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OS PADRES ABUSADORES CONTINUAM NA MAIOR

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UM FILME HOJE

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EM CONVERSA com um amigo que não via há mais de vinte anos veio à baila o caso que tem dado muito que falar sobre os abusos sexuais de menores por parte de membros da Igreja Católica. Qual não foi a minha surpresa quando o meu interlocutor me transmitiu que tinha sido uma das vítimas que foi prestar declarações à comissão independente que investigou os abusos sexuais, uma comissão constituída por personalidades de grande prestígio e seriedade que elaborou um relatório que deixou o país em estado de choque. Essa comissão concluiu que mais de quatro mil menores teriam sido abusados nos últimos tempos, um número que pode ser muito maior. A mesma comissão entregou à Conferência Episcopal Portuguesa uma lista de mais de 100 sacerdotes abusadores e que ainda se encontram no activo.

O meu amigo transmitiu-me que tinha entrado para os escuteiros aos oito anos de idade e que aos 10 anos foi aliciado para a casa paroquial do padre que coordenava o seu grupo de escuteiros. No interior da casa o padre ofereceu-lhe um chocolate e começou a dizer-lhe que era um rapaz dos mais bonitos que tinha visto e começou a fazer-lhe festas na cara quando se sentaram no sofá. De seguida o sacerdote tirou o seu pénis para fora e obrigou o miúdo a dar-lhe beijos no pénis. Despiu a criança e depois penetrou com o pénis no ânus da criança. Com mais aliciamentos e prendas levou o menor mais vezes para casa e o crime de maior relutância era a obrigação do menor lhe fazer sexo oral. Esta criança era o meu amigo que tinha ido à comissão declarar tudo o que lhe tinha acontecido e informou que o sacerdote vive numa casa de repouso em Fátima. Naturalmente, que estive perante um homem traumatizado, infeliz e chocado. Um choque psicológico devido aos últimos acontecimentos que vieram a lume na semana passada. Os membros da Conferência Episcopal chamaram os jornalistas para se pronunciarem sobre a matéria que resultou do relatório da comissão independente. Numa Igreja que andou durante anos a esconder os abusos sexuais, a mudar de paróquia os abusadores e a não tomar qualquer posição que os levasse à barra do tribunal, veio agora dizer, com todo o desplante, que apenas se trata de uma lista com nomes de abusadores, que não existem provas cabais desses abusos, isto, quando as vítimas pormenorizaram tudo o que se passou. O presidente da Conferência Episcopal ainda, sem qualquer vergonha, acrescentou que o poder eclesiástico não irá indemnizar qualquer vítima com valores pecuniários, ao contrário do que fez a igreja na Austrália, no Canadá, nos EUA e na Alemanha, onde as vítimas receberam o dinheiro que foi decidido merecerem. A Igreja portuguesa não vai, enquanto instituição, pagar qualquer indemnização às vítimas de abusos sexuais praticados por clérigos. A decisão foi comunicada na passada sexta-feira por D. José Ornelas, presidente da referida Conferência Episcopal. E disse mais: que os clérigos abusadores continuarão no activo, quando, no mínimo deveriam ser expulsos do seio da Igreja.

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Os crimes foram imensos e de todo o género, foram abusados rapazes, meninas e até mulheres adultas que inclusivamente compravam automóveis aos padres depois de terem relações sexuais com os clérigos. No interior dos seminários o escândalo foi mais pecaminoso, onde muitos seminaristas abandonaram os estabelecimentos depois de serem obrigados a actos sexuais com os seus superiores. Pelos vistos, nada disto para a Conferência Episcopal foi importante num tempo em que o próprio Papa Francisco luta contra todos os pedófilos no seio da Igreja.

José Manuel Pureza, assumido católico é um dos mais de 130 subscritores de uma carta enviada ao organismo presidido pelo bispo José Ornelas, que exige mudanças no comportamento da Igreja e avisa que é preciso ir além dos pedidos de perdão e dos memoriais que querem construir na Jornada Mundial da Juventude, a decorrer em Agosto próximo em Lisboa. O professor universitário e antigo deputado do Bloco de Esquerda defende ainda que os bispos devem equacionar o cenário de indemnizar as vítimas de abusos sexuais na Igreja Católica, cujos testemunhos foram revelados pela comissão independente. “É absolutamente necessário que a resposta dada pela hierarquia católica não seja minimalista. Tem de ser uma resposta de plena determinação e com todas as consequências que é necessário tirar daquele relatório trágico”, disse Pureza, continuando: “Se ficarmos apenas por um pedido de perdão genérico e que não seja um pedido de perdão directamente e pessoalmente a cada uma das vítimas que esteja diante de nós, valerá alguma coisa, mas muito pouco”.

A hierarquia católica ainda não viu, ou não quer ver, que se trata de uma verdadeira tragédia para a sua Igreja. Basta referir um exemplo: as pessoas estão tão magoadas, que em plena Quaresma, as sessões que levam à reza do terço, deixaram de ter o número de fiéis habitual. Numa paróquia lisboeta estiveram na semana passada a rezar o terço apenas três fiéis e o número de católicos que tem assistido à missa dominical reduziu para metade. As feridas às vítimas são irreparáveis e se os sacerdotes abusadores não forem expulsos da Igreja e levados à barra do tribunal, estamos certos que o número de católicos praticantes irá diminuir significativamente.

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