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Histórias olímpicas
from Segunda Divisão
by hns2020
D E V I L A V E L H A A O M U N D I A L E M C A L I
Por Vitória Goes e Laura Lima
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Se você acompanha reality shows, com certeza sabe quem é Paulo André Camilo, mais conhecido como PA, o semifinalista dos dos 100m rasos nas Olimpíadas de Tóquio chegou à final da competição não-esportiva mais assistida do Brasil, o BBB. Portanto, a participação do velocista de 23 anos foi essencial para a visibilidade do atletismo no nosso país, um esporte que possui 24 categorias olímpicas porém, ausente dos holofotes.
Nesse contexto, as primeiras provas da modalidade datam de 776 a.C., na Grécia antiga. Porém, o atletismo como conhecemos hoje apareceu oficialmente no final do século XIX, e era praticado nos países da Europa e nos Estados Unidos. O atletismo moderno ganhou popularidade e foi propagado no mundo todo a partir de 1900, ganhando ainda mais visibilidade a partir de 1912, ano em que a Federação Internacional do Atletismo (IAAF) foi criada. No Brasil, a prática foi consolidada nas três primeiras décadas do século XX. Posto isso, há mais milhares de jovens promissores na modalidade em questão. Assim como Thamer Avillar, o velocista de 17 anos se encaixa no clássico jargão associado aos jovens no Brasil "o futuro da nação" . O jovem está classificado para o Campeonato Mundial de Atletismo Sub-20 de 2022, que será realizado em Cali, na Colômbia. A proximidade de Thamer com Paulo André vai além de serem velocistas. Ambos começaram a correr no mesmo projeto social, com o mesmo professor, Carlos José Camilo, pai de Paulo André. Após Paulo André engatar nas competições e passar a ocupar pódios ele e o pai fundaram a Associação Paulo André, onde Thamer treina. O projeto ajuda jovens da região a ingressarem no atletismo. “Tem muitos diamantes a serem lapidados aqui. Eles brilham mais a cada treino” , diz Camilo.
Aos 12 anos, Thamer deu sua primeira largada em um projeto social promovido pela prefeitura municipal de Vila Velha, mal contava que a vida nas pistas se tornaria sua própria profissão. "Minha vida inteira sempre fiz muitos esportes, já fiz basicamente tudo: futsal, vôlei, basquete, handebol. Quando comecei não era bem um clube, era uma associação, pequena, que tinha em uma
Em uma escola que eu estudava e um amigo meu que também treinava. Aí ele me chamou para treinar e eu fui. O meu técnico Camilo, que é o pai do Paulo André, dava aula lá nessa época. No começo não era algo que eu queria, como um trabalho. Eu treinava um dia, no outro não, mas depois fui pegando mais gosto e fui treinando. Até que eu fui competir pela primeira vez, em 2018, fui para o meu primeiro estadual e fiquei em terceiro lugar dos 100 metros” relatou Thamer sobre o ponta pé inicial da sua carreira.
No entanto, ele se deparou com o obstáculo mais comum na vida dos atletas brasileiros. “O começo é muito difícil para aprender e a falta de patrocínio, faz muita falta. Porque no Brasil, eles querem te patrocinar quando você já está na seleção, essas coisas” , ele ainda completou. ” As coisas mais difíceis pra gente conseguir são roupas e materiais de treino. É muito dinheiro que você tem que tirar do bolso, e meus pais sempre me ajudaram, com passagens e afins. Meu maior investimento são eles e meu técnico” . Com isso, por conta da ausência de investimentos por parte das empresas privadas, os principais patrocinadores são fundamentais para os atletas ainda em formação, são programas do governo federal como a Lei das Loterias, destinada a recursos de loterias para esportes paralímpicos. Bolsa Atleta, envio de verba para os atletas que não possuem patrocínio. Lei de Incentivo ao Esporte, permite que empresas e pessoas físicas invistam parte do que pagariam de Imposto de Renda em projetos esportivos aprovados pela Secretaria Especial do Esporte do Ministério da Cidadania.
Sendo assim, além das dificuldades já vistas o menino capixaba ainda precisa juntar a rotina de treinos em Vitória, cidade vizinha de Vila Velha, com os estudos. ”Eu ainda estou no ensino médio, no terceiro ano. Estudo até 12:20, aí 14h eu já saio de casa pra ir pro treino. Depois chego em casa umas 19h. Conciliar a vida do atletismo com a escola é muito difícil, principalmente esse ano porque tem ENEM, fica tudo muito sugante pra gente. Porque, pra mim minha profissão principal é ser atleta, mas como tenho que terminar o ensino médio, preciso cumprir com isso” .
