14 minute read

Analectos

LIVRO III

八佾 - (Ba Yi)36

Advertisement

OITO FILEIRAS DE DANÇARINOS

3.10. O Mestre disse: “Quanto ao que se segue no culto imperial dos antepassados conhecido por di, depois da libação feita não desejo assistir a ele.”

3.11. Alguém pediu ao Mestre uma explicação do sacrifício imperial aos antepassados conhecido por di. O Mestre respondeu: “Não tenho qualquer explicação a oferecer. Quem quer que soubesse explicá-lo poderia governar o império como se o tivesse aqui,” concluiu apontando a palma da própria mão.45

3.12. “Ele sacrifica como se estivessem presentes. Ele sacrifica aos espíritos como se estivessem presentes.” O Mestre disse: “Se eu não participar no sacrifício é como se não sacrificasse de todo.”46

3.13. Wang-sun Jia citou o ditado ‘Mais vale pedir graças ao espírito Zao do que aos espíritos Ao.’ “O que pensa destas palavras?”, perguntou a Confúcio. O Mestre respondeu: “Não é assim. Alguém que ofende o Céu não tem lugar onde rezar.”47

3.14. O Mestre disse: “A dinastia Zhou inspirou-se nas duas dinastias (Xia e Shang). Que bela e refinada, que espantosa riqueza cultural! Quanto a mim, eu sigo os Zhou.”

3.15. Ao entrar no Grande Templo Ancestral de Lu, o Mestre fez perguntas a respeito de tudo. Houve alguém que lhe dirigiu o seguinte reparo: “Quem disse que este filho de um homem da aldeia de Zou sabe seja o que for do ritos? Ao entrar no Grande Templo Ancestral faz perguntas a respeito de tudo.” Ao ouvir tais palavras, o próprio Confúcio disse: “Fazê-lo é em si mesmo respeitar os ritos.”48

3.16. O Mestre disse: “A pontaria não está em perfurar a pele do alvo, pois a força dos arqueiros é variável. Isto é o que pensavam os antigos.”

3.17. Zizong quis dispensar o sacrifício de um cordeiro na cerimónia da Lua Nova. O Mestre disse: “Ah Zizong! Tu lamentas o cordeiro – eu lamento o rito.”49

3.18. O Mestre disse: “Se, ao serviço do teu senhor, fores escrupuloso com o ritual, os outros pensarão que és interesseiro.”

3.19. O duque Ding de Lu perguntou: “De que modo deve o soberano comandar os seus ministros e de que modo devem os ministros servir o seu senhor?” Confúcio respondeu: “O soberano devem comandar os seus ministros com cortesia

(segundo os ritos) e os ministros devem servir o soberano com lealdade.”

3.20. O Mestre disse: “Guan Ju é uma ode agradável sem ser excessiva e dolente sem ser ofensiva.”50

3.21. O duque Ai perguntou ao discípulo Zai Wo acerca do poste do altar ao deus da Terra.51 Zai Wo respondeu: “Os Xia usavam madeira de pinheiro, os Yin usavam o cipreste e os Zhou usavam o castanheiro. Diz-se que desejavam incutir medo no povo.” Quando o Mestre ouviu isto, exclamou: “Não se discute aquilo que está feito e acabado; não se fala contra aquilo que sucedeu tal como sucedeu; não se deitam culpas sobre aquilo que se passou há muito.”52

3.22. O Mestre disse: “Guanzhong53, a sua vasilha era pequena (não tinha capacidades).” Alguém perguntou: “Isso quer dizer que Guanzhong era simples e frugal?” O Mestre respondeu: “Guanzhong tinha três casas54 e cada membro do seu pessoal tinha uma só tarefa. Onde está nisso a frugalidade?” “Mas, pelo menos, Guanzhong não respeitava e cumpria os ritos?”, perguntaram ao Mestre. Confúcio respondeu: “O soberano ergueu um muro ornamental em frente da sua porta e Guanzhong fez o mesmo; com o propósito de receber e entreter outros regentes, o soberano tinha um balcão sobre o qual colocar os recipientes de bebida e Guanzhong nisso o imitou. Se dissermos que, fazendo isto, Guanzhong compreende a observância dos ritos, então quem não a compreenderá?”

3.23. O Mestre falou com o Grande Mestre de Música de Lu acerca de música e disse: “Muito pode ser conseguido através da música se se começar por tocar em uníssono e, a partir daí, se improvisar com pureza de tom, clareza e fluidez, trazendo todas as coisas ao seu fulcro.”

