Jornal UAM-2021/2

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Universidade Anhembi Morumbi

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Ano 2021/ Número 08

Jornal produzido por alunos do sexto semestre do curso de Jornalismo da Universidade Anhembi Morumbi.

Cracolândia sem fim

Em meio a diferenças políticas públicas, o crack ainda sobrevive na maior capital da América Latina.

Mais famílias se encontram em situação de rua e longe dos albergues

Hoje o município conta com 373 obras e 115 são dedicadas aos homens

Precariedade, roubos e falta de investimento marcam a situação da educação pública



Cenas urbanas Com mais de 12 milhões de habitantes, a capital paulista vive rotineiramente a diversidade sociocultural, o que a torna uma rica fonte de histórias. Em cada esquina reserva surpresas àqueles dispostos a investigar a cidade mais populosa do País. Observadores atentos deparam-se com um cotidiano singular capaz de provocar inquietação aos olhares de curiosos futuros jornalistas. A partir da proposta de explorar e investigar o que acontece nas diferentes regiões da cidade que abriga cidadãos de variadas origens, culturas e classes sociais, alunos do curso de Jornalismo da Anhembi Morumbi foram em busca de acontecimentos e fontes de informação. Uma experiência que aliou aprendizado do fazer jornalístico e contato com o desconhecido.

Como resultado desse trabalho, temos a edição deste jornal laboratório que, além de proporcionar vivência inicial à rotina desafiadora da profissão de jornalista, traz um breve relato da vida paulistana. Da pesquisa à edição gráfica, passando pelos processos de reportagem, redação e edição, os alunos vivenciaram os percalços e prazeres da prática jornalística. As editorias são compostas por reportagens que buscam narrar o perfil de onde vivem aqueles que enfrentam as carências próprias de uma grande cidade e, ao mesmo tempo, desfrutam de peculiaridades originadas e mantidas por cidadãos comprometidos com o bem-estar da “casa” onde moram. Boa leitura! Profa. Ms. Maria Cristina Brito Barbosa

///Expediente Coordenadora do curso de Jornalismo Prof. Bernardo Santos Professoras responsáveis pelo jornal Prof.ª Maria Cristina Barbosa Prof.ª Helen Suzuki Design e fotografia Prof. Helen Suzuki Universidade Anhembi Morumbi



História Thais Grasnoff e Vitor Kadooka. Cidades Ana Cláudia Sandoval e Giovana Lino. Política e comportamento Henrique Ferreira, Eliezer Santana e Lucas Schroeder. Economia Thiago Zulzke e Bianca Burin. Educação Gabriel Umetsu Ferreira.

e

Gustavo

Saúde Arthur Popescu, Gustavo Silva, Rafael Miera e William Santos. Lazer Amanda Jacinto, Luiza Pires, Bárbara Martins e Rafaella Bertolini. Cultura Marcos Vinícius dos Santos.

‘’É incrível podermos exercitar o jornalismo dessa forma, com a mão na massa. A pandemia trouxe grandes mudanças, mas nos esforçamos para acompanhar a dinâmica da sociedade. Foi sensacional!’’. - Ana Cláudia Sandoval Durante esses 6 meses a produção do mesmo foi um desafio, ir atrás das fontes, escrever a matéria e encaixar os pontos, mas o final apesar de todo o sufoco, foi gratificante e me sinto mais preparada para a minha profissão! Agradeço também a professora Cris e Helen, por todo suporte, apoio e ensinamento!. -Bianca Burin “Foi desafiador correr atrás dos entrevistados, tirar foto dos locais onde usuários da Cracolândia convivem e montar o jornal em si. A gente estuda e acaba aprendo através dos fatos a história”. -Eliezer Santana


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Arte pública prioriza os homens Hoje o município conta com 10 monumentos que homenageiam mulheres e 115 dedicados aos homens

Monumento à Mãe Preta no Largo do Paissandú

Reprodução: Thaís Grasnoff e Vitor Kadooka

por Thaís Grasnoff e Vitor Kadooka São Paulo reúne mais de 373 obras expostas pela cidade, sendo 10 em homenagem a mulheres, representando 2,68% do total, enquanto 30,83% homenageiam personalidades masculinas, com 115 obras. Enquanto homens são retratados por suas profissões ou feitos “heróicos”, as mulheres simbolizam deusas e outras divindades, na cidade temos como exemplo

as esculturas Mãe Negra e a Nossa Senhora de Fátima. “Por muito tempo a arte era feita por homens, então os homens colocavam as mulheres no papel que eles queriam”, comenta Lívia Dalprá, professora de Arte, Cultura e Estética. A objetificação da mulher é um debate sobre um período específico, quando estátuas de bronze eram valorizadas, a maior parte

criada no século XIX. Entretanto, nos dias atuais, o cenário artístico sofreu mudanças e a representação feminina pode ter outro olhar “Quando pegamos o contemporâneo, começamos a ter uma representação melhor, ou às vezes não tem uma representação propriamente dita, quando pensamos em Lygia Clark, ela representa o corpo feminino ou não, conseguimos


///história

MONUMENTOS CONTROVERSOS

É uma questão muito complexa e não existe uma via só. O espaço público é um espaço de debate.

- Renata Baltar ter novas formas de se expressar e com isso, diminuímos um pouco o gap de categorizar estritamente mulheres como divindades mais sexualizadas”, aponta Lívia. E QUEM SÃO AS MULHERES HOMENAGEADAS? De acordo com o Departamento do Patrimônio Histórico, São Paulo conta com tributos para personalidades masculinas desde o início do século XX, enquanto o primeiro monumento a uma mulher foi inaugurado em 1977, em homenagem à pianista Antonieta Rudge. Desde então, mais sete mulheres foram representadas: Carolina Ribeiro, em 1982; Carlota Queiroz, em 1985; Cora Coralina, em 1989; Elizabeth Lobo, em 1991; Maria Esther Bueno com duas esculturas, feitas por volta de 1998, em locais distintos; em 2004, Lúcia Maria Moraes Ribeiro Mendonça; e Michie Akama, em 2014. Assim como são pouco representadas, também contamos com a falta de artistas femininas, apenas 39 do total de obras foram feitas por mulheres. Indevidamente, devido ao histórico social, as mulheres possuem um longo caminho para o reconhecimento igualitário “Dentro de uma discussão profissional, um homem não teve credibilidade em mim, não concordou com o que falei, e logo quando chegou um parceiro meu falando a mesma coisa, esse mesmo cidadão concordou na hora”, contou a artista plástica Beatriz Navarro, sobre a sua experiência profissional.

