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Soltar amarras

quarta-feira 15.2.2023

DEPOIS de três anos a sentir-se preso em Macau devido à pandemia, Vincent Hoi decidiu pegar nessa sensação e transformá-la em cinema. Filmado nas últimas semanas de Dezembro do ano passado, “Sea of Exodus”, a nova curta-metragem do cineasta de Macau, não é mais do que uma representação daquilo que representa a liberdade de cada um e a vontade de escapar de uma espécie de prisão.

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A conversa com Vincent Hoi aconteceu pouco tempo antes do levantamento de todas as restrições pandémicas, tendo o cineasta dado o exemplo “das pessoas de Macau e de Hong Kong que pensam emigrar para outras regiões devido às coisas sem sentido que têm acontecido aqui nos últimos anos, tal como a política da covid-19».

“No último ano foi tudo muito absurdo e muito sem sentido. Muitas pessoas deixaram a cidade, e o filme é sobre isso, embora não tenha abordado essa ideia de forma directa. Resolvi representar isso no filme de forma abstrata, onde as personagens têm comportamentos que vão revelando [essa vontade de fuga]”, adiantou.

Vincent Hoi confessou que ele próprio se sentiu “encurralado e preso em Macau nos últimos três anos”. “Não saí do território para lado nenhum, nem mesmo para a China. Sobretudo no ano passado, quando se deu o surto no Verão, vivemos numa espécie de quarentena em que mal podíamos sair para a rua. Nessa altura pensei seriamente em ir embora de Macau.”

Vincent Hoi é bastante crítico pela forma como as autoridades lidaram com a pandemia. “Em todo o mundo, a partir de certa altura, a pandemia deixou de ter um grande impacto nas pessoas, mas em Macau foi uma coisa enorme, absurda. Penso que foi uma forma do Governo controlar as pessoas. Senti que a minha liberdade me tinha sido tirada. É o sentimento de termos a liberdade pessoal controlada pelo Governo, que entende que o vírus é muito perigoso e depois já não é. Penso que são medidas de teor político e não têm nada a ver com a ciência.”

Duas personagens

Na primeira abordagem sobre a forma de realizar “Sea of Exodus”, Vincent Hoi pensou em desenvolver o projecto completamente sozinho, quase sem orçamento. Mas depressa percebeu que o filme estava a tomar outro rumo, tendo acabado por contratar dois actores, um director de fotografia e um produtor.

Festa das letras

Correntes d’Escritas arranca sem restrições e com presença de 98 autores

Ofestival literário Correntes d’Escritas começou ontem na Póvoa de Varzim, Porto, livre de todas as restrições impostas pela pandemia de covid-19, contando nesta edição com a presença de 98 autores de expressão ibérica, de 15 diferentes nacionalidades.

Os escritores vão reunir-se até dia 18 de Fevereiro, neste grande evento, que decorrerá maioritariamente no Cine-Teatro Garrett, onde será anunciado, na quarta-feira, na Sessão Oficial de Abertura, o Prémio Literário Casino da Póvoa, no valor de 20 mil euros.

“Decidi colocar apenas um actor e uma actriz no filme, e cada personagem representa algo. A personagem masculina representa a autoridade, enquanto a personagem feminina representa esse sentimento de vontade de fuga. No início do filme revelo a autoridade, com a personagem feminina a pensar em formas de escapar de tudo aquilo.”

Vincent Hoi não sabe ainda quando é que o filme vai ser exibido, pois ainda falta terminar a edição e percorrer o habitual caminho dos apoios e candidatura a eventos para que este seja apresentado ao público.

Acima de tudo, “Sea of Exodus” não é um filme para “grandes festivais de cinema”, mas sim para “festivais de cinema independentes de Hong Kong, Taiwan ou Japão” ou para o mercado cinematográfico local. Neste momento, o realizador está na fase de edição. Andreia Sofia Silva

A escritora moçambicana Paulina Chiziane, Prémio Camões 2021, e o seu compatriota Guita Jr., o angolano Ondjaki, a são-tomense Cândida Lima, o brasileiro Geovani Martins, a espanhola Rosa Montero, o cubano Marcial Gala, os colombianos Santiago Gamboa e Juan Gabriel Vasquez, vencedor do Prémio Literário Casino da Póvoa em 2018, Hélia Correia, também distinguida em 2013, e outros autores portugueses como João Luís Barreto Guimarães, Prémio Pessoa 2022, Manuel Jorge Marmelo, Teolinda Gersão, Valério Romão e Valter Hugo Mãe são alguns dos autores que vão passar pelo festival literário.

Debates e dedicatórias

A 24.ª edição do Encontro de Escritores de Expressão Ibérica vai dedicar a Revista Correntes d’Escritas ao escritor angolano Manuel Rui, de 81 anos, um dos autores residentes do certame, depois de participar em todas edições desde 2000 até 2021.

Este ano, concorrem ao prémio obras de A.M. Pires Cabral, António Cabrita, Hélia Correia, Luís Filipe Castro Mendes, Margarida Vale de Gato, Maria do Rosário Pedreira, Regina Guimarães, Rosa Alice Branco, Rosa Oliveira, Rui Almeida e Rui Laje. Para esta edição, estão previstas dez mesas de debate, em que participarão todos os autores presentes, cujos temas partem de frases da poesia de Ana Luísa Amaral (1956-2022), vencedora do Prémio Literário, em 2007, com o seu livro “A Génese do Amor”.

Além das mesas de debate, terão lugar apresentações de 37 obras, recém-lançadas ou a lançar no mercado livreiro português, bem como o pré-lançamento de “O Dever de Deslumbrar – Biografia de Natália Correia”, por Filipa Martins, assinalando o centenário da poeta.

Da memória do escritor chileno Luís Sepúlveda (1949-2020), uma das primeiras vítimas da pandemia, que foi presença regular nas ‘Correntes’, será apresentado o livro “Mundo Sepúlveda”, assinado em parceria com o fotógrafo Daniel Mordzinski.

Paralelamente, estão previstos os habituais encontros de autores com alunos nas escolas, uma sessão de cinema, com exibição do filme “O Campo de Sangue”, de João Mário Grilo, baseado na obra homónima de Dulce Maria Cardoso, exposições de arte, sessões de teatro e ainda o curso de formação de professores apelidado “Correntes em Rede”.

www.hojemacau.com.mo

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