3.24. Um oficial fronteiriço de Yi solicitou uma audiência com o Mestre, dizendo: “Sempre me foi concedida uma audiência com todas as pessoas distintas que por aqui passaram.” Os discípulos apresentaram-no a Confúcio. Ao sair da audiência, o oficial disse-lhes: “Ó meus amigos, porquê lamentar-se de não haver obtido o posto oficial? Todos sob o Céu há muito que perderam a Via e o Céu há-de usar o vosso Mestre como um sino (que o anunciará).”55

3.25. O Mestre disse da música conhecida por shao que é, ao mesmo tempo, bela e soberbamente feliz. Da música conhecida por wu, disse ser soberbamente bela mas não soberbamente feliz.56

3.26. O Mestre disse: “O que poderia eu apreciar numa pessoa que, tendo um cargo de influência, não fosse magnânimo; que, na observância dos ritos, não fosse respeitoso; e que, encarregue dos ritos do luto, não sofresse?”

Notas

36. Este capítulo aborda a importância dos rituais e dos ritos. Ora tanto os rituais (cerimónias que marcavam a passagem do tempo ou um determinado acontecimento) como os ritos (comportamentos padronizados reservados a ocasiões determinadas), são fundamentais tanto para a representação política como para as práticas quotidianos, de acordo com o pensamento confucionista. Se as suas regras forem seguidas, é certo que predominará a harmonia social, pois todos os comportamentos estarão dentro do previsto e de acordo com a tradição. Ao contrário do que acontecia durante a dinastia Shang, segundo Confúcio, na primeva dinastia Zhou os rituais não eram executados com objectivos mágicos, isto é, como meio de influenciar acontecimentos futuros. Segundo o Mestre, eram executados por si mesmos e nessa execução disciplinada residiria a sua eficácia. Para ele, também as acções quotidianas deviam ser ritualizadas: todos deveriam saber o seu lugar, falar quando fosse a sua vez, respeitar as hierarquias, etc., numa palavra, nada deixar ao acaso ou ao sabor dos desejos dos indivíduos. Numa sociedade assim completamente ordenada, não haveria lugar para a dissensão, a desarmonia ou o conflito. Cada um e cada coisa deveria ocupar um determinado no seu lugar. Como é explicitado no Estudo Maior, Comentário de Zengzi (III, 2): “No Livro das Odes diz: ‘Min-man chilreia o papa-figos dourado. Ele permanece num recanto da colina’.” O Mestre disse: “Quando permanece, sabe em que lugar permanecer. Será possível que um homem seja inferior a este pássaro?!” Zhu Xi comenta: “O homem deve saber em que lugar permanecer.” Quando alguém sabe qual é o seu lugar e o ocupa, aí permanecerá na “mais alta excelência”. Portanto, se as regras rituais forem respeitadas tudo decorrerá na mais perfeita harmonia, objectivo último do pensamento político e social confucionista.

37. As regras rituais dos Zhou reservavam à casa imperial a existência de oito fileiras de oito bailarinos. Já os vassalos mais importantes tinham apenas direito a seis fileiras. Uma excepção foi feita aos duques de Lu que, por terem sido fundamentais no estabelecimento da dinastia, tiveram durante um curto período direito a oito fileiras. Mas Ji Ping, do clã Ji, era apenas um alto oficial (dafu), cujo cargo apenas garantia quatro fileiras de bailarinos. Aproveitando a ausência do duque Zhao, que reinou de 540 a 510 a.E.C., Ji outorgou-se o direito de oito fileiras o que despertou a ira de Confúcio, na medida em que desrespeitava as regras rituais e indiciava que pretendia usurpar o poder. No Comentário de Zuo diz: “No nono mês (do quinto ano do Duque de Yin), foram feitos preparativos para um ritual no templo dos antepassados, durante o qual era suposto serem apresentadas danças marciais. O Duque de Yin aconselhou-se com Zhong Zhong sobre o arranjo dos dançarinos. Este respondeu: “O imperador forma oito fileiras de bailarinos (64 pessoas), os senhores formam seis fileiras (48 pessoas). No caso dos altos oficiais (dafu), quatro fileiras (32 pessoas), e os letrados (shi), duas fileiras (16 pessoas). Isto porque existem oito tipos de instrumentos musicais, feitos de oito tipos diferentes de materiais. Além disso, o vento sopra de oito direcções. Por isso vós deveis ter menos de oito fileiras de dançarinos, que é o número reservado ao imperador. O senhor de Lu obedeceu a estas palavras e, desde então, tornou-se costume ter seis fileiras de bailarinos nestes rituais.”

