Experiências Inspiradoras da Profissão Docente

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EXPERIÊNCIAS INSPIRADORAS DA PROFISSÃO DOCENTE © 2022 by Daiane Alvezs dos Santos, Mayra Castro da Cruz Garcia, Vanessa Rodrigues Vasconcelos, Joyce Aparecida Alves Paick All rights reserved.

Supervisão Helen Emy N. Suzuki Capa Carla Kamilly Rodrigues Mourão Projeto Gráfico Thaís Santos Lopes Jussara de Jesus Custódio Diagramação Divya Avinash Mutreja Preparação de texto Thaís Santos Lopes Camila David Veloso Revisão de texto Camila David Veloso Normalização Bibliográfica Thais Santos Lopes Textos pré e pós textuais Divya Avinash Mutreja Jussara de Jesus Custódio © 2022 by Editora Extensão Todos os direitos reservados e protegidos Pela Lei 9.610 de 19/02/1998. Nenhuma parte deste livro, sem autorização prévia por escrito da editora, poderá ser reproduzida ou transmitida sejam quais forem os meios empregados: eletrônicos, mecânicos, fotográficos, gravação ou quaisquer outros.


Organizado por Rosilene Crepaldi

Experiências Inspiradoras da Profissão Docente



Prefácio

Por Rosilene Crepaldi Os profissionais da educação alcançaram outras dimensões na relação ensino aprendizagem e há muito deixaram de ser meros transmissores de conteúdo. Na atualidade, modalidades de ensino para além do presencial tomaram força, é preciso mediar aprendizagens, realizar curadoria e seleção de conteúdos inspiradores e de qualidade. Outra característica de tempos tão desafiadores é a necessidade do desenvolvimento de trabalhos integrados com profissionais de outras áreas, nossa proposta objetiva unir o pedagogo como produtor de conteúdo, como o profissional de produção editorial, com a finalidade de disponibilizar um e-book de qualidade e conteúdo inspirador para profissionais da educação. Esse conteúdo será construído a partir da pesquisa e participação em visitas e aulas em instituições de Educação de Jovens e Adultos, visitas em instituições artísticas e culturais como Pinacoteca, Museu da Língua Portuguesa, Instituto Itaú Cultural, e outras oportunidades de inovação e reflexão para a educação. O principal desafio é integrar, de maneira articulada, os aprendizados nas diferentes unidades curriculares do curso de Pedagogia, como por exemplo Profissionalidade Docente, Inclusão e Libras, e Estágio, com a Psicologia na Unidade Curricular PISC – Programa Integração Saúde e Comunidade, e do curso de Produção Editorial dos 2º e 3º sem – VON. Essa é a nossa proposta, atuar em duas frentes: oferecer subsídios inspiradores para futuros professores e compreender como atuar nesse novo cenário da educação.

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Introdução A Educação para Jovens e Adultos - EJA é uma modalidade de ensino destinada a um público que, por algum motivo, não pôde concluir ou não teve acesso à educação formal na idade própria e tenha mais de 15 anos, na ocasião da matrícula. Para a garantia do ensino à essa modalidade, existem diversas leis e diretrizes como a LDB 9.394/96 Art. 37: § 1º Os sistemas de ensino assegurarão gratuitamente aos jovens e aos adultos, que não puderam efetuar os estudos na idade regular, oportunidades educacionais apropriadas, consideradas as características do alunado, seus interesses, condições de vida e de trabalho, mediante cursos e exames. (BRASIL, 1996)

No EJA, os alunos buscam os estudos por algum interesse em particular, para superar algum medo ou recuperar o tempo perdido. Há diversas razões que fazem esse aluno voltar a estudar, por isso, ao contrário das crianças, os adultos têm mais medo de errar, principalmente na hora de formular hipóteses de escrita. No entanto, cabe aos professores mediar esse aprendizado, com base na vida dos alunos e na realidade atual, e apresentar significado e funcionalidade social a tudo o que eles estão aprendendo. A Educação de Jovens e Adultos, em São Paulo, segue os parâmetros publicados no diário oficial estabelecido pela Câmara de Educação Básica na Resolução Nº 1, de 28 de maio de 2021, em que se definem