A falta de representatividade na arte pública foi pauta depois que um grupo de ativistas incendiaram a estátua do Borba Gato em julho, que representa um bandeirante associado à escravização de pessoas indígenas e negras, levantando o debate sobre a retirada de esculturas construídas para homenagear indivíduos com um passado polêmico. A historiadora Renata Baltar, consultora na UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), conta ao ser questionada acerca disto: “É uma questão muito complexa e não existe uma via só. O espaço público é um espaço de debate. O Borba Gato representa, para um determi-

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nado grupo de pessoas, uma memória associada com escravidão”. No momento, a cidade conta com o projeto de lei n° 47/2021 apresentado pela vereadora Luana Alves (PSOL), que tem como finalidade a substituição de obras e outras homenagens que fazem referências a escravocratas por monumentos de personalidades negras e indígenas. Por enquanto, a prefeitura prevê instalar mais dois monumentos que representam mulheres negras. A primeira é Carolina de Jesus, no Parque Linear Parelheiros, e a segunda é a madrinha Eunice, na Praça da Liberdade. A construção dessas obras teve início em setembro e possui previsão de durar seis meses.

Estátua do Borba Gato incendiada no bairro de Santo Amaro Reprodução: Correio24Horas


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População de rua cresce em SP Com a pandemia, mais famílias se encontram em situação de rua e preferem não frequentar os centros de acolhimento, conhecidos pela insalubridade e alta lotação

Mais famílias se encontram expostas no ano de 2021. Reprodução: Gabi di Bella - Nacional Geographic

por Giovana Lino e Ana Cláudia Sandoval

A pandemia do Covid-19 e a alta do custo de vida agravaram a crise humanitária já existente em São Paulo, forçando uma série de famílias a migrarem para as ruas da cidade. Os centros públicos de acolhida hoje estão lotados, sem divisão entre doentes e sadios e mantendo políticas exclusivas e impróprias. Por estas razões, os cidadãos preferem cada vez mais continuarem nas ruas ao invés de buscar o apoio dos chamados ‘’albergues’’. A assistente social Leni de Oliveira, que atua há 10 anos em centros de acolhimento, conta que o dia-a-dia tem se tornado cada vez mais difícil: ‘’Precisamos nos concentrar

em cuidar dessa população, mas muitos não querem ir para o abrigo pelas condições em que eles se encontram. Muitos estão sujos e impedem o morador de rua de ir e vir, de sair na hora que quer, de ser livre. É muito complicado’’. Ela conta que entende as vontades dos moradores, mas que tenta ajudar da maneira que pode, explicando que em dias frios, por exemplo, o risco de morrer na rua é enorme. ‘’Eu tento falar pra eles que, apesar dos problemas, o abrigo ainda é a melhor opção, especialmente no inverno. Mas muitas vezes eles nem encontram vaga disponível, ou, se encontram, não conseguem chegar até o local”, ela expõe. De acordo com dados fornecidos

pela Secretaria Municipal de Assistência Social, o atendimento total cresceu em 70% em um ano. Em média, no mês de maio de 2020, aproximadamente 204 pessoas por dia eram atendidas nos Centros de Acolhimento Especial (CAEs). No mesmo período, no ano de 2021, o número saltou para 348 adultos e crianças. Ao todo, existem 54 abrigos na cidade de São Paulo, e a maioria está localizada entre as zonas norte e leste, com apenas um abrigo central, na região da Sé, apesar da secretaria afirmar que estes albergues se instalam em regiões de maior vulnerabilidade. A contagem de pessoas que se encontram em situação de rua atingiu os 25 mil, em levantamento realizado através dos dados


///cidades disponibilizados no último censo. O professor de geografia Diogo Jordão, que leciona em escolas públicas de Campos dos Goytacazes, no Rio de Janeiro, baseou sua pesquisa de mestrado nos principais motivos pelos quais as pessoas em situação de rua decidem não ocupar os abrigos. Entre eles, estão a falta de autonomia, que muitas vezes impede o morador de exercer aspectos básicos da própria vida sozinho, como comer, dormir e tomar banho, coisas que fazia livremente em qualquer horário desejado. Há um controle e punição para atrasos e outros comportamentos, que podem levar à suspensão ou expulsão do cidadão. Outro motivo relevante é a dependência química, que por não ser permitida dentro das instituições, afasta usuários de drogas, cidadãos especialmente comuns na região da Cracolândia. Insalubridade, sujeira, falta de segurança e de privacidade também são frequentemente razões para não frequentarem ou não permanecerem nos albergues.

‘’Principalmente os chamados albergues, que hoje são centro de acolhida, não preservam a autonomia das pessoas. São programas de tutelas. O que o poder público pode fazer é instaurar a proteção social e a renda básica para a população empobrecida’’ - Júlio Lancellotti

Padre Júlio, exausto após horas de atendimento. Reprodução: Marcelo Renda.

Figura corriqueira pelas ruas de São Paulo, o padre Júlio Lancellotti passou os últimos anos dedicando a sua vida ao cuidado de pessoas em situação de rua. Especialmente na pandemia, ele viralizou na internet ao postar nas redes o seu dia-a-dia de luta contra a pobreza e de acolhimento aos necessitados. Rapidamente chamou a atenção também pelo apoio à comunidade LGBT+, algo visto como incomum por membros da Igreja Católica.

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‘’Precisamos nos concentrar em cuidar dessa população, mas muitos não querem ir para o abrigo pelas condições em que eles se encontram. Muitos estão sujos e impedem o morador de rua de ir e vir, de sair na hora que quer, de ser livre. É muito complicado’’ - Leni de Oliveira

Ele aponta que há um aumento nos grupos familiares que estão em situação de rua: ‘’Sem dúvidas, mulheres com crianças e famílias são as que mais acabam aparecendo’’. Ao ser questionado pela tese do professor Jordão, ele concorda, e ainda acrescenta o que o governo pode fazer a respeito. ‘’Principalmente os chamados albergues, que hoje são centro de acolhida, não preservam a autonomia das pessoas. São programas de tutelas. O que o poder público pode fazer é instaurar a proteção social e a renda básica para a população empobrecida’’, ele conta. Por fim, ele completa: ‘’A situação tende a piorar. A população de rua aumenta e vai continuar aumentando’’.

Padre Lancellotti abraça Cassiano, que vive nas ruas. Reprodução: El País.


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Cracolândia: um problema sem fim Há quase três décadas, o poder público tenta combater a epidemia de crack na cidade

Reprodução: Eliezer Santana

por Eliezer Santana e Lucas Schroeder A Cracolândia - uma das maiores cenas de uso aberto de crack do mundo, localizada na zona central de São Paulo - é um problema de saúde pública conhecido dos paulistanos. Em média 1.680 pessoas frequentam o local diariamente, sendo a maioria (70%) homens com idade média de 36 anos. Desde a década de 1990, o poder público tenta combater a epidemia de crack na cidade.

Eliana Borges, psicóloga e membro da Coordenadoria de Política Sobre Drogas do Estado de São Paulo (COED), ressalta que desde a implementação do programa ‘Recomeço’, em 2013, mais de 30 mil pessoas em situação de vulnerabilidade social já foram acolhidas em todo o estado de São Paulo, incluindo aquelas que vivem na Cracolândia. “Nós atuamos em conjunto com as secretarias de Saúde, Justiça e Segurança Pública”, afirma.

Uma das ações que Eliana mais se orgulha são as repúblicas para exusuários. “São casas com a lógica de uma república de estudantes, são residências onde eles ficam com as chaves, decidem o que vão comer,

”Eles invadiam bares e restaurantes. Em lojas, eles entravam de madrugada e roubavam tudo” - Diego Mendes, morador da região.


///política o que vão comprar, eles decidem tudo. O estado paga o aluguel e as despesas”, conclui. Para Ygor Alves, pesquisador nas áreas de Antropologia Urbana e Antropologia da Saúde, a Cracolândia pode ser entendida como “um pátio de cadeia, uma vez que quem manda ali é o crime’’. Ele afirma que antes do lançamento do programa ‘De braços abertos’ em 2014 - durante a gestão de Fernando Haddad (PT) - nunca houve de fato uma política pública voltada às pessoas que vivem na Cracolândia, e sim ações policiais repressivas que tinham como objetivo retirar os frequentadores do local à força. Entre os principais motivos que levam as pessoas a frequentar o local estão: disponibilidade da droga (31,2%), segurança de uso entre os pares (20,4%), preço (16,4%) e liberdade para uso (14,8%). Já para o vereador Eduardo Suplicy (PT), ex-secretário municipal de Direitos Humanos durante a gestão do também petista Fernando Haddad, é difícil definir o que a gestão pública vem fazendo para apoiar as pessoas em situação de vulnerabilidade social que vivem na região da Cracolândia: “Se você perguntar até mesmo para os vereadores da base aliada, eles não saberão dizer o que vem sendo feito”, diz Suplicy. Há décadas participando de ações na região, Suplicy ajudou na elaboração do programa ‘De

Fonte: UNIAD

Braços Abertos’, que se baseava na redução de danos. Entre os benefícios aos participantes estavam a garantia de trabalho em zeladoria e remuneração de R$ 15 diários, além de refeição e moradia em ho6téis da região. O vereador ainda classifica como “incorreta e desrespeitosa com os seres humanos” as operações policiais realizadas durante a gestão de João Doria (PSDB) na Prefeitura de São Paulo. Diego Mendes, que mora em um prédio residencial próximo ao ‘fluxo’ - como é conhecido o local onde os dependentes químicos se concentram - há dez anos conta que tanto ele quanto sua esposa já foram assaltados por usuários. “Eles

Reprodução: Eliezer Santana

09 invadiam bares e restaurantes. Em lojas, eles entravam de madrugada e roubavam tudo”, completa. Diego ainda afirma que apesar do policiamento na região, não se sente seguro para sair à noite. A solução para o fim da Cracolândia está em uma ação intersecretarial, aponta Ygor Alves. Segundo ele, a ideia é que as secretarias se juntem para que, a médio prazo, possam absorver as pessoas que já vivem lá aos poucos e que a localidade deixe de ser um ponto de atração, principalmente dos egressos das penitenciárias paulistas que veem a região como um lugar seguro para sobreviver após a saída da prisão, uma vez que não têm para onde ir.


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Com pandemia, academias criam programação online.

Com aulas online muito aceitas, como algumas das mais de 3000 academias em São Paulo estão criando uma tendência pós isolamento e as consequências disso.

Pessoas tiveram que comprar equipamentos para fazer os exercícios em casa. Foto por Henrique Ferreira.

por Henrique Ferreira O isolamento social foi uma fase da pandemia de COVID-19 em que as pessoas ficaram basicamente trancadas em suas casas sem poder fazer nada, quebrando suas rotinas e tendo as suas saúdes mentais

prejudicadas. Foi aí que algumas das mais de 3000 academias em São Paulo começaram a dar aulas online para retomar as atividades físicas de seus alunos. Agora, mais de um ano depois desse isolamento, com as próprias academias reabrindo, uma tendência foi criada e há pessoas

que continuam nas aulas online. Segundo dados da rede de academias Bodytech, houve um aumento de mais de 107% em 2021 de usuários em seu aplicativo BT Fit, onde alunos acompanham suas aulas online. Além disso, dados da academia também mostram que


///política e comportamento desde que as academias reabriram, o uso do aplicativo só caiu 30%, um número considerado baixo, e que mostra que a tendência é o futuro. Sobre as aulas online, ainda existem dúvidas quanto ao diferencial em relação às aulas presenciais, como se deve ser só um complemento das aulas presenciais ou uma aula completa. Conversando com o dono da academia Moema Fit, no bairro de Moema, em São Paulo, e professor de educação física, Daniel Siman, 43, conta que se os exercícios forem feitos de maneira comprometida, com uma rotina estável, é possível fazer uma sessão completa de exercícios online. Ele também diz que a adesão das pessoas para as aulas online foram surpreendentemente altas, com uma base de 25% dos alunos tendo ficado matriculados, principalmente por ser uma proposta nova. Na Moema Fit, quando você se matricula, você ganha as aulas virtuais também, e isso dá mais oportunidades para as pessoas trainarem em folgas ou em viagens. Entre os alunos da Moema Fit, essa prática é um sucesso e foi de grande ajuda no isolamento, como conta Nelson Santos, 45, “Ajudaram a manter o foco e motivação diária”, “Nunca perdi contato com os amigos e familiares”. Ele também fala que pretende continuar nas aulas online quando possível, além das físicas. Diz que hoje tem a mesma aula online e presencial em simultâneo, e quando não pode ir à academia, faz em casa. Isso exemplifica ainda mais a tendência de as aulas de academia acabarem por se tornar “híbridas”, e quando a pessoa não conseguir se locomover até a academia, simplesmente abrir seu computador com câmera ou notebook e encontrar seus professores e colegas de aula para poder assim praticar um exercício. Houve também os benefícios psicológicos que continuar com exercícios físicos no isolamento trouxe para as pessoas, o psicólogo Victor Mangabeira, 35, conta que atividades físicas tem a liberação de neurotransmissores e hormônios que reduzem níveis de ansiedade,

diretamente ligados ao isolamento social. Também diz que os mesmos benefícios auxiliam a qualidade do sono, apetite e atenção. “A manutenção da condição física visual melhora a sensação de cuidado consigo e autoestima”- afirma Victor. É importante frisar que ao fazer os exercícios em casa, cai sobre a pessoa uma responsabilidade maior, pois mesmo com o professor dando as instruções na aula, a pessoa pode fazer o exercício errado ou até se machucar. Os professores também tem maior esforço, aponta Daniel, pois o número de demonstrações e correções são muito maiores que nas aulas presenciais. Sobre ter lesões por fazer os exercícios errado, ele ainda fala que se o aluno obedecer ao professor, e o professor ser competente, os riscos são os mesmos do presencial, além de dizer que no online não abusam de exercícios de alta complexidade.

