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científico-tecnológicas dos chineses

Ribeiro ano. Em 500 a.C. já tinham percebido o ciclo da água, ou seja, o itinerário que a água percorre desde as nuvens até à chuva, aos rios e ao oceano e de regresso às nuvens. Na Europa, tal só aconteceu com Edmund Halley no final de 1600 d.C. Além disso, já plantavam sementes individuais em fileiras em vez de as espalharem aleatoriamente pelos campos. Já capinavam as ervas daninhas e já recorriam ao estrume de animais como fertilizante, avanços que só no séc. XVIII teriam lugar na Europa. No séc. II a.C., perceberam que enfiando uma haste num ângulo recto em relação à lateral de uma roda se obtinha uma manivela, que aplicaram na sua máquina de joeirar rotativa, aos moinhos, aos carretos de poços e à maquinaria associada ao fabrico de seda. Os antigos egípcios tinham inventado uma manivela oblíqua em 2500 a. C, mas a ideia só ocorreu aos ocidentais onze séculos depois. Não é de admirar que tenham sido os chineses também a inventar o carreto de pesca no séc. III d.C.

Ainda no séc. II a. C., os chineses inventaram a semeadora de linhas múltiplas, abandonando o método manual de semear que resultava num crescimento desigual e não evitava desperdícios. Na Europa, a primeira semeadora recebeu uma patente apenas em 1566 d.C., pela mão de Camillo Torello.

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Em 90 d.C., os chineses inventaram um dispositivo para peneirar o grão que recorria a um ventilador rotativo capaz de o separar do joio. E, num livro datado de 530 d.C., encontra-se a descrição do essencial acerca da máquina a vapor. Tratava-se de uma máquina de peneirar e agitar farinha que era movida a água e operava de modo inverso à máquina a vapor posterior: em vez de ser o pistão da máquina a trabalhar as rodas do veículo, no caso chinês era água corrente que alimentava os pistões que accionavam as rodas do veículo. Só não inventarem o virabrequim, porque não lhes fazia falta.

Antes da nossa era, já conheciam os poços artesianos, quando na Europa só em 1126 d.C. se perfurou o primeiro. Em 271 d.C., Wang Chong fez a primeira referência conhecida à bomba de corrente, um método de levantar água de rios ou lagos na sua obra multitemática Lun hêng (論衡).

Os chineses faziam cerveja mil anos antes dos árabes, como ficou patente com a descoberta de 2013 de uma cerâmica de 9 000 anos que revelava a presença de álcool. Na China antiga, consumia-se cerveja com um teor alcoólico de 4% a 5% desde, pelo menos, a dinastia Shang (1600 a.C.–1046 a.C.). O botânico Li Shizhen na sua obra Bencao gang mu (本草纲目, A Grande Farmacopeia), de 1578 d.C., descreveu claramente a maneira de destilar vinho em aguardente, uma técnica conhecida pelos chineses desde o séc. VII. O Bencao gang mu descreve mais de 1 000 plantas e outros tantos animais, além de 8000 usos medicinais a eles associados.

Em 100 d. C., os chineses descobriram que as flores de crisântemo, uma vez secas e reduzidas a pó, podiam ser usadas para matar insectos, ou seja, fabricaram o primeiro insecticida do mundo. O ingrediente activo, o piteiro, ainda hoje é usado, sobretudo no cultivo de hortaliças, dado ser biodegradável e inofensivo para os mamíferos. E desde o séc. VII a.C. que fumigavam as casas para as livrar das pragas e, mais tarde, com a sua invenção do papel, os livros para os livrar de traças.

Desde pelo menos o séc. I a. C. que os chineses utilizavam a bomba de corrente de baldes quadrada, apetrecho que viria a disseminar-se pelo mundo inteiro. Consiste numa corrente contínua de baldes quadrados capazes de elevar grandes quantidades de água ou de terra a um nível superior de altura. Esta depende da robustez da máquina e da maneira como os baldes foram projectados para evitar desperdícios.

Bombas de corrente accionadas hidraulicamente. A ilustração superior mostra uma roda de água horizontal a agir sobre outra roda horizontal e uma vertical e um eixo que faz girar uma bomba de corrente de palete quadrada, trazendo água de um rio até ao canal de irrigação. A ilustração inferior mostra uma roda de água vertical que é parte de uma bomba de corrente cilíndrica que traz água de um rio para um canal de irrigação de um campo de cultivo. Da obra Tiangong Kaiwu, de 1637, da autoria de Song Yingxing (1587-1666). Domínio público.

Por volta de 100 d. C., descobriram ainda que os cavalos podem ser atrelados um à frente do outro, o que permitia o transporte de cargas mais pesadas e a travessia de ruas estreitas. Esta disposição dos cavalos só se tornou comum na Europa na Idade Média. Cem anos mais tarde, em 200 d.C., os chineses inventaram o balancim de carroça, uma barra articulada à qual dois bois são atrelados e que distribui a força uniformemente através das ligações, permitindo que os animais façam deslocar a viatura em conjunto. O balancim foi reinventado no Ocidente no séc. XI para uso com cavalos. A propósito de cavalos, também foram os chineses que inventaram os estribos. A representação mais antiga conhecida de um estribo foi feita na China em 302 d.C. Trata-se de um estribo de montagem, de um lado da sela, e não de um par de estribos de montaria. Estes estariam já em uso, porém, em 477 d.C.

Acresce que a superioridade técnica dos arados chineses era notória. No Ocidente lavrou-se a terra de forma ineficiente e extenuante até se ter conhecimento e se ter copiado o arado chinês.

Assim como o cultivo em fileiras e o uso da semeadora, ambos avanços também provenientes da China, tratou-se de um passo que levou directamente à chamada revolução agrícola na

Europa. Para além disso, no séc. IX foi introduzido na Europa o cabresto para cavalos que colocava a pressão, não na traqueia, o que os estrangulava em pleno esforço, mas nas omoplatas. Este cabresto fora adoptado na China havia mais de mil anos.

(Continua no próximo número)

Bibliografia

• Bunch, Br yan e Hellemans, Alexander (2004) The History of Science and Technology New York: Houghton Mifflin Company

• Colectivo, Chine. Les Inventions qui ont changé le monde. Les Cahiers de Science et Vie, n. 113, Oct-Déc. 2009

• Needham, Joseph e Ronan, A. Colin (1980) Shorter Science and Civilisation in China, Cambridge University Press

• Ross, Frank Xavier (1982) Oracle Bones, Stars, and Wheelbarrows. Ancient Chinese Science and Technology, Boston: Houghton Mifflin Company

• Temple, Robert (2007) The Genius of China, London: Andre Deutsch Ltd

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