38. Outro exemplo de utilização indevida de um ritual que pertencia unicamente ao imperador. Era com esta ode que a família imperial finalizava os seus rituais. Na verdade, estas três famílias detinham o poder de facto no reino de Lu. Mas por excederem em termos simbólicos o seu lugar, tal não podia deixar de impressionar negativamente Confúcio.

39. Zhu Xi comenta: “O ritual valoriza a obtenção de um equilíbrio: extravagância e meticulosidade são excessivos em detalhes ornamentais; frugalidade e a tristeza não vão suficientemente longe mas são substanciais. Em nenhum destes casos o ritual é como deveria ser. Ainda assim, de acordo com o princípio das coisas em geral, deve haver primeiro substância e só depois ornamentação, o que quer dizer que a substância é o fundamento do ritual. Zuyu disse: ‘Nos sacrifícios, é melhor que o ritual seja inadequado e o sentimentos de reverência excessivo do que o sentimento de reverência ser inadequado e o ritual excessivo. Nos ritos de luto, é melhor que o ritual seja inadequado e os sentimentos de pesar excessivos do que os sentimentos de pesar inadequados e o ritual excessivo. Quando os rituais se perdem na extravagância e os ritos de luto se perdem na meticulosidade, em ambos os casos, é porque um, sendo incapaz de regressar ao fundamento, segue o que não é essencial. Em ritual, é melhor ser frugal e incompleto do que extravagante e completo. Nos ritos de luto, é melhor ser triste e sem ornamentação do que meticuloso em ornamentação. A frugalidade são coisas na sua substância; a tristeza é o coração na sua sinceridade. Consequentemente, eles constituem o fundamento do ritual’. (...) Com o declínio dos Zhou, o mundo exterminava a substância com ornamentação; só Lin Fang era capaz de perguntar sobre o fundamento da cerimónia. Portanto, o Mestre, preocupado, explicou-lhe desta forma”.

40. O termo 夷狄 (Yi Di), aqui traduzido por “bárbaros”, designava populações do Leste e do Norte, que viviam margens dos reinos Zhou. Já o termo 諸夏 (Zhuxia - todos os Xia), que traduzimos por “chineses”, referia essa confederação de reinos sob a bandeira dos Zhou. Esta frase tem sido interpretada de modo diferente, até contraditório. Alguns comentadores entendem-na no sentido contrário, a saber, que “Mais vale ser um chinês sem líderes, do que das tribos bárbaras com soberano”. Contudo, seguimos aqui a linha de Xie Zhaozhe (1567-1624), que interpreta as palavras de Confúcio como um elogio aos bárbaros, em tempos de decadência dos Zhou. Segundo este autor, o declínio da casa imperial levou Confúcio a considerar habitar entre os bárbaros que, sendo inferiores em letras, ritos e música, ainda assim tinham um governo que assegurava a paz e outras benesses. Já Láucio (Lao Zi) havia abandonado os reinos chineses para terminar a sua vida entre os povos bárbaros. (in Gernet, Jacques; L’intelligence de la Chine, Paris, Gallimard, 1994)

41. O Monte Tai é uma das montanhas sagradas da China, localizada na província de Shandong. A oferta de sacrifícios às montanhas sagradas sob a forma de comida e jade (que eram ritualmente dispostos e depois enterrados) era a prerrogativa do soberano que governava a região em que a montanha estava localizada. O Monte Tai, encravado entre a fronteira de Lu e Qi, recebia ofertas de ambos os estados. O chefe da Família Ji era um ministro e não um soberano, pelo que a sua oferta representou uma violação de normas rituais. Na altura, Ran Qiu estava a servir como oficial a família Ji, podendo tentar dissuadir este erro ritual, mas aparentemente faltava-lhe a coragem ou influência. O comentarista Bao Xian 包咸 (6 aCE–65) explica: “Os espíritos não aceitam ofertas que violem o ritual. Até Lin Fang sabia o suficiente para perguntar sobre o ritual, por isso como é que alguém poderia imaginar que o espírito do Monte Tai seria de alguma forma menos perspicaz do que ele? Foi com um desejo de caluniar o Monte Tai que este sacrifício foi realizado”.

