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Com continuação à vista
Após um dos mais polémicos julgamentos do território desde a transição, que motivou queixas da Associação de Advogados de Macau e até de um deputado, o caso segue para o Tribunal de Segunda Instância ma tentada e crime de exploração ilícita de jogo.
Ellute Cheung e Si Tou Chi Hou, ambos condenados com penas de 10 anos de prisão, terão igualmente apresentado recurso.
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A ferro e fogo
A detenção de Alvin Chau causou uma onda de choque na principal indústria do território, com um grande impacto para as receitas do jogo. Além disso, foi um dos factores a contribuir, numa altura de crise, para o aumento do desemprego local, com a desintegração da empresa, uma das principais empregadoras locais.
No entanto, a polémica não se ficou apenas pela acusação. No Tribunal Judicial de Base, a condução dos trabalhos pela juíza Lou Ieng Ha assumiu contornos pouco usuais e nem sempre pacíficos.
Oempresário Alvin Chau recorreu da condenação a 18 anos de prisão, de acordo com a informação publicada ontem pela TDM-Canal Macau. O prazo para apresentação do recurso de um dos processos mais mediáticos dos últimos anos na RAEM tinha terminado na terça-feira.
Na decisão da primeira instância, Alvin Chau foi condenado a 18 anos de prisão pela prática de um crime de associação ou sociedade secreta, 103 crimes de exploração ilícita de jogo em local autorizado,
54 crimes de burla de valor consideravelmente elevado, 3 crimes de burla na forma tentada e ainda um crime de exploração ilícita de jogo.
A defesa do principal junket do território vai agora tentar reverter
No Tribunal Judicial de Base, a condução dos trabalhos pela juíza Lou Ieng Ha assumiu contornos pouco usuais e nem sempre pacíficos a condenação ou, pelo menos, diminuir os anos de encarceramento que o empresário enfrenta.
Também Ali Celestino, assistente de Tecnologia de Informação da Suncity, foi condenado com uma pena de 15 anos de prisão e apresentou recurso, segundo a emissora. Na primeira instância, o trabalhador da Suncity foi condenado por um crime de associação secreta, 103 crimes de exploração ilícita de jogo em local autorizado, 54 crimes de burla de valor consideravelmente elevado, 3 crimes de burla na for-
Dsec Popula O De Macau Pode Crescer 15 Por Cento At 2041
ADirecção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC) estima que a população do território cresça 15 por cento, para mais de 786 mil habitantes, no final de 2041, segundo uma projecção divulgada ontem. Na projecção, que tem como base 2021, quando foi realizado o último Censos, a estimativa a cada cinco anos mostra uma ten- dência constante de crescimento da população: 714.100 em 2026, 748.000 em 2031, 770.100 em 2036 e 786.100 em 2041.
Por outro lado, a estimativa publicada ontem pela DSEC traduz a tendência de envelhecimento da população residente, ao prever que a fatia de habitantes com mais de 65 anos passe de 12,2 por cento para 20,9 por cento em 2041.
No mesmo documento, a DSEC prevê uma redução dos trabalhadores não-residentes, portadores do chamado ‘blue card’, que só podem permanecer em Macau com contrato de trabalho válido.
Uma estimativa que coincide com a tendência verificada nos três anos de pandemia de covid-19, com a saída de milhares de trabalhadores não-
-residentes, e com o discurso político prevalente de privilegiar a mão-de-obra local.
Na projecção da DSEC, enquanto a população local cresce de 570.100 para 663.000, verifica-se uma descida de trabalhadores não-residentes de 93.500 para 92.100. Já os estudantes de fora, deverão aumentar dos 19.600 para os 31.000, é indicado.
Além do tratamento que dirigiu aos advogados de defesa, e que gerou muita polémica, com interrupções, ameaças e aconselhamento para que desistissem do caso, também a falta de espaço no tribunal foi alvo de contestação.
A Associação dos Advogados de Macau, então dirigida por Jorge Neto Valente, chegou a enviar uma carta para o Conselho dos Magistrados Judiciais a queixar-se sobre a falta de condições na sala de audiência. Também o deputado Leong Hong Sai, ligado aos Moradores de Macau, tomou uma posição sobre a polémica e apelou aos tribunais para que criassem condições que permitissem aos advogados defender os arguidos, de forma a que se pudesse fazer justiça. João Santos Filipe
AMCM Funcionário acusado de desobediência
Um funcionário da Autoridade Monetária de Macau é acusado do crime de desobediência, porque recusou fazer o teste do balão após ter sofrido um acidente de viação. De acordo com o canal chinês da Rádio Macau, o acidente aconteceu na sexta-feira passada, quando o suspeito de 50 anos passava de carro pelo lar de idosos perto das Ruínas de São Paulo. Nessa altura, bateu contra outro veículo e capotou. O suspeito teve ferimentos ligeiros, mas a polícia percebeu que o homem cheirava a álcool. Apesar de o suspeito admitir que terá bebido álcool à refeição, recusou fazer o teste do balão ou a ser testado no hospital, pelo que vai enfrentar a acusação do crime de desobediência.
1
Mil nuvens, dez mil regatos, no meio, um homem tranquilo. Passeia ao sol nos montes verdejantes, regressa ao anoitecer, dorme na falésia. Primaveras, outonos passam num ápice. Sereno o seu espírito, sem a poeira do mundo, confiante, sem ajuda de ninguém, calmo como as águas de um rio no Outono.1
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2
Ontem, ainda de tão longe, já resplandecia o jardim. Em cima, ameixieiras, pessegueiros ao longo do caminho, em baixo, canteiros de lírios e orquídeas no ribeiro. Depois, a menina de sedas e cetins, no seu lar, plumas de pavão. O reencontro, pronunciar o seu nome, quedei-me em silêncio, incapaz de falar.
3
Recordo lugares que conheci, lugares famosos nos caminhos dos homens. Prazeres na montanha, subir dez mil pés, amar a água, flutuar em mil juncos.
Despedi-me de amigos no vale do Alaúde, toquei cítara na ilha dos Papagaios.
Não sabia que um dia, sob os pinheiros, abraçaria os joelhos chicoteados pelo vento.
4
A cabana de camponês coberta de colmo, diante da porta, raras as carroças e cavalos. Pássaros em bandos no fundo da floresta, peixes em cardumes nas águas do ribeiro. Com o filho, vai colher frutos na montanha, com a mulher, vai lavrar o arrozal.
O que tem dentro de casa?
Apenas uma cama e um montão de livros.
5
Meu coração como a lua de Outono, reflexo imaculado num lago esmeralda. Na verdade, a nada se pode comparar. Que mais posso eu dizer?
6
Na cidade, uma mulher de sobrancelhas como asas de borboleta, em volta da cintura, um tilintar de pérolas. Brinca com um papagaio2, entre as flores, dedilha suavemente o alaúde, ao luar. O eco do seu canto estende-se por três meses, quando dança, dez mil pessoas querem-na ver. Nem sempre será assim, as flores do hibisco não aguentam o frio.3
7
Uma vez, homem dos livros e espadas, duas vezes com protectores e amigos. Fui letrado a leste, não obtive mercês, fui soldado a oeste, ninguém reconheceu meu valor. Estudei as letras, a arte da guerra, sim, as coisas da guerra, as coisas das letras. Envelheci, hoje sou um velho, para quê falar do resto dos meus dias!...4
8
Desejei um lugar para descansar, a Montanha Fria deu serenidade.
Um vento leve sopra entre os pinheiros, de perto ouve-se melhor a canção da brisa. Sob as árvores, um homem de cabelos brancos recita velhos textos taoístas.
Não deixo este lugar há já dez anos, esqueci o caminho por onde vim.
9
Por sorte, habito solitário entre penhascos, no rasto dos pássaros, longe dos homens. O que existe em redor do meu jardim? Nuvens brancas abraçando rochas negras. Habito por aqui há tantos anos, quantas vezes o Outono deu lugar à Primavera?... Hoje, compreendo melhor: riquezas, honrarias, o nome, a fama, tudo inútil e vazio.
10
Retirado na Montanha Fria, alimento-me de frutos da montanha. Uma vida tranquila, sem cuidados, neste mundo sigo um pouco o meu destino. Dias, meses correndo para o mar, o tempo breve como uma centelha numa pedra. Céu e terra, sempre em mutação, eu livre, sereno, sentado na falésia.
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Perguntam-me qual o caminho para Han Shan, nenhuma estrada conduz à montanha fria. Aqui, mesmo no Verão, o gelo não derrete, o sol a pino, ainda densa a névoa. Como cheguei então a este lugar?
O vosso coração não é como o meu, mas todos temos um coração. Venham comigo, para dentro da montanha.
12
Aqui, na montanha, tanto frio! Não apenas hoje, mas todos os anos. Rochas escarpadas respiram na neve, florestas cerradas respiram na bruma. As ervas crescem depois das colheitas,5 as folhas caem no início do Outono.6 Aqui um viajante em busca do caminho, a distância, a distância sem ver o céu.7
13
A caligrafia continua serena e limpa, o corpo ainda robusto e firme. Eu sei, um dia tudo chegará ao fim, morto, serei um fantasma obscuro. É assim desde a raiz do tempo, lutar, que posso eu fazer?
Venham ter comigo, entre nuvens brancas, ensinar-vos-ei a canção dos cogumelos púrpura.8
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Descanso neste lugar, sob a falésia fria, retirado, envolto em maravilha. Levo a canastra para recolher legumes da montanha, uma cesta para trazer fruta, no regresso. Sentado numa esteira, uma refeição simples, vou mordiscando cogumelos púrpura. Lavo as tigelas na água clara da fonte, com o resto dos legumes, faço um excelente cozido. Ao sol, solitário, uso uma roupa leve e leio poemas dos homens do passado.