessa
promissor para o futuro do Brasil. Esperamos por
hora eu mereço”.
Paris 2026 e mais!
Tendo
em
vista,
disciplinada
e
a
rotina
competições
extremamente carregadas
de
pressão em cima de um atleta. É válido ressaltar a importância de discutir a saúde mental deles. Na última Olimpíada, em Tóquio, Simone Biles e Naomi Osaka protagonizaram as discussões sobre o assunto. A ginasta e a tenista se tornaram
referência
ao
normalizarem
a
desistência nas competições para cuidarem da própria saúde mental. Os esportistas estão suscetíveis a incômodos psicológicos. Por isso, é importante ressaltar que a preparação mental dos atletas é primordial para a atuação destes nas competições. “O atleta não pode estar mal
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A VÁRZEA MUDOU EVOLUÇÃO DO FUTEBOL AMADOR
Por André Mota e Leonardo Sena O futebol é o esporte mais famoso e praticado
cidade de São Paulo, pela prática do esporte
do mundo, principalmente no Brasil, que é
em terrenos às margens do rio Tietê, ou seja,
conhecido como o “país do futebol”. Ser
nos campos de várzea. Por muito tempo o
reconhecido pelo esporte é o sonho de muitas
termo associou-se ao futebol praticado de
crianças que crescem jogando, seja nas ruas ou
maneira
nos campos dos bairros onde vivem. E por ser
cidade,
muito praticado no país, o caminho para
quanto pela falta de regras, algo comum no
chegar no futebol profissional é muito estreito.
futebol amador. Mas os tempos são outros e
desorganizada tanto
pelos
nas
periferias
campos
da
desnivelados
Mesmo quem não consegue atingir a carreira
quem acompanha o futebol de várzea percebe
profissional busca outras formas de se manter
que houve uma grande evolução na categoria,
no ambiente futebolístico, participando de
os campos de terra deram lugares aos campos
amistosos e torneios amadores, podendo até
de grama sintética. Os jogadores que antes
ganhar um extra. Alguns jogadores chegam a
jogavam por amor e ajudavam a manter os
lucrar 400 reais num final de semana de jogos
jogos, hoje chegam a faturar mais que muitos
na várzea, muitos fazem desse dinheiro como
atletas profissionais. Esse é o atual cenário do
renda familiar. Como é o caso de Denis
nosso futebol de várzea.
Marcelino que ganha entre R$1800 a R$2000 por mês, ajudando a sustentar sua família.
“Dinheiro, fama, luxo”, essa é a ideia que se vê
Isso mostra o quanto os campeonatos de várzea
nas telas de televisão e nas redes sociais dos
se valorizaram nos últimos anos, com a
jogadores profissionais das principais ligas do
modernização dos campos que em sua maioria
Brasil
são
representam uma pequena parcela de todos os
de
gramas
sintéticas.
Antes
de
nos
e
no
mundo.
Porém
aprofundarmos no atual momento do futebol
jogadores
registrados
várzea vamos voltar a origem do termo.
Segundo
levantamentos
Confederação O termo futebol de várzea se originou na
20
Brasileira
esses
como
profissionais.
de de
atletas
dados
Futebol
realizados em 2016, sobre o salário dos
da (CBF)
jogadores de futebol registrados em clubes brasileiros, cerca de 4% ganham mais de cinco mil reais, enquanto aproximadamente 82% ganham até mil reais. Uma realidade pouca mostrada pela mídia, e de pouco conhecimento da população, mas reflete a real vida de um atleta futebolístico no país. Por
isso
que
muitos
jogadores
preferem
disputar jogos de várzea do que disputar jogos profissionais para ganhar pouco mais de um salário-mínimo. Segundo relatos de jogadores de várzea, dependendo do campeonato a ser disputado pode-se ganhar até 400 reais em uma partida, ou seja, dá para se tirar uma renda extra ou até viver desses jogos. Os campeonatos de várzeas na atualidade estão
muito
valorizados,
com
grandes
premiações. Fazendo com que elevem o nível dessas competições. Fazendo um levantamento dos
times
campeões
das
principais
competições, os times chegam a gastar mais de 6 mil reais por jogos, pois além dos “bichos” dos jogadores,
há
o
custo
de
transporte,
alimentação, entre outros. Parece organização de futebol profissional.