42. O Mestre serve-se aqui do tiro com arco para explicar como deve proceder uma pessoa exemplar, não somente nesta actividade mas em todos os momentos da vida: mesmo numa competição, respeitar o ritual, manter a compostura e não culpar ninguém pelas suas falhas. O tiro com arco desempenhava um importante papel simbólico durante a dinastia Zhou. No Livro dos Ritos, She Yi, 11 (禮記 Li Ji) está escrito: “O tiro com arco sugere o caminho da benevolência. É em si mesmo que o arqueiro deve procurar o tiro correcto e só depois soltar a flecha. Se falhar o alvo, não deverá voltar-se contra quem o venceu, mas procurar a causa do fracasso em si mesmo.” Além disso, a disposição dos sujeitos durante o tiro com arco expressa a própria regulação política e social: “O Filho do Céu regula o seu tiro tendo em mente o sentimento correcto de todos os oficiais; um príncipe, tendo na sua mente os momentos em que esteve perante o filho do Céu; um dignitário, sendo um Grande Oficial, tendo em mente a observância das leis; e um oficial, tendo na sua mente que não deve faltar aos deveres do seu cargo. Desta forma, quando compreenderem claramente o significado destas medidas de regulação e serem assim capazes de evitar todas as falhas nos seus serviços, terão êxito nos seus compromissos, e o seu carácter e a sua conduta serão realizados. Quando os seus caracteres forem realizados, não ocorrerão males como a opressão e a desordem; e quando os seus empreendimentos forem bem sucedidos, os reinos estarão tranquilos e felizes. Daí que se diga que ‘o arco e flecha serviu para mostrar a plenitude da virtude do arqueiro’”. (Li Ji, She Yi, 3)

43. Os ritos servem para realçar as virtudes mais importantes, como a benevolência, tal como a maquilhagem realça a beleza de uma face. Contudo, essas virtudes têm de existir previamente. Zixia chamava-se Bo Shang.

44. O comentador Zheng Ruxie 鄭汝諧 (activo séc. XII-XIII) escreve: “Qi e Song tinham perdido as práticas rituais dos Xia e Shang, como é evidenciado pelo facto de não restar cultura ou valores morais nestes reinos que pudessem documentar essas culturas. Lu, por outro lado, não era assim: em relação à cultura, ainda possuía os documentos clássicos e, no que diz respeito ao mérito, possuía o Mestre. Como é que nenhum dos governantes e ministros de Lu considerou adequado examinar estas provas? Assim, ao fazer este comentário, o Mestre não tinha realmente em mente Qi ou Song, mas usava os exemplos de Qi e Song para expressar a sua opinião, pois na realidade é particularmente a Lu que a subtileza das suas palavras é dirigido.”

45. Existe aqui uma crítica implícita porque o ritual di devia ser feito unicamente pela casa imperial do Filho do Céu, algo que não aconteceu no tempo de Confúcio em que esse ritual foi extendido ao duque de Zhou por serviços prestados. O Mestre não sabe explicá-lo porque a explanação do rito di devia pertencer unicamente ao imperador. Se o soubesse “poderia governar o império”. Entende-se a confusão política que a extensão do ritual a outras casas poderia causar.

46. Cheng Yi comentou: “Sacrifício é sacrificar aos antepassados. Sacrifício aos espíritos é sacrificar para os seres espirituais exteriores. Sacrifício aos antepassados é governado pela piedade filial; sacrifício aos seres espeirituais é governado pela reverência. Na minha opinião, os discípulos aqui registam a autenticidade de Confúcio na execução de sacrifícios”. Mais importante que a presença dos espíritos dos antepassados ou dos deuses é a realização em si mesma do ritual pelo seu oficiante. Confúcio exige a participação empenhada no ritual e assegura o valor do ritual em si mesmo. Existam ou não os espíritos, existam ou não os deuses, o importante é a execução sincera (cheng) do ritual. 47. O altar dos espíritos Ao situa-se no canto sudoeste da casa e é usado para sacrifícios aos antepassados. O altar de Zao, espírito do Forno, situa-se na cozinha e refere uma divindade menor que, no entanto, desempenha um papel relevante, na medida em que atrai a riqueza e desempenha o papel de delator: uma vez por ano sobe ao Céu onde tudo conta sobre o mau comportamento daquela família, podendo esta incorrer em punições como o abreviar dos anos de vida dos seus membros. Obviamente, o altar Ao é mais importante e digno que o altar Zao, apesar deste ter influência nos negócios correntes. Contudo, as palavras de Wang-sun Jia, alto funcionário do reino de Wei (referido como sendo comandante em chefe em 502 a.E.C.) querem fazer ver a Confúcio que o poderá ajudar na sua carreira, se ele fizer parte da sua facção: “apoiar algo menor mas que, na prática, exerce o poder, pode ser mais benéfico para ti do que apoiar algo maior (o rei)”, parece insinuar. Só que o Mestre atinge-o com uma resposta lapidar, na qual reafirma a intransigência da sua consciência e o ameaça com a retaliação do Céu.