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padrões e diretrizes para a oferta dessa modalidade e o alinhamento com a BNCC – Base Nacional Comum Curricular. É essencial considerar a bagagem que esses alunos trazem, desde a alfabetização na infância, e propor atividades com palavras presentes ao seu cotidiano, além de realizar projetos durante o ano que sejam ligados aos problemas sociais da região. Segundo a Secretaria Municipal de Educação (SME) de São Paulo: “Atualmente o perfil da EJA é heterogêneo e composto tanto por jovens que não concluíram o Ensino Fundamental no tempo regular, adultos que buscam maior escolaridade devido às exigências do mundo do trabalho e idosos à procura dos processos de alfabetização, além de migrantes estrangeiros que querem melhorar seu aprendizado da Língua Portuguesa.”¹ Este modelo de ensino é voltado para pessoas que interromperam seus estudos. A evasão acontece, principalmente no ensino médio, quando os jovens começam a pensar no seu futuro e buscar seu próprio lugar no mundo. Neste momento crítico, esses jovens sofrem com suas questões socioeconômicas, que a escola não consegue interferir diretamente. Impulsionados pelo desejo de encontrar um emprego com melhores resultados econômicos e melhorar a qualidade de vida, esses alunos retornam depois de um tempo fora da escola.”

Este modelo de ensino é voltado para pessoas que interromperam seus estudos. A evasão acontece, principalmente no ensino médio, quando os jovens começam a pensar no seu futuro e buscar seu próprio lugar no mundo. Neste momento crítico, esses jovens sofrem com suas questões socioeconômicas, que a escola não consegue interferir diretamente. Impulsionados pelo desejo de

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1: Citação da notícia “SME divulga livro sobre o histórico da Educação de Jovens e Adultos a partir dos 16 CIEJAs da cidade de São Paulo”, no portal da Secretaria de Educação de São Paulo.


encontrar um emprego com melhores resultados econômicos e melhorar a qualidade de vida, esses alunos retornam depois de um tempo fora da escola.

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Educação de Jovens e Adultos na voz da coordenação: desafios e potencialidades Por Daiane Alves Em uma escola pública na região da Cidade Dutra, zona sul de São Paulo, os alunos de Educação de Jovens e Adultos - EJA em sua maioria estão divididos em dois grupos, como nos conta em entrevista Eduardo, o coordenador do período noturno da escola. No primeiro grupo, ele descreve: Adultos com mais de 30 anos que não tiveram tempo e oportunidade na idade certa, principalmente o público feminino, pois a oferta de escolas na época deles era escassa e as muitas mulheres eram privadas da educação pela família”2.

No segundo grupo, que tem crescido muito, são os jovens: ...a evasão nas escolas públicas é uma realidade, após os 18 eles voltam, 2: Citação de entrevista não publicada, realizada para o aprofundamento do artigo. 3: Citação de entrevista não publicada, realizada para o aprofundamento do artigo.

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mas continuam bagunçando como se fossem adolescentes, não entendem que estão no EJA, o que gera um contraste na sala com quem realmente quer aprender”3.

Eduardo relata que esse grupo é o que dá mais trabalho. Saem da sala, são desrespeitosos com professores e colegas com frequência e levam mais tempo para se adaptar a esse retorno à escola. Consequentemente, esses alunos acabam evadindo outra vez e retornando em diversas ocasiões nos semestres seguintes. Na entrevista, o coordenador citou Paulo Freire e a importância de tratar os adultos como adultos, aproveitar o conhecimento que eles trazem e absorver isso para montar as aulas, algo que o filósofo sempre defendeu. A Secretaria de Educação do Município de São Paulo disponibiliza o Currículo da Cidade, com objetivo de potencializar o ensino do EJA, e ele orienta a organização das aulas, porém os professores têm a liberdade de adaptação e flexibilização no planejamento, para aproximar o conteúdo do grupo. Esse documento, “constituise como o resultado de um trabalho coletivo e dialógico que contou com a participação de professores das diversas formas de atendimento da EJA”4. Questionei o coordenador sobre a aplicação de projetos interdisciplinares ou que atendam às necessidades específicas do grupo, junto à comunidade escolar, pois observei que na escola há uma horta, provavelmente utilizada com as crianças pequenas em outro período. Ele contou que: “Não tem nenhum projeto acontecendo e nem planejamento para o EJA, e que se acontecer, é algo muito pontual e individual do professor. No ano passado, durante as aulas conhecemos o trabalho 4: Citação da página do site da Secretaria Municipal de Educação de São Paulo.