11 Para as aulas online, pessoas também tiveram que comprar equipamentos como tatames, rolos de movimento ou até fazer um upgrade em seu atual computador para a melhora nas chamadas de vídeo. No fim, o importante é sempre estar na ativa, sendo ao praticar uma atividade física, um exercício numa academia ou nas próprias aulas online de sua academia preferida. Para manter uma mente e corpo saudável, mesmo em épocas de crise como a pandemia, não há jeito melhor que mexer seu corpo de um jeito saudável e com isso esvaziar a cabeça e a manter no lugar. E mesmo com o início das aulas presenciais os alunos que só se conheciam virtualmente tiveram a oportunidade de se conhecerem presencialmente e aumentar seu ciclo de amizades, tornando a atividade física uma coisa mais prazerosa , além de mais motivação para manter saudável.

Aulas de academias online têm criado uma nova tendência. Foto por: Henrique Ferreira.


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Impacto da tecnologia na educação Precariedade, roubos e falta de investimento marcam a situação da educação pública. Entenda como o Investimento em tecnologia influencia na formação de estudantes

Reprodução: Professor utilizando televisores dentro da sala de aula.

por Gabriel Umetsu e Gustavo Ferreira Severino Honorato, professor e representante do sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo, trabalha há 25 anos na Escola Estadual Orlando Mendes, e pela primeira vez viu televisores instalados no local de ensino. “Não tenho mais que ficar reservando e disputando espaço da sala de vídeo com outros colegas. Minha escola nunca teve um laboratório. O governo tem

investido agora em tecnologia, até porque a pandemia levou a isso”, pontuou o educador. Por outro lado, o educador revela casos de escolas que simplesmente foram roubadas. “Quando a escola ia instalar o equipamento, os bandidos foram lá e roubaram tudo.” O avanço da tecnologia nas últimas décadas vêm impactando o sistema de ensino dentro das escolas, sendo que hoje as informações são compartilhadas com muito mais complexidade e velocidade em tablets, celulares e projetores do que

no simples giz e lousa. De acordo com Arthur Igreja, especialista em Tecnologia e inovação, é fundamental o uso desses novos aparelhos, pois o ensino pressupõe preparar as pessoas para a vida, sociedade e trabalho. E todas essas esferas se tornam cada vez mais tecnológicas na sociedade atual, então é importante que o ensino caminhe e evolua junto com isso. A questão que fica é se os alunos já estariam adaptados às tecnologias, caso sejam implementadas em toda rede de ensino, sabendo que a


///educação tecnologia está presente na vida dos jovens de hoje em dia, porém ainda não no âmbito educacional ‘’Nos não no âmbito educacional ‘’Nos jovens de hoje em dia, porém ainda não no âmbito educacional ‘’Nos deparamos com aquele quesito de que talvez estejam (os jovens) muito adaptados com tecnologia para games, consumo de conteúdos e redes sociais, mas não do ponto de vista educacional...’ ressalta Arthur. Ebit ipsunt prehendi ventibus, O especialista também comentou sobre o apoio da prefeitura para as escolas e como deveria ser feito nesse âmbito tecnológico. Ele concluiu que a prefeitura ajuda e foca nos equipamentos que são utilizados nas escolas municipais, e também na estrutura tecnológica de suprimento de banda e conectividade, ou seja, a internet. Mas completa dizendo que o software, parte técnica de como utilizar a tecnologia através de aplicativos e programas junto com as famílias é ainda mais importante do que apenas o hardware (parte física dos equipamentos). Dentro dessas limitações, a pandemia trouxe uma motivação a mais para que as escolas prestassem atenção neste fator da tecnologia, ‘’Após a pandemia a preocupação com a tecnologia passou a ser mais valorizada pelo setor público, antes o maior impeditivo era a burocracia, o que não diminuiu, mas teve uma nova forma de lidar com a pandemia, pela urgência e muitas vezes a única forma de manter o contato com o aluno e as famílias’’, relata a professora Lucy Ferreira que trabalha na Educação Infantil desde 1993 no ensino privado e no ensino público. Hoje, diretora do CEU EMEI Paraisopolis. Arthur, com sua experiência no âmbito educacional, enxerga a desigualdade entre escolas públicas e privadas muito atrelada às burocracias de investimento e à falta de verba ‘’Existe uma desigualdade sim, o investimento público é menor, seja por má aplicação de recurso, má gestão, lentidão, desvios e afins. Em uma escola particular para fazer novas aquisições, falamos

de poucas pessoas envolvidas e muita velocidade. Na esfera pública, a escola tem uma autonomia muito pequena e depende do que acontece na secretaria municipal, dependendo da verba anual, dos editais, das contratações, o que configura um ciclo longo’’. Lucy também opinou sobre o comparativo entre o investimento em tecnologia de escolas públicas e privadas ‘’Essa diferença entre

13 público e privado segue desigual a muito tempo e em todos os âmbitos, mas na educação me parece ser mais marcante, uma das razões desta diferença de investimento acontece pela burocracia da compra dos equipamentos com o dinheiro público que quando consegue o produto já está obsoleto’’ completou a educadora.

Reprodução: Professor Severino Honorato na Escola Reverendo Jacques


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Transição de carreira gera boom no empreendedorismo Jovens são os maiores investidores em novos negócios

Reprodução: Lojas de empreendedores ao lado do metrô Praça da Árvore (Foto por Thiago Zulzke Hawat)

por Bianca Burin e Thiago Zulzke Uma forte tendência no mercado é o empreendedorismo, mas quem teria a efetiva coragem de deixar a estabilidade de uma carreira para trás e começar a empreender. Ter sua própria empresa, controlar seus horários e seus lucros são ideias que motivam várias pessoas a trocarem a carteira de trabalho pelo CNPJ, porém um bom desempenho do empreendimento vai depender também do perfil do empreendedor. Segundo Felipe Chiconato, consultor do Sebrae-SP, hoje em

São Paulo, 83% das pessoas empreendem pensando em uma melhoria de vida, principalmente os jovens entre 18 e 34 anos, que em 2019, representavam 52% dos empreendedores em São Paulo. Pedro Moura, 32 anos, CEO e sócio da OMNI Brasil, que largou a estabilidade de uma carreira bemsucedida no Banco Genial para viver de um sonho maior, abriu sua própria empresa e se tornou dono do seu tempo. Assim como Márcio Rangel, 55 anos, ex-banqueiro no Santander, atualmente Diretor da Empada Brasil, que seguiu o mesmo caminho e abriu seu

negócio contando hoje com 48 lojas distribuídas por quase 10 estados, considerado o maior vendedor de empadas em São Paulo, em 2012. Alguns fatores foram decisivos para Pedro realizar essa troca, como a liberdade financeira e disponibilidade de tempo. “Eu almejava uma vida com mais liberdade, onde seria dono do meu tempo, mas isso não é sinônimo de trabalhar menos, pois eu trabalho até mais. É sobre, além disso, ter um propósito e não só fazer a roda do capitalismo girar”. Pedro fez a transição de carreira ainda empregado onde ele usava a noite, madrugada e fim de semana para