48. Shuliang He, pai de Confúcio, foi governador de Zou, uma pequena vila a sudeste de Qufu. Logo, a pergunta tem algo de derrogatório. A resposta do Mestre, que era conhecido desde muito novo como especialista dos ritos, demonstra que se deve sempre ser respeitoso e não julgar que já se conhece tudo sobre um assunto, mesmo quando já se estudou muito sobre ele. Também se pode admitir que, neste episódio, o Mestre era ainda muito novo e adquiria ainda conhecimentos sobre os ritos, nomeadamente os que se praticavam neste templo pertencente ao duque de Zhou.

49. A cerimónia da Lua Nova registava, anualmente, a vassalagem dos senhores à dinastia reinante, na qual se sacrificava um cordeiro. Ora o duque de Lu havia abolido este sacrifício e Zizong consideraria fazê-lo como uma despesa inútil e sem sentido. No entanto, Confúcio lamenta o fim deste sacrifício, talvez por significar a perda de importância da dinastia ou, certamente, por desfigurar o ritual.

50. Guan Ju 關雎 é a primeira das Odes. O poema descreve um jovem que anseia e procura apaixonadamente uma bela e virtuosa mulher. Embora originalmente a jovem em questão fosse provavelmente o tema anónimo de uma canção popular camponesa, na tradição comentada que cresceu em torno da Odes foi associada à consorte real do rei Wen, e o poema passou assim a ser visto como um modelo de relações contidas e honrosas entre os sexos.

51. O poste do altar é o centro da comunidade. Mesmo a expressão moderna para ‘sociedade’, shehui, significa ‘reunir-se em torno do poste do altar’. Mas nele também se procedia a execuções.

52. Zai Wo parece fazer aqui uma crítica às dinastias citadas porque há aqui um jogo de palavras entre os nomes das diversas árvores e a sua homofonia com várias expressões para “medo”. O som li, por exemplo, designa o castanheiro mas também o verbo “temer”. A reacção do Mestre parece querer afastar a prática da governação violenta, assente no terror e, ao mesmo tempo, sublinhar a inutilidade de condenar factos passados.

53. Guanzhong foi o primeiro-ministro do duque Huan de Qi, que reinou de 685 a 643 a.E.C.. Devido à sua insistência na eficácia acima de todas as coisas, é considerado como um dos pais do legismo. 器 (qi )refere-se literalmente a um recipiente ritual. Quem questiona Confúcio parece ser pouco dotado mentalmente, pois toma a sua afirmação à letra, pensando que talvez signifique que Guan Zhong era frugal e usava pequenos utensílios rituais pouco elaborados. Tal dá a Confúcio a oportunidade para comentar as falhas morais de Guan Zhong, que encorajou o Duque Huan de Qi a renunciar à estrutura tradicional (Zhou) do seu reino e ajudou-o a reorganizá-lo de forma mais eficiente. Isto fez com que Qi se tornasse bastante mais poderoso económica e militarmente, permitindo ao Duque Huan subordinar outros reinos Zhou. Confúcio desaprova a sua abordagem estritamente pragmática e o seu desprezo pelas normas e instituições tradicionais.

54. San gui (três casas) significa, segundo os comentadores antigos, que Guanzhong teria, em três diferentes palácios, três grupos de esposas, cada um composto pela esposa principal e duas outras, o que seria um privilégio de um grande senhor, algo que Guanzhong não devia pretender, muito menos realizar.

55. Confúcio inicia o seu périplo pelos diversos reinos, aos 55 anos, tentando obter um posto oficial que lhe permitisse pôr em prática as suas ideias sobre governação. Tendo começado pelo reino de Wei, vizinho de Lu, de onde era originário, o Mestre viu-se rejeitado pelo soberano. Este episódio ocorre na cidade fronteiriça de Yi, quando regressa ao reino de Lu, e exprime o estado algo caótico em que se encontravam os governos no tempo de Confúcio, através dos comentários de um oficial. O Mestre é descrito pela expressão “mu duo”, que referia um sino ou um objecto de madeira que servia aos guardas para assinalar a sua presença ou dar o alarme. O oficial, metaforicamente, afirma que há-de chegar o tempo em que Confúcio será ouvido e apreciado.

56. A música shao celebra a ascensão de Shun ao trono; a música wu celebra a ascensão de Wu. Ora Shun foi coroado pelos seus méritos, enquanto Wu conseguiu o trono pelo uso da força.

BRASIL EMBAIXADOR DIZ QUE O PAÍS NÃO FAZ POLÍTICA COM O COMÉRCIO EXTERNO

This article is from: