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Quem quer ser viral?
O presidente da Associação Económica de Macau recomenda aos pequenos comerciantes dos bairros comunitários, onde faltam atracções turísticas, que inovem na abordagem ao cliente e criem características próprias que os diferenciem. As recomendações são apontadas como um remédio para a sangria de residentes que saem de Macau ao fim-de-semana
SEGUINDO a sede infinita pela “viralidade” e hashtags potenciadores de negócios, que tem preenchido o léxico do Governo, deputados e associações com expressões como “lojas com características próprias”, o presidente da Associação Económica de Macau, Lau Pun Lap, aponta à inovação como o caminho para o pequeno comércio dos bairros comunitários.
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O ex-coordenador do Gabinete de Estudo das Políticas argumenta que as lojas e negócios, que estão fora do alcance das multidões dos circuitos turísticos, devem diferenciar-se em antecipação das férias de Verão e como forma de equilibrar a perda de negócio gerada pela saída do território de residentes, em particular durante os fins-de-semana.
Novos produtos e mentalidade fresca para atrair novos clientes, características inovadoras e originais podem ser trunfos para os negócios que estão a sofrer, em particular desde que foi implementada a política de circulação de veículos de Macau na província vizinha de Guangdong.
Lau Pun Lap considera que as pequenas e médias empresas têm de encarar a realidade de que parte do consumo doméstico mudou para norte, mas continuam a entrar muitos turistas no território
Em declarações ao jornal Ou Mun, Lau Pun Lap considera que a perda de procura doméstica pode também ser mitigada por elementos inovadores proporcionados pela iniciativa do Governo, com actividades organizadas nos bairros comunitários para injectar vitalidade comercial fora dos locais de turismo.
Conjugação de factores
O facto de estas serem as primeiras férias de Verão desde o fim das restrições fronteiriças e do pânico da covid-19 é um factor que pode potenciar a saída das famílias de Macau para fora. Nesse contexto, e como a economia local ainda não recuperou totalmente, o Interior da China é um destino barato, mais aliciante desde a depreciação do yuan, e conveniente desde que começou a política de circulação de veículos de Macau em Guangdong.
Além disso, o consumo transfronteiriço online tornou-se ainda mais popular durante a pandemia, factor que já desviava para norte muitos consumidores locais.
O especialista considera que as pequenas e médias empresas têm de encarar a realidade de que parte do consumo doméstico mudou para norte, mas continuam a entrar muitos turistas no território.
O mercado de turistas de Hong Kong é destacado pelo dirigente associativo pelo grande potencial para as pequenas e médias empresas fora dos mais populares circuitos turísticos, pela abertura para experimentar novos produtos e sabores. Outra via, é a promoção online e a optimização das operações através de meios tecnológicos, reduzindo custos e chegando a um leque mais alargado de clientela. João Luz
PINTURA, CALIGRAFIA E TRADUÇÃO
Flor da ameixieira
É beleza natural, absoluta, que nem de pó-de-arroz depende para se embelezar, como pedra de jade leve e suave, como um floco de neve mas incapaz de molhar.
Causa um desejo que recompensa e rejuvenesce o olhar; límpida e serena, embriaga os poetas só de a contemplar.
INQUIRIÇÕES SÍNICAS Sheng Mao
O vizinho de Wu Zhen
SHEN ZHOU (1427-1509), o preclaro pintor de Suzhou, confessou uma especial admiração por Wu Zhen (1280-1354), um dos Quatro grandes mestres dos Yuan (1279-1368), que declinava o seu cognome em redor da palavra ameixa (mei) como Meihua Daoren, Mei Shami, ou Meihua Heshang, que dominava as Três perfeições (sanjue) da caligrafia, poesia e pintura e abriu um caminho na arte da pintura, a partir do qual outros puderam exprimir a sua própria sensibilidade.

Ao lado de uma pintura de 1347 desse mestre de Jiaxing, conhecida como Sentimento poético numa cabana de palha (rolo horizontal, tinta sobre papel, 24,5 x489,1 cm, no Museu de Arte de Cleveland), Shen Zhou escreveu:
«Como gosto do ‘velho da flor de ameixieira’, Que herdou os segredos do mestre Juran directamente, de coração para coração. Cultivando essa ‘afinidade de água e tinta’, Ele foi capaz de transmitir tudo com um toque de doce maturidade. Árvores e rochas pareciam brotar do seu pincel tão naturalmente, Que até a própria Natureza dificilmente poderia negar a sua emergência. De modo que agora, sob as copas dos carvalhos, Sinto vontade de o servir, humildemente.»
Essa atracção sentida pelas pinturas de Wu Zhen, que personificava o ideal da arte dos literatos, far-se-ia sentir suavemente e em crescendo ao longo do tempo.
Uma conhecida anedota conta como a família desse pintor se lamentava perante as filas de clientes que afluíam à casa do lado, desejosos de comprar as obras de um mestre da moda e ninguém para comprar as dele. Ao que o mestre respondia calmamente que daí a vinte anos tudo seria diferente. Esse pintor, seu vizinho bem-sucedido, possuía uma particular habilidade e engenho, combinando géneros que atraíam uma ambiciosa clientela que se promovia vizinhando-se do prestígio da arte dos letrados.
Sheng Mao (activo c. 1310-60) era filho do pintor Sheng Hong e nas suas deslocações pela Província de Zhejiang, terá convivido em Hangzhou com Chen Lin (c. 1260-1320) um pintor de paisagens, pássaros e flores que por sua vez teria estudado a arte com o fascinante Zhao Mengfu.
Do seu célebre vizinho ele percebeu o valor do ideal do pescador literato que pesca sem anzol, como mostra na pintura Solitário pescando junto de árvores de Outono (rolo vertical, tinta sobre papel, 102,6 x 33,3 cm, no Metmuseum).
A profecia atribuída a Wu Zhen cumprir-se-ia e o pintor profissional seria depreciado, até porque dele se não conhecem poemas ou caligrafias, mas as suas pinturas atentas ao sentido literário da estação do ano, que coincidia com o fim da dinastia, suscitaram as palavras de muitos. Surpreendendo acções de literatos, como em Descendo um rio bordejado de áceres no Outono (rolo horizontal, tinta e cor sobre papel, no Museu do Palácio Nacional em Taipé) revelou contudo a virtude do exercício da proximidade.