///economia crescer a sua empresa e prosperar no seu grande sonho de empreender. Pensando em desafio, Márcio Rangel conta que precisou aprender um pouco de tudo para ter uma boa gestão do negócio, desde a parte comercial, finanças e operacional. “Empreender requer entendimento da burocracia, das normativas e legislações específicas que envolvem seu segmento de atuação”. No mundo dos negócios, Pedro afirma que a maior qualidade que adquiriu foi a resiliência emocional, afinal vai muito além de abrir uma empresa e torcer para funcionar .“Você apanha muito e considero que seja o maior desafio. Quando você é CLT o problema é do chefe, mas quando é seu, são 30 preocupações ao mesmo tempo, afinal é o seu que está na reta”. Pedro é uma exceção à regra, já que a maior parte da estatística paulista da sua idade, de acordo com pesquisa realizada na cidade de São Paulo pelo Portal do Empreendedor, mostra que 6 em cada 10 empreendedores com idade entre 18 e 34 anos não aceitariam trocar a atividade que desempenham em suas empresas por um emprego formal que pagasse um salário compatível com o mercado, somado aos demais benefícios previstos pela CLT. Está achando que o mundo dos negócios é para você? Márcio aconselha que você encontre uma atividade que você goste e troque experiências com quem tem o próprio negócio. “Se ainda assim, você estiver indeciso, mas quiser empreender, busque uma franquia como opção para seu primeiro negócio.”

“Eu almejava uma vida com mais liberdade, onde seria dono do meu tempo, mas isso não é sinônimo de trabalhar menos, pois eu trabalho até mais”. - Pedro Moura

Dicas para empreender:

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Reprodução: Pedro Moura, CEO e proprietário da OMNI BRASIL (Foto por Bianca Burin)

Dicas para empreender: 1- Analise sua situação financeira e avalie seu potencial de arcar com os gastos que investirá, como salário do funcionário, aluguel e/ ou custos das mídias nas redes sociais. 2- Faça planilhas e liberte sua mente para pensar no cenário futuro do seu negócio. 3- Defina seus objetivos e suas metas. Além de padrões, faça planos para o futuro. 4- Deve se manter focado e lembrar que sua meta é alcançá-la com segurança e transparência. 5- Não se esqueça de que a sua franquia é apenas uma parceira para você. Não abuse dessa confiança. 6- Seja criativo e inovador. Afinal, se você não encontrar uma forma de diferenciar sua empresa, ela ficará igual a todas as outras.


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Baixa qualidade do ar prejudica moradores

Incêndios na grande São Paulo pioraram a qualidade do ar, prejudicando moradores e trabalhadores das regiões afetadas.

Qualidade do ar em dias secos e o aumento da poluição - SICFLUX/Reprodução

por Rafael Miera e William Santos A Prefeitura de São Paulo decretou estado de atenção na cidade por conta do tempo seco, que agrava os efeitos da poluição e traz problemas para a saúde da população, além de prejudicar ainda mais quem já tem problemas respiratórios. Ao menos duas cidades da Grande São Paulo foram afetadas pela qualidade do ar, de acordo com o boletim da CETESB (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo), que é a agência do Governo do Estado responsável por todo o controle, fiscalização, monitoramento e licenciamento de atividades geradoras de poluição, com a preocupação de preservar e recuperar a qualidade das águas, do ar e do solo.

De acordo com a classificação de qualidade do ar, Perus (Zona Norte) apresentou índice péssimo, enquanto que a cidade de Osasco demonstrou qualidade muito ruim e outras dez regiões apresentaram uma qualidade ruim, o que inclui o litoral e interior de SP, chegando a atingir valores próximos de 20%. Quando a qualidade do ar alcança esses níveis, existe um grande risco para a saúde da população, e, para entender um pouco mais sobre os problemas que essa situação pode trazer para as pessoas, conversamos com Thaís Leibel, pneumologista do Hospital das Clínicas. A médica ressaltou que o tempo seco para quem tem problemas respiratórios pode induzir a muitas questões. “Para quem já tem rinite alérgica, geralmente essa

prevalência no número de pessoas com a doença varia de 40% a 60%, então o tempo seco ataca bastante a rinite, resultando em coriza, congestão nasal e coceiras, além de incomodar, gerando até dor de cabeça, e por aí vai”. Eventualmente, não são apenas as pessoas que já possuem problemas respiratórios que acabam prejudicadas com essa situação. A pneumologista também alerta que com a qualidade do ar em níveis baixos, é possível desenvolver sintomas respiratórios, mesmo sem possuir algum histórico na família. “Para quem não tem o diagnóstico de problemas respiratórios, existe sim a possibilidade de contrair sintomas respiratórios, por conta do tempo seco, que não faz bem pra ninguém, ainda mais com a falta de


///saúde chuvas que estamos enfrentando”. A falta de chuvas em São Paulo foi significativa, de acordo com o Centro de Gerência de Emergências Climáticas. Os meteorologistas alertam que o problema da estiagem foi agravado pela quantidade de chuva inferior ao esperado por vários meses. O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) também emitiu um alerta de perigo para a baixa umidade do ar em boa parte do Brasil. O alerta é válido para todo o estado de São Paulo, exceto litoral. Por outro lado, além dos problemas respiratórios, o meio ambiente também sofre consequências da situação que a Grande São Paulo vem enfrentando. Mas quais são os principais impactos trazidos pelo tempo seco de São Paulo no meio ambiente? Marcelo Barreto, engenheiro ambiental e sanitário, acredita que as condições apresentadas são favoráveis para o acontecimento de incêndios, que acabaram acontecendo em diversas regiões nos últimos meses. “O aumento das queimadas abaixa a umidade, o que causa um ressecamento, e assim, aumenta-se a poluição nas cidades, deixando uma nuvem de poluição ainda mais visível no céu.” Nesse contexto, uma das regiões que foi mais afetada foi a do Parque do Juquery. Após um incêndio que durou 4 dias, foi perdida aproximadamente 53% da área verde do local, segundo um levantamento feito pelo Centro de Monitoramento da Fiscalização e Biodiversidade, vinculado à Secretaria de Meio Ambiente do estado de São Paulo. Acredita-se que o ar seco contribuiu para o aumento das chamas que se espalharam por 1.175 hectares. Desde o ano de 1999 a capital não apresentava estes índices preocupantes na qualidade do ar. O ar seco registrado no mês de agosto de 2021 está diretamente relacionado ao incêndio de grandes proporções que devastou o Parque Estadual do Juquery, de acordo com a CETESB, que pretende reforçar a fiscalização contra queimadas.

Homem tenta controlar o fogo no Parque do Juquery

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Psicólogos ajudam alunos e professores

Programa disponibiliza mil profissionais para alunos e professores de escolas municipais e estaduais

Logo do programa Psicólogos na Educação, lançado em 2020. Reprodução: escoladeformação.sp.gov.br

por Gustavo Popescu

Silva

e

Arthur

Neste ano, as mais de 5,1 mil escolas municipais passaram a contar com mil psicólogos, colocados à disposição pelo programa Psicólogos na Educação, lançado pelo governo estadual. O programa prevê um pacote de 40 mil horas semanais, resultando em 160 mil horas mensais de acompanhamento com um profissional. Com isso, cada escola terá entre 2 e 20 horas semanais de atendimento. As cargas horárias serão

definidas pelo número de alunos, de turnos e o número de ocorrências registradas por cada escola. Em pesquisas realizadas pela Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura) no final de 2020, 1 a cada 3 alunos sofreram bullying em todo o mundo, o que interferiu diretamente em seu desempenho escolar e sua saúde psicológica. Além disso, em outro estudo realizado pelo PISA (Programa de Avaliação Internacional de Estudantes), 56% dos alunos brasileiros sofrem com estresse durante a fase pré-vestibular. Por conta

desses fatores, o programa trabalhará em torno do desenvolvimento da saúde mental dos alunos. A psicopedagoga e diretora do Colégio Perdinelli, Renata Bernardinelli, diz que a psicologia ajuda de alguma maneira os professores a entender um pouco sobre o desenvolvimento dos alunos e entender os motivos que eles agem de certa maneira e tem certas dificuldades. Para ela, é importante contar com o conhecimento dos psicólogos e psicopedagogos em relação ao desenvolvimento neurológico e psicossocial de todos os envolvidos no processo de ensino e aprendizado.


///saúde E como também é diretora, Renata comentou um pouco sobre como lida com casos de bullying: “Se você está entre os professores e os alunos, você consegue estar entre as partes e poder prevenir algo maior como um bullying, como uma coisa mais séria, que a gente sabe que pode acontecer nas escolas. Então aqui na escola a gente procura fazer nesse sentido. Quando acontece, a gente chama as partes, a gente faz com que um se coloque no lugar do outro, trabalhar a empatia. Nós passamos a observar de perto os envolvidos para que possamos de alguma forma, sanar e ajudar todos os envolvidos, porque na minha concepção no caso de bullying, por exemplo quem está causando bullying necessita tanto de ajuda quanto o que sofrendo, porque se ele está falando aquilo, existe alguma coisa dentro dele que não está certo”. A aluna Isabele Roque, formada no ensino médio no ano passado, passou com a psicóloga da escola em que se formou, e comentou sobre sua experiência: “Já passei sim. Na primeira consulta a gente teve mais um bate papo. Eu contei um pouco sobre mim, ela me conheceu, não só como aluna, mas como Isabele em geral. Eu expliquei pra ela os motivos pelo que eu estava passando, normalmente era ansiedade em sala de aula, eu me sentia muito ansiosa, eu me sentia muito constrangida em falar, eu era uma pessoa muito tímida. Eu era uma pessoa que tinha medo de falar e sofrer bullying, porque eu sempre fui uma pessoa muito insegura em relação a isso, no ensino médio e no ensino fundamental. Isso me ajudou? Ajudou sim. Eu acho que isso deveria ter em todas as escolas, eu acho que deveria ser obrigatório.” Já pelo lado do educador, o cenário é o mesmo. Dificuldades em lidar com alunos, pais de alunos e ter a responsabilidade na formação de uma pessoa, são fatores que acabam pressionando muito um educador. De acordo com o psicólogo Leandro Sena, professor de filosofia da Escola Estadual Ana Siqueira , ter um psicólogo à disposição nas escolas é uma pratica elitista e por

isso poucos professores tem acesso a esse benefício. Além disso, ele conta sobre quais os principais fatores que levam um professor a procurar ajuda:“ Sendo professor, você tem toda uma pressão de lidar com os jovens, com os pais dos jovens, e você tem futuros nas mãos, e isso te causa uma ansiedade, uma angústia. Além de que, professor é uma profissão desvalorizada, e por conta disso, muitas vezes, não conseguimos ter um acompanhamento mental por fora. A ideia de ter um psicólogo para o professor é super importante, não só para os professores, mas para a

19 sociedade em geral.” Dada a importância de um especialista na área em nos ambientes escolares, o programa Psicólogos na Educação foi feito com intuito de ajudar quem mais precisa. Hoje, apenas o diretor e o vice-diretor das escolas conseguem agendar as consultas, que podem ser feitas online ou também presencialmente. A consulta é agendada por meio da Secretaria Escolar Digital (SED), no menu Recursos Humanos, e na opção Psicologia Viva, que te direciona para a plataforma onde é agendada a sessão.

Leandro Sena, psicólogo e professor de filosofia. Reprodução: Instagram pessoal


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Visitantes de museus são de classes A e B Preço acessível motiva maior frequência e pode diversificar público

Quadros da exposição fixa do MASP. Reprodução: Luiza Pires

por Amanda Santos Luiza Pires De acordo com a pesquisa do instituto Oi Futuro, as classes A e B reúnem 82% dos frequentadores de museus brasileiros, ou seja, a maior parte ganha mais de R $9.980 mensais. A maioria das pessoas que admitiram não frequentar museus pertencem à classe C (53%). Entre os frequentadores, 57% disseram que o preço acessível é uma motivação na hora de escolher o que fazer em momentos de lazer. E 49% disseram que os museus são a preferência no lazer e que visitam regularmente. O resultado da pesquisa permitiu aos pesquisadores identificar que o público que costuma frequentar esses espaços mais de uma vez ao ano, faz por se sentir envolvido pelas histórias contadas por meio das exposições, e o grupo afirma que estão sempre

informados sobre as mudanças de programação dos museus. A missão de preservar a história e a memória do ser humano exerce um grande significado para os museus, como um lugar de conexão entre o passado, presente e futuro. Sendo assim eles são considerados instrumentos de preservação da memória cultural de uma sociedade. Hoje conhecemos o museu como um local que informa e educa através de exposições, atividades recreativas e multimídias, um lugar que estimula a reflexão e o debate. Essa informação sugere uma discrepância sobre quem frequenta e quem deveria frequentar, tendo em vista a importância desse espaço de lazer cultural, devemos olhar para as outras questões envolvidas, pois apesar de possuir uma grande importância e ser em tese aberto a

qualquer público, como isso ocorre na prática? Sendo um local aberto ao público, por que ainda é visto como um espaço de lazer elitizado? De acordo com o gerente de Comunicação do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB-SP), Matheus Santiago, o museu é um local historicamente conhecido por frequentadores que possuem uma boa qualidade de vida, mas que hoje em dia isso está mudando. E que o trabalho do CCBB colabora de forma significativa nessa importante mudança. “O CCBB foi criado com o principal objetivo de formar novas plateias, democratizar o acesso e contribuir para a promoção, divulgação e incentivo da cultura”, afirma Matheus. Ele também ressalta que pela internet e redes sociais, agora é possível atingir uma quantidade maior de pessoas, atraindo um público maior


///lazer e diverso graças às publicações sobre as exposições e posts patrocinados nas redes. Em relação a importância do museu e promoção do incentivo da frequência de todos os tipos de públicos, Matheus comenta sobre o programa “CCBB Educativo”. “Foi pensado para receber visitas educativas, cursos, oficinas, encontros e práticas, nos quais todos são bem-vindos para dialogar e estreitar relações em programações desenvolvidas de formas inclusivas e afirmativas. Todo mês, diversas atividades são planejadas com a finalidade de promover a troca entre a comunidade escolar, os educadores, pessoas com deficiência, profissionais da área de arte e da cultura, ONGs e movimentos sociais”. De acordo com a museóloga e coordenadora do instituto Oi Futuro, Bruna Cruz, a escola tem um papel fundamental para aproximar os estudantes dos museus, e ainda destacou que 55% dos entrevistados afirmaram que a primeira vez que estiveram nesse espaço foi devido a uma atividade escolar. “Muitos entrevistados disseram que, após crescer e deixar a escola, não voltaram a visitar um museu. Vários fatores contribuem para isso, mas a escolarização da experiência de visitar um museu contribui porque reforça a percepção de que eles são espaços elitistas”, explicou Bruna. Mais de 90% dos entrevistados informaram que programas educativos aumentam a vontade de visitar um museu. Considerando esse fator, é importante que os responsáveis pelos museus tenham esse olhar para o público que não herda o hábito de frequentar esses espaços, promovendo, por meio das redes sociais, um ambiente extremamente democrático e acessível, incentivos que levem as outras classes (com menor poder aquisitivo) para esses espaços de lazer cultural. A pesquisa também mostrou que 40% dos frequentadores mencionaram não entender o que veem quando visitam exposições. “Os museus que pensam programações familiares estão olhando para o futuro. Assim como os que consideram a questão

da acessibilidade e da compreensão. As melhores experiências se dão nos museus que estão trabalhando para promover a participação do público, facilitando a compreensão do conteúdo exibido”, ressalta Bruna. NEGLIGÊNCIA PÚBLICA Um outro empecilho, em relação à consciência do valor cultural e a importância que os museus possuem, está diretamente relacionado à administração pública de alguns desses espaços. Grande parte dos museus brasileiros são públicos e relacionados a uma esfera municipal, estadual ou federal. O órgão superior responsável por cada unidade é quem encaminha as verbas para a instituição. Museus particulares também costumam receber verba pública através das leis de incentivo. Sabemos que a cidade de São Paulo possui a maior oferta cultural da América Latina, com 110 museus, mas quão valorizados esses espaços são? E como se mantêm diante de crises financeiras que acabam negligenciando a cultura? Em São Paulo, vários espaços experienciaram o resultado da falta de cuidados - Museu da Língua Portuguesa, localizado na Estação da Luz, sofreu um incêndio em 2015 e reabriu apenas em julho deste ano; - Museu do Ipiranga, fechado desde 2013 para reforma após riscos de desabamento do forro; - Instituto Butantan, teve 70 mil espécimes queimadas após um superaquecimento de um aparelho no edifício; - Liceu de Artes e Ofícios de SP, em 2014 sofreu um incêndio por um curto circuito que destruiu o galpão centenário; - Auditório do Memorial da América Latina - sofreu um incêndio em 2013, também causado por um curto circuito e reabriu apenas em dezembro de 2017. Cada museu público encaminha um planejamento anual à esfera responsável, onde aponta o valor preciso para se manter funcionando. De acordo com o Cofem (Conselho Federal de Museologia) geralmente os repasses feitos às unidades são abaixo dos valores solicitados.

21 As diversas dificuldades financeiras enfrentadas pelos museus acarretam falhas estruturais. Segundo o Cofem, a ausência de condições de segurança do prédio está entre os motivos que levam unidades a fecharem as portas ou suspenderem suas atividades. Juan Gimenez, com 32 anos, pósgraduando em arquitetura e urbanismo pela USP, é frequentador assíduo de museus, e disse que “Visitar museus é o coração de tudo.” Quando era pequeno achava que só poderia ver isso se fosse para fora do país, não tinha noção de como nossos museus são ricos”. Ele também reclamou sobre não haver incentivo, “Não há incentivo nenhum para educação, quem dirá para as artes. Ser artista aqui é ser vagabundo, e com essa associação que criam, ninguém quer visitar museus e conhecer a história. E não só da arte, do seu próprio país! O museu do ipiranga está fechado há anos, ninguém cobra nada, ninguém faz nada é muito descaso. Olha a quantidade de museus e centros culturais que pegaram fogo nos últimos anos. É óbvio que a população não vai valorizar algo que não tenha o mínimo de cuidado.” Danielle Perez,19 anos, estudante de psicologia na USP, e para Catarina Maximino, 25 anos, formada em administração pela Universidade Anhembi Morumbi, comentam a desvalorização dos museus nacionais em comparação aos do exterior.. “Acho que é a síndrome de viralata, né? Tudo que é de fora é mais interessante, eu acho isso triste, nossa cultura é tão rica, nossa arte é tão bela, nossa história é tão importante. Deveria ser mais incentivado começando pelas escolas, com excursões, eu iria amar ter tido essas experiências quando mais nova, acho que tem que começar de alguma forma e acredito que educação e arte devem andar juntas”, afirma Danielle. Catarina também ressaltou a “famosa síndrome de vira-lata” e apontou a falta de incentivo por parte do governo com cortes na educação. “Visitar museus é, infelizmente, elitista, tem alguns dias que são de graça, mas são geralmente dias da semana, o povo trabalha!


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Falta lazer público nos bairros de SP O bairro do Butantã oferece 53 equipamentos públicos de lazer por 100 mil habitantes, outros 23 distritos não contêm nenhum

Área do Jardim Colombo que era utilizada historicamente para descarte de lixo - Reprodução: Fazendinhando

por Bárbara Martins e Rafaella Bertolini A relação é direta. A má distribuição dos equipamentos de lazer na cidade de São Paulo afeta o cidadão que reside nas regiões mais afastadas do centro, o que compromete desde o direito previsto pela Constituição Federal, até a qualidade de vida. Além disso, a má distribuição soma-

se a outras barreiras, como o uso do transporte, o que torna praticamente inexistente o acesso ao lazer da população mais vulnerável. Segundo a pesquisa “Viver em SP: Mobilidade” da Rede Nossa São Paulo (RNSP), na média, são quatro equipamentos de cultura para cada grupo de 100 mil habitantes na cidade. A divisão deles, no entanto, representa hoje uma das expressões

da desigualdade social da cidade. Enquanto o Butantã possui cerca de 53 equipamentos públicos por 100 mil habitantes, outros 23 distritos da cidade não têm nenhum. Além disso, cerca de 45% dos paulistanos deixam de realizar atividades como ir a parques, cinemas e outras atividades de lazer, por conta do preço da passagem de ônibus, o que torna os moradores reféns do bairro enquanto apenas dormitório, além de


///lazer fazer com que esses busquem o lazer em bairros mais centrais da cidade. Esses dados reforçam a importância de implementar políticas públicas de acesso a lazer, em especial nas regiões vulneráveis da cidade, já que desembolsar com tais atividades representam custo significativo no orçamento familiar. Para Paloma Lima, assistente de projetos da RNSP, é essencial que os investimentos públicos foquem em demandas de todas as regiões da cidade, principalmente as mais vulneráveis. “Um elemento de extrema importância para promover transformação na desigualdade, oferecendo equipamentos de lazer nas periferias, é o orçamento público descentralizado, de maneira que, através do orçamento seja possível identificar em quais regiões da cidade determinado investimento será alocado”, opina Paola Já o arquiteto Vinícius Venâncio, que já atuou em urbanização e hoje opera nas áreas Comerciais, Residenciais e Corporativas, acredita que além dos investimentos públicos, há a necessidade de conscientizar a população sobre a importância que estes elementos têm para o bem estar pessoal e social – de forma que elas se tornem cada vez mais engajadas nas reivindicações. A fim de promover maior igualdade de equipamentos de lazer entre a região central e zonas periféricas, bem como difundir seu impacto positivo, existem importantes programas e iniciativas que demandam ser ampliadas, continuadas e aprimoradas. Como por exemplo, os Centros Educacionais Unificados (CÉUS), equipamentos públicos que ofertam educação e atividades esportivas e culturais, localizados em regiões periféricas da cidade. Atualmente, São Paulo conta com 46 CÉUS que estão aquém da dimensão territorial da cidade, por isso é essencial que programas como estes sejam ampliados e que seja garantida sua continuidade alinhada com a qualidade. Também, no Jardim Colombo, favela da zona oeste de São Paulo, existe o Movimento Fazendinhando, um projeto de transformação territorial,

social e cultural lançado em 2017. O movimento atua no processo de revitalização do terreno que leva o nome de Parque Fazendinha, antigo ponto de descarte de entulho, com o objetivo de transformá-lo em uma área de lazer e na capacitação de mulheres nas áreas de gastronomia e

23 construção civil. “A iniciativa começou capacitando algumas moradoras do Colombo, e expandiu com um dos cursos para a favela do Porto Seguro, que fica entre o Jardim Colombo e o Paraisópolis”. Conta Kamila Bianca, responsável pela área de comunicação do projeto.

Aos domingos a Av. Paulista se torna opção de lazer público. Foto por: Eliezer Santana


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Museus apostam em tecnologia Principais exposições da cidade de São Paulo oferecem interação entre o virtual e o real

Nova exposição no Museu da Língua Portuguesa - Foto do Acervo Museu da Língua Portuguesa

por Marcos Vinicius dos Santos Dos dez museus mais visitados na capital, apenas três não oferecem nenhum tipo de tour virtual ou acesso digital ao acervo. Com o foco em mudar a percepção de museu como local de passeio para um local de experiência cultural completa, o uso da tecnologia tem possibilitado modificar não só a vivência dentro do museu, mas também em seu acesso.

“O pessoal estava com um monte de fone e eu na fila sem entender nada. A princípio achei que eram para audiodescrição, mas tinha muita gente usando. Então eu coloquei e uma voz começou a falar comigo” - João, 20, estudante de engenharia e visitante da 34ª Bienal

A experiência foi relatada ao participar da obra de Roger Bernat (1968, Barcelona, Espanha) situada logo na porta de entrada do pavilhão da 34ª Bienal de São Paulo, realizada entre os meses de setembro e dezembro de 2021. A primeira imagem da exposição é, de fato, curiosa. Pessoas caminhando em círculos, engatinhando e às vezes até miando - tudo como uma piada que só você não en-


///cultura tendeu. É justamente ao colocar os fones de ouvido coloridos para ter a surpresa “respire”, “sente no chão em roda”, “olhe nos olhos”, “seja um gato”, “caminhe entre as outras pessoas”, diz a voz. “No começo foi bastante esquisito, mas depois fiquei confortável. Foi legal brincar com as pessoas depois de tanto tempo”, completou o estudante de engenharia. A mudança não estava nos planos de uma das exposições mais tradicionais da cidade, mas foi necessária após o prolongamento dessa edição - cuja montagem iniciou em fevereiro de 2020. “Se as ações digitais já estavam presentes nas Bienais de São Paulo desde 1996, elas inevitavelmente se tornaram um dos principais eixos dessa edição”, afirmou José Olympio da Veiga Pereira, presidente da Fundação Bienal. Esse também é o primeiro ano

em que a Bienal disponibiliza um catálogo digital com obras independentes das que estão no museu. Ali vale de tudo, poemas, fotografias, reflexões. Se alguns foram levados pelas condições do momento, outros têm as interações tecnológicas como palavra de ordem.

“Plataformas digitais são ferramentas que permitem outras formas de difusão de conteúdo. Hoje trabalhamos na perspectiva de conformar um museu híbrido, ou seja, que oferece experiências on e off-line complementares” Após o incêndio, que interrompeu as visitas por três anos, o MLP reabriu, gerando discussões sobre

25 o papel de espaços como esse na nossa cultura. A transmissão do evento de abertura, na plataforma TikTok, teve público simultâneo de 1800 espectadores, capacidade que ultrapassa em muito a lotação do museu. Em certos casos, todavia, o sentido se prova inverso, haja visto a exposição de imagens da web nas paredes do espaço cultural. Segundo a assessoria do MLP, um dos destaques da mostra fez o caminho contrário. Os memes ocupam o primeiro andar da mostra. Vídeos ou imagens, geralmente curtos, facilmente compartilhados e replicados exponencialmente no mundo digital, os memes agora também reconhecidos como arte. Curiosamente a palavra, assim como os museus, é derivada do grego antigo, vem de mimesis, que significa imitar, reproduzir.

Vista do público em performance espontânea na obra Pim-pam - de Roger Bernat - na 34ª Bienal de São Paulo - Foto de Levi Fanan - Fundação Bienal São Paulo



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