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da horta pedagógica, (...) realizado por alunos do EJA de uma ETEC – Escola Técnica. Esse projeto foi premiado no Desafio 2030, que visa projetos interdisciplinares baseados nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), e tiveram ótimos resultados com o engajamento e diminuição da evasão escolar, o que poderia ser uma alternativa para essa escola”5. A pandemia do COVID-19 impactou a educação nos últimos dois anos, então abordei o assunto durante a entrevista. Para Eduardo, a pandemia: ... teve total impacto, o EJA foi o mais prejudicado, ficaram sem acesso, o que no regular já foi difícil, no EJA foi desesperador, menos de 10% dos alunos conseguiam acesso, em 2021 quando tivemos um retorno gradual os idosos foram proibidos de voltar”6.

O coordenador relatou que, além da dificuldade com o acesso à internet, os idosos, comumente, não têm facilidade ou sequer possuem aparelhos eletrônicos. Neste ano, a escola investiu em aulas de reforço no contraturno, logo, prevê uma crescente no número de alunos matriculados. “Os adultos estão ansiosos pelo retorno e para finalizar seus estudos”, conclui Eduardo. Possíveis soluções para a evasão Para manter o engajamento dos alunos do EJA, é essencial a conexão do conteúdo das aulas com a sua rotina, o aproveitamento dos seus conhecimentos prévios e o respeito às suas culturas e escolhas. Para que isso possa ser feito, o docente precisa estar 5: Citação de entrevista não publicada, realizada para o aprofundamento do artigo. 6: Citação de entrevista não publicada, realizada para o aprofundamento do artigo.

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em constante atualização e envolvido com os conteúdos alinhados na BNCC – Base Nacional Comum Curricular — para conseguir adaptá-lo, principalmente nos próximos anos, que colheremos as lacunas deixadas pela pandemia do COVID-19. No curso online de Projetos, Interdisciplinaridade, Transdisciplinaridade e Ética na Escola, Kátia Smole ressalta a importância de que, na pós-pandemia, a prioridade é saber selecionar o essencial, no site da Futura. Uma opção é organizar o Mapa de Foco da BNCC, para analisar os conteúdos e formas de aplicá-los em sala de aula.  Muitas críticas feitas à BNCC referem-se à fragmentação dos conteúdos obrigatórios. Uma estratégia é buscar a transversalidade, ou seja, temas que atravessam várias matérias, e assim conseguir montar projetos interdisciplinares, como na Escola Comunitária de Campinas. Os professores utilizaram a metodologia de estratégia de projetos em todos os ciclos. Por exemplo, o 5º ano do ensino fundamental realizou um projeto sobre a escravidão, envolvendo história, matemática, geografia e português, já que o professor identificou que na sala ocorreram casos de racismo. O Professor da USP — Universidade de São Paulo, Ulisses Araújo, descreveu as etapas dessa metodologia como “ter um ponto de partida, planejamento de ações e o professor tem o papel de estrategista de ir mudando o rumo de acordo com o que os alunos trazem.” Edgar Morin defende a ideia de um pensamento não fragmentado, pois quando o aluno não relaciona uma disciplina à outra, o processo de aprendizagem se torna menos significativo, o que pode-se observar no EJA. Para saber mais como aplicar