apenas com jogadores de bairro, é necessário investimento para conseguir um título de relevância, e isso se deve às altas premiações, como a Copa Pioneer, principal torneio de várzea em São Paulo que premiará o campeão de 2022 com 80 mil reais. Portanto há muita dos
dias
de
hoje,
foi
necessário
muito
investimento. Por exemplo um dos campos sede, a Arena Santa
Amélia,
foi
realizada
uma
grande
restauração para que tivesse condições de jogo, houve construção de arquibancadas, reformas de gramados e reforma de infraestrutura, o estádio virou uma verdadeira arena na periferia. E conforme Sérgio, o objetivo não era só se ter um grande torneio no extremo sul de São Paulo, mas
também
trazer
melhorias
para
sua
comunidade. Fazer com que a população em volta utilize o espaço. E pelo jeito ele conseguiu, pois apesar das duas primeiras edições terem trazido prejuízos para os organizadores, hoje o torneio conta com equipes de toda região metropolitana de São Paulo, duas sedes extremamente bem cuidadas na periferia e parcerias com grandes empresas do mercado nacional. Além das premiações, os campeonatos de várzea são uma ótima oportunidade para os jogadores que “passaram da idade” atingir a carreira de sucesso, pois estão mais em alta do que torneios
Atualmente não se fazem mais times campeões
rotatividade
dos
jogadores
nas
equipes
varzeanas, pelos altos cachês para se jogar uma partida de um grande campeonato. Há atletas que disputam até 6 jogos num fim de semana por times diferentes.
de divisões inferiores profissionais. Eles são mais divulgados
pela
mídia,
além
da
grande
variedade. Há alguns casos de jogadores oriundos dos campeonatos de várzea que pularam o caminho tradicional da formação de um jogador nas categorias de base e despontaram nos principais gramados brasileiros, como o Bruno Henrique, que após se destacar em um torneio amador de Minas Gerais, foi contratado pelo Cruzeiro aos 21 anos e hoje é um dos principais atletas do do Campeonato
Brasileiro,
mostrando
que
possível chegar ao profissional através da várzea.
Para explicar um pouco da grande valorização destes
torneios,
têm-se
é
a
Copa
Pioneer.
Segundo Sérgio Pioneer, fundador do torneio em 2016, para que a copa chegasse ao status
21
22
A ORIGEM CRÔNICA
Por André Mota Há não muito tempo, assistindo a uma partida
Curioso como sou, busquei a fundo as origens
entre Flamengo e Palmeiras pelo campeonato
dos principais e mais vitoriosos jogadores da
brasileiro de futebol, em mais uma rotineira
história do futebol brasileiro e percebi que a
conversa com meu avô sobre o esporte bretão,
enorme parte deles tinham origens similares:
o velhão me disse: "Garoto, o futebol está
nasceram
ficando muito distante de sua essência, sinto
jogando futebol nas ruas e em campos de terra
saudades da época em que o futebol brasileiro
e foram extremamente habilidosos em suas
era jogado de forma pura e alegre, de forma
carreiras profissionais. Essa era a realidade da
pouco
eram
maioria dos jogadores que trouxeram as tão
formados no futebol de rua, jogavam em
aclamadas 5 copas do mundo que fazem o
campos esburacados de terra e em cada time
Brasil ser chamado de "país do futebol". Mais
havia pelo menos um craque." Inicialmente eu
uma vez me questionei se essas origens
questionei — diretamente e mentalmente — se
formaram a tal essência do futebol brasileiro
essa indignação realmente fazia sentido, pois
que tanto se falava.
mecanizada.
Os
jogadores
em
lugares
pobres,
cresceram
quem viveu os anos mais vitoriosos do futebol brasileiro tende a ser apegado ao passado e a
Tempos depois fui perguntar ao meu avô quais
proteger o que o emocionou em sua juventude,
as diferenças ele enxergava entre o futebol
e aquele saudosismo todo que já estamos
praticado hoje e o futebol praticado até os anos
acostumados. Com o tempo, fui notando que
90, e ele me respondeu com as seguintes
esse sentimento não era exclusivo do meu avô e
palavras: "meu filho, é simples: antigamente os
que, na verdade, era muito mais comum do que
craques tinham a mesma liberdade que tinham
eu
pessoas
quando jogavam nas ruas, a criatividade guiava
compartilham de uma ideia, há pelo menos
o corpo e magia acontecia. Era intuitivo. Hoje
duas alternativas: é delírio coletivo ou é
parece que os jogadores são robôs e repetem as
realmente algo com algum fundo de nexo.
mesmas jogadas que o treinador orienta."
pensava.
Quando
muitas
23
Meu avô era um grande sociólogo, interpretava a sociedade e os fenômenos que acercam o comportamento humano como ninguém. Ele transparecia sua indignação de forma tão limpa como quando lidava com pessoas. Eu percebia que ele realmente sentia isso que foi contado de maneira legítima. Passaram-se
meses
e
essa
ideia
ficou
martelando as paredes da minha cabeça. Continuei refletindo muito se o Brasil realmente deixou de ser o país dominante que foi até os anos 90 porque o futebol de rua e os campos de várzea não são mais presentes na formação desses jogadores. Pesquisando sobre o assunto, descubro que os principais campeonatos juvenis disputados na França — principalmente em Paris — possuem enorme visibilidade no continente europei. Alguns desses campeonatos são disputados nos subúrbios da capital francesa, de onde saíram muitos dos principais jogadores da seleção francesa,
campeão
considerada
mundial
amplamente
em
como
2018 a
e
melhor
seleção do mundo. Como se a França fosse hoje o que o Brasil foi no passado Chegando nessa conclusão acerca do futebol francês, fui conversar com meu avô e ele disse exatamente o que constatei no parágrafo anterior: "a França ganhou a última Copa do Mundo
porque
possuem
muitos
craques
amontoados, eles jogam de forma intuitiva. É a seleção que mais lembra os tempos áureos do futebol brasileiro." Era uma confirmação de que o velho sabia — nem que seja um pouco — do que estava falando. Talvez o futuro do futebol profissional no Brasil dependa de certo ato: o resgate às origens do futebol de rua.
24
VOLEIBOL NA CIDADE MUNICIPIO DE BARUERI DEMOCRATIZA A MODALIDADE
Por Glória dos Santos O vôlei é um esporte que vem se popularizando
difundidas com tanta visibilidade como as
desde o início dos anos 2000 quando as aulas
demais categorias, é imprescindível que haja o
de Educação Física brasileiras passaram a
conhecimento de que os atletas iniciam suas
possuir um maior domínio de conhecimento
carreiras muito jovens para desenvolver suas
sobre as ferramentas para ampliar a difusão do
habilidades e talentos dentro de um nicho, e
voleibol na sociedade. A busca por praticar uma
que em grande parte contam com auxílios
modalidade
mínimos
nasce
ou
é
inserida,
na
jornada
de
virem
a
ser
principalmente no infantojuvenil, época escolar
reconhecidos como profissionais no esporte,
entre o PEB I e PEB II, e nessa questão, em
seja no futebol, atletismo, natação, basquete ou
especial,
vôlei.
a
maneira
como
as
escolas
e
municípios abraçam seus talentos e futuros atletas, lutando pela causa de ascensão no
De acordo com Adroaldo, na categoria feminina
esporte.
do vôlei, a menina é inserida a partir dos 11 anos na realidade competitiva dentro da primeira
Estabelecendo como parâmetro na região
categoria
Metropolitana de São Paulo, a cidade de
selecionar muito bem. Em Barueri, a peneira
Barueri desenvolve há mais de 20 anos um
começa com os professores de Educação Física
trabalho com a base do vôlei feminino do
nas escolas dentro das salas de aula onde
município. Adroaldo Sousa que atua com o
busca-se
voleibol há 30 anos, concursado há 23 anos na
compatibilizam
prefeitura, hoje coordenando a modalidade de
desenvolvimento e crescimento no processo e
Vôlei
Sub-15
claro, o interesse em participar do esporte.
feminino, explica que não existe equipe adulta
Essas seleções chegam a reunir em média 400
sem um bom desenvolvimento de base.
meninas que se encaixam no biotipo desejado
em
Barueri
e
auxiliando
o
da
os
federação,
biotipos em
e
é
primordial
potenciais
altura,
idade
que para
e, após, passam a ser avaliadas por capacidades Por mais que as bases esportivas não sejam
técnicas demonstradas nos ginásios.
25
“Desde o princípio o objetivo é que aquela
prática do esporte é primordial para formar a
menina seja uma jogadora de voleibol. Todas
atleta. Como trata-se das equipes de base,
são? Não! Mas aí vem a outra parte do projeto,
conclui-se que o município é o órgão que deve
aquelas que não são jogadoras, são inseridas
promover o acesso a tais práticas.
dentro de um processo que vai ajudá-las muito na vida. Muitas conseguem bolsas de estudo,
Questionado sobre a necessidade da influência
porque o voleibol não tem só um caminho, só
do município na ascensão de meninos e
um período... ele tem vários.” Conta Adroaldo,
meninas no esporte, Adroaldo manifestou que
enfatizando que em novembro do ano passado,
é fundamental. “Sem esse empenho do poder
foi realizado um levantamento e que 22
público você não tem nada disso, você precisa
meninas iniciadas em Barueri de 2012 a 2022
de uma condição para poder trabalhar. Não
estão em Universidades Norte Americanas com
basta ter pessoas abnegadas a fazer um
bolsas de estudo através do Vôlei. Além dessas,
trabalho, precisa de investimento. E isso foi
há também uma infinidade de garotas que
uma das coisas que me trouxe pra cá (Barueri).”
foram jogar em clubes europeus e muitas
E por que o investimento das bases advém do
outras jogando na superliga como atletas
poder público e não é patrocinado pelas
profissionais.
grandes exemplo?
É
importante
como
como
Nas
palavras
na de
superliga, Adroaldo,
por as
essas
empresas ou o mundo privado não tem como
oportunidades transformaram a realidade de
investir na base, porque é o processo contrário
meninas que, através do esporte alcançaram
do alto rendimento, a visibilidade é muito
não apenas vivências únicas de forma social,
pequena se comparada. As propagandas são
como
boa
essenciais, pois, o marketing é fundamental.
remuneração, em casos de atletas profissionais,
Quem acompanha a base são os pais, amigos e
que passaram a poder ajudar suas famílias.
familiares, escolas... que estão inseridos em um
Quando salientamos que por mais que exista o
universo muito menor.
também
demonstrar
marcas
conquistaram
uma
amor pelo esporte, mas que a remuneração não deixa de ser fundamental no exercício de
Mas dentro de tantos universos, é importante
qualquer função, lembramos da ligação direta
ressaltar a imagem da menina que está inserida
que há entre a motivação do profissional e no
no esporte. Falando sobre o vôlei, na quadra
caso dos atletas, na qualidade em que irão se
não é apenas desenvolvido um talento e suas
desenvolver.
