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Da Nomeação Correcta (V)

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sabedoria

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175.

Sem ocupação, a mente facilmente obscurece; então, é necessária a tranqüilidade para aclarar as idéias. Ocupada demais, a mente facilmente se agita; então, é necessário aclarar a mente para devolver a tranqüilidade ao espírito.

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176.

Quem contempla as coisas está fora delas, e compreende os ganhos e as perdas de suas possíveis ações. Quem realiza as coisas está submerso nelas, e ignora as perdas e os ganhos de suas ações.

177.

Um Educado, com alto cargo, deve ser incorruptível, mas deve ser amável e modesto. Não deve comprometer sua integridade de modo algum, nem buscar algo em proveito próprio. Não deve ser extremado, nem perder a centralidade, muito menos provocar enxames de insetos venenosos.*

* Literalmente: atrair gente corrupta.

178.

Aquele que alardeia moralidade atrai maledicência; quem se gaba de virtude e saber, receberá censura.

Por isso, o Educado se afasta tanto da má quanto da boa reputação; ele apenas preserva sua integridade e gentileza, e onde mora, sua conduta é tida como exemplo.

179.

Ao encontrar uma pessoa equivocada, use a sinceridade para mudar sua mente; ao encontrar uma pessoa violenta, use a calma e a gentileza para conquistá-la; ao encontrar uma pessoa malvada e egoísta, use seu bom nome e a energia moral para ensiná-la. Assim, não haverá nada, debaixo do Céu, que você não possa mudar com sua influência.

180.

Um pensamento de bondade pode harmonizar o Céu e a Terra; Um coração, sem manchas, estende a fragrância de sua pureza por cem gerações.

Tradução de André Bueno (continua)

* O Cai Gen Tan菜根譚foi escrito no século XVI pelo erudito Hong Yingming 洪應明 (ou Hong Zicheng洪自誠, 1572-1620), próximo ao final da dinastia Ming大明 (1368-1644). (...) Hong buscava estabelecer uma analogia entre as três grandes correntes do pensamento chinês em sua época: Confucionismo, Daoísmo e Budismo Chan (Zen). O livro de Hong é uma apresentação de trezentos e sessenta aforismos sobre os mais diversos aspectos da vida, sempre baseado nos ensinamentos das três grandes linhas

QUANDO OS objectos não são entendidos é quando nos dedicamos à nomeação. Quando a nomeação não é entendida é quando tentamos encontrar consenso. Quando o consenso não é entendido é quando nos dedicamos à persuasão. Quando a persuasão não é entendida é quando nos dedicamos à demonstração. Assim, buscar consenso, nomeação, demonstração e persuasão são algumas das melhores formas de actividade útil – e são também o início de obras dignas de um rei. Quando se ouve um nome e se compreende o objecto correspondente, isso é a utilidade nos nomes. Quando estes se acumulam e formam um padrão, isso é a beleza nos nomes. Quando obtemos a sua utilidade e a sua beleza, isso é chamado compreender os nomes. Os nomes são o meio pelo qual ordenamos e acumulamos objectos. As frases combinam os nomes dos diferentes objectos de modo a que se possa discutir uma única ideia. A persuasão e a demonstração usam os nomes fixos dos objectos de modo a esclarecer os modos apropriados de agir ou de permanecer imóvel. Buscar consenso e nomeação são funções da persuasão e demonstração. Demonstração e persuasão são o modo do coração representar o Caminho. O coração é o artífice e supervisor do Caminho. O Caminho é a urdidura e padrão da boa ordem. Quando o coração se adequa ao Caminho, quando as nossas persuasões se adequam ao nosso coração, quando as nossas palavras se adequam às nossas per- suasões, então saberemos nomear as coisas correctamente e conseguir consenso, baseando-nos na verdadeira disposição das coisas e fazendo com que sejam entendidas, discriminando entre as coisas sem cair em excesso e expandindo as categorias das coisas por analogia sem as violarmos. Ao ouvirmos casos, manteremos a boa forma. Quando nos dedicamos à demonstração, abrangeremos todas as razões sem excepção. Usaremos o verdadeiro Caminho para discriminar aquilo que é vil, tal como um carpinteiro desenha uma linha para perceber aquilo que é curvo e aquilo que é recto. Assim, as expressões desviantes não conseguirão lançar a desordem e as cem escolas não terão onde se esconder. Há quem seja brilhante o suficiente para ouvir todos os casos, sem ser arrogante nem combativo. Essa pessoa é suficientemente generosa para abarcar todos os lados, mas sem fazer espectáculo da sua virtude. Se as suas persuasões forem bem-sucedidas, tudo sob o Céu será corrigido. Se as suas persuasões não forem bem-sucedidas, então clarificará o seu caminho apesar de continuar a viver na obscuridade – tais são as persuasões e demonstrações do sábio. As Odes dizem:

Plena de refinamento e nobreza, É como um ceptro ou tábua de jade, Alguém que é bom de ouvir e bom de ver. A pessoa exemplar satisfeita e tranquila Serve de modelo universal.

Isto exprime aquilo que quero dizer.

Nota Xunzi (荀子, Mestre Xun; de seu nome Xun Kuang, 荀況) viveu no século III Antes da Era Comum (circa 310 ACE - 238 ACE). Filósofo confucionista, é considerado, juntamente com o próprio Confúcio e Mencius, como o terceiro expoente mais importante daquela corrente fundadora do pensamento e ética chineses. Todavia, como vários autores assinalam, Xunzi só muito recentemente obteve o devido reconhecimento no contexto do pensamento chinês, o que talvez se deva à sua rejeição da perspectiva de Mencius relativamente aos ensinamentos e doutrina de Mestre Kong. A versão agora apresentada baseia-se na tradução de Eric L. Hutton publicada pela Princeton University Press em 2016.

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