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a interdisciplinaridade em sala de aula, recomendo que assista, na plataforma Youtube, o vídeo “Filosofia da Educação Complexidade e Interdisciplinaridade em Morin”7. Outra estratégia para evitar a fragmentação de conteúdos é proporcionar visitas em instituições culturais, para ampliar o repertório vocabular e apropriar-se das oportunidades da cidade. Por exemplo, no Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo, como exposição principal está “O Português do Brasil”, em amostra desde julho de 2021, que conta em uma linha do tempo “a história das estruturas e das formas de uma língua que é inseparável da história de seus falantes”, além do “Beco das palavras”, experiência interativa bem divertida de montar palavras e descobrir sua etimologia. Outra atração interessante é o “Nós da língua”, uma instalação que mostra o português pelo mundo e suas características em todos os países que falam português. Essa exposição é um ótimo exemplo de saída pedagógica para um projeto interdisciplinar com alunos do EJA, pois o conteúdo da amostra passa por português, geografia, história e traz uma reflexão e significado sobre o nosso idioma.

7: Endereço de URL do vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=klZ3ZuiCx4A

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A Importância da Transformação Por Mayra Garcia Localizada no Ipiranga, a Instituição Pública atende alunos da comunidade de Heliópolis e Região, oferece educação para jovens e adultos do primeiro ao terceiro ano do ensino médio, possui o ensino regular e também o EJATEC (Educação de Jovens e Adultos com Técnico). Uma escola que possui uma estrutura grande, com sala de informática e televisores nas salas de aula para que os professores ofereçam um ensino de qualidade e utilizando a tecnologia. Na Educação de Jovens e Adultos, é importante que o professor seja reflexivo e pesquisador, para que ele consiga observar suas ações com uma visão crítica e o objetivo de aprimorar sua prática docente. Já que, no ensino voltado a adultos, existe um grande desafio de trazer o interesse do aluno para a sala de aula, pois são pessoas que, geralmente, trabalham o dia todo e estão cansadas durante a aula. O professor precisa conhecer seus alunos e o meio em que está inserido e realizar rodas de conversa, para criar conteúdos inspiradores e atividades que façam parte do dia a dia dos estudantes. Escutar o aluno faz com que ele se sinta importante naquele local e entenda que o professor está ali para trocar conhecimento e não

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seguir o modelo ensino tradicional, evitando que a evasão escolar e desistência se torne cada vez maior. Pois, assim como disse o patrono da educação brasileira, Paulo Freire:

Transformar os alunos em objetos receptores é uma tentativa de controlar o pensamento e a ação, leva homens e mulheres a ajustarem-se ao mundo e inibe o seu poder criativo.”

Os estudantes sentem a necessidade de absorver os conteúdos com mais facilidade e relatam dificuldades em compreender os conteúdos do terceiro ano do ensino médio, que acabam sendo mais complexos. Logo, conectar o cotidiano dos alunos e as experiências que eles têm, torna mais fácil a absorção de conhecimentos passados em aulas. Para trazer uma experiência diferente, o professor do EJA pode ir além dos limites da sala de aula. Uma boa alternativa é conhecer o Espaço Itaú Cultural, que oferece aos visitantes diversas manifestações culturais, onde o professor pode proporcionar aos alunos uma experiência totalmente diferente do dia a dia e leválos a conhecer diversas culturas, além da identificação de culturas próprias. O professor também pode trabalhar inúmeras matérias com apenas uma visita: o aluno pode adquirir conhecimentos culturais, aprender sobre as biografias de patrimônios vivos e trabalhar diversos campos do saber. Assim, o aluno pode conhecer espaços diferentes e se apropriar de novas maneiras de pensar. O Espaço Itaú Cultural também é bastante inclusivo, pois possui