técnicas, também se trabalha a autoestima de uma mulher quando refletimos que a altura é
A rotina de um esportista envolve diversos
um fator determinante para manter-se no
aspectos que requerem uma atenção em
esporte e, inúmeras vezes este é o motivo de
relação à saúde física, mental, adequação ao
certa vergonha entre as meninas durante os
esporte, entre outros. Pensando em como essas
anos escolares. Adroaldo conta que no primeiro
meninas irão desenvolver o fortalecimento
contato com as meninas mais altas nas escolas,
através da musculação, de consultas com
elas são, por muitas vezes, as que não gostam
nutricionistas, lidar com pressões externas e
de educação física, que sentem vergonha de
internas
seus corpos por sofrerem bullying devido à
em
acompanhamentos
com
psicólogos e possuírem o traje correto para a
altura... E a partir do momento em que são inseridas no universo esportivo, passam a se
26
impor
de
uma
maneira
física
em
que,
anteriormente andavam curvadas e após o vôlei, erguem a cabeça ao caminhar nos lugares. O investimento esportivo é nada mais e muito mais que investir em sonhos, sonhos de alguém que nem sabe o que sonhar ainda. É construir uma sociedade baseada no esforço multo, no dividir e ajudar o próximo todos os dias. É desvendar uma nova personalidade dentro de uma mesma pessoa que passa a se enxergar com olhos mais amáveis. O esporte desperta um comportamento sensitivo ao trabalho em equipe e os municípios como Barueri, que investem
nos
seus
atletas,
promovem
o
primeiro passo em garantir a coletividade municipal, para que adiante esses esportistas, jogadores que obtiveram o alcance de uma carreira profissional, unam municípios, estados e países em busca de um feito ainda maior. Formar atletas é também capacitar seres humanos e isso, é um dever de todos.
27
OPINIÃO No mundo esportivo existe também um reflexo da sociedade machista que é difundido de diversas maneiras: nas diferenças salariais dos gêneros, nas baixas coberturas de mídia de jogos femininos e em milhares de outros aspectos provenientes da falta de investimento e patrocínio. Não encorajamos nossas meninas aos esportes e acreditamos que são frágeis demais para certos tipos de competição, criando assim, um abismo enorme entre os sonhos de inúmeras garotas e a possibilidade de realização e reconhecimento. Mas existem as mulheres determinadas a provarem seu valor no esporte e, uma vez que o fazem, permanecem no encalço de homens que ocupam os mesmos cargos e funções. Seja no futebol, no basquete ou no tênis, assim como demais esportes, as mulheres que por inúmeras vezes ressignificaram modalidades e quebraram recordes e barreiras, são deixadas de lado. Segundo a revista Forbes de 2022, apenas duas mulheres estão entre os cem atletas mais bem pagos: Naomi Osaka – ganhando US$ 58 milhões (R$ 287 milhões) e Serena Willians – com US$ 45,3 milhões (R$ 224,6 milhões), ambas tenistas. Já o atleta mais bem pago é Roger Federer – faturando cerca de US$ 90 milhões (R$ 477 milhões), também tenista. Os grandes veículos apontam diferenças salariais exorbitantes em partes por conta da exposição midiática que é menor nos jogos femininos, fazendo com que assim, as grandes marcam se inclinem a investir no marketing masculino. Todavia, a falta de promoção do esporte feminino gera pouco conhecimento e consequentemente, menos interesse nas ligas femininas. É controverso analisar que no basquete, a liga profissional masculina da NBA recebe 66 vezes mais que a média salarial feminina da WNBA apenas por meras questões de publicidade e propaganda. Analisar a situação em que o machismo reprime a ascendência feminina no esporte é verificar como a imposição de uma imagem retrógrada associada às mulheres causa agressiva diferença salarial, de direitos e fere o orgulho de inúmeras mulheres dedicadas às suas carreiras no segmento esportivo. Devemos lembrar que o exercício de função é o mesmo e o desempenho pode chegar a ser superior em diversos casos, fazendo com que assim, a fragilidade de uma mulher não seja justificativa para um menor salário ou reconhecimento, contestando também a promoção de suas respectivas imagens. Atualmente há algumas iniciativas para que essa distinção salarial acabe, como por exemplo, as seleções de futebol feminina e masculina dos EUA, que passarão a ter igualdade salarial, recebendo pagamentos e bônus iguais. A equipe feminina não terá mais salários fixos e irá receber por partidas, o mesmo sistema adotado pelo masculino. Dessa maneira, a federação Norte-Americana tornou-se a primeira do mundo a igualar a premiação da Copa do Mundo da FIFA em acordos que irão perdurar até 2028.
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SEGUNDA DIVISÃO
2ª/