Logo no início, após ganhar medalha de bronze no estadual em 2018, Thamer engatou nas competições e foi ganhando cada vez mais medalha, as quais ficam agrupadas na parede de seu quarto. “Em 2020, foi a primeira vez que eu medalhei em um Campeonato Brasileiro Sub-18, que é uma competição muito grande, acho que é uma das maiores competições da América do Sul. Eu competi e fiquei em terceiro lugar pela primeira vez. Depois disso, eu fui em 2021 e eu fui no sub20 e eu acabei ficando na quinta colocação, mas não era minha categoria, eu competi uma categoria acima só para melhorar a minha marca. Eu competi na categoria de cima, melhorei minha marca e com ela eu consegui fazer o índice, o tempo para ir para o Mundial Sul-Americano, essas competições da seleção brasileira. Então eu fui convocado para o Sul-Americano, que foi no Paraguai, e aí lá a gente foi campeão do revezamento 4x100m e foi muito bom. Depois desta vez, que a minha carreira engrenou” .
Com a agenda cheia, Thamer disputou o Campeonato Brasileiro Loterias Caixa Sub-20 de Atletismo, onde conquistou a marca para o Mundial de Atletismo Sub-20 de 2022 e para o Pan-Americano Sub-20 de Atletismo, que acontece em junho, no Rio de Janeiro. O garoto demonstrou estar contente com os resultados “Ainda tenho 17 anos, então é muito bom estar me destacando nas categorias acima” .
Diante de toda a evolução do jovem teve ao longo dos anos, ele contou qual foi sua medalha mais especial. “A que me marcou foi a minha primeira medalha no Brasileiro Sub-18 em 2020, depois disso que fez eu alavancar. Essa medalha faz eu pensar que depois disso que tudo começou, ela tem mais importância para mim” .
Em momentos de lazer, o atleta aproveita o tempo livre merecido para cuidar de si e fazer o que gosta. “Quando eu pego um fim de semana ou feriado eu falo ‘agora eu quero dar um tempo pra mim’ . Aí eu vou na praia, saio com meus amigos, descanso. Eu amo viajar. Outra coisa que eu gosto é de comprar, aí eu gasto comigo mesmo, saio um pouco da dieta. Nessa hora eu mereço” .
Tendo em vista, a rotina extremamente disciplinada e competições carregadas de pressão em cima de um atleta. É válido ressaltar a importância de discutir a saúde mental deles. Na última Olimpíada, em Tóquio, Simone Biles e Naomi Osaka protagonizaram as discussões sobre o assunto. A ginasta e a tenista se tornaram referência ao normalizarem a desistência nas competições para cuidarem da própria saúde mental. Os esportistas estão suscetíveis a incômodos psicológicos. Por isso, é importante ressaltar que a preparação mental dos atletas é primordial para a atuação destes nas competições. “O atleta não pode estar mal psicologicamente porque isso afeta bastante na pista. Eu acho que o psicológico as vezes conta mais do que sua performance física. O atleta pode estar treinado, mas não está bem psicologicamente e não vai bem. Uma vez eu fui competir num Brasileiro Sub-20, tinha acontecido algumas coisas, eu não estava muito bem e eu acabei correndo muito mal. Isso me deixou pior ainda. As vezes não escuta o tiro e queima a prova, ou não corre bem mesmo. Não tem como que a gente não ficar nervoso. Mas o nervosismo acaba atrapalhado bastante se você estiver na pista” , disse Thamer.
Diante de tanto talento e carisma, o atleta responde quem ele tem como inspiração, e é claro que o maior velocista de todos os tempos não ficou de fora, Usain Bolt. Mas o jamaicano teve que dividir o pódio com o nosso brasileiro e colega de treino do Thamer. “Meu ídolo é o Bolt, não tem como, e o Paulo André. Ele sempre foi uma inspiração pra mim. Como eu via ele treinando comigo e depois sendo campeão mundial. Eu falava ‘quero ser assim também’ . Isso é muito do atleta, quando você almeja, te faz querer treinar mais ainda” , destaca o jovem promissor para o futuro do Brasil. Esperamos por Paris 2026 e mais!