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audiodescrição, mapas táteis e outras ferramentas que possibilitam o acolhimento e integração às pessoas com deficiência. Outro bom lugar para levar os estudantes do EJA é o Museu da Língua Portuguesa, um espaço onde o estudante pode conhecer a importância da nossa língua. Como citado no site do Museu sobre a exposição principal, a língua é o que nos faz humanos, e que nos permite viver em sociedade e criar. A exposição permite explorar a história da língua portuguesa, falada por 260 milhões de pessoas no mundo, suas influências e como a língua é elemento fundamental da nossa identidade cultural. Esse tipo de experiência, mostra aos professores e profissionais da educação como somos importantes e que, ao conhecer as nossas origens, podemos tornar os alunos reflexivos e fazê-los entender que finalizar os estudos vai além do que apenas ter a possibilidade de cursar o ensino superior ou ter melhor qualidade de vida. Educar é transformar os alunos em pessoas críticas que transformem a sociedade.

Se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda.” Paulo Freire

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EJA: De quem estamos falando? Por Joyce Aparecida Alves Paick e Vanessa Rodrigues Vasconcelos No curso “Como propor tarefas capazes de desenvolver competências socioemocionais dos estudantes?”, realizado pela Futura, observamos que um dos itens mais importantes para trabalhar com estudantes é considerar a saúde mental dele. Devemos ensinar habilidades para viver e conviver bem e desenvolvê-las significa proteger e ajudar as pessoas a lidarem melhor com suas dificuldades, além de melhorar seu desempenho acadêmico e profissional. De acordo com a diretora da escola visitada:

A ciência tem indicado que essas habilidades podem ser divididas em dois conjuntos: socioemocionais e vida saudável”8.

A habilidade socioemocional provoca autorreflexão para que, depois que os alunos tenham praticado essas competências, eles consigam fazer suas próprias escolhas e interagir com o seu entorno. A vida saudável remete aos cuidados com a saúde, como dormir bem e se alimentar melhor. Trabalhando esses dois conjuntos, garantimos a melhoria no desempenho dos estudantes na escola e na 8: Citação de entrevista não publicada, realizada para o aprofundamento do artigo.

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sua transformação, afinal, o aluno é protagonista do aprendizado e a educação deve acontecer por e para ele. Em nossas experiências durante esse semestre, ao observar os relatos e participações de cada aluno cursando esta modalidade, pudemos ter a certeza de que a existência da EJA é mais importante do que podíamos imaginar. Conhecemos diversas instituições com grandes dificuldades para manter o Ensino para Jovens e Adultos. Em uma escola pública na região do Grajaú, zona sul de São Paulo, notamos que a escola não possui uma boa infraestrutura para receber esses estudantes. Há janelas quebradas sem previsão de consertos, que causa a ausência de alunos em dias frios; faltam professores, ou falta interesse por parte deles, para mediar o ensino, entre outras observações. Essas situações nos fazem pensar sobre como garantir os direitos destes alunos com base na igualdade e equidade, já que existem diversos desafios dentro e fora da escola que os desmotivam a continuar estudando. Entrevistamos uma das estudantes da turma, que está na 6ª série do ensino fundamental com 44 anos de idade. Seu motivo para não ter completado o ensino foi a perda de seus pais quando era criança e a família com quem teve que morar, que não garantiu a continuação de seus estudos. No entanto, agora aluna, quer estudar para conseguir um emprego melhor, mas está difícil ir todos os dias à escola quando não há motivação ou ensino de qualidade. Em uma outra escola pública na região de Osasco/SP, outra realidade nos chamou a atenção. Trata-se de uma classe multisseriada, ou seja, com estudantes de várias séries do Ensino Fundamental simultaneamente. Essa realidade faz com que a professora, com

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mais de 30 alunos na sala de aula, tenha de atender vários alunos com idades e níveis de conhecimento diferentes. Isso deixa a docente sobrecarregada, por trabalhar com atividades diferentes para cada grupo ou indivíduo e, ao mesmo tempo, dividir sua atenção para tirar dúvidas, sem conseguir dar o melhor de si no ensino. Outro ponto que observamos que dificulta o trabalho é a falta de um assistente para inclusão dos alunos com deficiência. Ele precisa de uma formação para aprender a lidar com as ações e reações desses alunos, porque não possuir conhecimento ou experiências na área pode dificultar ainda mais o aprendizado dos estudantes. Sabe-se que o aluno com deficiência tem o direito à cidadania como todos, mas está nítido que seus direitos civis e políticos estão sendo violados, pois não há qualidade na escola que ele frequenta, violando o disposto na Lei 13.146/95 do Estatuto da Pessoa com Deficiência. Compreendemos que a educação para os estudantes do EJA não deve consistir apenas nos livros, na matemática básica, e na alfabetização, mas também fazer com que eles compreendam a importância de se tornar um cidadão crítico e capaz de fazer suas próprias escolhas dentro da sociedade. Essa modalidade deve atender a todas as necessidades dos alunos, considerando suas experiências e principais interesses. Deve existir uma inter-relação entre alunos, professores, coordenação e sociedade para que possamos garantir um estudo de qualidade a todos. Afinal, se o ensino não reconhecer o aluno como protagonista e este não tiver seus direitos educacionais garantidos, de qual vida a ser melhorada estamos falando?

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Biografias

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aiane Alves dos Santos, 27 anos, nascida em São Paulo. Formada em Marketing, tem experiência na área comercial há mais de 7 anos e é graduanda em Pedagogia, pela Universidade Anhembi Morumbi, e acredita que a educação é o caminho para um futuro mais respeitoso e para a diminuição de desigualdade.

M

ayra Castro da Cruz Garcia, formada em Técnico de Administração, é estudante de pedagogia do último ano, pela Universidade Anhembi Morumbi. Atua na área da educação há 3 anos, e acredita que a educação seja um meio para transformar o mundo, querendo fazer a diferença em instituições públicas.

V

anessa Rodrigues Vasconcelos, 25 anos, estudante de pedagogia, pela Universidade Anhembi Morumbi. Estudar essa área está sendo uma experiência incrível, são realidades e necessidades diferentes, também inovações e transformações. Poder contribuir no crescimento de cada pessoa sem filtro de gênero, idade ou cultura é uma forma de entender que somos todos iguais e dependentes uns dos outros, enquanto ensinamos, também aprendemos, não há como separar. Sou grata por essa profissão, afinal de contas, o que seria de todos nós sem a medicação de um professor?”

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J

oyce Aparecida Alves Paick, 25 anos, estudante de pedagogia na Universidade Anhembi Morumbi. Estudo essa área, ainda parece muito incerto para mim, adoro as aulas e os aprendizados, mas por nunca ter exercido de fato, fico com medo e apreensiva. Creio eu que assim que eu começar a executar minha profissão tudo ficará mais claro e confiante, e até lá estou ganhando muito em aprendizado, pois a pedagogia me ajudou como pessoa, como tia e agora como mãe, a magia de aprender a lidar com um ser humano desde muito novo, me capacitou a entender o ser humano como um todo, e me fez enxergar até traumas da minha infância me dando a chance de repará-los.”

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Referências Bibliográficas INTRODUÇÃO SME/SP. SME Portal Institucional. Disponível em: https:// educacao.sme.prefeitura.sp.gov.br/educacao-de-jovens-e-adultoseja/ Acesso em: 17 de jun. de 2022.

EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS NA VOZ DA COORDENAÇÃO: DESAFIOS E POTENCIALIDADES BRASIL, Resolução Nº1, de 28 de maio de 2021. Institui Diretrizes Operacionais para a Educação de Jovens e Adultos nos aspectos relativos ao seu alinhamento à Política Nacional de Alfabetização (PNA) e à Base Nacional Comum Curricular (BNCC), e Educação de Jovens e Adultos a Distância. Diário Oficial da União, Brasília, DF, ed.102, seç.1, p.108, 2021. CAMILO, Camila. Alfabetizar na EJA: o que muda no planejamento das aulas? Nova Escola, 1 de jun. de 2012. Jornalismo. Disponível em: https://novaescola.org.br/conteudo/8/eja-alfabetizacao-oque-muda-planejamento-aulas. Acesso em: 17 de jun. de 2022.

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SME/SP. Curriculo da Cidade. SME Portal Institucional. Disponível em: https://educacao.sme.prefeitura.sp.gov.br/ educacao-de-jovens-e-adultos-eja/publicacoes-eja/curriculo-dacidade-eja/. Acesso em: 17 de jun. de 2022.

EJA: DE QUEM ESTAMOS FALANDO? Canal Futura, Políticas públicas de educação - Maria do Pilar Lacerda - Entrevista - Canal Futura. Youtube. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=uRjk65xWEcI. Acesso em: 17 de jun. de 2022. Ampliando o Conhecimento, Políticas Públicas para a EJA conheça as lutas e conquistas. Youtube. Disponível em: https:// www.youtube.com/watch?v=tGDwm66oq1I. Acesso em: 17 de jun. de 2022. Mais Educação São Paulo, Mais Educação São Paulo – EJA. Youtube. Disponível em: https://www.youtube.com/ watch?v=koT7CIbl0E0. Acesso em: 17 de jun. de 2022. BRASIL, Lei Nº9.394, de 20 de dez. de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 1996. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/Leis/L9394.htm. Acesso em: 17 de jun. de 2022. BRASIL, Lei Nº13.146, de 6 de jul. de 2015. Institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência). Diário Oficial da União, Brasília, DF, 2015. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/ lei/l13146.htm. Acesso em: 17 de jun. de 2022.

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Apêndice Por Jussara de Jesus Custodio Em um certo curso de Produção Editorial, 13 alunos se uniram com um propósito, mesmo entre erros e acertos, dar luz a projetos gráficos autorais e especiais. No início, eles confessaram, não havia sido nada fácil. Ter que se organizar do zero, pensando em cada pedacinho do processo, foi, em partes, desgastante. Mas, trilhar um caminho fácil não traria grandes aprendizados, pois o resultado só chega através do esforço e muita dedicação. A jornada contou com duas professoras experientes, o que trouxe uma segurança maior para a continuidade do projeto. Os alunos tiveram que, constantemente, fazer pesquisas e comparações, ponderando vez ou outra sobre o que deveriam utilizar para movimentar as engrenagens da editora Extensão, que foi criada pelos próprios alunos de Produção Editorial, especialmente para esse projeto. Foi como dar vida a uma editora de verdade, em que todos debatiam opiniões sobre o processo – desde as escolhas para o projeto gráfico até a preparação e revisão dos textos. Carla Kamilly, uma das responsáveis pelas ilustrações comenta: “É um desafio novo, uma experiência significativa para o meu futuro”. Apesar das dificuldades serem ressaltadas, momentos descontraídos não faltaram, afinal, ainda que fosse um ambiente

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profissional, a experiência permitiu laços que os acompanhariam durante todo o projeto, do livro e das cartilhas. Até mesmo o fiel companheiro do fim da tarde, o pôr do sol, apareceu de forma muito agradável no meio dos prédios para saudar os jovens e entregar a noite ao bairro nobre da zona sul de São Paulo. Foi assim que as amizades surgiram e tornaram-se mais fortes. Ana Beatriz também compartilhou suas impressões: “É muito interessante fazer parte de uma experiência nova como essa, apesar de me sentir um pouco mais distante, por conta das barreiras de não conseguir comparecer presencialmente”. Novamente, na história desses 13 alunos destemidos surgiram muitas dificuldades, entretanto, como a poetisa Flora Figueiredo diz no poema Última Página, “Agora que redijo a página final, percebo o tanto de caminho percorrido ao impulso da hora que vai me acelerando. Apesar do tempo e sua pressa desleal, agradeço a Deus por ter vivido, amanhecer e continuar teimando”. Para essa pequena editora, preenchida de jovens sonhadores e teimosos, construímos uma extensão de caminhos brilhantes para percorrermos, além de desejar novas oportunidades para que mais projetos gráficos sejam realizados com total atenção, da mesma forma como foi feito naquele outono de 2022.

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